quarta-feira, 14 de julho de 2010

1577 - HISTÓRIA DOS BIBLIOTECÁRIOS

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RSS Assine: RSS feed Biblioteca universitáriaPublicado em 09|12|2005 por ExtraLibris



BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
LEILA MERCADANTE
Professora de Biblioteconomia, bibliotecária-chefe da Unesp, Marília / SP.
Revista Palavra-chave, São Paulo, n.1, p.13-14, 1982.
A biblioteca universitária brasileira tem merecido, nos últimos anos, especial atenção de estudiosos, aqui e fora do Brasil. Enfocando aspectos importantes, discutindo suas funções, avaliando seu desempenho, propondo padrões para seu desenvolvimento, alguns trabalhos demonstram o grau de maturidade a que se chegou hoje, na análise da biblioteca universitária brasileira.
Como instituição social que é, é analisada em sua inserção no contexto sócio-econômico e cultural do país por Tarapanoff: “A biblioteca universitária é parte e resultado da sociedade na qual opera, refletindo as características gerais do país – o seu grau de desenvolvimento, sua tradição cultural e seus problemas e prioridades sócio-econômicas”.
Lima, situa em seu estudo a falha da lei 5.540/68 (Reforma Universitária) no que se refere à biblioteca universitária: “Inexplicavelmente, em documentos preparatórios ou de avaliação da chamada reforma do ensino superior brasileiro, não se faz qualquer alusão às bibliotecas e ao papel que lhes caberá representar dentro do novo conceito de universidade”.
É Carvalho quem assegura: “As atividades universitárias definidas como ensino-pesquisa-extensão demandariam bibliotecas organizadas, principalmente para atender à clientela mais exigente, criada com a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa e com sedimentação da pós-graduação”.
Enquanto para Lemos e Macedo: “Uma boa biblioteca universitária ultrapassa os limites físicos da universidade, em decorrência das atividades de extensão dessa universidade e as da própria biblioteca”; Miranda alerta: “Não temos, e é reconhecida a nossa falha, uma tradição bibliotecária no Brasil, assim como a nossa tradição universitária é bem recente”. Carvalho propõe ainda a avaliação de desempenho como um caminho: “Para que as bibliotecas se integrem ao ambiente universitário que as envolve é necessária uma avaliação de seus atuais serviços e uma posterior re-definição de seus objetivos com o intuito de dimensioná-los à luz de um planejamento coerente com os objetivos e atividades da própria instituição”.
E como vai a biblioteca universitária brasileira? Numa análise despida de pessimismo mas ao mesmo tempo isenta de idealizações exageradas, o que se pode dizer de sua performance, do cumprimento ou não de suas funções? Avaliando o seu desempenho, queixas e ilusões à parte, quais seriam as conclusões? Até que ponto poderíamos considerar como nossa a situação analisada pelo Relatório Parry, significativo para as bibliotecas britânicas, quando discorre sobre a mudança fundamental, operada na biblioteca universitária, que passou de um “método conservador e voltado para si mesmo, para uma organização voltada para fora e ajustada mais diretamente às necessidades dos leitores”?
Como tem sido encarada a biblioteca pelas autoridades universitárias e educacionais do país? Se por um lado não merecemos ainda por parte do MEC uma atenção maior, apesar de estarmos lutando há anos e de várias formas pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Universitárias, por outro lado acredito que já há maior compreensão de sua importância como adequado suporte de informação.
Silva destaca os esforços que têm sido empreendidos na última década, visando a formulação de uma política de desenvolvimento integrado das bibliotecas universitárias brasileiras. Miranda, já em 1978, propõe: “Em suma, faz-se mister, paralelamente ao Sistema proposto de universidade brasileira, criar-ser um Sistema Brasileiro de Bibliotecas Universitárias como agências de planejamento e coordenação deste intercâmbio de recursos e de experiências”. Os bibliotecários já estão convencidos da necessidade de tal medida, embora por parte das autoridades não haja ainda nenhuma definição.
Como está a posição do bibliotecário da Universidade? Em poucas instituições o diretor da biblioteca participa de órgãos de decisão e do planejamento das atividades culturais; na grande maioria das universidades ele está colocado à margem do poder decisório. Sua identidade teria que ser calcada no duplo papel que desempenha. Conforme Thompson, de um lado, executivo e administrador como chefe de um departamento técnico; de outro professoral, identificando-se com o ensino e a pesquisa. E do correto estabelecimento de sua identidade depende, de fato, o seu desempenho. Imediatamente ligado à direção da Faculdade ou Universidade, deve ter livre trânsito para expor as necessidades e defender as prioridades da biblioteca.
E as verbas? Podemos dizer que a má aplicação de recursos financeiros é tão grave quanto a falta deles. Os recursos aumentaram, mas têm sido eles gastos visando o desenvolvimento harmonioso de coleções? As verbas estão muitas vezes vinculadas às exigências de grupos de universidades, causando a duplicação indefinida das assinaturas de periódicos e reforçando áreas em detrimento de outras. Sabe-se que as agências financiadoras injetam consideráveis somas através de projetos e convênios; mas quando esses fundos não são administrados pela biblioteca, segundo Fonseca, “pelo simples fato de terem obtido tais recursos, muitos pesquisadores se julgam com o direito de multiplicar assinaturas de periódicos, desprezando os interesses da universidade”. Enquanto não de definir uma política de aquisição, o bibliotecário será simplesmente o executor de ordens recebidas sem interferir no processo de seleção.
A esse respeito, Gelfand afirma que somente os bibliotecários são suficientemente livres (em oposição ao professor) e permanentes (em oposição aos estudantes) para adquirir livros contínua e sistematicamente. O Relatório Parry enumera ouras razões, entre elas o conhecimento que só o bibliotecário tem de todos os aspectos do acervo. A avaliação de coleções, o estudo do custo das assinaturas de periódicos, a análise estatística de quanto esses títulos têm sido consultados, são processos de grande valor para que o bibliotecário possa orientar uma aquisição mais correta e consciente.
Segundo Granja, as bibliotecas universitárias brasileiras “não estão preparadas em termos de ensino e pesquisa”, para atender à demanda de informação. Em contraponto poderíamos dizer que o nosso usuário, apesar do grande número de cursos de pós-graduação instalados e das exigências da carreira universitária, não está preparado para usar os serviços de informação. Se existe um descompasso, esse é bilateral. Muitas vezes se oferece mais do que o usuário consome. Os serviços de alerta, a localização da literatura especializada através de sofisticados sistemas de informação, o fornecimento contínuo de separatas e cópias xerox somente são aproveitados plenamente pelos que já se encontram engajados em novos métodos de trabalho. O que se nota é que o usuário não está informado do que pode obter, do que a biblioteca universitária pode oferecer. Ao mesmo tempo, consideramos interessantes saber: até que ponto os periódicos assinados são citados na produção científica da universidade? Estudos correlacionando o uso das coleções poderiam ser de grande valor para definir programas de aquisição ao completar coleções, atualizá-las, substituir título etc.
E como está a relação usuário-bibliotecário na biblioteca universitária brasileira? O diálogo imprescindível para que se ajustem serviços às necessidades é uma constante? Encontramos hoje o bibliotecário trabalhando junto com o professor, atraindo o estudante, explorando com eles completamente o acervo de que dispõe, e encaminhando para as devidas soluções as necessidades encontradas? Ou ainda se esconde atrás de pilhas de serviço técnico?
Thompson comenta, citando Dougherty e Heinritz, sobre a quantidade de processos técnicos que uma biblioteca realiza, afirmando ser em torno de 70 a 90% do total de suas tarefas. Pudemos observar, recentemente, em trabalho desenvolvido em uma Universidade, que os processos técnicos eram muito bem feitos, mas que os bibliotecários, ao realizarem tais serviços, os faziam sem pensar no usuário, descuidando-se deste, para efetivarem aqueles. Evidentemente sabemos da necessidade de proceder ao tratamento técnico do material, mas sempre com a finalidade máxima do uso e recuperação da informação. Quando, numa biblioteca, as rotinas são mais valorizadas que os objetivos, o resultado é péssimo.
A melhor capacitação do bibliotecário sem dúvida viria facilitar o seu desempenho. Sendo ele próprio um pós-graduando ou graduado estaria mais apto a entender as necessidades, a aproximar as informações do leitor. Miranda esclarece a situação desse problema: “O bibliotecário de nossas universidades não teve o correspondente incentivo à capacitação permanente. Ao contrário, os mais jovens e os mais ambiciosos optaram pelo ensino (para usufruir dos privilégios) ou foram atraídos por melhores oportunidades e melhores salários nas bibliotecas especializadas e nos sistemas nacionais de informação”.
Vivemos hoje a crise de Universidade, em que ela mesma tenta se posicionar dentro da sociedade, como força capaz de gerar soluções para os problemas que afetam essa sociedade, contribuindo para o progresso e desenvolvimento através da pesquisa e da educação de uma população pouco instruída. Para a consecução de tais objetivos, um instrumento dos mais eficazes é constituído pela biblioteca universitária, conforme esclarece Aguiar ao definir o planejamento do IBICT em relação às bibliotecas universitárias: “De um modo geral, as bibliotecas universitárias detêm os mais relevantes acervos bibliográficos do país nas áreas de ciência e tecnologia”. Infelizmente poucos têm trabalhado no sentido do tornar acessível a toda a comunidade científica do país a informação em ciência e tecnologia da qual são depositárias. E, no entanto, a biblioteca universitária pode e deve compartilhar da responsabilidade da prestação de serviços de informação para o desenvolvimento. Impõe-se que ela proceda à maximização do uso dos recursos bibliográficos de que dispõe, através da exploração adequada, e para o maior número de usuários. Só assim, abrindo os seus acervos, ela deixará de ser elitista, e seguirá o caminho apontado por Zaher:
“Dentro desse contexto de uma universidade renovada, dinâmica e atual, as bibliotecas universitárias não podem continuar a desempenhar o papel estático e tradicional que, muitas vezes, é a característica dos países em desenvolvimento. Elas serão chamadas não só a tomar parte ativa como elemento de apoio a todo o processo intelectual e desenvolvimento do saber, mas também no processo de interação das Universidades com os campos de produção de cada país, onde a informação é o elemento básico”.
Bibliografia
AGUIAR, Afrânio carvalho. Diretrizes do IBICT e suas interferências no planejamento das bibliotecas universitárias. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 2. Anais, Brasília, 1981, p. 61.
CARVALHO, Maria Carmen Romay de. Estabelecimento de padrões para bibliotecas universitárias. Fortaleza, UFC/Brasília, ABDF, 1981.
GELFAND, M. A. Las bibliotecas universitárias de los países em vias de desarollo. Paris, UNESCO, 1968.
FONSECA, Edson Nery da. Introdução. Rev. Esc. Biblioteconomia UFMG, Belo Horizonte, 4(1):9-18, mar. 1975.
LEMOS, A. A. Briquet de & MACEDO, V. A. Amarante. Posição da biblioteca na organização operacional da universidade. Rev. Esc. Biblioteconomia UFMG, Belo Horizonte, 4(1):40-51, mar. 1975.
LIMA, Etelvina. A biblioteca no ensino superior. Brasília, CAPES/ABDF, 1978.
MIRANDA, Antonio. Biblioteca universitária no Brasil: reflexões sobre a problemática. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 1. Anais, Niterói, 1978, p. 1758-189.
SILVA, Luiz Antonio G. da. Visão panorâmica do planejamento de sistemas de bibliotecas universitárias. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 2. Anais, Brasília, 1981, p. 58.
TARAPANOFF, Kira. Planejamento de e para bibliotecas universitárias no Brasil: sua posição sócio-econônmica e estrutural. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 2. Anais, 1981, p. 9.
THOMPSON, James. An introduction to university library administration. 2ª. Ed. London, Clive Bingley, 1974. 164p.

Original: MERCADANTE, Leila. Biblioteca universitária. Palavra-chave, São Paulo, n.1, p.13-14, 1982.

Tags: biblioteca universitária, história


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