terça-feira, 28 de dezembro de 2010

6957 - SETECENTISMO=ARCADISMO= SÉCULO DAS LUZES=ILUMINISMO

ARCADISMO

No Quadro Cronológico Literário europeu e no brasileiro, o Arcadismo é o estilo que sucede o Barroco e predomina no século XVIII. Daí seu outro nome: SETECENTISMO, pela data.


I - CONTEXTO EUROPEU: o ILUMINISMO

O Século XVIII é conhecido como "SÉCULO DAS LUZES": o RACIONALISMO (Descartes), que prega o uso da razão como único método aceitável para a explicação de tudo o que existe ("Penso, logo, existo"), foi uma das principais causas do avanço científico, da grande quantidade de "saberes" produzidos naquele século. Esse período de intensa produção intelectual recebe o nome de ILUMINISMO e os principais pensadores da época - os iluministas - são Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Diderot, D'Allembert, Robespierre, Danton, Marat, etc.

Tudo que antes era explicado e endossado pela fé, passa a ser explicado pela razão. Por isso, além da Ciência, da Arte, da Literatura, começam a passar pelo crivo do Racionalismo as questões políticas, econômicas e sociais. O sistema sócio-econômico-político predominante na Europa, nessa época, é o ABSOLUTISMO, que consiste no exercício do poder por um único indivíduo - o soberano, o rei - que faz e desfaz as leis de acordo com sua vontade e/ou necessidade, que manda e desmanda na sociedade inteira, recebendo o endosso da Igreja, que argumenta que o poder real é DIVINO. Nesse regime, portanto, o ESTADO é o REI.

Como tudo que é explicado pela fé, o Absolutismo começa a ser combatido pelos iluministas: já que os indivíduos de uma sociedade precisam de um governo, o racional é que o poder seja exercido por representantes de todas as classes sociais, ou seja, o racional é que haja um regime político calcado na liberdade: o LIBERALISMO (Locke/Voltaire, Montesquieu). Na França, os iluministas ganham o apoio da burguesia, classe formada principalmente por comerciantes descontentes com as normas impostas pelo rei (principalmente com os impostos absurdos) que não permitem a expansão do comércio. A burguesia deseja um sistema econômico-social também calcado na liberdade. A aliança dos iluministas com a burguesia e a população em geral (a aliança dos descontentes) tem, portanto, um objetivo principal: acabar com o Absolutismo para implantar o Liberalismo. Na França, a queda do Absolutismo se dá com a tomada e destruição da Bastilha (símbolo do poder absoluto), em 1789, quando se tem início a concretização da "REVOLUÇÃO FRANCESA", fato histórico tão importante que marca o início da Idade Contemporânea da História.

As idéias liberais se espalham e a Inglaterra perde sua colônia mais próspera com a Independência dos Estados Unidos, mas inicia um período de riqueza que a elevará à potência mundial: ela é o berço da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL.



II- MÁQUINAS, FÁBRICAS, CIDADES

Com a implantação dos princípios do Liberalismo na Economia (competição, livre concorrência, auto-regulamentação do mercado, a não intervenção do Estado nos assuntos econômicos, etc), o proprietário que tem CAPITAL para investir em seu negócio começa a levar vantagens sobre o pequeno proprietário: o sitiante torna-se um latifundiário, o comerciante expande seu negócio, o artesão abre uma indústria ; o que vendeu seus bens agora só tem sua mão-de-obra, sua força de trabalho para sobreviver, ou seja, de patrão torna-se empregado. Está implantado o Capitalismo, com o prognóstico de promover a "riqueza de todos"; já no século XVIII, porém, tal sistema já havia resultado na "riqueza de poucos" e na miséria de uma multidão.

Pouco a pouco, as máquinas substituem grande quantidade de mão-de-obra humana, além de produzir mais mercadorias em menor tempo. Com o surgimento da máquina, surgem as fábricas e, com elas, os grandes centros urbanos (as cidades). Na esperança de ter uma vida melhor nas cidades, com um bom emprego, bom salário, boa moradia e muita fartura, o homem deixa a vida no campo - onde ele tem o necessário para sua sobrevivência e a da sua família - ocorrendo um verdadeiro êxodo rural. Como desde o início da industrialização, devido à grande quantidade de mão-de-obra, a oferta de emprego já é menor que a procura , o homem do campo, quase sempre não encontra na cidade tudo que almejara. O pior: não há como voltar ao campo, nem como sobreviver na cidade.



III- O ARCADISMO LEVA O HOMEM DE VOLTA AO CAMPO

Em socorro ao homem do campo que não encontra o que ansiava na cidade e que não pode voltar a sua origem, surge na segunda metade do século XVIII uma Arte e uma Literatura que vão transportar esse homem de volta para o campo: o ARCADISMO. Como ? Por exemplo: na Literatura, as obras têm como conteúdo a caracterização de um ambiente natural que fornece ao homem as riquezas e belezas das quais ele necessita. São poemas bucólicos que cultuam a natureza (são IDÍLIOS), nos quais os poetas referem-se a si mesmos, aos seus amigos e à sua amada como se todos fossem pastores que habitam nessa região natural, que serve de espaço, também, para lindas histórias de amor.

Se o homem não pode voltar ao campo ( ter contato direto com a natureza), ele vem até o homem através da obra arcádica. Essa "viagem" se dá no momento da leitura.



IV-ORIGEM DO NOME ARCADISMO

O nome Arcadismo vem do nome ARCÁDIA, região da Grécia Antiga habitada por entidades mitológicas, caracterizada como uma floresta repleta de riquezas e de belezas naturais. Como a Literatura do século XVIII tem como tema central a natureza, nada melhor do que ter a Arcádia como fonte de inspiração (como modelo) e ARCADISMO como denominação do conjunto dessa Literatura.



V- ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO: CARACTERÍSTICAS

Além de Setecentismo ou Arcadismo, a Literatura (e a Arte) do século XVIII também é denominada NEOCLASSICISMO: a primazia da razão, o avanço científico, a intensa produção intelectual, etc, trazem de volta ao centro da vida humana seu sujeito: o HOMEM. A Cultura contemporânea do Arcadismo é ANTROPOCÊNTRICA; está, portanto, resolvido o dilema com o qual viveu o homem barroco.

A volta do Antropocentrismo representa também a volta dos modelos artísticos e literários do Classicismo da Antigüidade e o do Renascimento . As obras arcádicas trazem de volta características clássicas como:

1) presença de elementos da Mitologia greco-romana:

2) obediência à Versificação;

3) preciosismo vocabular;

4) figuras de linguagem (personificações, antíteses, metáforas, hipérbatos, etc)



Além das características clássicas, a obra arcádica apresenta novas características que fazem do Arcadismo um NOVO CLASSICISMO, ou seja, um NEOCLASSICISMO. São elas:

5) culto à natureza/bucolismo;

6) uso de pseudônimos : o poeta refere-se a si, aos seus amigos e à sua amada usando nomes de pastores da Arcádia, como Dirceu, Marília, etc. Esta característica é exclusiva do Arcadismo.



VI-O ARCADISMO EM PORTUGAL

No século XVIII o Iluminismo também chega em Portugal, tanto que o Marquês de Pombal torna-se primeiro-ministro do reino e o sustentáculo da renovação que surge naquele país através de seu intermédio: suas idéias iluministas imprimem ao seu governo atitude anti-jesuíticas , começando pela entrega da educação aos professores estrangeiros, sobretudo na Universidade de Coimbra.

Já em 1746, Luís Antônio Verney publica a obra epistolar "O verdadeiro método de estudar", composta de 16 cartas, na qual denuncia a atrofia cultural em que Portugal esteve mergulhado no período em que a educação esteve nas mãos dos religiosos.

Em Portugal, o Arcadismo tem início com a "FUNDAÇÃO DA ARCÁDIA LUSITANA", em 1756, uma espécie de clube ou grêmio literário que reúne os melhores escritores neoclássicos portugueses, cujo maior representante é BOCAGE.



VII- ARCADISMO NO BRASIL

Os intelectuais brasileiros também têm contato com as idéias de liberdade propagadas pelos iluministas. A Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos inspiram os intelectuais brasileiros na promoção de uma "revolução" também no Brasil, cujos habitantes, além de verem navios lotados de ouro, prata e outros valiosos minerais partindo, ainda têm que pagar impostos absurdos à coroa portuguesa. Esse grupo de intelectuais desejam promover a Independência do Brasil e transformar o país numa República.

O grande centro econômico-cultural do país nessa época é Vila Rica (hoje, Ouro Preto), então capital de Minas Gerais; lá é que se pratica a principal atividade econômica: a MINERAÇÃO e que se encontram os revolucionários citados - os INCONFIDENTES. O Movimento de Inconfidência Mineira está se preparando para concretizar seu grande objetivo quando o grupo de inconfidentes é delatado por Joaquim Silvério dos Reis; fracassa, assim, o movimento, mas o desejo de liberdade parece se fortificar nos corações brasileiros após a morte do líder do movimento - Tiradentes!

Dos inconfidentes, quatro são grandes poetas do Arcadismo Brasileiro e que formam o famoso "GRUPO MINEIRO": Cláudio Manuel da Costa (que introduziu o Arcadismo no país em 1768 com a obra "Obras" ou "Obras Poéticas"), Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto.

Com o tempo, a obra arcádica brasileira começa a introduzir na Literatura elementos da paisagem brasileira e a focalizar o índio como personagem (herói) de grandes epopéias. Tais obras já são consideradas "Pré-Românticas". É o caso das epopéias de Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

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