quarta-feira, 30 de maio de 2012
currais humanos
Petrolina(PE) - Juazeiro(BA), 30 de Maio de 2012........................ Realização: jornalista José Paulo Borges (MTb 16.632)
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Home Gente Nossa Geraldo José: de estagiário a
campeão de audiência na internet
Não cabia mais ninguém naquele sábado, 9 de junho de 1984, no Estádio Adauto Moraes, de Juazeiro (BA). De um lado do campo, nada menos que o poderoso Flamengo do craque Bebeto e do técnico Zagalo. Do outro, o aguerrido Bahia do atacante Osni. Mas o que chamava mesmo a atenção dos mais de 12 mil torcedores, antes do jogo, era a correria do então “repórter de pista” Geraldo José de Oliveira.
Foto: José Augusto Cíndio
“Calma, garotinho”, gritava o pessoal da Rádio Juazeiro lá da cabine de transmissão. Quem disse que o repórter ligava? “Imagina, entrevistar Zagalo, Bebeto, aqueles craques todos?”, recorda-se o hoje consagrado radialista Geraldo José. E não é que o Bahia resistiu bravamente e saiu de campo com um honroso zero a zero (com gostinho de vitória)? O jovem radialista, este sim, terminou seu trabalho com uma sensação de vencedor.
Esta é apenas mais uma das muitas histórias de Geraldo José, 49 anos de idade e lá se vão três décadas “de microfone na mão”. Mais velho dos filhos de dona Maria Salete Gomes e do pecuarista Boaventura Nélio de Oliveira. Geraldo nasceu no Maranhão, mas, garotinho, mudou-se para Juazeiro. “Tive um infância feliz, ali no bairro Santo Antônio”, resume.
O curioso é que a primeira paixão dele não foi o microfone. O padrasto Francisco Castro (o “Capenga”) era guitarrista e crooner e o tio, Genivaldo, contrabaixista do conjunto “Bossa Quatro”, isso lá pelos anos 60 e 70. Nada mais natural que a música atraísse o garoto Geraldo que, primeiro, imaginou-se baterista. Mas dava para encarar o talentoso “ás” das baquetas Reginaldo? Não, simplesmente, não.
Então, aí pelos seus 16 ou 17 anos de idade, surgiu a oportunidade de um estágio de seis meses como operador de áudio na Rádio Juazeiro. “Em maio de 80, comecei a trabalhar pra valer”, prossegue. dura, aquela. De manhã, servir no Tiro de Guerra. À tarde, estudar na Escola Rui Barbosa. Das 17h à meia-noite, enfrentar o batente na rádio. Foram mais de quatro anos naquela vida.
Mais tarde, a diretora do Departamento de Jornalismo, Marta Luz, convidou Geraldo para trabalhar no jornalismo esportivo da rádio. Entre as andanças na rádio, “comeu muita poeira” trabalhando no antigo programa “Bom Dia São Francisco”, que passou a chamar-se “Sem Fronteira”. Naquela altura do jogo, Geraldo José já era uma voz conhecida e respeitada, não só em Juazeiro mas em toda a região. “O povão lotava o estúdio, fazendo reivindicações. Parecia feira”, compara.
De repente, Geraldo dá uma boa risada ao recordar um acontecimento, no mínimo, curioso na sua vida de radialista. Foi em 1985. O diretor da liga de futebol de Juazeiro que, também era vice-prefeito da cidade, para dar uma “mãozinha”, para o time dele, o Juazeiro do Bairro Castelo Branco, modificou a tabela. Geraldo estrilou no ar. E no ar foi ameaçado pelo bam-bam-bam: “Domingo você não entra no estádio?”. Pra quê! “Claro que eu fui ao estádio, mas prevenido: coloquei um ‘berro’ na cintura. Uma amigo me abraçou e percebeu que eu estava armado”. A história chegou aos ouvidos do político, e tudo ficou por isso mesmo. “Hoje somos amigos e quando recordamos desse caso, damos boas risadas”, conta.
Claro que não dá para contar tudo sobre Geraldo José neste curto espaço na internet. O fato é que em março de 2010, teve uma certa divergência de opiniões no Sem Fronteira. “Incompatibilidade de gênios”, resume. “Então, com alguns amigos, parti para um projeto próprio. E foi assim que surgiu um dos maiores sucessos internet do Vale do São Francisco: “O Blog do Geraldo José”. Segundo ele, a média diária de acessos do blog chega a 7 mil. “Mas uma notícia quente chega a render até 12 mil acessos” diários”, acrescenta. “É um blog fundamentalmente jornalístico e bastante interativo. O juazeirense e o pessoal da região gostam de participar dele.”
Gente de outros países também acessa o blog de Geraldo José, como do Japã, Estados Unidos e do Canadá. Não resta dúvida, aquele repórter de pista que em 1984 emocionou-se cobrindo o amistoso Flamengo x Bahia”, foi mesmo longe.
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A dona da cadeira mais cobiçada da Câmara de Petrolina
Após longa trajetória como professora, comunicadora social e atriz, a vereadora Maria Elena (PSB), recordista de votos na última eleição, é a primeira mulher a dirigir o Legislativo da principal cidade do Sertão pernambucano
Foto: José Augusto Cindio/SertãoImagem
Teatro de Santa Isabel, no centro do Recife, anos 1980. A truculência dos torturadores durante sessões de sevícias, inclusive sexuais, de uma freira presa nos anos de chumbo, acusada de subversão, mostradas na montagem de “Milagre na Cela”, do dramaturgo Jorge Andrade, emocionam a plateia. No centro do palco, a jovem atriz que dá vida à personagem da freira se destaca. A crítica entusiasma-se e dá a ela o prêmio de melhor atriz pernambucana de 1981. Seu nome: Maria Elena de Alencar.
Hoje, Maria Elena desempenha papel de destaque, mas num outro cenário bem diferente daquele do Teatro de Santa Isabel, belíssimo exemplar da arquitetura neoclássica que emoldura a histórica Praça da República, no Recife. O palco dela, atualmente, é a Câmara de Vereadores de Petrolina. O papel: a de primeira mulher a chegar à presidência do Legislativo da principal cidade do alto Sertão pernambucano, com cerca de 300 mil habitantes.
Foram oito votos favoráveis e seis contrários que levaram a chapa encabeçada por Maria Elena, do PSB, ao comando, no biênio 2011/2012, da mesa diretora da Câmara de Vereadores de Petrolina. Com ela assumiram mais três mulheres: Márcia Maria Reis Cavalcante Santana, 1ª vice-presidente (PMN), Maria Cristina Costa Carvalho, 1ª secretária (PT) e Jusária Azevedo Carvalho, 2ª secretária (PSB).
Maria Elena sabe que não deve contar com aplausos fáceis neste novo papel. Mas do primeiro embate nos bastidores da Casa Plínio Amorim, aparentemente, saiu-se ilesa. Depois de muitas discussões finalmente foram anunciados, durante entrevista coletiva, os nomes dos líderes que formarão as comissões permanentes da Câmara. Se interesses foram feridos, dissimulados ficaram.
Por sinal, a escolha da sala onde foi realizado o encontro com os jornalistas já teve um “toque” pessoal de Maria Elena. Era para ser no gabinete da presidência. Mas como receber jornalistas numa sala com uma parede “horrorosa” e, ainda por cima, sem flores para enfeitar o local? A toque de caixa, foi escolhida outra sala.
Perfeccionismos femininos à parte, Maria Elena tem visitando diversos organismos e entidades de Petrolina, procurando, como ela diz, “aproximar mais a Câmara de Vereadores com a sociedade local”. Também garante que, durante sua gestão, não aceitará nepotismos, compadrios, preferências. “Na mesa diretora não haverá nepotismo”, decreta. Logo a seguir, enfatiza: “Não serei a palmatória do mundo, nem vou resolver todos os problemas administrativos, mas vou cobrar resultados.”
A ascensão à cadeira mais ambicionada do Legislativo municipal chega no momento em que ela exerce seu terceiro mandato. Mas essa conquista não caiu do céu. Trata-se do resultado de uma atuação política longa e intensa, onde se destaca, por exemplo, a luta pela criação do bairro José e Maria, antiga Vila Balão, maior aglomerado populacional de Petrolina na atualidade.
A parlamentar Maria Elena também se orgulha de sua “atuação na defesa intransigente por políticas públicas que promovam os direitos das mulheres”, que resultaram, por exemplo, na criação da Secretaria Municipal da Mulher, da Casa Abrigo Maricy Amador e na regularização e fortalecimento do Conselho Municipal da Mulher.
Por essas e outras – e plagiando um certo ex-presidente da República – é que nenhum vereador em tempo algum, em Petrolina, obteve tantos votos como os 3.734 recebidos por Maria Elena na eleição de 1988.
“Continuo lutando pelo plantão 24 horas na Delegacia da Mulher, pela implantação do Juizado Especial de Violência Doméstica, como prevê a Lei Maria da Penha, e pela instalação da Delegacia do Idoso”, destaca.
Natural da pequena cidade de Parnamirim, no Sertão pernambucano, quarto rebento de uma prole de oito filhos do casal Omenídio Granja de Alencar e Maria do Socorro Granja, já falecidos, devota de Mãe Rainha, as frases e afirmações de Maria Elena vêm sempre permeadas por um “graças a Deus”. (E como atriz que sempre foi, claro, sonha com a criação do Teatro Municipal de Petrolina).
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Convivência com o Semiárido atrai jovens sertanejos
Manejo alimentar e animal; origem, distribuição e medição da chuva; água no subsolo; adubação orgânica; defensivos naturais. Estes foram alguns dos conteúdos do curso “Convivência com o Semiárido”, promovido pelo Projeto de Assessoria Técnica e Extensão Rural (Ater), realizado no final de janeiro, no Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), em Juazeiro (BA). Um grupo de 52 pessoas moradoras de comunidades rurais de Casa Nova, Juazeiro, Sobradinho, Sento Sé, Canudos, Curaçá e Uauá, localizadas no semiárido baiano, participou da atividade. Com programação semelhante aos demais cursos já realizados pelo projeto, desta vez o destaque foi a grande participação da juventude.
O período de férias escolares favoreceu a mobilização dos adolescentes. Josué da Silva Marques, de 15 anos, da comunidade de São Pedro, em Sento Sé, diz que aprendeu muitas “coisas novas”, que irá aplicar no povoado onde mora. “Aprendi como fazer ração para os animais, cuidar da criação, das plantas. Aprendi também que a terra tem mais adubo perto da superfície. Se alguém me perguntasse antes sobre isso, eu não saberia responder. Agora eu sei e vou passar pra frente”, entusiasma-se Josué.
Naelson Brandão dos Santos, de 20 anos, e Elizangela de Souza, 17, já participam de grupos de jovem que discutem sobre a melhoria da qualidade de vida das famílias no campo. Eles destacam a importância para a juventude colocar em prática esses assuntos. Elizangela participa de discussões sobre Fundo de Pasto na região de Canudos e Naelson preside o Grupo Caatingueiro de Atitude Jovem, no povoado de Pau de Colher, município de Curaçá.
Já Samuel Castro da Silva, de 20 anos, da comunidade de Amalhador, em Casa Nova, participou pela primeira vez desse tipo de atividade e diz que o curso o estimulou a dedicar-se à pecuária.
O grupo fez uma visita técnica ao Sítio Acauã, onde conheceu experiências de manejo sanitário reprodutivo de caprinos e ovinos. Manejo e perfil da Caatinga e o perfil, estrutura e microbiologia do solo foram os conteúdos apresentados no último dia de curso, durante caminhada pelo espaço de treinamento Vargem da Cruz.
Projeto ATER – Com duração de 12 meses, o Projeto ATER é uma proposta do Irpaa, com base no trabalho de Assessoria Técnica e Extensão Rural, desenvolvida por uma equipe multidisciplinar formada por agentes multiplicadores rurais, técnicos agropecuários e profissionais das áreas de educação, comunicação e engenharia agronômica. Eles atuam em comunidades distribuídas pelo Território Sertão do São Francisco: Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Sento-Sé, Sobradinho e Uauá.
O objetivo central do projeto é “fomentar o desenvolvimento econômico, ecológico, político, social e cultural da agricultura familiar no Semiárido Baiano, por meio de uma assessoria técnica de base agroecológica que enfoque a dimensão humana das famílias”. Os paticipantes desenvolvem ou aperfeiçoam, por conta própria sua tecnologia, “buscando soluções e alternativas de convivência, garantindo a permanência das comunidades tradicionais, principalmente dos Fundos de Pasto”. (Fonte: Irpaa) Share
Ministro Fernando Bezerra anuncia criação
da Secretaria Nacional de Irrigação
Novo órgão terá a missão de dar mais dinamismo aos perímetros irrigados. Ministro afirna também que presidente Dilma Rousseff visitará em janeiro obras de integração do Rio São Francisco
“Por determinação da presidente Dilma Rousseff, vamos dar atenção especial ao Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional e à Ferrovia Transnordestina, duas das mais importantes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, afirmou o novo Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra de Souza Coelho, durante a cerimônia de transmissão de cargo, em Brasília.
Outro compromisso assumido por Fernando Bezerra é a criação da Secretaria Nacional de Irrigação, com a missão de dar mais dinamismo aos perímetros irrigados, sob coordenação da Integração Nacional. Ele disse também que pretende reposicionar o órgão de acordo com as dimensões do território nacional, “levando suas ações a todas as regiões do País”.
O novo Ministro comprometeu-se em apressar a implantação da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e em fortalecer as Superintendências de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e do Norte (Sudam).
Dilma no projeto São Francisco - Em Salgueiro (PE), o ministro Fernando Bezerra informou que a presidente Dilma Rousseff deverá visitar ainda em janeiro as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional e as da Ferrovia Transnordestina. O ministro foi a Salgueiro (PE) dia 10/01 em companhia do governador pernambucano Eduardo Campos, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre as duas obras (São Francisco e Transnordestina). Ele afirmou que a presidente quer manter as obras "em ritmo acelerado".
Perfil – Nascido em Petrolina, no sertão pernambucano, o ministro Fernando Bezerra de Souza Coelho é formado em Administração de Empresas pela Escola de Administração de São Paulo (Eaesa), da Fundação Getúlio Vargas (1979).
Coelho foi prefeito de Petrolina, por três mandatos – eleito em 1992, 2000 e 2004. Na iniciativa privada, foi superintendente do Curtume Moderno, de Petrolina, no período de agosto de 1979 a abril de 1982. Foi também superintendente da Autarquia Educacional do Vale do São Francisco.
Na esfera política, foi deputado estadual entre os anos de 1982 e 1986; secretário da Casa Civil do Governo do Estado, de 1985 a 1986; deputado federal entre os anos de 1986 e 1990; deputado federal reeleito de 1991 a 1992.
De janeiro de 2007 a 2010, foi secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, que está localizado nos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, no litoral sul do Estado de Pernambuco. Com uma área total de 135 km2, dividida em zonas do Porto, Industrial, Administrativa e de Preservação Ecológica e Cultural, Suape é hoje um centro de desenvolvimento e um dos mais importantes portos do Hemisfério Sul.
Como secretário, se empenhou em fomentar os setores industrial, comercial e de serviços, ao buscar atrair e apoiar investimentos voltados à expansão das atividades produtivas em Pernambuco.
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Jovens sertanejos querem
renda e qualidade de vida
Viver no campo desenvolvendo atividades que gerem renda e uma existência digna. É o que muitos jovens sertanejos que não pensam em migrar para a cidade estão buscando. Para concretizar essa ideia, 30 jovens de 11 municípios baianos participaram em dezembro do “Intercâmbio de Vivência”, do Projeto Repensar.
A atividade consistiu na vivência em duas propriedades rurais, onde os jovens participaram da rotina dos agricultores familiares Eduardo Émídio Queiroz e sua esposa Izabel Queiroz, criadores de caprinos e ovinos, na comunidade de Barreiros (município de Riachão do Jacuípe), e José Domingos, criador de abelhas, na Comunidade de Cajueiro (município de Tucano).
Os jovens conheceram o cotidiano das propriedades rurais e como os agricultores planejam a utilização de cada espaço, bem como cuidam da vegetação, do plantio e dos animais. Em seguida, eles realizaram atividades práticas de horticultura ecológica, que para muitos será fonte de renda. Nos dias seguintes os jovens, já integrados à rotina, aprenderam o manejo de caprinos, ovinos e abelhas.
O objetivo do “Intercâmbio de Vivência” é proporcionar ao jovem do campo uma vivência prática, que lhe proporcione instrumentos para organizar suas propriedades, respeitando o meio ambiente, a partir de princípios agroecológicos, levando em consideração a segurança alimentar, com a comercialização de produtos sem agrotóxicos.
Projeto Repensar – Lançado no ano de 2007, o Projeto Repensar tem buscado melhorar a renda das famílias de jovens agricultores sertanejos e garantir a recuperação e preservação da Caatinga. Para isso, o projeto valoriza ações no campo da teoria, mas também da prática, aliando o saber popular dos agricultores, ao saber técnico adquirido nas escolas.
Para o jovem Celson Góes, que participou da atividade na comunidade Cajueiro, a experiência foi muito importante. “Uma coisa que me enriqueceu foi a importância do trabalho em grupo no campo”, afirma Celson. Outro ponto positivo da atividade, segundo ele, foi a metodologia utilizada. “Na prática a gente aprende mais, capta mais as coisas. Tenho certeza que todos os que participaram adquiriram um outro saber” ressalta. (Fonte: Movimento de Organização Comunitária - MOC)
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Rachel de Queiroz, nordestina: primeira mulher
a entrar na Academia Brasileira de Letras
Este ano a escritora que narrou a saga do povo do Sertão estaria completando cem anos de existência. No livro "O Quinze" , ela relata a terrível seca de 1915 e um de seus aspectos mais chocantes: o campo de concentração erguido nos arredores de Fortaleza para confinar as vítimas do flagelo
Nascida em Fortaleza, no dia 17 de novembro de 1910, Rachel de Queiroz, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL), este ano estaria completando cem anos de existência. A cearense, além de escritora, tradutora, romancista e jornalista, desempenhou importante papel na dramaturgia brasileira. Também foi a primeira mulher a receber o prêmio Luis de Camões, instituído pelos governos do Brasil e de Portugal e concedido a autores que contribuíram para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.
Em 1917, em razão de forte seca no Ceará, a família de Rachel mudou-se para o Rio de Janeiro e logo depois para Belém (PA). Esse fato marcou sua vida de tal forma que serviu de inspiração para a criação de O Quinze, seu livro de estreia. Com apenas 20 anos de idade, nesse romance, a autora conta a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria, demonstrando preocupação com questões sociais e desenvolvendo habilidosa análise psicológica de seus personagens.
Entre suas obras também são destaque Memorial de Maria Moura (1992), sobre a história de uma mulher no sertão nordestino que é levada pelas circunstâncias a liderar um bando de aventureiros que praticam roubos e vivem de forma desregrada; Tantos anos (1998), autobiografia; e Não me deixes: suas histórias e sua cozinha (2000), que trata de suas memórias gastronômicas.
Rachel foi também autora de mais de duas mil crônicas e de três peças de teatro: Lampião, de 1953; A Beata Maria do Egito, de 1958, laureada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro; e O padrezinho santo, peça que escreveu para a televisão, inédita em livro. No campo da literatura infantil, escreveu O menino mágico, inspirado nas histórias que contava para os netos de sua irmã, Maria Luiza. Em suas atividades como tradutora, Rachel trabalhou com cerca de 40 volumes traduzidos para o português, entre os quais Humilhados e ofendidos, Os demônios e Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski; A mulher de trinta anos, de Honoré de Balzac; e A mulher diabólica, de Agatha Christie.
A escritora também fez parte do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989. Participou ainda da 21ª Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando, especialmente, na Comissão dos Direitos do Homem. Em 1988, iniciou sua colaboração semanal no jornal O Estado de S. Paulo e no Diário de Pernambuco.
Rachel casou-se com o poeta José Auto Oliveira, em 1932, com quem teve uma única filha, Clotilde, nascida no ano seguinte, mas que faleceu com apenas um ano e meio de idade devido a uma septicemia. Em 1939, a escritora se separou do marido, casando-se, posteriormente, com o médico Oyama de Macedo. A autora morreu no dia 4 de novembro de 2003, dormindo em sua rede, na cidade do Rio de Janeiro, a 13 dias de completar 93 anos de idade. (Helena Daltro Menezes/Agência Senado)
Campos de concentração – O Quinze aborda alguns aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos períodos mais dramáticos que o povo atravessou: a seca de 1915. Em certa passagem da obra, Vicente, rude proprietário e criador de gado, pergunta a Conceição, sua prima, culta e professora: “E você tem visto muito horror no campo de concentração?". Os dois conversam não sobre as prisões nazistas construídas durante a Segunda Guerra Mundial. O diálogo diz respeito aos currais erguidos no Ceará pelos governos estadual e federal para isolar os famintos da seca de 1915, onde a personagem Conceição trabalhava.
O objetivo dos 'currais' era evitar que os retirantes alcançassem Fortaleza, trazendo “o caos, a miséria, a moléstia e a sujeira”, como informavam os boletins do poder público à época. Naquele ano, criou-se o campo de concentração (era assim mesmo que se chamava) do Alagadiço, nos arredores da capital cearense, cenário do livro de Rachel. Alagadiço chegou a juntar 8 mil esfarrapados, que recebiam alguma comida e permaneciam vigiados por soldados. O drama atingiu tal proporção, com uma média de 150 mortes diárias, que o governo do Estado ordenou, em 18 de dezembro de 1915, a dispersão dos “molambudos”, como eram conhecidos os flagelados.
O campo de concentração relatado na ficção de Rachel de Queiroz, seria apenas o ‘ensaio’ da segregação estatal dos sertanejos. Há registros de pelos menos outros cinco currais humanos no estado do Ceará, localizados em Quixeramobim, Senador Pompeu, Cariús, Ipu e Quixadá
O modelo de isolamento iria vingar para valer em 1932, o ano de grande seca no Nordeste. Em virtude desse fenômeno milhares de sertanejos, retirantes, seguiram de diversas regiões para Senador Pompeu, em busca de trabalho e comida. Para não invadirem e saquearem as cidades, foram mantidos pelas autoridades no canteiro de obras da barragem do Açude Patu, que estava em construção.
O campo de concentração de Patu, tinha alguma semelhança com o modelo nazista. Era composto por vários casarões e armazéns, e o trem conseguia chegar até lá, o que facilitava transportar flagelados e provisões. Milhares de pessoas morriam de fome e cólera e eram enterradas em valas comuns.
Apartir de 1982, a memória destes mártires é reverenciada, no mês de novembro, em Senador Pompeu, na Caminhada da Seca, que reune milhares de pessoas.
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Fernando e Jericó, dois mestres da 21
Fernando, atual maestro
Atual maestro-regente da Philarmonica, nos últimos dias, antes da festa dos cem anos da banda, Fernando José Rego não teve tempo para quase nada, além de preparar o grupo para a grande festa. Foi um corre-corre e tanto. Mas na madrugada de sábado (18/9) para domingo, no intervalo do baile do centenário, aquela canseira toda foi embora quando mestre Fernando pegou o sax alto e subiu ao palco da Sociedade 21 de Setembro, para dar uma “canja” ao lado de outro mestre, o trompetista Odésio Jericó.
Até àquele momento, o que se via na 21 era apenas mais um baile de final de semana, animado pela competente banda Oara. Um baile, apenas. Então, do trompete de Jericó, saíram os primeiros acordes de “Carinhoso”. E o salão inteiro entrou em delírio. Finalmente, a Festa do Centenário da Philarmonica 21 de Setembro aconteceu. Jericó e Fernando, talentos criados e formados na 21, num instante (mágico instante) reviveram o espírito daqueles jovens músicos que, em 1910, num gesto de rebeldia, deram a Petrolina a banda que a cidade merecia ter.
Fernando permanece até hoje na banda, onde entrou menino, e cujo talento quase foi sufocado por pressão da família, que queria ver o garoto longe da música (“uma coisa sem futuro”, alegavam). Mesmo assim, a 21 não saía do coração, nem da mente, do menino. Fernando tanto insistia que Mestre Pedro, músico de raro talento, muitas vezes dava ao menino a missão de carregar uma pequena maleta de madeira onde estavam guardadas as partituras das músicas a serem executadas pela 21. Aquilo para Fernando era motivo de orgulho.
Jericó, talento nacional
Um belo dia, Jericó, que já tocava na 21, viu Fernando dedilhando o violão e, imediatamente, o encaminhou a José Menezes, um alfaiate que entre um corte aqui, uma costura ali, ministrava aulas de música. Foi o empurrãozinho que faltava para o talento de Fernando deslanchar de vez. Na 21, Fernando começou tocando caixa. Um ano depois, se apaixonou pelo clarinete. O sax alto foi seu curso de “pós-graduação”. Hoje, com 69 anos, o "menino", não sossega, quer ir mais longe na música. E diz que ainda vai dominar o teclado.
Jericó, por sua vez, criou asas. Voou para São Paulo, onde tocou com gente como Osmar Milani, Silvio Mazuca, Elcio Álvares, Nelson Ayres, Hector Costita e também trabalhou durante um bom tempo como músico do SBT, a tevê de Sílvio Santos. Entre artistas nacionais e internacionais, Jericó acompanhou Gilberto Gil, João Bosco, Elza Soares, Gal Costa, Toquinho, Elba Ramalho, Samy Davis Junior, Julio Iglesias, Nico Fidenco. Atualmente, faz parte da Banda Mantiqueira. Mas o coração, continua “na Philarmonica” (que o diga quem o viu chorando discretamente na manhã de 21 de setembro, enquanto, no interior da Sociedade, após a alvorada, a banda tocava “Carinhoso”).
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Carlos Augusto, um radialista
com sangue de vaqueiro
Petrolina (PE) - “É hora de despertar, é hora de levantar. Com a graça de Deus, estamos juntos, em todas as casas da cidade e do interior, e no mundo todo pela internet, até as 7 da manhã.” É assim que boa parte dos habitantes da região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), às margens do São Francisco, acorda: ao som da voz do veterano radialista Carlos Augusto, apresentador do programa “Forró do Povo”, que vai ao ar, durante a semana, das 6 às 7 da manhã, pelas ondas da Rádio Grande Rio AM, de Petrolina.
“Atenção, o terapeuta vai atender nesta segunda-feira na casa da Eliana, no bairro”... “Missa de cinco anos de falecimento...” Campeão absoluto de audiência, “Forró do Povo” é dono de mais de 80% dos índices, segundo pesquisa do Instituto Opine, de Recife. E isso, graças a uma receita simples, que deu certo: o programa fala a linguagem do povo sertanejo.
Roda a primeira atração musical. Um forró rasgado. “Sou sertanejo e bato no peito”, diz o cantor. Em seguida, Carlos Augusto lê uma série de anúncios classificados. Depois é a vez de um dos entrevistados do dia: Juarez do Petrape, “um menino de rua que deu certo”, avisa Carlos Augusto. Juarez Marcos da Silva, ex-aluno, é atualmente educador do Petrape (Pequenos Trabalhadores de Petrolina), entidade que atende a cerca de cem meninos e adolescentes em situação de risco, citada como exemplo de educação e filantropia no sertão.
“Desapareceu em Lagoa Grande um cavalo castanho, pé esquerdo branco e com uma cicatriz”...”Convite para novena...” Faltam cinco minutos para as 7 da manhã. Para encerrar mais um “Forró do Povo”, uma música em homenagem aos caminhoneiros (“quem roda na estrada se arroja nas mãos do destino”), e o recado final de Carlos Augusto: “A natureza não sabe se defender, mas sabe se vingar.”
DNA de vaqueiro – Aos 69 anos de idade e mais de 40 anos como radialista, Carlos Augusto é um apaixonado pela profissão. Diz que quer morrer com um microfone na mão, narrando seus últimos momentos nesta vida. E solta uma risada. Depois, mais sério, mas sem esconder uma pontinha de saudade, conta que uma de suas alegrias de menino, nascido e criado em Petrolina, era nadar nas águas do São Francisco.
Seu nome de batismo é Carlos Augusto Amariz Gomes. O pai, José Mariano Gomes, era funcionário público. Da estirpe de vaqueiros e do sangue espanhol da mãe, Joana Amariz Gomes, herdou o gosto pelas coisas do sertão. É casado com Francisca Mousinho Gomes, que deu a ele quatro filhos: Marcelo Augusto, Rodrigo Luis, Maíra e Carla. Netos, por enquanto, são quatro (Lucas, Maria Paula, Maria Augusta e Maria Eugênia). O quinto neto, uma menina, está a caminho. “Sou de uma família de vaqueiros. Herdei do bisavô, o nome Carlos, do avô herdei o Augusto, ambos eram vaqueiros”, diz o radialista.
Carlos Augusto iniciou a vida de comunicador no Serviço de Auto Falantes Brasil Publicidade, de Manoel Alves Sibaldo, o “Menininho”, em Petrolina, isso lá pelos idos de 1962. Nunca mais largou o microfone.
Depois, ao lado do padre Mansueto de Lavor, a convite do bispo Dom Antonio Campelo de Aragão, fundou a Emissora Rural, “A Voz do São Francisco”. Alvorada Alegre, Forró no Balundeiro e Forró na Cuia Grande, foram alguns dos programas que apresentou na Emissora Rural.
Não demorou muito, topou outro desafio: implantar a Rádio Grande Rio, do Grupo Coelho. Na nova emissora, lançou o Forró do Povo, que logo virou um sucesso.
Fiel ao ditado “cobra que pode vive do seu veneno”, foi à luta e comprou seu espaço na emissora. Apesar de ser obrigado a pular da cama cedinho, para ir trabalhar na rádio, confessa que jamais se acostumou com isso: “Gosto de dormir até tarde”, afirma. Não é raro ele ser acordado cedinho, pelas duas ou três da manhã, por um telefonema de um ouvinte, pedindo para comunicar um nascimento, ou, mesmo, um falecimento, durante o programa. Atende a todos. “A vida e a morte são as maiores comunicações do rádio”, ensina.
Longe dos microfones, um de seus orgulhos é o título de tetracampeão da cidade, conquistado pelo América Futebol Clube, quando era presidente. Entre os anos 1989 a 1992, foi vice-prefeito de Petrolina, na gestão de Guilherme Coelho.
Amigo de Luiz Gonzaga, até hoje se emociona ao recordar um fato que considera inusitado, durante homenagem de Petrolina ao imortal “Rei do Baião”. Milhares de pessoas estavam nas ruas. Para lembrar a música “Asa Branca”, foi feita uma revoada de pombos. Emocionadas, as pessoas ergueram as mãos para o alto. Uma das pombinhas, em vez de voar para a liberdade, inventou de pousar justo na mão de Carlos Augusto. “Só de pensar, fico arrepiado”, confessa. Seriam ‘coisas’ do Luiz? Carlos não nega, também não descarta.
Em 1967, revitalizou a Festa do Vaqueiro, de Petrolina, que todos os anos reune centenas de vaqueiros. No início da década de 1970, para chamar a atenção contra a matança indiscriminada que estava dizimando o jegue, animal símbolo do sertão, lançou em seu programa na Rádio Rural a ideia de se realizar uma corrida de jegues.
No início, foi motivo de chacota. Muita gente na cidade torceu o nariz, dizendo que não ficaria bem para uma cidade como Petrolina, ter uma corrida de jegues, “uma coisa provinciana”. Obstinado, Carlos foi em frente e em 1972 realizou a 1ª Jecana, uma incrível “Gincana de Jegues”. Quando a imprensa do Recife, do Rio e de São Paulo elogiou a iniciativa, os críticos silenciaram.
Todos os anos, a Jecana atrai milhares de pessoas, da cidade e regiões vizinhas, para participar da festa. São três dias de uma divertida mistura de futebol, corrida de jegues e burros, desfile de animais a fantasia, comida sertaneja e muito, muito forró até a madrugada. A festa faz parte do calendário turístico da cidade.
Apesar do sucesso da Jecana, Carlos lamenta o fato de ainda pairar sobre o jegue o fantasma da extinção. Por isso, prega quase como uma idéia fixa a criação desses animais de forma produtiva, para que sua carne seja exportada a países onde é muito apreciada, como o Japão, por exemplo, o que geraria divisas para o país e emprego para o nordestino. E, principalmente, evitaria a extinção do jegue, hoje um animal “sem serventia”, que, substituído pela moto como meio de transporte, vive abandonado na beira das estradas, causando – sem querer – acidentes muitas vezes fatais.
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