Navigator 10 Arqueologia Subaquática no sítio do naufrágio da Praia dos Ingleses 1, Ilha de Santa Catarina
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Arqueologia Subaquática no
sítio do naufrágio da Praia dos
Ingleses 1, Ilha de Santa Catarina:
contribuição à História Marítima
do Brasil1
Francisco Silva Noelli
Arqueólogo, historiador, mergulhador
Alexandre Viana
Arquiteto, mergulhador
Marcelo Lebarbenchon Moura
Geógrafo, mergulhador
RESUMO
O artigo apresenta resultados preliminares da
pesquisa de arqueologia subaquática realizada
em dois períodos: entre março de 2004 e fevereiro
de 2005, e entre fevereiro e maio de 2009,
no sítio Praia dos Ingleses 1, na Ilha de Santa
Catarina, Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia Subaquática;
Arqueologia Histórica; História Colonial do Sul
do Brasil
ABSTRACT
This article presents the preliminary results of the
underwater archaeological research developed
between two periods: March 2004-February 2005,
and February-May 2009, at site Praia dos Ingleses,
Santa Catarina Island, Brazil.
KEY-WORDS: Underwater Archaeology; Historical
Archaeology; Southern Brazil Colonial
A construção da história marítima do Brasil vem de longa data, com diversos temas de
interesse militar e civil. A base de dados predominante é a fonte escrita e a cartografia e,
eventualmente, são usadas as próprias embarcações e as estruturas terrestres, como os livros
clássicos de Antônio Alves Câmara (1888), sobre as construções navais indígenas, e de
Juvenal Greenhalg (1951), sobre o arsenal do Rio de Janeiro. A Arqueologia oferece dados
decisivos à pesquisa histórica, especialmente por ter a cultura material como objeto princi-
1 PAS - Projeto de Arqueologia Subaquática. Financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Santa
Catarina (Convênio n. 1/2004 e n. 18.350/2008-4); Autorizado pela Marinha do Brasil (Portaria n. 59/DPC, de 3/6/2003
- D.O.U. n. 11, seção 1, p. 7, de 16/1/2004). Contrato de Autorização (n. 52.000/2003-015/00 – DPC/Marinha do
Brasil), acordado no dia 16/12/2003, entre a autoridade naval, ministro da cultura e o PAS. Projeto desenvolvido
em convênio de colaboração científica com a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI/SC e com o Museu Casa do
Homem do Mar/município de Bombas.
Francisco Silva Noelli, Alexandre Viana & Marcelo Lebarbenchon Moura
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pal de trabalho. A vocação interdisciplinar,
com abordagens que superam as limitações
da fonte escrita, oferece análises e explicações
que o historiador não obteria, pelo fato
de não
ter acesso às informações que um naufrágio
ou um sítio arqueológico terrestre oferecem.
Os resultados dos últimos 50 anos demonstram
que a Arqueologia veio para ampliar a
capacidade de gerar explicações sobre qualquer
tema da História Marítima.
O Brasil criou um cenário favorável à
História Marítima com participação integral
da Arqueologia. Existe o caminho
pavimentado para a efetiva preservação
do patrimônio cultural representado pelos
naufrágios, baseado nos tratados internacionais
que o Brasil é signatário, como a
Carta Internacional do ICOMOS para a Proteção
e Gestão do Patrimônio Cultural Subaquático.
Existe o entendimento das autoridades
navais e civis para regulamentar o
acesso e a preservação dos naufrágios com
mais de 50 anos, e a nova legislação (PLC
45/2008) encontra-se em sua etapa final de
discussão no Congresso Nacional. Os pesquisadores
deram contribuição relevante
neste cenário, sobretudo o setor da Sociedade
de Arqueologia Brasileira, dedicados
à arqueologia subaquática, liderados de
forma exemplar por Gilson Rambelli. Existe
a compreensão objetiva para fomentar a
História e a Arqueologia Marítima, começando
pelo reconhecimento da necessidade
de ampliar o número de profissionais
especializados, institucionalizar o campo
científico, criar cursos e linhas de pesquisa
para aumentar a qualidade e a quantidade
da produção acadêmica (Moitrel 2006:94).
Nesta direção, o Projeto de Arqueologia
Subaquática (PAS) pesquisa o sítio Praia
dos Ingleses 1. O objetivo é a pesquisa arqueológica
e histórica de embarcações naufragadas.
Os desdobramentos dessa atividade
são a curadoria, o estudo dos artefatos
e a criação de um museu local destinado a
incentivar a preservação do patrimônio cultural.
O desenvolvimento de estudos sobre
cultura material, conservação de artefatos,
tecnologia náutica, economia marítima,
história e cultura dos trabalhadores do mar
também integram a agenda do PAS (Viana,
Correa, Moura 2004).
Este artigo apresenta resultados parciais
da escavação realizada entre março
de 2004/abril de 2005 e fevereiro/maio de
2009. Ainda desconhecemos a data do
afundamento e a identidade do barco. Contudo,
os artefatos e a pesquisa histórica
indicam que o naufrágio ocorreu em 1687,
que o barco possui técnicas construtivas
espanholas e que, ademais, foi capturado
por piratas que saqueavam a costa noroeste
da América do Sul, do Panamá e Nicarágua.
Os restos do casco estão totalmente
enterrados e a pesquisa foi determinada
pelo ambiente de praia, cuja dinâmica inconstante
limita a área de escavação a 4m2,
excepcionalmente de 8 a 12m2, e dificulta
a visualização e o registro, atrasando a obtenção
de dados para responder perguntas
sobre: 1) formação do registro arqueológico;
2) causa do naufrágio; 3) classe de barco;
4) composição da carga; 5) tripulação
Figura l: Localização do Sítio Arqueológico Praia dos Ingleses 1
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e passageiros; etc. Dividimos a escavação
em duas etapas: 1) registro e remoção de
elementos pequenos; 2) o registro e a remoção
dos elementos estruturais do casco.
Entre as duas etapas, recobrimos as
madeiras com sedimento para protegê-las
da fauna marinha, ressacas e antropia. A
camada arqueológica é difícil de escavar,
pois é composta por toneladas de seixos de
lastro cobertos por areia, biodetritos e lixo
(detalhes da metodologia de escavação em
Noelli, Viana e Moura 2009).
A POSIÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO
Está na enseada da Praia dos Ingleses,
Norte da Ilha de Santa Catarina, litoral
Sul do Brasil (Fig. 1), nas coordenadas
27°26’12”S e 48°22’35”W, com uma área
estimada de 600m2 sob uma coluna média
com 2m de água. A visibilidade varia de 0 a
6 metros, com média de 80cm. A temperatura
varia entre 13 e 27oC, com média de 18o.
A FORMAÇÃO DO REGISTRO ARQUEOLÓGICO
O naufrágio compreende o afundamento
e a deposição de artefatos e seres
vivos no leito subaquático. Considerando o
processo de formação do registro arqueológico
(Schiffer 1987), o naufrágio possui
uma etapa deposicional e outra pós-deposicional.
Primeiro, os artefatos e seres vivos
dentro de um sistema fechado, ordenado e
dinâmico (o barco), sofrem um colapso que
resulta na deposição no leito subaquático.
Depois, na etapa pós-deposicional, o barco
e seu lugar configuram o sítio arqueológico,
que entra em equilíbrio com o ambiente,
onde alguns artefatos ficam preservados
e outros desaparecem por processos químicos,
físicos e biológicos. As condições
ambientais mudam e pode haver desequilíbrio
e rápida deterioração de materiais que
sobreviveram por muitos anos (Delgado &
Staniford 2002). Muckelroy (1978:157-159)
estabeleceu os parâmetros para compreender
esse tipo de formação do registro
arqueológico, sugerindo variáveis deposicionais
e pós-deposicionais. Para ele, a
evolução do naufrágio possui as seguintes
variáveis (incluindo a perda de elementos
embarcados pela própria dinâmica do sinistro,
salvatagem, etc.): 1) processo de
afundamento (pessoas e materiais flutuam
e saem da embarcação); 2) operações de
salvatagem (resgate de corpos humanos e
materiais); 3) desintegração dos perecíveis;
4) movimento do leito marinho; 5) materiais
depositados posteriormente no naufrágio;
6) características da escavação arqueológica;
7) topografia do leito marinho. Os itens
1 e 2 integram a pesquisa quando há relatos
do afundamento. O item 3 é possível
quando compara-se o registro arqueológico
com o manifesto da carga, lista da matalotagem,
lista de passageiros e o memorial
descritivo do barco. Os itens 4 e 5 devemse
a aspectos ambientais levantados em
campo. Os itens 6 e 7 dependem da perícia
para escavar com baixo impacto. Muckelroy
(1978:161-165), sugeriu coletar dados do local
de inserção do sítio para: 1) avaliar a sobrevivência
arqueológica e os elementos ambientais;
2) estabelecer classes de naufrágios.
O tipo de sítio do naufrágio da Praia dos
Ingleses, conforme Muckelroy (1978:164-
165), pertence à classe 2 (com elementos
estruturais, elementos orgânicos, muitos
objetos, distribuição espalhada-ordenada).
Os restos da embarcação estão enterrados
e ligeiramente inclinados no sentido longitudinal
acompanhando o perfil do leito
marinho, com a área da popa no local mais
elevado e sensível aos fatores erosivos. Não
há mound e o terreno tem declive suave e
aplanado. Nas fases erosivas prolongadas
surgem evidências no campo de destroços
na direção da praia e do costão, onde é mais
raso. O pacote de sedimentos estéreis sobre a
camada arqueológica varia com a estação, até
2,5m. A escavação de 220m2 (Fig. 2), foi realizada
na área da popa e no campo de destroços
a ré e a boreste dos restos do casco e há evidências
que permitem uma hipótese sobre as
causas do naufrágio: 1) encalhe em condição
de ventos do setor noroeste; 2) ruptura do casco
após impacto no solo; 3) partes do lastro
e da carga foram para fora do barco; 4) finalmente,
casco adernou/desabou para boreste.
A parte final da quilha apresenta dois
cravos com 1,7 e 1,5m de comprimento, 14cm
de diâmetro, retorcidos para boreste, uma
prova do desabamento da estrutura de popa.
Francisco Silva Noelli, Alexandre Viana & Marcelo Lebarbenchon Moura
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Figura 2: Sítio Praia dos Ingleses 1 Figura 3: Sítio Praia dos Ingleses 1
Figura 4: Leme e quilha em suas posições
no casco. Os cravos da quilha estão torcidos
para boreste
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Essa parte da quilha, de fato os últimos 3,58m
de comprimento, apresenta marcas do impacto,
pois ela está quebrada (a peça original deveria
ter ± 9m e integrava o final de três peças,
cf. Aispuru 2003). A quilha está alinhada para
noroeste, em local sujeito à exposição nas fases
erosivas. A superfície da quilha apresenta
danos das vezes que ficou sem cobertura sedimentar,
causada pela fauna e não localizamos
as peças que estavam firmemente afixadas
nela, como a curva coral, a sobrequilha, o cadaste
de popa e a falsa-quilha (provavelmente
foram degradadas). Não tocamos a área central
e a proa, que estão enterradas. As madeiras
do costado apresentam as extremidades
próximas da popa com marcas de que também
ficaram sem cobertura sedimentar (Fig.
3). A cerca de 80cm da quilha encontramos
o leme intacto, indicando o limite da área
onde o pacote sedimentar deixava de afinar
a ponto de expor o registro arqueológico (Fig.
4). Além da quilha, não localizamos, nenhuma
parte estrutural do casco. As madeiras do
costado estavam entre o lastro, e pertencem
à área de transição da popa para o terço
central do casco. O desenho da escavação
mostra o topo do contexto arqueológico.
FONTES ESCRITAS E A FORMAÇÃO DO
REGISTRO ARQUEOLÓGICO
A maioria dos barcos europeus das
companhias comerciais e do serviço estatal,
depois de 1500, deixou algum rastro
documental náutico, alfandegário, burocrático,
militar, contábil ou pessoal. Outra
parte não deixou rastros, geralmente participando
de operações especiais de Estado
ou para companhias privadas, como os
corsários. Outros barcos não contabilizados
seriam os capturados por piratas, grupos
fora da lei. Eventualmente, é possível
que existam registros diretos ou indiretos
das testemunhas ou sobreviventes do naufrágio
ou, ainda, das tradições orais. O fato
é que a análise da formação do registro arqueológico
de um naufrágio nem sempre
incluirá dados históricos específicos.
Nossa compreensão do processo de
formação do registro arqueológico do sítio
Praia dos Ingleses 1 ainda é limitada às evidências
da escavação. Não conseguimos
localizar os dados históricos específicos e
completos do barco, mas procuramos fontes
do período 1680-1730 na: 1) bibliografia
brasileira; 2) bibliografia internacional; 3)
documentos publicados; 4) documentos
inéditos em arquivos brasileiros e outros
países. Estendemos o período considerando
a possibilidade de encontrar informações
produzidas posteriormente a 1687.
O naufrágio insere-se em um contexto
histórico complexo, dentro de um leque de
múltiplas variáveis, pois o litoral catarinense
oferecia abrigo e abastecimento às rotas
marítimas. Apesar de as técnicas construtivas
do barco sugerirem origem espanhola,
ele poderia estar a serviço de portugueses,
holandeses, franceses, ingleses, dinamarqueses,
alemães ou ser “não contabilizado”.
Poderia tratar-se de barco: 1) em cabotagem
Brasil-Rio da Prata; 2) espanhol
(militar, aviso ou registro) para o Rio da Prata
ou Pacífico; 3) português na carreira das
Índias; 4) europeu militar, de companhia
comercial ou de armadores autônomos;
5) corsários; 6) piratas; 7) europeu isolado
em rota aleatória. É importante ressaltar a
contínua presença dos barcos do comércio
triangular atlântico, que arribavam ao Rio
da Prata e ao Brasil para contrabandear,
usando o pretexto de tempestades ou avarias
(cf. exemplos em Molina 1966).
Revisamos a bibliografia brasileira, especialmente
de Santa Catarina, sem achar
nenhum registro explícito sobre o sítio Praia
dos Ingleses 1. A única informação existente
foi publicada por Coelho (1856:184): “essa
praia é chamada dos Ingleses por haver ali,
em tempos remotos, naufragado um grande
navio inglês, e que alguns vestígios ou
mesmo destroços foram descobertos pelo
temporal de março de 1838”. Essa referência
nunca foi repetida na historiografia catarinense,
ficando esquecida até agora. O
levantamento arqueológico na enseada não
localizou outros barcos afundados no período
colonial, fator que relaciona o sítio Praia
dos Ingleses 1 aos destroços noticiados por
Coelho. Nem os mais velhos pescadores artesanais,
cujos antepassados chegaram ali
há mais de cem anos, sabiam do naufrágio.
A época do afundamento coincide com
o início do processo colonial português na
Francisco Silva Noelli, Alexandre Viana & Marcelo Lebarbenchon Moura
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região e com a fundação dos primeiros núcleos
costeiros. O assentamento da Nossa
Senhora do Desterro (atual Florianópolis)
desenvolveu-se após 1673 e estava consolidado
em 1678. Em 1689, depois de um
ataque pirata, parte dos povoadores abandonou
a área e a colonização só foi retomada
em 1711, quando a população alcançou
aproximadamente 150 “brancos” (sem contar
índios e negros). Os colonos produziram
poucas fontes escritas e a maior parte foi
perdida. Os documentos conhecidos foram
publicados na íntegra ou resumidamente e
acreditamos que os historiadores não encontraram
informações sobre o naufrágio
(Boiteux 1931; Almeida 1957; Domingues
1973; Cabral 1979; Piazza 1983).
Estamos levantando a bibliografia internacional
sobre naufrágios, rotas de navegação,
armadores autônomos, companhias
de comércio e suas diversas rotas,
tráfico de escravos e outras. Trata-se de um
conjunto vasto e heterogêneo de fontes a
partir do século XVI (Mauro 1980, 1997),
com roteiros de viagens, listas de embarcações,
rotas, tripulação, passageiros, carga
e a história de cada barco, cujo exemplo é o
estudo das viagens da holandesa Vereenigde
Oostindische Compagnie (Companhia
das Índias Orientais) VOC (Bruijin, Gaastra
e Schöffer 1979-1983). Outro exemplo, mas
centrado no levantamento sistemático dos
naufrágios, é o estudo sobre as perdas portuguesas
na carreira das Índias (Guinote et
al. 1998), bastante completo sobre o período
1500-1699. Existem duas sínteses que
definem o campo de estudos das navegações
no Atlântico Sul, Seville et l’Atlantique
(Chaunu Chaunu 1955-1960) e Portugal, o
Brasil e o Atlântico (Mauro 1997), mas são
lacunares para a região Sul. O mesmo se
aplica à História Naval Brasileira (Guedes
1975-1985), que pouco tratou da costa meridional.
Existem estudos específicos que
revelam o fluxo da navegação entre o Brasil
e o Rio da Prata no período 1580-1700, basicamente
restritos aos barcos portugueses e
espanhóis (Canabrava 1944; Molina 1966).
Parte da solução é pesquisar documentos
publicados ou inéditos. Contudo, para o
minucioso conhecimento da navegação na
costa brasileira e no Rio da Prata é necessário
pesquisar em bibliotecas e arquivos
espalhados por três continentes (Mauro
1997 2:297). Para iniciar, buscamos as
publicações de crônicas e documentos
completos ou resumidos do período
1680-1730, sobre o Brasil meridional e o
Rio da Prata (Noelli s.d.:1).
Algumas pesquisas revelam o grande
potencial das fontes. Um exemplo é o levantamento
das 35 mil viagens na era do tráfico
de escravos no Atlântico, registradas no livro/
CD-ROM The Trans-Atlantic Slave Trade e
no site homônimo (Eltis et al. 1999; lacunar
para o litoral Sul do Brasil e Rio da Prata).
Também é importante a história da VOC, que
entre 1602 e 1798 construiu 1.600 embarcações,
transportou 700 mil pessoas em 4.789
viagens e sofreu 105 naufrágios (Gawronski
2002:565). Outra instituição colonial holandesa
foi a West-Indische Compagnie WIC
(Companhia das Índias Ocidentais), que
atuou entre 1621 e 1791. Sua área de operações
concentrou-se da África Ocidental às
Américas, entre o Trópico de Capricórnio e
o Cabo da Boa Esperança. Seu objetivo era
eliminar a concorrência, tomar as possessões
portuguesas e suas atividades incluíam
o corso. Consta que entre 1700 e 1730,
a WIC teve uma frota que oscilava entre 490
e 520 barcos (Paesie 2008). Outro exemplo
é a inglesa Company of Royal Adventurers
Trading to Africa, criada em 1660 para traficar
escravos. Em 1672 ressurgiu como The
Royal African Company (RAC), armando
249 viagens à África e às Américas entre
1680 e 1686 (Davies 1999:206). No período
1698-1709, ocorreram 601 viagens entre a
Inglaterra e a África (Rawley 2003:39). Os
franceses também atuaram no Atlântico
Sul, com companhias comerciais e grupos
de corso, chegando a capturar 45 barcos da
RAC, entre 1688 e 1712 (Davies 1999:206).
Entre 1713 e 1744, partiram da França 937
barcos rumo à África, mantendo sua presença
no Atlântico Sul (Rawley; Behrendt
2005:118). Da Bahia à África zarparam
463 barcos portugueses entre 1680-1713
(Eltis 2000:301).
Os números mostram que o Atlântico
Sul não era um deserto entre 1680-1730 e
que a costa meridional do Brasil estaria na
rota sistemática ou aleatória de inúmeros
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barcos. Nossa investigação em andamento,
de mais de três mil títulos de arqueologia,
história, crônicas de viagem e coleções
de documentos publicados, registrou 262
barcos que aportaram ou passaram ao largo
da Ilha de Santa Catarina neste período
(média de 5,22 barcos/ano). Há cinco notícias
de naufrágios entre o Paraná e Buenos
Aires no período citado, mas nenhum próximo
à Ilha de Santa Catarina.
Um barco sobressai como candidato
ao naufrágio da Praia dos Ingleses. O historiador
Amílcar D’Avila de Mello, um dos
maiores especialistas da história colonial
catarinense (Mello 2005), nos sugeriu a
hipótese de que seria o barco de Thomas
Frins, possivelmente afundado em 1687. A
principal fonte dessa informação2 é a Nobiliarquia
Paulistana, de Pedro Taques de Almeida
(1980:85-86), que resumiu/transcreveu
partes do inquérito de Frins que consta
do livro de registro n. 4 da Real Fazenda de
São Paulo, feito pela justiça portuguesa em
Santos no dia 26/2/1688 (o livro 4 desapareceu
do Arquivo Público de São Paulo). São
as seguintes informações:
1. Thomas Frins era um pirata inglês,
navegando com mais sete ingleses;
2. Frins liderava um patacho;
3. Foi da Inglaterra para Porto Belo, Panamá;
4. Pertencia a frota de navios pequenos
e 900 homens, comandados por “Samoloy” 3;
5. “Andaram como piratas”, saqueando
as terras da Coroa espanhola: Panamá,
Callao, “barra da Ponta” (50), Porto Santo (90);
6. O barco de Frins separou-se da frota
nas imediações de Callao;
7. Ficou “por seis meses” procurando o
resto da frota;
8. Guerrearam em Porto Santo, no Pacífico,
e “ficaram destruídos”, sobrevivendo
Frins e sete homens;
9. Necessitando de água e reparos, arribaram
à Ilha de Santa Catarina;
10. Foram aprisionados por Francisco
Dias Velho em 1687, que inventariou e confiscou
a carga, e prendeu a tripulação.
O relato de Taques não é explícito sobre
o destino do barco de Frins: informou
estar avariado e tripulado por número insuficiente,
navegando precariamente do
Pacífico até Santa Catarina. Porém, é possível
deduzir que afundou, pois aportou de
arribada para reparos e abastecimento. A
confirmação estará em outros documentos
portugueses ou ingleses? Por que o barco
de Frins não consta do inventário feito por
Dias Velho durante a captura? O barco que
chegou avariado teria afundado? Os testemunhos
arqueológicos da Praia dos Ingleses
servirão para confirmar definitivamente
que foi o barco de Frins?
Os fragmentos da narrativa de Frins e
sua cronologia coincidem com os registros
da frota pirata comandada pelo inglês
Edward Davis, por volta de 1687. Em junho
de 1685, uma força de 960 homens de Davis,
reuniu-se para saquear colônias espanholas
no Pacífico (Burney 1891:207). A
Esquadra pirata chegou a ter dez barcos, a
maioria tinha pouca tonelagem, dos quais
sete foram capturados dos espanhóis. Todos
os locais mencionados no relato de
Pedro Taques foram assaltados ou visitados
pelos piratas: Panamá, Callao, “barra
da Ponta”, situada em 50, e “Porto Santo”,
posicionado em 90 (trata-se de Santa, na
costa peruana).
A parte inglesa da força surgiu em 1683-
84, quando uma tripulação da Virgínia encontrou,
na costa chilena e equatoriana,
dois barcos que zarparam separados do
Tâmisa. Em 1684, este grupo atacou e saqueou
vários portos e barcos entre o Chile
e El Salvador. A parte francesa associou-se
posteriormente, em 1685. É com esse grupo
que Frins atravessou o Panamá desde
o Atlântico, com 80 ingleses liderados pelo
“capitão Townley”. É importante salientar
que a força contava com várias nacionalidades,
incluindo indígenas e escravos liber-
2 Vários pesquisadores trataram do tema (cf. Boiteux 1931), mas nenhum acrescentou dados aos de Taques. O
nome “ingleses” apareceu pela primeira vez em 1776, no mapa da Ilha de Santa Catarina, de José Custódio de Sá
e Faria.
3 Samoloy é uma evidente corruptela da forma original, feita na elaboração dos autos ou posteriormente. Só não
sabemos quando, embora tenhamos candidatos para autoria do erro: 1) Lourenço Pereira, “Veneziano”, intérprete
de Frins nos autos; 2) escrivão dos autos; 3) Pedro Taques; 4) editor do livro de Taques. Acreditamos que foi a compreensão
errônea, possivelmente, dos nomes Swan e Townley, que atuaram associados por vários meses.
Francisco Silva Noelli, Alexandre Viana & Marcelo Lebarbenchon Moura
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tos pelos piratas. A aliança anglo-francesa
acabou em poucos meses, após vários ataques
bem-sucedidos aos espanhóis, mas
continuaram separados as razias na costa
entre 1685/86 e reuniram-se mais uma vez
em 1687 (Burney 1891:224). Dois cronistas
dos piratas, William Dampier ([1697] 1702
p. ex.:199) e Raveneau de Lussan ([1689]
1856:334), ajudam a elucidar parte do caso
de Frins: a força aumentou capturando barcos
espanhóis, formando tripulações lideradas
por quartermasters (contramestres),
com postos chaves dominados por ingleses
e franceses, além de outros europeus,
entre os quais espanhóis renegados, mais
escravos libertos e indígenas. O próprio Davis
foi um quartermaster nomeado capitão
geral após seu comandante falecer. Lussan
dá o nome a seis dos dez comandantes.
Seria Frins um dos quatro desconhecidos
ou ele assumiu após seu líder morrer em
combate ou doente?
A data da separação do barco de Frins
do resto da frota é obscura no relato de
Taques, mas é contextualizada nas fontes
espanholas. Os piratas sofreram vários reveses
entre junho de 1686 e junho de 1687,
no Equador e no Peru. Taques escreveu
que o desgarramento foi nas imediações
de Callao, mas os combates navais ocorridos
naquela área (maio/junho de 1687 cf.
Zapata [1757] 2005:117), não fecham com
outra informação de Taques. Se Frins procurou
seus companheiros por seis meses,
desde junho de 1687, não poderia ancorar
na Ilha de Santa Catarina naquele mesmo
ano, pois a volta do Peru levava em média
dois meses. As fontes espanholas mostram
que os últimos combates na região entre
Santa e Pisco, onde os piratas perderam
vários combates e tiveram muitas baixas,
ocorreram até junho de 1686 (Zapata [1757]
2005:279). Santa, situada ao Sul de Callao,
relativamente próxima, foi onde o grupo de
Frins “ficou destruído”.
Essa conta é coerente com uma informação
de Lussan (1856:251), sobre o encontro
do grupo francês, em abril de 1687,
nas imediações de Santa Helena, com um
barco espanhol apresado pelo grupo de
Edward Davis. O barco fora capturado na
altura de Nazca, transportava vinho e milho,
procurava pelos demais ingleses e era
tripulado por oito ingleses que desembarcaram
(atacaram) em “Sagua” (Tacna), Pisco
e Arica. A ligação com Frins não é explícita,
mas as coincidências com o relato de
Taques são evidentes:
1) barco isolado tripulado por oito
ingleses;
2) procurava pelos demais barcos ingleses,
dos quais perdera-se na costa peruana;
3) barco era uma presa espanhola;
4) participou de ataques às cidades da
costa peruana;
5) carregava uma carga de vinho (certamente
em botijas de uma arroba);
6) pretendia voltar para o Mar do Norte
(Atlântico), via Estreito de Magalhães.
O relato de Lussan é muito compatível
com o relato de Pedro Taques, apesar de
nenhum deles serem diretos e objetivos
com relação ao barco da Praia dos Ingleses.
Ambos tratam de um barco com oito
ingleses que se perderam do grupo principal
na costa do Peru, após combaterem na
costa, ao Sul de Callao. As coincidências
das demais informações também fortalecem
o depoimento desses ingleses em
duas ocasiões separadas, para ouvintes
completamente distintos (piratas franceses
e oficiais da justiça portuguesa), permitindo
construir um relato com a mesma
estrutura narrativa. E, como mostraremos
abaixo, os depoimentos são coerentes
com as evidências arqueológicas da Praia
dos Ingleses.
Finalmente, mais duas coincidências com
o inquérito de Frins: 1) Lussan (1856:340) informou
que a força capturara um patacho
espanhol em 13/5/1685 (seria o mesmo patacho
descrito por Pedro Taques?); 2) o barco
de Davis, Bachelor’s Delight (Encanto
dos Solteiros), teve quase o mesmo rumo
de Frins na volta do Pacífico: parou para
abastecer em Punta del Este no final de
1687 e, depois, costeou o Brasil (segundo
outro cronista dos piratas, o cirurgião Lionel
Wafer [1699] 1903:197). Parece que Davis
passou ao largo de Santa Catarina um
ou dois meses após a prisão de Frins. Testemunhas
espanholas (Sotomayor [1688]
1901 a, b), declararam que barcos ingleses
Navigator 10 Arqueologia Subaquática no sítio do naufrágio da Praia dos Ingleses 1, Ilha de Santa Catarina
101
aportaram em Maldonado, atual Punta del
Este; e que um de 200 toneladas aportou
de arribada em Buenos Aires antes de
abril de 1688. Será que Frins também parou
no Rio da Prata?
ALGUNS ACHADOS NA PRAIA DOS INGLESES
E SUA RELAÇÃO COM O BARCO
DE FRINS
A escavação revelou provas materiais
que coincidem com o relato de Frins e que
nos autorizam a sustentar a hipótese de
que o naufrágio seria o barco espanhol
capturado no Pacífico. O metate é originário
da América Central, com forma retangular
(52,28 x 35,12cm), tetrápode, de rocha
calcárea, usado para moer vegetais,
especialmente grãos (Fig. 5).
Outros testemunhos da costa Noroeste
da América do Sul são fragmentos cerâmicos
de vasilhas indígenas (Fig. 6) com características
da Área Intermediária (Willey
1966:254), que no Pacífico abrange as costas
do Panamá, Colômbia e Equador.
Outra evidência do Pacífico: fragmentos
fósseis da concha de loco (Concholepas
concholepas Martyn), um molusco da
família Muricidae apreciado como alimento
do Sul do Peru ao Sul do Chile (Fig. 7).
Relógios de sol, instrumentos auxiliares
de navegação (Fig. 8).
Uma escala de Gunther para navegação,
com marca e ano de fabricação pirografados,
é outra coincidência relevante e
que ajuda na datação relativa da embarcação
(Fig. 9). O ano é 1683, justamente quando
os dois barcos saíram da Inglaterra, e o
nome da marca é tipicamente inglês. Prova-
Figura 5: Metate, plano de topo, base e vista lateral
Figura 6: Fragmentos cerâmicos
Figura 7: Fragmento da concha de loco
Figura 8: Relógios de sol
Francisco Silva Noelli, Alexandre Viana & Marcelo Lebarbenchon Moura
102
velmente, a escala foi levada para o barco
espanhol com os instrumentos de navegação
dos quartermasters.
Uma clara evidência de artefato inglês
é a tampa de pewter de um frasco de vidro,
decorado com a Rosa dos Tudor, emblema
heráldico dos reis ingleses à época do naufrágio
(Fig. 10).
Um tinteiro decorado com a águia bicéfala
dos Habsburgos é um artefato espanhol,
provavelmente roubado com o barco
ou nas cidades saqueadas pelos piratas
(Fig. 11).
Achamos mais de 11 mil fragmentos
de cerâmicas, basicamente de botijas
de uma arroba do tipo Forma 1 (James
1988), usadas para transportar e armazenar
vinho, azeite, água, grãos, etc. Localizamos
dez botijas inteiras e restauramos
oito (Fig. 12). Resgatamos cerca de 270
gargalos. As botijas eram produzidas artesanalmente
em grande escala e tem
forma padronizada, não eram exatamente
iguais (Avery 1997), contendo entre 16
e 22 litros, pesando entre oito e 11 quilos.
A análise visual da pasta, da espessura
das paredes e do tratamento de superfície,
indica que as vasilhas não são de um
único oleiro, nem de uma única jazida.
Tal diversidade coincide com as informações
de que a força pirata saqueou botijas
de vinho e água em vários locais e
barcos por onde passaram (Burney 1891)
Encontramos dezenas de pederneiras,
cuja matéria-prima e origem ainda não foram
determinadas (Fig. 13).
Figura 12: Exemplares restaurados de botija de uma
arroba
Figura 9: Escala de Gunther
Figura 10: Tampa de
pewter decorada com
Rosa dos Tudor
Figura 11: Vista frontal do tinteiro com a águia bicéfala
Navigator 10 Arqueologia Subaquática no sítio do naufrágio da Praia dos Ingleses 1, Ilha de Santa Catarina
103
Também encontramos centenas de
munições de chumbo para mosquete e
pistola (Fig. 14):
Um cabo de espada de madeira enrolada
com fios metálicos e rolo de fio metálico
(Fig: 15):
Encontramos diversas facas envolvidas
em concreções (Fig. 16):
Exemplar de moitão (Fig. 17):
Exemplar de carregador de falconete
(Fig. 18):
CONCLUSÃO
O objetivo do PAS é criar as bases necessárias
para a construção de um Museu
de Arqueologia, História e Cultura Marítima
de Santa Catarina, dedicado à pesquisa
e à preservação da cultura material e
das tradições locais. A tentativa de despertar
o interesse pela preservação, tanto
da população local, quanto dos inúmeros
Figura 13: Pederneiras
Figura 14: Munição de chumbo
Figura 15: Rolo de fio
metálico e cabo de espada
Figura 16: Exemplar de faca envolvida em concreção
Figura 17: Moitão
Figura 18: Carregador de falconete
Francisco Silva Noelli, Alexandre Viana & Marcelo Lebarbenchon Moura
104
turistas da Praia dos Ingleses, foram objetivos
desenvolvidos desde os primeiros
dias no centro de visitação4 aberto na base
de pesquisas na Praia dos Ingleses. Mesmo
sem propaganda, o PAS recebeu mais
de 20 mil visitantes na base de pesquisas
da Praia dos Ingleses, incluindo grupos
de alunos e professores de várias escolas,
oferecendo exposição guiada e apresentação
de vídeo. Também realizou exposição
itinerante em eventos acadêmicos, culturais
e turísticos; palestrou em escolas e
salões comunitários. O PAS também tem
por objetivo criar uma linha de publicações
nas temáticas do museu, dirigidas
ao meio acadêmico e à divulgação científica,
com trabalhos próprios ou apoiando a
iniciativa de pesquisadores do passado de
Santa Catarina e Brasil meridional.
Para consolidar essa conexão e confirmar
que se trata do barco de Thomas
Frins, é preciso ampliar a base de dados
do Sítio Arqueológico Praia dos Ingleses 1
e finalizar o levantamento das fontes escritas.
A conclusão da análise do lastro será
decisiva para traçar as rotas e paradas da
embarcação. O mesmo quanto às botijas,
cuja análise da pasta poderá auxiliar na
definição da região de origem, pelo menos
se eram europeias, americanas ou de ambos
os continentes. O estudo do casco e
dos seus componentes poderá indicar sua
data e local de construção, de reformas e
ampliar os elementos que demonstram a
tecnologia naval espanhola. A análise do
conjunto de artefatos também é importante,
tanto para o reconhecimento de
cada peça, quanto para auxiliar no estudo
das rotas percorridas pela embarcação.
As fontes escritas terão peso importante
nessa etapa. Será fundamental encontrar
as listas de tripulantes do Nicholas
e do Cygnet, que zarparam oficialmente
da Inglaterra em 1683 e que devem ter
deixado registros burocráticos. O mesmo
com os companheiros do capitão Tonwley
que atravessaram o Panamá em 1684-85.
As fontes espanholas, tanto em Sevilha,
quanto na América, poderão dar informações
sobre o barco, exatamente quando e
onde ele foi construído e, depois de capturado,
em quais ações piráticas tomou parte
na costa do antigo vice-reino do Peru e
do Atlântico.
AGRADECIMENTOS:
Ao Governo de Estado de Santa Catarina,
especialmente ao empenho do Governador
Luiz Henrique da Silveira. À FAPESC,
pelos recursos para o projeto. À Marinha
do Brasil, pelo apoio e avaliação rigorosa.
A Cyro Corrêa Lyra e aos demais servidores
do IPHAN, pelo apoio e fiscalização
em diversos momentos. Ao Laboratório de
Oceanografia Costeira da UFSC, pelo suporte
à pesquisa geológica do mestrado
de Maurício Marino. A Amílcar D´Avila de
Mello, pelas várias ideias e sugestões. A
Márcia Arcuri, Fabíola Silva e Lúcio M. Ferreira
pelas sugestões e revisão do texto.
Aos membros e voluntários da ONG PAS.
4 Inscrito no Cadastro Nacional de Museus/MinC (ofício CT/DEMU n. 669/06, 26/10/2006).
Navigator 10 Arqueologia Subaquática no sítio do naufrágio da Praia dos Ingleses 1, Ilha de Santa Catarina
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