terça-feira, 13 de julho de 2010

1494 - HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS

ANA PAULA SOARES WORMSBECKER
HÉLIO GOMES DE CARVALHO
A BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA
DECISÕES ESTRATÉGICAS EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
Trabalho apresentado ao Seminário Nacional
de Bibliotecas Universitárias da Universidade
Federal de Pernambuco.
Autores: Hélio Gomes de Carvalho, Prof. Dr.
do Programa de Pós-Graduação em
Tecnologia do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná – CEFET/PR
Ana Paula Soares Wormsbecker, Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia
do Centro Federal de Educação Tecnológica
do Paraná – CEFET/PR
Curitiba
2002
1
RESUMO
A importância do conhecimento como recurso e aplicação gerencial é indiscutível na atual
conjuntura econômica social sendo pressuposto para a obtenção de vantagem competitiva.
Novos serviços de informação que atendam às necessidades impostas pelas exigências do
mundo contemporâneo estão sendo desenvolvidos. Neste ambiente, a Inteligência
Competitiva se destaca como uma abordagem que permite o monitoramento do ambiente
não apenas empresarial, mas também acadêmico. Este trabalho apresenta o estado-da-arte
dos modelos de Inteligência Competitiva – IC, visando a descrever, de forma breve, a
evolução das atividades referentes a esta temática, observando os processos comuns
abordados pelos diferentes modelos, enfocando principalmente as possibilidades de
utilização da IC pelo meio acadêmico com a contribuição das bibliotecas universitárias
como gestoras do processo. Descreve o perfil do profissional da informação,
considerando esse termo como associado aos profissionais de diferentes formações, mas
que trabalham no âmbito dos sistemas de informação. A metodologia utilizada será
baseada em revisão de literatura. A contribuição final será a proposta de um modelo que
contemple os melhores processos de IC com aplicação no ambiente acadêmico.
PALAVRAS - CHAVE: Inteligência Competitiva; Bibliotecas Universitárias; Profissional
da Informação; Bibliotecário.
ABSTRACT
The importance of information as a resource and managerial application
is unquestionable in the present economic and social juncture and a
principle to obtain competitive advantage. New information services
which meet the needs imposed by the demands of the contemporary world
are being developed. In this environment, the Competitive Intelligence
is highlighted as an approach that allows the monitoring, not only of
the entrepreneurial but also of the academic context.
This study presents the state-of-art of the Competitive Intelligence
models, aiming at describing briefly the evolution of the activities
regarding this topic, observing the common processes approached by the
different models. It focus mainly on the possibilities of Competitive
Intelligence usage by the academic environment, with the contribution
of university libraries as the process leaders. It approaches several
concepts related to information. It describes the profile of the
information professional, associating in this term professionals
graduated in different areas but working in the information system
management field. The methodology used will be based on literature
review. The final contribution will be the proposal of a Model which
considers the best processes of Competitive Intelligence
with application in the academic environment.
KEY WORDS: Competitive Intelligence; University Libraries; Information Professional,
Librarian
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1. Introdução
A importância do conhecimento como recurso e poder gerencial tem sido crescente,
especialmente neste atual mercado competitivo onde o sucesso nos negócios depende, em
grande parte, da capacidade de gerir conhecimento.
Novos serviços de informação, que atendam às necessidades impostas pelas
exigências do mundo contemporâneo, precisam ser desenvolvidos pois as atividades
executadas no passado e oferecidas por bibliotecas tradicionais e centros de informação
atendem apenas parcialmente esse novo mercado. Trata-se de uma evolução natural, pois
como a própria história da biblioteca, antes tida apenas como guardiã do conhecimento,
passou, gradualmente, a ser considerada como uma organização responsável por
sistematizar o acesso às informações.
No passado, sem dúvida, às bibliotecas desempenharam esse papel de forma
primorosa, conforme destaca MILANESE “a história da biblioteca é a própria história do
registro da informação” (1988, p.16). Guardar a informação e preservá -la era a principal
função das bibliotecas do passado. Séculos de produção passaram e a resposta para
armazenar a explosão da informação veio no século XX com a criação dos computadores
capazes de ordenar os registros do conhecimento.
Espera-se mais dos bibliotecários nesse novo milênio, pois a idéia de ponte entre o
usuário e a informação já não atende à nova demanda. É urgente a necessidade de
bibliotecários se unirem a outros profis sionais atingindo o objetivo da interdisciplinaridade
e contribuindo para o oferecimento de serviços de informação mais próximos da
necessidade dos clientes.
Como bem destaca VIEIRA, quando comenta sobre a união de bibliotecários com
profissionais de outras áreas do conhecimento, “...a caminho da maturidade das profissões
de informação, aprendemos uns com os outros e, como resultado, os usuários vêm
recebendo um produto informacional de mais alto valor agregado que no passado, quando
trabalhávamos isoladamente.” (1995, p. 3)
Sem sombra de dúvida, novos campos de trabalho estão sendo abertos para
bibliotecários sedentos por novos horizontes. CRONIN citado por VIEIRA, quando
comenta das reflexões e transformações da profissão, sintetiza o campo de trabalho para
profissionais da informação em três níveis:
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tradicional (heartland – trabalho na biblioteca como bibliotecário), áreas menos
exploradas (hinterland – trabalho com informação no mundo das bibliotecas virtuais,
como especialista em marketing da informação, coordenador de bases de dados,
gerente de informação etc.) e área de fronteira tecnológica (horizon : trabalho em
ambientes tecnológicos, como engenheiro de software e hardware, gerente de
telecomunicações etc.). (1995, p.4).
As bibliotecas corporativas têm realizado mudanças no sentido de não atuarem
apenas como ponte entre o usuário e a informação. Já é possível visualizar a atuação do
bibliotecário em funções que oferecem ao cliente conhecimento com valor agregado. Este
é o caminho que possivelmente será percorrido por bibliotecas universitárias também,
afinal é uma exigência do contemporâneo e uma necessidade para a profissão da
informação.
O presente artigo não pretende discutir a importância dos sistemas tradicionais de
informação que, sem dúvida, são necessários e de suma importância, mas visa a oferecer
algumas reflexões sobre o perfil do novo profissional da informação frente às novas
exigências do mercado, sob o enfoque da Inteligência Competitiva – IC, propondo que esta
ferramenta para tratamento da informação e do conhecimento seja utilizada nos ambientes
das bibliotecas universitárias.
Apresenta o estado-da-arte dos modelos de IC, enfocando a utilização desta
ferramenta pelo universo acadêmico, sugerindo a atuação das bibliotecas universitárias
como agentes/contribuintes para os processos de tomada de decisão pelas Instituições de
Ensino Superior. Conceitos acerca da temática da informação também serão abordados.
2. Inteligência Competitiva – O que é qual sua contribuição
Vivemos o momento de desenvolvimento tecnológico que pode proporcionar
infinitas possibilidades de armazenamento, acesso e disseminação de informações como
nunca antes visto na história da humanidade. A informação neste contexto, é percebida
como valor, dada a possibilidade de se transformar em conhecimento e em inovação
tecnológica.
A sociedade tem consciência de que a informação é fator de insumo para o sucesso
e principal ingrediente para a competitividade. A dificuldade encontra-se, todavia, em
como utilizar tal informação de forma prática, a ponto de obter vantagem competitiva.
Afinal, o volume de informações é cada dia maior e o quantitativo supera o qualitativo.
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Conforme FULD citado por CARVALHO, “achar dados certamente não é problema nestes
dias; achar o tipo certo de informação é que é” (2000a, p. 1).
Com o objetivo de esclarecer e tornar claro algumas terminologias do universo da
informação o presente artigo definirá, na seqüência: Dado, Informação, Conhecimento,
Inteligência, Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva.
Segundo DAVENPORT e PRUSAK “dados são um conjunto de fatos distintos e
objetivos, relativos a eventos. Ou seja, dados são registros isolados. Conforme DRUCKER
citado por DAVENPORT e PRUSAK (1998, p.2) “informações são dados dotados de
relevância e propósito, o que decerto sugere que dados, por si só, têm pouca relevância ou
propósito.” Entretanto é um erro pensar que os dados não são importantes para as
organizações, pois eles constituem a matéria prima da informação. Sem os dados a
informação não pode ser gerada.
DAVENPORT e PRUSAK (1998, p.4) apresentam a clássica definição de
informação. Segundo eles “informação são dados que fazem a diferença” ou seja,
diferente do dado, a informação para ser caracterizada como tal deve gerar para o receptor
da mensagem a possibilidade de ação a partir da emissão de tal conteúdo.
Conhecimento na concepção de NONAKA e TAKEUCHI (1997, p. 63) é a
“crença verdadeira justificada”. Eles complementam dizendo ainda que:
conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação
contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação
e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na
mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em
documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas
organizacionais. (1997, p.63)
Embora muitos autores não façam distinção entre conhecimento e inteligência notase
que a inteligência pressupõe a estruturação do conhecimento. Segundo VIEIRA,
inteligência são informações analisadas e contextualizadas para fins decisórios, ou seja,
tem como base o conhecimento organizacional. (1999, p.176)
É possível observar com estes conceitos que dado, informação, conhecimento e
inteligência estão relacionados hierarquicamente, ou seja, não se obtém informação sem o
dado e, muito menos conhecimento sem informação. A inteligência é um processo
subsequente ao conhecimento, e envolve análise e reflexão culminando com a
possibilidade de resolução de problemas.
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Figura 1: Hierarquia dos conceitos: Dado, informação, Conhecimento e
Inteligência
Para NONAKA e TAKEUCHI “existem dois tipos de conhecimento humano, o
conhecimento explícito, que pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em
afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais e o
conhecimento tácito, difícil de ser articulado na linguagem formal.” (1997, p.13). Estes
conceitos clássicos de conhecimento são fundamentais para compreender a GC que é
formada a partir de tais estruturas.
Ainda para NONAKA e TAKEUCHI:
conhecimento explícito é um conhecimento mais fácil de ser transmitido uma vez que
está armazenado em manuais, especificações técnicas, fórmulas matemáticas etc. O
conhecimento tácito trata-se de um conhecimento difícil de ser trabalhado por se tratar
de conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e envolve fatores
intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, experiências e até mesmo
perspicácia e visão de negócio. (1997, p.42)
Não é fácil trabalhar com esta realidade. A experiência marcada por anos de
atividade é de fato difícil de ser transmitida a outros. Além desta dificuldade, é comum
observar que os trabalhadores, em alguns casos, dificultam este repasse por entenderem
que outros podem tomar seu trabalho afinal, depois desta atitude de “repasse” estes
também poderão ser capazes de executar determinada tarefa, antes apenas área de
competência dos primeiros.
Quando o conhecimento é utilizado para a tomada de decisões nos negócios é
comum que os estudiosos se referiam a esta atividade utilizando o termo Inteligência
Competitiva. Conforme a FIGURA 1, partindo de conceitos básicos de dado,
informação, conhecimento, chega-se a definição de inteligência que pode ser
considerada segundo a UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA como:
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o resultado de um processo sistêmico que envolve coleta, organização e
transformação de dados em informação, passando por análise e contextualização,
cujo resultado é aplicado em processos de solução de problemas, formulação de
políticas, definição de estratégias, comportamento organizacional e tomada de
decisão, que geram vantagens competitivas para as organizações (1999, p.11)
A coleta organizada para uso é a característica principal desta atividade. A
Inteligência Competitiva contribui para o melhor uso da informação por parte das
empresas. Oferece ao cliente informação pró-ativa e conhecimento acerca do mercado
externo servindo como diferencial competitivo.
A Inteligência nasceu no ambiente militar, dentro dos departamentos de defesa,
mas foi no mundo empresarial que se tornou mais conhecida e disseminada. Nas
empresas a inteligência se transformou e passou a ser conhecida como Inteligência
Competitiva que pode ser entendida como um “processo sistemático de coleta e
análise de informações sobre a atividade dos concorrentes e tendências gerais do
ambiente econômico, social, tecnológico, científico, mercadológico e regulatório para
ajudar no cumprimento dos objetivos institucionais na empresa pública e privada”.
(UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 1999, p. 12).
Enfatiza-se que a inteligência competitiva não é espionagem, mas baseia -se na
captura, análise, síntese e utilização de informação disponível publicamente. Segundo
SHARP “95 por cento das informações utilizadas na Inteligência Competitiva são
públicas e apenas 5 por cento são, verdadeiramente, informações privadas do tipo: lista
de clientes, de preços e de propriedade intelectual...” (2000, p.38). Portanto, é a correta
utilização dos dados que proporciona vantagem competitiva.
Conforme destaca CARVALHO, “é um desafio para organizações e empresas
de qualquer porte, de qualquer indústria, de qualquer setor, fazer uso adequado da
informação, potencializa-la em conhecimento/inteligência e agregar valor aos seus
produtos e/ou processos”. (2000, p.20). O processo de inteligência não é simplório,
pois envolvem sistematização da informação coletada, análise e propostas para a
solução de problemas.
Ainda segundo PORTER, citado por PALOP e VICENTE pode-se sintetizar a
inteligência em quatro tipos:
Tecnológica – centrada nos avanços da técnica e da tecnologia e da oportunidades
e ameaças que a geram; Competitiva – implica na análise dos competidores
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atuais e potenciais e aqueles com produtos substit utivos; Comercial – dedica à
atenção a clientes e provedores e de Ambiente Empresarial – dedica à atenção a
uma série de conjuntos e aspectos sociais, legais, ambientais, culturais. (1999,
p.24)
3. Inteligência Competitiva – Para Que e Para Quem
É grande o número de instituições que se preocupam apenas com o
armazenamento da informação, sem se preocupar com sua real utilização.
Resgatando a história das bibliotecas, as instituições vivem uma situação ainda
tradicional de tratamento da informação. De modo geral, preocupam-se com o resgate
e armazenamento, assim como as bibliotecas do passado se preocupavam com a
captura e preservação. Talvez a comparação seja um pouco exagerada na visão de
muitos, entretanto, dentro das empresas é comum ver dados e mais dados armazenados
para nenhum fim de fato concreto. DAVENPORT, citado por CARVALHO “comenta
o depoimento de um executivo de uma grande empresa americana da área de
alimentos que confidenciou que a sua companhia analisava no máximo 2 por cento dos
dados coleta dos”. (2000, p.23). Os processos de inteligência competitiva propõem,
justamente, uma forma eficiente para a utilização da informação.
Para se compreender os passos da inteligência competitiva é importante
resgatar como é o processo de tratamento da informação que, basicamente, envolve
quatro etapas:
§ Alimentação – captação, classificação e codificação de informações
externas e internas à organização;
§ Memorização – estruturação em um banco de dados, normalmente feita
com o apoio de especialistas;
§ Recuperação – sistematização de forma e métodos quantitativos e
qualitativos para recuperar a informação armazenada;
§ Tratamento – análise quantitativa/qualitativa para disponibilização ao
usuário.
O processo de Inteligência Competitiva é formado, basicamente, por quatro
grandes processos:
· Captura
· Tratamento
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· Análise
· Disseminação
PALOP e VICENTE destacam as funções básicas de um processo de
vigilância: “observação (busca, captação e difusão); análise (tratamento, análise e
validação) e utilização (exploração dos resultados)” (1999, p.66). A figura 2 demonstra
esses processos:
Figura 2 – Funções Básicas da Inteligência Competitiva
FONTE: PALOP, Fernando; VICENTE, José M. Vigilância tecnológica e inteligência competitiva, 1999.
Os sistemas de informação, geralmente, conseguem trabalhar bem com os
processos de captura, tratamento e disseminação. Entretanto, a fase de análise da
informação é problemática para a maioria das unidades de informação. Nota-se, inclusive,
que a maioria trabalha apenas com as três fases mencionadas, deixando de considerar a
fase de análise que é justamente o momento de contextualização da informação. Isto
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acontece porque a fase de análise é a mais complexa, uma vez que envolve,
necessariamente, um corpo de profissionais preparados que tenham conhecimento do
assunto tratado, com poder de reflexão e decisão.
O modelo de Inteligência que CARVALHO (2000, p.166) sugere para ambientes
no âmbito da interface escola-empresa, o qual chama de Inteligência Tecnológica, propõe o
desenvolvimento das seguintes atividades:
· Conhecer a predisposição de todas as pessoas em trabalhar nesse sistema;
· Levantamento da situação, da percepção e da preparação das pessoas para atuar
no Grupo de Inteligência;
· Trabalhar a cultura organizacional, de forma a atender às expectativas das
pessoas;
· Identificação das limitações e necessidades da empresa e das Instituições de
Ensino Superior;
· Estabelecimento dos direcionamentos;
· Buscar interface com o Marketing/Comercial;
· Estabelecimento do processo de comunicação e dos canais (pessoas – contato
principal – e meio) envolvidos, principalmente devido à distância física;
· Definição do modelo de trabalho;
· Motivação dos Grupos;
· Estabelecimento de cronograma – atividade e prazos.
Além dessas considerações e com o objetivo da continuidade do programa, elege-se
como fatores complementares o estabelecimento de grupos de discussão, por temas, no
âmbito da Intranet, utilização compartilhada de periódicos entre bibliotecas de Instituições
de Ensino Superior e de Institutos; grupos internos de discussão; desenvolvimento de um
método de circulação eletrônica de informação com agregação de valor – em complemento
ao sistema tradicional - de forma a garantir uma maior formalização. Tais características
não são únicas para um sistema de Inteligência , neste caso, Tecnológica, também, mas a
partir deste sistema é possível visualizar uma possível evolução no sentido de condução
para um sistema de Inteligência Competitiva.
O modelo de Inteligência Competitiva proposto por STOLLENWERK comenta as
necessidade de as organizações integrarem seus sistemas de Inteligência Competitiva aos
processos de formulação da estratégia. (2002, p.189). Ou seja, o ambiente estratégico da
organização não deve apenas ser de conhecimento dos analistas da IC como também deve
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receber a interação constante deste grupo de profissionais. ROCKART citado por
STOLLENWERK (2001, p.192), define fatores críticos de sucesso que devem ser
considerados em ambientes de IC. São eles:
· Indústria ou ramo de negócio – alguns fatores críticos estão diretamente
associados à característica do próprio ramo;
· Estratégia e posicionamento competitivo – uma empresa pode ocupar um
determinado nicho ou exercer um papel especial no ramo de negócio. Essas
condições poderão favorecer o crescimento mais rápido da empresa em
relação a seus concorrentes, constituindo-se, portanto, em fatores críticos de
sucesso;
· Fatores-chave do ambiente externo – mudanças ambientais são cada vez
mais freqüentes e podem contemplar aspectos regulatórios, condições
político-econômicas, gostos, preferências e hábitos da sociedade, dentro
outros.
· Fatores temporais – estes fatores relacionam-se a situações de curto prazo,
geralmente crises, como aquelas causadas por acidentes, publicidade
negativa, escassez de recursos ou até perda de posição no mercado;
· Posição gerencial – alguns fatores críticos de sucesso estão relacionados a
um determinado gerente e, mais especificamente, às atribuições de seu
cargo e ao exercício de sua função.
A Inteligência Competitiva tem por propósito monitorar e oferecer informação
tratada e que faça a diferença e promova vantagem competitiva. Em geral as empresas são
as maiores beneficiadas pelos processos de inteligência competitiva. Por outro lado, entre
as pequenas e médias empresas, sistemas de inteligência competitiva são praticamente
inexistentes. Entretanto, é errado afirmar que a prática da IC seja comum no Brasil, mas já
é possível observar em pesquisas que a atenção dos dirigentes está crescendo neste sentido.
Atualmente considerações positivas, inclusive empresariais, afirma que a
informação e o conhecimento são extremamente importantes para a competitividade, mas
são poucos os que conseguem sistematizar sistemas de IC dentro das suas instituições.
Assim, a maioria está ainda distante de sistemas que privilegiem a IC. Mas é a IC uma
atividade exclusiva para ambientes empresariais? A resposta é um enfático não. A IC é
comumente aplicada em ambientes empresariais, mas pode ser também aplicada em
ambientes governamentais e acadêmicos, por exemplo. O principal objetivo da IC é
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oferecer vantagem em relação ao concorrente baseada em sistemática coleta e análise de
informações públicas. A IC não esta baseada apenas em busca de informações disponíveis
na Internet ou em outras fontes, mas o desenvolvimento de suas atividades trabalha de
forma a possibilitar ajuda a garimpar informações que façam a diferença e que gerem
resultado para o processo.
O propósito da IC é o de oferecer informações que realmente satisfaçam o cliente
(aquele que fez a encomenda do serviço) envolvendo assim, a compreensão do pedido e o
oferecimento de atividades que façam a diferença. Desta forma, os Centros de Inteligência
Competitiva podem atuar no meio acadêmico de forma a se preocuparem em estudar as
necessidades do cliente e oferecer informações com alto valor agregado. KALB comenta
que “o trabalho de um analista de IC envolve recomendações e não pacotes de informações
previamente definidos” (2000, p.43). O grande diferencial entre as bibliotecas tradicionais
e os atuais Centros de Inteligência Competitiva é justamente a função de análise e o
oferecimento de propostas que possam agregar valor ao processo. Ou seja, entender o que
o cliente quer e oferecer literatura não atinge o papel de um ambiente que promove a
inteligência competitiva. A importância do intercâmbio de conhecimentos entre
profissionais com diferentes formações, que atuam no ambiente acadêmico, deve ser
destacada como forma de solucionar problemas. Assim o profissional da informação
poderá atuar em duas situações neste ambiente. Primeiro como executor no sentido da
captura e armazenamento e, depois, como analista e disseminar oferecendo subsídios para
a tomada de decisão por parte dos dirigentes de Instituições de Ensino.
4. O Profissional da Inteligência Competitiva
Uma nova possibilidade de atuação é destinada aos bibliotecários, afinal a IC
pedem profissionais aptos a capturar, tratar e disseminar informações, habilidades
desenvolvidas durante séculos, por esses profissionais. Assim, o profissional da
informação atua como recuperador de informação em sistemas de IC ou ainda como
auditor de informação, analista de negócios, investigador de oportunidades de negócios.
Novamente, pensando em bibliotecas tradicionais, quase nada mudou em relação ao perfil
do profissional, mas pouco a pouco, se nota a incorporação de bibliotecários com novas
atribuições, muito mais interessados em oferecer informações com alto valor agregado e
não apenas dados.
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O livro Conhecimento Empresarial de Davenport e Prusak, quando comenta sobre a
profissão de Biblioteconomia/Ciência da Informação identifica uma das funções do
bibliotecário como sendo a corretagem do conhecimento. A literatura clássica chama esse
profissional de “Information Broker”. Na visão dos autores, que têm larga experiência nas
atividades de informação, esse profissional é indispensável nas corporações por ser aquele
que mais tem conhecimento sobre fontes de informação formais e informais. Em geral, é o
bibliotecário que quando recebe a solicitação sobre uma nova pesquisa pode informar
quem são os outros membros da empresa que já fizeram ou estão fazendo pesquisas
semelhantes, por exemplo. Assim, além de oferecer conhecimento explícito esse oferece,
também, conhecimento tácito.
Entretanto serão apenas estas as atribuições dos bibliotecários? Nota-se mais uma
vez que a perfil do bibliotecário está progressivamente se transformando, afinal já é
possível observar profissionais trabalhando também no âmbito da análise da informação.
Em outras palavras, quando se fala em poder de análise o antigo conceito do
bibliotecário muda, pois uma nova dimensão da informação foi englobada no processo.
Para se trabalhar com esta característica da IC são necessários profissionais que
desenvolvam um raciocínio capaz de analisar o todo, ou seja, capaz de contextualizar a
informação, entregando ao cliente soluções que possibilitem a tomada de decisão.
Obviamente o bibliotecário estará inserido, necessariamente, numa equipe
multidisciplinar com a função maior de ser capaz de agregar valor à informação. A
mudança profissional não é exclusividade da Biblioteconomia ou Ciência da Informação,
mas a necessidade de adaptação às novas realidades do mundo contemporâneo exige
mudanças de postura de todos os profissionais. Para as profissões relacionadas à
informação, parece que tais modificações são mais acentuadas devido ao impacto que
oferecem ao mundo globalizado.
ARRUDA et al destaca que “elege-se como ideal o profissional que potencialize a
comunicação, a interpretação de dados, a flexibilização, a integração funcional e a geração,
absorção e troca de conhecimento”. (2000, p.17)
ALMADA DE ASCENIO citada por ARRUDA et al comenta ainda que:
Nenhum profissional da atualidade tem condições de reunir todas as habilidades,
conhecimentos e competências necessários para interagir e equacionar os
problemas decorrentes dos fluxos de informação e conhecimento. Para resolvê13
los é necessária à formação de equipes interdisciplinares em todos os níveis e
processos: estratégicos, gerenciais e operacionais .(2000, p.19)
Portanto, a IC estará necessariamente composta por profissionais com formações
diferenciadas. O bibliotecário por ser um profissional que necessariamente trabalha à
informação, poderá estar presente nestas equipes multidisciplinares. Características como
criatividade e persistência devem estar mais do que nunca presentes nas atividades de IC,
pois como já visto, esta atividade exige dedicação constante e olhar crítico sobre as
situações a serem resolvidas. Mais uma vez pensando na história da profissão de
biblioteconomia, pode-se visualizar que o bibliotecário facilmente poderá compor esta
equipe porque está condicionado a trabalhar com profissionais de diferentes formações. A
biblioteca corporativa é um exemplo dessa situação, pois é lá que a inter-relação acontece
com maior freqüência. Entretanto, pode-se enxergar esta possibilidade de atuação também
em bibliotecas universitárias onde o profissional da informação poderá ser um gestor da
informação e do conhecimento proporcionando referências para o processo de tomada de
decisão por parte dos dirigentes de instituições de ensino superior. Afinal os números de
especialistas nos mais diferentes ramos do conhecimento são grandiosos em uma
Universidade facilitando, assim a construção e o intercâmbio de entre os vários
profissionais. Um sistema de inteligência competitiva teria lugar garantido nestes
ambientes.
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6. Conclusão
O artigo apresentou, de forma breve, a evolução dos sistemas de informação. Uma
breve revisão da literatura foi apresentada com o intuito de esclarecer os vários novos
termos discutidos na área da informação.
Abordou que os sistemas de informação conseguem, facilmente, trabalhar bem
nas etapas de captura, tratamento e disseminação da informação. O processo de análise da
informação, por outro lado, pode ser considerado problemático, pois envolve um corpo de
profissionais comprometido com o resultado, envolvendo informações contextualizadas,
com alto valor agregado. Atualmente, mais do que executar essas tarefas, o profissional da
informação precisa desenvolver habilidades de analisar, refletir e propor recomendações.
Uma proposta para estudo sobre o poder de análise dos profissionais de IC fica aqui
registrada, juntamente com a pergunta: Será possível criar uma sistemática com o intuito
de ajudar estes profissionais a aumentar o poder de análise em suas atividades?
Reflexões a respeito da temática da análise da informação foram consideradas não
com o intuito de exaurir o tema, mas muito pelo contrário, lançando apenas a necessidade
de maior observação desse aspecto do ciclo da IC.
Em ambientes acadêmicos a atuação de centros de inteligência competitiva deve
trabalhar de forma a propor soluções e não apenas oferecer literatura, ou seja dados brutos.
É necessário lapidar o produto, neste caso a informação, de forma que se possa oferecer
um produto que faça e diferença e resulte em vantagem competitiva para a Instituição.
Considerou as características que devem estar presentes nos profissionais da
informação, aqui retratados por todos aqueles que trabalham no âmbito de sistemas de
informação e não apenas os formados em biblioteconomia. Destacou-se especialmente a
questão relacionada à importância da união entre as diferentes especialidades profissionais
dentro de centros de inteligência Competitiva como fator indispensável para o sucesso das
atividades. Portanto, é correto afirmar que é possível que a Biblioteca Universitária atue de
forma a contribuir para a formulação de decisões estratégicas em instituições de ensino
superior
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Referências
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