domingo, 11 de julho de 2010

1524 - HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS

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A Conturbada Historia das Bibliotecas
To: admincev@xxxxxxxxxxxxxxxxxx, cevbibli-l@xxxxxxxxxxxxxxxxxx, cevsarau-l@xxxxxxxxxxxxxxxxxx, cevhist@xxxxxxxxxxxxxxxxxx
Subject: A Conturbada Historia das Bibliotecas
From: laercio@xxxxxxxxxx
Date: Sat, 4 Oct 2003 12:56:17 +0300 (GMT-3)

psi - Laercio
--------------------------- Mensagem Original ----------------------------
Assunto: BIBNEWS: Lançamento A Conturbada História das Bibliotecas De:
Teresa Silva
Para: bib_virtual@xxxxxxxx
--------------------------------------------------------------------------
Fonte: No Mínimo, coluna Rato de Livraria
www.nominimo.com.br
Esplendor e fogo nas bibliotecas
Londres, 1940. Três sisudos cavalheiros bisbilhotam
estantes sobreviventes da biblioteca da Holland House,
no bairro de Kensington. Caminham interesadísimos numa
ruína promovida por pesado bombardeio. Ninguém sabe
quem é o autor da foto, sóbrio e quase inacreditável
emblema de amor pelos livros.
Vilna, dezembro de 1942. O gueto faz festa para
comemorar um fato assombroso: 100 mil livros haviam
circulado desde que o bibliotecário Hermann Kruk
"reocupou" a biblioteca de livros em ídiche e
hebraico, em pleno inferno da ocupação nazista. Kruk
estava em Vilna ganhando tempo. Queria voltar a
Varsóvia para resgatar a mulher das mãos dos alemães.
Jamais conseguiu.
A façanha de Kruk é contada com detalhes mas a foto de
Londres não é mencionada, o que não empana o brilho de
"A Conturbada História das Bibliotecas", de Matthew
Battles. Battles trabalha na biblioteca Houghton,
abrigo da coleção de livros raros da Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos, e em seu livro empreende
extraordinária viagem pela história da explosão
demográfica de incomensuráveis depósitos de palavras
impressas, marcada por devastadores livrocídios.
Londres e Vilna são símbolos de devoção, mas há também
patifaria e barbárie ameaçaram bibliotecas.
Quem lê tantos livros? Trezentas vidas não bastariam
para tarefa. A Biblioteca do Congresso americano, a
maior do mundo, todos os dias acrescenta 7 mil livros
aos 100 milhões que já têm armazenados em 850
quilômetros de prateleiras. Sem apego corporativo,
Battles diz logo nas primeiras páginas: "A maioria dos
livros é ruim, muito ruim. Pior ainda, eles são
normais, não conseguem manter-se acima das
contradições e das confusões de seu tempo".
Como disse Henry Thoreau, Shakespeare e Milton não
previram em companhia de quem iriam ficar nas
prateleiras que reuniam uma mixórdia de clássicos,
montanhas de livros apenas medianos, outros deliciosa
ou enfadonhamente esquisitos, alguns divertidos ou
somente maçantes.
Jorge Luis Borges, que fabulou códices, foi nomeado
diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, logo após
a queda do peronismo, quase no mesmo momento em que
perdia a visão. Escreveu: Nadie rebaje a lágrima o
reproche/Esta declaración de la maestria/De Dios, que
com magnifica ironia/Me dio a la vez los libros e la
noche
Borges passeia pelo livro de Battles. Volta à cena
quando é narrada a história do espantoso paradoxo de
Shi Huangdi, imperador da dinastia Qin que unifica a
China no século III a.C.. Shi, que mandou pintar uma
montanha de vermelho, promoveu uma das maiores queimas
de livros de que se tem registro na história.
Incinerou ripas de madeira ou de bambu costuradas por
fios de seda, pois assim eram os livros.
Mas ao mesmo tempo, Shi Huangdi planejou e tocou obra
ciclópica: a construção da Muralha da China. Com os
incêndios, queria apagar a história das dinastias que
antecederam a sua. "Talvez a muralha fosse uma
metáfora: talvez Shi Huangdi tivesse condenado aqueles
que amam o passado a um trabalho tão vasto, tão
estúpido e tão inútil quanto o próprio passado",
especula Borges.
Um século antes, o delírio de grandeza de Alexandre
concebeu a cidade de Alexandria a beira-mar no Egito.
Nela ergueu-se uma biblioteca que deveria ser a soma
de toda a sabedoria disponível no pequeno mundo
conhecido. Foi Julio César quem mandou queimá-la?
Sabe-se lá. Verdade é que ela sobreviveu ao primeiro
incêndio. Com seus 700 mil volumes, rolos e mais rolos
de pergaminhos, a biblioteca atraiu sábios como
Euclides e Arquimedes. E com o tempo foi definhando
por causas de disputas políticas e sucessivos
incêndios.
Que valor tinham os livros? Muito e nenhum. Um
estudioso do século X queixa-se de que num leilão em
Córdoba, cidade de colonização islâmica na Andaluzia,
Espanha, o vencedor de um leilão confessou que não
tinha a menor idéia do conteúdo do livro que
arrebatara. Simplesmente o volume tinha o tamanho
certo para preencher um vão na estante, vitrine para
impressionar seus sócios.
A idéia de armazenar livros em grande quantidade ganha
força na Idade Média. E não pára mais. Até chegar em
figuras como a do bibliotecário Antonio Panizzi.
Panizzi indispôs-se com o governo ducal de Modena,
cidade onde nasceu na Itália. Pertencia a sociedades
secretas que misturavam ideiais libertários e crenças
esotéricas e em 1823 foi condenado à morte por causa
disso. Já tinha, então, fugido da Itália. Chegou a
Londres sem falar inglês. A duras penas aprendeu e
começou a dar aulas de história. O submundo boêmio de
expatriados o repelia. Aceitou o favor de um amigo bem
posicionado e foi trabalhar como
bibliotecário-assistente no Museu Britânico.
Para encurtar história, contada com minudência por
Battles, Panizzi vai sendo promovido a novas funções
no Museu. Bibliotecas para ele não deveriam ser
santuários de erudição inacessíveis. Era impossível
disseminar o conhecimento que entesouravam sem que se
facilitasse a consulta. Desenvolveu então os primeiros
métodos modernos de catalogação. Enfrentou pesada
contestação da aristocracia graúda por causa da
lentidão da tarefa aparentemente insana. Demorou sete
anos para publicar o primeiro catálogo dando conta
apenas da letra A. Panizzi venceu. O número de
consultas multiplicou-se. Em 1856 virou
bibliotecário-chefe do Museu Britânico e ganhou título
de Sir. É um dos heróis de Battles.
"Onde se queimam livros acaba-se queimando pessoas",
foi a profecia de Heinrich Heine feita no século XIX e
freqüentemente invocada no século XX. Em 1914 os
alemães dizimam a biblioteca de Louvain, na Bélgica,
que possuía então 70 mil volumes e 300 manuscritos.
Os alemães tinham tomado o prefeito e mais dois
cidadãos da cidade como reféns. No dia 24 de agosto um
garoto de 15, 16 anos filho de um dos reféns estava
conversando com o comandante alemão, sacou um revólver
e lhe deu um tiro. Era a senha para um ataque de
terroristas belgas às tropas alemães. Seguiu-se feroz
tiroteio. Os belgas contam outra história. Que os
alemães por engano atiraram nos próprios alemães. Fogo
amigo. Seja como for, a fúria alemã abateu-se sobre a
biblioteca.
O que se perdeu para sempre? Milhares de livros, 350
incunábulos, bíblias raríssimas. Terminada a guerra,
os belgas foram à forra contra os alemães derrotados.
Confiscaram preciosidades de bibliotecas alemães como
recompensa.
"Vocês estão fazendo aquilo que devem quando nesta
hora já avançada da noite atiram ao fogo o espírito
maligno do passado", conclamou Goebbels aanos mais
tarde, em 1933, estimulando a sanha da militância
nazista que fazia fogueiras com pilhas de livros em
Berlim. Nos doze anos seguintes, 100 milhões de livros
foram queimados pelos alemães. Só na Ucrânia foram
roubados e destruídos 51 milhões de livros. Era
preciso banir todo o conhecimento maligno, reescrever
a história devolvendo-lhe a pureza.
Intolerância no mundo fechado do totalitarismo.
Intolerância nos desvãos asfixiantes de segregação na
democracia americana. Outro herói de Battles é o negro
Richard Wright. Bibliotecas do Sul dos Estados Unidos
não se contentavam em proibir a circulação de certos
livros mas também achavam que livros não serviam para
certo tipo de gente. Leia-se negros. Para ler ensaios
do idiossincrático jornalista H.L.Mencken, Wright
fabricou ardis, fazendo-se de tolo, para furar o
bloqueio da biblioteca de Mênfis. Foi justamente lá
que se construiu depois a primeira biblioteca posta à
disposição dos negros.
Battles termina o livro com a história do genizah do
Cairo. Genizah em hebraico quer dizer receptáculo. Na
verdade é uma lixeira provisória de livros e páginas
rasgadas de poemas litúrgicos que são postos à salvo
no genizah até serem convenientemente enterrados.
Solomon Schechter teve a curiosidade despertada para o
genizah do Cairo. Descobriu um tesouro de 100 mil
fragmentos que vão de textos bíblicos a estudos
talmúdicos de Maimônides. Genizah é uma biblioteca?
Não. Ali supostamente está o rebotalho. Mas no sentido
básico de armazenar livros e conhecimento para o
futuro é.
Até da fortuna do imprestável se faz uma biblioteca. É
Battles quem diz: "As Bibliotecas estão envolvidas
tanto na descoberta da verdade quanto em sua
destruição". Destruição que pode ser promovida pela
ignorância e cobiça de poderosos mas também pela
inépcia e a decadência de alguns destes grandes
depósitos de livros.
* "A Conturbada História das Bibliotecas", de Matthew
Battles. Tradução de João Vergílio Gallerani Cuter.
Editora Planeta; 240 páginas; R$ 42,00.
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