terça-feira, 13 de julho de 2010

1469 - HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS

História das bibliotecas
Raimundo Ferreira de Souza

Dispondo de uma estrutura física com dez grandes salas e quartos separados para os consulentes, a biblioteca de Alexandria, considerada a primeira do mundo e descrita como "o grande templo da sabedoria", surgiu em 331 e 330 a.C., fundada por Alexandre, o Grande, na cidade de Alexandria.

Antes de ser incendiada por César, que inclusive declarou que foi acidental, possuía um acervo de 700 mil textos em volumes diversos, com dimensões que variavam de 11 a 30 metros de comprimento por 25 centímetros de largura e que eram escritos sem parágrafos, sem vírgula ou qualquer outra pontuação. A atividade de leitura dessas imensas tiras certamente exigia do leitor uma grande resistência respiratória.

Entre os usuários ilustres, a jovem princesa Cleópatra a visitava quase diariamente - mesmo quando César ocupou a maior parte da cidade, no ano 48 a.C., ela, que era uma de suas amantes, continuou visitando a Biblioteca, contando inclusive com a escolta da guarda imperial para sua segurança.

Marco Antonio, outro líder romano que se tornou também amante e depois marido de Cleópatra, talvez por influência de sua amante-esposa, sensibilizou-se com os danos no acervo em decorrência do incêndio e resolveu ressarcir as perdas, doando 200 mil pergaminhos e livros, saqueados da biblioteca de Pérgamo, considerada rival da biblioteca da Alexandria.

Outra iniciativa para ampliar o acervo da biblioteca foi tomada por Ptolomeu, o Benfeitor, que de tão obcecado em aumentar o acervo teria ordenado a apreensão de qualquer livro trazido por estrangeiro, sendo levado aos escribas para copiar. Depois o original era devolvido ao dono, que ganhava o prêmio de 15 talentos.

Contrário ao "benfeitor" Ptolomeu, que tinha grande admiração pela preservação e ampliação do acervo da biblioteca, o bispo Téofilo, cristão fundamentalista do tempo de Teodósio, o Grande (391 a.C.), mobilizou o povo a investir contra a Biblioteca de Alexandria e o Templo de Serapium, que era anexo, pois viu naqueles ambientes um "depósito de maldades do paganismo e do ateísmo".

Para assumir a direção da Biblioteca de Alexandria existia uma rigorosa seleção entre os intelectuais e o escolhido bibliotecário-chefe sentia-se como estivesse atingido o Olimpo, ou ainda, um Zeus todo poderoso controlando as letras, os números e as artes.

Decorridos 2333 anos, do surgimento aos dias atuais, passando de geração em geração, por poderes políticos que conservavam e ampliavam seu acervo, outros que a consideravam perigosa para manutenção do poder e tentavam destruí-la, sofrendo ainda a ação constante de vândalos e pesquisadores mal-intencionados, a Biblioteca de Alexandria foi reformada e inaugurada em outubro de 2002, constituindo-se um grande empreendimento para recuperar o centro da sabedoria da antigüidade.

No Brasil, a história das bibliotecas remonta a 1808, quando, em janeiro, Dom João VI desembarcou em Salvador (BA), trazendo consigo a Biblioteca Real, que foi instalada no Convento do Carmo (sede da corte portuguesa) e generosamente aberta aos estudiosos locais. Estava, então, formado o núcleo da primeira biblioteca pública brasileira, que reunia um acervo inicial 60 mil volumes. Em 1878, recebeu o nome que mantém até hoje: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Antes dela, somente alguns conventos possuíam bibliotecas, porém de uso restrito aos membros das instituições.

Em 1811, na Bahia, o Conde dos Arcos fundou a segunda biblioteca pública do país, servindo de grande fonte de documentação histórica. De lá para cá, as bibliotecas surgiram em várias cidades e, segundo os registros históricos, de 1951 a 1899 fundaram-se 164; de 1900 a 1919, mais 248 e sempre em números crescentes; de 1940 a 1953 fundaram mais 905 bibliotecas.

Hoje, além das bibliotecas públicas, há as bibliotecas universitárias, escolares, especializadas, particulares, móveis até as virtuais, além de inúmeros locais para pesquisas bibliográficas e em outros suportes, como centros culturais e museus, entre outros.

Pela extensão do país, apesar de podermos enumerar milhares de bibliotecas e outros instituições que oferecem alternativas para estudo e pesquisa, mas, a carência ainda é muita grande, pois, além da falta de bibliotecas registradas nas pequenas cidades, mesmo na área periférica, existem pessoas que são habituadas à leitura e lhes faltam as opções. Essa deficiência de bibliotecas ou outras instituições similares junto às camadas menos favorecidas, além de constituir necessidade premente para os leitores, impede sobremaneira a formação de novos leitores, sem contar que essas instituições colecionadoras e organizadoras de materiais bibliográficos poderiam desenvolver importante papel como órgão de apoio junto ao ensino regular.

Via de regra, a implantação de quaisquer instituições e/ou serviços no setor público vem ao encontro da demanda da população. A existência de poucas bibliotecas no Estado do Acre, de certa forma, pode estar vinculada à ausência de manifestação popular pontual reivindicando a implantação de maior quantidade dessas instituições, especialmente de caráter público, na capital e no interior, objetivando beneficiar a população de leitores potenciais e não potenciais, bem como apoiar o sistema regular de ensino.

Sobre a situação das bibliotecas no Acre, para não falar do status quo de carência, seria mais interessante alertar para a necessidades de se implementar uma política oficial de implantação de bibliotecas públicas em algumas localidades da capital, no mínimo em quatro pontos - por exemplo, na localidade que servisse às populações do bairro experimental a adjacências; na localidade que atendesse as populações da bairro do aviário, São Francisco a adjacências; na localidade que atendesse as comunidades do segundo distrito e em localização centralizada no bairro do bosque. Essa diretriz não poderia esquecer de montar também bibliotecas públicas com acervos adequados às necessidades locais de cada sede municipal.

O ensino regular, a todo momento, fica alertando os estudantes para necessidade de se adquirir o habito da leitura. No entanto, fora do ambiente escolar, com raras exceções, esses alunos, que poderão se transformar em potenciais leitores e estudantes exemplares, não encontram ambientes adequados, com acervos importantes e adequados em número suficiente para exercer sua prática de leitura e pesquisa.

Bibliotecário

(Jornal A Tribuna, 29.10.2003)


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