sábado, 4 de junho de 2011

10930 - OS ACÁDIOS

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"Se estudarmos a literatura dos antigos Babilônicos e Sumérios, não mais poderemos acreditar na descrição de religião pagã que tem sido parte da tradição ocidental e ainda pode ser encontrada com freqüência em escritos modernos sobre religião. Ao invés de deuses caprichosos, agindo somente tendo em vista seus próprios desejos, encontramos divindades que se interessam pelo ordenamento organizado do universo e a regulamentação da história. Ao invés de arrogância e crueldade divinas, encontramos deliberação e compreensão. Ao invés de ilegalidade e violência, vemos um desenvolvido sistema de leis e uma longa tradição de jurisprudência reflexiva. Ao invés de atitudes e comportamento imorais, encontramos deliberação moral, especulação filosófica e preces de penitência. Ao invés de ritos orgiásticos selvagens, lemos hinos, procissões, sacrifícios e preces. Ao invés do paganismo gentílico da imaginação ocidental, a literatura cuneiforme nos revela um politeísmo ético que comanda séria atenção e respeito (Introdução, pp. 2 e 3)
Professor Tikva Frymer-Kensky (1992) In the wake of the Goddesses: women, culture and the biblical transformations of Pagan Myth. Fawcet-Columbine, New York.



Dingir - símbolo para Divindade, colocado à frente do nome da deusa/deus

UM BREVE OLHAR SOBRE A RELIGIÃO NA MESOPOTÂMIA


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Lishtar

No que segue, abordaremos de forma breve alguns temas importantes que podemos apreender como fundamentais para o nosso maior entendimento da religão na Mesopotâmia. Os temas serão apresentados de forma esquemática e concisa, a fim de facilitar a apresentação dos dados e sem prejudicar o conteúdo dos temas abordados.

1. Religião astral

Segundo Winckler, religião na Antiga Mesopotâmia provavelmente surgiu da contemplação das estrelas e dos planetas e suas movimentações no firmamento, portanto contendo um forte elemento de mitologia astral, baseada em teoria desenvolvida por estudiosos sumérios, postulando que os poderes divinos estavam representados nos planetas e nas estrelas, e que tais poderes superiores deveriam ser seguidos pela hierarquia de poderes na terra. Os fenômenos astronômicos eram os únicos considerados constantes e bem definidos, portanto, eternos por sua natureza. Os deuses e deusas são antropomórficos, e os corpos celestes, freqüentemente associados a divindades específicas, são uma revelação parcial do poder Divino em sua manifestação material, poder Divino que age de acordo com normas e e eventos constantes. Dos céus, que são a manifestação mais clara dos deuses e deusas, esta ordem divina podia ser seguida e observada em graduações constantes, que também se manifestavam no plano da existência humana, especificamente as realidades políticas e sociais. O estudo e observação dos astros fazia com que também se obtivesse uma melhor visão das forças atuando sobre as mais diversas esferas da existência. Em suma, a expressão literária Das Grandes Alturas às Grandes Profundezas pode bem ser a versão mesopotâmica da máxima hermética posterior "Assim na Terra como no Céu".

2. O Cosmo como o Estado

Os antigos mesopotâmicos cresceram num ambiente árido e difícil. Encontramos na religião mesopotâmica de forma marcante a constância dos ritmos cósmicos, como a mudança das estações, o movimento das estrelas nos céus, etc. junto com um elemento de força e violência. Os rios Tigres e Eufrates podem ser subir de forma imprevisível e violenta, prejudicando diques e afogando as plantações. A região estava frequentemente sujeita a tempestades de ventos, que ameaçavam sufocar os seres vivos. Havia também chuvas torrenciais que tornavam a terra firme num mar de lama, portanto roubando a liberdade de movimento . Na Mesopotâmia, a Natureza não era plácida e serena, mas um conjunto de poderes que controlavam a vida e a morte.

Os Mesopotâmicos, portanto, contemplavam as fontes de poder com admiração, respeito, reverência e medo. Sozinho frente a esta natureza hostil e poderosa, a noção do quão fraco ou fraca ele ou ela o eram na realidade, se comparados com os poderes da natureza, deveria ser uma constante. Entretanto, eles também tinham consciência através dos mitos da Criação de que a humanidade havia sido criada para continuar os trabalhos da existência para os deuses e deusas, e portanto tinham fé na ordem cósmica, cujos desígnios lhes eram também insondáveis, mas que guiavam toda criação. Colocando esta noção fundamental em termos mais simples, os Mesopotâmicos viam a ordem cósmica como uma ordem the vontages - como um Estado.

Esta forma de ver o mundo parece ter-se formado no momento em que a Mesopotâmia começa a surgir como civilização, ou seja, no período de antes do começo da história escrita, ou período Proto-Histórico. Por milhares de anos, migrações entraram e se estabeleceram no Vale dos Dois Rios, uma cultura pré-histórica seguindo-se por outra - todas fundamentalmente semelhantes. Mas com o advento do período da proto-história, cerca de metade do quanto milênio-começo do terceiro milênio antes da nossa era, começa a se cristalizar a civilização mesopotâmica.

Esta mudança fundamental foi provavelmente possibilitada pelo surgimento da agricultura em larga escala, com o uso de irrigação. Esta era feita por meio de canais, uma forma que ira mudar para sempre as características da agricultura mesopotâmica. Ao mesmo tempo e como consequência da boa prática agrícola, aumenta a população da região. As vilas se expandiram em cidades, o poder político passa a ser exercido por uma assembléia geral, feita de homens adultos e livres. Esta é a primeira organização de poder coletivo, ou Democracia Primitiva. Em mitos, esta realidade é descrita como "as cestas construíram as cidades", ou seja, o excesso das colheitas levou à formação dos primeiros centros urbanos. Os homens livres da assembléia escolhiam o rei para governar as cidades em tempos de crise. Passada a crise, o poder voltava à assembléia.

A centralização da autoridade e o novo modelo político podem ter sido responsáveis pela emergência da monumental arquitetura mesopotâmica. Templos começaram a ser erguidos nas planícies, em geral construídos sobre montanhas artificiais de tijolos secados ao sol, os famosos zigurates. Obras de tais proporções pressupõe um grau de organização dentro da comunidade só então atingido.

No plano intelectual/espiritual, a escrita cuneiforme foi inventada, primeiramente servindo como elemento contábil das oferendas feitas aos templos, mas logo evoluindo para veículo literário. Esta arte então floreceu, trazendo o imenso legado dos Épicos de Gilgamesh, Lugalbanda, etc.

Em termos políticos, econômicos e nas artes, a Mesopotâmia encontrou já em seus tempos mais remotos de existência as formas através das quais podia entender e lidar com seu universo em diversos planos de manifestação. O estado cósmico portanto manifestou-se bastante cedo, como uma Democracia Primitiva e se seguiu para o modelo centralizado de poder.

3. Mesopotâmicos e o Fenômeno da Natureza

Os Mesopotâmicos acreditavam que os fenômenos do muito ao seu redor eram animados, vivos, que os poderes e a natureza tinham personificação divina. Tais fenômenos não eram humanos, mas possuíam vontade e personalidade. A religião portanto era politeísta e panteísta. Portanto, para entnder a natureza e seus variados fenômenos, os Mesopotâmicos procuravam entender a vontade, a personalidade, a direção e manifestação desta variedade de poderes.

4. A Assembléia dos Deuses e Deusas

Para os mesopotâmicos o mundo físico era representado pelos seres vivos e por todas as criaturas, bem como os seres inanimados e os fenômenos naturais. As noções de certo e errado, justiça, bem-viver, etc. eram aplicadas a todos, dependendo do escopo da existência. Portanto, todos estavam sujeitos a uma hierarquia de poderes maiores, representados pelos deuses e deusas, que julgavam e deliberavam sobre todos os assuntos que regiam este mesmo universo.

Os grandes deuses compreendem os Poderes do Céu e da Terra, chamados de Igigi e Anunaki. O líder da Assembléia era Anu, o deus do Firmamento, e a seu lado estavam Enlil, Deus do Ar, Enki, deus das Águas Doces, Sabedoria e Mágica e Ninhursag, a Grande Mãe.

A Assembleia funcionava da seguinte forma: os assuntos eram apresentados na presença de todos os deuses, que então "perguntavam uns aos outros", ou seja, discutiam o problema. Temas eram então esclarecidos e o consenso então começava a ser formado. Desta forma, conseguia-se chegar a um consenso. A última palavra cabia a Anu ou Enlil. An/Anu era portanto a imagem da autoridade, e Enlil, a imagem da força.

5. Religão na Prática: Exemplo dos Sumérios

5.1 O Panteão Sumério

O panteão de deuses dos Sumérios não era simples. Havia muitos componentes para identificar um deus: fatores naturais, políticos, culturais e familiares. Em parte, os deuses representavam o poder que se sentia no universo. Os deuses ordenavam, regulavam e controlavam os elementos naturais: céu, o sol, a lua, as tempestades e estrelas. Desta forma, todos os aspectos do cosmo que tinham algum significado para a vida dos humanos eram supervisionados e determinados. Por causa da supervisão dos deuses, o mundo não era caótico. Aqueles mesmos deuses que controlavam a natureza também supervisionavam a polis. Cada cidade-estado da antiga Suméria tinha seu próprio panteão, liderado pelo deus ou deusa patrono(a) daquela cidade. O deus-sol Utu era o deus de Sippar, o deus da Lua Nanna era o deus de Ur, e assim por diante. Estes deuses detinham a patronagem e os cuidados de suas respectivas cidades, e eram celebrados nos cultos locais destas cidades. Nos primeiros períodos históricos da Suméria, o deus ou deusa (através de seus representantes do templo) era provavelmente o maior proprietário de terras e maior empregador da cidade, sendo que a adoração do(a) deus(a) era uma forma efetiva, dotada de significado para mobilizar a comunidade. Ao longo de toda história dos sumérios, o deus da cidade, acreditava-se, cuidava da prosperidade e bem-estar locais, assegurava a paz e prosperidade, além de manter uma relação especial com o governante local. Este conceito de deus-local ou da cidade expressava um sentido de comunidade, tal qual um todo orgânico. A cidade não era apenas um conjunto acidental de pessoas que viviam num mesmo local. Ela era, acima de tudo, uma entidade que tinha unidade, integridade, e poder - um local onde o divino poderia se estabelecer.

5.2 Deus Pessoal

Outro eixo de identidade divina era o do "deus pessoal". Cada família entendia-se estar sob a patronagem de um deus ou deusa específicos, que protegia os membros da família, ajudando a assegurar a saúde, a prosperidade e o sucesso. Além do mais, cada indivíduo, não importando quão importante ou não fosse, tinha seu deus ou sua deusa. A classificação destes deuses pessoais no panteão era comparável à importância do indivíduo. Pessoas comuns tinham deuses cujos nomes eles o sabiam, mas que raramente chegaram até nós. Os poderosos da Suméria tinham os grandes deuses cósmicos como seus deuses pessoais.

5.3 Deuses e deusas locais

Tendo em vista que as cidades-estado não eram isoladas umas das outras, os deuses de várias cidades-estado tinham de Ter alguma relação entre si. Ao longo do primeiro milênio de história registrada, havia duas forças contrárias na Mesopotâmia: uma, lealdade à sua cidade, e a rivalidade entre cidades que tal fato produzia, e, por outro lado, uma motivação pela paz através da confederação com governos nacionais. Houveram tais períodos de unificação regional como o Período Sargônido ( o Período Acádio, cerca de 2100-2000 Antes da Nossa Era ou 4000 anos atrás); houveram períodos de domínio local, como os de Isin-Larsa ( o Período Antigo Babilônico Anterior, cerca de 2000-1800 Antes da Nossa Era). Estes períodos históricos estabeleceram-se e se foram, e o poder relativo dos deuses das cidades Mesopotâmicas subiu e desceu com eles. Os deuses tinham relações harmoniosas entre si; os deuses identificavam-se uns com os outros e/ou estabeleciam relações familiares entre si. Teologias rivais se desenvolveram, tais como aquelas ao redor de Enlil e Enki, mas então mais tarde harmonizaram-se entre si na criação de um panteão nacional.

Há ainda um outro fator que aumenta a complexidade do panteão mesopotâmico. Dois povos distintos viviam no sul do Iraque deste o início da história: os sumérios e os acádios. Tanto quanto podemos constatar, não existiam conflitos étnicos entre eles. Sumérios e acádios também não possuíam culturas separadas. Apesar do fato destes povos falarem idiomas bastante diferentes, os falantes de acádio participavam integralmente do que chamamos de civilização suméria. Várias pistas lingüísticas indicam de forma bastante conclusiva que a escrita foi desenvolvida para escrever sumério. Mas a escrita não era propriedade exclusiva dos povos que falavam sumério. As tábuas de Abu Salabikh, escritas em sumério logo após o alvorecer da escrita, foram freqüentemente inscritas por povos que se assinavam com nomes obviamente acádios. Ao mesmo tempo, o povo de Ebla, na Síria Central, que também falava um idioma semítico, escrevia também belíssimas tábuas de argila em sumério. Pelos primórdios da história registrada, já havia uma quantidade considerável de miscigenação cultural ou sincretismo entre os semitas (acádios e sumérios).

À medida em que a história progride, a relação entre os semitas e os sumérios torna-se mais complicada. A primeira unificação bem sucedida das cidades do Sul da Mesopotâmia (da qual se sabe) foi por Sargão, rei da Acádia, em cerca de 2350 BCE. As inscrições reais the Sargão são todas em acádio (nossa primeira literatura em acádio), but durante seu reinado, Enheduanna, a filha de Sargão e sacerdotisa-princesa de Ur, compôs hinos extensos e muito lindos em Sumério. O grande florescimento da literatura suméria ocorreu no que chamamos de Período Neo-Sumério, o tempo dos reis da Terceira Dinastia de Ur (cerca de 2111-2000 BCE), e dos reis das dinastias de Isin e Larsa que se seguiram (Período Babilônico Anterior). Sabe-se, porém, por um farto corpo de evidência que mostram que os povos do Período da Terceira Dinastia de Ur não falavam mais sumério. Este grande florescimento foi acontecendo enquanto que o idioma sumério se transformava numa linguagem erudita, posição em que se manteve mesmo apesar da maior parte da literatura religiosa ser escrita em acádio. Ao redor do Período Babilônico Antigo, estava-se desenvolvendo uma literatura acádia mas assim mesmo, os textos religiosos sumérios eram não só copiados e estudados, como também compostos.

Pelo começo do Segundo Milênio, um novo elemento étnico entra em ação. Uma grande e extensa migração dos semitas ocidentais, povos da região da Séria, Líbano e Israel, imigraram para Mesopotâmia, sendo absorvidos. Alguns destes povos tornaram-se as dinastias regentes das maiores cidades do Sul. Os textos religiosos escritos nesta época (chamado de Período Antigo Babilônico Anterior) em qualquer língua que tenham sido escritos, estão inseridos na Tradição Mesopotâmica, mas são, entretanto, uma mistura de idéias (Velho Acádio ou Sumério), que foram trazidos pelos semitas ocidentais.

Além destes fatores históricos e étnicos, o panteão mudava constantemente em resposta a diferentes sistemas econômicos e novas realidades sócio-econômicas. Tudo isto contribui para um panteão rico e variado, tão fascinante quanto assombroso. Naturalmente, este panteão também torna-se um pouco confuso para nós que não estamos familiarizados com tal infinidade de poderes. Mesmo os próprios Mesopotâmicos sentiram a necessidade de dar alguma certa ordem a esta assembléia de deuses. Já nos primeiros períodos da escrita suméria, em Abu Salabikh, fica claro que os escribas (teólogos) da antiga Suméria sentiram-se compelidos a colocar os deuses dentro de um certo sistema. Um destes textos muito antigos de Abu Salabikh é uma lista de deuses. A lista de deuses coloca o grande conjunto de divindades numa relação compreensível e intelectualmente sofisticada entre as partes envolvidas. Esta tarefa de compilação de listas de deuses continuou ao longo the toda história da Mesopotâmia, culminando com a grande lista de An-anun, cuja edição moderna ainda está sendo preparada.

5.4 Equilíbrio de gênero e sexo: Mundo de Deusas e Deuses

O complexo panteão dos sumérios, de imediato, divide-se em duas categorias facilmente reconhecíveis: deuses e deusas. A adoração de deusas não constituía uma religião separada, sendo que deusas e deuses faziam parte integral do pensamento e da religião dos sumérios. As histórias sobre as deusas não vêm de um culto feminino separatista e não são fantasias femininas ou mitos feitos por mulheres apenas. Estas histórias provém da principal literatura existente, da cultura prevalecente na Suméria. Os autores da maior parte destas composições, tanto homens quanto mulheres, são anônimos; mas os primeiros grandes poemas sumérios foram escritos por uma mulher, Enheduanna, que foi tanto uma sacerdotisa (EN) do deus Nanna na cidade de Ur, e princesa real, filha do rei Sargão, o Acádio. Ela foi o equivalente a Shakespeare da literatura suméria no sentido de que suas lindas composições foram estudadas, copiadas e recitadas por mais de meio milênio após sua morte. Estes poemas não eram compartilhados apenas com mulheres da antiga Suméria. Pelo contrário, conhecemos estes poemas, bem como a maior parte da literatura dos antigos sumérios de cópias que foram feitas por estudantes das antigas escolas sumérias. A maioria destes estudantes eram homens. Os poemas de Enheduanna e outros mitos e hinos sobre deusas cujos autores (homens e mulheres) são desconhecidos, eram parte do currículo destas escolas, estudados e ensinados por homens. Homens e mulheres discutiam e adoravam as deusas da antiga Suméria. Note que eu falei de equilíbrio de gênero e sexo em termos da presença de deuses e deusas. Eu não falei de igualdade de forças, que provavelmente jamais existiu em tempos históricos.

Este panteão composto de dois gêneros espelha a dualidade da natureza, nas quais os seres humanos e outros animais, e até mesmo algumas plantas, ocorrem como masculino e feminino. Em alguns casos, o sexo de um deus não faz grande diferença para sua função. No controle de suas cidades, as deusas e os deuses desempenham papéis equivalentes. Uma cidade poderia Ter como patrono um deus ou uma deusa. Na maior parte das vezes, esta divindade também tinha um (a) esposo (a) que era menos importante para o bem-estar da cidade do que a própria divindade. Não era sempre o parceiro a divindade mais importante. Qualquer configuração era possível: a deusa podia ser a maior divindade, com o seu esposo ou consorte de menor importância do que ela; o deus poderia ser a divindade principal, com a esposa secundária a ele.

Entretanto, no mais conceitual dos domínios, a divisão de sexos no mundo divino dos sumérios não era acidental. O sexo de um deus ou deusa era fundamental para a definir o papel do deus ou deusa no imaginário das pessoas. Deuses e deusas não são intercambiáveis, ou sjea, o deus Enlil não poderia ser a deusa Ninlil, sua esposa. A deusa Inana não poderia ser o deus Utu, seu irmão. A feminilidade de uma deusa é essencial. Veremos nos capítulos que seguem que o pensamento sumério compreendia quatro domínios fundamentais: sociedade, cultura, natureza e história. Em cada um destes domínios, as deusas desempenhavam um papel que era essencialmente feminino. Como veremos, as deusas definem a ser mulher na família, cultura, cosmo e polis. As histórias criam um panorama orgânico do significado e complexidade do que o conceito ser mulher poderia Ter sido neste antigo sistema de pensamento. Elas também revelam a importância da dicotomia homem-mulher no pensamento politeísta.

Referências:

Infelizmente, não dispomos de literatura sobre Religião na Antiga Mesopotâmia em língua Portuguesa. Entretanto, algumas referências fundamentais sobre o assunto são as seguintes obras

1. A. L. Oppenheim (1977) Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization. University of Chicago Press, Chicago, London.

2. Thorkild Jacobsen (1976) The treasures of Darkness: a history of Mesopotamian Religion. Yale University Press, Yale, London

3. Jean Bottéro (2001) Religion in Ancient Mesopotamia. University of Chicago Press, Chicago, London.

4. Jean Bottéro (1994) Mesopotamia: Writing, Reasoning and the Gods. University of Chicago Press, Chicago, London.


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