segunda-feira, 12 de julho de 2010

1461 - HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS

Governo Federal
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Departamento de Articulação e Desenvolvimento dos Sistemas de Ensino
Universidade de Brasília – UnB
Reitor
Timothy Martin Muholland
Vice-Reitor
Edgar Nobuo Mamiya
Coordenação Pedagógica do Profuncionário
Bernardo Kipnis – FE/UnB
Dante Diniz Bessa – Cead/UNB
Francisco das Chagas Firmino do Nascimento – SEE-DF
João Antônio Cabral de Monlevade – FE/UnB
Maria Abádia da Silva – FE/UnB
Tânia Mara Piccinini Soares – MEC
Centro de Educação a Distância – Cead/UnB
Diretor – Sylvio Quezado
Coordenação Executiva – Ricardo de Sagebin
Coordenação Pedagógica – Tânia Schmitt
Unidade de Pedagogia
Gestão da Unidade Pedagógica – Ana Luisa Nepomuceno
Gestora Pedagógica – Juliana C. Jungmann
Gestão da Unidade Produção – Rossana M. F. Beraldo
Designer Educacional – Luciana Kury
Revisão – Danúzia Maria Queiroz Cruz Gama
Editoração – Raimunda Dias
Ilustração – Rodrigo Mafra
Unidade de Apoio Acadêmico e Logístico
Gestão da Unidade – Lourdinéia Martins da Silva Cardoso
Gestora Operacional – Diva Peres Gomes Portela

P644b Pimentel, Graça.
Biblioteca escolar. / Graça Pimentel, Liliane Bernardes,
Marcelo Santana. – Brasília : Universidade de
Brasília, 2007.
117 p.
ISBN: 978-85-230-0970-0
1. Bernardes, Liliane. 2. Santana, Marcelo. I. Título.
II. Profuncionário – Curso Técnico de Formação para
os Funcionários da Educação.
CDD 027.8
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Apresentação
Prezado(a) educador(a),
Temos certeza de que o Curso Técnico de Formação para os
Funcionários da Educação tem sido há muito tempo esperado
por você que atua no fazer da ecola.
O Curso de Formação é sem dúvida um passo importante para o reconhecimento
e a valorização dos profissionais que se ocupam com a
organização da escola, construindo dia-a-dia um ensino de qualidade.
Foi pensando no valor que cada um exerce nesse processo de construção
de saberes, que foi planejado este módulo para que você possa refletir sobre
seu papel no âmbito da biblioteca escolar e o quanto é educador sem muitas
vezes se perceber como tal.
Escrever sobre essa interação no ambiente da escola foi algo extremamente prazeroso
para nós, principalmente porque traz para você uma das melhores delícias
que nela existe: a biblioteca. É lá que estão guardados os melhores tesouros – os
livros. Essa é uma das portas mais importantes para o conhecimento humano.
É sobre ela que vamos conversar neste módulo.
Objetivo
Ampliar o conhecimento dos funcionários da educação a respeito da Biblioteca escolar
para que possam atuar no processo pedagógico da escola contribuindo para
a promoção e democratização da leitura.
Ementa
Biblioteca escolar. Organização de acervo bibliográfico. Dinamização da biblioteca.
Mediadores da leitura. O museu e a escola.

Mensagem dos autores
Sou educadora, formada em Pedagogia, com pós-graduação
em Administração Escolar, pela Universidade Católica
de Brasília e mestre em Ciência da Informação, pela Universidade
de Brasília.
Nasci na pequena cidade de Caputira, na Zona da Mata mineira,
região do Pico da Bandeira, quase fronteira com o
Espírito Santo. Vim para Brasília, ainda criança, acompanhando
meus pais, que procuravam novas oportunidades
de trabalho e de estudo para os filhos. Nessa época, milhares
de brasileiros erguiam, no Planalto Central, a nova
capital do país. Fomos morar na então Vila do IAPI, perto
da Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, onde se estabeleceram
os trabalhadores que construíam Brasília.
Pioneira na fundação da cidade de Ceilândia, minha relação
com a escola foi imediata, num misto de emoção, ansiedade
e prazer. Em meio a tantos barracos de madeira, lá
estava, na paisagem do cerrado, uma construção de tijolo
aparente, janelas de vidro, novinha à espera de professores
e alunos. Nosso lazer era ir à escola – onde desenvolvi
o gosto pela leitura, pelo teatro e pela poesia.
Em Ceilândia, construi minha vida acadêmica e profissional.
Atuando como orientadora educacional e administradora
escolar, participei de muitos projetos envolvendo a
escola e a comunidade, elos imprescindíveis no processo
de fortalecimento e de confiança nas relações de aprendizagem
e de cidadania.
Mais tarde, administrei a Biblioteca Pública da Ceilândia
que tornou-se uma referência importante no Distrito Federal.
Com uma equipe de colaboradores, foi possível consolidar
uma boa interação com a comunidade, no sentido de
fazer da biblioteca um centro receptor e irradiador de cultura.
A intenção foi identificar talentos nas áreas da música,
da literatura, das artes plásticas e de outras linguagens,
oferecendo-lhes oportunidades de ação criativa e, ao mesmo
tempo, ampliando as condições de desenvolvimento
da cultura na cidade.
Com o trabalho desenvolvido na Ceilândia, fui convidada e
assumi, na Secretaria de Estado de Cultura, a gerência do
Sistema de Bibliotecas Públicas do Distrito Federal, quando
tive a oportunidade de ampliar vários projetos de inclusão
social voltados para a difusão do livro e da leitura, envolvendo
segmentos diversos da área cultural.
Acredito no potencial transformador que existe dentro de
cada um de vocês que atua na escola, contribuindo para a
construção de uma educação de qualidade. Para crescer, o
Brasil precisa de sua ação, do seu compromisso. Boa leitura!
Graça Pimentel
Nasci em Patos de Minas, uma das cidades mais importantes
do Alto Paranaíba e de todo o Estado de Minas Gerais. Educadora
formada em Pedagogia pela Universidade Católica de
Brasília, estou cursando mestrado em Ciência da Informação
na Universidade de Brasília (UnB).
Professora apaixonada pela literatura e pelos livros, trabalho
há muito tempo em bibliotecas públicas e eventos culturais.
Dizem que a formação do leitor vem do berço. No meu caso,
não foi bem assim. Meus pais trabalhavam muito e não tinham
tempo para a leitura e para os livros. Meu encantamento pela
literatura foi logo nas primeiras séries escolares. Aprendi a ler
num livro muito interessante: O Barquinho Amarelo, de Ieda
Dias da Silva. Você não faz idéia do quanto viajei naquelas
páginas inesquecíveis.
Minha adolescência foi recheada de romances lidos às escondidas.
Depois, vieram os livros que, a princípio, serviam de
enfeite na estante da minha casa. E outros e mais outros no
curso superior. Após tantos, vieram meus grandes amores: as
obras de literatura infantil, que eu compartilhava com meus
alunos.
Atendendo a uma solicitação do administrador da cidade
de Ceilândia no Distrito Federal (DF) e em parceria com uma
grande educadora, implantamos uma biblioteca pública na cidade.
Depois disto, vi nascer outras bibliotecas e muitos trabalhos
bonitos feitos por pessoas simples, que abraçam com
garra seus ideais e fazem com que todos ao seu redor sejam
cidadãos melhores.
Como assessora da Diretoria de Bibliotecas/Secretaria de Cultura
do Distrito Federal, durante alguns anos coordenei atividades
na Feira do Livro de Brasília, um dos eventos culturais
mais importantes da capital do país.
Em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, a convite do Ministério
da Cultura da Espanha, fiz – em parceria com Graça Pimentel
– a apresentação de políticas públicas de incentivo ao livro e
à leitura desenvolvidas no Distrito Federal, destacando-se os
seguintes projetos e programas: Inclusão Digital para a Rede
de Bibliotecas Públicas do DF; Revitalização, Modernização,
Ampliação e Dinamização da Rede de Bibliotecas Públicas do
DF, dentre outros.
Desenvolvi, ainda, projetos importantes na área cultural, entre
os quais “O escritor no meio da gente” e a “Tenda da leitura”.
Atualmente, em meus estudos de mestrado, na UnB,
desenvolvo pesquisa sobre a leitura de imagens na literatura
infantil.
Liliane Bernardes
Olá, meu nome é Marcelo Santana Costa. Sou bibliotecário,
graduado pela Universidade de Brasília. Dos meus diferentes
momentos de negação do ócio, gostaria de citar três que julgo
especial. Primeiro, quando assessor de gabinete da Assessoria
Especial de Meio Ambiente e Educação do Governador
do Distrito Federal; segundo, quando gerente de Bibliotecas
Públicas da Secretaria de Estado Cultura e, por último, quando
participei ativamente de instituições pertencentes ao Terceiro
Setor.
Esses momentos me fizeram perceber não só a força que as
bibliotecas têm para uma comunidade, como o quanto é necessário
reformular o modelo tradicional utilizado – por meio
da adoção de novos métodos que propiciem a elas se tornarem
centros culturais, que favoreçam de forma efetiva a
participação da comunidade no processo de construção da
cidadania.
Mas o que há de comum entre bibliotecas e escolas? Podese
afirmar: o poder de transformar a sociedade, ou porque
não dizer, de revolucioná-la. No entanto, devemos nos lembrar
que esses modelos não passam de instrumentos criados
pelo homem e, nessa qualidade, não têm sentido sem sua
presença. Daí a importância de se entender e de se fazer entender
sobre o papel exercido pelos profissionais que atuam
nas “salas de leitura” das escolas, pois, muito além de trabalhadores-
educadores ou de educadores-trabalhadores, esses
são transformadores sociais.
Marcelo Santana
Sumário
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura
e do livro 13
UNIDADE 2 – O que é uma biblioteca? 21
UNIDADE 3 – Organização da biblioteca escolar 27
UNIDADE 4 – Formação e desenvolvimento
do acervo 33
UNIDADE 5 – Organização do acervo 39
UNIDADE 6 – Processamento técnico 43
UNIDADE 7 – Sistemas de classificação 55
UNIDADE 8 – Catalogação 61
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar 73
REFERÊNCIAS 116


UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
14
Antes de falarmos sobre a biblioteca escolar é importante conhecer
um pouco sobre a evolução da escrita e seus suportes,
o registro da memória e os domínios do saber que nos remetem
aos livros e às bibliotecas atuais.
Você sabia que durante muitos séculos os conhecimentos foram
transmitidos de geração em geração por meio da tradição
oral? Pois é. Naquele tempo, os considerados sábios eram
aqueles que conseguiam transmitir os conhecimentos, por
isso eram também responsáveis pela difícil missão de repassá-
los por meio da tradição oral, que por não ser registrada
(escrita), acabava comprometendo a integridade da informação,
variando de acordo com a interpretação de cada um.
Mas, como se sabe, com o tempo as coisas tomaram outros
rumos e foram surgindo novos meios de se comunicar. Em
especial, a escrita que mudou as relações entre os homens e
a forma deles interagirem com a natureza em função de outras
necessidades. Portanto, pode-se dizer que o surgimento da
escrita propiciou o aparecimento das tecnologias, fundamental
ao desenvolvimento do ser humano.
O grande marco na história da humanidade foi, sem dúvida,
a invenção da linguagem escrita, pois, ao preservar seus sentimentos,
suas tecnologias e seus anseios num conjunto de
marcas, o homem criou a possibilidade de acumulação e produção
de conhecimentos que propiciaram o surgimento da
filosofia, das ciências e das artes. Não se tem certeza absoluta
da data do surgimento, mas alguns estudiosos dizem que ela
surgiu na Mesopotâmia, localizada entre os Rios Tigre e Eufrates,
local onde apareceram as primeiras civilizações, aproximadamente
no ano 4.000 a.C.
Alguns autores acreditam que as mais antigas inscrições
descobertas até hoje foram achadas em Uruk
(atual cidade de Warka, no sul do Iraque) e datam de
3.300 antes de Cristo. Como os sinais eram formados por
um junco ou cabo de madeira que deixava um traçado
semelhante a uma cunha, esse tipo de escrita recebeu o
nome de cuneiforme — derivado do termo latino cuneus,
que significa “cunha”.
Os mesopotâmios usaram a escrita cuneiforme para controlar
as mercadorias que entravam e saíam dos seus palácios
A Mesopotâmia – nome grego
que significa “entre rios”
(meso – pótamos) – é uma
região de interesse histórico
e geográfico mundial. Tratase
de um planalto de origem
vulcânica, localizado no
Oriente Médio, delimitada
entre os vales dos Rios Tigre
e Eufrates, ocupada pelo atual
território do Iraque e terras
próximas.
15
I M P O R T A N T E
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
e templos. Inicialmente era pictográfica, ou seja, o boi era
representado por sinais que lembravam sua cabeça, enquanto
o desenho do sol surgindo no horizonte significava o dia.
A escrita cuneiforme disseminou-se por todo o Oriente próximo
ao segundo milênio a.C., sendo utilizada por diferentes
povos da região, como sumérios, semitas, assírios e babilônios.
“Livros de barro” – 22.000 placas de argila gravadas
formavam o acervo da mais antiga biblioteca de que se
tem notícia: a do rei Assurbanipal, na Assíria, construída
sete séculos antes de Cristo.
A pictografia é uma forma de escrita pela qual idéias são transmitidas
através de desenhos. Esse tipo de escrita era entendida
em qualquer língua falada, pois possuía um grande número
de símbolos.
Os pictogramas parecem ser absolutamente auto-explicativos
e universais, mas na verdade possuem limitações culturais.
Por exemplo, os pictogramas de banheiro, em que o sexo é
diferenciado por uma representação de uma figura feminina
usando uma saia, podem ser um problema na identificação
por usuários não ocidentais. Pense bem, para os homens pode
ser difícil compreender a cultura adotada em determinados
lugares em que o uso de saias masculinas é comum. Essa diferenciação
entre sexos em pictogramas ocidentais pode não
ser bem interpretada.
Assurbanipal foi o último
grande rei dos assírios. No
seu reinado (por volta de 668-
627 a.C.), a Assíria tornou-se
a primeira potência mundial.
Seu império incluía Babilônia,
Pérsia, Síria e Egito
A palavra pictograma vem
do latim pictu = pintado +
grego = letra; ou seja, letra
pintada.
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
16
Hoje, o pictograma tem sido muito utilizado como sinalização
de locais públicos (trânsito, endereços, explicações, proibições
etc.) em diversas peças de design gráfico.
Registre em seu memorial os pictogramas
que são mais usuais no seu cotidiano.
Logo em seguida, surge a escrita hieroglífica egípcia, surgida
em torno do ano 3000 a.C. Os responsáveis pela tarefa de escrever
chamavam-se escribas, homens muito admirados do
Egito antigo, sendo muitos deles adorados como deuses.
Figura – Hieróglifos – instrumento usado pelos escribas, sacerdotes
e membros da realeza para ler e escrever
E o que é hieróglifo hieroglifo? É um termo que junta duas
palavras gregas – hiero que significa sagrado e glyfus que significa
escrita. Poucas pessoas na antiga civilização dominavam
e conheciam a arte desses sinais que eram considerados
sagrados. Suas incrições eram mais comuns nas paredes de
templos e túmulos, e com o tempo foi evoluindo para uso em
papiros ou placas de barro.
Os escribas, para escrever, utilizavam objetos de metal, osso e
marfim, sendo que uma das extremidades era larga e pontiaguda,
e a outra era plana em forma de paleta com a finalidade
de cancelar o texto, alisando o material arranhado ou errado.
Design gráfico é uma forma
de comunicação visual e
está relacionado à criação
de informação por meio de
texto e imagem. Atualmente,
é um recurso utilizado
principalmente pela mídia para
associar um estilo a produtos
comerciais.
17
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
Inicialmente, utilizados para registros contábeis como sacas
de trigo, cabeças de boi etc.; posteriormente as tábuas foram
utilizadas para outras finalidades que não o registro contábil,
como narrações históricas, relatos épicos, religiosos e outros
tipos de inscrições.
A história do homem mostra-nos que alguns tipos de escrita,
criados por outros povos, surgiram também como necessidade.
Abaixo segue breve resumo:
a) cuneiforme – idealizada pelos sumérios em forma de figuras
gravadas sob tábuas de argila utilizando-se de estilete.
A página era cozida no forno;
b) hieroglífica – nome grego para a escrita pictórica dos antigos
egípcios. Traduzida ao pé da letra “hieroglifo” significa
“inscrição sagrada”. A escrita hieroglífica possibilitou aos
egípcios registrarem dados diversificados de sua cultura
por meio de signos. As idéias passaram a ser expressas
por sinais — cada um com seu valor fonético — e não mais
através de desenhos. Esse tipo de escrita era composto por
cerca de 1.000 sinais;
c) mnemônica – utilizada pelos incas da América do Sul, dividia-
se em dois sistemas: os equipos e os wampus;
d) fonética – surgiu com a necessidade de fixar o pensamento
humano. A imagem visual foi substituída pela sonora dando
início à escrita silábica, em que os sinais representam
sons;
e) ideográfica – os objetos eram representados por sinais que
interpretavam graficamente idéias. Por exemplo: a escrita
chinesa.
Equipos: formados por cordões de lã em cores diversas
onde as amarrações e os nós representavam uma
idéia (transmitiam idéias e não palavras).
Wampus: um sistema baseado em colares de conchas justapostas,
cujas combinações formavam figuras geométricas.
Como você pôde perceber a escrita permitiu o registro da memória,
a veiculação das idéias e a criação de novas realidades,
contribuindo para ampliação do conhecimento e conseqüentemente
do registro dos diferentes domínios do saber que
gera até hoje o avanço das tecnologias.
Hieroglífica
Escrita
Escrita chinesa
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
18
Esse passeio pela história nos faz observar que desde os
primórdios dos tempos, o homem procurou registrar suas
impressões, utilizando-se de materiais orgânicos e inorgânicos,
como tintas vegetais, minerais e outros suportes encontrados
na natureza, como a argila, os ossos, as pedras, o couro,
a madeira, o papiro, o pergaminho e, finalmente, o papel
que teve sua origem na China.
O alfabeto
Até chegarmos à escrita alfabética passamos por um lento
processo evolutivo.
Para muitos a invenção do alfabeto é atribuída ao povo de
Ugarit (atual Síria) que desenvolveu um alfabeto composto
por vinte a trinta signos cuneiformes. Em seguida, os fenícios
criaram um alfabeto com 22 letras. Estes dois povos são os
maiores responsáveis pela disseminação do alfabeto no mundo
antigo.
Por serem comerciantes e navegadores, os fenícios em seus
deslocamentos difundiam rapidamente essa nova invenção
entre os povos do Mediterrâneo: o aramaico, o hebraico, o
copta, o árabe e o grego têm aí sua origem. Desse modo,
acredita-se que o alfabeto fenício acabou estimulando outros
povos a criarem em conformidade com suas línguas, seus
próprios sistemas de escrita.
O povo grego, por exemplo, deve a invenção do seu alfabeto
aos fenícios, onde utilizava a abstração alfabética para substituir
cada som por uma letra, formando assim o primeiro alfabeto
da história. O alfabeto fenício foi utilizado por volta do
final do século XII antes de Cristo.
Da escrita grega, originou-se o etrusco, que deu origem ao latim,
que, por sua vez, deu origem ao português. Deve-se ressaltar
que a escrita alfabética, juntamente com a descoberta
do papel, propiciou a democratização do conhecimento. Assim,
o que era antes privilégio somente de escribas, membros
da igreja e da realeza passou a fazer parte do cotidiano de
diferentes segmentos sociais.
Os livros
Para você ter uma idéia, os livros eram escritos manualmente
e só eram encontrados nos palácios e nos templos, sendo
19
I M P O R T A N T E
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
usados por sacerdotes e reis, que eram os poucos privilegiados
que sabiam ler e escrever. O livro representava uma ostentação,
um objeto de luxo.
Com a descoberta do papel e a invenção da imprensa por Gutenberg,
o ler e o escrever foram se encontrando e ganhando
formas de registro.
A partir daí, deu-se início à multiplicação dos livros e as bibliotecas
tornaram-se mais acessíveis ao povo, embora com um
aspecto formal, voltadas mais para a preservação do acervo
do que para sua disseminação. Essas bibliotecas eram vistas
como espaços para os intelectuais. Os livros ainda eram privilégios
de poucos, exigiam tratamento especial e eram cuidadosamente
guardados.
A invenção da imprensa por Gutenberg foi um marco para
a ampliação do conhecimento, pois possibilitou a construção
de coleções particulares. Os livros passaram a ser material de
consumo e de uso doméstico deixando de ser privilégio de
poucos. Todo esse caminho fez com que as bibliotecas, por
sua vez, tomassem novos rumos, ganhando novas atribuições.
Se antes elas eram espaços silenciosos e de guarda de
livros, hoje, com o avanço das novas tecnologias da comunicação
e da informação, passaram a agregar novas formas de
difusão da cultura.
O primeiro livro impresso por Gutenberg – a célebre
Bíblia de 42 linhas, em tipos góticos – é o marco histórico
dessa revolução que significou a possibilidade de
produzir livros em escala industrial e, automaticamente,
para um número quase ilimitado de leitores.
PARA SABER MAIS SOBRE O LIVRO NA IDADE MÉDIA
ACESSE O LINK ABAIXO:
http://www.escritoriodolivro.org.br/historias/idademedia.
html
Isso nos faz pensar que nossos antepassados tiveram de percorrer
um longo caminho até chegar ao nosso conhecido
papel, ao livro, ao computador, ao CD-ROM, à internet e aos
e-books. A utilização da tecnologia foi, e ainda é, uma constante
na viabilização da descoberta de novas formas de codificação.
Johannes Gutenberg
UNIDADE 1 – Breve histórico da escrita, da leitura e do livro
20
CD-ROM: é um disco óptico de armazenamento de
dados.
E-book: termo inglês que significa livro eletrônico. É a
versão de um livro impresso em papel em base digital que
pode ser lido no computador ou num dispositivo eletrônico
especificamente designado para a leitura do documento.
Quanta coisa mudou não é mesmo? E mudou para melhor!
Hoje, você pode fazer uma pesquisa em questões de minutos,
ou segundos, resolver um problema bancário sem sair de
casa e ainda escrever e enviar mensagens sem gastar com a
postagem das cartas. E mais, bater papo com parentes e amigos
e ainda os ver em seu monitor do computador. Quanta revolução!
Agora, imagine você tendo de ir para a caverna para
esculpir alguma mensagem? Ou pegar uma tábua de argila
para poder se comunicar? Ou entrando numa loja para pedir
um rolo de papiro? Você faz idéia de como seriam guardadas
essas informações?
Pois é. Quanto trabalho!
Com a multiplicação dos livros, as bibliotecas tiveram que
se evoluir e nos espaços informacionais foram surgindo. Os
livros ganharam outros formatos na edição para atender os
mais diferentes tipos de leitores.
O mercado editorial, para atender a modernidade tecnológica
e as novas demandas por leitura, aumentou sua capacidade
e passou a produzir milhares de exemplares em um curto período
de tempo. Esse processo contribuiu substancialmente
com a democratização e com a difusão do livro e da leitura no
país.
Assim, podemos dizer que a biblioteca é uma alternativa de inclusão
social e se configura como um ambiente democrático,
tendo a informação como uma ferramenta importante para a
conscientização dos direitos e deveres de cada cidadão como
membro da sociedade.

UNIDADE 2 – O que é uma biblioteca?
22
Quando falamos de biblioteca, qual é a primeira idéia que vem
à sua cabeça?
Já que a nossa unidade é sobre a biblioteca e espaços de leitura,
é fundamental definir o termo biblioteca.
Veja como Ferreira (1986, p. 253) define no dicionário a palavra
biblioteca:
1. Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres,
organizada para estudo, leitura e consulta.
2. Edifício ou recinto onde se instala essa coleção.
3. Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam os
livros.
É interessante você saber que não é à toa que a palavra biblioteca
tem sua origem nos termos gregos biblíon (livro) e theka
(caixa), significando o móvel ou lugar onde se guardam livros.
Foi no Egito que existiu, desde o século IV a.C., a mais célebre
e grandiosa biblioteca da Antiguidade, a de Alexandria, que
tinha como ambição reunir em um só lugar todo o conhecimento
humano. Seu acervo era constituído de rolos de papiro
manuscritos – aproximadamente 60 mil, contendo literatura
grega, egípcia, assíria e babilônica.
No entanto, o conceito e as explicações para a palavra biblioteca
vêm se transformando e se ajustando por meio da própria
história das bibliotecas. Para Fonseca (1992, p. 60), um novo
conceito “é o de biblioteca menos como coleção de livros e
outros documentos, devidamente classificados e catalogados
do que como assembléia de usuários da informação”. Isso
quer dizer que as bibliotecas não devem ser vistas como simples
depósitos de livros. Elas devem ter seu foco voltado para
as pessoas no uso que essas fazem da informação oferecendo
meios para que esta circule da forma mais dinâmica possível.
1 Tipos de bibliotecas
Para muitos autores, a tipologia de cada biblioteca depende
das funções desempenhadas por ela. De acordo com este entendimento,
ela pode ser:
UNIDADE 2 – O que é uma biblioteca?
23
I M P O R T A N T E
a) escolar – localiza-se em escolas e é organizada para integrar-
se com a sala de aula e no desenvolvimento do currículo
escolar. Funciona como um centro de recursos educativos,
integrado ao processo de ensino-aprendizagem,
tendo como objetivo primordial desenvolver e fomentar a
leitura e a informação. Poderá servir também como suporte
para a comunidade em suas necessidades;
b) especializada – sua finalidade é promover toda informação
especializada de determinada área, como, por exemplo,
agricultura, direito, indústria etc.
c) infantil – tem como objetivo primordial o atendimento de
crianças com os diversos materiais que poderão enriquecer
suas horas de lazer. Visa a despertar o encantamento pelos
livros e pela leitura e a formação do leitor.
d) pública – está encarregada de administrar a leitura e a informação
para a comunidade em geral, sem distinção de sexo,
idade, raça, religião e opinião política.
e) nacional – é a depositária do patrimônio cultural de uma
nação. Encarrega-se de editar a bibliografia nacional e fazer
cumprir o depósito legal. Em alguns casos, essa biblioteca,
única, em cada país, necessita de uma política especial de
recursos e, por falta de interesse na conservação do patrimônio
nacional, torna-se um depósito de livros, sem meios
suficientes para difundir sua valiosa coleção.
f) universitária – é parte integrante de uma instituição de ensino
superior e sua finalidade é oferecer apoio ao desenvolvimento
de programas de ensino e à realização de pesquisas.
Depósito legal: obriga os editores a depositar ali vários
exemplares de cada obra impressa.
É importante entender que a tipologia de cada biblioteca nos
ajuda não só a perceber a função social de cada uma, como
também requer um conhecimento mais apurado da comunidade
na qual a biblioteca está inserida, evidenciando principalmente
suas necessidades e seus anseios por informação e
hábitos culturais. Ter conhecimento das necessidades da comunidade
é que propiciará o estabelecimento de diretrizes e
ações que permitirão alcançar os resultados almejados com o
fazer cultural e educacional.
UNIDADE 2 – O que é uma biblioteca?
24
1.1 Biblioteca escolar
Você viu que existem vários tipos de bibliotecas. Especificamente,
nesta unidade, vamos refletir a respeito da biblioteca
que está mais próxima de você: a biblioteca escolar.
É comum as escolas destinarem um espaço para leitura. Geralmente,
esses espaços são chamados de Salas de Leitura ou
Biblioteca Escolar. Na sua escola com certeza deve ter uma.
No entanto, a experiência nos vem mostrando que na prática
muitas das bibliotecas escolares vêm sendo utilizadas inadequadamente,
sob a visão de um conceito ultrapassado. Assim,
é comum observá-las sendo usadas como simples depósitos
de livros. Com relação à questão administrativa, também é comum
encontrarmos à frente das bibliotecas escolares pessoas
que, apesar de extrema boa vontade, não estão capacitadas
para esta tarefa.
A escola antiga era assim: não dispunha de biblioteca, ou
quando a possuía era mais para servir de consulta aos professores
e não para uso dos alunos. O ensino era voltado para o
livro escolhido e os textos indicados.
No entanto, nem toda escola é igual. Muitas delas sabem
valorizar esse tesouro fantástico e tornam as bibliotecas suas
aliadas no fazer pedagógico, tornando-a uma extensão da
sala de aula.
A escola que não proporciona aos alunos o contato com a
leitura, não ensina a ler. Mas é bom lembrar que este deve
ser um compromisso de todos que trabalham na escola. Uma
grande força-tarefa deve ser formada para transformar a biblioteca
em um espaço ativo para
melhorar os índices de leitura. Este
é um bom começo para envolver
todos os profissionais de educação,
em atividades como: hora do conto,
contação de histórias, representação
teatral, jornada pedagógica, concursos
literários, recitais poéticos etc.
Você, por exemplo, pode ser um excelente
contador de histórias. Imagine-
se construindo uma poesia e apresentando
seu talento para os alunos,
professores e seus colegas. Imagine
UNIDADE 2 – O que é uma biblioteca?
25
I M P O R T A N T E
você criando textos, uma peça de teatro, compondo uma música.
Já pensou?
Sendo a escola um espaço de aprendizagem permanente, é
preciso usufruir das coisas boas que lá existem e desenvolver
suas potencialidades ajudando, assim, a escola a crescer.
É dessa interação que estamos falando.
Nesse sentido, a biblioteca escolar não deve ser só um espaço
de ação pedagógica, servindo como apoio à construção do
conhecimento e de suporte a pesquisas. Deve ser, sim, um
espaço perfeito para que todos que nela atuam possam utilizá-
la como uma fonte de experiência, exercício da cidadania
e formação para toda a vida.
É consenso dos educadores que o desempenho escolar flui
melhor quando a escola tem uma biblioteca dinâmica.
Está escrito no Manifesto da Unesco (1976, p.158-163) sobre
biblioteca escolar:
Biblioteca é a porta de entrada para o conhecimento,
fornece as condições básicas para o aprendizado permanente,
autonomia das decisões e para o desenvolvimento
cultural dos indivíduos e dos grupos sociais.
Assim, a escola deve favorecer o conhecimento mútuo e, nesse
aspecto, todos os que nela atuam têm um papel preponderante.
É preciso perceber que a educação não se dá unilateralmente,
só em relação ao aluno.
Que tal ampliar o olhar e verificar as potencialidades
culturais, ou seja, pessoas e instituições que
desenvolvam trabalhos artísticos de um modo geral na
sua cidade? Registre em seu memorial.
É participando do projeto pedagógico que você, profissional
da educação, se sentirá seguro para construir também seu conhecimento.
Isso fará de você uma pessoa mais participativa
e feliz.


UNIDADE 3 – Organização da biblioteca escolar
28
A Unidade 3 foi preparada para ajudar você a conhecer os
aspectos da organização de uma biblioteca. Organizar uma
biblioteca não é uma tarefa simples. Exige uma série de cuidados
que devem ser observados para que se atinjam os objetivos
aos quais se propõe.
A biblioteca escolar deve ser encarada como um espaço dinâmico
e indispensável na formação do cidadão. É a biblioteca
escolar que abrirá, ainda no ensino básico, os caminhos para
que os alunos desenvolvam a curiosidade e o senso crítico
que os levarão à cidadania plena. Válio1 (1990) define biblioteca
escolar como uma instituição que organiza a utilização dos
livros, orienta a leitura dos alunos, coopera com a educação e
com o desenvolvimento cultural da comunidade escolar e dá
suporte ao atendimento do currículo da escola.
De acordo com o Manifesto da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 1976,
p.158-163, a biblioteca escolar:
Propicia informação e idéias fundamentais para o
funcionamento bem-sucedido da atual sociedade,
baseada na informação e no conhecimento. A Biblioteca
Escolar habilita os estudantes para a aprendizagem ao
longo da vida e desenvolve a imaginação, preparando-os
para viver como cidadãos responsáveis.
1 Espaço físico
Nem sempre as bibliotecas estão instaladas em prédios construídos
especialmente para atender às suas necessidades,
serviços e produtos oferecidos. Muitas delas funcionam em
espaços adaptados ou em pequenas salas. Daí a importância
em se ter pessoas sensíveis a esses problemas, que possam
criar soluções de viabilidade.
O ideal é que as instalações da biblioteca fossem abrigadas
em um prédio próprio, projetado para esse fim, em local de
pouco barulho e de fácil acesso às pessoas.
1 VÁLIO, Else Benetti Marques. Biblioteca escolar: uma visão histórica. Transinformação,
Campinas, v. 2, n. 1, p. 15-24, jan./abr. 1990.
29
UNIDADE 3 – Organização da biblioteca escolar I M P O R T A N T E
Pois bem, então agora é de suma importância que você “entenda”
o espaço físico da biblioteca para que ele seja bem
aproveitado, tanto do ponto de vista do layout quanto dos trabalhos
que envolvem o tratamento do acervo.
Layout é a forma de distribuir melhor o espaço físico
da biblioteca para tornar o ambiente agradável, sinalizado
e adequado para comportar o mobiliário, o acervo,
o espaço para pesquisa, entre outros espaços. Fatores ambientais,
como iluminação, temperatura, acústica e cores,
são elementos que fazem parte do layout.
É importante você saber que um ambiente preparado cuidadosamente
possibilita uma boa organização e acomodação
aos usuários. Então veja algumas dicas:
a) para saber a quantidade de livros a ser colocada em determinado
espaço, pode-se usar um cálculo padrão que diz
que 1m2 pode comportar até cinqüenta volumes. Assim, se
você possui duzentos volumes, esses podem ser disponibilizados
em uma área mínima de 4m2;
b) as paredes de cor clara muito contribuem para refletir a luz
e aumentar o grau de visibilidade. As janelas devem permitir
a entrada de luz natural, de modo que possibilite um
ambiente claro que favoreça a leitura;
c) garantir a preservação e conservação do acervo. Os livros
devem ficar em o local arejado e com pouca incidência de
raios solares;
d) o piso deve ser de material resistente e de fácil conservação
sendo o mais usado o de material em vinílico. Os tipos mais
comuns dos pisos vinílicos são: paviflex, decorflex e vulcapiso.
Há ainda pisos de madeira e os frios (cerâmica, pedra
e metal). O piso em material carpete não é recomendado,
pois, além da dificuldade de limpeza e pouca durabilidade,
são propícios ao acúmulo de microorganismos e pregas;
e) a iluminação artificial faz-se necessária para permitir o perfeito
funcionamento no horário noturno. Lâmpadas fluorescentes
são as mais indicadas não só pela economia, mas
porque tem baixo poder de aquecimento e causam menos
danos ao acervo;
UNIDADE 3 – Organização da biblioteca escolar
30
f) para facilitar o controle e a circulação do público, a biblioteca
deve ter somente uma entrada destinada a ele. Não
podemos nos esquecer de incluir acessos para as pessoas
com maior idade e aquelas com necessidades especiais.
Dê uma olhada na biblioteca de sua escola. Veja a
estrutura física interna e externa e faça uma avaliação.
Ela está numa estrutura apropriada ou foi adaptada? Tem
acesso para a pessoa com necessidades especiais? Tem
boa iluminação? Registre no memorial.
2 Mobiliário
Observe agora, detalhadamente, o mobiliário da biblioteca da
sua escola. Relacione se tem acomodações para todas as pessoas
que a freqüentam. Observe se as estantes comportam
novas aquisições.
Vamos refletir um pouquinho
sobre o mobiliário.
Ele deve ser projetado para o
tamanho do ambiente, de forma
que acomode o acervo e os
equipamentos que serão adquiridos
pela biblioteca. Os móveis
podem ser de madeira ou aço.
Os de aço são mais resistentes
e oferecem maior segurança na
armazenagem dos livros e evitam
a retenção da umidade. Os
de madeira são de baixo custo
e devem ser reforçados para
suportar o peso dos livros. Além disso devem receber tratamento
contra a infestação de insetos.
O ideal é que a biblioteca escolar tenha dois tipos de mesas.
Algumas grandes para estudos em grupos e outras para o
estudo individual. Elas devem estar de preferência distantes
umas das outras, pois quando estamos em grupo a nossa
tendência é fazer mais barulho. Agora, se a biblioteca atende
também um público infantil, o mobiliário deve ser colorido,
alegre e adequado às condições físicas da criança.
31
UNIDADE 3 – Organização da biblioteca escolar I M P O R T A N T E
3 Sinalização da biblioteca
Se a biblioteca é um espaço informacional, a primeira informação
deve começar por sua sinalização.
Já imaginou a nossa cidade sem placas indicativas de como
chegar aos principais lugares, como hospitais, escolas, prefeituras,
igrejas etc.? Já imaginou se não tivéssemos as sinalizações
de trânsito?
Assim, também, a biblioteca precisa de uma boa sinalização
feita para facilitar a autonomia do usuário nas suas instalações.
Podem-se distinguir os seguintes tipos de sinalização:
a) sinalização externa:
• facilita o acesso à biblioteca e assinala a importância concedida
a ela no conjunto das instalações;
b) sinalização interna – de recepção:
• deve estar próxima à entrada e orientar os alunos dentro
da biblioteca. Pode conter todas as informações dos serviços
oferecidos pela biblioteca, como: empréstimo de
livros, reforço escolar, hora do conto, horário de funcionamento,
normas de uso, documentos necessários para
inscrição ou cadastro etc.;
c) sinalização de uso do espaço:
• deve sinalizar os espaços de atividades da biblioteca,
como estudo individual, estudo em grupo, mural interativo,
mural de informações, atendimento, catálogo etc.;
d) sinalização temática das estantes:
• cada estante deve ter, em local de fácil visualização, a
relação dos assuntos pelos quais foram distribuídos os livros.
Alguns destaques ajudam na localização dos livros
mais procurados, por exemplo: literatura brasileira, literatura
infantil, obras de referência.
Uma boa sinalização não só traz facilidades de interação com
o usuário como também demonstra uma boa organização administrativa
da biblioteca. Esse aspecto deve ser observado
independentemente de sua tipologia, do espaço físico disponível
e dos serviços oferecidos à comunidade.
UNIDADE 3 – Organização da biblioteca escolar
32
4 Horário de funcionamento
Pense numa biblioteca aberta em período integral, onde a comunidade
pudesse aproveitar a hora do almoço para desfrutar
de uma boa leitura. Pense numa biblioteca aberta no período
de férias escolares, nos fins de semana, para que fosse aproveitada
como mais uma forma de lazer.
Por enquanto, talvez seja somente um sonho.
Mas, sabendo das dificuldades para essa realização, sugerimos
apenas que a biblioteca escolar preste seus serviços em
um horário amplo. Para que seja utilizada como um lugar de
aprendizagem ativa, ela deve estar aberta durante todo o período
letivo.
O fato de a biblioteca estar em funcionamento fora do horário
de aula é um importante fator para o desenvolvimento da comunidade
escolar. Deve-se fazer um esforço e encontrar soluções
para que a biblioteca permaneça aberta o maior tempo
possível.

UNIDADE 4 – Formação e desenvolvimento do acervo
34
Bem, agora vamos tratar do acervo. Você tem idéia de quantos
livros compõem o acervo da biblioteca da sua escola?
E como estão organizados?
O acervo de uma biblioteca pode ser formado por coleções,
constituídas por diferentes tipos de materiais (livros, periódicos,
CDs, DVDs, fitas VHS etc.). Por causa dessa variedade de
materiais, muitos autores adotam o termo item para se referir
a eles.
Item – é um termo usado para representar qualquer
tipo de material (livros, revistas, CDs etc.) que compõem
um acervo.
Nesta unidade vamos considerar o livro como nosso
principal item!
Colecionar é reunir um conjunto de itens ou objetos que têm
uma ou mais características comuns. A idéia do que vem a ser
uma coleção faz parte do nosso dia-a-dia, pois quem em um
dado momento da vida não se viu decidindo sobre colecionar
alguma coisa, como gibis, selos, livros, CDs ou outros.
Assim, pode-se dizer que formar e desenvolver um acervo é
decidir quais itens farão, ou não, parte desse conjunto. No entanto,
a realização de tal tarefa exige o estabelecimento de
certos critérios para se compor, desenvolver, armazenar e
manter uma coleção.
Para uma boa organização do acervo, é preciso seguir um
conjunto de técnicas desenvolvidas especificamente para
esse fim.
A formação do acervo envolve um trabalho constante de
inclusão e exclusão de itens, atividade que favorece a atualização
do acervo com relação aos anseios dos usuários, que
podem variar de acordo com o surgimento ou o desuso das
suas necessidades de informação.
Nesse sentido, você deve estar atento à atualização do material
pertencente à biblioteca escolar, tendo em vista que o desenvolvimento
de um acervo escolar está intimamente ligado
35
UNIDADE 4 – Formação e desenvolvimento do acervo I M P O R T A N T E
ao grau de uso de seus materiais informacionais. Isso leva à
conclusão de que não existe um único processo de desenvolvimento
para toda e qualquer biblioteca, ou seja, cada biblioteca,
por estar inserida em um diferente meio, exigirá para seu
acervo um tipo diferente de desenvolvimento.
Em resumo, ao avaliar a formação de um acervo é preciso
buscar entender a comunidade escolar envolvida (profissionais
da educação, alunos, pais) e suas necessidades de informação,
bem como a política de ensino da instituição, para que
se possa selecionar com qualidade os itens que serão adquiridos
por meio de compra, doação ou permuta.
1 Armazenamento
O que você entende por armazenamento? Pense bem,
essa palavra vem de armazém, ou seja, local de depósito
e de guarda.
Então, para se armazenar um acervo é preciso antes definir
os espaços, suas funções, seus materiais, sua utilização, seu
layout, os locais destinados à administração, ao processamento
técnico, ao setor de circulação (empréstimo e devolução),
a área de estudos, ao local destinado às estantes etc. A definição
desses e de outros espaços vai fazer com que o acervo
seja armazenado da melhor maneira possível (lembre-se do
cálculo já citado no item “a” do tópico “Espaço físico” da unidade
anterior).
2 Seleção
Como são selecionados os livros que chegam
para a biblioteca escolar? Todos os livros recebidos
são aproveitados?
A seleção é uma atividade utilizada como ferramenta
básica para definição da composição
de um acervo, tanto quanto à forma (tipo
de livro que deverá compor o acervo), como
quanto ao conteúdo (assuntos de interesse).
UNIDADE 4 – Formação e desenvolvimento do acervo
36
SUGESTÃO PARA LEITURA:
FIGUEIREDO, N. M. Estudo de uso e usuários da informação.
Brasília: Ibict, 1994.
Geralmente, a seleção é uma escolha fundamentada em estudos.
Não adianta nada, por exemplo, selecionar livros de
medicina para uma biblioteca que tenha como maioria uma
clientela infantil. Ou ter um número elevado de um exemplar
com o mesmo título ocupando espaços de outros livros.
O selecionador é quem determina quais documentos entram
e quais saem do acervo, sempre norteado por critérios adotados
para seleção, nunca se esquecendo da importância da
comunidade na qual a biblioteca se insere.
3 Aquisição
Esta é uma etapa que põe em prática as decisões da seleção.
Inclui todas as atividades inerentes aos processos de compra,
doação e permuta de livros. A preocupação com o processo
de aquisição é extremamente necessária, pois é ela quem garante
a qualidade do acervo.
Sabemos que nem sempre a escola recebe recursos financeiros
para compra, mas uma boa campanha de arrecadação
pode suprir as necessidades de composição do acervo.
Uma estante com livros para trocas também é uma boa sugestão.
De repente, você pode colocar aqueles livros em duplicidade,
de pouco uso, e fazer a permuta.
Outra idéia interessante é ter uma boa comunicação com outras
bibliotecas. O que não é usado na sua biblioteca pode ser
importante para outra e vice-versa.
4 Desbaste e descarte
O desbaste é uma retirada temporária de alguns itens da coleção,
ou seja, esses poderão ser guardados em um depósito
ou em outro local específico até a decisão de sua recolocação
no acervo.
Por exemplo, os professores desenvolvem todo ano, no mês
de agosto, um mesmo trabalho sobre folclore. Então, neste
37
UNIDADE 4 – Formação e desenvolvimento do acervo I M P O R T A N T E
período, todo o acervo sobre esse assunto deve estar disponível.
Quando chegar o término desse período, os livros poderão
ser desbastados.
O descarte ou seleção negativa é uma tarefa que consiste
em retirar do acervo da biblioteca, de forma definitiva, livros
repetidos (mais de um exemplar), livros comprovadamente
sem uso (verificados pelas estatísticas de empréstimo) ou
aqueles danificados a tal ponto que seu conserto se torne inviável
(ou por não poder ser recuperado ou pelo custo da recuperação
não compensar).
Entre os muitos objetivos do descarte, destaca-se o de procurar
manter o nível de qualidade do acervo, nunca perdendo de
vista o usuário. Portanto, só se pode descartar ou desbastar
um conjunto de livros, após uma seleção criteriosa.


UNIDADE 5 – Organização do acervo
40
E agora? Como colocar os livros na estante de forma
que possam ser encontrados com facilidade?
Imagine-se procurando determinado livro, o qual está guardado
em seu quarto. Você se lembra de já o ter visto em algum
lugar do seu “acervo”, guardado em algum lugar e não o encontra
de maneira razoavelmente
rápida. Isso se dá em
virtude de sua não preocupação
em organizar seus livros
e de confiar em sua memória.
Diante dessa situação, só
resta “explorar o acervo” de
livros, examinando um a um.
Quanto tempo e trabalho serão
dispensados?
Daí a importância de se criar
uma “memória externa”, como
catálogos, bases de dados e
outros mecanismos necessários
para que se tenha o controle eficiente de um acervo, que
permita encontrar de forma rápida aquilo de que se necessita.
Portanto, o controle eficiente de um acervo pede uma organização
baseada no armazenamento e no arranjo das coleções,
etapas também dependentes de um processamento técnico,
importante ao preparo do material voltado para empréstimo e
devolução.
Como já foi dito, nos dias de hoje um acervo de uma biblioteca
não possui somente livros. Ele passou a ser constituído
por diferentes tipos de coleções que variam de acordo com
os diferentes tipos de bibliotecas. Desse modo, um acervo de
uma biblioteca especializada deverá ser diferente do acervo de
uma biblioteca escolar. No entanto, toda e qualquer biblioteca
tende a ter um mesmo conjunto básico de coleções, como as
mencionadas a seguir.
1 Coleção de livros de referência
São livros de consulta. Trazem informações superficiais, introdutórias,
básicas. São chamadas obras de referência porque
indicam onde encontrar o assunto procurado de uma forma
mais detalhada. Em geral, não podem sair das instalações da
UNIDADE 5 – Organização do acervo
41
I M P O R T A N T E
biblioteca, não sendo dessa maneira emprestadas. Incluemse
nessa categoria: dicionários, enciclopédias, atlas, índices,
entre outros.
2 Coleção de livros-textos
São os livros que compõem o acervo geral: literatura, livros
didáticos, informativos etc.
3 Coleção de periódicos
São materiais publicados sob a forma de revistas, jornais ou
outro tipo de material que circule em períodos regulares (semanalmente,
mensalmente, anualmente) ou outro período.
Vale ressaltar que esse tipo de material é o que traz as informações
mais atualizadas.
4 Coleção de materiais não bibliográficos ou multimeios
São aqueles que estão em uma forma diferente da dos livros.
São os CDs, fitas VHS, slides, discos de vinil, fitas cassetes,
jogos etc.
5 Hemeroteca
São arquivos de recortes de jornais que informam sobre assuntos
diversos e temas atuais.


UNIDADE 6 – Processamento técnico
44
Você já deve ter ouvido falar em processamento técnico.
Pois bem, o processamento técnico envolve um conjunto de
trabalhos voltados para análise dos livros que compõem o
acervo. Esses trabalhos vão permitir que se faça a descrição
única de cada livro, tanto do ponto de vista físico (autor, título,
edição, páginas etc.), quanto do ponto de vista de seu conteúdo.
Tais descrições geram condições para que as informações
sejam recuperadas. Fazem parte desse conjunto: seleção, registro,
classificação, catalogação, alfabetação, colocação de
etiquetas, ordenação dos livros nas estantes e preparo técnico
do livro.
Embora a importância desse processamento não seja percebida
pela maioria dos usuários, ele é o ponto de partida para a
organização de cada biblioteca.
Nesta unidade, vamos orientar somente o processo manual,
pois o processo automatizado depende de recursos financeiros
e da escolha do recurso técnico de cada biblioteca.
Antes de descrever as etapas do processamento técnico precisamos
estudar as partes do livro.
Processo manual: feito pelas mãos do catalogador
(manufaturado).
Processo automatizado: feito com o auxilio de máquinas
de computador, resultando geralmente em uma base de
dados.
1 Conjunto de partes de um livro
Um livro é dividido em partes para facilitar a leitura técnica.
Externamente, suas partes dizem respeito à sua condição física
e, internamente, mais ao conteúdo, sendo dividido em
pré-textual, textual e pós-textual.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
45
I M P O R T A N T E
1.1 Partes externas
Sobrecapa: proteção para a capa. Inclui as mesmas informações
contidas na capa. É uma capa solta, colocada nas edições
especiais, nem todos os livros vêm com a sobrecapa, pois é
um acessório que encarece a edição. Geralmente ao preparar
o livro para ser colocado na estante, retiramos a sobrecapa.
Capa: protege o livro externamente, podendo ser encadernada
ou em brochura. O anverso (frente) da capa deve conter na
parte central nome de autor, título e subtítulo. A capa pode ser
de diversos materiais, como papel, cartolina, couro ou plástico.
A elaboração da capa fica a critério do editor.
Orelhas: geralmente, a capa apresenta orelhas, ou abas, ou
asas, que contêm dados biográficos do autor ou comentários
da obra. As orelhas excedem-se da capa e dobram-se sobre si
mesmas para dentro. Muitas vezes usamos as orelhas como
marcador de página.
Lombada ou dorso: é a parte que liga as folhas do livro, onde
se encontra a costura. Fica no lado externo do livro, oposta ao
corte de páginas.
Errata: lista apresentando os erros corrigidos, com indicação
de páginas, parágrafo e linhas. É inserida, como encarte, antes
da folha de rosto. Nem sempre os livros vêm com errata, é
claro, ela só é inserida caso a edição tenha saído com erros.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
46
1.2 Partes internas (ligadas ao conteúdo)
1.2.1 Pré-textual
Folha de guarda: páginas em branco, encontradas no início e
no final da obra.
Falsa folha-de-rosto: é opcional; precede a página de rosto e
contém apenas o título e subtítulo da publicação.
Folha-de-rosto: contém, normalmente, os elementos essenciais
que identificam um livro: autor; título; número da edição;
o local (cidade) da publicação do livro; editor ou editora;
ano da publicação. Observação: nem todos os livros possuem
esses itens.
O verso da folha-de-rosto: contém os dados complementares
de uma obra, tais como: títulos da série e número do volume;
título original da obra; copyright; relação de colaboradores;
relação de edições e reimpressões anteriores, com os respectivos
editores e datas; nome e endereço da editora.
Dedicatória: folha opcional em que o autor presta homenagem
ou dedica o livro a alguém.
Agradecimentos: folha opcional em que o autor indica o eventual
apoio recebido na elaboração do livro.
Epígrafe: folha opcional em que o autor apresenta uma citação,
seguida de indicação da autoria, relacionada com a matéria
tratada no corpo do livro.
Sumário: enumeração das principais divisões, seções e outras
partes do livro, na ordem em que nele se sucedem.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
47
I M P O R T A N T E
Lista de abreviaturas: relação em ordem alfabética das abreviaturas,
siglas e símbolos utilizados no texto, escrita por extenso.
Prefácio: texto de esclarecimento, justificação, comentário ou
apresentação, escrito pelo autor ou por outra pessoa.
Copyright: registro dos direitos autorais ou editoriais.
Selecione alguns livros e observe se eles possuem
essas partes. Registre no seu memorial os
nomes dos livros e os itens observados. Você vai encontrar
livros cujos editores tiveram todos os cuidados
conforme as regras de edição, outros simplificaram.
É claro que o custo de uma edição com todas as partes
encarece o produto, pois além do custo com o design,
adiciona-se o custo de material: papel, tinta etc.
1.2.2 Miolo do livro
Textual: conjunto de folhas, reunidas em cadernos que formam
o corpo do livro em que é exposto o conteúdo.
1.2.3 Pós-textual
Posfácio: matéria informativa ou explicativa posterior à elaboração
do texto.
Apêndice: desenvolvimento autônomo elaborado pelo autor;
a fim de complementar sua argumentação, sem prejuízo da
unidade nuclear do trabalho.
Anexo: documento, nem sempre do próprio autor, que serve
de fundamentação, comprovação ou ilustração.
Glossário: lista em ordem alfabética de palavras ou expressões
técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, acompanhadas
das respectivas definições.
Índice: lista alfabética de autores e/ou assuntos e/ou nomes
geográficos, por exemplo, contidos na obra, com indicação
das páginas em que são encontrados. O índice pode ser também
cronológico.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
48
Colofão: informações do impressor, endereço, local e data de
impressão, localizada de preferência na página ímpar da última
folha do miolo.
Suplemento: documento que se adiciona a outro para ampliá-
lo ou aperfeiçoá-lo, sendo sua relação com aquele apenas
editorial e não física, podendo ser editado com periodicidade
e/ou numeração própria.
1.3 Descrição do item
Para se descrever um item é preciso conhecer o tipo de material
que se tem em mãos (livro, CD, fita VHS, outros), pois
é reconhecendo-o que se saberá onde se encontra sua fonte
principal de informação e os elementos que deverão ser descritos.
Pegue um livro, de preferência o mais
completo, para verificar cada tópico de descrição.
Assim, na prática, você vai ter facilidade em entender
todas as informações citadas aqui. Separe também um
CD, um vídeo e faça a mesma observação. Registre
tudo no seu memorial.
1.3.1 Elementos para descrição
Página de rosto: é considerado o elemento mais precioso para
o catalogador. Quando ela aparecer deve ser tomada como
fonte principal de informação, pois é nela que deverá aparecer
o nome do autor ou autores, o título, a edição, o local de publicação,
a casa publicadora (editora) e a data de publicação.
Deve-se observar a frente e o verso da folha de rosto para a
retirada de informações.
Veja detalhadamente quais são essas informações:
• autor(es): pessoa(s) física(s) responsável(eis) pela criação
do conteúdo intelectual ou artístico de um documento;
• autor(es) entidade(s): instituição(ões), organização(ões),
empresa(s), comitê(s), comissão(ões), evento(s), entre outros,
responsável(eis) por publicações em que não se distingue
autoria pessoal;
UNIDADE 6 – Processamento técnico
49
I M P O R T A N T E
• edição: todos os exemplares produzidos a partir de um original
ou matriz. Pertencem à mesma edição de uma obra,
todas as suas impressões, reimpressões, tiragens etc., produzidas
diretamente ou por outros métodos, sem modificações,
independentemente do período decorrido desde a
primeira publicação;
• editora: casa publicadora, pessoa(s) ou instituição(ões)
responsável(eis) pela produção editorial. Conforme o suporte
documental, outras denominações são utilizadas:
produtores (para imagens em movimento), gravadora (para
registros sonoros), entre outras.
• título: palavra, expressão ou frase que designa o assunto
ou o conteúdo de um documento;
• subtítulo: informações apresentadas em seguida ao título,
visando esclarecê-lo ou complementá-lo, de acordo com o
conteúdo do documento.
Exemplo: Sítio do Picapau Amarelo: memórias de Emília e
caçadas de Pedrinho.
Título: Sítio do Picapau Amarelo
Subtítulo: memórias de Emília e caçadas de Pedrinho.
Bom, agora você já é capaz de encontrar todas as informações
necessárias para fazer o processamento técnico.
Vamos ver, agora, o que acontece em cada etapa.
Seleção
Como já dissemos anteriormente, a seleção consiste em separar
o que vai ser utilizado na biblioteca.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
50
Identificação
O livro precisa, primeiramente, de uma identificação, ou seja,
de um carimbo com o nome da biblioteca. Não é assim que
você faz quando compra ou ganha um livro? Não se vai escrevendo
o seu nome para que todos saibam que aquele livro
pertence a você? Pois é. O livro da biblioteca também precisa
ser identificado para não ser confundido com outros livros de
outras pessoas ou de outras bibliotecas. Como uma biblioteca
em geral possui muitos livros, a forma mais prática de se
identificar cada livro é por meio de um carimbo que contenha
seu nome.
Pode ser um carimbo simples, como o desenho abaixo mostra:
Biblioteca Escolar Monteiro Lobato
O livro deve ser carimbado no lado contrário da lombada, ou
seja, no corte do livro e na folha de rosto do livro. Algumas
bibliotecas usam, também, carimbar uma página padrão em
todos os livros, carimbando sempre a página que contém determinada
numeração. Por exemplo: carimbar qualquer livro
da biblioteca sempre a página 23.
Registro
Depois de identificado, o livro precisa ser registrado. Ele vai
receber um número de registro único.
Para você entender melhor, vamos comparar os livros a pessoas.
Cada um de nós tem um registro geral de identidade ou
de certidão de nascimento. Mesmo as pessoas gêmeas têm
números de registros de identidades diferentes. Então, cada
livro, mesmo que seja igual a outros dez livros na biblioteca,
vai receber sempre um número diferente.
Mas para que serve o registro? Para saber quantos livros existem
na biblioteca e para identificar o livro na hora de empréstimo.
Para registrar você vai precisar também de um carimbo e de
um livro de registro. Pode-se ainda fazer uso de um caderno
para estas anotações.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
51
I M P O R T A N T E
O carimbo de registro deve ser colocado no verso da folha
de rosto e deve conter o mesmo número recebido do livro de
registro. Exemplo de carimbo de registro:
Biblioteca Monteiro Lobato
No: 001
Data: 15/8/2006
Se a sua biblioteca possuir um computador com um software
gerenciador de acervo, geralmente o registro é feito de modo
automático pelo programa de gerenciamento. Não se esqueça
de carimbar seu livro em hipótese alguma.
Assim, se sua biblioteca não possuir um computador ou um
software gerenciador de acervo, seu registro deve ser feito de
modo manual, em um livro específico para esse fim, o qual
deve conter:
Você pode criar tabelas com as seguintes informações:
• número de registro;
• data em que foi registrado;
• nome do autor;
• título, edição, editora, ano de publicação, local de publicação
e observação.
Veja o exemplo:
Registro Data Autor Título Edição Editora Ano Local Observação
001 15/8/2006 Meireles, Cecília
Ou isto ou
aquilo
8a Nova
Fronteira
1990
Rio de
Janeiro
No campo observação, você pode registrar informações como
extravio de livro, doações, descarte etc.
Classificação
Bom, após seu livro receber sua identificação – sua identidade –,
ele deve ser classificado.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
52
Classificar é na realidade uma tarefa muito importante, pois é
ela que vai definir o local em que o livro vai ficar na estante.
A idéia é sempre partir do geral para o particular, ou seja,
deve-se ter um assunto principal e esse é subdividido sucessivamente
até se chegar a um termo que não admite mais
ser dividido. A classificação cria condições para que os livros
possam ser dispostos nas estantes de maneira sistemática,
proporcionando assim seu uso. Para isso é primordial que a
classificação possibilite:
• localizar um livro em uma coleção;
• retirar um livro para consulta com rapidez;
• devolver um livro à coleção com rapidez;
• inserir novo livro aos já existentes na coleção, sem que esses
percam a sua ordem lógica.
A classificação por assuntos é a única a preencher as finalidades
acima. É freqüente um leitor chegar a uma biblioteca
sem definir o assunto que procura. Ao chegar às estantes, ele
muitas vezes se admira de encontrar outros livros de assuntos
bem mais específicos dos quais nem tinha conhecimento.
A classificação por assuntos oferece essa possibilidade.
O livro, por sua forma física, só pode ocupar um lugar na
coleção, por isso, quando ele tratar de diferentes assuntos,
deve-se escolher somente um, de acordo com o objetivo da
biblioteca, ficando a cargo do catálogo relacionar os diferentes
assuntos.
O processo de classificar implica agrupar livros pelos assuntos
que tratam, trocando o nome ou o termo desses por sinais
ou símbolos correspondentes, chamados de notação da classificação.
É comum que diferentes livros tenham uma mesma
notação, para diferençá-los deve-se usar a notação de autor.
O conjunto dessas duas notações recebe o nome de número
de chamada. Esse número é quem individualiza o livro dentro
de uma coleção, assim, numa biblioteca não pode haver dois
livros com o mesmo número de chamada. A notação de uma
classificação precisa ser simples e permitir a expansão de novos
assuntos.
UNIDADE 6 – Processamento técnico
53
I M P O R T A N T E
Quando for classificar pense sempre nas regras básicas citadas
a seguir:
• classificar o livro onde ele é mais procurado;
• classificar primeiro pelo assunto;
• quando um assunto influenciar o outro, classificar pelo assunto
influenciado. Exemplo: a informática na biblioteconomia,
classificar em biblioteconomia;
• quando dois assuntos são subdivisões de um assunto maior,
classificar pelo maior;
• quando um livro tratar da história de um assunto, classificar
pelo assunto;
• quando um item tratar de método investigativo, classificar
pelo assunto investigado.
Selecione um livro e simule um registro no seu memorial.
Veja o exemplo citado nesta unidade.


UNIDADE 7 – Sistemas de classificação
56
Existem vários sistemas de classificação para bibliotecas. No
entanto, por ser muito prático e muito utilizado, vamos citar
aqui, de forma simplificada, somente a Classificação Decimal
Universal (CDU) que derivou de outra classificação, a Classificação
Decimal de Dewey (CDD)
A CDU propõe-se a dividir o conhecimento em dez grandes
classes, que variam entre os números zero e nove. Em cada
classe, para documentos classificados com números iguais,
você pode ainda organizá-los em ordem alfabética de autor
(número de Cutter).
1 Classificação Decimal Universal (CDU)
Esquema internacional de classificação de documentos (qualquer
que seja o suporte do documento: ex.: CD, fita K-7, fita
VHS etc.), baseado no conceito de que todo o conhecimento
pode ser dividido em dez classes principais e estas, individualmente,
podem ainda ser divididas em outras classes sucessivamente.
Isso ocorre em virtude da hierarquia decimal, que
pode ser exemplificada da seguinte forma: suponha que o
número 3 represente todo o assunto relacionado às ciências
sociais. Suponha, ainda, que dentro dessa classe você quer
fazer menção ao assunto referente ao direito, representado
pelo número 34. Assim, entendendo tratar-se de números decimais,
teremos:
CDU Representação decimal
3 0,3
34 0,34
Se você precisar tratar de um outro assunto pertencente ao
assunto direito, por exemplo, direito constitucional, basta fazer
a seguinte representação:
CDU Representação decimal
342 0,342
Melvil Dewey – inventor do
sistema de Classificação
Decimal de Dewey.
UNIDADE 7 – Sistemas de classificação
57
I M P O R T A N T E
Portanto, embora a classificação seja escrita sem a casa decimal,
sua disposição deve ser entendida como se ela fosse
um número decimal. Desse modo, o número 3 (0,3) deverá vir
sempre primeiro que o número 34 (0,34) quando da organização
dos documentos (livros, CDs etc.) nas estantes. Deve-se
ressaltar que a classe 4 da CDU está vaga, ou seja, não é utilizada
no momento para representar qualquer tipo de assunto.
Logo, na sua biblioteca, o número 4 e seus derivados não deverão
ser utilizados para representar assuntos.
Uma das vantagens em se utilizar esse tipo de classificação é
que ela permite que outros documentos sejam incorporados
ao acervo sem que se tenha que refazer toda a classificação
já existente.
Abaixo segue uma Tabela de CDU adaptada e simplificada.
Lembre-se, você é quem fará a classificação. Portanto, seja
sempre razoável e utilize sempre os mesmos critérios para
todos os documentos. É importante dizer que chegará um
momento em que seu acervo crescerá de tal forma que você
deverá procurar a Tabela da CDU e buscar outros recursos por
ela oferecidos.
0 Generalidades. Informação. Organização.
1 Filosofia. Psicologia.
2 Religião. Teologia.
3 Ciências sociais. Economia. Direito. Política. Assistência
social. Educação.
4 Classe vaga.
5 Matemática e ciências naturais.
6 Ciências aplicadas. Medicina. Tecnologia.
7 Arte. Belas-artes. Recreação. Diversões. Desportos.
8 Linguagem. Lingüística. Literatura.
9 Geografia. Biografia. História.
0 Generalidades. Informação. Organização.
01 Bibliografias. Catálogos.
02 Bibliotecas. Biblioteconomia.
030 Livros de referência: enciclopédias, dicionários.
UNIDADE 7 – Sistemas de classificação
58
040 Ensaios, panfletos, e brochuras.
050 Publicações periódicas. Periódicos.
06 Instituições. Academias. Congressos. Sociedades. Organismos
científicos. Exposições. Museus.
070 Jornais. Jornalismo. Imprensa.
08 Poligrafias. Poligrafias coletivas.
09 Manuscritos. Obras notáveis e obras raras.
1 Filosofia. Psicologia.
11 Metafísica.
133 Metafísica da vida espiritual. Ocultismo.
14 Sistemas e pontos de vista filosóficos.
159.1 Psicologia.
16 Lógica. Teoria do conhecimento. Metodologia da lógica.
17 Filosofia moral. Ética. Filosofia prática.
2 Religião. Teologia.
21 Teologia natural. Teologia racional. Filosofia religiosa.
22 A Bíblia. Sagradas escrituras.
23 Teologia dogmática.
24 Teologia prática.
25 Teologia pastoral.
26 Igreja cristã em geral.
27 História geral da igreja cristã.
28 Igrejas cristãs. Seitas. Denominações (confissões).
29 Religiões não cristãs.
3 Ciências sociais. Economia. Direito. Política. Assistência
social. Educação.
31 Demografia. Sociologia. Estatística.
32 Política.
33 Economia. Ciência econômica.
34 Direito. Jurisprudência.
35 Administração pública. Governo. Assuntos militares.
36 Assistência social. Previdência social. Segurança social.
UNIDADE 7 – Sistemas de classificação
59
I M P O R T A N T E
37 Educação.
38 Metrologia. Pesos e medidas.
5 Matemática e ciências naturais.
50 Generalidades sobre as ciências puras.
51 Matemática.
52 Astronomia. Astrofísica. Pesquisa espacial. Geodesia.
53 Física.
54 Química. Mineralogia.
55 Ciências da Terra. Geologia. Meteorologia.
56 Paleontologia.
57 Biologia. Antropologia.
58 Botânica.
59 Zoologia.
6 Ciências aplicadas. Medicina. Tecnologia.
61 Ciências médicas.
62 Engenharia. Tecnologia em geral.
63 Agricultura. Silvicultura. Agronomia. Zootecnia.
64 Ciência doméstica. Economia doméstica.
65 Organização e administração da indústria, do comércio
e dos transportes.
66 Indústria química. Tecnologia química.
67 Indústrias e ofícios diversos.
68 Indústrias, artes e ofícios de artigos acabados.
69 Engenharia civil e estruturas em geral. Infra-estruturas.
Fundações. Construção de túneis e de pontes. Superestruturas.
7 Arte. Belas-artes. Recreação. Diversões. Desportos
70 Generalidades.
71 Planejamento regional e urbano. Paisagens, jardins etc.
72 Arquitetura.
73 Artes plásticas. Escultura. Numismática.
74 Desenho. Artes industriais.
75 Pintura.
UNIDADE 7 – Sistemas de classificação
60
76 Artes gráficas.
77 Fotografia e cinema.
78 Música.
79 Entretenimento. Lazer. Jogos. Desportos.
8 Linguagem. Lingüística. Literatura.
80 Lingüística. Filologia. Línguas.
81 Vaga.
82 Literatura em língua inglesa.
83 Literatura alemã/escandinava/holandesa.
84 Literatura francesa.
85 Literatura italiana.
86 Literatura espanhola/portuguesa.
87 Literatura clássica (latim e grego).
88 Literatura eslava.
89 Literatura em outras línguas.
9 Geografia. Biografia. História.
90 Arqueologia. Antiguidades.
91 Geografia, exploração da Terra e viagens.
929 Biografias.
93 História.
94 História medieval e moderna em geral. História da Europa.
95 História da Ásia.
96 História da África.
97 História da América do Norte e Central.
98 História da América do Sul.
99 História da Oceânia, dos territórios Árticos e da Antártida.
É exercitando que você vai perceber que
não é tão complicado classificar. Selecione no mínimo
dez livros com conteúdos diferentes e tente classificá-
los de forma simplificada usando a Tabela CDU.
Registre tudo no seu memorial.

UNIDADE 8 – Catalogação
62
A catalogação é um dos processos técnicos utilizados para se
recuperar informações. É importante se ter em mente que catalogar
é muito mais que registrar itens, ele controla o acervo
com vistas a sua disponibilização, o que faz do catálogo um
canal de comunicação entre a biblioteca e os usuários.
Então para que serve um catálogo?
Para encontrar um livro do qual se conheça o autor, o
título ou o assunto.
Para mostrar o que uma coleção contém com relação a
um determinado autor.
Para mostrar o que uma coleção contém com relação a
uma determinada edição.
Para mostrar o que uma coleção contém com relação a
um assunto.
Os catálogos podem vir dispostos em diferentes formas, tais
como: livros, folhas soltas ou fichas catalográficas, guardadas
em um móvel específico para elas. Aqui, vamos explorar mais
o fichário por entendermos ser o método mais simples.
A escolha do melhor tipo de catálogo depende dos recursos
disponíveis em cada biblioteca, do tamanho do seu acervo e
das características dos usuários que deverão utilizá-lo. Nesse
processo, o catalogador deve ter sempre em mente que a
conveniência do público deve ser colocada à frente da facilidade
dos trabalhos.
Os principais tipos de catálogos, de acordo com a função de
cada um, podem ser:
Catálogo de autor
Reúne todas as fichas, por exemplo, sob as entradas principais
e secundárias de autor (pessoal ou entidade coletiva) e as
remissivas numa única ordem alfabética. Lembre-se que remissiva
quer dizer que você deverá remeter, ou melhor, relacionar,
aqui no caso, o autor ao assunto tratado. Por exemplo,
se o autor Alexandre de Moraes estiver tratando do assunto
direito constitucional, deve-se fazer uma entrada para Moraes,
Alexandre, escrever logo abaixo, ver direito constitucional.
UNIDADE 8 – Catalogação
63
I M P O R T A N T E
Exemplo:
Ficha A
Moraes, Alexandre.
Ver também direito constitucional.
Ficha B
Direito constitucional
Ver também Alexandre de Moraes.
Catálogo de título
Reúne todas as entradas principais (das obras que tem entrada
pelo título) e secundárias (desdobramentos de título) e as
remissivas, em uma única ordem alfabética (alfabetação).
Catálogo de assunto
Refere-se ao conteúdo de cada uma das obras. Facilita para o
leitor a procura de livros sobre determinado assunto e temas
correlatos.
Catálogo dicionário
Apresenta, em uma única ordem alfabética, as entradas de autor,
título e assunto. A alfabetação pode ser feita palavra por
palavra ou letra por letra.
1 Regras para descrição bibliográfica
Mas como se prepara a ficha catalográfica?
A descrição bibliográfica é a representação das características
de um livro, para torná-lo único entre os demais. A catalogação
descritiva baseia-se no estudo do livro, na preparação e na
organização das representações de mensagens (fichas catalográficas).
Para atingir seus objetivos, a catalogação descritiva
deve ser:
Leia mais a respeito dos
catálogos sobre uma visão
histórica em:
http://snbu.bvs.br/snbu2000/
docs/pt/doc/poster004.doc.
UNIDADE 8 – Catalogação
64
a) clara – criando um código de fácil compreensão;
b) precisa – a representação deve referir-se apenas e a um
único livro;
c) padronizada – no sentido de ser sempre usada da mesma
forma para informações semelhantes.
1.1 Regras gerais para descrição
A descrição do livro é feita por partes. Primeiramente se descreve
o título, o subtítulo e a indicação de responsabilidade;
depois a edição e assim por diante. A soma dessas partes
pode chegar até oito, e a adoção de quais partes serão utilizadas,
ou não, dependerá de cada biblioteca e de seus responsáveis.
Como dito anteriormente, uma biblioteca sempre tende a ser
diferente da outra, levando em consideração não só os usuários,
como também o meio no qual está inserida. Daí ser importante
propor um catálogo adaptado à realidade de cada
biblioteca, ou seja, a descrição bibliográfica deve estar voltada
aos desejos dos seus usuários.
Sendo assim, cada ficha catalográfica deve ser descrita de
acordo com as políticas adotadas por cada biblioteca. Abaixo
segue uma descrição simples, porém eficiente, contendo elementos
mínimos.
a) Primeiramente, descreva o nome do autor ou da entidade
responsável pela autoria, seguido de ponto final. Por exemplo:
Silva, Odilon Pereira.
b) Segundo, descreva na linha logo abaixo do nome do autor,
abaixo da 3a ou 4a letra do sobrenome, o título do item seguido
UNIDADE 8 – Catalogação
65
I M P O R T A N T E
de barra inclinada e do nome do autor novamente, agora na
ordem normal, seguido de ponto final. Por exemplo:
Silva, Odilon Pereira.
Manual da CDU/Odilon Pereira da Silva.
c) Terceiro, descreva a edição da obra, seguida de ponto final,
por exemplo:
Silva, Odilon Pereira.
Manual da CDU/Odilon Pereira da Silva.
3. ed.
d) Quarto, descreva o local de publicação, seguido de dois
pontos sem espaço, depois o nome da editora, seguido de
vírgula e, por fim, a data de publicação, seguida de ponto final.
Por exemplo:
Silva, Odilon Pereira.
Manual da CDU/Odilon Pereira da Silva.
3. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 1994.
UNIDADE 8 – Catalogação
66
Seguindo os passos antes descritos, você chegará ao resultado
mostrado na ficha baixo:
Ficha de entrada do autor
Silva, Odilon Pereira.
Manual da CDU/Odilon Pereira da Silva.
3. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 1994.
I. Catalogação
Você já sabe que um acervo pode ser composto por diferentes
coleções, formadas por diferentes itens. Portanto, o catalogador
deve reconhecer o tipo de material que tem em mãos para
que a descrição seja direcionada à coleção correta. Além disso,
deve-se estar atento ao fato de que cada item possui uma
fonte principal de informação, aquela com prioridade sobre
as demais fontes e que fornece os elementos para o preparo
de uma descrição.
1.2 Como montar um catálogo
A descrição catalográfica é uma tarefa necessária para recolher
elementos para a elaboração de um catálogo, instrumento
essencial no processo de comunicação entre a biblioteca e
os seus usuários. Deve ser feita em uma ficha, reunindo todos
os elementos de um único item, julgados necessários pelo catalogador
de acordo com a realidade de cada biblioteca.
Para os catálogos que ficam à disposição dos usuários, as bibliotecas
geralmente utilizam fichas de cor clara, tamanho de
7,5 X 12,5cm, acondicionadas geralmente em fichários. Além
disso, costuma-se furá-las e atravessá-las com um tipo de vareta,
com o objetivo de que as fichas não sejam retiradas do
lugar.
As fichas não podem ser reunidas e colocadas de qualquer
maneira dentro do fichário. É preciso adotar certos critérios
para facilitar sua organização, tais como a ordem alfabética de
autor, do título e do assunto. Essa organização não só facilita
UNIDADE 8 – Catalogação
67
I M P O R T A N T E
para o catalogador, como também facilitará a busca de informações
dos usuários.
Nesse processo, vamos usar outra técnica que será de extrema
importância: a alfabetação.
Alfabetar é colocar em ordem alfabética. O alfabeto usado baseia-
se em 26 letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q,
r, s, t, u, v, w, x, y, z.
Continuando, o arranjo básico das entradas das fichas deve
ser alfabético, considerando palavra por palavra, letra por letra.
Todas as palavras devem ser consideradas com exceção
dos artigos definidos e indefinidos. Veja alguns exemplos de
como proceder na alfabetação nos casos de:
• Nomes compostos
A ordem de colocação de fichas no fichário de duas fichas
com os nomes Santo André e Santo Amaro ficaria na seguinte
ordem:
Santo Amaro; Santo André
• Siglas
As siglas devem ser consideradas como palavras, desconsiderando
os pontos que vêm entre as letras. Por exemplo:
U.R.F.F.A = URFFA
• Abreviaturas
As abreviaturas devem ser alfabetadas como se essas tivessem
sido escritas por extenso. Por exemplo:
Dr. = Doutor; Sr. = Senhor
• Cedilha
A cedilha deve vir sempre após o C.
Ex.: Caca; Caça
UNIDADE 8 – Catalogação
68
• Números
Os números devem ser considerados como se estivessem escritos
por extenso. Por exemplo: 1001= Mil e um.
• Sobrenomes com Mc’, M’, St.
Alfabetam-se como se estivessem escrito por extenso:
Mac, Saint.
McHenry, James = MacHenry, James
Mc’Laren = MacLaren
St. Simon = Saint Simon
Mcdonalds = Macdonalds
• Entrada homógrafa
Reúne-se segundo seu sentido ou função, na seguinte ordem:
Autor (nome próprio) Exemplo: Brasil, Vitor
Autor (entidade coletiva) Exemplo: Brasil. Ministério da
Educação
Assunto Exemplo: Brasil–História
• Cabeçalho de assunto
Para ordenação dos cabeçalhos de assunto cujas partes principais
sejam idênticas, adota-se a seguinte ordem:
a) cabeçalho simples;
Exemplo:
Caça
b) cabeçalho com subdivisões:
– subdivisão de forma (bibliografia, periódica etc.) e de assunto;
– subdivisão de épocas, arranjadas cronologicamente;
– subdivisão geográfica;
UNIDADE 8 – Catalogação
69
I M P O R T A N T E
Exemplo:
Caça – Bibliografia
Caça – História – Séc. XX
Caça – Brasil
c) cabeçalhos seguidos de parênteses;
Exemplo:
Caça (animal)
d) cabeçalhos invertidos;
Exemplo:
Caça, material de
e) cabeçalhos compostos, constituídos por um conjunto de
palavras em ordem direta, com um substantivo e um adjetivo.
Exemplo:
Caça submarina
• Nomes próprios
Os nomes próprios em português, inglês devem ter sua entrada
pelo último sobrenome. Por exemplo:
Machado de Assis = Assis, Machado.
João Guimarães Rosa = Rosa, João Guimarães.
• Nomes espanhóis
Os nomes espanhóis são registrados pelo penúltimo sobrenome,
que corresponde ao nome da família do pai. Por exemplo:
José Oviedo y Banõs = Oviedo y Banõs, José
Francisco Pina Mello = Pina Mello, Francisco
Angel Arco y Molinero = Arco y Molinero, Angel
UNIDADE 8 – Catalogação
70
• Nomes orientais
Nomes orientais (japonês, chineses, árabes etc.) são registrados
ou arquivados tal como se apresentam, separando-se o
primeiro elemento por vírgula. Por exemplo:
Al Ben Hur = Al, Ben Hur
Li Yutang = Li, Yuntang
Mao Tse Tung = Mao, Tse Tung
• Parentesco
Os nomes que exprimem grau de parentesco, como Filho, Júnior,
Sobrinho e Neto são considerados parte integrante do
último sobrenome. Por exemplo:
Antônio Almeida Filho = Almeida Filho, Antônio
Paulo Ribeiro Sobrinho = Ribeiro Sobrinho, Paulo
Henrique Viana Neto = Viana Neto, Henrique
Washington Rocha Júnior = Rocha Júnior, Washington
• Congressos
Os congressos, as conferências, as reuniões etc. arquivam-se
pelos nomes oficiais dos eventos, seguidos do número, data e
local de realização, entre parênteses. Por exemplo:
a) II Congresso de Pintura Moderna, em 1940, no Rio de Janeiro
Registra-se:
Congresso de Pintura Moderna (2.: 1940: Rio de Janeiro)
b) 2a Conferência de Ensino Profissional 1970, São Paulo
Registre-se:
Conferência de Ensino Profissional (2.: 1970: São Paulo)
c) Primeira Reunião de Assessores do Governo, em 1972, em
Belo Horizonte
Registre-se:
Reunião de Assessores do Governo (1.:1972: Belo Horizonte)
UNIDADE 8 – Catalogação
71
I M P O R T A N T E
• Firmas
As firmas devem ser consideradas tais como se apresentam.
Por exemplo:
Álvaro Ramos & Cia. = Álvaro Ramos & Cia.
Barbosa e Santos Ltda. = Barbosa e Santos Ltda.
Pereira Vieira & Irmãos = Pereira Vieira & Irmãos
Serviços auxiliares:
• separar as fichas pelo tipo, isto é, fichas principais (autor) e
fichas secundárias (título, assunto, remissiva etc.).
Observação: essa rotina só se aplica nas bibliotecas
que ainda mantêm catálogos convencionais em fichas.
Nas bibliotecas automatizadas, o catálogo em fichas foi
substituído por listagens (catálogos impressos) que já
são alfabetadas automaticamente pelo sistema automatizado.
Neste caso, você só terá o trabalho de separar e
colocar no lugar devido as listagens específicas de autor,
título e assunto, além de substituí-las quando estiverem
desatualizadas.
Colocação de etiquetas
Agora só falta colocar a etiqueta com o número de chamada:
657
J95a
3.ed.
Agora que você conheceu o processo de organização de uma
biblioteca, é hora de dedicar-se às atividades de dinamização,
assunto da unidade seguinte.
Reúna os livros que você classificou no
“pratique” anterior e experimente fazer a catalogação
deles. Registre tudo no seu memorial.


UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
74
Você viu nas Unidades 1 e 2 o surgimento da escrita e a sua
evolução. Conheceu também os vários tipos de bibliotecas e
como as organizar.
Nestas duas últimas unidades, vamos discorrer sobre a dinamização
da biblioteca e sobre a mediação de leitura. Pois
bem, não há parte mais importante, hoje em dia, na gestão
escolar que a administração da biblioteca, pois é em torno
dela que gira todo interesse da escola moderna. Sem leitura
não é possível iniciar nenhum processo de educação. A leitura
é uma proposta de abertura de portas, de alargamento de
horizontes.
Mário de Andrade, já em 1939, assim se expressava a
respeito:
“A criação de bibliotecas populares me parece uma das
atividades mais necessárias para o desenvolvimento da
cultura brasileira. Não que essas bibliotecas venham
resolver qualquer dos dolorosos problemas de nossa
cultura [...] mas a disseminação, no povo, no hábito de
ler, se bem orientada, criará fatalmente uma população
urbana mais esclarecida, mais capaz de vontade própria,
menos indiferente à vida nacional” (SISTEMA NACIONAL
DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS, 2006).
É sobre isso que vamos tratar nesta unidade.
1 Valorizar o que a escola tem e buscar novos
valores
Como já vimos na Unidade 1, cada escola tem sua biblioteca
ou sala de leitura que funciona de acordo com a modalidade
de ensino oferecido. Cada uma tem também sua história.
Você já teve a curiosidade de saber quando a biblioteca
de sua escola foi criada, quem a organizou? Você
já viu quais são os livros que fazem parte do seu acervo?
Quantos livros desse acervo você já leu? Em que você
pode contribuir com a biblioteca? Qual é a participação
da biblioteca nas demais atividades da escola?
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
75
I M P O R T A N T E
Essas perguntas são um bom começo para você refletir sobre
sua atuação na biblioteca e começar a influir nas programações
culturais e pedagógicas. Nessa nova postura, você poderá
contribuir para que a biblioteca deixe de ser contemplativa
ou complacente para ser cúmplice do processo educativo,
funcionando como complemento e suporte das atividades
realizadas na escola.
Por meio do projeto pedagógico, a biblioteca pode ser um excelente
caminho para desenvolver várias atividades culturais
e ainda ampliar seus serviços para a comunidade.
Por falar em comunidade, a escola deve se valer dos seus mais
variados recursos para atuar de forma participativa e interativa
com o objetivo de ampliar suas relações e firmar parcerias.
Dentre elas incluem os segmentos:
• a comunidade como um todo (pais, alunos e todos os profissionais
que atuam na escola);
• os formadores de opinião e os profissionais dos meios de
comunicação (rádio, imprensa e televisão);
• os líderes comunitários, os sindicatos, as organizações comerciais,
industriais e religiosas;
• as autoridades políticas;
• os artistas e os profissionais liberais, as associações de
classe, as ONGs, os clubes de serviço etc.
É importante você saber que esse tipo de parceria propicia o
envolvimento da sociedade podendo render benefícios para o
fortalecimento da biblioteca. A participação da Associação de
Pais da Escola é um exemplo. Além disso, essa parceria propicia
a aproximação da comunidade com a escola. É importante
que a comunidade perceba que a biblioteca é um bem cultural
que lhes pertence e que dela deve fazer uso, participando das
decisões e dando opiniões.
A escola que não percebe as necessidades da comunidade
e não interage com ela precisa repensar sua prática. É só um
prédio adormecido e pode perder seu lugar de destaque na
comunidade e deixar de aproveitar seu potencial de ação comunitária
tanto quanto sua função específica.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
76
2 Serviços de informação à comunidade
Algumas bibliotecas escolares têm oferecido serviços de informação
à comunidade.
Você pode ajudar nessa tarefa coletando dados sobre assuntos
de interesse da comunidade relativos à saúde, à educação,
ao emprego, à segurança, à legislação, à cultura, ao transporte,
aos serviços de emergência etc. Feito esse levantamento,
é importante categorizar as informações mais importantes
citadas pela comunidade como as dos exemplos que se seguem:
• saúde – informações sobre assistência médica, hospitalar,
saúde bucal planejamento familiar, prevenção de doenças,
vacinação etc.;
• emprego – contatos com as agências de emprego, oferta
de concurso público etc.;
• legislação – obtenções de documentos, direitos e deveres,
assistência jurídica, obtenção de benefícios etc.;
• educação – obtenção de vagas em escolas, alfabetização de
adultos, bolsa de estudos, ensino profissionalizante, concursos
públicos, vestibulares, panfletos educativos etc.;
• cultura – localização dos centros culturais da região, agenda
e divulgação de eventos, oferta de cursos relativos a área
de música, arte cênica, literatura, religião e outros;
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
77
I M P O R T A N T E
• transporte – horários do itinerário dos meios de transporte
da localidade, agendamento de passagens, telefones importantes,
identificação das empresas de transporte etc.;
• segurança – dados relativos a Defesa Civil, Polícia Militar,
Corpo de Bombeiros etc.
Muitas dessas informações não estão prontas para serem oferecidas
de imediato e exigem pesquisas e atualizações permanentes.
Além disso, surgem informações que implicam segurança
e saúde das pessoas necessitando de ampla divulgação
como no caso de um surto de dengue, hantavirose ou uma
catástrofe inesperada.
Como profissional da educação você tem um papel importante
na circulação e na veiculação dessas informações e deve reservar
um local de destaque para divulgá-las, como no quadro
de avisos e até mesmo na rádio comunitária. E dependendo
da importância da informação, estender aos murais das igrejas,
outras escolas e demais instituições de grande circulação
de pessoas.
2.1 Trabalhando com eventos culturais
Você acha que é necessário apenas ter os livros para formar
leitores?
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
78
É claro que não!
É importante lembrar que, nem sempre, oferecer acesso ao livro
contribui para a prática efetiva da leitura. A biblioteca precisa
ser dinâmica, buscar estratégias que atraiam os alunos,
os professores e os demais funcionários da escola, para favorecer
as mais diversas formas de expressão cultural e apropriação
de linguagens.
Podemos trabalhar com cursos de extensão, oficinas literárias
e de literatura, hora do conto, sarau literário, exposições artísticas,
apresentações teatrais, musicais e demais eventos. Essas
atividades fazem parte da dinamização da biblioteca.
Para uma biblioteca ser dinâmica você deve observar:
• o calendário cultural;
• o perfil cultural da comunidade escolar;
• a qualidade do evento e sua relação com a leitura;
• o tempo de duração que não poderá ser extenso e deverá
obedecer a um cronograma preestabelecido para não prejudicar
o bom funcionamento da biblioteca;
• o horário adequado à atividade;
• a freqüência ou a repetição de apresentação de uma mesma
atividade;
• os recursos para a realização do evento, desde mesas, cadeiras,
microfone, TV, vídeo etc.;
• a divulgação.
Para cada atividade programada, você deve fazer um relatório
de avaliação, identificando pontos positivos e negativos e,
quando possível, fazer em conjunto com os participantes.
É importante lembrar que, para uma boa repercussão destas
atividades, é fundamental que as propostas atendam aos interesses
da escola e da comunidade envolvida para que possam
resultar positivamente na circulação de bens culturais, na socialização
de idéias e experiências.
O projeto de dinamização deverá ter como estratégia de ação
o envolvimento da comunidade e de todo o segmento escolar,
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
79
I M P O R T A N T E
objetivando detectar na área cultural os talentos locais. Após
mapear esses talentos e áreas de atuação, é importante convidá-
los a participar inclusive na elaboração das propostas
de uma agenda cultural que poderá ser mensal, semestral ou
anual.
Essa agenda poderá contemplar oficinas, tais como as exemplificadas:
Hora do conto ou contação de história – por meio da arte da
contação de histórias, procura seduzir o ouvinte à palavra
escrita.
Porcelana fria ou biscuit – confecção de personagens da
obra da literatura brasileira por meio do conhecimento teórico–
prático.
Meia de seda – com técnicas usando recursos simples como
a meia de seda confecciona-se trabalhos manuais relacionados
às datas comemorativas do calendário brasileiro.
Caixas artesanais – confecção de caixas de papelão com
várias formas e divisórias, para serem utilizadas como portas-
jóias, porta objetos para presente.
Saraus literários – por meio da música e da leitura dramática
de poesias, o evento propõe temas específicos da literatura
brasileira (as diversas escolas literárias, centenários de
nascimento ou de morte dos poetas, datas comemorativas
etc.).
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
80
Origami – arte milenar de dobradura em papel muito apreciada
por jovens e adolescentes. A atividade pode ser relacionada
à confecção de personagens da literatura.
Apresentação teatral – apresentação de histórias utilizando
vários recursos que valorizem a cultura local.
Encontro com o escritor – por meio de oficinas literárias e
leituras das obras, o leitor é preparado para o encontro com
o escritor. A intenção é aproximar o leitor do livro e do seu
criador.
Fuxico – por meio de retalhos de tecidos confeccionam-se
bolsas, capas de almofadas, blusas, colchas de cama e outros
artigos artesanais.
Bonecos – confecção, manipulação, estudo e conceito de
bonecos.
Pintura em tela – noções básicas de pintura acrílica e em
óleo, utilizando temas inspirados na literatura brasileira.
Máscaras – confecção de máscaras teatrais e folclóricas individuais
e personalizadas, além do estudo sobre as várias
formas e suas aplicações.
Concurso de poesia – é uma forma de incentivar a produção
literária na biblioteca.
Palestras e seminários educativos – podem ser de temas
atuais ou de acordo com as necessidades da comunidade.
Por exemplo: DST/Aids, uso indevido de drogas, gravidez
na adolescência etc.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
81
Você deve ter a preocupação com a divulgação das
atividades desenvolvidas pela biblioteca escolar, seus
serviços e produtos para que ela possa se transformar num
ponto de referência para a comunidade.
3 Mediação de leitura
Leitura
Bom, agora vamos refletir sobre o que mais estamos fazendo
durante este curso: leitura. Todo mundo reconhece a importância
da leitura no desenvolvimento da inteligência e na busca
de conhecimento. Mas afinal o que é leitura?
Antes de prosseguir neste capítulo, peço que você
pare um pouquinho e pense: como e quando foi que você
aprendeu a ler? Em que a leitura o ajudou e ainda ajuda
na sua vida?
Quando falamos em leitura, logo nos remetemos à idéia de
uma pessoa concentrada com um livro ou um jornal na mão.
Imaginamos letras e mais letras. Pois bem, leitura é o que você
está fazendo agora, mas leitura abrange outros significados, é
muito mais do que imaginamos.
Quando escutamos a melodia de uma música estamos fazendo
leitura. Quando admiramos uma pintura de um quadro,
quando sentimos o sabor de um chocolate, quando sentimos
o cheiro da terra molhada pela chuva, quando sentimos o frio
de uma pedra de gelo na mão, enfim, tudo o que sentimos,
vemos e ouvimos passa pela leitura.
E essa leitura de vida que fazemos a todo instante nos ajuda
a fazer a leitura das letras, dos sinais gráficos espalhados ao
nosso redor.
Partimos da constatação que a leitura do mundo precede a
leitura gráfica, como já dizia Paulo Freire. Se não pudermos
acrescentar ao ato de ler as nossas vivências e as leituras do
mundo, pouco nos servirá o esforço e o tempo despendido
nessa tarefa.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
82
Imagine uma pessoa que não sabe ler. Como seria
andar pelas ruas e se deparar com tantas placas de sinalização?
Como seria pegar um ônibus? Como seria procurar
o endereço de algum lugar?
Na medida em que a transmissão da informação está cada dia
mais eficiente, os indivíduos que se encontram distantes da
leitura sem competência para procurar e selecionar as informações
de que necessitam se tornam potencialmente excluídos
dos processos produtivos e sociais.
Assim, sendo a leitura um dos principais elementos para o
crescimento intelectual do indivíduo, podemos dizer que é
pela formação do leitor que se constrói a cidadania e promove
a capacidade de discernimento, a criatividade, a lógica e a
pesquisa.
“Nada, porém, por mais avançado tecnologicamente que
seja, pode substituir o livro nesse ato de aprimoramento
da inteligência humana que é a leitura, certamente
porque não há tecnologia que supere essa inteligência”
(BELOTTO, 2004).
Saber ler implica não só aprender a decodificar sinais gráficos,
juntar letras, mas também aprender a descobrir sentidos. Saber
ler é compreender e não simplesmente decifrar. Quando
fazemos a correspondência letra–som não podemos dizer que
estamos realizando uma atividade de leitura. As pessoas que
identificam as letras, mas não são capazes de dar significados
a elas, isto é, não compreendem o que lêem, são chamadas
de analfabetos funcionais.
Ler é um processo em que o leitor é instigado a desenvolver,
por meio do trabalho mental entre as unidades de pensamento,
a construção de significados com base nos conhecimentos
já incorporados no seu repertório. Significa estabelecer vínculos
entre um número cada vez maior de informações. Ler
é, portanto, transformar a mensagem escrita em mensagem
sonora, compreender, analisar e associar com a realidade.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
83
De acordo com a Unesco, é considerada alfabetizada
funcional a pessoa capaz de utilizar a leitura, a
escrita e as habilidades matemáticas para fazer frente às
demandas de seu contexto social e utilizá-las para continuar
aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida.
Você sabia que enquanto você realiza esta atividade de leitura,
um número infinito de células cerebrais está em funcionamento?
Que durante o processo de leitura seu cérebro está em
grande atividade? Pois é verdade, ele precisa combinar, ao
mesmo tempo, os sinais gráficos e as unidades de pensamento
que constituem a linguagem.
Só depois de dominadas essas duas dimensões da leitura é
que se pode afirmar que se adquiriu verdadeiramente a competência
de leitura.
Para se compreender o que se
lê, para além da imprescindível
decodificação de sinais gráficos,
é também importante conhecer
o vocabulário, bem como estar
familiarizado com a estrutura do
texto e possuir algum conhecimento
relativo ao assunto. Você
já se imaginou lendo um texto
jurídico ou um texto médico?
O que você seria capaz de entender?
Assim, para que os alunos que freqüentam a biblioteca da sua
escola possam ter uma boa formação de leitores, é importante
que encontrem sentido naquilo que lêem, é essencial que os
textos selecionados tratem de assuntos que conheçam que
façam parte de suas conversas e que o vocabulário seja relativamente
conhecido. É essencial colocar diante deles textos
criativos que os levem a sentir o prazer da leitura.
A leitura é completa quando o leitor é capaz de viver o texto,
dialogar com as palavras impressas, quando ele consegue
entrar no imaginário do autor refazendo o percurso da criação.
Todo bom leitor é um co-autor, pois recria o texto de
acordo com suas vivências e constrói uma visão mais ampla
de mundo.
Quando a leitura acontece de verdade, ela é capaz de nos
transportar a outros lugares, situações, tempos passados e
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
84
futuros. Isso mesmo: ler é viajar sem sair do lugar. É uma aventura
do espírito, algo que mergulhamos e até nos esquecemos
do momento presente.
Você é capaz de se lembrar de algum livro que o fizessem
sentir assim, como um viajante? Que mesmo sem
conhecer um determinado lugar, sentir como se já o conhecesse?
De chorar ou de sorrir com o personagem?
O livro é o passaporte do leitor e sem que a gente perceba,
ele permite a saída do local onde estamos estáticos. É também
o transporte que nos carrega por horizontes que talvez
nem sequer o autor tenha imaginado. E é, ainda, o nosso olho
que nos faz ver coisas com os olhos da alma. Nos faz refletir,
contestar, concordar, esclarecer dúvidas, nos traz alegrias e
tristezas, desperta diversos sentimentos, enfim nos faz mais
humanos.
Faça uma entrevista na sua comunidade e
recolha as melhores impressões que as pessoas já tiveram
ao ler um livro. Não se esqueça de anotar o nome
do livro e do autor. Registre tudo no seu memorial.
3.1 O papel do mediador de leitura na formação do leitor
E agora? O que vem a ser mediador de leitura?
O mediador de leitura é o agente que apresenta e aproxima o
livro de forma prazerosa ao leitor. Ele introduz o leitor no mundo
mágico da leitura e compartilha com o leitor o prazer de ler,
de conhecer e de descobrir o que os livros têm a oferecer.
O mediador de leitura é, também, um agente cultural de leitura
e tem diversas funções na biblioteca. Ele conta histórias
para crianças, ou simplesmente as lê, seleciona e expõe livros
de interesse para adolescentes, faz recital de poesias, planeja
rodas de leituras para os adultos, divulga recados, opiniões,
dicas e textos literários em murais, promove debates, apresenta
as novidades do mercado editorial, enfim, ele dinamiza
a leitura.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
85
Você se sente um mediador de leitura? Quais atividades
você pode desenvolver na biblioteca escolar que
aproxime o leitor da leitura?
Todas as atividades desenvolvidas pelo mediador de leitura
devem ser realizadas de forma natural. A leitura deve fluir sem
a cobrança estabelecida no conteúdo pedagógico escolar ou
familiar, mas como algo prazeroso e instigante. O livro deve
ser visto como um objeto lúdico, não como algo impositivo.
“A idéia de que a leitura vai fazer um bem à criança ou ao
jovem leva-nos a obrigá-los a ler, como lhes impomos a
colher de remédio, se coagido, tendo de ler uma obra que
não lhe diz nada, tendo de submeter-se a uma avaliação,
e sendo punido se não cumprir as regras do jogo que ele
não definiu, nem entendeu. É a tortura sutil e sem marcas
‘observáveis a olho nu’, de que não nos damos conta”
(CUNHA, 1999, p. 51).
É muito importante que todas as pessoas comprometidas
com a formação de leitores tenham bem clara essa postura de
relacionar a leitura com o prazer.
Pesquise na sua escola o que pensam os
professores, os coordenadores pedagógicos e os próprios
alunos sobre a questão de impor títulos para a leitura.
Registre no seu memorial.
Cabe também ao mediador de leitura preparar o local e acolher
a comunidade escolar. Ele deve estar preparado para receber
os diversos tipos de leitores e os não-leitores.
Seu trabalho pode ser comparado ao do agricultor que consiste
em preparar a terra, adubar, jogar as sementes, irrigar e
mais tarde colher. O mediador prepara o local, deixa-o agradável
e receptivo. Depois o enche de livros e textos. E começa
a jogar as sementes: lê, conta, dramatiza histórias, declama
poesias, explora as ilustrações e realiza outras atividades criativas.
Então, precisa cuidar, irrigar o pensamento periodicamente,
não deixar secar o imaginário e a fantasia. É o momento
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
86
de estar sempre seduzindo, chamando para novas atividades.
E, enfim, o mais gostoso, compartilhar os frutos daqueles que
foram germinados e, deste momento em diante, passam a ser
autônomos e buscam livremente suas leituras.
Pode parecer árduo o trabalho do mediador de leitura, mas,
com certeza, se ele for um leitor apaixonado, essas tarefas
serão prazerosas, pois a cada dia novas descobertas vão surgindo.
Os próprios leitores vão trazendo as novidades e tornando-
se amigos, colaboradores da leitura e muitas vezes
nem percebem seu envolvimento, tamanha a satisfação em
compartilhar.
Pode-se dizer, ainda, numa nova comparação, que a tarefa
principal do mediador de leitura é descobrir o leitor que há em
cada pessoa. Descobrir é um jeito de expressar, pois a leitura
já está em cada indivíduo de forma natural. Como bem explica
Aguiar (2001, p. 36):
A idéia contida na palavra descobrir remete a muitos
significados. Por exemplo, todo mundo já ouviu falar
que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, mas, na verdade,
todo mundo sabe que o Brasil sempre esteve aqui,
mesmo antes dos portugueses tomarem posse da terra
[...].
A autora compara esse descobrir com o descobrir a leitura,
afirmando que a leitura já mora no leitor e, nós, nos diversos
papéis que representamos, como pais, professores, educadores,
bibliotecários e mediadores de leitura, temos de ajudar o
outro na sua descoberta.
No mais, cabe ao mediador: planejar, convidar e recepcionar
a comunidade ao deleite da leitura.
3.2 O perfil do mediador de leitura
O perfil de quem quer ser um mediador de leitura na biblioteca
escolar deve ser, antes de qualquer coisa, de um leitor. Isso
mesmo! Como ele poderá mediar a leitura sem ler?
O mediador antes de qualquer outra coisa deve conhecer seu
produto: o livro. Ele deve saber quais são os principais títulos
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
87
I M P O R T A N T E
de sua biblioteca, quais obras podem seduzir melhor seu leitor,
ou seja, a comunidade escolar.
O mediador de leitura deve estar bem informado e buscar a
solução dos problemas que impendem o leitor de encontrar a
leitura. É preciso que ele tenha uma sensibilidade para a criação
de um ambiente adequado e prazeroso ao seu público.
Como é a biblioteca da sua escola? Onde ficam
guardados, por exemplo, os livros de literatura? Estão de
encontro com os olhos do leitor ou estão na última prateleira,
empoeirados?
O mediador de leitura deve estabelecer um canal de comunicação
eficaz, com uma linguagem de fácil compreensão,
atraindo o leitor para o contato com o livro e com a leitura,
sentando junto, acompanhando as reações, estabelecendo laços
de intimidade com a palavra escrita e com o objeto livro.
Para o mediador de leitura, o ato de ler deve ser um ato de
paixão, paixão essa que não pode se desligar da sua formação
e das estratégias de sedução ao livro. O que deve ser transmitido
ao leitor, por meio desse envolvimento forte e ao mesmo
tempo espontâneo, é a competência que o fará ser leitor e
que lhe dará, no futuro, uma autonomia para saber escolher,
selecionar, criticar e ser agente construtor e transformador na
sociedade.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
88
O mediador deve conhecer o acervo para poder oferecer o
que há de melhor para seu público. Às vezes, um livro de má
qualidade pode desestimular aqueles que ainda não são leitores
cativos. Isso mesmo, há sim livros mal elaborados, com
ilustrações malfeitas, com textos pobres e edições defeituosas.
Mas vale ressaltar que, embora cada vez mais o mercado
exija qualidade e inovação editorial, ainda podemos nos deparar
com livros ruins.
Saber indicar o livro adequado à faixa etária também é importante.
Já pensou que desastre seria oferecer uma leitura elevada
ou muito densa para um público iniciante? Ou um texto
simples, sem desafios, a um público jovem que necessita de
mais emoção?
Contudo, temos de ter atenção, pois na formação do leitor não
basta a indicação do livro, é preciso mostrar-lhe que ler é uma
atividade enriquecedora, é preciso dar-lhe a oportunidade de
ter experiências gratificantes com a leitura.
Nesse contexto, para ser um bom mediador, é necessário estar
aberto também ao aprender e buscar as diversas atividades
que são oferecidas para sua formação, como: cursos de
atualização, qualificação, participação em eventos literários,
feiras de livros, noites de autógrafos, seminários e, ainda, estar
atento aos grandes lançamentos editoriais.
Outro detalhe importante é a interação do mediador com a
comunidade em geral, com escola e com a família. Quando
existe essa interação é mais fácil perceber as necessidades e
as dificuldades de leitura apresentadas por quem está no começo
da atividade leitora.
Apesar de a escola ter um papel importante na formação de
leitores, nem sempre é neste espaço que ocorre o encantamento
do leitor com o livro. A escola e a biblioteca necessitam
de uma maior articulação com a família, devendo os pais ser
sensibilizados para esse processo. Lembrando que o domínio
e a prática de leitura são fatores responsáveis e essenciais
para o sucesso acadêmico de qualquer estudante e cidadão.
Quem sabe você consiga trazer todos os profissionais da escola,
pais, enfim, a comunidade escolar para a biblioteca?
Parece ser muito exigir tudo isso do mediador de leitura. Nem
sempre conseguimos reunir todas essas qualidades no mediador,
mas com certeza uma que não pode faltar é a de leitor
apaixonado. Sem essa condição nada pode ser feito para
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
89
formar leitores. O aprimoramento do perfil ideal, depois de
saber da sua importância, pode ser trabalhado aos poucos.
Procure fazer uma pesquisa sobre os cursos,
palestras, feiras, oferecidos na sua cidade que
poderão ajudar você a desenvolver melhor seu trabalho.
Registre o que for relevante no seu memorial.
3.2.1 Conhecendo a comunidade leitora
Conhecer quem freqüenta a biblioteca da sua escola é muito
importante. É por meio desse conhecimento e convivência
que o mediador de leitura planeja suas atividades de leitura.
Faça um relatório de quantas pessoas freqüentam
diariamente a biblioteca da sua escola.
Qual a idade do seu público. O que fazem: são apenas
alunos? Qual a principal atividade que estas pessoas
procuram na biblioteca? Em seguida, registre esta informação
no seu memorial.
Para fazer um bom trabalho você vai precisar mapear quem
é o usuário da biblioteca escolar e perceber em que fase de
leitura ela está incluída. Para isso, você pode começar fazendo
uma observação com o objetivo de permitir o diagnóstico e o
que realmente esse usuário quer, o que pode ser bem diferente
do que a biblioteca oferece.
Você deve saber a idade, a escolaridade, a relação de cada
um com a leitura, o espaço que ela ocupa neste meio e sua influência
na formação dos estudantes. Você poderá investigar
também as particularidades da comunidade em que o aluno
ou o usuário está inserido, a cultura local entre outras informações.
Esse é um bom começo para determinar as estratégias
de elaboração de um plano de ação de leitura.
Quer ver? Se você sabe, por exemplo, que os alunos da sua
escola estão colecionando algum álbum de figurinhas, é hora
de você procurar alguma atividade que chame a atenção destes
leitores para a biblioteca, fazendo um mural de troca-troca,
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
90
divulgando alguma curiosidade sobre este hobby e é claro
contar uma história em que o personagem é um colecionador.
Mas, se os alunos já são maiores e tem uma banda musical
fazendo sucesso entre eles, é hora de tirar proveito dessa
situação e propor um sarau, comparar a letra com outras de
autores conhecidos, divulgar as letras destas músicas etc.
Com certeza na biblioteca da sua escola já têm alguns leitores
declarados. Então, você deve ter o cuidado em respeitar a
maturidade intelectual desses leitores. Assim que as palavras
lidas começam a ter um significado e a interferir no modo de
pensar e viver, o leitor passa por uma nova fase de descoberta:
o da autonomia de escolha. Nesse estágio, raramente o
mediador precisará intervir na decisão do leitor. Seu papel de
mediador limitara-se-á a apoiar e a provocar a reflexão sobre
o texto lido.
Agora, para o leitor iniciante nem sempre está bem definido
o gênero literário que lhe dará prazer. Vai ser preciso dar-lhe
oportunidades de leituras variadas e seduzi-lo com bons
livros. É importante que se criem condições de leitura e as
mais variadas formas de incentivá-la.
Para melhor atender a sua comunidade, o mediador precisa
observar como age cada usuário. É muito particular a maneira
como cada um escolhe, seleciona, vê, lê ou comenta os livros.
Há aqueles que, a cada tempo, param e olham o que está a
sua volta e outros que mergulham na história num fôlego só.
Uns gostam de ler deitados, outros sentados ou recostados.
Alguns folheiam muitos livros ao mesmo tempo, quase que
simultaneamente, outros lêem um de cada vez. E assim, com
essa diversidade de jeitos e maneiras, entram em contato com
o universo de livros e histórias.
O conhecer requer, então, a observação cuidadosa
dos usuários, a manifestação da cultura local, as formas
de se comportar diante do livro, o nível de maturidade de
leitura, as preferências na escolha do gênero literário. Enfim,
o que se espera do mediador após este conhecimento
é que ele saiba respeitar a individualidade de cada um e
aproveitar esse trunfo para planejar a atividade que mais
se adéqua a cada leitor.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
91
Observe o comportamento dos alunos na
biblioteca, o modo de segurar o livro, como escolhem
o título, qual o lugar preferido na biblioteca etc.
Registre no seu memorial.
3.3 O mediador de leitura versus leitor infantil
Hoje, muitas reflexões são feitas sobre a importância da inserção
do homem na sociedade da informação e, nestas, pouco
se reflete, também, sobre a mesma importância no desenvolvimento
infantil.
Então, seja qual for a sua opinião, gostaria que você pensasse
sobre as crianças da sua escola ou da sua comunidade. O que
se tem feito para que essas crianças tenham acesso à informação?
Quais os tipos de informação estão sendo disponibilizadas
a essas crianças?
Ao mesmo tempo em que pouco se pensa nas crianças, percebemos
que elas estão se apropriando do mundo tecnológico
cada dia mais e cada vez mais cedo e constatamos que é com
muita tranqüilidade que as tecnologias lhes são apresentadas:
televisão, videogame, telefone celular, computador etc.
É evidente que as tecnologias podem nos proporcionar informações
e uma melhoria na qualidade de vida. Podemos ver o
que acontece do outro lado do mundo, em tempo real, pelo
noticiário da TV, pelo rádio, pela internet etc. Acontece que
hoje é comum para a criança que tem acesso ao computador,
passar da condição de leitor para a condição de internauta sem
estar totalmente com as competências leitoras adquiridas.
Mas o que há de mau nisso?
Acontece que falhas no processo de formação do leitor infantil
podem, no futuro, gerir um usuário dessas tecnologias com
diversas deficiências e sem o senso crítico necessário para
sua promoção e participação na sociedade.
Mas por que a preferência pela opção eletrônica?
Porque enquanto o livro exige esforços que demandam tempo,
que precisam de concentração, raciocínio, reflexão, dedução
e, até mesmo, certa cumplicidade com o autor, os
meios eletrônicos oferecem uma dinâmica pronta, animada,
exigem mínimos esforços do telespectador como o de apertar
botões, alimentando a mais danosa inclinação do ser humano,
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
92
ou seja, a lei do menor esforço, que, se constantemente atendida
e estimulada, instiga à preguiça, à dispersão e à falta de
concentração.
Dessa forma, para quem não descobriu o mundo maravilhoso
dos livros, por que se dar ao trabalho de imaginar uma
situação que pode ser vista em cores, em movimento e até
musicada?
Veja bem qual é a responsabilidade do mediador de leitura.
Conhecedor dos atrativos das tecnologias, ele precisa planejar
atividades dinâmicas, divertidas, fazer com que o livro ganhe
seu espaço junto às crianças de forma lúdica e espontânea.
As crianças possuem uma imaginação fértil, livre de preconceitos,
e uma vez estimuladas apresentam grande potencial
de leitura. Elas, geralmente, estão abertas as novas estruturas
e se adaptam com facilidade às novidades apresentadas.
Quando a criança ainda não sabe ler, o mediador de leitura
deve ser o porta-voz dessa comunicação. Ele poderá abrir as
janelas do imaginário e da vontade de, por si próprio, fazer as
descobertas, conhecer as letrinhas que contam e encantam.
Jean Piaget estudou inicialmente biologia, na Suíça, e posteriormente
se dedicou à área de psicologia, epistemologia e educação, professor de
psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954. Ele é conhecido
principalmente por organizar o desenvolvimento cognitivo em uma série de
estágios.
Segundo Piaget (1975), o desenvolvimento cognitivo
está atrelado à capacidade de criar símbolos, a qual
depende da imitação, do jogo, do sonho e da representação.
Nos primeiros anos escolares, as crianças estão em
plena fase do jogo simbólico, e a literatura pode ser importante
aliada no desenvolvimento cognitivo, pois ativa
a função simbólica, o imaginário, a linguagem, a
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
93
I M P O R T A N T E
compreensão do mundo por meio do faz-de-conta.
Na literatura, a criança preenche significados e recria o
mundo por meio do conhecimento e da emoção.
Você é capaz de lembrar de algum personagem ou de alguma
história que tenha ouvido na infância?
A criança, por meio da literatura, desenvolve a criatividade, a
personalidade, a intelectualidade e a afetividade, organizando
sua realidade e resolvendo seus conflitos por meio da repetição
da solução apresentada nas histórias (é por isso que, às
vezes, as crianças pedem tanto para repetir a mesma história).
Quando as crianças chegam ao momento de escolaridade em
que, já alfabetizadas e com conhecimentos suficientes sobre
a linguagem escrita, experimentam novos desafios de leitura.
Elas ainda necessitam do mediador de leitura que seleciona
o que há de melhor e oferece uma variedade de textos e gêneros
literários até que ela defina suas preferências e adquira
uma autonomia.
O leitor infantil deve ter um tratamento especial e diferenciado
na biblioteca, pois carrega um potencial de leitura que quando
bem trabalhado se estende por toda a vida. E é claro que,
no futuro, terá as habilidades necessárias para um bom aproveitamento
das ferramentas tecnológicas disponíveis e, certamente,
sua participação na construção da cidadania se dará
de forma ativa.
Considerações e breve histórico sobre a literatura infantil
Embora o livro infantil seja, muitas vezes, confundido com
tantos outros objetos culturais ou apenas lúdicos, feitos ou
adaptados para crianças, como jogos, brinquedos, CD-ROM;
a literatura infantil é uma modalidade artística, que possui características
estéticas como qualquer outra obra.
Por ser infantil, o livro não diminui seu valor, pois sua elaboração
exige do autor igual empatia às demais formas literárias.
É uma produção artística quando se vincula ao interesse e à
realidade do pequeno leitor. Um bom autor é capaz de ver o
mundo por meio dos olhos da criança e ajudá-la na ampliação
deste olhar em outras direções.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
94
Quais autores infantis você conhece? Faça
uma pesquisa e relacione no mínimo dez autores
mais reconhecidos e suas obras. Registre no seu memorial.
Para compreender o papel da literatura infantil e sua capacidade
de informação, precisamos conhecer sua trajetória e refletir
sobre o quanto ela vem crescendo e mudando de enfoque,
libertando os preconceitos e contribuindo para uma nova mentalidade.
Podemos dizer que o aparecimento da literatura infantil foi
marcado no século XVIII, lembrando que anterior a este período
já tínhamos algumas obras que embora não elaboradas
para crianças, também serviam para este fim, como as obras
de La Fontaine (1669-1691), Fenelon (1717), Charles Perraut
(1697) e, na Idade Média, os contos de fadas, que tinham função
de expressar, de forma simbólica, os conflitos dos camponeses
e, por isso, demorou algum tempo para serem recontados
às crianças.
Surgiu, então, na sociedade européia com a ascensão da burguesia,
uma nova ordem social e cultural. Logo, a educação
passou a ser de fundamental importância como formadora de
competência para o trabalho e, dele, obtenção de lucros. As
crianças, então, começaram a ganhar atenção e, conseqüentemente,
a literatura infantil ganhou força como proposta burguesa
de formar mentalidades e de impor sua ideologia.
No Brasil, as primeiras edições tiveram marco no século XIX,
com a implantação da Imprensa Régia e consolidou-se a partir
da Proclamação da República. Segundo Zilberman (1993,
p.15), “antes das últimas décadas dos oitocentos, a circulação
de livros infantis era precária e irregular, representada principalmente
por edições portuguesas. Só aos poucos é que estas
passaram a coexistir com tentativas pioneiras e esporádicas
de traduções nacionais como as de Carlos Jansen”.
Mas a grande novidade ocorreu com a publicação, em 1921,
de A menina do narizinho arrebitado, por Monteiro Lobato.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
95
“Usando uma linguagem criativa, Lobato rompeu
a dependência com o padrão culto: introduziu a oralidade
tanto na fala das personagens como no discurso do
narrador. Em seus textos, o discurso flui espontaneamente,
com o resgate da situação original que dá sentido ao
processo comunicativo” (AGUIAR, 2001, p. 25 e 26).
De 1945 até meados da década de 1960, pouco avançou em
termos de criatividade literária. Como afirma ainda Aguiar
(2001, p. 26 e 27), “o modelo lobatiano de contar histórias foi
absorvido pelos novos autores e repetido à exaustão, sem
qualquer inventividade ou preocupação em retratar a diversidade
cultural brasileira no seu linguajar próprio”.
Nos anos 1960, a literatura infantil sofreu as influências da revolução
militar e muitas obras serviram de instrumento por
onde vozes adultas, tolhidas, expressaram os não-ditos da sociedade
de então, ou seja, aquilo que gostariam de dizer e não
podiam por causa da censura. Surgiram, daí, obras de grande
criatividade no uso de metáforas e símbolos.
Com a reforma do ensino, nos anos 1970, o livro passou a ser
privilegiado e a criança, um consumidor em potencial. Duas
vertentes marcaram a literatura infantil nessa época: a primeira
propiciou edições de qualidade gráfica e estética com textos
renovados por meio da reescrita dos contos de fadas, das
obras que polemizam a realidade social e o cotidiano infantil,
da construção de personagens com profundidade psicológica,
e a segunda, de obras sem muito significado para o mundo
da criança.
Você conhece os clássicos da literatura infantil?
Relacione alguns títulos. Verifique quais títulos
têm na biblioteca da sua escola. Registre no seu memorial.
A edição editorial de hoje é muito rica e novos autores despontam
trazendo textos cada vez mais próximos da realidade
da criança. Porém, encontramos quantidade e qualidade na
literatura infantil, na qual grande produção de textos estereotipados
compete com sucesso de edições bem elaboradas e
criativas.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
96
3.4 O leitor infanto-juvenil
Bom, aos poucos vamos saindo da fantasia dos contos de fadas,
das bruxas e dos duendes, do maravilhoso para chegar
numa nova fase: a adolescência. Você já reparou como os
adolescentes são bonitos?
É normal que eles procurem novas turmas, novas formas de
se comunicar e se vestir. Pouco a pouco vão tomando consciência
da própria personalidade, passam por transformações
físicas e psicológicas, entram numa fase de conflitos, buscam
a independência e a auto-afirmação, e tudo isso reflete também
na sua atitude como leitor.
Você se lembra de sua adolescência? Como se expressava?
Quais gírias eram usadas? E qual era a moda da
época? E o que pensava dos mais velhos?
Pois é, precisamos entrar no mundo dos adolescentes para
entendermos suas expectativas em relação à leitura e o que
pensam a respeito do momento atual e do futuro.
Aliás, se durante sua infância o adolescente recebeu os estímulos
necessários para sua formação de leitor, naturalmente
ele terá a leitura como referência na aquisição de informação
e lazer. Você não terá muito trabalho, ele por si buscará o que
necessita. Mas se ele não teve essa oportunidade, então, o
mediador de leitura poderá ser seu agente condutor e descobridor
das possibilidades infinitas da leitura.
A adolescência é uma fase de descobrimento do próprio mundo
interior, do egocentrismo crítico, do desenvolvimento de
um plano de vida e várias escalas de valores. Entre tantas diferenças,
meninos e meninas começam a divergir entre gostos.
O interesse desses leitores pode ser despertado, principalmente,
por meio do enredo, dos acontecimentos cheios de aventuras.
É nessa fase que começam a andar em grupos, surgindo as
influências na escolha de roupas, músicas e, é claro, da leitura.
Normalmente procuram livros de aventuras, romances
sensacionais e livros de viagens.
Mas não podemos generalizar, já vimos que cada um tem um
gosto diferente e que eles estão a procura do novo (que, de
repente, até já é velho para nós). Por isso, a biblioteca precisa
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
97
I M P O R T A N T E
de livros de natureza variada, pois a diversidade representa
uma grande contribuição ao enriquecimento cultural desse
público. Poesia, conto, notícia, crônica, romance, teatro, histórias
em quadrinhos, receita, parlenda, piada, texto informativo
etc. São inumeráveis os tipos de textos que podem fazer parte
do acervo infanto-juvenil.
Quando o leitor adolescente é exposto a diversos tipos de
leituras, aumentam as possibilidades dele se tornar capaz
de exercer sua autonomia e amadurecer suas competências
como leitor. Ele começa a selecionar o que lhe interessa, a ser
mais crítico e a exigir a leitura com mais conteúdo, mais argumentos
e mais possibilidades de interpretação.
É preciso colocar o adolescente em situações em que ele possa
observar e analisar a diversidade de materiais que a língua
oferece, seja em termos de ritmo e sonoridade, seja em termos
de significação. É necessário apresentar o texto literário
como uma obra de arte, que é desenhada e imaginada.
Faça uma pesquisa para saber como os
adolescentes estão vendo o mundo. Observe-os
seus gestos e hábitos conversando. Pergunte a eles
sobre as novidades do cinema, sobre as músicas, sobre
os esportes. Você vai precisar dessas informações na
hora de preparar alguma atividade de dinamização e
recomendar algum título para leitura. Anote as considerações
no memorial.
3.5 Planejamento de atividades de leitura
Para você o que é um planejamento?
É possível privilegiar a leitura por meio da elaboração de um
planejamento que contemple atividades de dinamização na
biblioteca. Assim, poderemos proporcionar aos usuários o estímulo
para uma formação permanente. Uma vez encantado
com o livro, o leitor passa a ter autonomia e independentemente
das ações motivadoras, ele será sempre leitor.
É fácil entender essa afirmação. Pense no que mais gosta de
fazer. Você precisa ter alguém motivando-o o tempo todo para
fazer o que gosta?
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
98
Voltando ao planejamento, podemos dizer que são
inúmeras as atividades de dinamização de leitura que
cativam o leitor e já falamos neste assunto: hora do conto,
sarau literário, sarau poético, roda de leitura, encontro
com o escritor etc. Aqui algumas atividades serão sugeridas,
mas a criatividade do mediador deve ser aflorada.
Planejar envolve a clareza de objetivos, conhecer o públicoalvo,
saber com que espaço e organização contar, como será
feita a divulgação do evento, quais os livros e as melhores
estratégias a serem utilizadas. Quem escolher como parceiro.
Para que o planejamento dê certo, é de fundamental importância
envolver a comunidade na proposta pedagógica.
Planejar atividades de leitura não é muito diferente. Você precisa
ter a sensibilidade de perceber o que os alunos gostariam
de ouvir e ver. Você deverá ter algumas pistas depois da pesquisa
e da observação que fizer dos adolescentes. Então, deverá
fazer o mesmo se o público for de crianças ou de jovens
e adultos.
Um exemplo: uma novela está fazendo muito sucesso e aborda
um tema polêmico. Você poderá procurar artigos, reportagens,
romances, crônicas, cartazes, figuras, enfim, tudo sobre
o tema e fazer uma exposição. Marcar um dia para a leitura de
algum texto seguido de um debate e daí sugerir outras leituras,
livros.
Uma idéia que agrada muito é o sarau literário ou sarau poético.
Aliar a música com a leitura é realmente estimulante. Neste
momento, é bom explorar as habilidades dos alunos. Talvez
tenha alguém que saiba tocar violão ou flauta, ou qualquer outro
instrumento. Pode ser que tenha alguém que queira cantar
ou declamar uma poesia. Ou, ainda, que tenha um repentista,
um tocador de literatura de cordel. E o que você acha de um
sarau de rap? De música clássica? De música sertaneja? No
recital ou sarau procure os livros com os temas, uma poesia
ou um personagem que virou música.
Que tal planejar um café literário? Ou um café com poesia?
E, por que não, um docinho de leitura? Ou cachorro-quente
de poesia? Pipocas literárias? Parece engraçado, mas pode
acreditar que dá certo. Alimentar o corpo e a alma. Tenha cuidado
ao preparar o local de forma que bebidas e comidas não
fiquem muito próximos dos livros.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
99
I M P O R T A N T E
Outra idéia que chama muito a atenção é preparar uma exposição
de charadas, parlendas, adivinhações (“o que o que
é?”), trava-língua, piadas e curiosidades. Você pode explorar o
folclore brasileiro e expor livros com o tema. E, ainda, preparar
cartazes com charadas e marcar um dia para a resolução.
Propor desafios aos alunos para que eles se sintam encorajados
e capazes de solucionar problemas. Essa é uma forma de
aproximação do leitor com a biblioteca.
Uma atividade que os adolescentes gostam muito é a apresentação
teatral. Que tal sugerir um dia por mês para uma
apresentação de uma peça inspirada em algum livro? Forme
um grupo de teatro na biblioteca, marque horários e locais de
ensaio de forma que não prejudique o funcionamento da biblioteca
e da escola. Divulgue bem a apresentação e, é claro,
valorize o autor e o livro.
O mural interativo pode ser colocado em lugar de destaque na
biblioteca. Nele, os leitores poderão sugerir títulos que mais
gostaram de ler, os títulos que ainda não leram, criticar o enredo,
a ilustração, os personagens etc.
Uma estante ou um expositor também pode ser colocado em
lugar de destaque com as novas aquisições. Sejam livros comprados
ou ganhados. Sejam livros de lançamento no mercado
ou títulos que a biblioteca ainda não tenha. Coloque um cartaz
ou uma faixa com os dizeres: novas aquisições.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
100
Também, uma vez por mês, programe um dia de vídeo. Procure
títulos que foram inspirados em livros. Crie um ambiente
gostoso, aconchegante. Fale um pouco sobre o filme que vai
apresentar, sobre o autor e sobre o conteúdo. Deixe uns minutos
para que os alunos façam um comentário sobre o que
viram ou peça que eles escrevam algumas linhas para afixar
no mural.
Muitos livros viraram temas de filme, minisséries e
apresentações teatrais, veja os exemplos: na literatura
infantil temos vários clássicos: A Bela e Fera, Pinóquio,
O patinho feio, Cinderela, Branca de Neve, O chapeuzinho
vermelho, A roupa nova do imperador, João e o pé de feijão
etc. Outros livros da literatura brasileira e estrangeira:
O nome da rosa, de Umberto Eco; O auto da compadecida,
de Ariano Suassuna; Dona Flor e seus dois maridos, de
Jorge Amado; O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien;
Romeu e Julieta, de Shakespeare etc.
Quer algumas dicas valiosas?
Dica número 1 – Tudo o que fizer na biblioteca fale do livro, do
autor, do ilustrador. Esse é o seu principal produto. Em tudo
que fizer coloque o livro. Deixe claro que uma atividade diferente
da leitura ou uma determinada apresentação artística foi
inspirada no livro.
Dica número 2 – Avise com antecedência qualquer atividade
programada. Talvez, algum aluno queira usar a biblioteca para
estudo ou pesquisa e vai encontrar um ambiente agitado e
festivo, o que pode ser desagradável para o usuário no momento.
Dica número 3 – Como troféu, para qualquer premiação, dê
um livro ou algo relacionado com a leitura, como um marcador
de páginas.
E assim o mediador de leitura pode planejar várias atividades
de leitura, ricas e participativas. Pode relacionar a leitura com
as demais artes e até, por meio delas, incentivar novas leituras.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
101
I M P O R T A N T E
3.5.1 A hora do conto
Este assunto merece uma discussão mais ampla, pois dentre
as diversas formas de dinamizar o espaço da literatura infantil,
a mais importante é sem dúvida a contação de histórias.
Você se lembra de alguma história contada na infância?
De repente nem foi tirada de um livro, pode ter
sido de um caso real ou inventado. Consegue lembrar dos
efeitos que a história produziu na sua imaginação?
Bruxas, fadas, mulas-sem-cabeça, sacis, lobisomens e muitos
outros seres encantados fazem parte do repertório das histórias
infantis. O hábito de contar histórias é muito antigo. Os
contos de fadas, as lendas, as fábulas são um bem cultural da
humanidade. São histórias populares que vêm sobrevivendo
através de séculos.
Ouvindo histórias, as crianças podem apresentar reações que
manifestem seus interesses revelados ou inconscientes e conseguem
vislumbrar nas narrativas, nas soluções que amenizam
tensões e ansiedades. Pela fantasia, a criança luta com
dragões e monstros, vira sapo, voa em tapetes mágicos, desposa
príncipes e princesas e só, então, retorna à realidade inteiramente
fortalecida.
A literatura pode ser oferecida como atividade lúdica, o que muito
atrai o pequeno leitor. Pode ser contada em suas diversas
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
102
modalidades, como a encenação poética e teatral, musicada,
com o uso de recursos visuais, fantoches, dedoches, com a
utilização de indumentária de personagens etc.
Cada pessoa tem sua maneira de contar histórias. No entanto,
muitos ainda pensam que contar histórias é somente dramatizar.
Mas nem sempre o mediador tem essa habilidade. Na
verdade, para uma boa mediação, isso não é o mais importante,
pois as narrativas dos livros de qualidade têm atrativos que
falam por si, como a estrutura de linguagem, a musicalidade,
as palavras, a riqueza de ilustrações, a trama, o enredo e cada
ouvinte ou leitor possui suas próprias representações.
Pois, então, o que você está esperando? Que tal fazer uma
seleção de livros infantis e começar a contação de histórias?
Mas, espera aí, ainda tem algumas coisas que você precisa
saber.
Certos cuidados também devem ser tomados para que essas
práticas não viciem o leitor iniciante. Na mediação, é importante
introduzir o livro como rotina de leitura, permitindo à
criança amplo acesso ao material impresso, fiel ao texto em
toda a sua originalidade e aspectos físicos, com o objetivo de
permitir que cada criança seja atraída pelo detalhe de narrativa
ou ilustração que a encante na sua própria descoberta.
Assim, além de acreditar no poder da história e na magia e
atração que exerce o contador sobre seus ouvintes, muitos
estudos relatam sua importância no desenvolvimento infantil,
por ser recreativa, educativa, instrutiva, afetiva, estimuladora
da criatividade e criadora de hábitos. Estimula também a socialização,
desenvolve a atenção e a disciplina.
Na verdade, você que é um mediador de leitura é também
um narrador e contador de histórias. Ao contar a história você
deve ser um grande explorador do livro e da literatura infantil
em todos os seus aspectos, como forma de narrativa, conteúdo,
ilustração, papel e formato.
E quanto ao local e preparação do ambiente?
Na hora do conto, é fundamental criar um ambiente de encantamento,
magia, suspense e emoção, permitindo que o enredo
e os personagens ganhem vida. Deve impregnar todos
os sentidos e a alma, permitir ao mesmo tempo enriquecer a
leitura do mundo.
Para que essa atividade tenha sucesso, algumas condições
devem ser asseguradas:
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
103
I M P O R T A N T E
adequação do local, do horário e das acomodações: o local
deve ser arejado, com boa claridade para que o ouvinte
possa ver as imagens do livro e ouvir todos os detalhes
da narração. Almofadas coloridas e espalhadas no tapete
ajudam a compor um ambiente gostoso e a ser um bom
convite para a contação de histórias. Cuidado com os horários,
pois o narrador não conseguirá prender a atenção da
criança se esta estiver com fome ou com sono.
Conhecimento do público a que se destina: é muito importante
conhecer as preferências do ouvinte e a sua maturidade
cognitiva. Não adianta querer contar histórias longas
para crianças ainda muito pequenas e nem contar histórias
muito curtas, sem aventuras, para aquelas já iniciadas na
literatura.
Conhecimento do enredo, do texto a ser explorado: o narrador
precisa conhecer o texto para evitar as surpresas, seja
no vocabulário que pode estar inadequado para aquele grupo,
como foi mencionado anteriormente, seja no enredo
que pode ter um desfecho desagradável ou ter um conteúdo
pobre.
Narração com naturalidade: o bom narrador não precisa
produzir muitos efeitos para chamar a atenção, o mais importante
é trabalhar as tonalidades de voz e pausas oportunas
para enfatizar os pontos emocionantes da história.
Continuidade na narrativa sem preocupar com conselhos
e explicações: não interromper a narrativa e negociar com
os ouvintes um momento após o término da história para
esclarecer os pontos de curiosidade. As interrupções freqüentes
podem comprometer o prazer de ouvir a narrativa.
Tratamento do ouvinte com simpatia e camaradagem: dar
atenção a todos sem adotar um ouvinte predileto.
Finalização sem apontar a moral ou aplicar lições: lembrar
sempre que este momento é de lazer, nada de comparações
e lições. A criança, naturalmente e de acordo com sua
maturidade, faz sua interpretação e incorpora ou não como
exemplo de vida.
Escutar histórias é uma das primeiras experiências literárias e,
quando a criança escuta um conto, sua mente está produzindo
um outro conto, de acordo com o conhecimento que ela
já tem dos elementos da narrativa. Durante a leitura, ela estaUNIDADE
9 – Dinamização da biblioteca escolar
104
belece relações entre a história e os fatos de sua vida e suas
experiências, exercitando assim sua capacidade de pensar,
imaginar, associar idéias. Isso vem reforçar o entendimento
de que, por um lado, a narrativa oral opera como um veículo
de emoções, por outro lado, inicia a criança na palavra, no ritmo,
nos símbolos, na memória, conduzindo à imaginação por
meio da linguagem global.
Vamos simular uma hora do conto? Escolha um livro
infantil e faça um planejamento da atividade. Anote
no memorial.
3.5.2 Adequação do espaço e do acervo de leitura infantil
Como já vimos o local destinado à leitura do público infantil
deve ser o mais agradável possível, colorido, lúdico, criativo.
As crianças precisam de um espaço especial para ter um contato
mais estreito com os livros: manusear, folhear, escolher
e explorar. Se a biblioteca não for um local acolhedor e confortável,
poucos aí se sentirão bem e provavelmente buscarão
outras alternativas de lazer.
Dê uma olhada na biblioteca da sua escola. Relate como ela é.
Tem um espaço agradável para as crianças? Tem livros interessantes
e de fácil acesso?
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
105
“A biblioteca pode ser a porta de acesso a emoções,
respostas, soluções, experiências gratificantes e de prazer,
dando a possibilidade de voar com a imaginação, de
criar e ter novas idéias, de solucionar problemas simples
e complexos” (MARTINEZ, 1998, p. 20).
Pois bem, o conforto deve ser visto como uma estratégia
para manter o leitor por mais tempo. Porém, não basta ter
somente um espaço confortável, a disposição do ambiente
deve ser atraente, com estantes que permitam ao usuário infantil
o manuseio fácil dos livros e escolha do que querem ler.
Portanto, estantes ou expositores baixos são recomendados.
Os livros podem até estar acomodados em caixas coloridas,
desde que estas ofereçam boas condições para conservar sua
vida útil. O livro precisa estar perto dos olhos e das mãos.
O ideal é que cadeiras, mesas e sofás atendam à estrutura física
da criança. Contudo, o espaço infantil deve ser o de melhor
acesso e visibilidade da biblioteca.
Mas, então, você pode querer perguntar: e como deve ser o
acervo infantil?
O acervo deve ser bem variado: desde revistas em quadrinhos
até coleções clássicas. O mediador pode inclusive promover
uma gradual melhoria qualitativa do material utilizado, que
deve ser acompanhada por novos investimentos em acervo.
Sabemos que as nossas escolas nem sempre têm recursos
para a aquisição de livros, mas outras estratégias podem ser
usadas para melhorá-lo. Como exemplo a realização de campanhas
de arrecadação de livros junto à comunidade e aos
professores.
Selecione alguns livros de literatura e tente
fazer uma análise crítica deles. Comece pela
capa, ilustração, conteúdo, tamanho das letras etc.
Leia em voz alta e tente perceber quais emoções ele
pode passar. Se der vontade de ler outras vezes, é sinal
que o livro o seduziu. Registre no memorial.
Portanto, a adequação do espaço e o acervo de qualidade devem
ser aspectos de avaliação constante. O mediador de leitura
deve estar atento às necessidades que vão surgindo com
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
106
o tempo e deve procurar atender, conforme suas possibilidades,
as exigências que este público apresenta.
3.5.3 Encontro literário ou roda de leitura
Não podíamos deixar de escrever sobre o encontro literário
ou a roda de leitura.
Como toda a obra de arte, a literatura também exerce influência
sobre o indivíduo, quer pela contribuição na formação do
seu pensamento, quer pelos modelos que apresenta.
Na medida em que o contato com a literatura molda a mente
e o coração do leitor, há de admitir que ela influa na formação
de opinião e, conseqüentemente, na tomada de decisões. Assim,
a literatura tem uma finalidade primária e fundamental
que é a de promover o gosto pela beleza da palavra, o deleite
perante a criação de mundos de ficção e, ainda, a função de
formar e gerar conhecimento.
Mas, então, porque não dividir tanta coisa boa que a literatura
oferece?
É claro que a literatura comentada em grupo traz novas perspectivas
de leitura e favorece o encontro de outros leitores
e a troca de impressões. A leitura compartilhada ganha uma
fruição comum e a interação com os outros leitores. Podemos
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
107
I M P O R T A N T E
chamar esse momento de encontro literário ou roda de leitura,
mas certamente essa atividade pode receber outros nomes
para melhor se adaptar a sua região.
E como planejar uma roda de leitura?
A roda de leitura é uma atividade em que você e o seu público
leitor dividem os saberes, as experiências que foram
manifestadas ao encontrar na palavra algo que modificou seu
pensamento. São conduzidas por um mediador que ajuda aos
participantes a compreender melhor um texto, uma obra ou
um autor.
Sua dinâmica é muito simples: após a leitura do texto, especialmente
preparado pelo mediador (pode ser uma crônica,
uma poesia, um artigo, um trecho de um romance), abre-se
um espaço para os debates. O ideal é que, primeiramente,
essa leitura seja individual para que o leitor tenha tempo de
formular seu pensamento, fazendo com que o debate seja
mais rico. Porém, nem sempre o leitor terá um tempo disponível
ou não terá ainda o hábito de leitura. Cabe, então, ao
mediador fazer uma prévia de quem leu o texto e sugerir mais
uma leitura caso seja necessário.
Então, com a leitura feita, o mediador pode conduzir um debate
de forma que leve o leitor a perceber as diversas possibilidades
de um texto e todo o conhecimento que nele está
contido.
Quais perguntas devem ser feitas para facilitar o debate?
O mediador pode começar perguntando qual foi à reação ao
texto, se gostaram ou não e o porquê. Em seguida explorar
os temas, as personagens, o estilo, a linguagem, o contexto
histórico ou cultural, a mensagem que o autor quis transmitir
etc.
Uma boa estratégia para motivar os leitores é falar sobre o
autor, onde nasceu, seu estilo de linguagem, sobre os prêmios
recebidos e outras obras escritas.
Veja o que você pode fazer para ter uma atividade de leitura
bem-sucedida:
trabalhar com grupos entre dez a vinte pessoas. Poucas
pessoas podem, às vezes, limitar a discussão. Porém, um
número excessivo pode excluir uma fala importante;
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
108
a disposição das pessoas em círculo contribui para que todos
se vejam, facilitando assim a comunicação;
o mediador deve estar atento em conduzir o debate de forma
que todos dêem sua contribuição, sem privilegiar determinado
colaborador;
ter o texto na mão ajuda na formação das idéias, permite ao
participante fazer a releitura, repassar o texto nas riquezas e
nos detalhes do vocabulário;
negociar com os participantes a hora de início e término
da atividade para que se evite o entrar e sair de pessoas ou
interrupções desnecessárias;
o local fechado é o ideal e contribui para a concentração.
Pode ser feito ao ar livre, mas corre-se o risco da dispersão;
uma música pode estabelecer um clima agradável e propiciar
a manifestação das emoções;
aceitar as sugestões de leitura para o próximo encontro
ajuda na motivação e permite ao mediador conhecer as
preferências e, ainda, dá mais garantia de público.
Bom, você percebeu que a leitura não vem pronta em pacotes
e nem é vendida no armazém mais próximo. Ela é construída
vagarosamente e depende de vários fatores como formação,
oportunidade, acesso e incentivo.
Você percebeu, também, que a biblioteca escolar precisa ter
um mínimo de atividades dinamizadoras de leitura para atrair
a comunidade local. Já compreendeu que garantir a formação
de leitores não significa apenas disponibilizar acervo atualizado
e espaço físico adequado, mas dispor de um conjunto
de ações voltadas para o incentivo das práticas leitoras. E, é
claro, não observar esse conjunto é negligenciar uma boa administração
dos espaços, dos recursos e das atividades pedagógicas
da biblioteca.
Obviamente, os resultados de uma atividade de leitura são dificilmente
mensuráveis e não se apresentam em curto prazo.
Para seu sucesso, é necessário vencer uma série de vícios culturais,
tanto por parte dos educadores da biblioteca, quanto
por parte da comunidade, pois nem todas as pessoas se engajam
efetivamente em sua essência.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
109
O MUSEU E A ESCOLA
Você já percebeu neste e em outros módulos que todos os
espaços e pessoas da comunidade escolar são educativos e
educadores e que, assim, podemos transformar qualquer um
desses espaços em uma experiência pedagógica, desde que
possamos ensinar e aprender alguma coisa com ele.
Viu o quanto a biblioteca pode ser rica no processo de aprendizagem
e construção da identidade cultural da comunidade
escolar.
Agora vamos explorar um outro espaço que pode estar dentro
da escola ou além dos seus muros, mas que de qualquer
forma enriquece o fazer pedagógico: o museu.
Quando falamos em museu, qual é a primeira idéia que vem
à sua cabeça?
Para começar, faça uma pesquisa e relacione
os museus mais conhecidos no seu Estado, descrevendo
o tipo de acervo apresentado.
Pois bem, diferentemente do que se pensava antigamente, de
que museu era apenas um lugar parado, de guardar coisas
antigas e distantes da dinâmica das obras ativas, hoje, podemos
afirmar que museu é um espaço vivo que pode ser um
abrigo da memória, mas, sobretudo, ele é um lugar de possíveis
interações entre passado, presente e futuro. Um acolhedor
do velho e do novo. Não sendo apenas um espaço de
arte, o museu tem um sentido mais abrangente, de local de
pesquisa, estudo, educação e entretenimento. Esse local tem
um papel cultural importante que além de guardar e preservar
os registros do tempo é um veículo a serviço do conhecimento
que contribui para o desenvolvimento da sociedade.
Assim, você logo pode concluir que museu é, sobretudo, um
local de constante construção, expressão e conhecimento.
Bem parecido com a escola, que precisa sempre estar atenta
às novas idéias.
Normalmente, o museu mantém algumas atividades comuns,
por exemplo:
• exposição permanente;
A palavra MUSEU é de
origem grega, significa
“templo das musas”, e já era
usada em Alexandria para
designar o local destinado
ao estudo das artes e das
ciências.
Para conhecer a história
do museu e alguns museus
de nosso país acesse o site
/www.museus.art.br
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
110
• exposições temáticas e temporárias;
• biblioteca;
• conferências e eventos paralelos às exposições, como cursos
e workshops de museologia e outros.
E o que o museu tem a ver com a escola?
Às vezes você pode pensar que museu não tem nada a ver
com a nossa vida e com a nossa escola. Mas se você olhar em
volta vai descobrir quanta riqueza produzimos nas coisas mais
simples do nosso fazer. O museu é uma amostra da história,
das coisas que foram ou estão se transformando e fazendo
a evolução do homem. E essa arte, feita dia-a-dia, propicia a
interação do homem com o universo, com o outro e consigo
mesmo.
Assim como qualquer ambiente de cultura, o museu oportuniza
uma exploração do conteúdo exposto, seja ele de peças
artísticas, documentos, fotografias, entre outros, estimulando
a curiosidade e a busca de informações. Nessa interação com
as informações sobre as obras e demais objetos em exposição,
podemos dar novos significados à cultura e à história.
Somos estimulados a reconstruir o nosso conhecimento sob
novos pontos de vista.
Essa abertura para outras experiências e saberes inclui, por
exemplo, conceber o museu como um laboratório onde o conhecimento
vai sendo moldado e aperfeiçoado.
A questão é: como estimular a comunidade escolar
para que se manifeste o interesse pelos museus?
A visita dos alunos a um museu já sugere um clima de descoberta,
sendo o simples fato de sair do espaço rotineiro da
sala de aula uma motivação. A associação à idéia de lazer e
passeio, a interação com os colegas, professores e pessoal do
museu já transforma a visita numa atração. Então, aproveitando
essa situação, é hora de colocar o aluno de encontro com
sua própria história.
Porém, alguns detalhes devem ser observados para que essa
atividade seja bem-sucedida, o que vai desde o cumprimento
das regras estipuladas pelo museu, que é preciso respeitar
– com relação ao uso do espaço e com os objetos: o que tocar
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
111
I M P O R T A N T E
ou não, fotografar, filmar etc. – até a importância dos momentos
de introspecção, por meio da contemplação e reflexão silenciosa.
Visitas guiadas podem ser um bom começo. Geralmente, o
museu dispõe de um profissional que acompanha as visitas e
passa as informações que possam ampliar os conhecimentos
sobre, por exemplo, a vida dos artistas e as técnicas artísticas
e instrumentais utilizadas naquele contexto.
E que tal criar um museu na escola? Você poderá estar pensando
que é uma loucura, que é difícil adquirir um acervo e
mais difícil ainda preservar o material exposto. Ora, não estamos
falando de um grande museu, mas de um espaço que
pode ser criado para algumas atividades de conscientização
da importância de resgatar a memória. Não é necessário se
preocupar em adquirir grandes peças de museu. Você pode
construir um acervo com a própria comunidade escolar para
favorecer uma interação social significativa do público com o
espaço, pois o museu é uma experiência social e cultural, uma
forma de compartilhar o saber no espaço público.
O objetivo dessa atividade é desenvolver o espírito crítico na comparação
com o presente, tendo o compromisso com o conhecimento,
com a memória e com a reflexão. Conseqüentemente,
enriquece a formação da comunidade na conquista da cidadania,
respeito às culturas do passado e suas tradições.
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
112
Veja, então, algumas idéias de temas que podem originar um
museu:
a história da própria escola: é a história mais próxima, mais
à mão e que tem conexão direta com a vida dos alunos.
É hora de recolher fotografias, planta original, os nomes
dos primeiros diretores e professores, curiosidades, documentos
etc.;
história do município: a formação do município, vida social,
política, industrial e comercial, saúde, economia, religião e
outros. Pode-se formar um acervo de artigos de jornais e
revistas antigos, cartas, fotografias, mapas etc.;
o nosso passado: a evolução tecnológica e a melhoria na
qualidade de vida. Pode-se coletar os relatos orais da população
mais idosa, objetos como ferro de passar roupa,
telefones, rádios, televisões etc.;
o resgate cultural das cantigas de roda, causos e contos
populares, medicina caseira, costumes antigos. Tudo isso
é um prato cheio para aguçar a curiosidade dos alunos e, é
claro, vai ser muito divertido comparar com os dias atuais;
a história da educação no Brasil: pode-se montar uma sala
de aula típica do final do século passado e início deste. As
salas eram pequenas com poucas carteiras, pois somente
uma pequena parcela da população tinha acesso, a grande
maioria dos alunos vinha de famílias ricas. As crianças
pobres, geralmente, aprendiam em casa ou cresciam analfabetas.
A mesa do professor ficava em cima de um tablado
de madeira, destacando sua autoridade. Como punição,
os alunos recebiam a palmatória ou a orelha-de-burro, que
apesar de não provocar dor física, a humilhação desse castigo
era bem maior. Pode-se ainda expor as cartilhas de alfabetização,
os livros de leitura da época, mimeógrafos e
a lousinha, que era uma lâmina de ardósia com moldura
de madeira, usada para escrever com um ponteiro feito da
mesma pedra.
Você também pode saber e até visitar alguns museus sem
sair do lugar por meio da internet. Os museus virtuais não só
oferecem a oportunidade de você aprender, como são ótimas
fontes de pesquisa para trabalhos escolares. Então, se você
tem acesso, comece fazendo estas visitas:
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
113
I M P O R T A N T E
Museu Histórico Nacional. Site: www.museuhistoriconacional.
com.br
No acervo, podemos ver a maior coleção de numismática
(moedas) da América Latina, uma coleção de meios de
transporte terrestre com acervo do MHN e, ainda, algumas
peças retratadas, como armas e munições antigas. Há textos
sobre a história dos prédios do museu, que fica no antigo
Forte de Santiago, no Rio de Janeiro.
Museu da Imagem e do Som. Site: www.mis.sp.gov.br
Tem uma proposta museológica diferenciada, baseada na
reprodutibilidade de seu acervo, composto de filmes, vídeos,
fotografias, depoimentos orais, músicas, partituras e
cartazes. Tem como finalidade coletar, produzir, registrar o
som e a imagem da vida brasileira nos seus aspectos humanos,
sociais e culturais.
Museu Nacional de Kyoto. Site: www.kyohaku.go.jp
A versão on-line tem fotos de cerca de 2 mil das 5 mil peças
do museu japonês, entre cerâmicas, esculturas, pinturas,
trabalhos têxteis, em metal e caligrafia, além de uma seção
de histórias sobre as peças e um dicionário para crianças.
Museu Nacional Arqueológico de Tarragona. Site: www.
mnat.es
Esse site traz informações sobre exposições e novidades
no museu. Uma seção interessante é a que trata sobre o
paleocristianismo, com relíquias do início da cristandade.
Museu do Louvre. Site: www.louvre.fr
Neste site você pode ver grandes obras feitas por artistas do
mundo inteiro. É onde se encontra a Mona Lisa, a Vitória de
Samotrácia, a Vénus de Milo, enormes coleções de artefatos
do Egito antigo, dos artistas clássicos da Europa como Ticiano,
Rembrandt, Goya, Rubens ou Renoir, numa das maiores
mostras do mundo da arte e da cultura humanas.
Museu Nacional de Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci.
Site: www.museoscienza.org/english
Apresenta uma exposição on-line com a descrição das máquinas
criadas por Leonardo e informações e fotos sobre o
museu real, que fica em Milão (Itália).
Museu da Pessoa. Site: www.museudapessoa.com.br
UNIDADE 9 – Dinamização da biblioteca escolar
114
Esse é um museu virtual de histórias da vida. Fazem parte
do seu acervo depoimentos, fotografias, documentos, desenhos,
gravações em áudio e vídeo sobre a história da vida
de pessoas célebres e anônimas. O portal é aberto à consulta
e à participação de toda pessoa que tenha o desejo de
preservar e partilhar sua trajetória. Busca assim garantir o
direito de todo ser humano de participar da História.
Bom, esperamos que você esteja motivado com essas sugestões.
Pelo menos, esteja consciente de que se a escola
tiver um programa de museu educativo e bem estruturado, ao
longo dos anos, terá grandes chances de transformar o aluno
de hoje em um visitante e apreciador habitual de museus de
amanhã.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
115
I M P O R T A N T E
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final do módulo de Biblioteca escolar. Esperamos
que a abordagem constante neste instrumento de estudo
tenha contribuído para sua formação profissional visto que a
escola é um excelente espaço de aprendizagem, troca de informações
e experiências.
O módulo permitiu algumas reflexões de como você pode
atuar no fazer pedagógico da escola a partir da biblioteca. Ofereceu
ainda sugestões de como essas iniciativas podem contribuir
para elevar a qualidade do ensino no ambiente onde
você atua podendo inclusive extrapolar os limites da escola.
E o que é melhor, todo esse processo pode ser concebido e
realizado por meio da sua ação. Essa compreensão é primordial
no sentido de ampliar sua relação com a escola e com a
comunidade. A todos os que estiveram até aqui neste processo
de aprendizagem, aproveitem as sugestões e bom trabalho!
REFERÊNCIAS
116
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. O estranho mundo que se mostra às
crianças. São Paulo: Summus, 1983.
AGUIAR, Vera Teixeira de (Coord.). Era uma vez... na escola:
formando educadores para formar leitores. Minas Gerais: Formato
Editorial, 2001.
ANTUNES, Walda de Andrade. Biblioteca escolar: curso de
atualização para professores. São Paulo: Global, 2003.
______. Curso de capacitação do professor regente de biblioteca.
Brasília: Walda Antunes Consultorias, 1993.
______. Curso de capacitação para dinamização e uso da biblioteca
pública. 2. ed. São Paulo: Global, 2000.
BIBLIOTECA pública: princípios e diretrizes. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional, 2000.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: teoria e
prática. São Paulo: Ática, 1999.
DINORÁ, Maria. O livro na sala de aula. Rio Grande do Sul:
L&PM, 1987.
FERRAZ, Wanda. A biblioteca. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1972.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da
língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1986.
FONSECA, Edson Nery da. Introdução à biblioteconomia. São
Paulo: Pioneira, 1992.
FULGÊNCIO, Lúcia; LIBERATO, Yara. A leitura na escola. São
Paulo: Contexto, 1996.
GÓES, Lúcia Pimentel. Introdução à literatura infantil e juvenil.
São Paulo: Pioneira, 1984.
MACHADO, Ana Maria. Texturas: sobre leituras e escritos. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
MARTÍNEZ, Lucila. Escola, sala de leitura e bibliotecas criativas.
Rio de Janeiro: Autores & Agentes & Associados, 1998.
MANIFESTO da Unesco sobre bibliotecas públicas. R. Bras.
Bibliotecon. e Documentação, São Paulo, v. 7, n. 4/6, p. 158-
163, abr./jun. 1976.
REFERÊNCIAS
117
I M P O R T A N T E
MARTINS, Wilson. A palavra escrita: história do livro, da imprensa
e da biblioteca. São Paulo: Ática, 1998.
MILANESI, Luís. O que é biblioteca. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,
1988.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro:
Zahar, 1975.
PIMENTEL, Maria das Graças. A biblioteca pública e a inclusão
digital: desafios e perspectivas na era da informação. Universidade
de Brasília, 2006. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação)–Universidade de Brasília, Brasília, 2006.
SILVA, Divina Aparecida da; ARAUJO, Iza Antunes. Auxiliar de
biblioteca: técnicas e práticas para formação profissional. 5.
ed. Brasília: Thesaurus, 2003.
SILVA, Ezequiel Teodoro da. O ato de ler: fundamentos psicológicos
para uma nova pedagogia da leitura. São Paulo: Cortez,
1987.
SISTEMA Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP). Rio de Janeiro:
[2006]. Disponível em: historico.html>.
SITIO Google. Disponível em: search?hl=pt-BR&q=assurbanipal&meta=>. Acesso em: 17
jul. 2006.
SITIO Wikipedia. Disponível em: Mesopot%C3%A2mia>. Acesso em: 17 jul. 2006.
SUAIDEN, Emir José. Biblioteca pública e informação à comunidade.
São Paulo: Global, 1995.
TAKAHASH, Tadao (Org.). Sociedade da informação no Brasil:
livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo:
Global, 1981.
ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para crianças
– para conhecer a literatura infantil brasileira: histórias,
autores e textos. São Paulo: Global, 1993.


COPYRIGHT DEVIDO AOS AUTORES.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas