terça-feira, 13 de julho de 2010

1465 - HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS

POLITICAS DE CONSERVAÇÃO DE ACERVOS DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS ESTADUAIS





ANA MARTHA MACHADO SAMPAIO [1]

(amms@uefs.br ou ana_martha@ig.com.br)

Resumo:



Na sociedade contemporânea a Informação atua como mola propulsora no desenvolvimento econômico, gerencial e cultural das instituições. As Bibliotecas e/ou Centros de Informação têm como papel principal difundir o conhecimento. As Bibliotecas Universitárias Estaduais, como centro produtores de conhecimento, deveriam assumir uma política de preservação de acervos históricos, pois é através desta documentação que se desenvolve pesquisas que trazem benefícios para o futuro social e resgata a historia cultural dos nossos municípios. Muitas das bibliotecas dessas instituições têm acervos raros e valiosos e não adotam técnicas de preservação adequadas para sua conservação. O artigo aborda a necessidade das universidades estaduais de estabelecerem políticas de preservação dos seus acervos históricos, de promoverem a divulgação e a acessibilidade dessas raridades através de técnicas específicas a exemplo da digitalização, que preserva o documento original e garante o acesso dessas preciosidades a um grande número de usuarios. O artigo toma como base experiências já desenvolvidas nesta área em universidades estaduais, a exemplo da USP, que vem desenvolvendo esta experiência.



Palavras-chave: conservação de acervos; acervos históricos; bibliotecas universitárias; digitalização de acervos; preservação de acervos.















Esta comunicação tem como objetivo mostrar a importância das Bibliotecas e Centros de Informação que têm como papel principal difundir o conhecimento. A nação tem o dever de conservar os testemunhos escritos de sua história através de documentos que são testemunhos concretos de sua identidade. Desde a antiguidade que o homem sente necessidade de deixar seus registros escritos e assim contar sua história. As Bibliotecas Universitárias Estaduais, como produtores de conhecimento, deveriam assumir uma política de preservação de acervos históricos, pois é através desta documentação que se desenvolve pesquisas que trazem benefícios para o futuro e resgata a história cultural dos municípios. Os acervos bibliográficos de uma comunidade são geralmente patrimônios públicos e os problemas referentes á conservação de documentos históricos são muito graves e só será resolvido através da conscientização, principalmente de profissionais e políticos ligados a instituições, pois sem interesse político estes documentos não permanecerão como um bem cultural.

O objetivo desse trabalho é desenvolver um plano de ação, a fim de desencadear em processo contínuo de disseminação dos acervos das Bibliotecas Universitárias Estaduais Baianas, através de metas informacionais que preserve a documentação de acervos históricos dos municípios; disseminar os acervos históricos através da Internet, por via de instrumentos de consulta e pesquisa; resgatar de forma sistemática a produção literária referente à história dos municípios. Para que tais objetivos sejam alcançados se faz necessário uma política séria de preservação e conservação dos acervos históricos, que hoje são quase inexistentes principalmente na Bahia que existem várias Bibliotecas Universitárias Estaduais instaladas em diversos municípios, por falta de interesses superiores que não vêm como processo prioritário dentro de uma organização, é necessária conservação de registros históricos, seja ela, em forma de documentos impressos ou manuscritos em papel, em forma digital ou microfilme.

As informações contidas em acervos históricos que são de grande importância para a memória de municípios estão prestes a desaparecer e não devemos deixar que esses documentos, em sua maioria manuscritos únicos e raros, sejam destruídos pelo uso inadequado, falta de preservação e descaso por parte de governantes e administradores que não dão um mínimo valor, pois em sua maioria são pessoas a quem interessam o silêncio sobre o passado e que não tem consciência do valor histórico que esses documentos representam para nação, pois é através dos mesmos que resgatamos nossas histórias dispersas em fragmentos que estão a cada dia desaparecendo, sem percebermos que é uma origem, uma identidade que durante alguns anos poderá não mais existir, por isso, temos que proteger esses documentos e preservá-los contra os males que o tempo e as pessoas causam, tentando conservá-los por um período mais duradouro possível para que possam continuar sendo acessíveis no futuro. A deteriorização de documentos sempre vem causando danos no mundo, por isso, todos que tem a preocupação com a conservação de documentos históricos devem combater ou ao menos amenizar esse grande problema que reduz o tempo de vida do acervo.

No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988, traz artigos referentes ao patrimônio cultural brasileiro dentre os quais merece considerações:

Artigo 23º - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV – Impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de ouros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

Artigo 30 º - Compete aos Municípios: IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Decreto-lei nº 25 que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional cujo Capítulo I, Artigo 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse pública, que por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

Capítulo II. Do Tombamento. Artigo 26 – Os negociantes de antiguidade, de obras de arte de qualquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes, outrossim, apresentar semestralmente às mesmas relações completas das coisas históricas e artísticas que possuírem.(IPHA, 2004)



Uma das propostas de trabalho que poderia trazer bons resultados caso fosse elaborado pelas Bibliotecas Universitárias Estaduais Baianas seria a criação de projetos direcionados à políticas públicas relacionadas à preservação de documentos históricos dos municípios onde já existem universidades estaduais. A UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, através da Biblioteca Setorial Monsenhor Renato de Andrade Galvão locada no Museu Casa do Sertão, cujo acervo é composto em sua maioria de obras raras e especiais compostas de documentos históricos especializados em Feira de Santana e região, desenvolveu um projeto para preservação e restauração do seu acervo cujo trabalho foi aprovado pelo programa de incentivo à cultura, o “Faz Cultura”, e está aguardando a iniciativa de patrocinadores para que seja implantado.



FIGURA 1 – JORNAL DO INÍCIO DO SÉCULO


Fonte: http://www.uefs.br/imagens/imagem31.jpg



Atualmente, como ação emergencial de preservação dos documentos manuscritos da Biblioteca Setorial Monsenhor Renato de Andrade Galvão, estamos desenvolvendo um trabalho paliativo de digitalização desses documentos através do registro digital com câmera fotográfica e disponibilização dessas imagens na home page do Museu Casa do Sertão (http://www.uefs.br/sertao). Reconhecemos que estes não são os métodos adequados de disponibilização, mas em virtude da falta de recursos financeiros para realização do trabalho de forma ideal e, em virtude da grande procura desses manuscritos por pesquisadores e estudantes, principalmente do campo da filologia, este foi o recurso encontrado para causar menor dano ao patrimônio que se encontra em péssimo estado de conservação.



FIGURA 2 – BIBLIOTECA SETORIAL MONSENHOR RENATO

DE ANDRADE GALVÃO


Fonte: http://www.uefs.br/imagens/image28.jpg



As Bibliotecas Universitárias Baianas atualmente assumem o papel de centro de referência para estudantes e pesquisadores que em sua maioria, buscam conhecer a cultura e a história dos municípios interioranos e desenvolvem pesquisas de caráter histórico, socioeconômico e cultural que tem como principal finalidade reunir, organizar e preservar um acervo de valor histórico, são instituições relacionadas com a cultura, por isso, tem como principal tarefa preservar a herança documental para gerações futuras, a maioria, no entanto, apresentam condições inadequadas que põem em risco a preservação de seus acervos que se espalham por esses municípios afora.

Hoje a informação esta crescendo cada vez mais e os recursos informacionais são maiores, a disseminação da informação está sendo feita através de criação de gestão de redes de comunicação e distribuição por meio das quais as informações são transmitidas. Na era atual, com o surgimento da Internet veio à biblioteca eletrônica ou virtual, também denominada biblioteca sem paredes, disponíveis em computadores que podem ser acessados por um público geral de qualquer lugar, onde a informação circula muito mais democraticamente deixando de ser apenas privilégio de poucos. As novas tecnologias vêm a contribuir para a preservação dos documentos históricos, pois através do processo de digitalização podemos ter acesso a documentos digitalizados e disponíveis para serem consultados através do microcomputador sem que seja necessária a consulta ao documento original.

Importantes acervos que necessitam ser preservado existem atualmente em forma impressas e em outros formatos, como a informação eletrônica. Podemos tomar como base experiências já desenvolvidas nesta área em universidades estaduais, a exemplo da USP – Universidade de São Paulo, que vem adotando uma política de conservação com a criação da Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais que torna disponível para o público em geral o conteúdo integral de títulos existentes nas diversas Bibliotecas da Universidade, onde foram selecionados e digitalizados em sua integra 38 livros e demais documentos, num total de 1224 títulos, que se encontram disponíveis para consulta ou para impressão de uso não comercial. No processo de seleção foram usados os critérios de antiguidade, valor histórico e inexistência de novas impressões (www.usp.br). Existe também a microfilmagem que é um método de conservação muito eficaz, pois preserva e protegem os documentos, principalmente arquivos e manuscritos, além de ser também muito econômico, prolonga a vida dos livros e de outros documentos ameaçados, evitando seu desgaste, pois os originais são conservados e os usuários têm acesso às reproduções em forma de microfilme, que podem ser lidos através de leitoras.

Porém, um problema que deve ser levado a sério com o surgimento de novas tecnologias, como o uso da informação digital, é a exigência de que o profissional da informação seja mais qualificado e que tenha além de seu conhecimento profissional, competências técnicas para lidar com as novas tecnologias. Têm-se observado nas Bibliotecas Universitárias Estaduais Baianas, uma maior necessidade de atuação na organização e preservação de acervos raros, acesso e tratamento digital, melhor capacitação profissional e um maior envolvimento da administração e gerenciamento desses acervos.

Ao se conceber e se implementar uma política de preservação, não se pode perder de vista o maior objetivo da biblioteca que é informar e socializar o saber e, portanto, o seu acervo existe para ser utilizado. Não é possível pensar uma biblioteca onde os materiais estejam em perfeitas condições de uso, mas que não é permitida a sua consulta. Pelo contrário, o uso adequado deve ser incentivado, considerando que também é função do bibliotecário treinar o usuário para utilizar adequadamente o acervo, sem provocar danos aos materiais.

A biblioteca não é um lugar onde são estocados livros e papéis, o que ela guarda e preserva é um conhecimento que constitui um patrimônio para a humanidade, onde ela vai buscar os seus caminhos e que, portanto, deve ser preservado para ser usado. (GOMES,1997)



Imaginem quantas informações importantes foram perdidas no tempo, quantas histórias deixamos de conhecer, quantos documentos deixaram de existir e com eles informações valiosas para nossa história. Mas nunca é tarde para começar, pois se as Bibliotecas Estaduais Baianas em parceria com o governo iniciarem um trabalho direcionado para política de conservação dos documentos históricos que restam nos municípios, garantiremos para futuras gerações, história completa, sem faltar pedaços nem vivemos de hipóteses e sim registros completos e concretos de uma história vivida.

O valor histórico de um documento é imensurável, onde a partir do registro de acontecimentos contemporâneos à sua época ou de outras épocas, o pesquisador, pode encontrar tesouros escondidos em depósitos de documentos que são deixados ao descaso total e que com o passar do tempo serão descartados.

Apesar de serem parte do patrimônio cultural, os documentos dos arquivos, os manuscritos e os documentos impressos não sobrevivem por si mesmos; é necessária uma vontade política para salvaguardar e proteger esta herança cultural e para enriquecê-la continuamente com documentos contemporâneos de valor duradouro. Como em uma casa vazia, o patrimônio que não é administrado e mantido por arquivistas ou bibliotecários competentes e que não está acessível aos pesquisadores e ao grande público, está condenado a deteriorização e ao desaparecimento. Por esta razão, numerosos países editam regulamentos e leis para a proteção, conservação e utilização dos arquivos. (IBICT, 1999, p 169).



Sabemos que em um país burocrático como o nosso nascem idéias, só que elas tem que ser passadas para o mundo real, o desafio está lançado, agora tem que surgir projetos e após estes projetos vem outra luta para conseguir verbas que são cada vez mais escassas nas instituições governamentais, principalmente para investimento no crescimento informacional das Bibliotecas Universitárias, mas com insistência e perseverança nos profissionais da informação temos que continuar fazendo nossa parte, pois se cada cidadão fizer a sua com certeza nossa história vai continuar a existir por muitas gerações.

As Bibliotecas Estaduais Universitárias deveriam preocupar-se cada vez mais para que seus acervos e serviços atendessem melhores as necessidades dos seus usuários, elas deveriam tentar estabelecer uma cultura sempre voltada para os usuários. A informação é um meio de melhorar sua competitividade conservando assim sua posição num mundo cada vez mais competitivo, pois o conteúdo da informação é composto por empresa pública que desenvolvem bens de propriedade intelectual.



















REFERÊNCIAS







ARQUIVO Virtual. Arquivo Público do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 21. maio 2004.



BIBLIOTECA Digital de Obras Raras e Especiais. USP – Universidade de São Paulo. Disponível em < http://www.obrasraras.usp.br>. Acesso em 04.Jun. 2004.



BIBLIOTECA Virtual. Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em: . Acesso em: 01. Jun. 2004.



CENTRO de Memória Digital. Universidade de Brasília. Disponível em: http://www.cmd.unb.br. Acesso em: 07.Jun. 2004.



CIÊNCIA da informação, ciências sociais e interdisciplinares. Brasília; Rio de Janeiro: IBICT, 1999. 182p.



GOMES, Sônia de Conti. Técnicas alternativas de conservação: recuperação de livros, revistas, folhetos e mapas. Belo Horizonte: UFMG, 1997. 108p.



GROSSMANN, Judith. Temas de teoria da literatura. São Paulo: Ática,

1982. 116p.



IPHN. Legislação. Disponível em: http://www.iphan.gov.br. Acesso em: 07. Jun. 2004.



LÉVY, Pierre. Tecnologias da inteligência. Tradução de Irineu Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. 208p.



POPINO, Rollie E. Feira de Santana. Bahia: Editora Itapuã, 1968. 328p.



SENAC. DN. Restauração e conservação de documentos. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 1995. 80p.



SPINELLI, Jayme. Introdução à conservação de acervos bibliográficos: experiência da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1995. 66p.



SPINELLI JÚNIOR, Jayme. A conservação de acervos bibliográficos e documentais. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1997. 90p.



TAKAHASHI, Tadao (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. 195p.



UNIVERSIDADE Estadual de Feira de Santana. Museu Casa do Sertão. Folheto. Feira de Santana. 2000.



--------------------------------------------------------------------------------

[1] Mestranda em Gestão (UNIB/UEFS) Instituto Internacional Universitário do Brasil / Universidade Estadual de Feira de Santana.




COPYRIGHT DEVIDO À UNIB/UEFS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas