segunda-feira, 12 de julho de 2010

1454 - HISTÓRIA DOS LIVROS

TRABALHO ORAL
EMPREENDEDORISMO EM BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
Empreendedorismo na gestão da informação e
do conhecimento
HISTÓRIA DAS “NOSSAS BIBLIOTECAS”: o Sistema de Bibliotecas da
UNEB em discussão
SILVA, Z. P.1
VIEIRA, L. M. L.2
SILVA, A. L. G.3
MARAUX, A. T. S. R.4
RESUMO
Apresenta uma breve história do Sistema de bibliotecas da Universidade do Estado
da Bahia, levando em conta a experiência dos sujeitos sociais envolvidos na ação de
“Ler, pensar e escrever” a biblioteca universitária. Ressalta as articulações da
Administração da universidade com o objetivo de promover a qualificação, a
valorização e a visibilidade das suas bibliotecas, a partir da criação da Comissão de
Estruturação do Sistema de Bibliotecas da Uneb. Apresenta algumas ações
desenvolvidas pela referida comissão e alguns resultados obtidos. Conclui com uma
reflexão sobre a necessidade do deslocamento do olhar dos (as)gestores(as) para
as bibliotecas universitárias, justificando assim sua existência como espaço de
extensão da sala de aula e ambiente dialógico por excelência.
Palavras-chave: Biblioteca universitária. Sistema de Bibliotecas da Uneb -
SISB/Uneb. Comissão de Estruturação do SISB/Uneb.
ABSTRACT
It shows a very short report about the library system from the State University of
Bahia ( UNEB) according to experience from those who are engaged socially in
order to read, think and write the university library. It points out the administration
articulations of the university in order to promote the qualification, valorization as well
as the visibility of its libraries through of the propagation of the Libraries System
Structural Commission of the UNEB. It reveals some actions which are developed by
such a commission and some results which are really gotten. That is to say, it is
fundamental that the managers think over about the university libraries in order for
them to have visibility.
Keywords: University library. Libraries System from the UNEB.Structure
Commission from the UNEB.
2
1 INTRODUÇÃO
Contar história de bibliotecas é uma tarefa árdua, que exige emoção e
afetividade. Sem amor ao livro e á leitura não se faz história de bibliotecas. A
biblioteca não é como pensam alguns, um depósito de livros, ou um repositório de
curiosidades. Como já nos disse Bartles, em sua “Conturbada história das
bibliotecas, (2003, p.11), a biblioteca é “um mundo a um só tempo complexo e
incompletável, cheia de segredos. Ela está submetida a um regime de mudanças e
ciclos que contrastam com a permanência insinuada por suas longas fileiras
ordenadas de livros”. Para nós, bibliotecárias e professoras que acreditamos na
biblioteca como o ponto de partida da “viagem “ em busca do saber, a biblioteca
universitária é uma extensão da sala de aula, um espaço dialógico com diferentes
atores e atrizes sociais, embora na prática isso não se efetive.
A partir desse entendimento, o ponto de partida para a construção da
nossa História do Sistema de Bibliotecas da Universidade do Estado da Bahia,
doravante chamado SISB/UNEB, é a leitura dessas bibliotecas através das fontes
consultadas e da nossa experiência, enquanto professoras e bibliotecárias da
UNEB.
Nosso objetivo é apresentar a experiência da UNEB na reestruturação do
seu sistema de Bibliotecas. É nosso objetivo ainda promover uma reflexão sobre os
nossos fazeres como profissionais comprometidas com a reestruturação das
bibliotecas da Uneb. Isso significa que essa História não é neutra, é intencional.
Somos parte dela.Ela traz as marcas das nossas convicções, vivências, dos nossos
saberes, fazeres, frustrações e expectativas. Como militantes da leitura, do livro e da
biblioteca queremos que “nossas” bibliotecas sejam transformadas em espaço de
formação cidadã, capaz de intervir na sociedade e modificar realidades, em especial,
a realidade da leitura nas regiões onde elas estão inseridas.
3
2 A UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA E SUAS BIBLIOTECAS: breve
contextualização
A UNEB é uma universidade estruturada sob forma multicampi, que está
localizada em vinte e quatro municípios que abrangem quase todo o território
baiano.
Anteriormente, uma universidade voltada para a interiorização do ensino
superior, com ênfase na formação de professores, a UNEB, de acordo com a
proposta do contida em seus documentos pedagógicos, começa a repensar o seu
papel e abre espaço para uma política que possibilite a pesquisa e a extensão em
todos os seus vinte e nove departamentos localizados em vinte e quatro cidades1. O
Sisb/UNEB é formado por 24 bibliotecas, sendo uma Biblioteca Central - BC,
localizada na Capital e 23 Bibliotecas Setoriais, localizadas no interior do Estado. A
implantação dessas bibliotecas ocorreu a partir da expansão da Uneb com a
ampliação de cursos e Departamentos, em consonância com a Lei, que exige a
criação de biblioteca. Mas, como diz Silva (2001), a existência da Lei que
consubstanciou a reforma do ensino superior brasileiro, modificou o ensino, mas foi
omissa em relação à biblioteca. Segundo a autora,
[...] os administradores das universidades que entenderam que a
biblioteca é parte integrante da mesma e que mudando uma muda a
outra, a biblioteca se desenvolveu e tornou-se grande centro de
informação. Mas, para aqueles que a perceberam como um anexo,
ela de fato tornou-se o anexo onde os livros são depositados (SILVA,
2001, p.26).
Ser, ou tornar-se um depósito de livros, é o destino de muitas bibliotecas
universitárias. O crescimento da Uneb e a conseqüente criação de bibliotecas, não
permitiu que o Sistema de Bibliotecas se desenvolvesse de forma sistêmica e
coordenada, o que resulta em entraves para que as bibliotecas possam efetivamente
atender às necessidades de informação e apoio às atividades de ensino, pesquisa e
extensão.
1 Salvador, Alagoinhas, Juazeiro, Jacobina, Santo Antônio de Jesus, Caetité, Senhor do Bonfim,
Paulo Afonso, Barreiras, Teixeira de Freitas, Serrinha, Guanambi, Itaberaba, Conceição do Coité,
Valença, Irecê, Bom Jesus da Lapa, Eunápolis, Camaçari, Brumado, Ipiaú. Euclides da Cunha, Xique-
Xique e Seabra.
4
3 A BIBLIOTECAS DA UNEB E SINAIS DE “DEPOSITITE”: uma “enfermidade” a
ser combatida
Ousando criar um neologismo, dizemos que as bibliotecas que se tornam
depósitos de livros morrem de “depositite”. Para constatar este fato, basta uma
incursão pelas bibliotecas, seja através da literatura ou da observação in loco.
O vírus da “depositite”, já se instalou no sistema de bibliotecas da Uneb.
Os sintomas dessa enfermidade podem ser localizados em diferentes estudos,
produzidos por profissionais da Uneb. Dentre eles destacamos a dissertação de
Silva (2001), sobre o modelo de gerenciamento da informação adotado na Biblioteca
Edivaldo Boaventura, a Biblioteca Central do Sistema, identificada pelo(as)
profissionais que nela atuam como BC/Uneb. No referido estudo, que teve como
população-alvo as bibliotecárias e auxiliares de biblioteca, além dos(as) usuárias, a
autora aponta que a BC/Uneb tem que melhorar a organização administrativa do seu
ambiente informacional. Aponta ainda, que “mais da metade dos(as) usuárias da
referida biblioteca se dizem pouco ou nada satisfeitos com o gerenciamento da
informação da biblioteca e com os serviços oferecidos por ela. “ (SILVA, 2001,
p.112).
Da mesma forma que encontramos na literatura elementos que indicam a
“depositite” no SISB/UNEB, também encontramos sinais de que nem todas as
bibliotecas do sistema estão contaminadas. Estamos nos referindo aos trabalhos de
Silva (2004, 2006, 2007) e de SANTOS (2007), que relatam o movimento de uma
das bibliotecas da UNEB para não se tornar um depósito de livros e se destacar no
cenário como uma biblioteca viva, pulsante, atuante. Nossa experiência, aliada ao
nosso desejo, também mostra que há esperança de erradicação do vírus da
“depositite” nas bibliotecas. Para tanto, sabemos, é preciso um tratamento sério. É
preciso um “novo olhar” para o SISB/Uneb.
5
4 NOVA GESTÃO NA UNEB, UM NOVO OLHAR PARA AS BIBLIOTECAS: a cura
da “depositite”?
Uma das primeiras ações de combate ao vírus da “depositite”, provocada
pelo “novo olhar” da atual gestão da universidade foi a criação da Comissão de
Reestruturação do Sistema de Bibliotecas da Uneb2, doravante chamada
“Comissão”, formada por bibliotecárias e professoras da universidade. Somos
membros integrantes dessa Comissão, que foi criada com o objetivo de assessorar,
acompanhar e elaborar projetos e realizar estudos e eventos concernentes ao
SISB/Uneb, bem como, promover a formação continuada do pessoal nele atuante.
A criação da Comissão não se deu de forma tranqüila. Houve, e ainda há,
resistências por aquelas(es) que temem mudanças. Mas, as “resistências” são, de
forma lenta, porém contínua, vencidas, diante dos resultados obtidos pelos
deslocamentos e acontecimentos registrados durante os últimos dois anos.
A mais importante ação de combate ao vírus foi o “deslocamento“ do
SISB/UNEB, na estrutura da Universidade. Antes, subordinado a Pró-Reitoria de
Graduação, agora vinculado à Reitoria. Esse “novo lugar”, provocado por ação
política da Comissão, em conjunto com os demais sujeitos envolvidos no processo
de reestruturação das bibliotecas da Uneb, vale ressaltar, ainda não foi formalizado.
É simbólico, pois não houve alteração no Regimento da Instituição, porém, se
constitui como um passo importante na mudança de status das nossas bibliotecas
na estrutura administrativa da universidade.
4.1 Ações desenvolvidas pela Comissão...
A proposta de deslocamento do SISB/Uneb da sua antiga estrutura tem
propiciado um “novo” olhar para as nossas bibliotecas. Um passo importante desse
processo é, sem dúvidas, a tomada de consciência dos gestores da universidade
quanto à necessidade dessa mudança. É fundamental atentarmos para esse fato,
pois sabemos que deslocamentos estruturais não são frutos apenas de pressão e
negociação política. Os processos devem ser acompanhados de estudo e
2 Portaria n. 0213/2006, do DOE de 18/01/2006.
6
planejamento, que possibilite a construção de um projeto que nos dê as dimensões
de um conjunto de políticas em todas as áreas de ação da biblioteca, devidamente
articulado com o ensino, a pesquisa e a extensão. Nesse sentido, alguns passos
vêm sendo dados, a saber:
a) Diagnóstico das bibliotecas
Visando a reestruturação das bibliotecas da Uneb, a Comissão, que
atualmente é presidida pela Vice-Reitora, em 2006, deu início a um estudo para
diagnosticar cada biblioteca3. O objetivo maior foi apontar elementos para a
elaboração de políticas institucionais focadas na qualificação e na valorização de
cada biblioteca em especial, levando em conta as suas especificidades, e de todo o
SISB/Uneb, levando em conta a sua grandeza.
Após discussão interna, foi elaborado um questionário com 12 questões,
fechadas e abertas, abordando aspectos relacionados a : recursos humanos,
acervo, estrutura física, condições de acesso, informatização, entre outros.
Após sistematização dos dados, a Comissão planejou uma ampla
discussão dos resultados com todos(as) os(as) profissionais que “fazem” as
bibliotecas da Uneb, com vista a construção do documento final (relatório). Assim,
amparada na literatura especializada, que aponta a capacidade da Comunidade
Virtual para promover um novo modo do ser, de saber e de apreender, que implicam
novas competências e novas formas de construir conhecimento, a Comissão criou a
Comunidade Sisbiblio Uneb, no ambiente de aprendizagem Moodle. Essa
comunidade foi amplamente divulgada através do site institucional e da lista de
discussão do SISB/Uneb. Mas, não foi exitosa sua experiência.
Para a Comissão era muito importante discutir os resultados do
diagnóstico primeiramente com os(as) profissionais envolvidos com a biblioteca. E
assim foi feito.
3 Cf. Relatório Diagnóstico do Sistema de Bibliotecas da UNEB. Universidade do Estado da
Bahia. COM/ SISB. Salvador, 2007.
7
A primeira apresentação dos resultados do estudo foi feita no I encontro
de Bibliotecários(as) da Sistema de Bibliotecas da Uneb4, Nesse encontro foi
definida uma nova forma de contribuição dos participantes na análise dos dados, ou
seja, por email, e não mais através da participação da Comunidade virtual Sisbiblio
Uneb.
O Relatório Diagnóstico do Sistema de Bibliotecas da Uneb, publicado
pela universidade em 2007, foi divulgado à comunidade acadêmica e à sociedade
em geral através do site da instituição5.
A apresentação do documento foi elaborada pela Vice-reitora, que diz:
É com satisfação que apresento o Relatório diagnóstico [...] que após
envidar esforços coletivos socializa com a comunidade unebiana um
mapeamento inicial das condições estruturais das nossas bibliotecas
[...].
Esta gestão tem entre suas prioridades (re)colocar a biblioteca em
seu lugar de primazia em consonância com os outros órgãos da
Uneb, dotada de autonomia, para que preste serviços de qualidade à
comunidade acadêmica e à sociedade em geral [...] (Maraux,
2007,p.1)
b) Grupo de Trabalho e Estudo
A comissão, reconhecendo a necessidade de sensibilizar o grupo gestor
da Universidade para a problemática vivenciada pelas bibliotecas, bem como de
ampliar as discussões dentro da universidade em torno do modelo, ainda em
construção, realizou no mês de março do ano em curso um ciclo de reuniões com
diversos segmentos da Administração Central da UNEB.
Posteriormente aos encontros internos, revelou-se a necessidade de
discutir a proposta de estruturação do Sistema de Bibliotecas da Uneb com outros
profissionais da área da Biblioteconomia. Nesse sentido, a Comissão se reuniu com
a Professora Doutora Nídia Lubisco, do Instituto de Informação -ICI/UFBA. Desse
encontro nasceu, ou (re)nasceu, a proposta de composição do Grupo de Trabalho e
Estudo-GTE, que se constitui como fomentador e mediador da discussão/elaboração
da proposta de Estruturação do SISB/UNEB. O referido Grupo tem se debruçado em
4 Realizado em. 18.12.2007 no Hotel Vilamar.
5 www.uneb.br.
8
estudos sobre organização/gestão/ de bibliotecas universitárias. A proposta do GTE
coaduna com a diretriz da atual gestão acerca da (re)estrutração da multicampia,
considerando as ações já desenvolvidas, a saber: investimento nas ações
extensionistas; na pesquisa, na pós-graduação stricto sensu e ainda a estruturação
dos cursos de graduação.
c) Informatização das bibliotecas
Um ponto importante a ser considerado é a informatização de todas as 24
bibliotecas. Esse projeto é fruto de uma emenda parlamentar, cujos recursos foram
garantidos após negociação política que garantiu o valor de 400 mil reais, para
aquisição de equipamentos. Atualmente 10 bibliotecas estão informatizadas, com
planejamento previsto para a conclusão desse processo até dezembro de 2008. A
informatização é uma das bases estratégicas de efetivação do processo de
estruturação do sistema.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ações e propostas e desenvolvidas pela Comissão, fazem parte de
uma série de medidas institucionais que visam o fortalecimento da universidade para
o processo de recredenciamento da mesma, previsto para 2010. Assim, é no interior
do debate sobre a universidade, que está em processo de auto-avaliação, que o
SISB-UNEB está sendo discutido e (re)pensado.
Além de melhorar a infra-estrutura das bibliotecas, é necessário antes de
tudo a mudança de “olhar dos gestores”, a defesa intransigente em prol da
biblioteca, para que esta, tenha “’defensores entusiasmados’, é preciso que
adquiram visibilidade, justificando assim sua existência como espaço de extensão da
sala de aula e ambiente dialógico por excelência.
9
REFERÊNCIAS
BATTLES, Matthew. A Conturbada História das Bibliotecas. [s/local]: Planeta,
2003.240 p.
MARAUX, Amélia Tereza Santa Rosa. Apresentação. In: Universidade do Estado da
Bahia. Relatório Diagnóstico do Sistema de Bibliotecas da Uneb.Salvador, 2007. p.9.
SANTOS, S. M. D. ; Silva, C.H.V. . Biblioteca Universitária: Partejando Saberes e
Sabedoria. 2007. (Apresentação de Trabalho/Congresso).
SILVA, Z. P. O olhar do usuário da Biblioteca Central da Uneb em relação ao
gerenciamento da informação na biblioteca. In: XIII Seminário Nacional de
Bibliotecas Universitárias, 2004, Natal. XIII Seminário Nacional de Bibliotecas
Universitárias. Natal Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2004.
SILVA, Z. P.; Vieira, Lucilia Maria Lima. Consciência Coletiva: a biblioteca
universitária combatendo a violência contra a mulher na Região Sisaleira, BA. In:
XIV Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, 2006, Salvador. XIV Seminário
Nacional de Bibliotecas Universitárias. Salvador: Uneb, 2006.
__________________
1 Zuleide Paiva da Silva, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), zpaiva@uneb.br.
2 Lucília Maria Lima Vieira, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), lvieira@uneb.br.
3 Ana Lúcia Gomes da Silva, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), algsilva@uneb.br.
4 Amélia Tereza Santa Rosa Maraux, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), arosa@uneb.br.



COPYRIGHT DEVIDO AOS AUTORES DO TEXTO.

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