quinta-feira, 8 de julho de 2010

1399 - HISTÓRIA DO LIVRO

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UnB – 6 a 9 de setembro de 2006
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Jornalismo Literário: como o livro-reportagem transforma um fato em história1
Priscila Natividade Dias Santos Oliveira2
FSBA – Faculdade Social da Bahia
Resumo: O presente artigo apresenta as conclusões da Monografia de Conclusão do
curso de Comunicação Social – Jornalismo, intitulada “Jornalismo Literário: como o
livro-reportagem transforma um fato em história – o gênero híbrido, numa análise das
obras Rota 66, de Caco Barcellos e Morcegos Negros, de Lucas Figueiredo” que teve
como objetivo observar de que maneira o livro-reportagem, através do jornalismo
literário, transforma uma informação factual em história. Para confirmar esta hipótese
foram analisadas as estruturas narrativas dos livros-reportagem Rota 66, escrito por
Caco Barcellos e Morcegos Negros, de Lucas Figueiredo. O estudo acadêmico procura
alcançar o processo de simbiose existente nas trocas, conflitos, diferenças e
proximidades entre o jornalismo e a literatura, em busca da construção de um texto
movido pelo amor que ambos cultivam pela palavra impressa.
Palavras-chave: literatura; jornalismo; livro-reportagem
Era uma vez um tipo espevitado, ousado e efêmero. Em contrapartida, havia um
outro gênero, clássico, antigo, criador dos mais diversos personagens e situações,
imortalizado pela nostalgia. Entre conflitos, trocas e simbioses, o jornalismo e a
literatura sempre marcaram a disputa pela palavra e as diferenciações quanto ao ato de
narrar. Ficção e realidade, ora próximas, ora distantes, tornaram-se o foco do enredo
desta história de eterno romance, entre o império dos fatos e o jardim da imaginação,
como afirma Cosson:
O jornalismo é o império dos fatos, a literatura é o jardim da
imaginação. Na metáfora do império estão contidas as idéias de força,
domínio e amplidão de territórios , que contrastam com a fragilidade e
a sacralidade da arte de cultivar as flores da linguagem no jardim da
imaginação. (COSSON, 2002, p.58)
1 O presente artigo traz um esboço dos resultados da Monografia de Conclusão de Curso intitulada
“Jornalismo Literário: como o livro -reportagem transforma um fato em história – o gênero híbrido,
numa análise das obras Rota 66, de Caco Barcellos e Morcegos Negros, de Lucas Figueiredo”,
submetida ao curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Faculdade Social da Bahia, em junho de
2005, sob orientação da prof. ms Ana Cristina Spannenberg, e aprovada pela banca examinadora com
nota 10,0. Trabalho apresentado ao Intercom Júnior, evento participante do XXIX Congresso Brasileiro
de Ciências da Comunicação.
2 Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, pela Faculdade Social da Bahia e
Pós-Graduanda em Jornalismo Contemporâneo pelas Faculdades Jorge Amado.
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Esta relação não é algo novo, já que é na literatura que o jornalismo finca suas
raízes originárias e formadoras do campo3. A própria história do jornalismo se confunde
com a da literatura. Daí sua ligação, tão intensa e confluente.
Literattura, segundo Alex Galeno, advém do latim litterata, que está relacionado
a caracteres ou escritos impressos (cf. GALENO, 2002, p.102). A relação entre
jornalismo e literatura apresenta proximidade não só em seu significado semântico. No
sentido prático, Clóvis Rossi compara o jornalismo a uma batalha pela conquista da
atenção de seu público (cf. ROSSI, 2002, p.7). Assim como na literatura, a palavra
torna-se o principal recurso que caracteriza a ação do jornalismo para atingir seu alvo. A
atenção do leitor e a palavra escrita justificam esta união, que encontra seu marco
originário, a partir do momento em que narrar torna-se essencial, tanto para o fazer
jornalístico, quanto para a literatura.
Num primeiro contato, o jornalismo se aproveita dos recursos literários para
compor sua imagem de campo específico. Antes de 1930, os jornais utilizavam a
literatura apenas para entreter o leitor, através de suas histórias. A partir do momento
em que ele se insere na área da cultura mercadológica, o veículo passa a vender
histórias. O jornalismo articulava a literatura, enquanto produto de consumo e não mais
como um “mero” caderno literário (cf. LIMA, 1995, p.136).
A arte literária, por sua vez, encontra no jornal uma notoriedade diferente, uma
proximidade maior com o público. Para Edvaldo Pereira Lima, este é o principal fator
que atrai os escritores até as redações de jornal, e, conseqüentemente, transporta a
literatura para as páginas impressas do jornalismo (cf. LIMA, 1995, p.136).
Inicialmente, é o jornalismo que bebe na fonte e na “boêmia” literária. Depois, é
a literatura que descobre no jornalismo um meio de repensar sua prática, através da
realidade efetiva com um “sabor literário”, baseado na precisão da textualidade, clareza
e simplicidade. Ou seja, a literatura retira temáticas do jornalismo que podem construir
a realidade de suas histórias. Ao confrontar esta relação, Lima (1995) elucida ainda, a
confluência entre ambas as maneiras de narrar, como um constante sistema de trocas,
que marcaram decisivamente o desenvolvimento dos gêneros jornalísticos e literários:
3 No presente trabalho está sendo utilizado a noção de Pierre Bourdieu, que entende campo como microespaços
sociais nos quais se desenvolvem redes de relações objetivas entre posições marcadas por
oposições, demarcando um conflito constante entre aqueles que estão dentro e os que estão fora do
campo. Entretanto, por fugir dos objetivos da pesquisa, não aprofundaremos mais este conceito.
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O jornalismo absorve assim, elementos do fazer literário, mas,
camaleão, transforma-os, dá um aproveitamento direcionado a outro
fim. (...) E é esta tarefa, a de sair do real para coletar dados e retrata -
los, a missão que o jornalismo exige das formas de expressão que
passa a importar da literatura adaptando-as, transformando-as. (LIMA,
1995, p.138)
Esta retrospectiva histórica conduz a um questionamento: que relação permeia
realmente, o encontro entre jornalismo e literatura? O diálogo se permite e os laços se
fortalecem na interdependência dos elementos jornalísticos e literários, ao se entregarem
a uma história. Seja qual for a época ou período, a palavra é sempre compartilhada e
definida como componente, tanto ao se captar determinada realidade, como também, ao
criá- la.
1. Jornalismo e literatura numa experiência híbrida, no livro-reportagem
Mesmo envolvido em brigas, debates e intersecções há algo que a literatura e o
jornalismo não podem negar: ambos se diluem ao acrescentar criatividade e habilidade
narrativa a uma realidade cotidiana, no caso do jornalismo, ou imaginária, como
acontece na literatura. Afinal, tanto o fazer jornalístico, quanto o literário, tem muito a
contribuir e partilhar entre si. Características distintas, numa ligação confluente.
Uma idéia difundida amplamente por autores como Alceu Amoroso Lima, pode
explicar como se dá esta espécie de hibridismo entre os gêneros4. Apesar das
controvérsias que envolvem diversas correntes que rejeitam a hipótese, Amoroso Lima
(1969) insiste na discussão e classifica o jornalismo como um gênero literário:
O gênero literário, portanto, em vez de ser como queriam os antigos,
um tipo de construção estética determinado por um conjunto de
normas objetivas a que toda composição deve obedecer – é um tipo
em construção estética determinada por um conjunto de disposições
interiores em que se distribuem as obras segundo as suas afinidades
4 Para designar o conceito de gênero foram utilizados os estudos literários de Tzvetan Todorov sobre o
assunto, em que este considera o gênero “um ponto de encontro da poética geral e da história literária
factual; ele é, por isso, um objeto privilegiado, o que bem poderia agraciá-lo com a honra de se tornar
personagem principal dos estudos literários” (TODOROV, 1987, p.36). A fim de completar esta idéia e
direcioná-la ao propósito do nosso estudo, mais uma vez, buscaremos em Alceu Amoroso Lima um
enquadramento do conceito, ao tema discutido neste artigo. Assim, o autor caracteriza o gênero como
uma espécie de tipificação peculiar, diante de um universo maior. Cria um tipo único de transmitir idéias
e palavras: “o gênero é assim compreendido, não como uma imposição ou modelo, de fora para dentro,
mas como uma livre disciplina, de dentro pra fora, com princípios ordenadores determinados pela própria
arte em sua função criadora” (AMOROSO LIMA, 1969, p.15).
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intrínsecas e extrínsecas. Nessa concepção flexível e não rígida de
gênero literário é que podemos incluir o jornalismo. (AMOROSO
LIMA, 1969, p.18)
Desse modo, o emprego da palavra será ou não literatura, conforme sua essência,
e não seu veículo de divulgação (cf. AMOROSO LIMA, 1969, p.43). O meio sobressai
o modo de expressão. O jornalismo está disposto na literatura como apreciação dos
acontecimentos (cf. AMOROSO LIMA, 1969, p.40). Esta apreciação, geralmente, é
feita em prosa. “Aí está o quadrilátero fechado: arte verbal, em prosa, de apreciação, dos
acontecimentos” (AMOROSO LIMA, 1969, p.42).
O estilo jornalístico – atualidade, objetividade, realismo, precisão, concisão,
clareza e cultura – como defende Amoroso Lima, constitui o traço diferencial que faz do
jornalismo um gênero literário. É, justamente, este estilo que seleciona o que fará parte
do campo, por isso, o jornalismo é uma espécie de literatura desprovida de ficção. Estas
são as características essenciais ao jornalismo (cf. AMOROSO LIMA, 1969, p.64). Ao
lidar com a palavra verbal, com um fundamento específico, o jornalismo passa a fazer
parte deste território aberto, diverso e plural, que demarca a literatura.
Uma outra justificativa para tal hibridismo, que se mostra presente no livroreportagem
é evidenciada por Sérgio Caparelli. A partir de uma espécie de intersecção
de campos, em que um complementa o outro, o autor indica essa proximidade. Existe,
assim, uma intrusão desses espaços, ligados pela narrativa de um objeto factual (cf.
CAPARELLI, 1996, p.175).
Diante da idéia de campos unidos pelo processo de industrialização, tanto da
notícia, quanto do livro, as transformações ocorridas conduzem ao surgimento de uma
relação híbrida entre jornalismo e literatura. Retomam-se as vertentes originárias dessa
união, de onde resultaram experiências como a reportagem e a crônica de João do Rio e
a linhagem romântica de Euclides da Cunha, bem como, a narrativa marcante do New
Jornalism e da Revista Realidade.
O campo jornalístico estruturou-se a partir desta relação com o campo literário.
Estruturação esta, que refletiu, decisivamente, na formação dos gêneros jornalísticos
existentes, principalmente no que diz respeito ao livro-reportagem. É deste processo de
formação e estruturação do campo jornalístico que advém o caráter híbrido do livroreportagem
(cf. CAPARELLI, 1996, p.182-183).
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De acordo com esse aspecto híbrido, o que seria então, o livro-reportagem?
Depois de perceber a reportagem como um aprofundamento da notícia e a grande
reportagem como a contextualização da mesma, resta ao livro-reportagem abordar
extensivamente o fato reportado, nos mínimos detalhes. Em Páginas Ampliadas – o
livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura, Edvaldo Pereira Lima
evidencia, o seguinte conceito para essa publicação jornalística:
Veículo de comunicação jornalística não-períodica, o livro-reportagem
é um produto cultural contemporâneo, bastante peculiar. De um lado,
amplia o trabalho da imprensa cotidiana, como que concedendo uma
espécie de sobrevida aos temas tratados pelos jornais, pelas revistas,
emissoras de rádio e televisão. De outro, penetra em campos
desprezados ou superficialmente tratados pelos veículos jornalísticos
periódicos, recuperando para o leitor a gratificante viagem pelo
conhecimento da contemporaneidade. (LIMA, 1995, p.7)
É precisamente nesta peculiaridade, em avançar na apuração da reportagem,
quebrando limites impostos pelo próprio jornalismo, que reside a característica
formadora do livro-reportagem. Ele consegue informar, envolver e, até mesmo, entreter
o público, através da leitura de um fato verdadeiro, num ambiente propício a
experimentações e possibilidades narrativas diversas.
O livro-reportagem é, sem dúvida, o resultado mais latente da união entre
jornalismo e literatura. Um romance que busca uma linguagem aprofundada, cujo
objetivo reside em intensificar a utilização de elementos narrativos para estruturar seu
relato. È assim, um subsistema híbrido, que incorpora procedentes operacionais do
jornalismo – pauta, temática, redação e edição – com condicionamentos literários e
editoriais – elementos narrativos, mercado, público, esquemas de distribuição (cf.
LIMA, 1995, p.36).
Tal narrativa possibilita um aprofundamento, um envolvimento maior do leitor
com a história, numa vazão do jornalismo a vertentes literárias, sem deixar de reportar
ou apurar determinada notícia. O livro-reportagem atinge, desse modo, um território que
mergulha no fato e conta uma história. É daí que emana a sedução e emoção desta obra
jornalística, e, ao mesmo tempo, literária. Ampliam-se, não só as páginas escritas, mas
também, o contato entre a reportagem, o jornalista e o leitor. A obra jornalístico- literária
desmonta a idéia de que não se pode fazer um jornalismo literário, sob a égide da velha
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discussão, do que é jornalismo e o que é literatura. Não existem barreiras, mas sim, uma
apropriação técnica entre ambas.
2. Rota 66 e Morcegos Negros transformando fatos em história – uma análise
da construção narrativa no livro -reportagem
A partir de tais conceitos referentes à aproximação entre jornalismo e literatura,
propomos um exercício de observação, lançando um olhar sobre os livros Rota 66 – a
história da polícia que mata, de Caco Barcellos e Morcegos Negros – PC Farias,
Collor, máfias e a história que o Brasil não conheceu, de Lucas Figueiredo, para
verificar como ocorre a transformação do fato em história, no livro-reportagem.
As obras citadas foram escolhidas a partir da repercussão desses livros na época
em que foram publicados, devido às denúncias apuradas pelos jornalistas-escritores e,
até pela própria polêmica trazida pelos episódios reportados. As histórias contadas, pelo
fato de serem histórias, não deixam, assim, de ser reais. Afinal, nem toda história é
fictícia. Uma história pode vir a influenciar determinada conjuntura social, tanto quanto
uma notícia, desde que seja verídica.
O recorte da amostragem engloba os livros-reportagem denúncia5 que, segundo
Edvaldo Pereira Lima (1995), reclamam injustiças, desmandos do governo, abusos de
entidades privadas e públicas e incorreções de segmentos da sociedade. Ao focar,
principalmente, fatos marcados por escândalos, como o caso PC Farias e o grupo de
extermínio da Rota de São Paulo, esses livros se enquadram em tal perfil classificatório.
Sendo assim, as obras denunciam e investigam determinado fato de interesse público.
Daí a escolha específica desta tipificação temática para compor a pesquisa. A análise se
propõe, então, a confirmar a hipótese de que o jornalismo e a literatura são híbridos no
livro-reportagem e que por isso, a estrutura narrativa deste veículo se aproxima bastante
daquela que compõe o texto ficcional, para transformar esta informação factual em
conflito literário.
5 Edvaldo Pereira Lima classifica o livro-reportagem de acordo com uma ordem temática. Assim, ele
propõe as seguintes tipificações: livro-reportagem-perfil, livro-reportagem depoimento, livro -reportagem
retrato, livro-reportagem ciência, livro -reportagem ambiente, livro-reportagem história, livro -reportagem
nova-consciência, livro-reportagem instantâneo, livro -reportagem atualidade, livro-reportagem antologia,
livro-reportagem denúncia, livro-reportagem ensaio e livro -reportagem viagem (LIMA, 1995, p.44-50).
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Para alcançar esta conclusão, o modelo aplicado à análise proposta é resultado
da união de outros três modelos distintos, propostos por Tzvetan Todorov, em As
estruturas narrativas (1970), Othon Garcia, em Comunicação em prosa moderna
(2002) e Cândida Vilares Gancho na obra, Como analisar narrativas (2002). Utilizamos
também, para compor o esquema de análise, Edvaldo Pereira Lima (1995), devido a
profundidade de seus estudos, no que diz respeito ao livro-reportagem e ao jornalismo
literário.
Todorov propõe a análise estrutural da narrativa baseada em seu discurso
literário, mais do que na preocupação de se estudar a obra, propriamente dita. Dessa
maneira, o estudioso oferece recursos avaliativos, que estimulam um esboço concreto
do discurso literário e sua formação estrutural. Para isso, o autor defende que “a
literatura deve ser compreendida na sua especificidade, enquanto literatura, antes de
procurar estabelecer sua relação com algo diferente dela mesma” (TODOROV, 1970,
p.81). Utilizaremos como contribuição de Todorov, a preocupação em estudar a vazão
literária no livro-reportagem e suas estruturas.
Othon Garcia sugere um roteiro de análise de aplicação prática, em relação ao
estudo da técnica narrativa, com o objetivo de aprofundar os aspectos da análise,
distanciando-as de apreciações infundadas ou desconexas. Este roteiro é, então, capaz
de “mostrar os aspectos a encarar, as qualidades a sublinhar, as virtudes a ressaltar no
que diz respeito à técnica narrativa, sua estrutura, à caracterização das personagens, a
linguagem ou estilo e outros aspectos” (GARCIA, 2002, p.262). Aproveitaremos deste
roteiro proposto por Garcia, a valorização, não apenas dos aspectos estruturais da
narrativa, como propõe Todorov, mas, também, da linguagem, temá tica, composição,
temporalidade, concepções e idéias da obra.
Maria Cândida Vilares Gancho estabelece um método específico de análise do
texto narrativo, observado as particularidades do gênero e seus elementos constitutivos
(enredo, tempo, ambiente, personagens, narrador, discurso) (cf. GANCHO, 2002, p.48).
O roteiro proposto por Gancho é superficial para o estudo que se propõe este trabalho,
ao privilegiar apenas os elementos narrativos em sua base analítica. Daí a fusão com as
idéias e concepções de vários autores, no intuito de ampliar, aprofundar e complementar
ainda mais o estudo da estrutura narrativa no livro-reportagem.
Edvaldo Pereira Lima não disponibiliza uma estrutura explícita para análise de
livros-reportagem. Seu apoio a esta fase da pesquisa reside nos subsídios teóricos que o
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autor oferece, quanto às características que compõem o tipo de obra jornalístico- literária
a ser estudada, adequando, desta forma, ao nosso objeto de estudo, conceitos tanto
literários, quanto de cunho jornalísticos.
Diante dessas quatro abordagens, o artigo irá basear sua análise na estrutura
narrativa, mediada pelas características jornalísticas e literárias compõem o recorte.
Neste sentido, a linguagem, estilo, idéias e recursos utilizados pelos jornalistasescritores
para dar forma ao livro, também serão elementos que estarão presentes neste
estudo.
Nos aspectos da obra há uma contextualização da mesma, suas características
gerais como livro-reportagem e qual tratamento dado à temática e notícia. Quanto à
estrutura foram observadas as relações entre os elementos que compõem a narrativa e a
proximidade literária e jornalística. Ao falarmos da linguagem e estilo, buscou-se
perceber como o autor conta a história, quais são suas preferências estilísticas, o tipo de
linguagem utilizada e suas funções. Para fechar este quadro, identificamos ainda, as
idéias e concepções do livro, presentes no ponto de vista do autor, nas impressões
causadas pela leitura e, principalmente, nas contribuições do livro-reportagem. Nesta
parte do trabalho, também foi desenvolvida uma comparação narrativa entre as obras, a
fim de identificar como se dá o processo de construção da narrativa jornalística, com
base na especificidade de tratamento dado pelos jornalistas-escritores ao fato reportado.
A partir do próximo item, a pesquisa irá atravessar o caminho da Rota 66 e voar
nas asas dos Morcegos Negros para entender como o jornalismo e a literatura se
relacionam intensamente no livro-reportagem, ao transformar um fato noticioso em
história, através do jornalismo literário.
3. Rota 66 e Morcegos Negros no livro -reportagem: o jornalismo literário e a
apropriação da estrutura narrativa ficcional
Rota 66 é um livro-reportagem de tons investigativos e propósitos denuncistas. A
obra reúne histórias e evidências sobre o Comando da Polícia Militar Paulista,
responsável pela repressão de crimes. O trabalho de apuração do repórter está embasado
numa pesquisa de cinco anos, que resultou na construção de um Banco de Dados.
Registro este, de números reve ladores sobre as vítimas exterminadas pelos matadores da
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Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), que deveria, ironicamente, proteger o cidadão.
O livro analisa fatos ocorridos entre o início da década de 70 até os meados da década
de 80.
A obra aponta, ainda, as estratégias usadas pela Polícia Militar para ocultar o
fato, que vão desde forjar tiroteios, até encenar a prestação de socorro a vítimas mortas
por tiro à queima-roupa. O mais estarrecedor na descrição dos fatos é a inocência das
vítimas, impunidade dos envolvidos e a conivência da justiça perante os
acontecimentos.
Caco Barcellos não se limita apenas a enxergar e descrever os acontecimentos.
Ele também se torna personagem da história, ao costurar sua atuação e papel de
jornalista, aos e relatos e informações apuradas. A obra não é só um mecanismo que
trata da polícia que mata, mas, também, um relato pessoal da trajetória do jornalista, em
meio ao caráter investigativo de sua profissão como repórter.
O jornalista é o herói. Os fatos são sucessivos e acontecem com agilidade
e empolgação, costurados pelas ações denuncistas do repórter. Neste livro, o relato
altamente detalhado faz de Caco Barcellos mais escritor do que jornalista. É evidente a
preocupação do autor em reportar fatos verossímeis e quanto à questão da qualidade da
apuração, bem como o caráter dos dados ali contidos. Porém, o autor romanceia
bastante a linguagem da obra. Se não houvesse referências comprobatórias daquilo,
seria muito difícil ele sustentar tal denúncia exposta no livro.
Já Morcegos Negros assume um papel bastante difícil quanto à comprovação da
notícia, por esta parecer realmente fruto da ficção: PC e a máfia Italiana? Como? Porém,
o livro-reportagem constrói um tecido contundente que possibilita ao leitor escolher se
prefere acreditar na versão “oficial” da história, ou envolver-se nas hipóteses levantadas
pelas curiosidades e dúvidas do autor, quanto aos mistérios que envolvem o caso PC.
Neste livro, Lucas Figueiredo, não é herói, mocinho, muito menos bandido, mas um
jornalista altamente crítico e disposto a esclarecer fatos obscuros sobre tal
acontecimento.
Morcegos Negros conta “a história que o Brasil não conheceu”. O livro
evidencia a relação de Paulo César Farias – ex-tesoureiro da campanha do também expresidente
Fernando Collor de Melo – com a máfia italiana, na corrupção, lavagem de
dinheiro, narcotráfico e desvio de verbas do Brasil. Collor também não deixa de ser
personagem desta história, assim como tantos outros envolvidos no esquema PC. E, um
dos fatos mais interessantes: muitas das informações apuradas, que sustentam o enredo
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do livro, são de acesso público, as quais, qualquer cidadão poderia consultar. Outras
eram documentos sigilosos do exterior, as quais instituições brasileiras tiveram acesso,
mas se mantiveram omissas a esses dados.
Qual a rota do dinheiro desviado por PC Farias e onde ele se encontra hoje? Esta
é a principal pergunta que o livro-reportagem pretende responder. O autor consegue
traçar a trajetória que esse dinheiro percorreu desde Roterdã, na Holanda, até ser
distribuído em contas de testas-de-ferro. Morcegos Negros apresenta as conexões de PC
com o crime internacional, numa narrativa frenética que tenta desvendar os mistérios
que envolvem o sumiço de U$1 bilhão, segundo cálculos da Polícia Federal, roubados
de cofres públicos. Um dinheiro do qual não se teve mais notícia, depois do assassinato
de PC e Suzana Marcolino, 1996. O faro apurativo e inquieto do jornalista mostra que
ainda há muito mais informações a conhecer, do que aquelas divulgadas pela mídia, em
relação ao rastro obscuro deixado pelos morcegos negros, despertando no leitor um
desejo curioso de saber mais sobre o caso.
Em ambos, a apuração jornalística é visível e vital à composição narrativa da
história. Esta se baseia, justamente, nos fatos reportados, pesquisados e confrontados
por esses autores. A informação noticiosa é, assim, base de sustentação das duas obras
analisadas. Tanto Barcellos, quanto Figueiredo conseguem construir uma narrativa que
utiliza elementos literários, munidos de critérios jornalísticos, ao tratar de informações
verossímeis.
A questão temática debatida nos livros-reportagem abarca assuntos de interesse
público, porém abordados nos demais veículos de comunicação, sem a mesma
profundidade. Rota 66 e Morcegos Negros são livros-reportagem que estabelecem uma
conexão temática contemporânea, ao discutir fatos que envolvem violência policial, no
caso da primeira obra, e escândalos políticos, no que se refere à segunda.
Barcellos e Figueiredo sustentam o caráter noticioso da narrativa. É possível
perceber o fato e seus desdobramentos, mesmo este estando próximo de algo
contemporâneo e não atual, já que Rota 66 fora lançado na década de 90, sendo
constituído por casos dos anos 70 e 80; Morcegos Negros é ambientado a partir de 1990,
quando Collor toma posse na presidência, mas é publicado somente em 2000. Ou seja,
mesmo diante dessa espécie de “retorno” a fatos que tiveram seu ápice, mas depois
foram esquecidos pela mídia, os autores conseguem trazer para os dias de hoje
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informações de grande relevância, que podem nos ajudar a entender a conjuntura social
brasileira, seus entraves, casos mal resolvidos e impunes.
O tratamento que é dado às fontes varia bastante de um livro para outro. Em
Rota 66 estas são utilizadas a fim de dar confiabilidade a narração do autor, além de
ilustrar tal ação na cena. Neste livro-reportagem, grande parte das fontes, são vítimas do
sistema de extermínio instaurado pela Rota paulista. Já em Morcegos Negros a fonte
documental tem uma relevância importantíssima para compor o quadro narrativo e o
enredo do texto. As outras fontes primárias e secundárias ganham força através da
narração indireta do autor, que intercala, algumas vezes, a transcrição da fala do
personagem com a reprodução do diálogo. Tal estratégia dá possibilidade ao jornalista
de atuar como um mediador entre a história reportada e a fonte de pesquisa. O que há
de proximidade nos dois livros, quanto à captação das informações coletada através de
fontes, é o modo verossímil que estas imprimem a narrativa. É como se o jornalista
dissesse: “o que eu estou falando é verdade, a testemunha não me deixa mentir”. Podese
afirmar, então, que é comprovado e atuante o papel da fonte em ambos os livrosreportagem.
O eixo de abordagem é determinado pelo ponto de vista de cada autor com
relação ao assunto. Se Caco Barcellos deseja ser a voz dos oprimidos, o repórter das
vítimas de extermínio da Rota, e ele foca toda a narrativa neste contexto, Lucas
Figueiredo quer ser o típico detetive, utilizar seu faro jornalístico e dedutivo para ir
além do que se sabe sobre o caso PC. É nesta vontade que incide a reportagem narrativa
presente na obra. Assim, os livros reportagens analisados, mantiveram-se de um lado da
história, conforme o ponto de vista do autor, defendido através do seu posicionamento
seja ele explícito, como no caso de Barcellos, ou indireto, como Figueiredo. Não é um
mero livro mais aprofundado sobre tal assunto, possui uma carga reativa do jornalista
muito forte, algo quase impossível de ser visto nos formatos noticiosos do jornalismo
convencional.
A estrutura do texto narrativo no livro-reportagem se aproxima bastante daquela
que compõe o texto ficcional, como pudemos perceber através da análise do recorte
proposto. Tal característica dá ao jornalismo a possibilidade de atuar livremente na
composição de uma história real, sem as entranhas e amarras da ditadura do lead e das
normas impostas pelo gênero. As possibilidades literárias unidas à veracidade e temática
jornalística abrem espaço para uma reportagem mais atraente, aprofundada e dinâmica
aos olhos do leitor, sem deixar de lado os princípios que regem o fazer jornalístico.
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Os estudos analíticos construídos neste trabalho mostram que Rota 66 e
Morcegos Negros são livros-reportagem que transformam fatos em história, ao utilizar
meios da literatura e as estruturas narrativas ficcionais, providas de objetos jornalísticos
para deliberar esse processo de mutação. Através do livro-reportagem, o hibridismo,
fruto dessa fusão entre jornalismo e literatura, contempla um texto de contornos
literários e disposição jornalística. É como se a parte exterior fosse composta pela a
literatura e o que há de interior tivesse a presença maciça do jornalismo. Fatos se
transformam em história, sim, basta uma mente aguçada e apurativa e uma criatividade
literária para tornar híbrida essa condição, sem perder de vista a realidade concreta do
acontecimento.
4. Considerações finais
Pensar a relação entre jornalismo e literatura, nos mostra que é possível buscar
uma fronteira permeável entre as duas modalidades de escrita, a fim de investir na
construção de um texto mais atrativo e uma literatura mais real. Ao analisar a estrutura
narrativa dos livros-reportagem Rota 66 e Morcegos Negros, fica clara a importância
desta relação híbrida, para a composição de um texto jornalístico mais próximo daquilo
que propõe a essência da verdadeira reportagem, diferente do que Luis Milman chama
de “noticiarismo”6:
A reportagem é uma modalidade jornalística deprimida nas redações
de hoje. Pelo ou menos, na sua forma mais elaborada. Sem a
compreensão adequada das condições metodológicas que a tornam
possível, a idéia de jornalismo inteligente que ela realiza dá lugar a
uma realidade na qual se produz um jornalismo in digente. Por essa
razão, para quem se interessa, ou faz, ou, sobretudo, pretende fazer
jornalismo, discernir entre a metodologia sofisticada da reportagem e
a metodologia esquemática do noticiarismo é talvez, saber fazer a
mais relevante das distinções. (MILMAN, 1998, p.29)
A reportagem se vê, hoje, distante das suas reais propostas, ao disputar com a
notícia industrializada e o volume avassalador de informações em tempo real a atenção
6 O termo “noticiarismo” é usado por Luiz Milman para designar o jornalismo preocupado apenas em
atender o processo de industrialização da notícia, sem, no entanto, valorizar o tratamento que é dado a
este fato. O que vale é o imediatismo e a rapidez com que este circula e não necessariamente seu
contexto. É ainda, a representação da falta de metodologia do jornalismo (cf. MILMAN, 1998, p.30).
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dos meios de comunicação. O gênero encontra na literatura a possibilidade de retomar
seu espaço e reagrupar seus princípios formadores. Para Juremir Machado Silva é a falta
desta aproximação que causa o problema do jornalismo contemporâneo:
O grande problema do jornalismo contemporâneo vem do seu ideal de
expressão (conteúdo) máxima, com expressividade (forma) mínima.
Em outras palavras, o jornalismo quer dizer muito com pouca
literatura. Houve uma fase em que a ruptura com o modelo literário se
impunha e significou uma libertação para o texto jornalístico. Hoje o
fosso existente determina, cada vez mais, um desconhecimento pelo
jornalista, da textura literária das palavras. A ambigüidade esconde-se,
travessa, na superfície dos textos que dizem aos seus autores o que
eles não podem interpretar. (SILVA, 2002, p.51)
O que se pode perceber é que a reportagem nos meios convencionais está sendo
diluída pelo imediatismo do fato, que acaba produzindo informações sem contexto, que,
por conseguinte, irão gerar uma incompreensão desse episódio. Este tratamento dado
pelo jornalismo convencional ao fato jornalístico não passa de uma “produção voltada
para os instantâneos, que são reunidos em coletâneas diárias e articulados segundo
critérios de consumo” (MILMAN, 1998, p.31). E nesta situação que se encontra inserida
a realidade da reportagem atualmente nas redações. O gênero é corrompido por esse
processo de industrialização da notícia, que se resume apenas a descrever fatos, sem, no
entanto, buscar ligações entre as informações e pensar num modo criativo de transpô-las
do estado do acontecimento para o caráter de história da vida real.
Diante dessa posição crítica de inexpressão do gênero de grande valor para a
prática jornalística, a solução para o seu ressurgimento parece estar na utilização de
meios literários, através de sua estrutura narrativa, para recompor a veemência da
reportagem. É preciso fazer o caminho inverso, retroceder nas relações originárias e
formadoras da reportagem, que tinha como foco proposital a relação de meios
jornalísticos com características literárias. A reportagem necessita, então, não somente
relatar com profundidade e contexto, mas também contar histórias fincadas na realidade
cotidiana e nos indivíduos, que a personificam.
O livro-reportagem consegue penetrar neste espaço confluente que permeia o
encontro entre literatura e jornalismo. Ele é o resultado mais intenso dessa híbrida
ligação. Sem medos ou receios, a reportagem em forma de livro informa, aprofunda e
dinamiza a leitura, não provocando qualquer dano ao caráter jornalístico e interpretativo
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a que se propõe. Este embarca num objeto ficcional, mas consegue manter sua
predisposição verossímil e entrelaçada à realidade dos acontecimentos. Aproveita,
assim, da literatura sua variedade criativa e possibilidades de se contar uma história,
mas, mantém, do jornalismo, sua ação prática e deliberada pela narrativa real do
conjunto em que está inserido.
A análise e estudo desencadeado neste artigo nos permite entender o número
infinito de alternativas, que podem conduzir o jornalismo a uma esfera mais instigante e
sedutora aos olhos do leitor, sem, no entanto, se ver forçado a imaginar fatos incríveis
ou reportar fantasias e devaneios. Existem histórias reais que precisam ser contadas
como histórias e não como meros relatos descritivos, sem qualquer expressividade,
característica esta, essencial à prática jornalística. Esse necessita, assim, rever o modo
como se reporta o fato e transportá-lo até o agente mais interessado – a sociedade.
Daniel Piza explicita com clareza os medos e receios, tanto da literatura, quanto do
jornalismo, em investir nesta relação envolvente, cálida e, até mesmo, apaixonante:
É preciso [o jornalismo] perder o medo de usar palavras menos
óbvias, fugir ao lugar-comum, costurar melhor descrições e
argumentos, acrescentar pitadas de humor, ironia e até lirismo, usar
recursos como metáforas, trocadilhos e mudanças de andamento. É
preciso diversificar os gêneros. [...] Se a literatura deve perder o medo
da realidade, de interpretar a sociedade brasileira em sua
complexidade e drama, o jornalismo deve perder a submissão ao que
considera ser realidade, a submissão às versões oficiais e ideológicas
sobre os fatos, para conseguir ir além deles. O resultado, a língua
agradece. (PIZA, 2002, p.137)
Praticar um jornalismo baseado numa estrutura ficcional, para transformar um
fato em história é plausível. O livro-reportagem está aí, justamente, para confirmar tal
atitude. É preciso sofrer metamorfoses, estar, assim, em constante processo de
transformação. Mais do que de fórmulas perfeitas, o jornalismo precisa de condições
narrativas diversificadas para reportar o fato, ou conduzir uma história. O jornalismo
possui predisposição literária, no que diz respeito a sua capacidade adversativa de saber
adaptar-se a meios literários em benefício do seu processo de atuação. Basta apenas,
converter isso em narrativa jornalística, histórias da vida real.
5. Referências Bibliográficas
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