segunda-feira, 7 de junho de 2010

620 - IMPÉRIO ROMANO

qui
7
fev

2008Autor:Plutarco
~3.201 acessos 4 Comentários »
Biblioteca, História Geral, Plutarco, Roma Antiga, Teoria e Ciência Política.
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Biografia de Júlio César do Império Romano. Plutarco – Vidas Paralelas


Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4 Parte 5 Parte 6 Parte 7 Parte 8



RESUMO DA BIOGRAFIA DE JÚLIO CÉSAR

Inimizade entre Sila e César. II. César é aprisionado por corsários: altivez com que ele os trata durante seu cativeiro. Fá-los enforcar. III.César ocupa o segundo lugar entre os oradores do seu tempo. Teria podido ser o primeiro. IV. Favor de César perante o povo. V. Faz a oração fúnebre de sua mulher. VI. Casa-se com Pompeia. Despesas excessivas nas festas que dá ao povo. VII. Coloca os quadros de Mário e de suas vitórias no Capitólio. VIII. É nomeado grão pontífice. IX. Censura-se nessa ocasião a Cícero, por tê-lo poupado no momento da punição dos cúmplices de Catilina. X. O Senado manda fazer uma distribuição de trigo ao povo, para contrabalançar o favor de César. XI. Clódio se introduz em casa de Pompeia, mulher de César, durante os mistérios da boa deusa. XII. César repudia sua mulher e Clódio é absolvido pelo favor do povo. XIII. Palavras notáveis de César. XIV. Seu proceder no governo da Espanha. XV. Pompeu e Crasso reconciliam-se por seu intermédio. XVI. Pelo seu prestígio, é eleito cônsul. Seu proceder nesse cargo. XVII. Proceder odioso de César e de Pompeu., XVIII. César manda prender Catão e depois manda-o pôr em liberdade. XIX. Exposição sumária das suas guerras e das suas vitórias nas Gálias. XX. Extrema dedicação que ele inspira aos seus oficiais e soldados, provada com vários exemplos. XXI. Como lhes ganha o afeto. XXII. Sobriedade de César. XXIII. Primeira guerra de César nas Gálias. XXIV. Segunda guerra de César contra Ariovisto. XXV. Obtém sobre ele uma vitória completa. XXVI. Derrota os belgas. XXVII. Dizima os nérvios. XXVIII. Confiam-lhe ainda o governo das Gálias por cinco anos. XXIX. Faz a guerra aos usípios e aos tencteres. XXX. Devasta as terras além do Reno. XXXI. Ataca a Inglaterra. XXXII. A Gália subleva-se. César volta para lá e derrota Ambiorix. XXXIII. Outra rebelião nas Gálias sob o comando de Vercingetórix. XXXIV. César obriga-o a se encerrar na cidade do Alexia que ele sitia. XXXV. Vence um numeroso exército que viera em socorro deles: Vercingetórix entrega-se com seus soldados. XXXVI.Começo das dissensões entre César e Pompeu. Pompeu é nomeado cônsul, sozinho. XXXVII. César manda pedir o consulado e a continuação do seu governo. XXXVIII. Pompeu tem ideias falsas sobre as disposições dos soldados com relação a César. XXXIX. César oferece-se a deixar as armas, com a condição de que Pompeu também as deixe. XL. Resigna-se a pedir o governo da Gália Cisalpina com duas legiões. XLI. Parte para Rímini. XLII. Apodera-se dessa cidade. XLIII. Temor que essa notícia infunde em Roma. XLIV. Pompeu foge de Roma. XLV. Sentimentos diversos de temor e de confiança na cidade de Roma. XLVI. César vem a Roma. XLVII. Passa à Espanha. XLVIII. Enceta a perseguição a Pompeu. XLIX. Determina passar a Brindisi numa nau: como encoraja o piloto. L. Carestia no exército de César. Paciência de seus soldados. LI. Vitória de Pompeu da qual não sabe aproveitar. LII. César levanta o acampamento. LIII. Pompeu deixa-se induzir, contra a vontade, a persegui-lo. LIV. A tomada de Gonfes restitue a abundância no exército de César. LV. Posição dos dois exércitos, frente um ao outro, em Farsália. LVI. Os soldados de César incitam-no a travar combate. LVII. Diferentes presságios. Disposições de César. LVIII. Disposições de Pompeu. LIX. César obtém a vitória. LX. Palavras e proceder de César depois da vitória. LXI. Presságios e predições de Caio Cornélio. LXII. César chora vendo a cabeça de Pompeu. LXIII. Cleópatra se faz levar à casa de César num volume de roupas. LXIV. Ele a coloca no trono do Egito. LXV. Rapidez de suas vitórias na Ásia. LXVI. Insolência de António e de outros amigos de César. LXVII. Passa à Africa. LXVIII. Carestia e outros prejuízos de César. LXIX. Derrota no mesmo dia a Cipião, Afrânio e Juba e toma os três acampamentos. LXX. Porque César escreveu o Anti-Catão. LXXI. Recenseamento que prova o enorme despovoamento causado pela guerra civil. LXXII. César derrota na Espanha os filhos de Pompeu. LXXIII. É nomeado ditador perpétuo. LXXIV. Belo proceder de César depois do fim da guerra. LXXV. Projetos de César para novas conquistas. LXXVI. Trabalhos que empreende e projeta. LXXVII. Reforma o calendário. LXXVIII. Torna-se odioso querendo fazer-se nomear rei. LXXIX. António, na festa das. Lupercales apresenta o diadema a César, que o recusa. LXXX. Começo da conjuração de Bruto e de Cássio. LXXXI. Presságios que anunciam a César, sua morte. LXXXII. Vai ao Senado não obstante os avisos que lhe dão. LXXXIII. É ferido primeiro por Casca. LXXXIV. É depois morto por Bruto e por outros conjurados. LXXXV. Bruto e Cássio apresentam-se diante do povo. LXXXVI. Furor do povo contra os assassinos de César. LXXXVII. Morte de Cássio. LXXXVIII. Morte de Bruto.

Desde o ano 654 até o ano 710 de Roma, antes de J. C, ano 44.



Biografia de Júlio César
Plutarco
Capítulo de Vidas Paralelas


Tradução Brasileira de Carlos Chaves com base na edição francesa de Amyot. Notas e observações de Brotier, Vaulliers e Clavier. Fonte: Ed. Edameris.





Sila, estando à frente do governo, quis que César repudiasse sua mulher Cornélia, filha de Cina, que durante certo tempo havia gozado do supremo poder em Roma: mas não tendo podido induzi-lo a isso, nem com promessas, nem com ameaças, confiscou-lhe o dote: o motivo pelo qual César queria mal a Sila, era o parentesco que tinha com Mário, o qual fora mando de Júlia, irmã do pai de César, da qual ele tivera o jovem Mário, que assim vinha a ser primo irmão de César. Mas Sila, no princípio de suas vitórias, estava preocupado com assuntos mais importantes e outrossim, em fazer morrer muitos dos seus adversários e não se importou de mandar procurá-lo: ele não se limitou a estar escondido, em segurança, mas se apresentou espontaneamente ao povo, pleiteando um cargo vago no sacerdócio, quando apenas havia entrado na adolescência, o que porém, não obteve, porque Sila ocultamente lhe era adverso: e como ele havia deliberado matá-lo, alguns de seus familiares disseram-Ihe que não havia absolutamente motivo para fazer morrer tão futuroso rapaz: mas ele replicou, que eles não eram sensatos, se não percebiam que nesse rapaz havia muitos outros como Mário, Estas palavras foram referidas a César e ele retirou-se de Roma e ficou por muito tempo escondido no país dos sabinos, passando sempre de um lugar a outro.

II. Mas um dia, quando ele se dirigia de uma casa a outra, por sentir-se doente, caiu nas mãos dos satélites de Siía, que o andavam buscando por toda a parte, e prendiam a todos os que encontravam; todavia, conseguiu subornar o capitão, que se chamava Cornélio, com dez talentos (1) ; tendo escapado, dirigiu-se para as costas marítimas, onde embarcou, fugindo para a Bitínia, foi à corte do rei Nicomedes, onde ficou algum tempo, para de novo se pôr ao mar, quando foi aprisionado por corsários, perto da ilha de Farmacusa (2), aqueles piratas dominavam todo o mar com uma grande esquadra, composta de um sem-número de navios. Tais corsários pediram-lhe imediatamente vinte talentos para seu resgate (3), mas ele zombou dos mesmos, porque não sabiam a quem haviam aprisionado e por própria conta lhes prometeu cinquenta (4) ; depois mandou seus homens uns para cá, outros para lá, para recolher o dinheiro, e ficou sozinho entre os ladroes cilícios, que são os maiores assassinos e os mais sanguinários do mundo, com um de seus amigos e dois escravos somente: e no entretanto ele fazia tão pouco caso que, quando queria dormir, mandava que se calassem. Ficou durante trinta dias com eles, não como prisioneiro, guardado, mas como um príncipe seguido e acompanhado por eles, quase como se fossem seus satélites. Durante esse tempo, ele divertia-se e exercitava-se com eles, sem receio, com toda a tranquilidade; às vezes escrevia versos ou preparava discurses e depois os chamava para ouvi-los recitar; e se por acaso eles davam mostras de não gostar chamava-os a todos de ignorantes e bárbaros, rindo-se, os ameaçava de mandá-los enforcar: com isso muito eles se divertiam, porque tomavam tudo por brincadeira, pensando que aquela sua franqueza de falar tão livremente a eles, procedia de simplicidade e de ingenuidade; mas quando chegou o seu resgate da cidade de Mileto e tendo-o pago, foi posto em liberdade, armou imediatamente alguns navios no perto de Mileto, para ir combater aqueles ladrões, que encontrou ainda ancorados na mesma ilha; prendeu a maior parte deles e apoderou-se de seus bens; quanto às pessoas, porém, levou-as à cidade de Pérgamo onde as pôs na prisão, enquanto ia falar com o governador da Ásia, naquele tempo, um tal Junio, pois a ele competia fazer justiça contra aqueles malfeitores, porque era pretor da Ásia; ele, porém, desejando, ao invés, apoderar-se do dinheiro deles, pois havia uma boa soma, respondeu que deliberaria a seu tempo sobre os prisioneiros: César deixou-o lá, voltou a Pérgamo, onde mandou enforcar publicamente e crucificar a todos aqueles ladrões, como havia várias vezes predito e prometido na ilha, quando eles pensavam que estava apenas gracejando.

(1) Mil e duzentos escudos. — Amyot. 9.337 libras. 10 dinheiros franceses.
(2) Havia, segundo Estêvão de Bizâncio, duas pequenas ilhas com esse nome, perto da de Salamina.
(3) Doze mil escudos. — Amyot. 93.390 libras francesas.
(4) Trinta mil escudos. — Amyot. 233.437 libras, 10 dinheiros franceses.

III. Depois, como o poder de Sila começasse a declinar, seus amigos mandaram lhe dizer que voltasse à sua casa: foi então primeiramente a Rodes, para estudar algum tempo com Apolônio, filho de Molon, que Cícero também ouvia, pois era um homem de bem e um grande mestre de retórica e de eloquência. Diz-se que César tinha muito felizmente nascido para falar e discursar ao povo e além da aptidão natural que tinha, havia se exercitado diligentemente, de maneira que sem dúvida alguma, ocupava o segundo lugar dentre os oradores do seu tempo; deixou o primeiro, para ser o primeiro nas armas, no poder e na autoridade, pois não havia atingido a perfeição na arte de falar, à qual sua natureza poderia levá-lo, para, de preferência exercitar-se na guerra e no desempenho dos cargos públicos, os quais, afinal de contas,, tornaram-no senhor do império romano. Por esse motivo, no livro que ele escreveu depois, contra o que Cícero tinha escrito em louvor de Catão, ele roga aos leitores que não façam comparação entre o estilo de um homem de armas com a eloquência de um esplêndido orador, que naquele mister havia empregado a maior parte de sua vida. Voltando a Roma, citou Dolabela à justiça, acusando-o de ter procedido mal e violentamente no governo da sua província e várias cidades gregas mandaram-lhe testemunhas disso: no entretanto Dolabela foi absolvido e César querendo do mesmo modo retribuir aos gregos as provas de afeto que lhe haviam manifestado, em vista desta acusação, tomou nas suas mãos a causa, por eles, quando acusaram a Públio António de concussão, perante Marco Lúculo, pretor da Macedónia, quando o perseguiu tão insistentemente, que António foi obrigado a apelar para os tribunos do povo em Roma, alegando, para justificar o seu apelo, que ele não podia justificar-se, falando na Grécia, contra os gregos.

IV. César ao depois caiu nas boas graças de muita gente, em Roma, por meio de sua eloquência, porquanto, defendia sua casa nos julgamentos e era singularmente amado e querido do povo pela maneira graciosa que tinha, de saudar, tratar e conversar familiarmente com todos, sendo nisso mais cuidadoso e cortês do que sua idade o permitia e havia ainda algum favor, pela boa mesa e abundância em sua casa ordinariamente, como pela magnificência de que usava em todo o resto do seu modo de viver, o qual, pouco a pouco o fazia progredir e granjeava-lhe prestígio perante o povo. Os que lhe tinham inveja, julgando que aquele favor duraria pouco e logo diminuiria, pois ele não podia mais prover às despesas, não se importaram em diminuí-lo no começo e o deixaram pouco a pouco crescer e fortificasse; mas, por fim, tendo-se tornado grande e difícil de ser dominado, embora tendesse manifestamente a se movimentar e a mudar um dia todo o aspecto do governo, muito tarde perceberam, que não há início tão pequeno, em coisa alguma, que a continuidade e a perseverança não tornem forte e grande, quando, por desprezá-lo, não se lhe põe um obstáculo. O primeiro que, por conseguinte, parece ter tido desconfiança e temor, de seu modo de proceder no desempenho dos negócios do governo, como o sábio piloto, que teme uma bonança radiosa em alto mar e que percebeu a refinada malícia que ele ocultava sob o manto daquela familiaridade, cortesia e jucundidade que mostrava exteriormente, foi Cícero. "Quando eu considero, dizia ele, essa cabeleira tão bem penteada e tão esquisitamente adereçada e o vejo coçar a cabeça, apenas com a ponta de um dedo, eu imagino o contrário, que tal homem jamais poderia ter imaginado um infeliz empreendimento como o de querer destruir todo o império romano". Todavia isso aconteceu muito tempo depois.

V. De resto, a primeira demonstração que lhe deu o povo da benevolência que lhe dedicava, foi quando ele pediu o cargo de tribuno, isto é, comandante de mil soldados de infantaria, contra Caio Pompílio e o obteve, sendo eleito antes dele. A segunda e mais evidente ainda que a primeira foi quando a mulher de Mário, Júlia, que era sua tia, morreu: ele proferiu na praça, como seu sobrinho, um discurso fúnebre em seu louvor e no fim de suas homenagens teve a coragem de expor em público estátuas de Mário que pela primeira vez foram vistas desde a vitória de Sila, porque Mário e todos os seus companheiros e asseclas tinham sido julgados e declarados inimigos do governo. Como alguns murmurassem e clamassem contra ele por esse fato, o povo aplaudiu-o, ao contrário,, com vigorosas palmas e mostrou que muito satisfeito estava e agradecia, por ele fazer voltar do inferno, por assim dizer, as honras de Mário à cidade de Roma, depois de terem estado enterradas por um longo espaço de tempo. Era costume, desde toda a antiguidade, de os romanos fazerem discursos fúnebres em louvor das senhoras idosas, quando vinham a falecer, não, porém, das jovens: e César foi o primeiro que louvou publicamente sua mulher (5) falecida, o que lhe aumentou a benevolência e fez com que o povo o amasse ainda mais, como homem bondoso e de natureza cordial.

VI. Depois das homenagens de sua mulher ele foi feito questor, isto é, tesoureiro, sob o pretor Antistio Veto, o qual o honrou sempre, ao depois, de modo que, quando ele por sua vez foi feito pretor, fez eleger questor a seu filho, depois que deixou o cargo, desposou sua terceira mulher, Pompeia (6), tendo da primeira, Cornélia, uma filha que depois casou-se com Pompeu, o Grande. Mas fazendo estas grandes despesas parecia que ele adquiria uma nuvem de favor popular, curta e de pouca duração por um preço exorbitante, quando conquistava as coisas maiores do mundo por preços bem menores, diz-se que antes de ter algum cargo no governo ele estava devendo mil e trezentos talentos (7) . E como havia sido encarregado de mandar restaurar o calçamento da estrada principal, que se chama a via Ápia, ele gastou nisso muito do seu próprio: e por outro lado, quando foi feito edil deu ao povo uma diversão, onde combateram trezentos e vinte pares de gladiadores, isto é, lutadores de morte: e em todas as outras solenidades de jogos e festas públicas, ele enterrou por assim dizer, a magnificência de todos os que as haviam imaginado e preparado antes: tornou o povo tão afeiçoado a ele, que todos iam imaginando novos cargos, novas honras e novas atividades para recompensá-lo.

(5) Cornélia, filha de Cina, que ele havia desposado, diz Suetõnio. depois de ter repudiado Cossucia. que era apenas de família equestre, mas excessivamente rica.
(6) Pilha de Quinto Pompeu e neta de Sila.
(7) Setecentos e oitenta escudos. — Amyot. 6.089.385 libras francesas.

VII. Havia em Roma duas ligas ou partidos, o de Sila que era forte e poderoso, e o de Mário, que não ousava erguer a cabeça, tanto estava depreciado e aviltado: mas César querendo levantá-lo, quando as festas, divertimentos e jogos públicos, de sua edilidade estavam em grande anualidade, mandou fazer secretamente estátuas de Mário de vitórias, com triunfos, as quais mandou colocar durante a noite, no Capitólio. No dia seguinte pela manhã, quando viram brilhar naqueles lugares as estátuas douradas, muito bem feitas e trabalhadas, testemunhando, pelas inscrições as vitórias que Mário havia conquistado contra os címbrios, todos se admiravam da ousadia daquele que lá as havia feito colocar, pois muito bem se sabia quem fora; espalhou-se imediatamente a notícia por toda a cidade e grande multidão acorreu para vê-las. Alguns clamaram contra César, que era uma ousadia, ressuscitarem-se, por assim dizer, honras que tinham sido sepultadas por éditos e determinações públicas e que aquilo era uma prova e uma experiência, para sondar a vontade do povo que ele tinha embaído pela magnificência dos divertimentos públicos a fim de saber se ele estava bem adestrado e se toleraria que se jogasse semelhante partida ou se se perturbaria com semelhante novidade. Os do partido de Mário, ao invés, animando-se uns aos outros, manifestaram-se em grande número, fazendo ressoar todo o monte Capitólio com seus gritos e aplausos; vieram as lágrimas aos olhos de muitos, pela grande alegria que sentiram quando viram as estátuas de Mário e César foi altamente elogiado e estimado por todos eles, como o personagem mais digno dos parentes de Mário: estando o Senado reunido por causa desse fato, Catulo Lutácio, o homem de maior autoridade em Roma, no momento, levantou-se e falou acremente contra César, dizendo que "ele não agia secretamente, mas abria logo suas baterias, procurando arrumar o governo às claras ; no entanto, César, no momento respondeu-lhe tão bem, que o Senado se deu por satisfeito e os que o estimavam sentiram-se mais esperançosos ainda e rogaram-no que tivesse ânimo e não cedesse a ninguém e pela vontade do mesmo povo, ele sobrepujaria a todos os demais e seria o primeiro homem da cidade.

VIII. Nesse ínterim, faleceu o pontífice Metelo: dois dos principais personagens da cidade entraram em litígio para substituí-lo no cargo, tendo ambos grande prestígio no Senado, Isaunco e Catulo: César, no entretanto, não ficou atrás, mas apresentou-se ao povo e o pediu, como eles: sendo as partes querelantes iguais, Catulo, homem de mais dignidade, temendo a incerteza do resultado da eleição, mandou alguns homens a César, ocultamente, para entregar-lhe uma grande soma de dinheiro, se ele quisesse desistir da sua pretensão: mas ele lhe respondeu, que lhe cederia, se preciso, uma soma ainda maior, para continuar a questão contra ele. Quando chegou o dia da eleição, sua mãe acompanhou-o até a porta do aposento, com lágrimas nos olhos; ele disse-lhe, abraçando-a: "Minha mãe, verás hoje teu filho soberano pontífice ou exilado de Roma". Recolhidos por fim os votos do povo, debatida fortemente a questão, ele venceu e obteve o cargo; isto causou grande temor ao Senado e aos homens de bem, porque julgaram que, de ali por diante, ele obteria do povo tudo o que quisesse.

IX. Por esse motivo, Catulo e Piso repreendiam acerbamente a Cícero, por tê-lo poupado, quando da rebelião de Catilina, quando o havia aprisionado. Pois Catilina tinha proposto não somente desorganizar o governo, mas também todo o império romano, implantando a desordem, mas escapou das mãos da justiça, por falta de provas antes que o essencial de seus desígnios fosse plenamente descoberto; mas deixou na cidade Lêntulo e Cétego, companheiros da conspiração, aos quais não se sabe se César deu secretamente algum auxílio ou amparo: mas é certo que, publicamente, em pleno Senado foram reconhecidos como culpados; Cícero, que então era cônsul, perguntou a cada senador sua opinião, como deviam ser castigados, todos os outros, menos César, foram de parecer que deveriam ser mortos: este quando lhe tocou falar, pondo-se de pé, pronunciou um discurso que havia preparado, no qual discorreu sobre o fato de não ser coisa habitual nem justa, fazer morrer os homens, mesmo da nobreza e revestidos de dignidade, sem que precedentemente lhes fosse movido um processo e eles fossem judicialmente condenados, a não ser em caso de extrema necessidade: mas os pusessem em uma prisão, em alguma cidade da Itália, como Cícero julgava melhor, até que Catilina fosse derrotado, então o Senado poderia, em paz, deliberar segundo a sua vontade, com calma, aquilo que deveria ser feito. Esta opinião parece mais humana, além de que foi exposta com muita graça e entusiástica eloquência, de modo que não somente os que opinaram depois dele, seguiram-na, mas também vários outros que já tinham dado antes o próprio parecer, desistiram da primeira sentença e aderiram à sua, até que chegou a vez de Catão e de Catulo; estes contradisseram-no violentamente, de modo especial, Catão, que falou de maneira a tornar o mesmo César suspeito de conspiração e se formalizou energicamente contra ele; e assim os criminosos foram entregues ao executor da justiça para serem mortos: quando César saiu do Senado, um grupo de moços, que acompanhavam Cícero, para garantir-lhe a vida, correram para ele de espadas desembainhadas: diz-se que Curió o cobriu com sua veste e o livrou de suas mãos e Cícero mesmo, como os moços olhassem para ele, fez-lhes sinal com a cabeça que não o matassem, quer porque temia o furor do povo, quer porque julgava esse ato, mau e injusto. Todavia se isso é verdade, eu me admiro muito de como Cícero não o referiu no tratado que fez de seu consulado: mas como quer que seja, ele foi depois censurado por não ter aproveitado a ocasião que se apresentara contra César e por ter temido demais o povo que confiava mui afetuosamente na sua proteção.

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Última Modificação: 21 jun, 2009.

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4 Comentários para “Biografia de Júlio César do Império Romano. Plutarco – Vidas Paralelas”
4Miguel (admin) Says:
março 23rd, 2010 at 17:28
@Jaqueline Salmos: Isso é um texto fonte, um clássico, um ebook, não um resumo. Você quer resumo do quê? Fazer trabalho também não é copiar.

3Jaqueline Salmos Says:
março 22nd, 2010 at 8:51
Não tem um mais resumido ??? Tenho que fazer essa pesquisa para á escola , é duro copiar tudo isso !!!

Desculpem

2joana fishelt Says:
junho 15th, 2009 at 16:39
e obrigadão mesmo.

1joana fishelt Says:
junho 15th, 2009 at 16:38
belíssimo resumo, parabéns!
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