terça-feira, 29 de junho de 2010

1322 - HISTÓRIA DO LIVRO

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Estudante do curso de Pedagogia; suzana.ventura@uol.com.br
Estudante do curso de Pedagogia; rosicler@ymail.com
Professor da Universidade Bandeirante de São Paulo; nasserh@globo.com
LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA NA FORMAÇÃO DOS EDUCANDOS
Suzana Ventura de Lima
Rosicler Tatiana da Costa
Nasser Hasan Mahmoud Mohamad
Área do Conhecimento: Ciências Humanas.
Palavras-chaves: Preconceitos; Ideologias; Educação; Formação dos Professores.
INTRODUÇÃO
A lei 10.639, promulgada em 2003, estabelecia
a obrigatoriedade das escolas brasileiras, tanto as públicas
quanto as privadas, trabalharem aspectos das culturas
afro-brasileiras e africanas. Essa obrigatoriedade se
voltava, entre outras áreas do conhecimento, para o ensino
de História. Uma lei dessa natureza é um indício das
dificuldades que tais culturas enfrentaram para conquistar
legitimidade em nossas escolas. Como seria desnecessário
lembrar, tais instituições existem para atender a uma
população originária de uma multiplicidade cultural, fruto
de forte miscigenação étnica e sincretismo religioso. A
lei veio, assim, para tornar as escolas mais inclusivas,
sobretudo e, relação às populações de origem africana,
que já sofreram uma série de injustiças, inclusive dentro
do espaço escolar. Recentemente, a legislação foi alterada
de forma a propiciar o ensino da história e da cultura dos
povos indígenas. Tal alteração foi feita pela lei 11 .465, de
10 de março de 2008.
Dentro do espaço escolar, pode-se colaborar para
que preconceitos se desenvolvam de forma consciente ou
inconsciente, pois a escola, como reprodutora dos valores
da sociedade na qual está inserida, tem ação política e
transmite esses valores, através da prática de professores
que não se atentam para isso. Assim, os preconceitos que
estão disseminados na sociedade podem se reproduzir e
muitos deles no próprio livro didático.
As discussões sobre diferenças étnico-raciais são
antigas, necessárias e muito importantes para a formação de
uma educação digna, que evite estereótipos. As primeiras
pesquisas em relação a livros didáticos parecem ser da
década de 1950. Segundo Silva,
O primeiro desses trabalhos analisou seis
livros didáticos, investigando o ideal de
realidade que os autores pretendiam incutir
nos seus leitores. Nesses livros, Esmeralda V.
Negrão identificou a representação do negro
em situação inferior à do branco, personagens
negros tratados com desprezo, bem como a
representação da raça branca como sendo a
mais bela e inteligente (Silva, 2004:25).
Assim, relacionamos esses resultados com o que
nos diz Bonnewitz, citando Bourdieu:
A seleção das disciplinas ensinadas, assim
como a escolha dos conteúdos disciplinares
é o produto de relações de força entre
grupos sociais. A cultura escolar não é uma
cultura neutra, mas uma cultura de classe.
(Bonnewitz, 2003).
Faz-se necessário, portanto, que a escola discuta
entre seus sujeitos as interligações de saberes que ocorrem
em seu interior, pois somos marcados pela multiplicidade de
determinações históricas, políticas, sociais e psicológicas.
Em nossa sociedade, a prática docente tem sido aprisionada:
de um lado por uma pedagogia da carência, da cópia,
da repetição, que nos submete a continuarmos a ser
disciplinados e controláveis; de outro, pela motivação de
tentar transformar esta sociedade, a começar pela sala de
aula, mas movidos por um ativismo difuso. Consideramos
que tais extremos possam se anular, gerando uma
insatisfação com nossas práticas, nossos alunos, colegas e
com a própria sociedade. Uma saída possível para uma ação
eficiente seria refletir sobre as formas como preconceitos
e ideologias circulam pela escola. Na presente pesquisa de
iniciação científica, abordamos a questão do livro didático,
instrumento que muitos professores seguem à risca, sem
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perceber as influências que este pode acarretar nos seus
alunos, principalmente quando se trata das questões
étnico-raciais. Transformar essa realidade poder ser uma
mudança relevante.
Considerando importantíssimo o movimento
histórico das leis 10.639/03 e 11 .465/08 é que ao longo de
2008 analisou-se um volume da coleção Interagindo com
a História, de Sourient, Rudek e Carvalho, destinado à 2ª
série do Ensino Fundamental, publicada pela Editora do
Brasil em 2006.
OBJETIVOS
O presente trabalho tem por objetivo analisar a
maneira pela qual a diversidade humana é representada no
livro didático de História supracitado e como as diferentes
culturas vem sendo abordadas no contexto escolar através
desse material. Para isso, foram analisados os textos e as
ilustrações que apresentam os diferentes grupos étnicos, as
questões das relações humanas identificando-se a existência
da presença de formas discriminatórias relacionadas à
etnia e das relações sociais construídas pelos autores e
ilustradores dos livros didáticos e repassadas aos alunosleitores.
METODOLOGIA
Análise do livro Interagindo com a História,
destinado à 2ª série do Ensino Fundamental, com foco
particularmente no texto escrito, nos exercícios e nas
imagens utilizadas para ilustrá-lo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisar o volume selecionado, pude tecer
uma reflexão sobre a forma como os segmentos de nossa
população são “retratados” e se tais elaborações contribuem,
de alguma forma, para minimizar o preconceito que existe
contra eles.
Verifiquei que o livro pouco retrata a participação
dos grupos de origem africana ao longo da história do
Brasil e, além disso, quando o faz, apenas cita a escravidão
no Brasil sem mencionar os fatores que levaram à opção
de escravizarem-se africanos nestas terras.
A obra dá uma ênfase maior à questão dos povos
indígenas, citando tribos diferentes e seus costumes, os
povos que aqui existiam quando os portugueses chegaram,
para, ao final do volume, citar a situação dos índios
brasileiros atualmente e como se organizam.
Ao debruçarmos um olhar mais atento às
ilustrações, percebemos que algumas não correspondem
ao texto assim como alguns textos complementares que
aparecem no livro didático contam histórias de maneira
muito distante do texto ao qual se vinculam. Assim, fica
claro que os cursos de formação de professores devem
formar os futuros docentes para uma leitura crítica dessa
relação entre os elementos que compõem os textos
didáticos.
CONCLUSÕES
O livro didático, de modo geral, omite a riqueza
do processo histórico–cultural, o cotidiano e as experiências
das populações indígenas e afro-descendentes, bem
como dos grupos sociais menos favorecidos em geral,
independentemente da etnia. Em relação aos grupos afrodescendentes,
sua quase total ausência nos livros e a
sua rara presença de forma estereotipada concorrem em
grande parte para a desvalorização da sua identidade e para
a pauperização de sua auto-estima, ou seja, significa que
é possível constatar formas de discriminação ao negro,
além da presença de estereótipos que correspondem
a uma espécie de rótulo utilizado para qualificar, de
maneira conveniente, grupos étnicos raciais estimulando
preconceitos, produzindo assim influências negativas,
baixa auto-estima às pessoas pertencentes ao grupo ao
qual foram associadas tais características distorcidas.
Acredita–se que seja possível construir uma
sociedade que atenue os atos preconceituosos, uma vez
que valorizando a diferença como um aspecto positivo à
formação social do aluno, lembrando-se de que as diferenças
são aspectos que somam para a difusão do conhecimento,
essa postura pode ser muito bem desenvolvida na escola,
através do manuseio de livros didáticos que tratem o tema
aqui discutido com mais propriedade e criticidade. Dessa
forma, aprender a fazer uso de uma prática educacional que
valoriza a diversidade cultural e seja atenta a qualquer forma
de discriminação, progredindo nas discussões a respeito
das diferenças raciais, é o começo da formação de uma
sociedade mais justa e menos preconceituosa que até então
só existe no papel e se manifesta altamente discriminatória
em livros didáticos brasileiros contemporâneos.
Assim, a análise de livros didáticos de História
é fundamental, visto que é um instrumento presente em
todas as escolas de nosso país. Apesar de parecer óbvio
que esse tipo de livro deveria apresentar todos os homens
como sendo importantes e, assim, que uma grande
variedade de pessoas contribuíram para a história do nosso
país. Exatamente por isso, nenhum grupo étnico deveria
ser tratado com superioridade ou inferioridade. Como
sabemos que o livro não circula por si mesmo, chegamos à
questão da formação de professores diferentes, conscientes
do seu papel na sala de aula para assim poder fazer um
bom uso do livro didático, não repassando a ideologia
das classes dominantes implícita nestes livros para as
crianças da classe trabalhadora. Desse modo, a proposta
deste trabalho de iniciação científica tenta promover ou
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pelo menos diminuir o preconceito social, principalmente
com os de descendência africana, etnia que é altamente
discriminada.
Para que os alunos possam aprender a conviver
com as diferenças e assim se tornarem pessoas mais
tolerantes com o próximo, passando a respeitar as
diferenças existentes em cada cultura, é necessário que os
livros didáticos possam se adequar para retratar tais grupos
étnicos de forma não preconceituosa e tão pouco como
pessoas desfavorecidas. Cabe aos livros retratar a história
da África e suas culturas visando a elevar a auto-estima do
povo negro do Brasil. Ademais, é importante salientar que
isso deve ser feito também com a população indígena para
que os alunos possam perceber da onde surge o racismo,
o que é o racismo e que essa prática lamentável não diz
respeito somente à população negra, mas também atinge a
população das classes desprivilegiadas. Importante frisar
que ninguém nasce racista, pois o preconceito é um fator
construído socialmente e exatamente por isso, deve ser
trabalhado desde cedo nas escolas para assim, futuramente,
formarmos pessoas que possam respeitar as diferenças
existentes na sociedade.
Considera-se necessário fomentar a discussão
coletiva sobre a escola como espaço, ao mesmo tempo,
reprodutor das desigualdades e preconceitos sociais e no
qual sujeitos buscam valorizar todo o processo histórico em
que o aluno está inserido. Por isso mesmo, deve-se ter em
mente que ensinar não é transmitir conhecimentos prontos
dos livros didáticos e sim levar o aluno a refletir sobre as
questões propostas naqueles livros e assim, construindo
assim uma identidade própria de cada um, pois segundo
Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia “ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua própria produção ou a sua construção”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas
Educacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
BONNEWITZ, Patrice. Primeira Lições, sobre a
Sociologia de Pierre Bourdieu. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 2003.
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao
silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na
educação infantil. São Paulo: Contexto, 2000.
FARIA, A. L. G; Ideologia no Livro Didático. São Paulo:
Cortez, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes
Necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
2007.
SÃO PAULO (Município), SECRETARIA MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO. Expectativas de Aprendizagem para
a Educação Étnico-Racial na educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio. São Paulo: SME/ DOT,
2008.
SILVA, Ana Célia. A discriminação do negro no livro
didático. Salvador: EDUFBA, 2004.



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