segunda-feira, 19 de julho de 2010

1743 - HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

A constituição do infantil na obra de Freud
Dione de Medeiros Lula Zavaroni
Terezinha de Camargo Viana
Luiz Augusto Monnerat Celes
Universidade de Brasília
Resumo
O modo como Freud compreendeu a importância da infância na constituição psíquica é fundamental na
psicanálise. Este fato sustenta a proposta de considerarmos que esta noção assume, na metapsicologia, o
estatuto de um conceito. É na busca do conceito do infantil em Freud que empreendemos a pesquisa que
subsidia este artigo. Privilegiamos momentos iniciais da obra freudiana no sentido de apontar que se trata
de um conceito muito precocemente instalado na psicanálise. Textos posteriores ao período dos escritos prépsicanalíticos,
tais como “A Interpretação dos Sonhos” e “Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade”,
também são analisados no sentido de apontar os desdobramentos iniciais sobre o modo como Freud pensou
e tomou o conceito de infantil na metapsicologia e no trabalho psicanalítico.
Palavras-chaves: infância; infantil; constituição psíquica
Abstract
The development of the concept of infantile in Freud. Freud’s understanding of the importance of infancy in
psychical constitution is fundamental in psychoanalysis, leading us to consider that the notion of infantile,
in metapsychology, assumes the statute of a concept. This essay proposes to research the concept of infantile
in Freud. In order to point out the precocity of the appearance of the concept in psychoanalysis, the initial
moments of Freud’s works are favored. Some texts written after the pre-psychoanalytic publications, such as
“The Interpretation of Dreams” and “The three essays on the theory of sexuality”, will also be analyzed, so
as to point out the initial development of the concept of infantile in metapsychology and in psychoanalytic
work.
Keywords: infancy; infantile; psychical constitution
Ainfância faz parte da história da psicanálise como uma de
suas marcas indeléveis. Cenas e lembranças referentes
aos primeiros anos de vida dos pacientes estão presentes
nos escritos freudianos desde os seus primórdios. O que marca
􀁄􀀃􀁓􀁒􀁖􀁌􀁯􀁭􀁒􀀃􀁓􀁖􀁌􀁆􀁄􀁑􀁄􀁏􀁴􀁗􀁌􀁆􀁄􀀃􀁈􀁐􀀃􀁕􀁈􀁏􀁄􀁯􀁭􀁒􀀃􀁪􀀃􀁌􀁑􀁉􀁫􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃􀁰􀀃􀁄􀀃􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁌􀂿􀁆􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃
da elaboração teórica em torno deste período da vida humana
e, conseqüentemente, o modo próprio como os psicanalistas
ouvem os relatos de seus pacientes em relação aos seus primeiros
anos de vida.
Em linhas gerais, talvez possamos dizer que a principal
característica da compreensão psicanalítica em relação à infância
consiste no interesse de resgatar na fala dos pacientes, não
􀁈􀁛􀁄􀁗􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃􀁘􀁐􀀃􀁉􀁄􀁗􀁒􀀃􀂿􀁈􀁏􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃􀁕􀁈􀁓􀁕􀁒􀁇􀁘􀁝􀁌􀁇􀁒􀀏􀀃􀁐􀁄􀁖􀀃􀁒􀀃􀁐􀁒􀁇􀁒􀀃􀁆􀁒􀁐􀁒􀀃
􀁈􀁖􀁗􀁈􀀃􀁉􀁄􀁗􀁒􀀃􀂿􀁆􀁒􀁘􀀃􀁊􀁕􀁄􀁉􀁄􀁇􀁒􀀃􀁈􀁐􀀃􀁖􀁈􀁘􀀃􀁓􀁖􀁌􀁔􀁘􀁌􀁖􀁐􀁒􀀃􀁇􀁈􀁗􀁈􀁕􀁐􀁌􀁑􀁄􀁑􀁇􀁒􀀃􀁗􀁄􀁑􀁗􀁒􀀃
sua própria constituição como, também, seu modo de relembrar
o passado. É exatamente este duplo movimento que o infantil
estabelece – ao mesmo tempo em que constitui, ele próprio
oferece modos de interpretação dessa constituição.
É importante lembrar que essa compreensão do infantil tem
uma ressonância fundamental no trabalho analítico. À medida
que esta noção era lapidada, a prática analítica ia assumindo
contornos diversos, passando gradualmente pelos terrenos da
hipnose, da sugestão e da associação livre. Na medida em que
Freud distanciava-se dos fatos em direção à interpretação que o
próprio sujeito lhe atribuía, ele caminhava em direção à valorização
da associação livre como técnica fundamental da psicanálise.
Nesse percurso das transformações do método psicanalítico, o
infantil assume uma posição central.
Outro aspecto relevante consiste no fato de que o infantil não
􀁰􀀃􀁘􀁐􀁄􀀃􀁆􀁒􀁑􀁖􀁗􀁕􀁘􀁯􀁭􀁒􀀃􀁗􀁄􀁕􀁇􀁌􀁄􀀃􀁑􀁄􀀃􀁗􀁈􀁒􀁕􀁌􀁄􀀃􀁓􀁖􀁌􀁆􀁄􀁑􀁄􀁏􀁴􀁗􀁌􀁆􀁄􀀑􀀃􀀤􀀃􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁌􀂿􀁆􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃
conceitual que contorna a idéia de infância e de infantil na psicanálise
sempre esteve, de algum modo, presente nos trabalhos
􀁇􀁈􀀃􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀏􀀃􀁇􀁈􀁏􀁌􀁐􀁌􀁗􀁄􀁑􀁇􀁒􀀏􀀃􀁇􀁈􀁗􀁈􀁕􀁐􀁌􀁑􀁄􀁑􀁇􀁒􀀃􀁈􀀃􀁆􀁒􀁑􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀁑􀁇􀁒􀀃􀁇􀁌􀁙􀁈􀁕􀁖􀁄􀁖􀀃
construções teóricas.
Nos “Extratos dos documentos dirigidos a Fliess” (Freud,
1950[1892-1899]/1980) já havia a compreensão de que na
reconstrução dos primeiros anos de vida feita em análise estão
contempladas tanto as recordações de infância proferidas ao
Estudos de Psicologia 2007, 12(1), 65-70
66
analista como a infância esquecida. Não era apenas aquilo que
o paciente recordava que Freud considerava relevante na compreensão
dos sintomas, mas também e, sobretudo, a infância
􀁔􀁘􀁈􀀃􀂿􀁆􀁒􀁘􀀃􀁈􀁖􀁔􀁘􀁈􀁆􀁌􀁇􀁄􀀑
Mesmo quando se voltava à reconstituição dos fatos de
infância relatados por seus pacientes, o que mantinha Freud
ocupado com a infância era algo da ordem do recalcado. O
infantil recalcado, muito mais que um relato sobre a infância,
foi, desde sempre, o seu verdadeiro interesse.
Porém, para o próprio Freud, a sustentação metapsicológica
da compreensão dos primeiros anos de vida exigiu um
permanente trabalho de elaboração. O modo de tomar o infantil
na constituição do psiquismo, na formação dos sintomas ou
no trabalho de análise não se apresenta placidamente em seus
escritos. Ele oscilou, constantemente, em um movimento pendular
entre as experiências da infância e o material recalcado.
Revendo os escritos freudianos, percebemos que não é exatamente
uma precisa delimitação conceitual das noções de infância
e de infantil que caracterizará o modo como Freud fez uso das
mesmas para explicar a importância dos primeiros anos de vida
na constituição psíquica.
Assim, com o intuito de desvendarmos as questões que fomentaram
o deslizamento da infância ao infantil nos primórdios
da psicanálise, pesquisamos, por meio de alguns textos da obra
freudiana, o percurso realizado por Freud nessa elaboração.
Nesse caminho, percebemos que existem momentos em que essa
construção teórica assume contornos mais precisos. Ressaltamos,
em especial, o momento em que a fantasia passa a ocupar
um lugar teórico relevante na compreensão da constituição do
psiquismo. Esse lugar consiste em atribuir à realidade psíquica
um valor de determinação antes atribuído apenas à realidade
material. Será nesse momento de valoração da realidade psíquica,
que Freud (1950[1892-1899]/1980) realiza uma mudança na
compreensão teórica do modo como os primeiros anos de vida
participam do processo de constituição psíquica. A fantasia é
reposicionada na metapsicologia e assume um lugar de destaque
na compreensão e na reconstrução do infantil em análise.
A partir de então, a consideração da fantasia enquanto verdade
psíquica confere ao infantil um estatuto que se estende para
􀁄􀁏􀁰􀁐􀀃􀁇􀁄􀁔􀁘􀁌􀁏􀁒􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁉􀁒􀁌􀀃􀁙􀁌􀁖􀁗􀁒􀀏􀀃􀁒􀁘􀁙􀁌􀁇􀁒􀀃􀁒􀁘􀀃􀁙􀁌􀁙􀁌􀁇􀁒􀀃􀁑􀁄􀀃􀁌􀁑􀁉􀁫􀁑􀁆􀁌􀁄􀀑􀀃􀀤􀀃􀁇􀁌􀂿-
culdade de compreensão coloca-se exatamente nesse ponto, pois
􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁗􀁄􀁐􀁅􀁰􀁐􀀃􀁖􀁈􀀃􀁕􀁈􀁉􀁈􀁕􀁈􀀃􀁪􀁖􀀃􀁖􀁈􀁑􀁖􀁄􀁯􀁽􀁈􀁖􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀂿􀁆􀁄􀁕􀁄􀁐􀀃􀁊􀁕􀁄􀁉􀁄􀁇􀁄􀁖􀀃
no psiquismo nos primórdios da constituição psíquica. Os sons,
os cheiros, as sensações táteis compõem as marcas mnêmicas
primordiais e estende-se para além delas.
Assim, pensar o infantil como um conceito psicanalítico
passa pela compreensão de uma infância que desliza da simples
cronologia e das experiências passíveis de narração à realidade
psíquica, e da fantasia como um elemento irrevogável da constituição
do psiquismo.
Desse modo, na psicanálise, a infância cronológica não pode
ser confundida com o infantil reconstruído no discurso do analisando
no contexto da relação transferencial. Como um conceito
metapsicológico, o infantil não se dá a ver, mas se faz presente
no discurso e no modo como o analisando se põe em análise.
Ao estabelecer o determinismo inconsciente como sua refe-
􀁕􀁲􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃􀁉􀁘􀁑􀁇􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁄􀁏􀀏􀀃􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀃􀂿􀁛􀁄􀀃􀁖􀁘􀁄􀁖􀀃􀁗􀁈􀁒􀁕􀁌􀁝􀁄􀁯􀁽􀁈􀁖􀀃􀁈􀁐􀀃􀁘􀁐􀀃􀁆􀁄􀁐􀁓􀁒􀀃
de conhecimento distinto da psicologia e das outras ciências. É
nesse campo metapsicológico que inscrevemos a compreensão
psicanalítica do infantil.
Na psicanálise, infância e infantil estão remetidos a estruturas
conceituais diversas. Enquanto a infância refere-se a um
tempo da realidade histórica, o infantil é atemporal e está remetido
a conceitos como pulsão, recalque e inconsciente. Assim, se
o infantil na psicanálise é constituído em referência aos conceitos
􀁈􀀃􀁄􀁒􀀃􀁗􀁕􀁄􀁅􀁄􀁏􀁋􀁒􀀃􀁓􀁖􀁌􀁆􀁄􀁑􀁄􀁏􀁴􀁗􀁌􀁆􀁒􀁖􀀃􀁰􀀃􀁓􀁕􀁈􀁆􀁌􀁖􀁒􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁈􀁖􀁖􀁄􀀃􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁌􀂿􀁆􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃
􀂿􀁔􀁘􀁈􀀃􀁇􀁈􀁐􀁄􀁕􀁆􀁄􀁇􀁄􀀃􀁑􀁄􀀃􀁓􀁖􀁌􀁆􀁄􀁑􀁩􀁏􀁌􀁖􀁈􀀃􀁈􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁆􀁒􀁐􀁓􀁄􀁕􀁈􀁯􀁄􀀃􀁑􀁄􀀃
metapsicologia em seu afastamento e diferenciação ao tempo
da infância, embora que irrevogavelmente referido à mesma. O
infantil diz do modo peculiar de tomar a infância no trabalho de
análise, ou seja, como marca mnêmica recalcada, referente aos
primeiros anos de vida.
A propósito da preservação de seus fundamentos, podemos
􀁄􀂿􀁕􀁐􀁄􀁕􀀃 􀁔􀁘􀁈􀀃 􀁈􀁛􀁌􀁖􀁗􀁈􀀃 􀁘􀁐􀁄􀀃 􀁆􀁘􀁐􀁓􀁏􀁌􀁆􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃 􀁈􀁑􀁗􀁕􀁈􀀃 􀁈􀁖􀁖􀁈􀁖􀀃 􀁆􀁒􀁑􀁆􀁈􀁌􀁗􀁒􀁖􀀑􀀃
Podemos dizer que a construção a posteriori do infantil em
análise não abandona propriamente a realidade histórica vivida
pela criança. Ao contrário, tomando emprestada a noção de
LeGuen (1991), podemos dizer que ela se apóia a posteriori
nessa realidade para se constituir a partir dela, transformando-a
􀁈􀀃􀁇􀁈􀁖􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀁑􀁇􀁒􀀐􀁄􀀑􀀃􀀤􀁓􀁕􀁒􀁓􀁕􀁌􀁄􀀐􀁖􀁈􀀃􀁈􀀃􀁄􀀃􀁗􀁕􀁄􀁑􀁖􀁉􀁒􀁕􀁐􀁄􀀑􀀃􀀱􀁭􀁒􀀃􀁄􀀃􀁄􀁅􀁄􀁑􀁇􀁒􀁑􀁄􀀃
completamente, mas já não é mais a mesma. Desse modo, a
possibilidade de realização do trabalho de análise passa pela
apropriação das nuances que aproximam e, ao mesmo tempo,
diferenciam o conceito de infância e o conceito do infantil.
A pré-história do infantil
Em “A interpretação dos sonhos”, Freud (1900/1980) consolida
a sua compreensão sobre o lugar da infância na constituição
do psiquismo. Mas, muito anteriormente, nos chamados escritos
pré-psicanalíticos, Freud já havia lançado e estabelecido as marcas
constituintes da noção do infantil. Na correspondência que
estabelece com Fliess (Freud, 1950 [1892-1899]/1980), a noção
􀁇􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁉􀁒􀁌􀀃􀁓􀁕􀁒􀁅􀁏􀁈􀁐􀁄􀁗􀁌􀁝􀁄􀁇􀁄􀀃􀁈􀀃􀁄􀁇􀁔􀁘􀁌􀁕􀁌􀁘􀀃􀁆􀁒􀁑􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀁯􀁽􀁈􀁖􀀃􀁈􀀃􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁌-
􀂿􀁆􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀁖􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁖􀁈􀀃􀁈􀁖􀁗􀁈􀁑􀁇􀁈􀁐􀀃􀁄􀁒􀀃􀁏􀁒􀁑􀁊􀁒􀀃􀁇􀁈􀀃􀁗􀁒􀁇􀁄􀀃􀁄􀀃􀁒􀁅􀁕􀁄􀀃􀁉􀁕􀁈􀁘􀁇􀁌􀁄􀁑􀁄􀀑􀀃􀀤􀁖􀀃
bases lançadas por Freud nesse período subsidiaram e estiveram
presentes em suas elaborações teóricas posteriores.
Freud começa pelos acontecimentos da infância e sua importância
na constituição dos sintomas da histeria. Persegue cada
fato da infância de seus pacientes na busca da experiência cuja
􀁏􀁈􀁐􀁅􀁕􀁄􀁑􀁯􀁄􀀃􀂿􀁆􀁒􀁘􀀃􀁕􀁈􀁆􀁄􀁏􀁆􀁄􀁇􀁄􀀃􀁈􀀃􀁔􀁘􀁈􀀏􀀃􀁈􀁐􀀃􀁖􀁘􀁄􀀃􀁈􀁉􀁈􀁗􀁌􀁙􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀏􀀃􀁗􀁒􀁕􀁑􀁒􀁘􀀐􀁖􀁈􀀃
traumática e originou os sintomas. Nesse momento, ele ainda
􀁓􀁈􀁕􀁖􀁈􀁊􀁘􀁌􀁄􀀃 􀁒􀀃 􀁕􀁈􀁖􀁊􀁄􀁗􀁈􀀃 􀁇􀁈􀁖􀁖􀁄􀁖􀀃 􀁈􀁛􀁓􀁈􀁕􀁌􀁲􀁑􀁆􀁌􀁄􀁖􀀃 􀁈􀀃 􀁒􀀃 􀁕􀁈􀃀􀁈􀁛􀁒􀀃 􀁇􀁌􀁖􀁖􀁒􀀏􀀃 􀁑􀁄􀀃
􀁓􀁕􀁩􀁗􀁌􀁆􀁄􀀏􀀃􀁆􀁒􀁑􀁖􀁌􀁖􀁗􀁌􀁄􀀃􀁑􀁄􀀃􀁅􀁘􀁖􀁆􀁄􀀃􀁇􀁈􀀃􀁏􀁈􀁐􀁅􀁕􀁄􀁑􀁯􀁄􀁖􀀃􀂿􀁇􀁈􀁇􀁌􀁊􀁑􀁄􀁖􀀃􀁇􀁄􀁖􀀃􀁈􀁛􀁓􀁈-
riências esquecidas. De certo modo, buscava o resgate mnêmico
o mais próximo possível da experiência vivida.
Embora aqui, ainda apareça uma suposição de que existe
uma infância a ser completamente resgatada, não podemos deixar
de considerar que o interesse pelo recalcado já aponta para a suposição
de que a busca não é apenas do fato vivido, mas também
do fato não rememorado. Esse modo de aproximação que Freud
faz da infância, o afasta de uma reconstituição puramente factual
e o aproxima de uma reconstrução feita pelo próprio paciente
􀁈􀁐􀀃􀁖􀁈􀁘􀀃􀁕􀁈􀁏􀁄􀁗􀁒􀀑􀀃􀀰􀁈􀁖􀁐􀁒􀀃􀁔􀁘􀁈􀀏􀀃􀁑􀁒􀀃􀂿􀁑􀁄􀁏􀀃􀁇􀁒􀀃􀁖􀁰􀁆􀁘􀁏􀁒􀀃􀀻􀀬􀀻􀀏􀀃􀁒􀀃􀁌􀁑􀁗􀁈􀁕􀁈􀁖􀁖􀁈􀀃
pela infância não fosse exclusividade do pensamento freudiano,
D.M.L.Zavaroni et al.
67
o modo de pensar e considerar a infância estabelece propriedades
􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁴􀂿􀁆􀁄􀁖􀀃􀁄􀁒􀀃􀁓􀁈􀁑􀁖􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁒􀀃􀁓􀁖􀁌􀁆􀁄􀁑􀁄􀁏􀁴􀁗􀁌􀁆􀁒􀀑
No “Projeto para uma psicologia científica”1, Freud
(1950[1895]/1980) atribui às experiências infantis valor determinante
e fundante do psiquismo. Ele estabelece o desamparo
infantil e a busca de satisfação como elementos constituintes da
subjetividade. Será por meio da compreensão do psiquismo em
seus momentos iniciais, que Freud irá estabelecer o paradigma
que sustentará suas elaborações. Segundo ele, o corpo do bebê
impõe necessidades que o mesmo não tem como responder.
Essas necessidades exigem, por sua vez, uma 􀁄􀁯􀁭􀁒􀀃􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁴􀂿􀁆􀁄
para que sejam satisfeitas. Impossibilitado de levar a cabo tal
ação, a única descarga possível ao bebê será o choro que se torna
signo de comunicação, pois traz até ele (o bebê) a proximidade
do outro que providenciará sua satisfação. É nas vicissitudes
dessas experiências que Freud situa a inscrição da pulsão na
constituição psíquica e aponta para um deslizamento que muda
o rumo das necessidades.
Na Carta 46, que consta nos “Extratos dos documentos dirigidos
a Fliess” (Freud, 1950[1892-1899]/1980), aparece a noção
de transcrição que nos remete à metáfora da escrita na compreensão
do funcionamento psíquico. Essa metáfora será retomada
posteriormente na Carta 52 (Freud, 1950[1892-1899]/1980) e em
“Notas sobre o Bloco Mágico”, quando Freud (1925[1924]/1980)
irá representar o aparelho psíquico através da noção da inscrição
de traços mnêmicos inapagáveis e da possibilidade inesgotável
da realização de novas inscrições.
Nesse momento, Freud menciona duas noções fundamentais:
a inacessibilidade do material recalcado referente aos anos
iniciais da vida e a idéia de que, na passagem entre os diversos
períodos da vida, as cenas vividas nos períodos precedentes sofrem
uma “tradução”. Em relação a esse último aspecto, Freud
(1950[1892-1899]/1980) considera que o período referente aos
primeiros anos de vida é intraduzível e que, por isso, o despertar
de uma cena dessa fase leva à impossibilidade de tradução. Freud
􀁄􀂿􀁕􀁐􀁄􀀃 􀁔􀁘􀁈􀀏􀀃 􀁐􀁈􀁖􀁐􀁒􀀃 􀁌􀁑􀁄􀁆􀁈􀁖􀁖􀁴􀁙􀁈􀁌􀁖􀀏􀀃 􀁈􀁖􀁖􀁄􀁖􀀃 􀁈􀁛􀁓􀁈􀁕􀁌􀁲􀁑􀁆􀁌􀁄􀁖􀀃 􀁓􀁒􀁖􀁖􀁘􀁈􀁐􀀃
valor de determinação dos sintomas. Mais que isso, ele atribuiu à
impossibilidade de tradução o desencadeamento dos sintomas.
Na Carta 52, Freud (1950[1892-1899]/1980) incorpora
􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁗􀁌􀁙􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃􀁄􀀃􀁐􀁈􀁗􀁩􀁉􀁒􀁕􀁄􀀃􀁇􀁄􀀃􀁈􀁖􀁆􀁕􀁌􀁗􀁄􀀃􀁪􀀃􀁆􀁒􀁐􀁓􀁕􀁈􀁈􀁑􀁖􀁭􀁒􀀃􀁇􀁒􀀃􀁉􀁘􀁑􀁆􀁌􀁒-
namento psíquico. Com isso, traz outro estatuto para o lugar das
experiências que deixam traços. Nessa carta, a partir da idéia
do traço mnêmico, Freud discute o processo de transcrição das
inscrições deixadas no psiquismo pelas experiências infantis,
􀁈􀁐􀀃􀁄􀁏􀁘􀁖􀁭􀁒􀀃􀁑􀁭􀁒􀀃􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁌􀂿􀁆􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃􀁄􀁒􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁉􀁒􀁌􀀃􀁙􀁌􀁙􀁌􀁇􀁒􀀏􀀃􀁐􀁄􀁖􀀃􀁪􀁖􀀃marcas
deixadas pelas experiências de prazer e desprazer que a criança
vivenciou. Percebemos, portanto, que já nesse momento das
elaborações teóricas de Freud, aparece a compreensão do infantil
em seu caráter de traço mnêmico recalcado e com valor
de determinação. Assim, se Freud, nesse momento, já considera
que o material psíquico é continuamente traduzido, podemos
pensar que o infantil já não pode ser considerado como uma
transposição literal das experiências vividas.
Mas, se por um lado, percebemos que Freud (1950[1892-
1899]/1980) já elabora algo que o faz pensar nos primeiros
anos de vida como uma transcrição lacunar da infância vivida,
por outro, percebemos que ele parece manter a idéia de um
acontecimento real que originou o recalque e que se encontra
na etiologia das neuroses. Essa oscilação é vista, por exemplo,
quando percebemos que, ao mesmo tempo em que sustenta a
hipótese de que a histeria é originada por uma sedução vivida
na infância e onde um adulto perverso foi seu agente, Freud
questiona a existência material dessa sedução.
É o que ocorre na Carta 69, que data de 21 de setembro de
1897, quando Freud (1950[1892-1899]/1980) expressa, de modo
claro, o embate teórico (isto é, metapsicológico) que se instalará
entre a fantasia e a experiência na etiologia das neuroses. Nessa
carta, ele escreve a célebre frase “não acredito mais na minha
neurótica” (Freud, 1950[1892-1899]/1980, p. 350), revelando
o seu descrédito na realidade material das cenas de sedução
infantil. No entanto, não consideramos que Freud tenha abandonado
totalmente essa idéia. Consideramos sim, que ele opera
􀁘􀁐􀀃 􀁕􀁈􀁓􀁒􀁖􀁌􀁆􀁌􀁒􀁑􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁒􀀃 􀁈􀀃 􀁑􀁭􀁒􀀃 􀁈􀁛􀁄􀁗􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃 􀁘􀁐􀁄􀀃 􀁕􀁈􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁯􀁭􀁒􀀃 􀁈􀁐􀀃
relação ao lugar da experiência vivida na constituição do trauma.
A virada que realiza, nesse momento, consiste na introdução da
fantasia na constituição das cenas rememoradas, que irá imprimir
às lembranças da infância a marca da singularidade de cada
analisando. Assim, a partir desse momento em que a realidade
material da experiência passa a ser questionada em seu valor
determinante da neurose, podemos pensar que o infantil, como
uma reconstrução em análise, foi descolado da realidade vivida
para a realidade psíquica, atravessada pela fantasia e marcada
pelo recalque.
Assim, consideramos que não há, em Freud, um abandono
nem mesmo da intenção de encontrar na reconstrução da experiência
traumática da infância um vínculo com a realidade material.
Os termos de Freud parecem, muito mais, mostrar a passagem da
compreensão da sedução em seu caráter simplesmente perverso
(patológico) para uma compreensão de sua função constitutiva
da subjetividade. Fatos e fantasias irão mesclar-se na construção
das recordações e no engendramento do esquecimento, possibilitando
a elaboração freudiana de que não há fato possível de
ser reproduzido em sua integridade e não há fantasia que não
possua uma conexão com a realidade.
No texto “Lembranças encobridoras”, Freud (1899/1980) já
se mostra muito mais preocupado com aquilo que a recordação
encobre do que propriamente com o material recapturado na
memória. Nesse trabalho, ele chama a atenção para o lugar da
fantasia, da ação do recalque que fragmenta as recordações das
experiências e para a inscrição indelével do infantil no psiquismo.
Assim, será a compreensão de uma lembrança fragmentada e
lacunar que ocupará Freud nesse artigo. A compreensão assim
formulada é fundamental para o trabalho de análise onde se
􀁕􀁈􀁄􀂿􀁕􀁐􀁄􀀃􀁄􀀃􀁌􀁐􀁓􀁒􀁖􀁖􀁌􀁅􀁌􀁏􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃􀁇􀁒􀀃􀁕􀁈􀁖􀁊􀁄􀁗􀁈􀀃􀁇􀁄􀀃􀁌􀁑􀁉􀁫􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃􀁈􀁐􀀃􀁖􀁘􀁄􀀃􀁉􀁒􀁕􀁐􀁄􀀃
original. Freud (1899/1980) se pergunta: podemos “questionar se
temos mesmo alguma lembrança da nossa infância: lembranças
relativas a nossa infância podem ser tudo o que possuímos” (p.
354).
Concluímos, portanto, que, no período que antecede a publicação
de “A interpretação dos sonhos” (1900/1980) e de “Os
três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905/1980), Freud já
havia lançado os pressupostos teóricos que sustentam o conceito
do infantil. Mais que isso, nesse período, de 1892 a 1899, Freud
já associou, o infantil à sexualidade, à pulsão, ao recalque, à
O infantil na obra de Freud
68
fantasia e ao determinismo psíquico das inscrições indeléveis
que seriam a base e o fundamento do psiquismo.
A interpretação dos sonhos ou sobre um modelo para
pensar o infantil na psicanálise
A infância que aparecerá em “A interpretação dos sonhos”
(Freud, 1900/1980) não estará mais circunscrita ao resgate dos
acontecimentos dos primeiros anos. Nessa obra, a infância
aparecerá como lembrança e fantasia e terá consolidado seu
lugar como fundante e constituinte do psiquismo. Aqui, Freud
procede a uma elaboração metapsicológica da noção do infantil
como algo diverso da compreensão da infância em seu caráter
puramente experiencial. Foi essa compreensão que possibilitou
Freud descolar-se da realidade vivida para a realidade psíquica,
da infância para o infantil de seus pacientes.
As elaborações de Freud (1900/1980) em “A interpretação
dos sonhos” são fundamentais para compreendermos como o
􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁆􀁒􀁐􀁓􀁄􀁕􀁈􀁆􀁈􀀃􀁑􀁒􀀃􀁗􀁕􀁄􀁅􀁄􀁏􀁋􀁒􀀃􀁇􀁈􀀃􀁄􀁑􀁩􀁏􀁌􀁖􀁈􀀑􀀃􀀲􀀃􀁖􀁒􀁑􀁋􀁒􀀃􀁆􀁒􀁑􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀀐􀁖􀁈􀀃
como o modo, por excelência, do retorno do infantil recapitulando
aspectos das experiências recalcadas que não seriam
acessíveis de outra forma. Considerando que Freud (1900/1980)
tomará o modelo do trabalho de interpretação dos sonhos como
o próprio modelo do trabalho de análise, é exatamente o infantil,
através da associação livre, que ocupará o centro do trabalho de
psicanálise.
O material recalcado surge na fala dos pacientes repleto
de deformações e transmutações que possibilitaram com que
fossem articulados ao repertório consciente do analisando. É
segundo esse mesmo parâmetro que o infantil será reconstituído.
Ou seja, não na literalidade das experiências que estiveram
em sua origem, mas segundo as regras que possibilitaram sua
emergência.
Em “A interpretação dos sonhos”, o que é valorizado por
Freud é o caráter revelador dos fragmentos dos sonhos. Também
fragmentado será aquilo que o analisando reconstrói dos
primeiros anos. Nesse sentido, os fragmentos mnêmicos aparecem
como reveladores daquilo que está no cerne do infantil. A
reconstrução do infantil em análise não tem mais o intuito de
obturar as lacunas, mas tornam-se, elas próprias, reveladoras
do sujeito.
Além disso, a reconstrução tem um caráter regressivo.
Assim como no sonho, podemos entender que a reconstrução
do infantil nos remete a algo “que é mais antigo no tempo e
􀁐􀁄􀁌􀁖􀀃􀁓􀁕􀁌􀁐􀁌􀁗􀁌􀁙􀁒􀀃􀁑􀁄􀀃􀁉􀁒􀁕􀁐􀁄􀀃􀁈􀀃􀁑􀁄􀀃􀁗􀁒􀁓􀁒􀁊􀁕􀁄􀂿􀁄􀀃􀁓􀁖􀁴􀁔􀁘􀁌􀁆􀁄􀀏􀀃􀁒􀁘􀀃􀁖􀁈􀁍􀁄􀀏􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃
está mais perto da extremidade perceptiva” (Freud, 1900/1980,
p. 584). Assim, o infantil, além de seu caráter determinante na
constituição psíquica, é, também, o mais antigo, o mais precoce.
Tanto no sentido daquilo que é mais remoto, quanto no sentido
daquilo que está em conexão com modos arcaicos do funcionamento
psíquico.
O conjunto de conceitos, idéias e noções que aparece em
“A interpretação dos sonhos” ganhará nova versão a partir da
publicação de “Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade”2,
quando Freud (1905/1980) retoma suas conclusões à luz da
sexualidade infantil.
O infantil na obra de Freud a partir da constituição
da teoria da sexualidade infantil
Em Os três ensaios, Freud (1905/1980) fala do esquecimento
do infantil localizando a pré-história do sujeito nos primeiros
anos da infância. Tratando da amnésia do infantil3 em Os três ensaios
􀀏􀀃􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀃􀁕􀁈􀁄􀂿􀁕􀁐􀁄􀀃􀁒􀀃􀁓􀁄􀁕􀁄􀁇􀁒􀁛􀁒􀀝􀀃􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁕􀁈􀁐􀁈􀁗􀁈􀀃􀁄􀀃􀁘􀁐􀀃􀁓􀁈􀁕􀁴􀁒􀁇􀁒􀀃
que é, ao mesmo tempo, esquecido e determinante. No processo
de constituição psíquica, é o momento de maior capacidade de
receber e reproduzir impressões. São impressões esquecidas que
deixam os mais profundos traços em nossas mentes, e que são
tomados eles mesmos como traumáticos e constituintes, com
efeito determinante. Nesse sentido, o “traumático” se interioriza:
não seriam mais as experiências como tais, mas os seus traços
o que adquire estatuto traumático. Inscrições e traços esquecidos,
mas não apagados. Freud enfatiza que não se pode falar de
apagamento ou abolição, mas de recalque.
􀀱􀁈􀁖􀁖􀁄􀀃􀁒􀁅􀁕􀁄􀀏􀀃􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁌􀁑􀁖􀁆􀁕􀁈􀁙􀁈􀀐􀁖􀁈􀀃􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁗􀁌􀁙􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃􀁈􀁐􀀃􀁄􀁖􀁖􀁒-
ciação ao desenvolvimento pulsional. No percurso freudiano da
constituição do infantil, podemos situar Os Três Ensaios (Freud,
1905/1980) como o momento em que a fantasia em relação à
sedução encontra o seu suporte nas vicissitudes da pulsão e onde
o infantil aparece associado à sexualidade perverso-polimorfa e
às fases do desenvolvimento pulsional.
Na elaboração de sua hipótese sobre o desenvolvimento
pulsional, Freud (1905/1980) aponta para a marca da sobreposição
que se constituirá como característica do processo de
subjetivação, em que os modos mais arcaicos do desenvolvimento
permanecem presentes, também, na sexualidade do adulto.
Assim, o adulto portará para sempre o infantil que o constituiu.
As pulsões parciais serão submetidas à ação do recalque e do
processo secundário, mas nunca abandonarão seus intentos de
retorno ao prazer primordial, agora elaborado teoricamente como
fantasia de desejo.
Os pressupostos lançados por Freud em Os três ensaios serão
permanentemente recuperados em seus trabalhos posteriores. No
trabalho “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos”4,
Freud (1909/1980) vai à procura do infantil na observação de
crianças e na análise de um menino de cinco anos. No entanto,
ele logo percebe que não é a infância em si que ali se apresenta,
mas um mundo de desejos, fantasias, lembranças e recordações
que, mesmo em uma criança, se davam a posteriori.
Após a publicação de O caso Hans, Freud volta a discutir a
natureza das recordações referentes aos primeiros anos de vida
em trabalhos como “Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua
infância” (Freud, 1910/1980) e em “Uma recordação de infância
de Dichtung und Wahrheit” (Freud, 1917/1980), quando realiza
a análise de uma recordação de infância de Goethe. Nesses trabalhos,
Freud conclui que as recordações que aparecem nesses
casos referem-se, muito provavelmente, a uma fantasia que,
por sua vez, originou-se em algo de um passado muito remoto
e irrememorável. Assim, o que Freud sublinha nesses escritos
é o caráter inacessível, porém determinante, das mais remotas
experiências da vida, bem como, o atravessamento da fantasia
em sua reconstrução posterior.
Será na “História de uma neurose infantil”5 que Freud
D.M.L.Zavaroni et al.
69
􀀋􀀔􀀜􀀔􀀛􀀾􀀔􀀜􀀔􀀗􀁀􀀒􀀔􀀜􀀛􀀓􀀌􀀃􀁖􀁈􀀃􀁇􀁈􀁅􀁕􀁘􀁯􀁄􀁕􀁩􀀃􀁆􀁒􀁐􀀃􀁄􀂿􀁑􀁆􀁒􀀃􀁖􀁒􀁅􀁕􀁈􀀃􀁄􀀃􀁇􀁌􀁖􀁆􀁘􀁖􀁖􀁭􀁒􀀃􀁇􀁈􀀃
aspectos fundamentais da reconstrução do infantil em análise. O
caso do homem dos lobos insere-se na história da psicanálise a
serviço de uma discussão sobre o lugar determinante das experiências
infantis na subjetividade do adulto. Nesse caso, Freud
percorre terrenos polêmicos. Porém, mesmo quando busca refú-
􀁊􀁌􀁒􀀃􀁑􀁄􀀃􀁇􀁈􀁗􀁈􀁕􀁐􀁌􀁑􀁄􀁯􀁭􀁒􀀃􀂿􀁏􀁒􀁊􀁈􀁑􀁰􀁗􀁌􀁆􀁄􀀏􀀃􀁑􀁭􀁒􀀃􀁇􀁈􀁌􀁛􀁄􀀃􀁇􀁈􀀃􀁄􀁗􀁕􀁌􀁅􀁘􀁌􀁕􀀃􀁓􀁕􀁌􀁒􀁕􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃
à ontogênese na constituição dos sintomas e da subjetividade de
􀁖􀁈􀁘􀀃􀁓􀁄􀁆􀁌􀁈􀁑􀁗􀁈􀀑􀀃􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀏􀀃􀁑􀁄􀀃􀁙􀁈􀁕􀁇􀁄􀁇􀁈􀀏􀀃􀁄􀁓􀁒􀁑􀁗􀁄􀀃􀁄􀀃􀂿􀁏􀁒􀁊􀁲􀁑􀁈􀁖􀁈􀀏􀀃􀁐􀁄􀁖􀀃􀁄􀁇􀁙􀁒􀁊􀁄􀀃
em favor do determinismo do infantil na constituição psíquica.
Nessa obra, o infantil é entendido como sendo o que se
reconstrói em análise das cenas e das fantasias da infância do
paciente. Ao analisar uma neurose infantil “quinze anos depois
de haver terminado” (Freud, 1918[1914]/1980, p. 20), Freud
aponta o caráter atemporal do infantil. Desse modo, sublinha
um infantil que não se “desfaz” no adulto, mas que permanece
determinando aquilo que o mesmo reconstrói no trabalho de
análise. É o infantil em seu caráter singular e próprio ao percurso
de cada analisando.
Em muitos momentos da leitura de O caso do homem dos
lobos, Freud nos passa a impressão de que busca um enlace entre
a fantasia e a experiência e, de algum modo, permanece em
uma alternância, ou talvez numa busca de conciliação, entre a
reconstrução histórica e a reconstrução fantasiada. Assim, se, por
􀁘􀁐􀀃􀁏􀁄􀁇􀁒􀀏􀀃􀁈􀁑􀁗􀁈􀁑􀁇􀁈􀀃􀁄􀁖􀀃􀁉􀁄􀁑􀁗􀁄􀁖􀁌􀁄􀁖􀀃􀁆􀁒􀁐􀁒􀀃􀁄􀁖􀀃􀁏􀁈􀁑􀁇􀁄􀁖􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀂳􀁆􀁄􀁐􀁘􀃀􀁄􀁐􀂴􀀃
um passado recalcado, por outro, aponta que a “sedução pela
irmã (em O caso do homem dos lobos) não foi certamente uma
fantasia” (Freud, 1918[1914]/1980, p. 35).
Em um dos poucos acréscimos que faz posteriormente ao
relato do presente caso, Freud manterá o amálgama da experiência
e da fantasia na reconstrução da cena primária de O homem
dos lobos: “Certamente não há mais necessidade de duvidar
que estamos lidando apenas com uma fantasia, que nasceu
talvez da observação de relações sexuais de animais” (Freud,
1918[1914]/1980, p. 79). Assim, em O caso do homem dos lobos,
a experiência como acontecimento da infância permanece na
teoria freudiana através da manutenção da cena com os animais
na constituição da fantasia da cena da relação sexual dos pais.
Nessa direção, podemos pensar que em O caso do homem
dos lobos, o infantil equivale àquilo que é traumático e que
permaneceu inconsciente gerando sintomas, sonhos, etc. Mais
que isso, Freud atribuirá tal importância ao fator infantil6 que,
􀁄􀂿􀁕􀁐􀁄􀁕􀁩􀀃􀁈􀁏􀁈􀀏􀀃􀁓􀁒􀁕􀀃􀁖􀁌􀀃􀁖􀁹􀀏􀀃􀁰􀀃􀁖􀁘􀂿􀁆􀁌􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃􀁓􀁄􀁕􀁄􀀃􀁓􀁕􀁒􀁇􀁘􀁝􀁌􀁕􀀃􀁘􀁐􀁄􀀃􀁑􀁈􀁘􀁕􀁒􀁖􀁈􀀑
O tema do infantil permanece na obra freudiana até seus
􀁈􀁖􀁆􀁕􀁌􀁗􀁒􀁖􀀃􀂿􀁑􀁄􀁌􀁖􀀑􀀃􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀃􀁐􀁄􀁑􀁗􀁈􀁕􀁩􀀃􀁒􀀃􀁆􀁒􀁑􀁖􀁗􀁄􀁑􀁗􀁈􀀃􀁇􀁈􀁅􀁄􀁗􀁈􀀃􀁈􀁐􀀃􀁗􀁒􀁕􀁑􀁒􀀃􀁇􀁄􀁖􀀃
questões com as quais nos ocupamos neste artigo. No entanto,
pensamos que nos escritos iniciais o infantil já está estabelecido
e delimitado. Mais que isso, a conexão desse conceito com a proposta
freudiana para compreensão da constituição psíquica está
plenamente estabelecida. À guisa de conclusão, apresentamos
a questão em torno da consideração do infantil como conceito
psicanalítico.
􀀲􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁆􀁒􀁐􀁒􀀃􀁘􀁐􀀃􀁆􀁒􀁑􀁆􀁈􀁌􀁗􀁒􀀏􀀃􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁗􀁌􀁙􀁄􀁐􀁈􀁑􀁗􀁈􀀃
Alguns dicionários (Chemama & Vandermersch, 1995;
Hanns, 1996; Kaufmann, 1996; Laplanche & Pontalis, 1988) que
exploram o conjunto de conceitos desenvolvidos na psicanálise,
􀁑􀁭􀁒􀀃􀁗􀁕􀁄􀁝􀁈􀁐􀀃􀁄􀀃􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁯􀁭􀁒􀀃􀁇􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀑􀀃􀀲􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁄􀁓􀁄􀁕􀁈􀁆􀁈􀀃􀁄􀁓􀁈􀁑􀁄􀁖􀀃􀁄􀁇􀁍􀁈-
tivando alguns verbetes como, por exemplo, amnésia infantil.
􀀤􀀃 􀁄􀁘􀁖􀁲􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃 􀁇􀁄􀀃 􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁯􀁭􀁒􀀃 􀁇􀁒􀀃 􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃 􀁑􀁒􀁖􀀃 􀁇􀁌􀁆􀁌􀁒􀁑􀁩􀁕􀁌􀁒􀁖􀀃 􀁇􀁈􀀃
psicanálise acima citados levanta algumas questões e assinala
algumas peculiaridades referentes ao infantil na psicanálise.
􀀳􀁒􀁕􀀃􀁘􀁐􀀃􀁏􀁄􀁇􀁒􀀏􀀃􀁈􀁖􀁖􀁄􀀃􀁄􀁘􀁖􀁲􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃􀁍􀁘􀁖􀁗􀁌􀂿􀁆􀁄􀀐􀁖􀁈􀀃􀁓􀁈􀁏􀁒􀀃􀁉􀁄􀁗􀁒􀀃􀁇􀁈􀀃􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀃􀁑􀁭􀁒􀀃
ter explicitamente constituído o infantil como um conceito, a
despeito de sua relevância no arcabouço teórico da psicanálise.
Mas, por outro lado, a relevância desse conceito em Freud é
denunciada pela relação que o infantil estabelece com conceitos
que se estendem por todo corpo teórico da psicanálise. Ao longo
de sua obra ele foi construindo e reiterando a cada caso o conceito
do infantil. Além disso, o infantil ocupa um lugar central
na metapsicologia e no trabalho de análise. O infantil articula
conceitos como recalque, pulsão, inconsciente, dentre outros. A
sua compreensão é determinante para o modo como podemos
tomá-lo. Se Freud falava da infância, mas atribuía à mesma um
sentido diverso daquele até então conhecido, é preciso que essa
􀁈􀁖􀁓􀁈􀁆􀁌􀂿􀁆􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃􀁆􀁒􀁑􀁆􀁈􀁌􀁗􀁘􀁄􀁏􀀃􀂿􀁔􀁘􀁈􀀃􀁇􀁈􀁐􀁄􀁕􀁆􀁄􀁇􀁄􀀃􀁑􀁄􀀃􀁓􀁖􀁌􀁆􀁄􀁑􀁩􀁏􀁌􀁖􀁈􀀑􀀃
Como um conceito que se constitui no cerne do trabalho de
análise, a teorização do infantil comparece na metapsicologia
como um recurso que possibilita uma posição do analista em
relação àquilo que ouve de seu paciente. Em suas diferentes
facetas, o infantil refere-se àquilo que, sob a ação do recalque,
origina e determina o psiquismo humano. Referido a um tempo
originário, o infantil inscreve-se no psiquismo humano como
uma construção atravessada pela fantasia. No trabalho de
psicanálise, o infantil comparece em um constante movimento
de retorno e atualização daquilo que, no percurso do desenvolvimento
pulsional, pode ser construído, somente a posteriori,
como sendo a infância de cada analisando.
Na proximidade e, ao mesmo tempo, na descontinuidade en-
􀁗􀁕􀁈􀀃􀁄􀁖􀀃􀁇􀁈􀂿􀁑􀁌􀁯􀁽􀁈􀁖􀀃􀁇􀁄􀀃􀁌􀁑􀁉􀁫􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃􀁈􀀃􀁇􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁆􀁒􀁑􀁖􀁗􀁌􀁗􀁘􀁌􀀐􀁖􀁈􀀃􀁈􀀃􀁆􀁒􀁑􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀀐
se uma mescla. Ou seja, esses conceitos formam uma trama em
􀁔􀁘􀁈􀀃􀁒􀁖􀀃􀂳􀂿􀁒􀁖􀂴􀀃􀁇􀁈􀀃􀁆􀁄􀁇􀁄􀀃􀁘􀁐􀀃􀁇􀁈􀁏􀁈􀁖􀀃􀁓􀁈􀁕􀁐􀁄􀁑􀁈􀁆􀁈􀁐􀀃􀁈􀁐􀀃􀁖􀁘􀁄􀁖􀀃􀁓􀁕􀁹􀁓􀁕􀁌􀁄􀁖􀀃
􀁆􀁒􀁕􀁈􀁖􀀏􀀃􀁆􀁒􀁑􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀁑􀁇􀁒􀀏􀀃􀁄􀁒􀀃􀂿􀁑􀁄􀁏􀀏􀀃􀁘􀁐􀀃􀁗􀁈􀁆􀁌􀁇􀁒􀀃􀁓􀁕􀁹􀁓􀁕􀁌􀁒􀀃􀁄􀀃􀁆􀁄􀁇􀁄􀀃􀁖􀁘􀁍􀁈􀁌􀁗􀁒􀀏􀀃
mas no qual algo se preserva de sua matéria-prima, porém, já
􀁗􀁕􀁄􀁑􀁖􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀁇􀁄􀀃􀁓􀁈􀁏􀁒􀀃􀁕􀁈􀁆􀁄􀁏􀁔􀁘􀁈􀀑􀀃􀀸􀁐􀁄􀀃􀁗􀁕􀁄􀁐􀁄􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁇􀁈􀁓􀁒􀁌􀁖􀀃􀁇􀁈􀀃􀁆􀁒􀁑􀁖􀁗􀁌􀁗􀁘􀁴􀁇􀁄􀀃
existirá como tal e não mais como categorias separadas.
􀀳􀁒􀁕􀀃􀂿􀁐􀀏􀀃􀁕􀁈􀁖􀁖􀁄􀁏􀁗􀁄􀁐􀁒􀁖􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁄􀀃􀁌􀁑􀁉􀁫􀁑􀁆􀁌􀁄􀀃􀁈􀀃􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁑􀁭􀁒􀀃􀁈􀁖􀁗􀁄-
belecem uma relação de complementação, em que o infantil
comparece como “a parte inconsciente” daquilo que permanece
consciente sobre a infância que se viveu um dia. Tanto a infância
􀁙􀁌􀁙􀁌􀁇􀁄􀀃􀁆􀁒􀁐􀁒􀀃􀁒􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃􀁈􀁖􀁗􀁭􀁒􀀃􀁗􀁕􀁄􀁑􀁖􀂿􀁊􀁘􀁕􀁄􀁇􀁒􀁖􀀃􀁓􀁈􀁏􀁒􀀃􀁕􀁈􀁆􀁄􀁏􀁔􀁘􀁈􀀃􀁔􀁘􀁈􀀃􀁒􀁖􀀃
fragmentou. Desse modo, ambos encontram-se atravessados pela
􀁌􀁐􀁓􀁒􀁖􀁖􀁌􀁅􀁌􀁏􀁌􀁇􀁄􀁇􀁈􀀃􀁇􀁈􀀃􀁘􀁐􀀃􀁕􀁈􀁖􀁊􀁄􀁗􀁈􀀃􀁏􀁌􀁗􀁈􀁕􀁄􀁏􀀃􀁈􀀃􀂿􀁑􀁌􀁗􀁒􀀑􀀃􀀱􀁭􀁒􀀃􀁋􀁩􀀃􀁘􀁐􀀃􀁌􀁑􀁉􀁄􀁑􀁗􀁌􀁏􀀃
a ser esgotado em seu resgate, nem uma imagem ou construção
sobre a criança a ser “completada” no trabalho de análise.
É importante lembrarmos que a constituição dessa noção
de infantil em Freud, que sugerimos ser elevada ao status de
conceito (já em Freud), acontece a partir da escuta de pacientes
em análise. É no contexto dessa escuta que Freud vai, progressivamente,
conferindo um lugar determinante à infância e
constituindo os contornos do infantil. Desse modo, é somente
em referência ao trabalho de análise que o conceito do infantil
torna-se pertinente. Pensar o infantil fora do contexto da metapsicologia
ou do trabalho da psicanálise torna-o um conceito estéril
O infantil na obra de Freud
70
e volátil, pois é apenas nos meandros da relação transferencial
que o infantil poderá ser parcialmente alcançado e teoricamente
constituído.
Referências
Chemama, R., & Vandermersch, B., (Orgs.). (1995). Dictionnaire de la psychanalyse.
Paris: Larrousse.
Freud, S. (1980). Lembranças encobridoras. In Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme Salomão, trad.). (Vol. 3,
pp. 333-358). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado em 1899).
Freud, S. (1980). A interpretação dos sonhos. In Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme Salomão, trad.). (vols. 4,
5). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado em 1900).
Freud, S. (1980). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme Salomão,
trad.). (Vol. 7, pp. 121-252). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado
em 1905).
Freud, S. (1980). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme
Salomão, trad.). (Vol. 10, pp. 11-154). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original
publicado em 1909).
Freud, S. (1980). Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. In Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme
Salomão, trad.). (Vol.11, pp. 59-126). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original
publicado em 1910).
Freud, S. (1980). Uma recordação de infância de Dichtung und Wahrheit. In
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud
(Jayme Salomão, trad.). (Vol 17, pp. 185-200). Rio de Janeiro: Imago. (Texto
original publicado em 1917).
Freud, S. (1980). História de uma neurose infantil. In Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme Salomão, trad.).
(Vol. 17, pp. 19-151). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado em
1918[1914]).
Freud, S. (1980). Notas sobre o Bloco Mágico. In Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas completas de S. Freud. (Jayme Salomão, trad.).
(Vol. 19, p. 285-294). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado
em 1925 [1924]).
Freud, S. (1980). Extratos dos documentos dirigidos a Fliess. In Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme Salomão,
trad.). (Vol. 1, pp. 243-380). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado
em 1950[1892-1899]).
􀀩􀁕􀁈􀁘􀁇􀀏􀀃 􀀶􀀑􀀃 􀀋􀀔􀀜􀀛􀀓􀀌􀀑􀀃 􀀳􀁕􀁒􀁍􀁈􀁗􀁒􀀃 􀁓􀁄􀁕􀁄􀀃 􀁘􀁐􀁄􀀃 􀁓􀁖􀁌􀁆􀁒􀁏􀁒􀁊􀁌􀁄􀀃 􀁆􀁌􀁈􀁑􀁗􀁴􀂿􀁆􀁄􀀑􀀃 􀀬􀁑􀀃 Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud. (Jayme Salomão,
trad.). (Vol. 1, p. 381-520). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado
em 1950[1895]).
Hanns, L. A. (1996). Dicionário comentado do alemão de Freud. Rio de Janeiro:
Imago.
Kaufmann, P. (Org.). (1996). Dicionário Enciclopédico de Psicanálise. (Vera
Ribeiro e Maria Luiza Borges, trads). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (1988). Vocabulário de Psicanálise (10a ed.).
(Pedro Tramen, trad.). São Paulo: Martins Fontes.
Le Guen, C. (1991). A dialética freudiana 1: prática do método psicanalítico.
(Regina Steffen, trad.). São Paulo: Escuta.
Notas
1 A partir de agora apenas Projeto.
2 A partir de agora apenas Os três ensaios.
3 Em Os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade Infantil, Freud (1905/1980) refere-se à amnésia infantil e não à
amnésia do infantil. Aqui, usamos a segunda expressão com o intuito de ressaltar que é uma amnésia que diz respeito
àquilo que constitui o infantil, conceito que tratamos no presente trabalho.
4 A partir de agora chamado “O caso Hans”.
5 A partir de agora chamado “O caso do homem dos lobos”.
6 Em vários momentos de O caso do homem dos lobos Freud faz referência ao “fator infantil”. Talvez seja o momento
em que ele mais se aproxima da formulação do infantil como um conceito.
Dione de Medeiros Lula Zavaroni, psicóloga na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cursa
doutorado na Universidade de Brasília, em co-tutela na Università di Roma “La Sapienza”. Endereço para
correspondência: Via Lussemburgo, 10, Ciampino, Roma, Itália, CAP: 00043. Telefax: 00xx(39)06.45495774.
E-mail: dione.zavaroni@gmail.com
Terezinha de Camargo Viana, doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é professora associada
no Departamento de Psicologia Clínica, Universidade de Brasília. E-mail: tcviana@unb.br
Luiz Augusto Monnerat Celes, doutor em Psicologia Clínica, pela Pontifícia Universidade Católica – Rio
de Janeiro, é professor titular no Departamento de Psicologia Clínica, Universidade de Brasília. E-mail:
celes@unb.br
Recebido em 21.dez.05
Aceito em 03.jun.06
D.M.L.Zavaroni et al.


COPYRIGHT D.H.L.ZAVARONI ET AL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas