sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

6393 - ESCRITORES DA GUIANA

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TRÂNSITOS E FLUXOS: A ARTE DE ARMANDO QUEIROZ E MARCONE MOREIRA
outubro 24th, 2010 | Author: Luciana
Por Marisa Mokarzel

Discute-se o fluxo das artes visuais, observando-se o trânsito cultural e artístico delineado por obras de Armando Queiroz e Marcone Moreira que, na locomoção de idéias e formas, configura uma cartografia local/global de uma visualidade e realidade da Amazônia que pode ser identificada em outras regiões brasileiras.

A partir das questões culturais interligadas ao processo de globalização que são abordadas por Néstor Canclini, Renato Ortiz e Moacir dos Anjos se analisa obras de dois artistas que partindo de uma matriz especifica revelam imagens, paisagens e tensões vistas e vividas na Amazônia.

Armando Queiroz, mora em Belém e volta-se para sua região no sentido de construir um trabalho que sem esquecer a especificidade da arte, deixa evidente uma proposta social e política que, sendo local, ultrapassa os limites territoriais e provoca a reflexão sobre a arte e a hostil realidade observável não somente na Região Norte, mas em outras regiões e países.

Marcone Moreira mora em Marabá, cidade localizada em uma área de conflito de terras, margeada por rios. O jovem artista tal qual um arqueólogo coleciona, analisa e utiliza os vestígios de materiais provenientes de construções, barcos e caminhões para formatar o seu próprio trabalho.

Outras vezes manda construir peças de cavernames de embarcações e as transforma em objeto lúdico com o qual o público interage nas ruas e espaços públicos.

Os dois artistas, morando na Amazônia paraense, observando a paisagem e os contrastes sociais e políticos que os cerca tecem as linguagens simbólicas de uma poética que traduz a Amazônica em trânsito, em deslocamentos entre o local e o global, traçando uma arte que se configura em um campo de contatos, trocas e apropriações.

Posted in Marisa Mokarzel, Resumos Expandidos | No Comments » LITERATURA NA AMAZÔNIA, OU LITERATURA AMAZÔNICA?
outubro 22nd, 2010 | Author: Luciana
Por Márcio Souza

Uma literatura amazônica parece ser algo tão improvável quanto uma literatura regionalista. Ambos os conceitos são invenções recentes. O regionalismo, por exemplo, é uma invenção nordestina, um rótulo geográfico e ideológico que os nordestinos – que nunca inventaram a idéia de uma cultura do latifúndio, embora certas manifestações da literatura daquela região tenham um caráter tipicamente latifundiário – fomentaram para se contrapor ao esforço varguardista do modernismo paulista e carioca.


Modernismo, aliás, que partcipamos na primeira hora. Abguar Bastos, Pereira da Silva e Bruno de Menezes que o digam. Trata-se de um rótulo tão pouco cultural e histórico que os sulistas acabaram por entender que regionalismo é tudo o que é produzido da Bahia para cima. A explicação é que talvez essa história de regionalismo tenha mais a ver com o vigor econômico de cada região geográfica, com o tamanho da pobreza, com a quantidade de políticos corruptos e folclóricos, enfim, esses índice do subdesenvolvimento físico e mental.


Quando me sinto exposto a rótulos desse tipo, logo me vem à mente o outro carimbo não menos preconceituoso: o de Latino-Americano. Eu tenho o maior orgulho de me declarar latino-americano quando podemos incluir os artistas e os escritores da Guiana Francesa, do Quebec, do Haití, da Martinica; ou quando podemos reivindicar para o campo latino autores como Mário Puzzo ou John dos Passos.


Ao fazer isso, veremos o espanto dos que usam o termo latino americano como rótulo geo político. O que precisamos é fugir do risco de nos deixar capturar em guetos, onde que os parâmetros de recepção de nossas obras não são de excelência literária mas fruto da condescência porque somos pobres e moramos longe.


De minha parte, durante muito anos recusei, e continuo recusando editoras estrangeiras que queiram me colocar em coleções latino-americanas, porque autor latino-americano, na Alemanha, por exemplo, é analisado não pelo melhor crítico literário do jornal, mas pelos jornalistas que resenham livros sobre o turismo sexual na Tailândia.


É para as mesas desses últimos que são encaminhados os livros exóticos que chegam do Terceiro Mundo, outro rótulo que se cola automaticamente à pele do latino-americano. Não sei quem inventou a expressão literatura amazônica, mas ela tem inegavelmente uma conotação restritiva, uma roupagem ideológica que mais parece uma desculpa por antecipação.

Estes guetos geopolíticos é que nós temos por obrigação rechaçar. É claro que há povos latinos, com há amazônidas. Eu mesmo sou amazonense de Manaus, filho de paraense de Alenquer, com muito orgulho, mas me considero cidadão do mundo e, espero, autor inscrito na grande vertente da litartura brasileira, braço possante da cultura de língua portuguesa, esta por sí uma rica floração da cultura latina. Estamos situados na outra margem do ocidente e postos como os principais guardiões de seus valores.


Parece hoje pacífico que aqui na Amazônia se formou uma cultura nova, uma forma de viver que é própria da região. Na perspectiva de quinhentos anos, há na Amazônia uma intensa produção cultural, de música de extração popular, que não é música ameríndia mas originada nas diversas fusões culturais. Há uma música clássica, inciada na segunda metade do século XIX e que prossegue no século XX.


Há uma tradição de arquitetura, de costumes, alimentação, uma tradição nas artes plásticas e uma intensa atividade na literatura. Mas embora devamos nos orgulhar dessa trajetória, não podemos perder o senso crítico do que significou esse processo, não podemos perder o sentido verdadeiro do quanto custou esta formação.


Desse modo, mesmo que seja para nos impor nos contextos nacionais ou internacionais, não podemos fazer deste processo histórico uma espécie de jogo de cartas que se lança à mesa para formar uma tradição a qualquer custo. Isto é, não podemos perder o senso crítico ao observar este passado, aprendendo com ele, mas pondo-o em seu devido lugar. Porque compreender este passado não é transformá-lo numa viseira que complique a fabricação do nosso futuro.

A Amazônia tem experiências humanas extraordinárias, que vem de muito antes da chegada dos europeus. Essas experiências estão em sua grande maioria ainda disponível, nas fontes originais, mas temos que tomar precauções para não continuarmos repetindo essa tradição de escritores sem leitores, de pintores sem apreciadores de quadros, de grupos de teatro sem espectadores.


É hora de superarmos essa mania de escritores preferirem uma noite de autógrafos e pagarem de seu bolso um livro, a ir batalhar a edição numa editora profissional. A Amazônia já deu sinais de que pode produzir autores de qualidade e com projeção nacional e internacional, o que precisa ser feito agora é a construção de uma real opção para os artistas da região.


No caso da literatura, ela não pode mais ser encarada como capital social e como subproduto da vaidade individual. Literatura tem de ser feita para ser lida, o escritor tem que estabelecer um compromisso com os leitores, porque não existe literatura sem leitores. O compromisso com o leitor é tão fundamental, que nem mesmo importa a questão da região ou a necessidade do escritor da Amazônia falar de sua própria região.


Somente fará sentido ser escritor da Amazônia, quando for possível um escritor ser lido não apenas no território de sua língua – se você escreve em espanhol, na Bolívia, no Peru, na Colombia, na Venezuela, no Equador, ou inglês, se é da República da Guiana, ou francês, de é da Guiana, ou papiamento, se é do Surinan -, mas estar presente nas livrarias do grande vale Amazônico, seja qual for a soberania política.


O fundamental é os escritores da Amazônia conquistem os leitores da Amazônia, numa verdadeira integração literária, ou seja, que tenhamos uma literatura verdadeira, significativa e num permanente diálogo com o seus leitores.


Posted in Márcio Souza, Resumos Expandidos | No Comments » Willi Bolle vem debater e lançar livro sobre a Amazônia
outubro 20th, 2010 | Author: Luciana
Escritor e professor da USP, o alemão Willi Bolle chega em Belém nesta quinta-feira, 21, onde fica até dia 27, para participar do ciclo de debates “Amazônias: paisagens, narrativas, sentidos” do Programa Cultura e Pensamento, que acontecerá de 25 a 27 de outubro, no auditório David Mufarrej da Unama.
Nesta quinta-feira, 21, porém, ele lança aqui o livro “AMAZÔNIA — região universal e teatro do mundo”, organizado por ele, Edna Castro e Marcel Vejmelka. O livro reúne doze artigos de pesquisadores de Belém, Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro e da Europa e é uma introdução multidisciplinar às principais questões ligadas à Amazônia, sob a ótica das Ciências Humanas.
A parte I é dedicada a expedições, viagens e etnografias, desde a travessia pioneira da região por Francisco de Orellana (1541-1542) até a etnografia participativa de Constant Tastevin e Curt Nimuendaju (anos 1920 a 1940).
A parte II focaliza as dinâmicas econômicas, políticas e sociais da Amazônia contemporânea: políticas de estado, diálogo com comunidades ribeirinhas, agronegócio e mercado de terras, econegócios e alta tecnologia no meio da selva.
A parte III dá voz aos habitantes da região amazônica através das obras literárias de Karen Tei Yamashita, Dalcídio Jurandir e Robert Musil – e termina com a apresentação da Ópera Amazonas, que estreou em maio deste ano em Munique, com índios yanomami representando a voz da Floresta ameaçada.
Não é a primeira vez que vem ao Pará. Já esteve aqui ministrando oficinas sobre os romances de Dalcídio Jurandir, no Marajó e em Belém. Nascido em 1944 perto de Berlim, Willi Bolle é desde 1977 professor de Literatura Alemã na Universidade de São Paulo, onde defendeu tese de livre-docência sobre Walter Benjamin (1892-1940) e a cultura da República de Weimar.
Outros livros -Já publicou, entre outros, Fórmula e fábula: teste de uma gramática narrativa, aplicada aos contos de Guimarães Rosa (1973) e Fisiognomia da metrópole moderna: representação da história em Walter Benjamin (1994). Para escrever Grandesertão.br, fez várias viagens ao norte de Minas Gerais, onde começa o sertão, cujo eixo é o rio São Francisco com seus afluentes, o coração do Brasil.
Em Fisiognomia da Metropole Moderna, ele faz uma leitura da grande cidade contemporânea, pelo prisma da obra de Walter Benjamin, retomando diversos escritos do filósofo alemão, concentrando-se nas suas duas obras maiores, “Origem do Drama Barroco” e “Paris, Capital do Século XIX” .
O livro “Grandesertão.br: o romance de formação do Brasil” abre novas perspectivas para a interpretação de Grande Sertão: Veredas , romance de João Guimarães Rosa (1908-1957) publicado em 1956. Willi diz que Guimarães Rosa é precursor da intenert.
Ao partir da idéia de que o livro de Guimarães Rosa ganha em complexidade quando lido como uma reescrita crítica de Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909), Bolle defende que ambas as obras “são discursos de narradores-réus-e-testemunhas diante de um tribunal em que se julgam momentos decisivos da história brasileira”.
Em seu estudo, o professor mapeia toda a rede de relações existentes entre Grande Sertão: Veredas e os principais ensaios de interpretação do Brasil, desde a obra euclidiana até os estudos fundamentais de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Raymundo Faoro, Antonio Candido, Celso Furtado, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro, que considera ensaios de formação .
Serviço
Lançamento do livro “AMAZÔNIA — região universal e teatro do mundo” (Orgs: Willi Bolle, Edna Castro e Marcel Vejmelka – Editora Globo (São Paulo, 2010). 306 p.). Nesta quinta-feira, 21, às 18h, na Universidade da Amazônia — Campus BR. Na apresentação e lançamento estarão presentes os professores Edna Castro (NAEA-UFPA), Rosa Acevedo (NAEA-UFPA), Neusa Pressler (UNAMA), Gunter Pressler (UFPA) e Willi Bolle (USP).

Posted in Noticias | No Comments » Márcio Souza participa do ciclo de debates
outubro 19th, 2010 | Author: Luciana


O escritor amazonense, que estará em Belém na próxima semana
Na próxima semana estarão reunidos, em Belém, vários pesquisadores que tem a Amazônia como tema de seus trabalhos. Eles participarão do ciclo de debates “Amazônias: paisagens, narrativas, sentido”, do Programa Nacional Cultura e Pensamento, que acontecerá, de 25 a 27 de outubro, no auditório David Mufarrej.

Entre os debatedores está o escritor amazonense Márcio Souza, autor de obras que estão inseridas no ambiente sociocultural da Amazônia, como “Mad Maria”, “Galvez, Imperador do Acre”, “Plácido de Castro contra o Bolivian Syndicate”, “Zona Franca, meu amor” e “Silvino Santos: o cineasta do ciclo da borracha”, entre outras.

Márcio também se destaca como cineasta e ensaísta (A selva; A expressão amazonense do neolítico à sociedade de consumo). Mais recentemente, lançou, ‘A Substância das Sombras – Cinema Arte do Nosso Tempo. Editado pela Valer, o título é inspirado no primeiro livro do autor sobre cinema, ‘Mostrador de Sombras’ (1967).

Entre os debatedores paraenses estão os professores Amarílis Tupiassu, João de Jesus Paes Loureiro, Lúcio Flávio Pinto, Marisa Mokarzel, Maria das Graças Silva, Rosely Risuenho Viana, além de Paulo Nunes (Unama), Josebel Fares (UEPA) e José Guilherme (UFPA), que assinam a curadoria do evento.

O evento traz para as mesas redondas, outros nomes do pensamento crítico sobre a região, como os estrangeiros radicados no país, Eduardo Jaime Huarag Álvarez, do Peru; Henryk Siewierski, que vem de Brasília (UNB), mas formou-se em seu país, Polônia, mestre em Filologia Polonesa (Uniwersytet Jagiellonski, 1974), doutor em Ciências Humanas (Uniwersytet Jagiellonski, 1980).

Também participam professores vindos de outras universidades brasileiras, como Jerusa Pires Ferreira (ECA/USP), Marcos Frederico Kruger Aleixo e Ricardo José Batista Nogueira (ambos da UFAM).

Willi Bolle, que é professor de Literatura na Universidade de São Paulo e pesquisador do CNPq, já tem uma ligação mais estreita com o Pará, onde já coordenou oficinas de leituras dramáticas de romances de Dalcídio Jurandir: “Marajó” (em Ponta de Pedras, 2007) e “Passagem dos Inocentes” (no bairro da Terra Firme, 2009 e 2010).

Abertura e inscrições – A cerimônia de abertura do ciclo de debates “Amazônias: paisagens, narrativas e sentidos” será às 19h, com a presença dos curadores, debatedores, representantes das universidades consorciadas (UEPA, UFPA e Unama) e do MINC.

Neste primeiro dia, além da cerimônia oficial, que conta com a apresentação do Coro Cênico da Unama, será feita a abertura do XVI Fórum Paraense de Letras , evento que acontecerá paralelamente ao Cultura e Pensamento.

Para participar, faça sua inscrição pelo site e depois a confirmação nos locais instalados nas universidades: UEPA – Campus Djalma Dutra Bloco 4 – Sala do CUMA (Grupo de Estudos de Culturas e Memórias Amazônicas) – 14h às 18h; UNAMA – Campus Alcindo Cacela – Hall – 14h ás 19h e UFPA – Campus Guamá – entrada do Instituto de Letras e Comunicação – 14h ás 18h.


Posted in Noticias | No Comments » AMAZÔNIAS: TERRITÓRIOS, FRONTEIRAS E CULTURAS
outubro 18th, 2010 | Author: Luciana
Por Ricardo José Batista Nogueira

RESUMO: O texto apresenta uma discussão sobre a diversidade de territórios e fronteiras na Amazônia. Demonstra as diferenças entre fronteiras políticas e econômicas e a mobilidade no interior destes territórios. Aponta ainda que a criação de novos territórios – ecológicos e étnicos – instituiu novas fronteiras às populações rurais.

PALAVRAS-CHAVES: Território, Fronteira, Identidade e Cultura Introdução A instituição do título desta mesa redonda no plural é significativa porque demonstra a possibilidade do rompimento de conceitos historicamente bem estabelecidos. Designar uma superfície territorial de mais de seis milhões de quilômetros quadrados com uma única nomenclatura – Amazônia – e tendo como referência a cobertura vegetal, talvez tenha prorrogado a compreensão de sua diversidade seja biológica, seja cultural.

Aliás, o uso do superlativo para expressar o gigantismo da Amazonia, parece que só serviu para os dados da natureza: o maior rio, a maior floresta, o maior número de espécies de peixes, insetos, besouros, etc. Somente após alguns anos é que se deu visibilidade à riqueza de sua sócio-diversidade, constituída de dezenas línguas, de vasto conhecimento e domínio sobre a natureza e toda uma simbologia dada aos rios, à floresta, aos animais e mesmo aos céus. No rastro desta “descoberta” de várias Amazônias, evidentemente emergiram vários territórios, todos com suas respectivas fronteiras envolvendo culturas distintas também. E terminou ficando mais evidente quando os Estados nacionais que compartilham esta região decidiram, quase todos ao mesmo modo, usando as mesmas políticas públicas, incorporá-la ao restante dos respectivos países. Assim foi no Brasil, no Peru, na Colombia, Bolívia, etc.

Dos Territórios, das Fronteiras e das Culturas - Estes conceitos têm recebido nos últimos anos uma boa atenção por parte das reflexões acadêmicas impulsionadas, na verdade, pelo rompimento de uma grande fronteira que dividia o mundo em dois grandes territórios. E foi este rompimento que fez aflorar a diversidade de outros territórios com suas fronteiras e culturas, até então adormecidos por conta do peso da divisão suprema entre “capitalismo” e “socialismo”. Deste modo, foi justamente o processo que se denominou globalização que permitiu a insurgência das localizações, cada uma com seus atributos territoriais específicos.

A Amazônia Continental, retalhada por Estados nacionais, e cada uma delas, internamente, por outras divisões criadas para implementar as ações de integração ao território nacional, também deu origem a diversos territórios, processo que não cessou ainda. Tomando como referencia o Estado brasileiro, ele próprio criou algumas Amazônias para o melhor exercício do controle territorial: Amazônia Legal, Ocidental, Oriental, os antigos órgãos de controle da terra (GETAT e GEBAM), a área do Programa Grande Carajás, o Calha Norte, etc.

Territórios com suas fronteiras claramente definidas assim como as suas atribuições, benefícios e impactos. A Amazonia brasileira, de modo geral, transformou-se na grande fronteira a ser incorporada nos moldes da fronteira americana, de Frederick Turner, dando origem à marcha para o Oeste, conduzindo, ou melhor, induzindo milhões de brasileiros a dirigir-se para cá, para desbravá-la, colonizá-la, dominá-la, enfim, civilizá-la. Destaco o “para cá”, com a intenção de deixar claro que o conceito de Amazônia como fronteira foi posto de lá, ou seja, as referências espaciais também estão carregadas de simbolismo e esta de fronteira só pôde ser instituída de fora, de um centro. Na verdade, assimilamos um conceito que nunca foi de uso corrente na região.

Quem disse que a Amazonia é uma região de fronteira, no sentido de conquista de terras, de expansão econômica, a via, a enxergava de outro lugar. (Otávio Velho, José S. Martins, Berta Becker, etc) Por outro lado, tomando como referência as reflexões acadêmicas sobre a Amazônia, esta se constituiu numa multiplicidade de fronteiras: agrícola, mineral, do capital, especulativa, madeireira, pastoril, camponesa, extrativa,comercial, pioneira,etc (Donald Sawyer), que foram criadas e difundidas com grande aceitação. Mais recentemente encontramos outras Amazônias: aquela do “Arco do fogo”, ou do “Arco do desmatamento”, Amazônia Central, do povoado avançado, e aquela destinada à preservação, a Amazônia Ocidental.

Enfim, a última fronteira é também a fronteira da biodiversidade e do capital natural. É importante dizer que estas considerações referem-se apenas à fronteira em sua concepção americana, que exalta os aspectos econômicos no processo de incorporação de terras no interior de um Estado Nacional. Quanto à fronteira política, que define rigorosamente os territórios dos Estados nacionais, estas foram responsáveis pela separação de dezenas de povos indígenas que desde há muito tempo circulam indistintamente entre os países limítrofes. Tendo seus territórios tradicionais cortados por fronteiras políticas, isto fez com que surgissem os Ticunas do Brasil e os Ticunas da Colombia; os Tiriós do Brasil e da Guiana; os Yanomami da Venezuela e do Brasil.

O resultado prático disso diz respeito às ações dos Estados sobre apenas a parcela nacional de “seu índio”. Na tríplice fronteira Brasil-Colombia-Peru, de ampla e fácil circulação dos Ticunas, é fácil perceber as conseqüências desta partição institucional criada por uma linha imaginária. Correndo paralelo a estes conceitos, outros territórios estão aí bem vivos servindo de identificação cultural para os mais diversos amazônidas e que nem a dialética da tese antítese e síntese nem os processos de globalização apagarão. Refiro-me às formas de designação e conseqüentemente de identificação territorial que são usadas por aqueles que são do Baixo Amazonas, do Purus, do Salgado, do Xingu, do Trombetas, do Rio Negro, etc, e que possuem com estes lugares relações de vida e existência.

Esta toponímia, contudo, pode sucumbir às ações de planejamento estatal, que cria novos territórios a partir de seus interesses. Aliás, este processo não é novo. Na França revolucionária, novos nomes foram dados às regiões com o intuito de apagar antigas lealdades. Embora os conceitos de Território e de Fronteira estejam muito arraigados no pensamento acadêmico em suas formulações clássicas, como território do Estado e Fronteira política, penso que é pertinente utilizar-se de novas reflexões sobre estes conceitos para ajudar a compreender as Amazônias do período atual, voltado à ecologia e proteção do meio ambiente.

A expansão de unidades de conservação e de territórios indígenas vem se constituindo nos novos territórios da Amazônia. Nada contra as demarcações. Contudo é imperioso dizer que a instituição desses novos territórios com seus respectivos limites, fronteiras nada flexíveis, e definições claras de uso em legislações específicas, tem causado conflitos entre os tradicionais povos da Amazônia.

Em primeiro lugar, o acesso ao bem comum – extração de produtos da floresta e dos rios– tem sido o ponto nevrálgico dos embates: não se pode mais atravessar o rio para pescar, porque do outro lado é reserva; não pode tirar cipó porque agora é terra de índio; bicho de casco (quelônios) nem pensar, e tantas outras manifestações oriundas tanto da várzea quanto da terra firme. Isto tem imposto novas formas de conflitos entre, por exemplo, moradores do mesmo rio, embora habitando margens diferentes; comunidades rurais, no Solimoes, em Mamirauá, vem solicitando junto a Funai o reconhecimento como indígenas para terem o seu território demarcado.

Ou seja, a nova dinâmica ecológica traz a tona outros conflitos territoriais porque vem afetar o comportamento cultural de diversos povos na Amazônia. Em segundo lugar, é justamente esta diversidade cultural que clama por ações diferenciadas e não políticas abrangentes que vislumbram cobrir toda a Amazônia. Conclusão Visível ou não, as fronteiras se constituem em sinais, é, como afirma Claude Raffestin, uma informação utilizada pelas coletividades para marcar territórios.

Estes, se durante muito tempo foram vistos apenas como o corpo de Estado nacional, hoje merecem uma interpretação muito mais ampla, pois torna-se evidente que todos os grupos sociais possuem territórios de referência, regra geral fixos, e carregado de simbolismo que dão identidade aos grupos que o vivem. Ao mesmo tempo, há também territórios que são construídos por determinadas circunstâncias e que podem desaparecer em virtude dos embates existentes na sociedade. É interessante observar que a expansão de diversos territórios na Amazônia significa também a expansão de diversas fronteiras, algumas flexíveis outras extremamente rígidas, o que encerra numa questão de mobilidade no interior da Amazônia.

Pode parecer um paradoxo, mas as fronteiras ecológicas recém criadas na Amazônia terminam por se constituir em maior impedimento à mobilidade à população rural da Amazônia do que propriamente as fronteiras políticas, onde a mobilidade é mais fluida. De qualquer modo, são fronteiras, cujo fundamento maior é instituir uma diferença frente ao outro, dificultando, muitas vezes, ações de solidariedade.

Posted in Resumos Expandidos, Ricardo Nogueira | No Comments » Inscrições para o ciclo de debates devem ser confirmadas de 18 a 22 de outubro
outubro 15th, 2010 | Author: Luciana
Desde que entrou no ar, há uma semana, o blog do “Amazônias: paisagens, narrativas, sentidos”, ciclo de debates que acontecerá de 25 a 27 de outubro, já teve mais de 1.000 acessos. As vagas para participar, porém, são limitadas. O auditório David Mufarrej da Unama comporta até 320 lugares.

Para evitar transtornos e acelerar o processo de credenciamento no dia da abertura, os inscritos pelo modo on line devem, a partir da segunda-feira, 18, até o dia 22, fazer sua confirmação nos seguintes locais:

UEPA - Campus Djalma Dutra Bloco 4 – Sala do CUMA (Grupo de Estudos de Culturas e Memórias Amazônicas) – 14h às 18h.

UNAMA – Campus Alcindo Cacela – Hall – 14h ás 19h


UFPA – Campus Guamá – entrada do Instituto de Letras e Comunicação – 14h ás 18h.

A organização confirma a inscrição, com o pagamento de uma taxa mínima de R$ 5,00. No final do evento, o público receberá certificado de participação.

Posted in Noticias | No Comments » O MUNDAMAZÔNICO É UM MUNDO DENTRO DO MUNDO
outubro 14th, 2010 | Author: Luciana
Por João de Jesus Paes Loureiro*

Nada que se passe dentro dele poderá fugir ao vasto mundo anômico atual. Vasto mundo que na medida em que se torna maior pela abertura e ampliação de fronteiras fruto da informação, por esta mesma medida se torna menor. Não pode fugir aos conflitos daí decorrentes entre diversidade cultural, globalização, transculturalidade, pluriculturalismo.

São conceitos que revelam o reconhecimento das diferenças culturais e, ao mesmo tempo, a possibilidade de sua diluição globalizada.

Na Amazônia colonial, os Jesuítas buscaram unificar as línguas indígenas em um tronco constituidor e englobante denominado de “língua geral”, fruto da absorção da língua de cada etnia. Buscavam o ultrapassamento estratégico da diversidade lingüística das nações indígenas. Garantir, pela anulação dessa diversidade o controle da comunicação em beneficio da catequese subordinadora. Substituir as línguas por uma língua única e comum.

Nesse exemplo, a unidade “globalizadora” traz o sentido ideológico de dominação e de controle. O geral anulando o particular. Castigo ou apropriação. O triunfo do único sobre o diverso.

É claro que esse jogo entre uniformidade e diversidade (globalização de um lado e localismo de outro) que antes era “episódico”, tendo-se tornado evolutivamente um corolário do enfraquecimento do Estado–nação, do caráter transnacional da economia e da comunicação.

É, talvez, pelo mercado de consumo constituidor dessa mercantilização do mundo, que a globalização tem necessidade de se impor aos localismos. E, também, como sustentar sua produção cada vez mais centralizada.

Não creio que tencione eliminar esses localismos, mas termina por isolá-los cada vez mais ou confinando-os em sacrários folclóricos para usufruto de pesquisa e turismo. A cultura local vai perdendo a condição fecunda de manguezal simbólico para se tornar uma espécie de herbário ou laboratório.

Cada vez mais o consumo se impõe e determina por estratégias de estímulos a concentração da produção no campo da cultura, especialmente em sua expressão simbólica que é a arte. Ao lado disso, beneficia-se do consumo que se amplia nessa diversidade. É por aí que o vírus de globalização como estratégia política e de mercado prolifera e contamina.

Todavia, o processo de consumo que, nesse caso, busca a uniformização fidelizadora de um padrão único, dialeticamente incrementará a necessidade da diferença, do típico, do diverso, que se poderá manter até como necessidade compensatória criativa, no processo globalizador de uniformização.

Quanto mais as artes dependerem, por exemplo, de imenso mercado, produção com alta tecnologia, empresariamento e lucro, mais estarão tentadas a seguir a lógica eficaz do sedutor canto de sereia da globalização. O cinema é um exemplo. A música, outro. Trata-se de um ajustamento a uma linguagem que passou no teste, na experiência da aceitação pelo mercado.

É uma adequação a um estilo desterritorializado e que tem na retórica do marketing o seu parâmetro. As matrizes criativas reforçadas na e pela diversidade, passam a ser condicionadas à desterritorialização cultural decorrente do universalismo virtualmente globalizado.

À semelhança do tradicional que é tolerado e incorporado pelo moderno, porque lhe é contradição necessária e fonte gratuita ou barata de criatividade, assim o regional ou local deverá talvez relacionar-se com a cultura globalizada: tornar-se fonte barata ou gratuita de experiências, renovação, matrizes novas que serão necessárias à própria realimentação das globalizações.

Como nada nasce do universal, o local talvez se torne um campo confinado, mas necessário à própria continuidade histórica da globalização. A técnica, que é instrumento, pode ser universal ou universalizada. Os materiais, também. E, até, o imaginário, o gosto e a moda.

Mas a cultura, a originalidade, essas decorrem de uma relação cultural territorializada, espaço desse “trajeto antropológico” (G. Durand) do indivíduo, fecundando o grupo social em sua existência concreta. Paradoxalmente, portanto, o global poderá até a vir a ser também devedor do regional, na medida em que se faz dele credor!

Alguns consideram que o esfacelamento cultural e étnico, visto por um lado, e a paralela homogeneização da vida moderna, por outro, não se opõem como perspectivas no campo desses acontecimentos, mas, ao contrário, são duas tendências constitutivas da realidade global.

Nesse sentido, há também aqueles que entendem que no eixo dessas contradições da cultura hoje no mundo há uma luta do entre o local e global para se canibalizarem um ao outro. Sendo assim, teremos, então, segundo uma visão social crítica, a dialética do universal triunfante e o particular resistente. Penso que se trata de uma dialética reversiva que vai do particular ao global e retorna do global ao particular.

Quiçá seja essa conjunção uma relação transacional, de trocas não hierarquizadas. E não uma relação transnacional provocadora de dependência às culturas dominantes, resultando na superposição do global sobre o local.

Enfim, atualizando a velha história de Davi e Golias, essa escolha para evitar que o global, ao invés de fecundamente transar com a diversidade estupre a cultura local, é uma escolha que depende muito mais do local resistente diante do crescente triunfo da globalização.

É nesse campo minado e complexo da atualidade pluriculturalizada que a estética na Amazônia deverá caminhar tanto sua especificidade como na não-especificidade, na construção dialética de um destino que, mesmo sem isolacionismos, acentue seu caráter diferente, diverso, original.


* Poeta, Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Pará. Prêmio nacional de poesia com a obra “Altar em Chamas”. Obras no Brasil, França, Alemanha, Japão, EEUU, Portugal, Itália, Colômbia. Mestrado em Teoria Literária e Semiótica na PUC de Campinas/SP. Doutoramento, realizado na Sorbonne, Paris/França com a tese: “Cultura Amazônica – Uma poética do imaginário”.

Posted in João de Jesus Paes Loureiro, Resumos Expandidos | No Comments » O TESOURO DA ALTERIDADE AMAZÔNICA NA OBRA DO PADRE JOÃO DANIEL
outubro 14th, 2010 | Author: Luciana
Por Henryk Siewierski*


Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas do Pe. João Daniel, registro de quase tudo que no século XVIII foi possível saber sobre o universo amazônico. Mas o livro não é só isso. É também, e antes de tudo, um registro de uma viagem ao Amazonas, viagem inigualável.

O autor revisita o Grão-Pará e Maranhão, terra em que passou 16 anos como missionário, revisita sem sair da sua cela no forte de São Julião da Barra em Lisboa, onde foi preso, junto com outros jesuítas portugueses expulsos do Brasil. Durou 18 anos essa viagem, até a morte do autor naquela masmorra.

Ficou o livro-tesouro, cuja leitura, dois séculos e meio depois da expulsão dos jesuítas do Brasil, foi uma forma de tomar o lado do autor em sua expedição virtual contra a corrente da expulsão. A leitura transportava ao forte de São Julião e de lá à toda a Amazônia. A inserção na imensidade do universo amazônico passava pelo cárcere.

O leitor percorre com o Padre Daniel os rios e a selva, mapeando seu tesouro e milagres, sua fauna e flora, fazendo contato com os homens, compartilhando um sonho da exploração desse tesouro descoberto no rio máximo para o bem da humanidade, sonho de reabitar o paraíso.

No decorrer dos seus 16 anos vividos na Amazônia, João Daniel fazia uma intensa e interdisciplinar pesquisa de campo, colhendo dados sobre a geografia, o clima, a fauna, a flora e os povos daquela região.

Certamente não deve ter sido apenas uma ocupação à margem das atividades religiosas do missionário, mas, a sua parte integral, seu conhecimento assim reunido e guardado nos arquivos da memória iria se tornar fonte de uma obra monumental, escrita ao longo dos 18 anos que passou nas prisões de Lisboa.

As descrições do universo amazônico na obra do Pe. João Daniel, servem, sem dúvida, a compreensão da população nativa visando a sua conversão ao cristianismo. Mas elas servem e objetivam com uma consciência muito clara, a transformação desse universo numa Terra de Promissão também no sentido social, econômico e político.

Por esses e outros motivos – como os elementos metanarrativos que evidenciam a dramática situação do escritor, como a crítica dos métodos de evangelização e de colonização em vigor, como o extraordinário arquivo da memória – o Tesouro de João Daniel se apresenta como uma das mais completas, e mais misteriosas obras do gênero.

Uma das mais abrangentes e mais importantes fontes do conhecimento da Amazônia do século XVIII. Considerando as circunstâncias em que foi escrita, ela é também um inigualável testemunho da vontade de registrar e de compartilhar esse conhecimento com os outros[1].

A comunicação apresentará uma leitura do Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas, do Pe. João Daniel, focalizando a representação da alteridade humana e geográfica e a construção da presença como a resposta a expulsão.

A comunicação inclui uma apresentação dos trechos do Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas que compõem uma antologia. Os trechos selecionado são transcritos de uma forma que transforma texto narrativo ou descritivo em texto poético, o que só é possível porque o discurso linear do Pe. João Daniel esconde os tesouros poéticos[2].


1.


Grande rio Amazonas

cortando bem pelo meio

da Equinocial

este Novo Mundo

o divide igualmente

em meridional e setentrional

ficando-lhe nas cabeceiras

o estreito de Panamá

que impedindo-lhe

a comunicação

com o mar Pacífico

constitui e faz comunicáveis

uma a outra América

repartidas igualmente

em duas grandes penínsulas

pelo Amazonas

este mar natante

bicha de duas cabeças

gigante de dous braços

cortando tanto mundo no seu dilatado curso

não tem em tanto espaço alguma cachoeira

mas também nisto se mostra singular a todos

e para nos intimar que quem nasce

para ser grande no mundo não deve

ser arrebatado em catadupas

mas muito pacato e pacífico

como é o grande Amazonas



2.


Os habitadores

e naturais índios

do grande Amazonas

são gente também

disposta e proporcionada

como as mais da Europa

menos nas cores

são avermelhados

e tisnados do sol

são de cara lavada

ou deslavada

não tem cabelo algum na barba

enquanto meninos são lindos

algumas fêmeas há que

além das suas feições finíssimas

tem os olhos verdes

e outras azuis

com uma esperteza

que pode ombrear com

as mais escolhidas brancas

a formosura não consiste

nas cores mas na miudeza

e fino das feições

e boa e bem regulada

proporção dos membros

há opiniões de que são

descendentes dos judeus

talvez são a tribo

que se separou das mais



3.


São as riquezas do rio Amazonas e o tesouro

a grande fertilidade das suas terras

as preciosas especiarias das suas matas

e as copiosas colheitas dos seus frutos

porque nos frutos da terra e bens estáveis

consiste a mais estimável riqueza dos homens

e não nos ouros pratas e preciosas gemas

que de repente se podem perder

e desaparecer em um momento



--------------------------------------------------------------------------------

* Professor do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB) e do Programa de Pós-Graduação em Literatura da mesma.

[1] DANIEL, João Pe. Tesouro descoberto no Máximo Rio Amazonas. Vol. 1-2. Apresentação de Vicente Salles. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.


[2] O primeiro trecho citado é extraído e transcrito do vol. I, p. 41-43, o segundo do vol. I, p. 263-267 e o terceiro do vol. II, p. 133, da obra citada do Pe. João Daniel.

Posted in Resumos Expandidos | No Comments » MEMÓRIA, IMAGEM E ORALIDADE
outubro 14th, 2010 | Author: Luciana
Por Jerusa Pires Ferreira*


O tema pressupõe observar a construção da memória como fundamento da cultura e os corpos dos personagens como um lugar onde se processam e atualizam complexas relações de passado e presente.

Contando com as mais diversas mediações, observando a tradição e a transmissão em curso, estaremos seguindo a memória em seus movimentos.

Aí as pulsões do dizer, do transformar em signos certos princípios vitais, o desempenho em presença, a organização dramática que se faz um processo, os fragmentos da voz viva que nos falam de condições específicas de tempo/espaço, ambientes, de uma recepção integradora, e nos levam ao reconhecimento de repertórios.

Ao tratar da cidade, dos corpos em trânsito ou em assentamento,contempla-se certa memória trazida, a partir de uma organização de vida e de conhecimentos, em busca de atualização.

História oral e poéticas do oral se tocam, se completam mas não são a mesma coisa. E aqui procuraremos colocar ênfase nos procedimentos poéticos que se concentram numa história vivida e representada.

Depois de estabelecer princípios e referências teóricas que situam Memória, Oralidade e Performance, a partir de um longo percurso e experiência de pesquisa, serão abordados temas e um estudo de caso, que tem como centro o Sertão extenso e migrante.

Trata-se então de uma possível memória do sertão, pelas mediações da letra e de imagens fílmicas, o que nos transmite personagens em história, depoimentos, poética e ficção que passam por ações gravadas, livros e filmes.

Assim será mostrado e comentado o depoimento de Sérgia da Silva Chagas, a Dadá, uma das mais impressionantes mulheres e personagens da saga do Cangaço brasileiro. Gravada e recriada em sua própria linguagem pelo cineasta e pesquisador baiano José Umberto Dias[1], ela se faz memória da cultura sertaneja e se mostra como linguagem e documento, criação permanente de nosso passado aqui trazido.

Assim que no livro Dadá misturam-se no impresso a voz da mulher personagem e seu transcritor:

“Mas o destino quis por que quis que ele dobrasse o caminho. Destino de Cangaceiro é a morte, mas a vida é de muita delonga. É andar, andar sempre até aquela encruzilhada do desconhecido. A mulher personagem é mais capaz do que ninguém para atuar na desmitificação de alguns dos seus parceiros. Com uma poderosa sensibilidade, consegue realizar a crítica inteligente e aguda aos trabalhos daqueles que procuraram retratá-la ou criar a partir dela estereótipos.

Sobrevivente audaz, fala ela própria de sua bravura e de seu papel, recuperando traços de um amor indescritível e dos bastidores de um grupo que a tinham como musa mas como agente, costureira e criadora de figurinos.

A presença do Sertão não parece despropositada num Encontro de estudos sobre a Amazônia, pelo próprio entrosamento de uma ocupação inicial de territórios, a paisagem cultural confirmada pela presença jesuítica, as levas migratórias e ainda o curso das histórias que contam com substratos de organização compatível.

Algumas propostas deverão aparecer na sequência desta fala, como aquela que tantas vezes foi por mim formulada oralmente. “Os secos e molhados”, o sertão e a Amazônia, num possível e futuro trabalho, que procure dar conta da unidade e diversidade deste nosso país e das amazônias da América Latina, em suas poéticas e práticas culturais.



--------------------------------------------------------------------------------

* Professora do CJE/ECA-USP e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Coordenadora do Centro de Estudos da Oralidade do COS/PUC-SP e do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição da ECA/USP, com Plínio Martins Filho.

[1] Dias, José Umberto. Dadá. 2ª edição. EGBA/Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1989; A Musa do Canganço (filme). Programadora Brasil, 2008.

Posted in Resumos Expandidos | No Comments » Exposições dão o tom da arte amazônica na Galeria Graça Landeira
outubro 11th, 2010 | Author: Luciana


Dalcídio Jurandir, romancista da Amazônia
O escritor Dalcídio Jurandir e o professor, crítico literário e filósofo Benedito Nunes são temas de duas exposições, que serão abertas no dia 25 de outubro, na galeria Graça Landeira, dentro da programação do ciclo de debates “Amazônias: paisagens, narrativas, sentidos”, projeto contemplado pelo programa Cultura e Pensamento do Ministério da Cultura e do Fórum de Letras da Unama que acontece no mesmo período.

Também será inaugurada uma instalação reunindo 200 objetos de Miriti, artesanato típico de Abaetetuba.

Intitulada “arara juba”, a mostra homenageia o pássaro amazônico com penugens nas cores verde e amarelo, que este ano é a marca visual do XVI Fórum Paraense de Letras, evento que também estará sendo aberto no dia 25, no auditório David Mufarrej, juntamente com o Ciclo de Debates.


Marajó - A exposição “Dalcídio Jurandir – barro do princípio do mundo” reúne 12 painéis compostos de imagens e textos. Fazem parte da mostra, as fotografias coloridas e em P&B que pertencem a arquivos de família e de amigos, além de capas e referências editoriais das primeiras edições de todos os livros que fazem parte da obra.

Três painéis compõem uma cronologia da vida e da obra do romancista paraense do Marajó, Ponta de Pedras, que em 2009 completou 100 anos de nascimento. Os demais painéis trazem imagens contextualizadas e textos selecionados, com citações do próprio homenageado, de amigos, de críticos e passagens de seus romances.

A expressão “barro do princípio do mundo”, escolhida para nomear esta exposição, está contida na saudação do escritor Jorge Amado, como referência ao escritor marajoara, porocasião da entrega do Prêmio Machado de Assis, na Academia Brasileira de Letras .



Prof. Benedito Nunes, em foto de Elza Lima cedida à exposição
80 Anos, prêmios - Em “Benedito Nunes – filósofo da Amazônia: 80 anos de sabedoria” também são mostrados painéis, 13 ao todo, com fotografias do arquivo de família; de amigos e dos fotógrafos paraenses Luiz Braga e Elza Lima (cedidas como homenagem ao filósofo e amigo).

Três painéis compõem a cronologia da vida e da obra e principais eventos dos quais o filósofo participou em sua trajetória intelectual, até 2010. Também, como na exposição sobre Dalcídio, há textos com citações de parentes, amigos e críticos, além de passagens de seus livros. Tudo selecionado pelo organizador de sua obra e agente literário, Victor Sales Pinheiro.

Este ano, Benedito Nunes completou 80 anos. Além de muitas homenagens, em julho deste ano ele recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras e acaba de ser escolhido como primeiro lugar para o Prêmio Jabuti, categoria Teoria/Crítica Literária, da Câmara Brasileira do Livro.

Miriti – Ideia do artista plástico Emanuel Franco, com base na proposta da marca do XVI Fórum Paraense de Letras, de autoria da Profª. Célia Jacob, a instalação “arara juba” faz alusão ao pássaro amazônico com penugens nas cores verde e amarelo, e considerada uma espécie raríssima na fauna brasileira.

“Criamos uma instalação visual com este motivo, selecionando duzentos objetos de miriti, com dimensões e posturas diferentes, que serão distribuídos como revoadas ao longo das paredes da Galeria de Arte Graça Landeira e do hall de acesso ao Auditório David Mufarrej”, diz Emanuel Franco, o autor da obra.

Emanuel explica que a instalação sofrerá a ação de correntes de vento provocadas por ventiladores camuflados em caixas de miriti, os quais darão movimento aos pássaros. Os objetos foram confeccionados no ateliê do mestre Amadeu Sarges, em Abaetetuba, Pará.

A programação visual e tratamento de imagens das exposições é de José Fernandes, com execução dos Painéis da MIRANTE- Comunicação visual. A montagem dos painéis é de Emanuel Franco e Jonise Nunes, com curadoria de Victor Sales Pinheiro e Célia Jacob e acervo da Casa da Memória – Núcleo Cultural- Universidade da Amazônia.

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