domingo, 18 de julho de 2010

1706 - HISTÓRIA DA PSICANALISE

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Temas Propostos

1 - A clínica psicanalítica
2 - Transmissão da Psicanálise
3 - As instituições analíticas
4 - A relação da psicanálise com o social e com o político
5 - A relação da psicanálise com a arte, com a literatura, com a filosofia
6 - A relação da psicanálise com o direito, com as neurociências, com a biologia e com a genética.

1 - A clínica psicanalítica

Aquilo que especifica a prática psicanalítica é o reconhecimento de transferências inconscientes, da resistência e do auxílio que eles constituem para a análise e para o advento do sujeito que ela promove. A arte de praticar a análise se confunde com a arte de resolver "a neurose de transferência" presente na análise e que pode fazer com que, se for o caso, o analisando se torne analista.

Uma vez que as transferências do analisando e o desejo do analista estão no início da experiência ( o lugar do "sujeito suposto saber" onde o analista vem se situar já é antecipado na história), o que se tornam as categorias nosográficas herdadas da psiquiatria? São as modalidades da transferência, da resistência e da colocação do fantasma no seu lugar ( modos de ligar o sujeito ao objeto do desejo ) que esclarecem o curso da análise.

A única "neurose" que o analista conhece é, segundo Freud, "a nova neurose artificial " (acrescentemos: ou "a nova psicose") que se manifesta através da transferência. Não seria mais conveniente dizer, hoje em dia: a nova relação do sujeito com o fantasma, com a realidade, com o real?

Entre dois riscos, o da psiquiatrização da psicanálise e o da sua psicologização, existe uma possibilidade epistemológica de extrair uma autonomia da clínica psicanalítica em relação a qualquer concepção objetivante da relação à outra, emprestada de outros campos do saber?

Em relação a essa possibilidade, quais são as variações do protocolo analítico que podem ser consideradas? Uma relação específica entre a tekné (a arte de analisar) e o "epistêmê" (o saber) resta a elucidar.

2 - Transmissão da Psicanálise

Como em toda disciplina, a especificidade da transmissão da Psicanálise, da qual Freud formulou (em "A Análise leiga") altas exigências para um Instinto ou uma Escola, requer que o saber esperado do psicanalista seja acrescido da experiência "em si" de uma análise, cujas modalidades de realização são reguladas por associações privadas. Cada uma delas tem uma relação particular com a herança de Freud, ou com a (herança) de um de seus sucessores, e uma relação de poder "sobre" esse saber do qual ela se atribui a guarda.

Frente à preocupação real em preservar a herança do pensamento psicanalítico e em transmitir o seu saber ao modo tão singular da experiência de uma análise, susceptível de recolocar esse saber em questão, tendem a se perpetuar transferências não resolvidas que, ao mesmo tempo, regulam as relações entre colegas e impregnam a direção da análise, de um modelo justamente ali onde a necessidade de uma constante invenção se impõe. As relações cristalizadas do sujeito com o "fantasma" e com o objeto do desejo, mesmo quando não se trata do "atolamento" de um conflito de geração, são, desta forma, expostas a se transmitirem como tais.

Se pudermos compreender historicamente que a relação analista/analisando se encontre em coalescência com a tradição mestre/aluno, não disporíamos então, hoje em dia, de um reflexão sobre a experiência que pudesse desprendê-la disso?

Como aportar um suplemento de análise às modalidades atuais da transmissão e da validação dessa experiência?

Como evitar que autonomia e a independência adquiridas pela análise se inverta na relação entre analistas?

3 - As instituições analíticas

Há dois modos de existência da Psicanálise:

Um, como experiência singular no transcorrer da qual a sociabilidade interna do sujeito se move no espaço "privado" da situação analítica, na "neurose" ou na "Psicose" de transferência ou, em outros termos, na relação com o fantasma e com a realidade. E o outro, no qual a psicanálise se manifesta no domínio "público" através da teoria, das instituições analíticas, na relação com o social e com o político.

Esses dois modos de existência da psicanálise, são eles destinados à clivagem, ou pode-se colocar como possível a correspondência entre eles, levando em consideração problemas que pode apresentar a maneira pela qual eles se respondem, um ao outro?

Qual seria o futuro dessa " co-respondência" para a psicanálise, como ela se inscreveria nas escolas de psicanálise, como poderia ela modificar o laço social em geral e o laço social entre analistas em particular? E como poderia ela resistir às derivas do sectarismo ou da standardização burocrática, respeitando as diferentes correntes de pensamentos que a animam submetendo-as ao rigor da razão analítica?

4 - A relação da psicanálise com o social e com o político

Diversos exemplos na história do movimento psicanalítico testemunham a desconsideração da relação da psicanálise com o social e com o político, quaisquer que tenham sido as reflexões neste domínio extraídas por Freud e seus sucessores. Um a-politismo ostentado sempre cobriu políticas de Estado insustentáveis.

Pode-se extrair um pensamento analítico do político, uma contribuição desse pensamento para a história social e para a evolução das sociedades, para a reflexão sobre os direitos do homem, para a concepção tradicional da ética?

Mais precisamente, como julgar, diante de um tal pensamento, os diferentes modos de inscrição da prática da psicanálise em relação às regulamentações sociais ou profissionais variando segundo os países? Em relação às mudanças sócio-culturais, à crise generalizada do pensamento, à progressiva restrição do domínio privado?

A psicanálise pode ater-se ao princípio de flutuabiliade universal das suas instituições em relação aos poderes políticos e frente às mudanças culturais profundas de nossa sociedade? A psicanálise das crianças, a presença dos analistas no domínio da educação ou nas instituições de cuidados, sua relação com o trabalho social e com as mudanças advindas da demanda de análise, o crescimento considerável do número de analistas, um número considerável de dados que modificaram a prática mais clássica. Como fica isso tudo?

5 - A relação da psicanálise com a arte, com a literatura, com a filosofia

Ao reconhecer-lhes "antecedentes" no conhecimento da realidade psíquica, a psicanálise apoiou-se, com freqüência, na literatura e na arte para acentuar suas descobertas. A crítica literária e a crítica da arte encontram, hoje em dia, na psicanálise, uma nova fonte de reflexão. Quais são as novas avenidas para o pensamento que os seus encontros podem abrir?

Para se inspirar e para se ilustrar, a leitura dos filósofos teria impregnado a obra de Freud e, a partir daí, a obra de Lacan, de mais de uma maneira para falarmos apenas desses dois. Muitos conceitos dos quais eles se servem pertencem à história da metafísica, são forjados na mesma matéria linguageira que eles herdaram. Em que medida eles se libertam desta história? Que estabilidade podem ter os conceitos em psicanálise? Como eles se renovam?

Várias correntes da filosofia, hoje em dia, levam em consideração os avanços da psicanálise e a questionam de volta: sobre sua doutrina da verdade, sobre sua idealização da letra, sobre seus modelos interpretativos, sobre seus mitos de origem, quando não é sobre a insuficiência de sua reflexão referente à violência social, ao direito e à justiça ou suas próprias instituições. Esse questionamento não acontece sem acarretar remanejamentos na teoria psicanalítica: sobre a relação da fala com a escrita, da marca com seu apagamento, sobre as questões da sexuação e do gozo. O mesmo se diz em numerosos aspectos da sua prática.

6 - A relação da psicanálise com o direito, com as neurociências, com a biologia e com a genética

Desde da Shoah, o crime primordial perpetrado em nome da violência mítica que instauraria a lei não é mais o parricídio mas o crime contra a humanidade que atinge até ao enraizamento biológico da realidade psíquica e da crueldade fundamental desprovido de toda consciência de culpabilidade. Esta violência mitológica tenta se apropriar querendo destruir a testemunha, uma violência divina cuja justiça seria irredutível ao direito.

Einstein e Freud desejavam, já em 1933, submeter este crime primordial, ainda sem nome, a uma jurisdição supra-nacional.

Qual é hoje, a nossa concepção do homem? Tem ela sua consistência na forma de um sujeito de um conjunto neruronal tornado sensível às suas experiências através das sinapses da dor ou do prazer ou como um sujeito da fala e da letra, do desejo e da lei?

Em que atualmente, o progresso da biologia molecular e da genética podem recolocar em questão a teoria freudiana das pulsões? Como pensar então as diferentes etapas do salto que vai do dispositivo pulsional a uma combinatória do representante da representação? Os substratos moleculares não explicam-ou não ainda como o sujeito das exigências biológicas é capaz de tornar a sua servidão "voluntária" ou de querer libertar-se dela. A exclusão do sujeito do inconsciente do campo das ciências do vivente faz aparecer o espectro de um homem-máquina aos humores regulados quimicamente ou seu correlato puramente religioso.



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