quarta-feira, 9 de junho de 2010

709 - INVASÕES BÁRBARAS

Fernando DannemannContador de históriasCapaTextosFotosPerfilLivro de VisitasContatoLinks Textos:: Todos > Ensaios





INVASÕES BÁRBARAS





Para um habitante do antigo mundo romano, os “bárbaros” eram homens que falavam uma língua incompreensível, e cuja civilização era considerada primitiva. No primeiro século d.C., os mais inquietantes eram os germanos, diversos povos que possuíam semelhança de costumes, religião e técnicas, embora não constituíssem uma unidade política e freqüentemente guerreassem entre si. Vivendo em solos pouco férteis, eles eram, sobretudo, pastores, mas à época do contato com os romanos já começavam a cultivar alguns cereais.



Conheciam três tipos de propriedade: as florestas, pastos e charnecas pertenciam à coletividade; as casas e seu mobiliário eram propriedade privada; as terras de plantio eram sorteadas anualmente entre as diversas famílias, de maneira a assegurar uma igualdade absoluta. Porém, desde o século 2 a propriedade agrícola passou a ser familiar, e comisso o solo só podia ser alienado com o consentimento de todos os membros do grupo. De algumas famílias tidas como de origem divina, eram escolhidos os reis, embora seu papel fosse secundário porque autoridade suprema pertencia a uma assembléia de homens livres e em idade de usar armas. Em tempo de guerra a tribo elegia um general, detentor de todo o poder.



Durante séculos Roma vivera dos tributos impostos aos povos vencidos, mas como a partir do século 3 da era cristã, passara a consumir as suas reservas em escala crescente, no século 4 já as havia esgotado. Apesar dessa falta de recursos, era preciso pagar o corpo do funcionalismo, não deixar atrasar o soldo das legiões, etc., e a solução encontrada para isso foi a instituição de um pesado sistema de impostos. Mais ainda: para facilitar a arrecadação e assegurar a estabilidade social, cada indivíduo se viu obrigado a permanecer na atividade que exercia, devendo ser sucedido pelos filhos. Só os latifundiários podiam, dentro de seus domínios, ignorar as medidas adotadas pelo Estado, e assim, em suas terras, cercados por escravos, colonos e homens livres, eles recusavam a tributação do império. Em 395 o Império Romano foi formalmente dividido, nascendo o Império do Oriente, com capital em Constantinopla, reunindo as províncias mais ricas e populosas; e o Império do Ocidente, em decadência acelerada. Além das fronteiras dos dois impérios estendiam-se os domínios dos povos bárbaros.



Entretanto, não existiam barreiras separando bárbaros e romanos, tanto que utensílios e moedas encontrados em túmulos germanos provam a existência de relações comerciais entre as duas civilizações, que trocavam peles, madeiras e escravos, por exemplo, por vinhos, tecidos e jóias. Mas as relações entre bárbaros e romanos não se limitavam à esfera comercial. Na medida em que o exército romano se transformou em um corpo profissional, tornou-se preciso recorrer à incorporação metódica de mercenários bárbaros, agrupados de início nas tropas complementares, mas integrando posteriormente as próprias legiões, substituindo a aristocracia nos postos de comando e ingressando até mesmo na família imperial - um filho do imperador Teodósio desposou a filha do vândalo Estilicão.


Desde a época de Marco Aurélio (século 2), a falta de mão-de-obra no campo forçara os governantes a aceitar a presença de bárbaros em terras do império, formando-se desse modo, na Gália, povoados de homens semi-livres, mas obrigados à prestação do serviço militar. Em seguida, instalaram-se povos inteiros sob o título de “federados”, que ligados a Roma por um contrato, preservaram seus costumes e sua organização social e política nos territórios cedidos, fornecendo, em troca, um determinado número de soldados ao governo imperial. No decorrer do século 4 esses tratados se multiplicaram em conseqüência de diversos fatores, entre eles o que empurrara os germanos para dentro do império: o avanço dos hunos, que por volta de 370 haviam iniciado seu avanço sobre terras européias.



Em 406 a fronteira do Reno foi cruzada por multidões de alanos (nômades de origem asiática, cuja procedência é incerta), suevos e vândalos, logo imitados por outros povos, entre os quais os burgúndios. Nesse meio tempo, os visigodos, em revolta diante da exploração dos comerciantes romanos, atingiram o norte da Itália, tomaram Roma em 410, e tornaram-se federados na Espanha, em terras cedidas pelo imperador Honório. A Bretanha, por sua vez, evacuada desde o início do século 5, foi submetida por anglos, jutos e saxões, enquanto os francos, por volta de 430, ocuparam o noroeste da Gália. Nos primeiros tempos das invasões, os germanos reconheciam ainda a autoridade imperial, mas colocados entre hunos e romanos, voltaram-se contra os que consideravam menos perigosos.



Quando as hordas de Átila invadiram a Gália, os burgúndios, visigodos e francos aliaram-se aos romanos e infligiram séria derrota ao adversário comum (451). Apesar disso, a decomposição do império era inevitável, e assim, em 455 os vândalos de Genserico pilharam Roma; a partir de 460, visigodos, suevos e burgúndios declararam-se independentes; e em 476, o golpe final: Odoacro, chefe hérulo (povo germânico que habitava próximo ao mar Negro), depôs o último imperador do Ocidente, o menino Rômulo Augústulo. Era o fim do Império do Ocidente, mas não o da civilização romana. Em 493, Teodorico, chefe ostrogodo, tomou o poder na Itália, fazendo-se reconhecer representante legítimo do imperador bizantino.



Mas os exércitos bizantinos de Justiniano (527/565) restabeleceram parcialmente a autoridade imperial no Ocidente, reconquistando o norte da África e parte da Itália e Espanha, onde a monarquia visigoda ficou seriamente enfraquecida, e destruindo o reino vândalo (534). No entanto, as conquistas de Justiniano tiveram duração efêmera, e sua conseqüência mais importante foi preparar o terreno para que os árabes ocupassem a África do Norte e a Espanha, em fins do século 7.





Fonte: Enciclopédia Abril


FERNANDO KITZINGER DANNEMANN



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Publicado em 09/01/2008 às 07h34

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Comentários
04/06/2008 12:46 - dorenildo vidal
sim
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