sábado, 10 de julho de 2010

1418 - HISTÓRIA DO LIVRO

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Socorro Miranda



Desde que a literatura infantil começou a ser definida como tal, existe a polêmica quanto à sua verdadeira natureza. Ela pertence à arte literária ou à área pedagógica? Sabe-se que controvérsias que envolvem o conceito de literatura e da própria arte vêm de longe, mais precisamente da Antiguidade Clássica, quando se questionava a sua natureza utile ou dulce (utilitária ou lúdica).

A história do livro infantil confunde-se com a da literatura infantil, ambas são da mesma época, fim do século XVII. Antes disso, não existia “infância”, a criança participava de todas as atividades e de todos os eventos dos adultos, porém nenhum laço amoroso os aproximava, como nos diz Maria Antonieta Antunes Cunha (2002, p. 22):

[...] A história da Literatura começa a delinear-se no início do século XVII, quando a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial que a preparasse para a vida adulta.


E quem vai ajudar nessa preparação para a vida adulta dessas crianças é a escola, pois os primeiros livros infantis foram escritos por professores e pedagogos. Portanto, esses livros estavam diretamente relacionados a uma função utilitário-pedagógica e, por isso, começaram a ser considerados uma forma literária menor, preconceito que existe até os nossos dias, em se tratando dos livros paradidáticos, já que as escolas, simplesmente, impõem aos alunos o livro a ser lido por toda a turma. Sobre esse tema nos falam Maria José Palo e Maria Rosa D. Oliveira (1986, p. 13).

No contexto da literatura infantil, a função pedagógica implica a ação educativa do livro sobre a criança. De um lado, relação comunicativa leitor–obra, tendo por intermediário o pedagógico, que dirige e orienta o uso da informação; de outro, a cadeia de mediadores que interceptam a relação livro–criança: família, escola, biblioteca e o próprio mercado editorial, agentes controladores de usos que dificultam à criança a decisão e a escolha do que e como ler.

São esses fatores que afastam, cada vez mais, a criança do gosto pela leitura, pois é preciso mudar as relações entre a literatura e o ensino para que haja um intercâmbio saudável entre os dois, pois não se pode ignorar que a escola é um espaço onde muitas crianças têm seu primeiro contato com os livros infantis, quer paradidáticos, quer não.



Portanto, é preciso ter cuidado para não confundir o gênero da literatura a ser trabalhado e, principalmente, não usar metodologias inadequadas a determinado gênero textual, pois um texto literário não pode, a priori, ter utilidade, a não ser a de simplesmente divertir, através de suas metáforas, ao contrário do texto paradidático, que tem uma função determinada, uma finalidade, tratando de um assunto específico, complementando o livro didático. Por exemplo: um livro que fale sobre lixo e reciclagem auxiliará o livro de ciências ou o de estudos sociais.

Queremos, antes de mostrar o objetivo deste trabalho, desfazer esse equívoco comentado acima acerca dos livros infantis paradidáticos e literários, criado por algumas editoras, as quais consideram todos os livros infantis trabalhados em escolas como paradidáticos, o que não é verdadeiro. Um livro de literatura pode ser utilizado como paradidático sem perder suas características, o que não ocorre com um livro paradidático, que será sempre informativo, mesmo que seja de uma forma divertida. Portanto, nem toda obra literária infantil é paradidática.

Vale conferir a definição de Ninfa Parreiras¹, apresentada no seminário Ler é Preciso, em mesa-redonda realizada no I Salão do Livro para Crianças e Jovens, em São Paulo, no ano de 1999, na qual ela distingue o livro informativo do paradidático, explicando que o segundo é o livro com exercícios, com fichas de leitura, uma justificativa que nos parece inusitada segundo dispõe.

[...] o livro de não-ficção, comumente chamado de livro informativo, desde Lobato, com suas criações que misturavam fantasia e informação (Emília no País da Gramática, Histórias das Invenções...), cumpre a função de informar a criança, diferentemente do livro paradidático, com funções vinculadas à escola, com exercícios ao final dos capítulos. O livro informativo, além de servir para a leitura, serve para a consulta da criança, enriquecendo o imaginário com informações, descobertas e curiosidades (apud SERRA, 2002, p. 41–42).


Tendo em vista a preocupação das escolas e dos próprios autores com temas relevantes para a formação de uma consciência crítica nos estudantes, a autora salienta que “muitas são as abordagens disponíveis no mercado, que vêm crescendo na última década, como o meio ambiente, as artes, o funcionamento das coisas (corpo humano, máquinas, etc.), a história do país...” (Ibid, p. 44), temas que envolvem cidadania, criando uma nova consciência a partir dos pequenos leitores, quebrando tabus, construindo uma compreensão da vida essencial para a construção do lugar de cada pessoa na sociedade.

Nesse contexto, mostraremos que muitos livros não podem ser considerados exclusivamente informativos, pois trazem a informação com um pano de fundo lúdico, o que os tornam obras literárias híbridas, livros que ensinam divertindo, estilo literário usado por Monteiro Lobato que, no Sítio do Picapau Amarelo, misturava, tão bem, informação e magia.

Usaremos a definição acima, adotada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que caracteriza os livros com os quais trabalhamos nesta pesquisa, e que serão apresentados a seguir.

Buscamos, neste trabalho de pesquisa, realizado com crianças de 5 a 7 anos, no período de fevereiro a abril de 2004, nas escolas públicas Cônego Rochael de Medeiros, Bernard Van Leer e Jardim de Infância Ana Rosa Falcão de Carvalho; nas escolas particulares Escola Saber Viver e Escola Gostar de Aprender; nas ONGs Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente de Santo Amaro e Galpão dos Meninos e Meninas de Santo Amaro, ressaltar que as duas formas de literatura, acima citadas, são importantes, têm seu espaço conceitual e sua razão de ser, podendo ambas ser bastante sedutoras, dependendo da forma como são trabalhadas.

Diante desse pressuposto, vemos que o que importa são os critérios de escolha da obra e a forma a ser trabalhada pelos alunos: 1) se de forma equivocada, como instrumento de aperfeiçoamento lingüístico, como modelador de comportamento; 2) ou se desinteressadamente, deixando que os alunos, ao escolherem o livro, dêem a ele as funções que desejam. Aí está a diferença, pois, se bem trabalhado, um livro — paradidático ou não — poderá ser bastante encantador.

Sobre essa forma de recepção dos leitores e seu envolvimento com os livros escolhidos, Bragatto Filho (1995, p. 14) enfatiza que,

[...] ao se identificarem com o texto, entregando-se ao mesmo, ou ao discordarem dele, propondo novas e diferentes leituras, elegem infinitas possibilidades de funções ao texto literário: com ele, aprende-se, reflete-se, compara-se, discerne-se, questiona-se, investiga-se, imagina-se, viaja-se, emociona-se, diverte-se, amadurece-se, transforma-se, vive-se, desenvolve-se a sensibilidade estética e a expressão lingüística, adquire-se cultura, contata-se com as mais diferentes visões de mundo, etc.


Trabalhamos com os livros O Dente de Leite; Lalá, a Latinha de Lixo; e Contando, Cantando e Encantando, de nossa autoria, em projeto que visou a desmistificar a rotulação do livro paradidático como obra literária simplesmente informativa, mostrando que suas possibilidades são bem maiores, podendo conter muita magia e ser vivenciada de forma prazeroza. Como foi definido anteriormente, esses livros não podem ser classificados apenas como informativos, eles são obras literárias híbridas.

Procuramos, em nosso trabalho, utilizar várias técnicas, tais como: dobraduras, músicas, brincadeiras, fantoches, entre outras. Estimulamos a interação através de perguntas a respeito do livro e do tema proposto, como, por exemplo: “O que você mais gostou da história? Você gostaria de contar essa história de outra maneira? De qual personagem você mais gostou? De qual personagem você não gostou? Gostaria de contar a sua própria história?”. A partir dessa motivação, procuramos envolver a criança e, gratuitamente, conquistá-la. Isso é o que nos mostra Ninfa Parreiras (2002, p. 45–46):

Aprendemos, com os livros informativos, que ler não é só uma atividade estática, mas dinâmica, em que o leitor vai e volta na leitura, consulta, pesquisa, observa e descobre uma gama de informações que só os livros trazem. O livro informativo não possui maior ou menor valor que o livro de ficção. Ao informar, presta um serviço de esclarecimento ao leitor, como um dicionário ou uma enciclopédia, porém com linguagem adequada, com ilustrações e texto que prendem o leitor, tornando a leitura um deleite.


Acreditamos que o relacionamento do pequeno leitor com o objeto livro — no caso, o livro informativo — precisa ir além da escola, pois o interesse em se aprofundar e desvendar determinados assuntos, muitas vezes polêmicos, não pode ainda continuar sendo exclusividade das escolas.

Comungamos, ainda uma vez, com o pensamento de Ninfa Parreiras (2002, p.43–44), quando nos diz que:

O livro informativo não é exclusividade da escola, ele pode (e deve!) ser introduzido nos lares. Para a criança, é como uma caixa de surpresas, em que a cada página uma nova informação chega ilustrada para estimular a curiosidade, o interesse do leitor. É claro que, na escola, o livro informativo é um subsídio importante para a educação das crianças, sem tirar o espaço do livro de ficção, pois cada um cumpre uma função diferente (...) Muitas vezes o livro de ficção não sustenta o arsenal de informação necessário para uma pesquisa da criança. Por isso, o livro informativo é importante no acervo das crianças e dos jovens.


Assim, com este trabalho, constatamos que realmente os livros paradidáticos, se bem elaborados do ponto de vista estético e se devidamente vivenciados, podem encantar as crianças, e muitas vezes tornarem-se seus preferidos. Como nos disse Cecília Meireles: “A literatura melhor é a que as crianças lêem com prazer”². Cabe a nós proporcionar essa satisfação, deixando as crianças com livre escolha, e conseguir fazer, tal qual o nosso querido Monteiro Lobato, pioneiro na literatura paradidática, “livros onde as crianças pudessem morar”³.



¹ Ninfa Parreiras é especialista da FNLIJ, psicóloga e psicanalista em formação pela Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle (SPID), Rio de Janeiro.
² MEIRELES, Cecília. Problemas da Literatura Infantil. São Paulo: Summus, 1979. p. 19.
³ Monteiro Lobato apud DINORAH, Maria. O Livro Infantil e a Formação do Leitor. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 27.

Bibliografia

BRAGATTO FILHO, Paulo. Pela Leitura Literária na Escola de 1º Grau. São Paulo: Ática, 1995.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria & Prática. 18. ed. São Paulo: Ática, 2002.
MEIRELES, Cecília. Problemas de Literatura Infantil. 2. ed. São Paulo: Summus, 1979. (Novas Buscas em Educação, 3).
MIRANDA, Socorro. O Dente de Leite. Recife: Bagaço, 1995.
________________­­­­­­­­­­. Lalá, a Latinha de Lixo. Recife: Bagaço, 1998.
________________. Contando, Cantando e Encantando. Recife: Bagaço, 2001.
PALO, Maria José de; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil: Voz de Criança. São Paulo: Ática, 1986. (Princípios, 86).
SERRA, Elizabeth d’Ângelo (org.). Seminário Ler é Preciso. São Paulo: Global, 2002.

Maria do Socorro Miranda Gondim é escritora, poetisa, pesquisadora da cultura popular e pós-graduanda em Literatura Infanto-juvenil, pela Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire).









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