quarta-feira, 30 de maio de 2012
flagelados da seca
A VIUVEZ DO VERDE 111
OS FLAGELADOS
Carlos Cavalcanti
(na seca de 1942)
Ando perdido neste acampamento,
de rede suja em rede suja,
e vejo em cada flagelado o sofrimento.
Em face deste bárbaro tormento,
de tão negra miséria, o meu desejo
é abandonar, com a rapidez do vento,
esta gleba infeliz em que rastejo!
Vendo um casal que dorme à sombra larga
com seus filhos magríssimos à ilharga,
em mim referve a cólera e a piedade!
E afogo estas palavras rebeladas:
– homem, vai ser ladrão pelas estradas!
– mulher, vende a retalho a honestidade!
112 EDUARDO CAMPOS
A SECA
Mário Linhares
Ceará. Pleno Sertão. Agosto. Um sol de brasa
queima impiedosa mente o ventre da floresta.
O ar, pesado, asfixia. O espaço nem uma asa
de ave corta. A adustão flores e frutos cresta.
Fuzila o dia. Em fúria, o vento, dentre a fresta
de abertas rochas, silva. À sede que o abrasa,
o touro escarva o chão e, ao mormaço da sesta,
a dor da planta à dor dos pássaros se casa.
Nenhum riacho a colear o amplo seio do bosque.
É ardente o sol, é seco o arbusto, é triste o prado;
E nenhuma hera ao tronco anoso há que se enrosque.
Calma. Pela esplanada, apenas, se ouve o pio
dos anuns e o mugir convulsivo do gado,
sob a cáustica luz desses dias de estio.
A VIUVEZ DO VERDE 113
SECA NO CEARÁ
José Valdivino
À MEMÓRIA DE CRUZ FILHO
Há seca no Ceará. O sol refulge e cresta.
E a noite é treva, e o dia é ouro, e o poente é sangue.
No coração silente e manso da floresta,
Muge, com sede, a rês, abandonada e exangue.
A boiada acabou. Pelos ariscos, resta
Um ou outro animal. Foi-se a água do mangue.
A cacimba secou. Dos pássaros a festa
A fome emudeceu. Padece o sertão, langue.
Tempo de sofrimento! O acicate do sol,
Rijo, golpeia o chão e fere as serranias.
São acúleos de fogo as asas do arrebol.
Abrem, grandes, no campo, os juazeiros a fronde.
E o cearense interpela as nuvens erradias
Sobre a crua mudez do céu, que não responde.
114 EDUARDO CAMPOS
TERRA DE SOL
Jáder de Carvalho
Dói na alma ver a seca no sertão:
toda a caatinga tem a cor da cinza;
a água do rio esconde-se na areia;
mugem as vacas dolorosamente.
As moças e os meninos (tão magrinhos!)
estão catando os últimos capulhos
do algodoal. Ele florara em junho,
mesmo com a rara chuva que o molhou.
Verdes, apenas os mandacarus,
os xiquexiques e os ásperos juazeiros:
verdes, mas defendidos, por espinhos!
Por sua vez, o homem também protege,
com a pouca fala e o rosto duro, a abelha
que lhe fabrica o mel no coração...
A VIUVEZ DO VERDE 115
SONETO VACUM
A Eduardo Campos
Nos campos onde o negro se destaca,
antigamente o sino do cincerro
velava o entardecer junto da vaca,
olhos aflitos fitos no bezerro.
O lago escuro brilha como faca.
(Frio fulgor fatídico do ferro).
Um vento afoito e uma tristeza opaca
aumentam mais o enorme do desterro.
Anda agora um clamor pelas estradas.
Solerte é o sol. Presságios de negrume
dançam no ar. Qual lâmina insalubre,
O vento afoito atrita nas ossadas.
A vaca assoma à porta do curtume,
e o leite do luar pinga do ubre.
FRANCISCO CARVALHO
EMENTÁRIO
As secas de 1877 e 1915, respectivamente,
pelas páginas do CEARENSE
e do CORREIO DO CEARÁ.
A VIUVEZ DO VERDE 121
A SECA DE 1877 PELAS PÁGINAS DO CEARENSE
SECCA
A falta de chuvas já se vae fazendo sentir. De Sobral
e de outros pontos creadores da província nos dizem que a
secca já vae causando consideráveis estragos. E grande a
mortalidade dos gados por falta absoluta de pastos. Se neo
chover este mez sereo enormes os prejuízos.
6.1.1877
lNVERNO
As notícias que vamos recebendo do interior são lisonjeiras
a respeito das chuvas. De Sobral dizem-nos em 24
de janeiro: “Hontem, tivemos uma boa chuva; choveu quase
toda a noite e hoje ainda amanheceu chovendo.
Ainda bem e graças a Deus.
Da Imperatriz, em 31 de janeiro: “O inverno por aqui quasi
dez dias que deu principio e continua a mais. À falta d’elle
os creadores tem tido grandes prejuízos.”
8.2.1877
122 EDUARDO CAMPOS
EFFEITOS DA SECCA
Começa a aparecer a miséria, consequencia necessária
da terrivel secca que vamos atravessando. Na Telha já
se vae sentindo os cruéis efeitos da fome. A camara municipal
d’ali dirigiu-se a presidência pedindo socorros para o
povo que pede pão! S. Exc. nomeou uma commissão composta
do presidente daquella municipalidade, do vigário
da freguesia, do delegado de policia e do capitão Nestor de
Barros Lima, para agenciar socorros e donativos em favor
dos desvalidos.”
1.3.1877
CHUVAS
De alguns pontos vão nos chegando noticias mais animadoras.
Nos sertões de Canindé e Quixeramobim tem
chovido, assim como na Telha tem cahido boas chuvas. No
Cariry o inverno é promettedor.
Do Saboeiro, dizem-nos em 20 do passado: “A Secca
por aqui foi avassaladora, porém hoje começou o inverno.
Esta noute cahiu uma boa pancada d’agua.”
Entretanto, de Sobral, nos escrevem o seguinte, em
20 do passado:
“Estamos na vespera de nova crise na industria de
criação de gados. Há toda a probabilidade de uma secca.
O sol tem estado abrasado como nunca, e a athmosphera
limpida como nos mezes deverão. O pasto nascido nas primeiras
chuvas já está reduzido a pó. Que calamidade para
a nossa infeliz provincia!
8.3.1877
SECCA
O inverno este anno é todo topographico, como já
dissemos. Tem chovido em alguns pontos e n’outros a secca
A VIUVEZ DO VERDE 123
vae produzindo estragos. Do Crato, escrevem-nos o seguinte
em 19 passado:
“Estamos com uma terrível secca em perspectiva, e
só Deus sabe quanto nos será doloroso esse flagello.”
De Santa Quiteria nos dizem no lo do corrente:
“A secca por aqui está no seu furor, depois das poucas
chuvas que cahiram do fim de janeiro a 2 de fevereiro.”
É uma coisa horrorosa, meu amigo, uma secca no Sertão!
... ... ... ... ...
Prasa a Deus que as chuvas que nestes 2 dias têm
cahido nesta capital, tenham sido geraes.
11.3.1877
BANHOS FRIOS (Anúncio)
Asseio e regalo
Rua do Conde d’Eu.
Entrada pelo portão – que defronta o palácio do Governo.
21.3.1877
PARA JEJUM DE SEXTA-FEIRA (Anúncio)
O Novo Palhabote recebeu:
“Wermontts Blomens”
“Fresh Salmon”
“Idem cold”
“Real Finden Haddocks”
“Fresh Salmon”
“Scotch”
“Fresh Lochfine Herrings”
“Fres Lobsters”.
Todas estas qualidades de peixe fabricadas por John
Gilloon & Cia.
124 EDUARDO CAMPOS
Alem destas marcas, há muitas outras qualidades,
assim como Ervilhas, Queijos e um completo sortimento
de estivas.
Ao Novo Palhabote.
29.3.1877
CHUVAS
Altura do pluviômetro na última quinzena de março:
Dias de chuva m.m
16 1,00
17 4,00
De 17a 18 8,00
18 80
19 8,00
20 7,40
22 3,20
De 23 para 24 5,60
26 5,00
29 2,20
45,20
Na primeira quinzena 38,80
Durante o mez, dias de chuvas 17; milímetros 84,00.
Não há duvida de que o anno de 1877 será calamitoso
para o Ceará.
1.4.1877
A SECCA (Editorial)
A secca não é mais objecto de conjectura, infelizmente
para a nossa província. Por quase todo o sertão tem ella
devastado a creação e agricultura de uma maneira atroz
desanimadora. Algumas localidades, como Brejo Santo,
A VIUVEZ DO VERDE 125
Telha e Inhamuns estão sofrendo os horrores da fome e
desprovidas de água para os gastos da vida.
8.4.1877
A SECCA (Trecho de carta de leitor)
“Attingimos ao mez de abril, e o nosso solo pode apenas
desenvolver os germens das forragens para os gados e
dos cereaes para o sustento do homem. As poucas e leves
chuvas ocorridas em varios pontos da província, do dia 18
a 21 do mez passado, fizeram germinar as sementes. Tenras
folhas ainda surgiram à superfície da terra; mas toda a
vegetação emurchece e está prestes a morrer”.
15.4.1877
AINDA A SECCA
“Continuarão a ser desoladoras as noticias que sobre
a secca nos chegão de todos os pontos da província. Mais
cedo do que suponhamos ostenta-se a miséria no seio das
populações e os recursos escasseiarão, ameaçando desaparecer
completamente”.
Carta de Sant’Anna:
“Vamos entrar no doloroso e lúgubre quadro que se
pode imaginar, – a terrível secca que nos bate à porta. Não
nos pode mais restar esperanças do inverno, porque os
mezes mais abundantes de chuvas estão a concluir-se”.
Carta de Pedra Branca:
“Estamos ameaçados da secca; a quantidade de povo
que chega de fora é immensa. Aqui não ha nem viveres
nem pasto. Esse povo sem pão, sem dinheiro, naturalmente
lançará mão dos meios extremos. Deus nos acuda!”
18.4.1877
126 EDUARDO CAMPOS
Carta pastoral. D. Luiz antônio dos santos, por mercê de
deos e da santa fé, apostólica, bispo do ceará, prelado
assistente do solio pontifício e do conselho de s.m. O
imperador, etc, etc.
“...sem sahirmos do angulo das cousas naturaes, e
ainda considerando as actuais circunstancias como
phenomeno athmospherico muito natural e em perfeita
harmonia com as leis que regem o nosso planeta; nem por
isso nos devemos ter por dispensados de recorrer a Deus:
pois Elle como autor da naturesa pode mudar essas mesmas
leis, e dando outra direcçao aos ventos, fazer com que
sejamos favorecidos com a desejada chuva, que venha
fertilisar os campos, vivificar os rebanhos, animar o
commercio e a todos encher de bem entendida alegria; pois
o Espirito Santo isto nos aconselha: Pedi ao Senhor chuvas
na estação serodia e o Senhor fará cahir neve e vos
dará a chuva em abundância.”
22.4.1877
SECCA
– De Aracaty nos escreve o nosso estimado amigo dr.
Miguel Castro, em 20 do corrente: “Estamos a braços com
uma secca, que será muito mais dannosa e fatal que a de
1845, em que, aliás, muita gente sucumbiu a fome”.
26.4.1877
O CONSELHEIRO ALENCAR
(A propósito da secca)
“S. Exc., no meio de 7 deputados cearenses, alguns
dos quaes a par do estado de cousas da provincia, disse,
se não afirmou sem contestação – que as noticias, transA
VIUVEZ DO VERDE 127
mittidas d’aqui para a corte, acerca do flagello que nos
persegue actualmente, erão manejos de opposição ao governo,
destituidas de fundamento e verdade, porque, quando
mesmo não tivesse ainda chuvido, a falta de inverno só
se fazia sentir de maio ou junho em diante”.
3.5.1877
CHUVAS
“Felizmente appareceram as chuvas; si bem que pouco
aproveita a lavoura, todavia servirão para fazer aguadas e
salvar o gado que ainda resta De lo. a 5 do corrente temos
tido chuvas regullares, atingindo o pluviômetro a 66,80
m.m. mais que todo o mez de abril, porem menos que o
anno passado, nesse período, que o pluviômetro recolheu
145,80 m.m. No lo de maio, o anno passado, tivemos uma
pancada d’água de 90,80 m.m. a maior daquelle anno.
Cessaram as grandes ventanias. Parece que estas chuvas
foram mais ou menos geraes, segundo noticias que nos
vão chegando”
6.5.1877
SECCA CARTAS
Sobral: – “A fortuna do gado vaccum e cavallar achase
bastante reduzida, já e creio que o resto seguirá o
mesmo caminho, uma vez que o unico recurso que nos
resta é retirar para o Piauhy apenas o gado que não se
acha de todo inanido, pouco, e este mesmo morrerá em
região e pastagens desconhecidas, si é que não for comido
pelos ladroes que vão se tornando de uma audacia
fora do comum...
6.5.1877
128 EDUARDO CAMPOS
CHUVAS
Do 1o do corrente até hontem tem cahido algumas
chuvas nesta capital, porem pequenas. Eis a altura do pluviômetro:
Dias m.m.
1 14,40
2 11,40
3 1,00
4 8,00
De 4 para 5 32,00
6 14,00
7 7,40
88,40
Com tudo ainda não atingiu a altura do pluviômetro
no 1o de maio ao anno passado, pois tivemos nesse dia,
uma pancada d’agua que levou a 90 milímetro. Recomeçaram
hontem as grandes ventanias.
10.5.1877
MELHORAMENTOS MATERIAES (Editorial)
(Construção de açudes)
“O maior benefício, portanto, que uma administração
poderia fazer-nos seria dotar a provincia de centenas de
açudes e aguadas públicas nos lugares menos favorecidos
pela umidade. Esta idéia não é nova; e merecia ser inscrita
nos programmas dos partidos militantes na provincia.
Foi o senador Alencar quem primeiro mostrou sua
exequibilidade; e desde então os factos tem-se encarregado
de provar que este patriota tinha razão em querer regar
os sertões com águas acumuladas nos reservatórios
artificiaes.”
13.5.1877
A VIUVEZ DO VERDE 129
METEOROLOGIA
Altura do pluviômetro na la quinzena do corrente mez:
Dias de chuva m.m.
1 14,40
2 11,40
3 1,00
4 8,00
De 4 para 5 32,00
6 14,00
9 7,40
12 3,00
91,80
Nesse período, o anno passado, o pluviômetro recolheu
366,20 m.m.
17.5.1877
SECCA
Estão dissipadas todas as esperanças do inverno.
Aquelles mais crédulos que ainda apellavam para maio
acham-se completamente descrentes. A athmosphera continua
límpida como no rigor do verão, uma ou outra vez
apresenta-se carregada, porem a impetuosa ventania desfaz
tudo em pouco tempo. O sol é abrasado e o calor
intensíssimo.”
20.5.1877
CORRESPONDÊNCIA DO INTERIOR SECCA
Sobral, 14 de maio. – Não tem chovido, o sol é abrasador.
O Aracaty-assú está quasi despovoado, crê-se que não
escaparão uma só rez e nem um animal. Não há falta de
farinha, e ainda há algum carne; faltam porem milho, fei130
EDUARDO CAMPOS
jão e arroz. A emigração para a Serra Grande, Meruoca e
Piauhy é extraordinaria; a Sobral tem chegado alguns emigrantes,
os quaes vão sendo acometidos da febre amarella
que já tem feito algumas poucas vitimas. Fome e peste; só
nos falta a guerra para completar a triade a que está a humanidade
sujeita pela nossa propria imprevidencia.”
24.5.1877
AO LOUVRE (Anuncio)
PARA A SEMANA SANTA ROUPA FEITA
Palitó de alpaca de 3$000
Fraks de alpaca fina a 10$000 e 12$000
Sobres de pano fino a 18$000, 20$000 e 25$000
E completo sortimento de sedas pretas e artigos apropriados
à Semana Santa.
27.5.1877
HORRORES DA SECCA
Prossegue na sua marcha sempre crescente e devastadora
a grande calamidade, cujos effeitos vão se fazendo
sentir em toda a provincia.
... ... ... ... ...
Uma carta de Lavras, que temos à vista, datada de 3
do corrente, descreve assim a triste situação d’aquelia
comuna: “É consternador ver a multidão de homens e
mulheres que sahem a procura de refugio onde se abriguem
dos horrores da fome, que já vae, entretanto, fazendo
victimas, em consequencia de alimentação de batatas e
raizes venenosas de que o povo lança mão.
A VIUVEZ DO VERDE 131
Aqui já se acabaram todas, até as raizes de gravatá, a
carnaubeira, mucunan e a maniçoba brava; o povo tudo
tem comido!”
27.5.1877
CORRESPONDÊNCIA DO INTERIOR SECCA
Telha, 18 de maio. – “Vamos na mesma miseria de
chuvas; está tudo reduzido a nada, apesar das chuvinhas
que tivemos no principio deste mez. A fome já vae fazendo
estragos.”
Icó, 16 de maio. – “É lugubre o quadro que se offerece
à nossa contemplação n’esta cidade, ocasionado pela
horrivel secca que a todos vae flagellando.”
Arraial, 22. – “Continuamos a lutar com os horrores
da secca. O povo vive na maior afflicão.”
31.5.1877
METEOROLOGIA
Altura do pluviômetro na segunda quinzena de maio:
Dia m.m
25 2,40
26 3,40
27 1,20
de 27 para 28 3,00
10,00
Durante o mez: dias de chuvas, 12. 101,80 mm. Neste
mez por tanto, este anno, uma differença para menos de
350,80 milímetros.
3.6.1877
132 EDUARDO CAMPOS
TRABALHO E NÃO ESMOLA (Editorial)
O que convem as provincias flagelladas pela secca é
o socorro destribuido pelos seus habitantes, de modo que
o solo seja o primeiro a tirar proveito e adquirir armas para
appolas às inclemencias climatericas. Neste caso, o trabalho
será um meio e o melhoramento da provincia o fim dos
socorros prestados pelo governo a particulares.
.....................................................................................
E preciso que o sr. Dezembargador presidente se capacite
de que o unico meio de reter a população em seus
respectivos sitios, é dotar a provincia de seus melhoramentos
é favorecer a abertura de açudes e depositos d’agua,
principal agente fertilisador e conservador da lavoura.
7.6.1877
NOTICIÁRIO
Horrores da fome – No Ceará já morre gente de fome; E
horrorosa a nossa situação. Alem das dolorosas noticias que
hoje damos na secção – Correspondencia do interior – publicamos
em seguida a seguinte descripção que nos faz o nosso
amigo capitâío Salustio Tertuliano Bandeira Ferrer, do estado
desgraçado do Saboeiro. Escreve-nos em 31 de maio:
“A desesperadora crise da secca vae cada vez mais
em augmento, por todo este municipio, cuja populaçao vive
em sobressaltos, e já muitos se acham em preparativos de
emigrar para essa capital...
.....................................................................................
Já morreram quatro crianças victimas da fome; e o povo
não tem mais de que se sustentar, porque se esgota rao as
raizes de mucunà e pau mocó...”
10.6.1877
A VIUVEZ DO VERDE 133
METEOROLOGIA
Eis o resultado do pluviômetro no semestre de janeiro
a junho
m.m
Janeiro - 4 dias 24,20
Fev. – 3 dias 16,00
Març. – 17 dias 84,00
Abril – 10 dias 40,20
Maio – 12 dias 101,80
Junho – 9 dias 89,60
355,80
No semestre de 18760 resultado foi o seguinte:
1.365,40 m.m.
1.7.1877
A SECCA DO CEARÁ E O GOVERNO IMPERIAL
O nosso distincto comprovinciano, major Capote,
publicou na Gazeta de Noticias o seguinte artigo que o
Jornal do Commercio não quis acceitar:
“Morre o povo a fome no Norte, o Imperador divertese
em Pariz! Não ha um deputado, um senador que tenha
a coragem de interpellar esse desgraçado governo, a bem
de saber que seus suditos morrem a fome, quando elle
banqueteia-se e diverte-se longe d’esse mesmo povo que
com o suor lhe paga para bem manter suas prerrogativas e
defensa!”
13.7.1877
CHUVA
Hontem tivemos um verdadeiro dia de inverno.
Começou a chover às 4 horas da manha, prolongando-se
134 EDUARDO CAMPOS
até às 2 da tarde. Durante o dia a athmosphera esteve
sempre carregada; reinando completa calmaria. O
pluviometro mediu 27,60 m.m. a terceira chuva do anno.
2.8.1877
HORRORES DA SECCA (editorial)
No Crato, segundo testemunha de um irmão do sr.
Nicolau Arraes, que por lá acaba de passar, já pereceram a
fome ou em consequencia della, 50 e tantas pessoas. Em
Lavras segundo afirmou o colletor geral, o vigário e a
comissão de socorros, 10 pessoas; no Araripe, segundo o
testemunho do cidadão João Gualberto de Oliveira G., 2
pessoas; no Jardim, uma creança em presença da comissão
de socorros;” etc, etc.
12.9.1877
CORRESPONDÊNCIA DO INTERIOR SECCA
Assaré, 14 de agosto de 1877. Diz-nos d’ali uma
pessoa circunspecta:
“O dinheiro fornecido pelo Exmo. presidente da provincia
há quatro dias concluiu – e já o povo se acha em
quasi completo desespero; ameaçam até de forçar as casas
que tiverem farinha para d’ella munir-se e emigrar...
.....................................................................................
Quixeramobim, 19 de setembro de 1877 – Uma carta
do padre Salviano Pinto Brandão, vigário da freguesia, diz
o seguinte:
“Si não houverem algumas chuvas que façam rebentar
nova rama, vae perecer inteiramente o resto do gado
vaccum e cavalíar e então havendo inverno em 1878,
suponho que acharão dezerto o nosso Quixeramobim.”
14.9.1877
A VIUVEZ DO VERDE 135
CARROS PUXADOS A MÃO
Do Acaracú nos dizem o seguinte, em 8 do corrente.
“Hoje chegarão da cidade de Sant’Anna, 72 homens
puxando quatro carros para conduzir os generos que aqui
se acham armazenados, para a comissão de socorros
daquella cidade. Foi o único recurso de que lançarão mão,
pois que carros com bois não há mais.”
18.10.1877
ATENÇÃO (Anuncio) Tudo para a secca
A rroz, farinha e feijão
O vos, banha e toucinho
C afé, assucar, bolacha
A lho, sebola, cominho.
Milho, goma, mayzena
A mninha que vale apenas
R efresco sempre gelado
à dinheiro tudo em fim
O ra peta! que fiado
O CAMARÃO previne a seus fregueses que tragão
sempre seus anzoes com iscas, do contrario não pescarão
nada.
Alfredo Theophilo & Cia. 63 – Rua da Palma – 63
18.10.1877
HORRORES DA SECCA
O rvd. vigário de Aracaty-assú, nosso amigo padre
José Silvino de Vasconcellos, escrevendo-nos em data de
4 do corrente, assim nos descreve o estado deploravel
daquella freguesia:
“E verdade que tem vindo para aqui alguns socorros
do governo porem em tão limitada quantidade que apenas
136 EDUARDO CAMPOS
chegam para saciar a fome dos miseráveis por alguns dias.
A primeira remessa já está concluída, a obra do açude
começada, paralisada, o povo necessitado sem trabalho –
portanto sem pão. Já almejamos pela segunda remessa
em Sobral, para dali ser transportada em carros puxados
a mão, como foi parte da primeira. E doloroso ver 20 homens
atrelados a um carro carregado e transportarem-no na
distancia de 11 léguas, por caminhos péssimos, porem taes
são as nossas condições!”
28.10.1877
ARRAIAES DE IMIGRANTES
Vai muito adiantada a construção dos arraiaes
mandados edificar na rua D. Pedro e cujas obras achão-se
sob a direção do Sr. Tenente Felippe Sampaio. Estão já
prontas e habitadas mais de cem casinhas e outras tantas
provisoriamente cobertas a palha.
.....................................................................................
– Sobre o morro do Coroatá está sendo também construído
um outro abarracamento de palhoças para os
retirantes, confiados à zelosa administração do nosso amigo
João Sampaio.
11.11.1877
ESCRAVA FUGIDA (Anuncio)
No dia 14 do corrente fugiu a minha escrava Jacintha,
idade 24 annos, altura regular, e cheia de corpo; o rosto
seria regular se não fosse um pouco buxeixuda, cabelos
crescidos e carapinhos, olhos grandes, nariz chato, boca
regular, e beiços grossos, cor parda, talla descançada e
grossa, hombros levantados e largos, pés apapagaiados, e
A VIUVEZ DO VERDE 137
andar um pouco inclinado para a frente. E natural da
Parahyba do Norte, e foi comprada ao Sr. Cândido Francisco
Monteiro, do lcó. Atribue-se que o fim d’ella é passar como
– retirante – por isso é provável que esteja nos arrabaldes
d’esta cidade, ou como tal queira emigar para fora. Gratificase
bem quem a pegar, ou dar noticia da referida escrava a
Joaquim Felicio d’Oliveira Lima.
15.11.1877
A FOME FAZENDO VICTIMAS EM LAVRAS
Para os que ainda contestão que no Ceará já se morra
literalmente de fome, damos abaixo a certidão passada pelo
digno parocho da freguesia de Lavras, Rvd. Miceno, em
trecho de uma carta de nosso distincto amigo capitão
Manoel Carlos de Moraes, collector das rendas geraes d’ali.
Lavras, 30 de outubro – “Marchamos a passos
agigantados para um abysmo. A nossa situação é horrorosa.
Aqui a mortalidade pela fome já se eleva a 61! As mulheres
é que conduzem os cadáveres à policia para dar sepultura
aos mortos, porque o povo faminto e desesperado da vida
não se quer prestar a isto! Só se vê nas ruas homens, mulheres
e crianças, verdadeiros esqueletos ambulantes...”
25.11.1877
A SITUAÇÃO NO CEARÁ Á SECCA
Continua a fazer victimas em vários pontos da
provincia. As noticias do interior são assombrosas.
.....................................................................................
Todo Cariry está conflagrado. Os bandos de assassinos
assaltam as povoações, saqueiam e matam, ao passo que a
fome vae fazendo dezenas de victimas diariamente.
3.12.1877
138 EDUARDO CAMPOS
MORTALIDADE NA CAPITAL
Augmenta espantosamente a mortalidade nesta
capital. Até hontem tinham sido sepultados 454 pessoas!
Só no dia 14 registrou-se 44 óbitos e hontem 38!
Nessa progressão, eleva-se-há a mil a mortalidade
neste mez.
16.1 2.1877
NOTICIÁRIO (Vários títulos)
HORRORES DA FOME!
FOME NA CAPITAL!
AINDA A FOME!
FOME EM ARRONCHES!
AINDA FOME EM ARRONCHES!
FOME NO TAMBORIL!
FOME NO ICO, etc.,
20.12.1877
TALHO DE CARNE DE CACHORRO E GATO
Do Crato, nos comunicam o seguinte o nosso amigo
Fenelon B. da Cunha: “Em uma das villas próximas me referiu
pessoa fidedigna que acha-se montado um talho para carne
de cachorro e gato, tendo tão rápido consumo como se tratasse
de outro qualquer objecto apropriado à alimentação.”
15.3.1878
TRISTES EFEITOS DA SECCA
Em 19 do passado escrevem-nos do Crato: “Hontem
erão os fructos silvestre, macahuba, a mucuna, o croatá, a
macambira & que constituiam o principal alimentação dos
desvalidos; após a casca e o caroço da manga, o bagaço da
canna e outros taes imundícies...”
15.3.1878
A VIUVEZ DO VERDE 139
MORTALIDADE DA CAPITAL
Do dia 1o a 1 5 do corrente faleceram nesta capital
1519 pessoas.
ANÚNCIO
ALBANO & IRMÃO vendem: arroz da índia, milho,
feijão, farinha de trigo SSSF, passas novas, figos, soda
americana, toucinho de Lisboa, manteiga franceza,
manteiga inglesa, banha de porco em latas, banha de porco
em barris, sardinhas, assucar refinado de la., 2a. e 3a. sorte,
idem, branco, em rama, la. e 2a. sorte, idem, mascavo,
presuntos, vinho branco em ancoretas e barris, genebra
da Hollanda, chá verde, chá preto, café, estearina, kerosene,
sabão, azeite doce em latas, óleo de linhaça, alvaiade de
zinca, cal de Lisboa.
28.6.1878
A SECA DE 1915 PELAS PÁGINAS DO
CORREIO DO CEARÁ
DIVERSAS
“Se o inverno continuar como vai, pouco ou nenhum,
teremos dentro em breve, dias amargos de infortúneo. Os
lamentos que nos vêm do interior são os mais pungentes
que se possam imaginar. Flora e Fauna sofrem impiedosos
ataques do flagelo; o sol é de fogo. O luar é claro e limpo
como se estivéssemos no clássico agosto. Só uma coisa
ainda fornece margem a supormos que a desgraça não será
completa: Deus, que é misericórdia e bondade.”
4.3.1915
140 EDUARDO CAMPOS
CHUVAS
“Do interior chegam-nos notícias promissoras,
alvissareiras, se bem que tardias, de francos aguaceiros.
Bemditas esperanças ressurgidas! Os campos amortecidos
fremem, embebedam-se voluptuosamente de águas cálidas
do céu como ressequidos estendais de árvores semimortas
que são. O homem rude do sertão alivia-se da amarga
opressão que lhe aperta o cérebro como vigorosas tenazes,
apenas tarda a visita hibernal que, assim, rouba as poucas
economias de um trabalho assíduo, intenso...”
12.3.1915
O CALOR
“Chegam-nos notícias de chuvas no interior. Um dos
nossos companheiros ouviu de um cidadão, no bond, que
apanhou três horas de aguaceiro no Baú. Antes assim. Mas
o que não cessa em Fortaleza, é o calor estafante. Sua-se à
ufa. A vida tem de correr. E é uma tortura. Mas, assim como
veio a chuva, virá também tempo ameno. Esperamos.”
12.3.1915
QUADRO SÓBRIO
“Notícias do Cariri dizem a que estado se acha reduzida
aquela fértil região. Devastada por uma revolução que esgotou
os seus grandes celeiros, reduziu à metade sua creação e
sacrificou a safra do ano passado, vê-se agora na iminência
de uma crise climática que, nas atuais condições, é um golpe
de morte à sua proverbial prosperidade. Com as três chuvas
caídas este ano, já não é possível contar-se com a colheita de
cereais. As primeiras plantações estarreceram com a canícula
de fevereiro e a falta de sementes impossibilita nova tentativa
nesse sentido, mesmo na hipótese de reaparecer o inverno.”
16.3.1915
A VIUVEZ DO VERDE 141
SE NÃO FALHAR
“Se não falhar a experiência do sertanejo, quando afirmam
que chuva no Piauí é prenúncio certo de inverno no
Ceará, é o caso de darmos os mais calorosos parabéns.
Vinte e dois municípios daquele Estado já receberam a
preciosa visita das chuvas. O rio Parnaíba transbordou em
todo o seu percurso, sinal de que a zona que lhe serve de
vertente, acha-se em franca quadra invernosa.”
19.3.1915
SECA! MISÉRIA!
“Tópico de um carta dirigida de Tauá a uma firma comercial
desta praça: “Falemos agora da seca. E medonha e
aterradora a situação deste sertão! Tivemos em 1 e 2 de
fevereiro duas chuvas, já quando havia morrido metade do
gado, que desde novembro se achava no trato. Estas duas
chuvas foram suficientes para levantar pastagem, tendo já
desaparecido por completo a babugem e a rama que saíra.
Como sabe, não houve, no ano passado, legumes por este
sertão, devido ao inverno, que foi curto, e à Revolução que
deslocou a quase totalidade dos habitantes do sertão.”
18.3.1915
A SECA MISÉRIA INILUDÍVEL RESPEITOSA SUGESTÃO
Telegrama de comerciante de Crateús à Associação
Comercial: “Crateús, 22: Comerciantes reunidos pedem
vosso valioso concurso perante governo estadual, federal,
sentido alteração sofrimentos oriundos terrível seca manifestada.
Economias povo foram sacrificadas salvar pecuária
atualmente já diminuída 60%. Restante abandonado
credores falta recursos. Gêneros primeira necessidade
absolutamente escassos atingem preços fabulosos. Levas
retirantes famintos aglomeram-se, concentram-se aqui e
142 EDUARDO CAMPOS
Ipú, vítimas extrema penúria, morrendo inanidos. Não
havendo qualquer socorro, imediatamente, a fome em toda
a sua hediondez, com seu tétrico cortejo de crimes, de
furtos, ameaça aniquilar tudo, tudo, todos!!! Sugerimos
continuação trabalhos estradas ou início urgente qualquer
serviço público que possa minorar horrível situação.
Qualquer indecisão, demora, terá sacrificação completa
comércio perda inúmeros valiosas vidas nossos irmãos.
Socorro! Socorro! (Assinam) Bezerra, Aragão, Francisco
Mariano, etc., etc.
26.3.1915
ALVÍSSARAS
“Ante-ontem soubemos de chuvas copiosas em Água
Verde, Guaiúba, Quixeramobim e Senador Pompeu; ontem;
o distinto cavalheiro sr. Prisco Cruz teve a fineza de afirmanos
outro tanto em Canindé, donde recebeu despacho
firmado por pessoa cuja seriedade, nem leve poremos
dúvida; e ontem ainda a cidade de Fortaleza recebeu a
visita de copioso aguaceiro que veio matar o calor exaustivo,
deprimente, extenuante, quase mortífero dos dias.
anteriores. Será o inverno, que, depois de negaças
conturbadoras, após uma tardança cruel, vem, alfim, salvar
os destroços da fortuna particular e pública do Ceará?”
30.3.1915
EM QUIXADÁ
“Em face da perspectiva da seca, que nos aflige, já é
grande o êxodo de habitantes de outros municípios para
esta cidade, que se encaminham à cata de abrigo no
reservatório do Cedro. E como este recurso é limitado, pois
até mesmo os terrenos de irrigações pertencentes a
particulares foram cedidos, acha-se esta cidade na
A VIUVEZ DO VERDE 143
contingência de assistir à morte de inanição a toda essa
horda de necessitados.”
30.3.1915
DE PREFERÊNCIA
“Pessoas observadoras e criteriosas que chegam do
interior asseveram o seguinte aspecto dos campos do Ceará:
a crise horrorosa em que nos debatemos não é geralmente
oriunda de falta de reservas de águas mas da ausência de
forragens para o gado e da tardia queda de chuvas. Por ai
temos corno discutir a preferência de um dos mais
judiciosos meios de trabalho honrado para o povo, entre a
construção de estradas de ferro, de estradas de rodagem e
de açudes. Não chegaremos à proterva de negar quanto
valem os açudes, sabiamente distribuídos pelo interior do
Estado, como não poremos em dúvida a grande e
inestimável utilidade das estradas de rodagem. Seria isso
e mínima noção das cousas tanto mais quando em toda
parte esses elementos de vida, essas garantias do futuro,
vão dando os mais belos e fecundos resultados. Parecenos,
entretanto, que o primeiro serviço a atacar seria a
construção de estradas de ferro, quer em prolongamento,
nas que já nos servem, quer em início de outras que
entronquem com as existentes.”
31.3.1915
A SECA DE UMA CARTA DO INTERIOR:
“Aqui, apesar de ter caído ontem uma chuva de 30
milímetro, o povo já está desiludido inteiramente de inverno
este ano. Diversas famílias já se retraram e muitas estão
se preparando para fazer o mesmo. As plantações feitas
nas poucas chuvas de janeiro, já não existem. Os gêneros
alimentícios, já muitos raros, estão por um preço
144 EDUARDO CAMPOS
elevadíssimo e o trabalho desapareceu completamente. À
criação acha-se dizimada e o que é mais angustioso é que
não se tem para quem apelar. Parece que será uma seca
singular.”
3.4.1915
CONTRASTE DOLOROSO
“E o que se está passando atualmente no Cariri.
Chuvas abundantes, torrenciais mesmo, e a miséria, e a
fome, invadindo os lares despovoando os campos. Após 50
dias de verão, aniquiladas as sementeiras de janeiro,
ressequida pastagem nascente, quando já se tinha perdido
toda a esperança, os céus inclementes se abrandam, numa
cruel ironia, e despejam sobre aqueles campos adustos
chuvas diluvionais.”
“Contém-se no comércio dali, por esta tabela horrível,
os preços do mercado::
Feijão (litro) $600
Farinha (litro) $200
Milho (litro) $250
Rapadura (uma) $500
Sem estes gêneros que formam a cozinha do pobre
não é possível a vida”
7.4.1915
AS PROVIDÊNCIAS CONTRA A SECA
Telegrama de resposta à bancada cearense constituída
dos deputados Eduardo Saboya, Moreira da Rocha, Tomaz
Rodrigues, Eduardo Studart, José Lino, Álvaro Fernandes,
Gustavo Barroso, Ozório de Paiva e Ildefonso Albano,
informando-se da situação da seca no Ceará:
A VIUVEZ DO VERDE 145
“Neste momento duras provações, terrível seca flagela
Estado, vossa brilhante unificação traduz intuitos mais
patrióticos alegra Ceará. Situação desesperadora, não há
legumes nem pastagens. População sertanejas alimentamse
raízes silvestres demandam pontos servidos estrada de
ferro. Reina desespero. Fome faz vítimas que morrem inanes
margem estrada. Junho estará extinta pouca rama existente
e creadores não encontrarão meios salvar pequenos
rebanhos sobreviventes. Caminhos tornando-se intransitáveis
falta d’agua, pastagens. Comercio quase reduzido
exportação peles, importação cereais. Além medidas
conhecíveis imprescindíveis como obras porto, serviços
açudagem, impõe-se mais eficaz momento prolongamento
estradas estaduais: Iguatu-Cariri; Crateús-Terezina;
Girão-Crateús; e construção Uruburetama, etc., etc., “assinam:
José Gentil, Maximiano Barbosa, Costa Freire, Fiuza
Pequeno, Alfredo Salgado, etc., etc.
28.5.1915
A SECA
“A seca deste ano inicia-se assustadora e tudo leva a
crer que será tão terrível como as grandes secas que têm
martirizado este povo simples e imprevidente. Não há
exemplo desde que se colhem observações pluviométricas,
há cerca de 60 anos, de um mês de março mais seco do
que o de 1915.”
“O flagelo já devastou o gado, reduzindo a criação a
cerca de 40%; em certos lugares, a oito, como em Canindé.”
“Mais de 600 mil bovinos já pereceram de fome,
representando aproximadamente o valor de 30 mil contos
de réis.”
Tomaz Pompeu Sobrinho, 9.6.1915
146 EDUARDO CAMPOS
ENTREVISTA DO DR. THOMAZ POMPEU FILHO (Inspetor
do Serviço de Veterinária, do 29 Distrito da Indústria Pastoril)
“– P: “Julga que a história cearense ainda não
registrou um ano de tanta miséria... nem 77?
– R: “Não fora assim em 1877. Por esse tempo,
segundo tenho lido, só em setembro se generalizou a fome.
Em 1888, o gado conservou-se em boas condições até
junho, começando a definhar em diante em proporções,
aliás, relativamente pequenas.”
– P: “E este ano?
– R: “Este ano, porém, a calamidade se inicia com desusada
violência; já em janeiro morreu gado à falta de pastagens;
em fins de maio, as perdas da criação computam-se
acima de 70%, sendo, portanto, de prever nesta progressão,
antes de agosto, seja fatal o seu aniquilamento.”
11.6.1915
DR. ÁLVARO FERNANDES SEGUE EM TREM ESPECIAL
Despacho telegráfico do padre Climério Chaves, representante
do Correio do Ceará, na excursão do dr. Álvaro
Fernandes:
Senador Pompeu, 3: “Durante toda a viagem, vimos
numerosos grupos de retirantes com trouxas à cabeça,
baús, pobres trastes, em demanda das estações. Vimos
homens, mulheres, crianças, marchando ao longo da
estrada, cobertos de andrajos, alguns quase nús. Muitos,
à vista do trem, paravam e punham-se a gritar por nós,
pedindo esmola e socorro.”
Iguatu, 3: “A estação e seus arredores estavam
literalmente apinhados de Retirantes... “Na cidade’ de
Iguatu e em seus arredores, sobretudo em torno da Lagoa
de Iguatu, já se acham mais de 3.000 retirantes...” . ..”Já
se contam numerosas mortes pela fome.”
5.7.1915
A VIUVEZ DO VERDE 147
GIGANTE PIGMEU
“Um pais que mendiga imigração estrangeira e deixa
filhos seus morrerem, aos milhares, de fome, não é apto
para se governar; é um povo incapaz, precisa de tutela,
com dificuldade progredirá como possessão.”
3.8.1915
UM TREM ESPECIAL
“Ontem, um trem especial trouxe dos centros de nossa
terra, cerca de mil e duzentas vitimas da seca, no estado
mais deplorável de miséria.”
9.8.1915
OS RETIRANTES
“O nosso sertanejo não compreende que possa haver
governo pobre, não entende governo sem dinheiro. Daí o
êxodo que, em épocas calamitosas se estabelece do centro
para a capital, aonde se encaminha em caravanas, o povo
do interior, de que resulta em um acúmulo de população
adventícia nas mais tristes condições, privada dos mais
indispensáveis meios de subsistência.”
16.8.1915
ENTREVISTA DE D. MANUEL DA SILVA GOMES (Ao jornal
O Comércio de São Paulo a 22 de julho de 1915)
“...o Ceará necessita, por assim dizer, duma pequena
seca todos os anos. No inverno, cobre a vastidão dos campos
uma verdura magnifica que encanta a vista. E uma espécie
de capim que o cearense chama panacéa (sic). Com a seca a
que referi, esse capim seca, constituindo excelente alimento
para o gado, que se torna sadio, bonito. Ora, uma chuva
que caiu em agosto estragou completamente as pastagens,
de maneira que sobrevindo agora, mais forte a seca, o gado
148 EDUARDO CAMPOS
teve de sucumbir à fome. O Ceará é uma terra curiosissima.
Há ali, na natureza, revelações que maravilham.”
17.8.1915
Dr. ÁLVARO FERNANDES (Entrevista ao Jornal Imparcial)
“– E as populações do sertão que vivem, a míngua de
recursos, como ainda se acham?”
“– Pela manha levantam-se com o sol os bandos esquálidos,
e seguem sua diuturna jornada. Os homens vão à
procura de trabalho, as mulheres e as crianças arrastandose
pelas charnecas à busca das raízes agrestes. Ora é a
“macambira”, uma bromélia, ora a medula do “xiquexique”,
um cactus, muito amiláceo, que constituem a sua nutrição.”
19.8.1915
O ÊXODO
“Como não podiam comprar passagem na estrada de
ferro, tomaram o trem à força, respondendo ao chefe de
trem, que a isso se quis o povo, que não tinha dinheiro
para o pagamento das passagens e lá não ficavam para
morrer de fome.”
21.8.1915
ASSALTO DE UM TREM EM SENADOR POMPEU
“aprisionaram otrem que veio ante-ontem de Iguatu”...
“Não queriam violentar a ninguém, não eram malfeitores,
disseram ao chefe do trem...” ...”Os outros retirantes que
ficaram em S. Pompeu, chefiados por um Sr. João André,
obrigaram um maquinista que por ali andava, a organizar
um trem especial para eles. Este comboio da fome partiu
ontem de Senador Pompeu, pernoitou em Cangati, devendo
chegar hoje a esta cidade.”
25.8.1915
A VIUVEZ DO VERDE 149
NO CARIRI
“Aqui cerca de 8.000 famintos recebem socorros no
valor superior a um conto de réis.”
9.10.1915
CONSIDERAÇÕES SOBRE A SITUAÇÃO DO CEARÁ
“A nossa açudagem nos desperta as mesmas idéias
de tristeza e de desesperança. Começada em 1879 pelo
engenheiro Revy, por ordem do Governo Imperial, não tem
dado, até hoje, resultados apreciáveis em presença do que
já podia dar. No decurso de 36 anos foram construídos
dois reservatórios importantes: o do Quixadá e do Acaraú
Mirim e outros de pequena capacidade como os de Saio
Miguel, Riacho do Panta e Parara. Pequeninos pingos d’água
na imensa área ressequida do Ceará, funcionando todos,
à exceção do primeiro, como simples lagoas naturais sem
que conste até agora haverem irrigado coisa nenhuma.”
João Nogueira, 26.10.1915
UMA GRANDE DESGRAÇA SOBRE O IGUATU
“Acaba de secar a lagoa de Iguatu, vasto reservatório
natural de águas fluviais, uma bacia de largo circuito, oferecendo
à cultura do arroz centenas de hectares de terra
fertilíssima.”
26.10.1915
150 EDUARDO CAMPOS
RETIRANTES NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
ALAGADIÇO
Sitio do Cel. João Pontes:
Existem: 5.750
Entraram: 172 – 5.922
Saíram: 12
Baixaram a Santa Casa: 2
Faleceram: 6 511
Existem: 5.411
Para consumo dos retirantes:
Rezes: 14
Sacos de farinha: 33
Ditos de feijão: 5
29.10.1915
TELEGRAMA
Viçosa, 14 – “... chegaram avultados bandos de
emigrantes devorando palmitos, macaubeiras é mangas
verdes, únicas frutas efetivamente existentes.”
15.12.1915
CHUVAS NO INTERIOR
Dia 10 – Barbalha: 9,6
Dia 12 – Barbalha: 10,0
Tauá: 21,3
Arneiroz: 30,5
Jardim: 38,3
Choveu nos dias 13, em Saboeiro, Barbalha, Juazeiro,
Caridade, Jardim, Tauá, Arneiroz, Milagres, Missão Velha;
A VIUVEZ DO VERDE 151
no dia 14, em Viçosa, Sant’Ana do Cariri (100 milímetros),
Barbalha, Saboeiro, Assaré, Jardim, Sobral, lguatú, Icó,
Arneiroz, e aí, o rio corria. Dia 15, em Guaramiranga.”
15.12.1915
A FOME FAZ VÍTIMAS EM IGUATU
“Iguatu, 8 – Terribilíssima a situação em que nos
encontramos. Depois do inicio dos trabalhos de prolongamento
da estrada de ferro de Baturité com pequeno
número de pessoas, todos os flagelados das localidades do
nosso Estado e dos Estados limítrofes encaminham-se para
esta cidade”...
“Daqui ao Cedro cerca de 50 mil pessoas estão
condenadas a morrer de fome. Ontem, aqui, morreram 9
de inanição. Comunicam da Serra Malhada Grande e do
Cedro que estão morrendo às dezenas.” Telegrama enviado
por Virgílio Correia, Arruda & Cia., Lima Verde & Irmão,
José Gladstone, Alencar Benevides, Pasquelli Stopelli, etc.
DISCURSO DO DR. ÁLVARO FERNANDES
Na sua estréia parlamentar, como deputado, ao referir
a resultados de uma barragem: “Em toda a sua extensão,
cada ravina serpeará dous vergais prados artificiais
subsidiários às granjas pastoris, celeiros vivazes da
pecuária, soerguida, liberta do abastardamento e da
hibridação a que absurdos processós conduzem as raças
degeneradas.”...
“Boas razões tinha Capanema para afirmar que a seca
não é propriamente um mal. Os inumeráveis vegetais e
animais que morrem durante a calamidade decompõemse
e se incorporam à camada umífera do solo. A seca é,
assim, para nós, o adubo natural, fertilizante, periódico,
permitindo além disso, pelo repouso do meio dinâmico, o
152 EDUARDO CAMPOS
incremento da força reprodutora, que se acumula nos seres
vivos e na química da terra.”
29.12.1915
DR. ÁLVARO FERNANDES (Trecho final de seu discurso
de estréia)
“Daqui, deste recinto, eu estou a ouvir lamentos dos
torturados naquela torre de Hogolino, torre de fome, onde
a natureza gera e a natureza devora; estou a ouvir os
vagidos desse peregrino do céu que vem a ser anjo, na
terra, das crianças inanidas, aconchegadas aos regaços
esquálidos, onde só o amor resiste à destruição da Pária,
passando por sobre um povo que morre, eu pressinto o
vôo sinistro das nuvens céleres, como um bando de águias
apocalípticas, repetindo em coro macabro: “vai, vai, vai –
ai, ai, ai” (Muito bem! muito bem! Ó orador é vivamente
cumprimentado e abraçado).”
30.12.1915
CARTA DE JOÃO BRÍGIDO
Dia 11 de janeiro de 1916, em carta ao dr. Herminio
Barroso, D. Secretário do Interior, que o convidava para
comparecer à reunião política no palacete da Assembléia,
João erigido respondeu: “Continuar a luta dos partidos parece
Uma afronta a piedade do pais...” “só no mês precedente, no
cemitério desta capital, foram sepultados 906 dos nossos
irmãos, e no período do ano fatalíssimo, 3.264; isto, de par
com um a emigração que, ascende a mais de 30 mil pessoas.”
11.1.1916
INVERNO (Anúncio)
“A CASA BAYMA acaba de receber um completo sortimento
de galochas para homens, senhoras e crianças. E
tudo que há de bom e sólido no gênero.”
A VIUVEZ DO VERDE 153
ÓBITOS DO ANO SECO
Registro de óbitos do ano de 1915:
27.1.1916
Meses adultos Párvulos Total
Janeiro 86 65 151
Fevereiro 70 71 141
Março 74 156 230
Abril 81 82 163
Maio 74 74 148
Junho 73 78 151
Julho 69 60 129
Agosto 87 101 188
Setembro 92 136 228
Outubro 104 251 355
Novembro 129 345 474
Dezembro 216 690 906
TOTAIS 1.155 2.109 3.264
13.1.1916
ANUNCIO DE PIANO
Piano Dorner, “sonoro como os acordes de um hino
de vitória francesa”
16.2.1916
LEILÕES DO MÊS DE FEVEREIRO
O leiloeiro José Bastos anuncia leilão de objetos “de
família que retira-se para o sul da República...” constando
de: 1 grupo de mobília austríaca (1 sofá e 6 cadeiras, 1
estante de cedro para livros com respectiva banca, portachapéus,
guarda-louça (de cedro) etc. Em outras
oportunidades: consolo à Luiz XV, guarda-louça “artnoveau”,
piano “Bechstein”, “toillete” sistema americano,
154 EDUARDO CAMPOS
com mármore de cristal; cabide húngaro; porcelana de
Limóges para jantar; gramofone Victor n. 2, com 60 discos;
escarradeiras, cantoneiras austríacas, máquinas de
costurar “Singer” e New-Home”.
16.2.1916
INEDITORIAIS
“Em setembro do ano passado apareceu em minha
fazenda Poço do Gado, do Termo de Boa-Viagem, um boi
manso do ferro seguinte: A.P. Mandei tratá-lo, pagando
por conta do seu dono as despesas, na intenção de comprálo.
O dito boi já está gordo, mas até agora ignoro quem seja
o seu dono. Faço público, portanto, o fato, para
conhecimento do interessado. Poço do Gado, 12 de fevereiro
de 1916. Antônio Cyrillo Verçosa Lima.”
18.2.1916
NOTICIA
“Perdem-se plantações no Cariri, onde se come
mucunã”
28.2.1916
OBRAS CONTRA AS SECAS
“Há 8 ou 10 açude em construção com a verba de
“socorro”. De que tem servido?”... “Os jornais acusam irregularidades
em algumas delas ... O Sr. Aarão Reis “aqui andou,
dizem, que com direito a uma ajuda de custo no valor de “dez
contos de réis líquidos”, fora ordenados seus e de um
secretário (seu filho!) e fora passagens e demais espaventos...”
“Esse sr. Aarão é o mesmo que, indo ao Quixadá, em
companhia do presidente Afonso Pena, declarou em
presença do ilustre engenheiro Piquet Carneiro: “O açude
do Quixadá, mesmo cheio com os 125 milhões que podia
Conter, de nada valia, porque o que não fosse gasto em
A VIUVEZ DO VERDE 155
irrigação no primeiro ano, seria perdido em evaporação.”
E a razão disso era: “só pode haver irrigação “onde”
houvesse cursos perenes”.
7.3.1916
POBRE CEARÁ
“Ontem, embarcaram no “Sírio”, para o norte, mil,
quinhentos e sessenta “retirantes”.
9.3.191 6
INFORMAÇÕES
“Chuvas: caídas de ante-ontem para ontem, nas
estações da Estrada de Ferro de Baturité: Acarape,
Aracoiaba, Floriano Peixoto Girão, Afonso Rena, Saio José,
Sussuarana. 1h30min, Iguatu.
14.3.1916
CARTA AO CORREIO DO CEARÁ
A situação em Juazeiro do Norte: “Mais de duas mil
casas fechadas; dez mil habitantes (sic) haviam morrido
de fome e epidemias; o comércio está quase paralizado.”
7.4.1916
ANÚNCIO
(COMESTÍVEIS VENDIDOS EM FORTALEZA)
A Cooperativa Cearense – “grande casa de comestíveis
de primeira ordem, propriedade de Puno Campos, instalada
na rua Marechal Floriano Peixoto, 136, vende: presuntos
ingleses de 7, 8, 9 e 10 lbs; bacon, toucinho inglês; queijos
Paímyra e Dinamarquês; passa “Choix”, em caixinhas de 1
quilo, aspargos americanos e alemães; azeitonas espanholas,
vinagre francês, “paté de foie Gras” “Amieux”, vinhos do
Rheno e franceses das marcas: “Macon”, “Chablis”, “Medoc”.
5.6.1916
A FACE CRUEL DA SECA
Iconografia
A VIUVEZ DO VERDE 159
Flagelados da seca de 1915, na estação do trem, em Iguatu. Do livro O secular problema
do Nordeste, de Ildefonso Albano, 1918.
Salustiano Alves Bezerra, sua mulher, cinco filhos, cunhada e sogro, Antônio Moreira,
de Pedra Branca. Caminharam 240 quilômetros, em 4 meses. Seca do 15. (idem, foto
daquela o.c.)
160 EDUARDO CAMPOS
Os esqueletos que vivem: Maria...
Terrível erosão provocada no ser humano,
por ocasião da Seca do 15: filho
enfermo amparado pelo pai, cansado
de tanto caminhar (o.c.)
A VIUVEZ DO VERDE 161
... Ana, de 5 anos de idade.
Ao lado Umbelina do Nascimento acalentando
sua filhinha Celeste, doente.
O marido era agricultor. Vendeu suas
terras por qualquer dinheiro, que era preciso
migrar. Morreu de diarréia, juntamente
com dois filhos e mais uma filha e
um neto. (Ibidem, o.c.)
162 EDUARDO CAMPOS
Mãe e filhos deixando o lar, à procura
do desconhecido. Seca de 1952. (Foto
de Geraldo Oliveira).
Flagelados abrindo estradas. (Em Russas,
Ceará, 1952). Por elas caminharão
depois para o infortúnio. (Foto de
Geraldo Oliveira)
A VIUVEZ DO VERDE 163
A insolidária refeição da seca dos tempos
modernos: o prato de feijão. (Foto
de Geraldo Oliveira)
Sertanejos, numa frente de trabalho, ouvem instruções quanto ao trabalho a ser executado sob o sol
inclemente (Foto de Geraldo Oliveira)
164 EDUARDO CAMPOS
A paisagem de seca atual: em 1979, Uruquê. (Foto de Eduardo Campos)
A safra da morte, chamada seca de 1979. Flagrante do gado sucumbido na Fazenda Umari, Uruquê,
Ceará. (Foto de Eduardo Campos)
BIBLIOGRAFIA
A VIUVEZ DO VERDE 167
BARROSO, Gustavo - Terra de Sol. Fortaleza, Imprensa
Universitária do Ceará, 1962.
BRAGA, Renato - História da Comissão Científica de
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1962.
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Porto Alegre, Editora Globo, 1939.
CEARENSE - Fortaleza, 1877.
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do Livro, 1957.
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GUERRA, Phelippe e GUERRA, Theophilo - Secas contra a
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Fortaleza, 1915.
SUDEC – “A Unidade Espacial de Planejamento do Cariri”.
Fortaleza, 1972.
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