sábado, 10 de julho de 2010

1425 - HISTÓRIA DO LIVRO

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II Lihed: o livro sob a lupa dos pesquisadores
Sob a coordenação de Aníbal Bragança, as cidades do Rio de Janeiro e de Niterói vão sediar nos próximos dias (de 11 a 15 de maio) um evento acadêmico internacional - certamente o mais importante realizado no Brasil - tendo o livro sob a lupa da pesquisa científica. Trata-se do II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial, que reunirá algumas das maiores autoridades no assunto sob o lema “Cultura letrada no Brasil: avanços, crises e perspectivas”, com o objetivo de estimular os estudos da formação e desenvolvimento da atividade editorial e livreira no país.

A Academia Brasileira de Letras, a Biblioteca Nacional (no Rio) e o campus da UFF no Gragoatá (em Niterói) serão os palcos de dezenas de conferências, debates, mesas-redondas e apresentações de trabalhos, tendo à frente desde nomes consagrados internacionalmente no âmbito da pesquisa sobre a atividade editorial e a leitura, como os franceses Roger Chartier e Jean-Yves Mollier, até uma gama de jovens pesquisadores de diversas universidades brasileiras, passando também por devotados fomentadores da cultura livreira, como os bibliófilos José Mindlin e Carlos Mônaco, além de editores, autores e outros profissionais do livro.

Durante toda a semana que vem o blog Toda Palavra fará uma cobertura diária do evento, cuja abertura oficial acontecerá na quarta-feira, às 17 horas, na Academia Brasileira de Letras, com uma conferência do pesquisador e escritor jean-Yves Mollier (Diretor da École doctorale COL - Législations, Organisations, Cultures, na Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines), sob o tema L’histoire du livre et de l’édition, un observatoire privilégié de l’univers mental des hommes du XVIIIe au XXe siècle (A história do livro e da edição, observatório privilegiado do universo mental dos homens dos séculos XVIII a XX).

Antes, porém, acontecerão dois pré-seminários. O primeiro, na segunda-feira, será um colóquio sob o tema “Diálogo Brasil-França: Livro e Leitura, teorias e práticas”, coordenado por Aníbal Bragança e Jean-Yves Mollier, na Biblioteca Nacional, que integra também o calendário oficial do Ano da França no Brasil. O segundo, terça e quarta-feira, também com coordenação de Aníbal, na ABL, tratará de “Arquivos, Memória Editorial e História da Vida Literária”. Ao final do primeiro dia desse pré-seminário será aberta aexposição “Francisco Alves, o Rei do Livro”, com o lançamento e autógrafos de livro e CD-Room com o mesmo título, contendo importante pesquisa de Aníbal Bragança sobre o célebre editor e sua casa editorial.

Os destaques da programação do seminário na quinta-feira, em Niterói, serão a conferência, às 10 horas, de Diana Cooper-Richet (CHCSC - UVSQ) “Paris, capitale éditoriale de la lusophonie dans la première moitié du XIX° siècle?” (Paris, capital editorial do mundo lusófono na primeira metade do século XIX?), no auditório Florestan Fernandes da Faculdade de Educação da UFF; o colóquio, às 11 horas, “200 anos de livros brasileiros”, com a participação de Aníbal Bragança, José Mindlin, Márcia Abreu (Unicamp) e Eliana Dutra (UFMG), entre outros palestrantes de peso; e, às 18h30m, a conferência de Frédéric Barbier (CNRS): “L’Europe de Gutenberg : quelques conséquences de l’invention du livre imprimé” (A Europa de Gutenberg: algumas consequências da invenção do livro impresso).

No último dia do evento, sexta-feira, a programação também oferece um atrativo cardápio, que inclui as conferências de Jean-François Botrel (Université Rennes2)

“Le livre fragmenté et le lecteur néophyte: l’exemple des romans de colportage” (O livro fragmentado e o leitor neófito: o exemplo dos romances de entregas), Michel Melot (ENSSIB) “L’avenir des bibliothèques” (O futuro das bibliotecas) e de Roger Chartier (Collège de France) “Les nouvelles perspectives de l’histoire du livre” (As novas perspectivas da história do livro).

O II Seminário é uma iniciativa do LIHED - Núcleo de Pesquisa sobre Livro e História Editorial no Brasil, registrado no CNPq desde 2003, com coordenação do professor Aníbal Bragança, do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do CNPq. Ele dá continuidade ao I Seminário, realizado em 2004, na Fundação Casa de Rui Barbosa, primeiro evento acadêmico brasileiro especialmente voltado para discutir as questões da cultura letrada e suas relações com a história da formação cultural brasileira, com foco nas práticas dos agentes do mundo do livro, desde autores até leitores, passando por todo o universo profissional dos editores, livreiros, tipógrafos, designers, bibliotecários, arquivistas, em geral.

O evento ganhou, nesta segunda versão, uma expressão ainda maior graças à parceria da Universidade Federal Fluminense com a Academia Brasileira de Letras, a Fundação Biblioteca Nacional e a Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines - UVSQ, da França, que, através do convênio UFF-UVSQ, participa do projeto “Ler, escrever e narrar, ontem e hoje”, integrante do calendário oficial do Ano da França no Brasil, sob a coordenação de Vânia Leite Fróes (Scriptorium/UFF) e Jean-Claude Schmitt (GAHOM-EHESS). Conta, este ano, com o apoio da Petrobrás, do CNPq, da Capes e da Faperj.

A programação completa do seminário, assim como muitos dos textos básicos dos assuntos abordados, está em http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/segundoseminario/index.php/pagina-inicial.

A seguir, reproduzo um texto de Aníbal Bragança que traduz a importância dessa iniciativa acadêmica, face ao caráter ainda escasso dos estudos desenvolvidos até hoje sobre o livro no Brasil:

Fundamentos históricos e perspectivas

Aníbal Bragança

Até agora a bibliografia brasileira conta com apenas um bom trabalho de síntese, feito por pesquisador estrangeiro, que enfoca o desenvolvimento histórico de nossa indústria editorial. Traduzido e publicado no país, em 1985, com o título O livro no Brasil (sua história), de Laurence Hallewell, tornou-se clássico e obrigatório como referência para os pesquisadores da área, tendo sido reeditado, revisto em ampliado, pela Edusp, em 2005.

Mais recentemente surgiram alguns bons estudos feitos por pesquisadores brasileiros sobre editoras, como a José Olympio, a Francisco Alves, a Vozes, a Companhia Editora Nacional, a Melhoramentos, que, somando-se a outros trabalhos na área das práticas sociais de leitura, do comércio livreiro na Colônia e no Império, da publicação de jornais, almanaques, literatura de cordel, assim como histórias de livrarias, como a Globo, de Porto Alegre, e a Ideal, de Niterói, que vão constituindo uma massa de trabalhos monográficos que enriquece e corrige os trabalhos anteriores, onde, além do de Hallewell, destacam-se também as contribuições pioneiras de Carlos Rizzini, Rubens Borba de Moraes, Marcelo de Ipanema, José Marques de Melo e outros. Começa-se assim a formar uma tradição de estudos e pesquisas na área que o historiador americano Robert Darnton chamou de História Social e Cultural da Comunicação Impressa.

O fortalecimento desse campo emergente de estudos, que ultrapassa as fronteiras da Comunicação, alcançando espaços nos cursos de História Cultural e História Política, nos de Crítica Textual, Teoria Literária e História da Literatura (indispensáveis para a formação de profissionais da editoração); também se manifesta nos cursos de Urbanismo, onde o estudo da história das livrarias e das práticas de sociabilidade e criação de lugares de memória, certamente, são fundamentais para se compreender não só o desenvolvimento urbano como a cultura que nasce nas práticas sociais da cultura letrada nas cidades; na Antropologia, onde cada vez mais há o interesse no estudo das configurações culturais das sociedades orais e suas transformações após o surgimento ou a incorporação das práticas da escrita, da leitura, da imprensa e do livro; na Sociologia da Cultura e do Conhecimento, onde o interesse pela criação e circulação do conhecimento através das instituições voltadas para edição, venda, distribuição e circulação de livros e outros produtos impressos se tem manifestado; na Educação, onde têm sido estudadas cada vez mais intensamente as práticas sociais de alfabetização e de leitura e escrita e a história dos manuais escolares. Na Economia e na Administração, onde as pesquisas sobre a gestão, quer em nível macroeconômico, quer no sentido empresarial, têm recebido inesperada atenção, inclusive do BNDES, com contribuições relevantes para o conhecimento da área em aspectos até então quase inacessíveis. Todas essas áreas deverão enriquecer e ao mesmo tempo receber os estímulos intelectuais e acadêmicos que um evento com estes objetivos pode propiciar.


Tags: Aníbal Bragança, Ano da França no Brasil, II Lihed, Jean-Yves Mollier, Roger Chartier

Artigo postado em 8 de maio de 2009 às 12:37 e arquivado em Mercado editorial. Acompanhe as respostas a esse post pelo feed RSS 2.0. Você pode deixar um comentário, ou um trackback do seu próprio site.

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SOBRE O AUTOR
Luiz Augusto Erthal é jornalista e editor, dedicando-se nos últimos anos, através de sua atuação editorial, à causa da bibliodiversidade. Fundou e dirige, na cidade de Niterói, Estado do Rio, a editora Nitpress, voltada para a valorização da literatura fluminense. Criou, através deste selo, a coleção inédita "Introdução aos Clássicos Fluminenses", com o propósito de trabalhar a identidade regional através do legado de escritores como Euclides da Cunha, Casimiro de Abreu, Alberto de Oliveira, Fagundes Varela e muitos outros. Entre os contemporâneos, tem publicado as obras de Luís Antônio Pimentel, autor do primeiro livro de contos japoneses editado no Brasil - "Contos do Velho Nipon" - e introdutor do cânone do haicai.
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