domingo, 27 de maio de 2012
AS PIORES SECAS DO NORDESTE
Vitor Popinsky descreve, em seu capítulo, a agricultura familiar no
município de Antônio Prado, na região das Serras Gaúchas. Ainda
que aqui a atividade agrícola do município seja outra – uva e vinho,
milho e frutas -, mais uma vez fatores sociais e econômicos mediaram
a percepção do evento climático. Os impactos foram heterogêneos,
resultando em percepções heterogêneas. Ao mesmo tempo em que a
produção de vinho foi beneficiada pela estiagem, a produção de milho
e o serviço urbano de distribuição de água foram negativamente
afetados. Na agricultura familiar, a diversificação de culturas e a
existência de crédito reduziram, na percepção dos produtores, o grau
de vulnerabilidade da sociedade local às variações climáticas. Ao
final, Popinsky demonstra como sequer há na cidade uma idéia
unânime a respeito da ocorrência da seca em 2005.
Por fim, os capítulos demonstram que, justamente em razão da
percepção do clima ser mediada por relações sociais e econômicas, é
inevitável que idéias climáticas estejam profundamente imbricadas
com elementos étnicos e da imaginação geográfica nacional. O fato de
as secas terem ocorrido ao mesmo tempo, em 2005, favoreceu isso. É
por essa razão que informantes do Sul e do Nordeste, ao falarem sobre
o clima, mencionam-se mutuamente, não para dizer algo sobre a
natureza, mas sobre as representações que tem das diferenças sociais.
É assim que, por exemplo, o prefeito de Restinga Seca diz a Carlos
Valpassos que “essa situação [a seca] é coisa que só se ouvia falar no
Nordeste”, evidenciando a imagem estigmatizada do Nordeste na
imaginação geográfica nacional. Ou, em tons mais explicitamente
discriminatórios, os informantes de Vitor Popinsky, ao afirmarem
que os italianos que colonizaram a região destacavam-se por sua
capacidade e disposição ao trabalho, sugerem que, se tivessem ido ao
Nordeste brasileiro, essa região seria mais rica e desenvolvida do que é
atualmente. Já em Canindé, no Ceará, Chandra Morrison ouviu
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