terça-feira, 28 de dezembro de 2010

6981 - ARCADISMO

Arcadismo ou Neoclassicismo (séc. XVIII)
Índice

Referências históricas
Características
Autores
Sinopse
"Devemos imitar e seguir os Antigos: assim no-lo ensina Horácio, no-lo dita a razão;e o confessa todo o mundo literário"

--Correia Garção

Também conhecido por Setecentismo (dos anos 1700), este estilo traduz a busca do natural e do simples com a adoção de esquemas rítmicos mais gracioso. Este movimento traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.

A busca do campo pela arte é uma forma de resgate de um bem perdido pelo surgimento das cidades. Assim justifica-se como principal característica o bucolismo, elevando a vida despreocupada e idealizada nos campos.

O mito do homem natural, bom selvagem, do herói pacífico representa certa oposição aos abusos de juízes, políticos e clero. Essa politização do movimento apresenta-se também através dos poetas árcades que eram participantes da Conjuração Mineira.

Referências históricas
Século das Luzes propaga a ciência, o saber e o progresso e crença de que o bem-estar coletivo só pode advir da razão.

Influência da teoria de Rousseau do bom selvagem (origem do nativismo)

Influência de Horácio com "Fugere urbem" (fugir da cidade).

Revolução Industrial, urbanização e independência dos Estados Unidos em 1776

Movimentos de revolta em muitas colônias da América Latina como a Inconfidência Mineira.

No Brasil - mineração, Inconfidência, poetas árcades e Aleijadinho.

Transferência do centro econômico do Nordeste para Rio de Janeiro e Minas Gerais, em particular Vila Rica.

Características
Literatura simples, opondo-se aos exageros e rebuscamentos do Barroco. Os temas também são simples e comuns aos seres humanos: amor, morte, casamento, solidão. As situações mais freqüentes apresentam um pastor abandonado pela amada, triste e queixoso.

Volta aos modelos clássicos greco-latinos da Antigüidade e aos renascentistas. Acreditavam ser a arte uma cópia da natureza, refletida através da tradição clássica. Por isso a presença da mitologia pagã, exceto em Basílio da Gama e Santa Rita Durão, além de frases latinas.

carpe diem - pastor, ciente da passagem do tempo, convida a pastora a gozar o momento presente

locus amoenus - o lugar ameno, onde se encontra a paz para o amor

"Apolo já fugiu do Céu brilhante, / Já foi Pastor de gado"

--Tomás Antônio Gonzaga

A vida simples, bucólica, pastoril, busca do locus amoenus (lugar ameno) era só um estado de espírito, uma vez que todos os poetas árcades moravam na cidade. São comuns metamorfoses: transformações de seres humanos em entes naturais (ex. conversão de pastor em rio na Fábula do Ribeirão do Carmo, de CMC).

O fingimento poético justifica o uso de pseudônimos pastoris. Tomás Antônio Gonzaga era o poeta Dirceu e Cláudio Manuel da Costa, o guardador de rebanhos Glauceste Satúrnio.

Quanto à forma, usavam muitas vezes sonetos com versos decassílabos, rima optativa e a tradição da poesia épica.

Autores
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Introdutor do Arcadismo no Brasil. Em Lisboa, onde convive com as primeiras manifestações árcades. Em 1768, lança o livro Obras e funda a Arcádia Ultramarina, marcos iniciais do Arcadismo no Brasil. Poeta de transição, ainda muito preso ao Barroco, era grande amigo de Tomás Antônio Gonzaga, como atesta a poesia deste. Seu pseudônimo era Glauceste Satúrnio e o de sua musa era Nise.

Preso em 1789, é acusado de reunir os conjurados da Inconfidência Mineira. Após supostamente delatar seus colegas, é encontrado morto na cela, um caso de suicídio até hoje nebuloso.

Estilo : geralmente sonetos, hipérbatos, antíteses e figuras sonoras.

Na citação a seguir, está presente um elogio ao campo, lugar idealizado pelos árcades.

"Quem deixa o trato pastoril, amado, / Pela ingrata civil correspondência, / Ou desconhece o rosto da violência, / Ou do retiro da paz não tem provado."

Obras Principais : Poesias, Labirinto de Amor, 1753, Obras Poéticas, 1768, Vila Rica, 1839

José Basílio da Gama (1741-1795)
Poeta mineiro, estudou com os Jesuítas no RJ. Em Roma e ingressou na Arcádia Romana, adotando o pseudônimo de Termindo Sipílio. Escapou de acusações de jesuitismo e do dregredo em Angola, escrevendo elogios ao casamento da filha do Marquês de Pombal. Escreveu, em 1769, O Uraguai, sendo a segunda passagem uma das mais famosas de sua obra: a morte de Lindóia.

"Na idade que eu, brincando entre os pastores, / Andava pela mão e mal andava, / Uma ninfa comigo então brincava, / Da mesma idade e bela como as flores."

"Açouta o campo coa ligeira cauda / O irado monstro, e em tortuosos giros / Se enrosca no cipreste, e verte envolto / Em negro sangue o lívido veneno. / Leva nos braços a infeliz Lindóia / O desgraçado irmão, que ao despertá-la / Conhece, com que dor! No frio rosto / Os sinais do veneno, e vê ferido / Pelo dente sutil o brando peito."

--O Uraguai

Obras Principais:

O Uraguai, 1769

Inovação no tema contemporâneo para um poema épico: exaltar o Marquês de Pombal e sua política, e criticar os jesuítas. No poema é narrada, apesar de ainda exaltar a natureza (que não chega a ser bucólica) e o bom selvagem (instigados pelos jesuítas espanhóis), a luta de portugueses e espanhóis contra os índios dos Sete Povos das Missões. No drama principal, além dos personagens jesuítas caricaturizados e do herói português que comandou a tomada, os índios Sepé (o famoso Sepé Tiaraju), Cacambo e Lindóia. Sepé morre logo no começo e depois o também guerreiro Cacambo morre. Lindóia, que era sua esposa, fica extremamente deprimida e deixa que uma cobra a pique.

Epitalâmio às núpcias da Sra. Da. Maria Amália, 1769


Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810)
Conhecedor dos princípios iluministas, ocupa, em Vila Rica, o cargo de ouvidor (juiz da época). Envolvido na Inconfidência, é preso em 23/05/1789 e mandado para a prisão no RJ. É deportado para a África em 1792 e lá se casa com uma rica herdeira, recupera fortuna e influências e morre.

Produziu pouco, exceto no curto tempo em que esteve em MG. Apaixonado por Maria Joaquina Dorotéia de Seixas, escreveu Marília de Dirceu em sua homenagem. Ele ia casar-se com ela e partir para a BA assumir um cargo de desembargador, mas foi preso uma semana antes.

Segundo suas poesias ele não participava da Conjuração, apesar de ser amigo de Cláudio Manuel da Costa. Ainda assim, era acusado de ser o mais capaz de dirigir a Inconfidência.

"Eu vi o meu semblante numa fonte, / Dos anos ainda não está cortado, / Os Pastores, que habitam este monte, / Respeitam o poder de meu cajado."

--Marília de Dirceu

"Assim o nosso chefe não descansa / De fazer, Doroteu, no seu governo, / Asneiras sobre asneiras e, entre as muitas, / Que menos violentas nos parecem, / Pratica outras que excedem muito e muito / As raias dos humanos desconcertos."

--Cartas Chilenas

Obras principais:

Marília de Dirceu

Esta é uma obra pré-romântica; o autor idealiza sua amada e supervaloriza o amor, mas é árcade em todas as outras características. É um monólogo de Dirceu em que Marília é um vocativo.

A primeira de suas três partes é dividida em 33 liras. Nela, o autor canta a beleza de sua "pastora" Marília (na verdade, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas). Descreve sempre apenas sua beleza (que compara à de Afrodite) e usa de várias figuras mitológicas. O autor também se dirige a seus amigos "Glauceste" e "Alceu" (Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto), seus "colegas pastores". O bucolismo nesta parte da obra é extremo, com referências permanentes ao campo e à vida pastoril idealizada pelos árcades. A segunda parte é dividida em 37 liras e foi escrita na prisão, após 1789. Nela o bucolismo é diminuído, mas a adoração a Marília continua, apesar de tratar mais de Dirceu do que da pastora. Nesta parte, existe a angústia da separação e o sentimento de ter sido injuriado, o que aumenta a declarada paixão pela amada. Aparece também a angústia da separação que sofreu de seu amigo "Glauceste" (em regime de incomunicabilidade, não sabia do suicídio de Cláudio Manuel da Costa.). A terceira parte não possui apenas suas 8 liras; tem também sonetos e outras formas de poesia. Mas apenas as 8 liras possuem referências a Marília e quando elas acabam, começam a aparecer outras poesias de "Dirceu".

Cartas Chilenas

São 13 poemas satíricos com estrutura de carta (epístolas) escritos por Critrilo (pseudônimo do autor por muito tempo obscuro). Os desmandos, atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais são relatados em versos decassílabos do "Fanfarrão Minésio" (o governador de Minas Gerais, Luís Cunha Meneses) no governo do "Chile" (a cidade de Vila Rica).


José de Santa Rita Durão (1722-1784)
Estudou Teologia em Coimbra, onde teve grande participação política, e prega violento sermão contra a Companhia de Jesus. O Frei, orador e poeta pode ser considerado o criador do indianismo no Brasil. Seu poema épico Caramuru é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos.

Obras Principais:

Caramuru - Poema Épico do Descobrimento da Bahia (1781)

Conforme diz o nome completo, a obra pretende descrever o processo de descobrimento por Diogo Álvares Correia, vítima de um naufrágio no litoral baiano. Há uma exaltação da terra brasileira, com descrições que lembram a literatura informativa do Quinhentismo. Apesar da influência camoniana, não se usa a mitologia pagã. Registra os costumes tribais dos índios, além de descrever a fauna e a flora brasileiras.

Composto em dez cantos e versos decassílabos, tem como heróis Diogo Álvares (Caramuru), Paraguaçu (com quem Diogo se casa e vai para Paris) e Moema (a bela amante preterida no casamento que morre nadando atrás de Diogo).


Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744?-1792)
Em sua vida reproduziu o ideal árcade de se refugiar no campo, pois deixou a magistratura, ocupando-se da lavoura e mineração no MG. Alceu era seu pseudônimo.

Foi implicado na Inconfidência Mineira junto com seu parente, Tomás Antônio Gonzaga, e seu amigo Cláudio Manuel da Costa. Condenado a morte, teve a sentença comutada em degredo para Angola, onde morreu num presídio. Sua obra artística foi pequena, mas bem acabada.

"Eu vi a linda Jônia e, namorado, / Fiz logo voto eterno de querê-la; / Mas vi depois a Nise, e é tão bela, / Que merece igualmente o meu cuidado."

Sinopse
Marco inicial do Arcadismo no Brasil: publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa e a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica.

Marco final: 1808 com a vinda da Família Real para o Rio de Janeiro





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