quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O PENSAR FILOSÓFICO - CIENTÍFICO

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As Origens do Pensamento Filosófico-Científico



Hoje a grande maioria dos historiadores tende a admitir que somente com os gregos começou-se a fazer ciência teórica e filosofia.

Tudo teria começado no sec. VI a.C., quando uma nova mentalidade foi substituindo as antigas construções mitológicas, o antigo pensamento mítico, por uma aventura intelectual, que levou a investigações científicas e especulações filosóficas.

Essa mentalidade resultou de um longo processo da racionalização da cultura, que foi acelerado pela queda da antiga civilização micênica. A confluência de vários outros fatores - econômicos,sociais, políticos, geográficos - fez eclodir o "milagre grego": a busca de uma unidade de compreensão racional, que organizasse, integrasse e dinamizasse os conhecimentos.

Mas para que entendamos o pensamento filosófico-científico, precisamos primeiro entender o que significa ter uma visão mitológica do mundo.

O pensamento mítico teve início na Grécia no XXI a. C. Nasceu, talvez para afugentar o medo e a insegurança, e, também, provavelmente, do desejo de dominar do mundo.

Basicamente o pensamento mítico é uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: como acredita que o mundo se originou, como ocorre o funcionamento da natureza,como este povo mesmo teve início etc., além de determinar seus valores básicos.

O pensamento mítico caracteriza-se, principalmente, pelo tipo de discurso que é usado para transmitir aquelas explicações. O termo grego mythos significa precisamente discurso fictício ou imaginário; mas, embora possa ser sinônimo de "mentira", o mito é verdadeiro para quem o vive.

Assim, a verdade do mito não corresponde a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica: é verdade nascida da intuição, da imaginação. Por ser a visão mesma de mundo, a forma mesma de um povo experimentar a vida, o mito não se justifica, não se fundamenta, nem é alvo de questionamento, crítica ou correção. A discussão é descartada porque todas as outras perspectivas pelas quais poderia ser ele discutido são excluídas: ou o indivíduo é integrante dessa cultura e aceita, e adere àquela visão mítica, ou ele é alienígena e para ele nada faz sentido, nada significa, nada lhe diz respeito.

Ao longo dos milênios foi sendo criada uma diversificada gama de explicações mitológicas que refletiam o estágio de evolução do conhecimento do homem. Recorria-se ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. Assim, a natureza, o homem, toda a sociedade eram regidos, governados pelos deuses, pelos espíritos, pelo destino - que estão fora do plano de compreensão humana. Por haver uma luta e um equilíbrio tênue entre as forças do bem e do mal supunha-se que quando ocorriam catástrofes e epidemias era, ou porque os deuses estavam enfurecidos, ou porque aquele equilíbrio havia sido rompido e as forças do mal estariam prevalecendo sobre as do bem. Surgem os sacerdotes, os rituais religiosos, os oráculos que serão os intermediários entre os dois mundos: o humano e o divino. Desenvolvem-se cerimônias e rituais religiosos, objetivando um estreitamento das ligações com as divindades. Oferendas, sacrifícios de homens e animais visam agradar e saciar os desejos dos deuses, ou fortalecê-los na luta contra o mal.

No século IX a.C., Homero com a Ilíada e a Odisséia, e, mais tarde, no séc. VIII, Hesíodo com a Teogonia, registraram, poeticamente, essas tradições, assim como as lendas recolhidas junto aos diversos povos que sucessivamente ocuparam a Grécia desde o período arcaico (c. 1500 a.C.). Tais registros levaram a uma situação inteiramente nova: ao serem postos no papel, os mitos tornaram-se passíveis de discussão. E a discussão permite que se reflita sobre os mitos, trazendo à tona uma insatisfação latente com toda aquela explicação fornecida pelo pensamento mítico.

Nas palavras de J. Burnet, "os gregos não começaram a sentir a necessidade de uma filosofia da natureza e da ética a não ser após o fracasso de suas primitivas cosmovisões e de suas regras tradicionais de vida". (Early Greek Philosophy, Londres, Macmillan, 1981).

Os primeiros filósofos começaram por criticar a mitologia descrita por Homero, pois perceberam que os deuses possuíam uma semelhança "exagerada" com os homens. Começara a ficar claro que esses "deuses" talvez não passassem de frutos da imaginação do próprio homem...

Interessante é observarmos que o pensamento mítico tentava explicar a realidade através da fantasia, ou seja, buscava-se explicar algo através de seu oposto.

Destarte, a filosofia repensa as questões postas pelo pensamento mítico, objetivando explicar, não mais de modo sobrenatural, mas, antes, de forma natural a origem e a ordem do mundo. Assim, o que eram seres divinos - Urano, Gaia, Ponto - tornam-se realidades concretas e naturais - céu, terra, mar; o que era "geração divina do tempo primordial", aparece como geração natural dos elementos naturais. No início do pensamento filosófico, tais elementos, que deixaram de ser antropomórficos, são ainda divinos - no sentido de serem superiores à natureza por eles gerada e superiores aos homens que pela razão os conhecem. São divinas por serem eternas ou imortais, por serem dotadas do poder absoluto de criação e por serem reguladoras de toda a Natureza.

Os primeiros filósofos da escola jônica caracterizaram-se pelo interesse pela physis (natureza), sendo por isso chamados por Aristóteles de physiólogos, ou estudiosos ou teóricos da natureza. O naturalismo da escola se manifesta na busca por explicações do mundo natural essencialmente em causas naturais: a chave para a elucidação do mundo que vivenciamos estaria, não fora dele, mas neste próprio mundo.

É aqui que os primeiros filósofos rompem aquela barreira aparentemente intransponível da total inexplicabilidade, da impossibilidade do conhecimento que havia imobilizado os pensadores míticos.

Deste modo, esses primeiros filósofos cientistas abrem o mundo à ciência.

Mas não se pense que aquela ruptura com o modo mítico de pensar tenha se dado de maneira completa e imediata. Mesmo em nossa hodierna sociedade sobrevivem - em nossas crenças, superstições, fantasias, enfim, em nosso imaginário - muitos elementos míticos.

E o mito pode ainda ganhar sobrevida graças à mudança de função, de papel: ele que era visto como uma forma básica de se compreender a existência real, passa a ser considerado apenas como parte da tradição cultural de um povo.

A mudança na forma de considerar o mito e o poder explicativo do pensamento mítico ter-se revelado insuficiente resultaram de um longo período de transição, onde a sociedade grega foi sofrendo profundas transformações.

Por volta do séc. XII a.C., as invasões dóricas levam a civilização micênico-cretense a conhecer sua ruína. Esta civilização fundava-se numa monarquia divina, onde o poder era hereditário; numa classe sacerdotal com grande influência; numa aristocracia militar e numa economia agrária. Fugindo dos dóricos, os aqueus emigraram para as ilhas e as costas da Ásia Menor, onde fundaram cidades, como Mileto e Éfeso, que, por força mesmo de sua localização geográfica, se transformaram em grandes centros econômicos e culturais, cujas principais atividades foram a navegação, o comércio e o artesanato. A adoção do regime monetário fortalece econômica e socialmente aqueles que exercem tais atividades, decretando a derrocada definitiva da antiga organização social que se baseava na aristocracia hereditária. Também a expansão das técnicas que o homem compreende - realizando-as, ele mesmo, com suas próprias mãos - e domina - a ponto de repeti-las, e, mais ainda, ensiná-las - evidencia-lhe o processo de criação e de transformação. Surge em sua mente a questão: não seria semelhante a tal processo o que teria produzido o universo que conhecemos e suas contínuas mudanças?

A influência de diferentes tradições míticas possivelmente levou a relativização dos mitos, pois estes, que se acreditava globais, absolutos, não resistem ao confronto com os diferentes mitos e tradições dos diferentes povos.

É assim que a acelerada dinâmica destas cidades-Estados jônicas vai tornando ultrapassadas, obsoletas as instituições e tradições da sociedade micênica.

O pensamento agora não mais atrela-se aos frutos da imaginação humana: baseia-se na experiência e na razão.



Referencias bibliográficas



MARCONDES, Danilo. Iniciação à Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.



Os pré-socráticos. São Paulo, Abril Cultural, col. “Os Pensadores”, 1975.



Sócrates. São Paulo, Abril Cultural, col. “Os Pensadores”, 1975.

Lucília Lopes Silva

Enviado por Lucília Lopes Silva em 16/06/2008

Código do texto: T1037433



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Comentários

20/06/2012 17:13 - Alice [não autenticado]

Olá! Eu adorei o texto, e meu comentario se relaciona aos anteriores que criticaram mal, pois acho que o título causa uma confusão sim, deixa a desejar; se mudar o título, faz valer o conteúdo. AS pessoas que leem por causa do título, não sabem o que encontraram ao final, mas tá muito bom!16/05/2012 12:33 - Rodrigo Raposo [não autenticado]

Muito claro e compreensivo ... Parabéns.11/08/2011 05:43 - israel [não autenticado]

que horrível não entendi nada14/03/2011 10:24 - mateus [não autenticado]

não gostei muito da explicação mesmo assim muito bom14/03/2011 10:22 - isabela [não autenticado]

vocÊs poderiam da uma explicação melhor mais eu gostei ótimo nota 10Exibindo 5 de 12 comentáriosVer mais »Comentar





Sobre a autora

Lucília Lopes Silva

Rio de Janeiro/RJ - Brasil, 55 anos

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