domingo, 11 de julho de 2010

1482 - HISTÓRIA DO LIVRO

Mariângela Pisoni Zanaga
Professora da Faculdade de Biblioteconomia - PUC-Campinas
Doutoranda - Faculdade de Educacao - UNICAMP
marianpz@aol.com




CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador; conversações com Jean Lebrun. São Paulo : UNESP/IMESP, 1999. 159 p. (Prismas) Resenhado por: Mariângela Pisoni Zanaga


A obra A aventura do livro enfoca a reorganização do mundo da escrita após o advento da Internet.

As mudanças na forma de apresentação do livro, ocorridas nas diferentes fases de sua história, ocasionaram três grandes revoluções: do texto manuscrito em rolo de pergaminho para o códice, formato semelhante ao livro moderno impresso; do códice ao livro impresso e do livro impresso ao eletrônico.

A obra de Chartier1 aborda as seguintes categorias de análise em torno da idéia central: autor, texto, leitor, leitura, biblioteca e universalidade, comparando a revolução virtual com as outras revoluções por que passou a história do livro.

Michel Foucault embasa a abordagem feita para a função do autor, que abrange dois aspectos: o da autoridade do texto concedida pelo autor, visando sua punição política ou religiosa e o da proteção do autor, realizada através de patrocínio oferecido, por soberanos e elites, a autores, para que se ocupassem somente com o ato de escrever, dando origem à dedicatória. Ficava o autor entre a punição e a proteção.

A representação teatral de textos leva à reprodução e publicação dos mesmos a partir da memorização por espectadores variados, originando as falsificações, que se tornaram uma atividade econômica importante. Tem início a luta pelo direito de autor. O direito de autor nas redes eletrônicas ainda encontra-se em fase de estudos, uma vez que a Internet desterritorializa as 'propriedades' e estas, normalmente, são reguladas por leis nacionais.

A revolução do texto eletrônico leva à desmaterialização da obra e a diferentes materializações de uma obra, que possuem identidades específicas.

Para Chartier, 'A obra não é jamais a mesma quando inscrita em formas distintas, ela carrega a cada vez, um outro significado' (p.71). Embora a tendência atual seja a de considerar que o estoque (texto) pode ser distribuído por diferentes fluxos, ele sugere uma inversão na maneira de pensar, partindo das variadas modalidades de difusão, para então abordar o tipo de estoque adequado para um 'mesmo' texto.

Assim como um texto torna-se diferenciado ao ser disseminado através de variados fluxos, a apreensão do sentido do texto pelo leitor é diferente do sentido dado pelo seu autor.

A interação entre texto/leitor é influenciada pelo suporte textual que varia em função de sua forma de difusão e da percepção individual do texto no ato da leitura.

Em relação aos leitores, a revolução eletrônica traz como inovação o fato de que não há processo de aprendizagem transmissível de nossa geração, cujo domínio da leitura não se formou através do computador, à geração de novos leitores, pois os primeiros leitores eletrônicos verdadeiros não passam mais pelo papel. Nas palavras de Roger Chartier, isto talvez defina o leitor do futuro.

A biblioteca universal e infinita, para Jorge Luís Borges, reúne todos os livros que se pode escrever, esgotando-se todas as formas de combinar as diferentes letras do alfabeto. Ela pode ser um obstáculo ao conhecimento, pois a proliferação textual, que pode se originar da própria criação, da reprodução de textos ameaçados de extinção ou de instrumentos necessários ao domínio do conhecimento gerado para selecionar, classificar ou hierarquizar, leva ao paradoxo da elaboração de novos livros que também contribuem para o excesso.

O texto só adquire existência verdadeira ao ser apropriado pelo leitor. Universalidade e legibilidade devem caminhar juntas.

No contexto eletrônico, pode-se pensar em uma biblioteca universal ou sem muros, em que há o compartilhamento do que era oferecido apenas em espaços onde leitor e livro deveriam necessariamente estar juntos. Mas, há também que se fazer escolhas na vastidão de ofertas que a biblioteca eletrônica universal dispõe e pode dispor, procurando-se minimizar a questão da profusão de informações.

No entanto, deve-se considerar também a necessidade de existência da biblioteca material, para preservar as formas sucessivas da cultura escrita. A indestrutibilidade do texto deve ser assegurada através do texto eletrônico e da preservação dos suportes textuais gerados antes do advento do computador.

A idéia equivocada do 'fim do livro' é afastada pela abordagem fundamentada da questão dos diversos suportes para um determinado texto e sua conseqüente forma diferenciada de recepção pelo leitor, realizada pelo autor de A aventura do livro. O uso de veículos variados para transferência de informação, dentre eles o eletrônico, tem como pressuposto o texto. O suporte material de leitura do texto deve configurá-lo, de maneira que, as peculiaridades de cada mídia empregada sejam exploradas, caracterizando as diferentes 'versões' de um 'mesmo' texto e a interação texto/leitor.

1 Roger Chartier é historiador, especialista em história do livro e da leitura, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales.



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