quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

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Equador e a construção democrática na América Andina, por Lucas D’Nillo S. Sousa
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A acusação recente de tentativa de golpe de Estado no Equador inquietou a comunidade internacional. Os recentes acontecimentos no país permitiram a associação com o caso recente de Honduras, formulando-se uma conjuntura regional de instabilidade política. Retomou-se, ainda, o passado recente de crise política nos países latinos, especialmente no Equador que teve sete presidentes em apenas dez anos quando Rafael Correa assumiu a presidência em 2007. Apesar de a acusação de golpe se enquadrar mais coerentemente com o desenho interno do país, é possível traçar um cenário mais amplo, considerando continuidades entre os países latinos em torno de elementos políticos de centralização de poder.

Está em curso no Equador um processo de reforma trabalhista com severos cortes de bonificação especialmente para servidores. A reforma se deve à tentativa de estabilização econômica e de equilíbrio das contas públicas. Diversas categorias prejudicadas fizeram críticas aos cortes, mas apenas a polícia saiu às ruas para protestar contra as medidas do governo, conseguindo forte adesão popular.

Ressalta-se que a categorial policial é singular já que é responsável pela ordem pública, sendo que a acusação de golpe ganhou maior alarde com enfrentamento direto pelo presidente Rafael Correa das ondas de protesto de tal categoria que deveria manter e não romper a ordem. A inflamação política ganhou força com acusações de ataques diretos e propositais pelos discursos exaltados de Correa. O presidente recorreu ainda a artifício comum ao acusar a oposição de envolvimento. É difícil, porém, afirmar que houve um golpe quando não há um movimento suficientemente organizado com grupo insurgente e objetivo de tomar o poder.

Correa centraliza exageradamente o poder ao não aceitar críticas da oposição, ao influenciar diretamente o Parlamento e ao limitar os meios de expressão. Uma das causas para o apoio popular ao protesto recente foi justamente a falta de meios de crítica às atitudes do governo. A popularidade do presidente de mais de 50% também tem sido abalada com os objetivos não alcançados em termos de desenvolvimento social e crescimento econômico significativos em seu governo. Ainda, para analistas, a acusação de golpe não enfraquece Correa, mas oferece margem para controle do Congresso em nome da estabilização da ordem pública. Esta é uma tendência coerente com a aliança do líder e a esquerda bolivariana de Hugo Chávez.

Enunciar a tentativa de golpe de Estado na América Latina hoje retoma naturalmente o passado conturbado comum nos vários países da região. Práticas de corrupção, centralização de poder e discurso popular fragilizam ainda mais a estrutura democrática nestes países. Não se pode, todavia, generalizar o processo político latino como autoritário já que há ainda mecanismos de controle institucional (checks and balances) e oposições, mesmo que enfraquecidas pelo governo central. Além disso, ressaltam-se processos históricos importantes como o fato de ser consideravelmente recente o processo democrático nestes países e o modelo político presidencialista favorecer a presença política do líder do executivo.

O presidencialismo, preponderante adotado pelos países latinos provoca um engrandecimento natural do papel presidencial. Há maior responsabilização deste poder em termos de políticas públicas e ação política que acabam se vinculando a tráfico de influência com lobbies e influência no poder legislativo. Fato é que se percebe um processo de expansão do executivo ao assumir grandes responsabilidades em relação ao Estado. O discurso popular envolvente é considerado essencial para legitimação de poder. Sem controle institucional adequado e participação pública precária, o resultado se manifesta por líderes em busca de popularidade e incentivos para prolongação de mandato e de crescente influência sobre outras partes do Estado, como o Congresso.

O processo de redemocratização recente reforça a juventude das instituições políticas dos países latinos. Este mesmo processo, por outro lado, vêm gradualmente fortificando a formação de oposições não facilmente coibidas, demandas por maior participação pública e respeito ao Estado de Direito. Desta maneira, fatores contrários ponderam processos de autoritarismo. O fortalecimento, mesmo que parcial, de processos eleitorais, liberdade de imprensa e oposição partidária fortalecem liberdades antes não cultivadas.

É relevante considerar também o fortalecimento da influência e responsabilização da opinião pública internacional que tem sido cada vez mais pujante em criticar práticas de autoritarismo, demandando posicionamento de Estado em foros multilaterais e nos processo de integração. No plano econômico internacional, poderes pouco transparentes e imprevisíveis geram também fuga de capitais e investimentos em países em desenvolvimento, com perda de credibilidade no mercado internacional. Desta maneira, há pressões por maior estabilidade política.

Contrário a este processo de redemocratização e fortalecimento institucional são as falhas perenes nas estruturas destes governos que não conseguem assegurar um processo eleitoral completamente genuíno, evitar práticas de corrupção e assegurar controle democrático do poder. O exemplo mais claro é o eixo da esquerda progressista e nacionalista de Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. Apesar de heterogênea já que se trata de três países com contextos distintos, os líderes possuem como variável em comum instituições e mecanismos de controle ainda frágeis, deixando brechas para que busquem perpetuação no poder.

Deve-se considerar ainda que líderes políticos são guiados pelos incentivos que recebem. No caso, países latinos apresentam severos problemas sociais e muitas vezes falta de ordem pública. Isso motiva o engrandecimento de discursos voltados para as massas e o papel do executivo em assegurar o desenvolvimento social pleno. Ainda, os meios de participação e de consciência política são deficientes, reforçando ciclo de incorreções.

O Equador é bem enquadrado neste contexto. Rafael Correa foi eleito defendendo ordem pública e desenvolvimento social. Consegue ser reeleito e manter mandato relativamente estável, mas não consegue proporcionar crescimento econômico suficiente e distribuição de renda, algo que leva a protestos. As fontes de riqueza do país são em grande medida o petróleo (485 mil barris de petróleo por dia) e agricultura, com elevados índices de desigualdade e pobreza. Tenta-se um projeto de Estatização supondo melhor distribuição de renda advinda de tal prática econômica, mas, na prática, configura-se ineficiência e rendimentos decrescentes.

O evento recente de acusação de golpe fomentou a declaração de estado de exceção, fechando o Congresso e tendo de se recorrer à parte não dissidente dos militares para assegurar o governo. Chávez ainda alertou Correa para abertura excessiva à revolta popular, tendo de assegurar a ordem via arregimentação pública e combate a perturbações sociais. Acusou, ainda, os Estados Unidos de participação no evento, demonstrando o combate a intervenções inexistentes, mas que permeiam o discurso nacionalista chavista.

A atuação inflamada de Correa é coerente com a busca por maior controle popular, maior influência política, inclusive sobre os parlamentares, enfraquecendo ainda mais a mobilização social ao conseguir fortalecer seu discurso via meios não democráticos com controle político e influência sobre categorias do serviço público. Desta forma, o líder angaria poder para reformas sociais e econômicas ainda pouco alcançadas.

Não se pode, porém, desconsiderar a presença de uma oposição crescente e a necessidade de convencimento cada vez maior por parte do líder. A revolta popular recente e a forte adesão demonstram que não será fácil a Correa perpetuar-se sem cumprir demandas sociais e processo de estabilização política que assegure desenvolvimento sócio-econômico. Inclui-se controle dos gastos públicos e reajustes econômicos ao contexto da crise internacional, diretamente vinculados ao protesto recente. Além disso, no longo prazo, se tornam claras as perdas com menor participação política e enfraquecimento da oposição, provocando redução de liberdades individuais. Apesar de vícios políticos permanecerem na política latina, crescentes demandas por políticas sociais e controle democrático concretizadas no cenário internacional atual tornam o contexto mais complexo e de mais difícil categorização unívoca.

Lucas D’Nillo S. Sousa é membro do Programa de Educação Tutorial em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – PET-REL e do Laboratório de Análise em Relações Internacionais – LARI (lucasdnillo@gmail.com)


Posted on segunda-feira, novembro 8th, 2010 at 9:23 am in América do Sul, 1. Boletim Mundorama | RSS feed | Respond | Trackback URL

Tags:democracia, Equador, Golpe de Estado, democractização

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2 Responses to “Equador e a construção democrática na América Andina, por Lucas D’Nillo S. Sousa”

Michael Dantas
10/11/2010 às 2:05 pm
O texto está muito bem escrito e traça de maneira interessante o panorama comum das vicissitudes democráticas nos países em questão bem como a posição normativa do autor.

Entretanto, cabe observar que há uma incoerência entre o que anuncia o título e o que está expresso no corpo do texto. É anunciada uma análise pautada na América Andina, mas o texto faz referências recorrentes à América Latina. Dado o escopo analítico utilizado, faz mais sentido analisar a crise do Equador a partir do prisma dos países andinos. Não somente por traços comuns compartilhados que tornam plausível a classificação da América Andina como sub-região da América do Sul, como também pelas repercussões que a crise equatoriana trouxe. Apesar da demonstração de preocupação manifestada oficialmente por líderes de toda América Latina, a crise encontrou repercussões mais fortes e que mereçam uma análise conjuntural notadamente na América Andina.

Abraços.

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28/11/2010 às 9:12 am

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