O Conflito entre Israelenses e Palestinos no Oriente Médio e as Conseqüências no Mundo do Petróleo
Keyla Sarges Marruaz
Descoberto no início do século XX, o petróleo se tornou um dos mais importantes elementos da economia mundial. Além de usado como combustível, vários outros derivados colocam o petróleo como base da economia de muitos países, sendo alvo de cobiça e sinal de riqueza para quem detém as jazidas.
O Oriente Médio, logo após a Primeira Guerra Mundial, já era o maior produtor petrolífero do mundo e, por isso, despertava o interesse das grandes potências.
Assim, os países europeus, interessados no petróleo e na posição estratégica da região, passaram a dominar a área. Houve, então, uma partilha dos países do Oriente Médio entre França e Inglaterra, que passaram a dominar as empresas de exploração de petróleo. Para citar um exemplo, em 1926, a Irak Petroleum Company foi repartida entre Inglaterra, que detinha 52,5% das ações; França, com 21,25% e EUA, com 21,25%; restando ao Iraque somente 5%. Cerca de 90% da produção mundial passou para o controle de um cartel constituído por uma oligarquia de sete companhias petroleiras internacionais, conhecidas como as "Sete Irmãs", das quais cinco eram norte-americanas. São elas: Standard Oil of New Jersey, agora conhecida por Exxon; Standard Oil of California, agora Chevron; Gulf, agora parte da Chevron; Mobil e Texaco; uma britânica, British Petroleum e uma anglo-holandesa (Royal Dutch-Shell). Após a Primeira Grande Guerra Mundial, as "sete" formaram joint ventures para a exploração de campos petrolíferos estrangeiros.¹
Como conseqüência desse imperialismo, houve um grande êxodo rural na região, o abandono do “campo” em busca das grandes centros econômicos, principalmente do Egito para os países do Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Barém, Omã e Qatar), provocando desequilíbrios populacionais e econômicos. Apenas uma pequena classe de privilegiados tinha acesso ao dinheiro e a maioria dos petrodólares eram investidos nos grandes centros dos países ricos (EUA, Canadá, Japão, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Itália), restando 7% de investimentos aos 22 países árabes.
Com a qualidade de vida da população baixando, um forte sentimento de independência surgiu nos países árabes. Os produtores de petróleo passaram a pressionar as "Sete Irmãs" estabelecendo uma divisão de lucro de meio a meio e, em 1960, criaram a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), cujos países membros são: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Catar, Kuwait, Iraque, Líbia, Indonésia, Nigéria, Venezuela e Argélia, para organizar e fortalecer essa política de independência frente às grandes potências. Assim, a Opep conseguiu diminuir o poder das companhias petrolíferas internacionais e estabelecer total domínio sobre a produção e comercialização de seus produtos.²
A Primeira Guerra Mundial veio demonstrar que o petróleo era imprescindível e estratégico para todas as nações que buscavam o progresso.As empresas européias intensificaram as pesquisas em todo o Oriente Médio. Elas comprovaram que 70% das reservas mundiais de petróleo estavam no Oriente Médio e provocaram uma reviravolta na exploração do produto. Um tempo depois, países como Iraque, Irã e Arábia Saudita ganharam alto poder no jogo da produção petrolífera.
E foi nesse contexto de domínio das reservas que aconteceram as três grandes crises do petróleo.³ A primeira foi em 1973, quando o mundo vivia uma época de crescimento industrial. As máquinas eram completamente dependentes do petróleo para funcionar. Se aproveitando dessa situação, os árabes, maiores produtores, entraram em conflito com Israel, país que contava com o apoio dos EUA (país que menos sofreu, porque tinha uma grande reserva de petróleo e porque os petrodólares eram investidos no mercado americano) e Europa. Como represália, os árabes decidiram boicotar o Ocidente, cortando a extração de petróleo em 25%. O preço do barril saltou de U$ 2,00 para U$ 12,00.
Na segunda crise, em 1979, além dos donos dos poços de petróleo (os árabes) mais uma vez reduzirem sua produção, conjunturas políticas externas fizeram com que o preço subisse violentamente, saltando para a casa dos U$ 40,00, provocando desespero nos países importadores de petróleo. Para sair dessa dependência, os países importadores passaram a desenvolver formas alternativas de combustíveis como o álcool, a energia nuclear e o carvão mineral. A exploração de jazidas de petróleo também se intensificou em muitos países. No Brasil, o projeto Proálcool e o aperfeiçoamento da Petrobras foram as maneiras encontradas para contornar o problema da alta do preço.
Na terceira crise, houve então, a Guerra do Golfo em 1991, quando o Iraque invadiu e anexou o Kuwait, o que gerou um forte conflito. O motivo foi o baixo preço do petróleo no mercado mundial no início da década de 90, além do Iraque sintetizar uma dívida externa de US$ 80 bilhões. Foi então que Saddam Hussein bombardeou os poços de petróleo kuwaitianos antes da retirada, acusando o país (Kuwait) de causar baixa no preço do petróleo, vendendo mais que a cota estabelecida pela OPEP. Toda essa história gerou uma grande especulação que fez com que os preços oscilassem, intensamente.
A incursão do Oriente Médio na dominação de suas produções de petróleo, principalmente a partir de 1973, trouxe junto muitas guerras, concentração de renda e aumento das desigualdades sociais. Os conflitos religiosos e territoriais, que sempre marcaram a região, se intensificaram com a questão do petróleo.
Um fato que agravou toda essa discussão foi Saddan Hussein ter passado a vincular a retirada de suas tropas do Kuwait com a criação de um Estado Palestino, fazendo crescer os conflitos entre judeus e palestinos em Israel. Os Estados Unidos se aliaram a Israel, para dominarem as fontes petrolíferas e avançarem no seu projeto de hegemonia mundial. Para isso, enviam, anualmente, mais de 4 bilhões de dólares para o país, além de transferirem armamentos e tecnologia militar e prestarem apoio político àquele Estado em todos os fóruns internacionais.³
Desde então, o Oriente Médio se tornou palco de conflitos. O motivo da guerra está muito além das diferenças religiosas, passa pelo controle de fronteiras, de terras e pelo domínio de regiões petrolíferas.³ E este aumento do petróleo internacional, não afetará o abastecimento do produto ao Brasil, mas influenciará no preço (volatilidade), que é o que já está acontecendo quando a Petrobras anunciou um reajuste interno do combustível a uma variação de 5% nos preços internacionais a cada 15 dias.4
Apesar do grande salto registrado na produção nacional, a Petrobras não pode produzir combustíveis usando apenas o petróleo brasileiro. É muito pesado. A empresa utiliza o petróleo iraquiano do tipo "basra light", um óleo de alta qualidade que é usado principalmente para produção de óleos lubrificantes pela Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro. Essa refinaria foi construída para processar dois tipos de petróleo leve que a Petrobras importa do Oriente Médio: além do iraquiano "basra", ela usa o tipo "arabian light", produzido pela Arábia Saudita.5
Com todo esse dinamismo do mercado, a Petrobras busca rentabilidade, mas acredito que se faz necessário que ela adote uma política que gere lucro sem prejudicar a qualidade de vida da população brasileira, a estabilidade de sua economia e a nossa competitividade internacional.
Referências:
1) Jornal O Estado de São Paulo, http://www.estadao.com.br; sessão “Grandes Acontecimentos Internacionais”;
2) Artigo “O cartel sete-irmãs”; http://www.galpenergia.com; sessão “papers”
3) Jornal Cosmo Online; http://www.cosmo.com.br; sessão “Especial Oriente Médio”;
4) Jornal Gazeta Mercantil; http://www.gazeta.com.br; “Preço internacional do petróleo e o Brasil”; 11/04/2002
5) Jornal Valor Online; http://www.valoronline.com.br; “Petrobras descarta crise com fechamento do Iraque”; 09/04/2002
Fonte: Almanaque Abril; http://www.almanaqueabril.com.br
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