sábado, 26 de junho de 2010

1233 - HISTÓRIA DO LIVRO

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Título Autor Editora Palavra-Chave




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História do livro no Brasil


Capítulo I: Como o livro chegou no Brasil - Capítulo II: Euclides e a história de um best-seller - Capítulo III: Breve história da maior livraria do país - Capítulo IV: De quem é a culpa pela falta de livros? Capítulo V: Quem foi Monteiro Lobato? - Capítulo VI: Os Modernistas: livros, não; revistas, sim Capítulo VII: A "Casa" José Olympio - Capítulo VIII: Getúlio trouxe livros? Capítulo IX: A grande Biblioteca de São Paulo - Capítulo X: O sonho de uma Enciclopédia - Capítulo XI: A mão pesada da censura aos livros - Capítulo XII: A Editora Globo - Capítulo XIII: A década de 50, os americanos e os brasileiros - Capítulo XIV: Descobrindo a estética - Capítulo XV: Livros, café, livrarias - Capítulo XVI: Um meio termo para os livros e os jornais

CAPÍTULO I

Tudo começou no Rio de Janeiro, sede da Corte de D. João VI

A história do livro no Brasil tem seu começo quando, em 1808, a corte portuguesa se transfere para o Brasil.


Com D. João VI vêm, além de seu séquito, o primeiro prelo, de madeira e fabricação inglesa e a Biblioteca Real. D. João ordenou a instalação da Imprensa Régia. Contudo, essa imprensa funcionava sob a poderosa censura do imperador. A imprensa brasileira de então não era sinônimo de liberdade ou de manifestação da opinião pública. Era proibida a impressão fora das oficinas da corte e publicava-se apenas o que era autorizado: o que não ofendia o Estado, a religião, os costumes.

A partir da Imprensa Régia foi publicado o primeiro jornal brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro e também o primeiro livro, Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga. Depois de revogada - em 1821- a proibição de imprimir, multiplicaram-se os jornais, folhetos, revistas. Surgiu a primeira revista, As variedades ou ensaios de literatura.

Os irmãos Laemmert e B. L. Garnier

O Brasil desta época vivia sob forte influência cultural da França. Nesse contexto dois nomes se destacam e têm extrema importância para a cultura livresca do país: Laemmert e Garnier. Eram duas casas editoras que importavam muitos livros franceses para uma elite rica e culta. Enquanto essa pequena parcela gozava da mais refinada cultura, o restante dos brasileiros, cerca de 84% da população, não sabia ler.

Eduard Laemmert e seu irmão Heinrich, além de fundar a Livraria Universal, logo passaram a editar livros e inauguraram a Typographia Universal. Os negócios com livros prosperavam. Almanaques, clássicos da literatura, dicionários, coleções, obras técnicas e acadêmicas; os irmãos Laemmert foram responsáveis pelas primeiras publicações da qualidade do Brasil.

Ao lado dos irmãos Laemmert, dividia o mecado de livros a livraria Garnier, de seu fundador e editor, Baptiste Louis Garnier. Garnier editou clássicos estrangeiros e foi um dos primeiros a editar os autores brasileiros. Foi responsável também pelo lançamento de romancistas brasileiros, como José Veríssimo, Olavo Bilac, Artur Azevedo, Bernardo Guimarães, Silvio Romero, João do Rio, Joaquim Nabuco.

Baptiste Louis adoeceu e seu irmão, Hippolyte, assumiu a editora. Personalidade reservada e pouco ousado, Hippolyte não arriscava seu nome em autores desconhecidos. Graça Aranha, autor de Canaã, foi o primeiro grande autor desconhecido no qual ele apostou. Foi o maior sucesso editorial do começo do século 20 (1902).

Sua política de compra definitiva de direitos autorais beneficiou a empresa, mas prejudicou autores que estavam começando sua vida editorial. Entre eles, Machado de Assis, de quem foi o primeiro e principal editor e de quem comprou, a preços ínfimos, os direitos autorais de todas suas obras.

Enquanto Laemmert editava publicações populares e manuais, em parque tipográfico situado à rua dos Inválidos, Garnier sofria uma certa discriminação por enviar para Paris as obras que fosse editar. Além de sua política de compra definitiva dos direitos, Garnier, era, também por isso, visto com um editor às avessas: não incentivava a produção local de livros.

Em 1934, Garnier e Laemmert não resistiram ao conturbado período político-econômico do país e à Grande Depressão, tendo encerrado suas atividades neste período.

Em São Paulo...

Até o fim do século 19 a atividade editorial em São Paulo girava em torno da Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. Em 1860, o panorama começou a mudar quando a Garnier abriu uma filial na cidade, com um antigo funcionário na direção do estabelecimento, Anatole Louis Garraux. Além de livros a Casa Garraux passou a vender também artigos de papelaria e ficou famosa na cidade por introduzir o uso do envelope, caixas registradoras e máquinas de calcular - tudo importado.

Frequentada não só por estudantes mas por grandes cafeicultores da elite paulistana, se tornou um ponto de encontro e uma referência na vida cultural da cidade. Foi na Garraux que José Olympio deu início à sua atividade como livreiro. Depois de passar três anos como livreiro, J. Olympio, com sua influência entre os intelectuais, passou a conquistá-los e a editar suas obras. Foi um pioneiro na época, pois além de suas boas relações, pagava adiantado os direitos autorais e lançava novos autores, que se tornaram os maiores nomes da época. J. Olympio soube explorar a precariedade da então ingrata profissão de escritor que, durante décadas careceu até de legislação de direitos autorais. O profissionalismo de Olympio fez a Garraux fechar as portas.

Foi nessa época também que surgiu em São Paulo a Grande Livraria Paulista, primeiro nome da Livraria Teixeira, dos portugueses Antonio Maria e José Joaquim. Nela trabalhou o jovem José Vieira Pontes, que criou em torno da Teixeira uma clientela culta e famosa. Até o Imperador Pedro II fez uma visita à livraria. Ficou conhecida também por ter iniciado as tardes de autógrafo e a primeira edição de A Carne, de Júlio Ribeiro. A Teixeira é, até hoje, a livraria mais antiga de São Paulo.

CAPÍTULO II

Um best-seller em descrédito

Em meados de 1897, o republicano Euclides da Cunha, então articulista do jornal "O Estado de S. Paulo", escrevia contra a guerra dos Canudos, a qual considerava uma mera revolta insuflada pelos monarquistas. A visão euclidiana do conflito se transformou quando o autor viu de perto a guerra e passou a se questionar sobre a causa defendida por um povo tão oprimido e praticamente indefeso. Foi para responder a essa pergunta que Euclides escreveu "Os sertões". O panorama descrito pelo autor desvendou à rica e fechada elite do eixo Rio-São Paulo um mundo até então desconhecido. O clássico de Euclides foi escrito em três partes (a terra, o homem, a luta); segundo o estudioso Antonio Cândido, o livro inaugura uma fase importante da história da literatura brasileira: aquela em que os escritores procuram um respaldo científico para suas análises da sociedade.

Esse cientificismo, aliado ao grande volume de páginas, assustou a editora Laemmert, que se recusou a publicar o livro, alegando que seria um fracasso editorial. Euclides, em 1902, acabou, por isso, tendo que financiar sua própria edição, desembolsando o dobro do que ganhava por mês num projeto que consumiu três anos e meio de trabalho. Tantos eram os erros, as correções a serem feitas, que Euclides, sozinho, chegava a duvidar da viabilidade do livro.

Contrariando sua própria visão pessimista e também o descrédito da editora, o livro foi um sucesso e se esgotou em poucas semanas, tendo vendido 6 mil exemplares no prazo de um ano e meio. Sucesso de público e de crítica, "Os sertões" se tornou um clássico e consagrou Euclides da Cunha, como um dos maiores escritores de todos os tempos.

Em 15 de agosto de 1909, aos 43 anos, Euclides foi para o subúrbio carioca de Piedade disposto a enfrentar Dilermando de Assis, o cadete que conquistara sua mulher, Ana. Morreu em meio à troca de tiros, no jardim da casa da Estrada Real de Sta. Cruz. Biografia de Euclides.

O brilhante escritor é autor de "Contrastes e confrontos", "Peru versus Bolívia", "À margem da história", "Canudos, diário de uma expedição". Ver e-livros de E. da Cunha.

CAPÍTULO III

Saraiva - a maior Livraria do Brasil

Merece um capítulo especial a história do surgimento da Livraria Saraiva no cenário do mercado editorial brasileiro.

Em 1914, Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva abandonou a direção do jornal da colônia portuguesa no Rio e decidiu se transferir para São Paulo. Comprou uma biblioteca de livros jurídicos e montou um pequeno sebo no Largo do Ouvidor. Era fundada, então, a famosa Livraria Saraiva, cujo primeiro nome foi Livraria Acadêmica. Nascido em Portugal, ex-estudante de Direito, apaixonado por livros, por jurisprudência. Bom papo, interessado por tudo, logo fez amizades com professores e alunos do curso de Direito. Devido a sua influência entre estes ganhou o título de conselheiro. Em 1917, três anos depois de fundada a Livraria Acadêmica, Saraiva deu seu primeiro passo para abrir a divisão editorial da Saraiva. Editou o Casamento civil, de Aniceto Correa. Foi o primeiro livro de uma série de títulos que durante trinta anos contemplaram quase exclusivamente a área jurídica.

A mudança de orientação veio com a morte do fundador, em 1944. A Saraiva, sob o comando dos filhos de Joaquim Inácio, passou também a operar na produção de livros, isto é, montou uma gráfica. Junto com a gráfica veio também a expansão do número de livrarias no Brasil e diversificação da linha editorial. Em 48 lançaram a Coleção Saraiva, famosa por editar clássicos da literatura brasileira e mundial: Machado de Assis, José de Alencar, Henry James e Edgar Allan Poe. A inovação chegou para o consumidor em forma de barateamento dos livros, capa coloridas e atraentes, que chamavam atenção do público. Vendidos num sistema inédito de assinaturas, os exemplares tiveram tiragens recordes. Por exemplo: O amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos, saiu com 40 mil exemplares. Um número elevado, mesmo para os nossos dias.

Quando a Coleção foi encerrada, na década de 60, contava com 287 títulos em seu catálogo e 24 anos de existência. O outro segmento no qual a Editora Saraiva despontou foi o de livros didáticos, especialmente na área jurídica, com o lançamento, em 77, da Enciclopédia Saraiva do Direito. Iniciativas sempre ousadas têm garantido à Saraiva a liderança do mercado de livros jurídicos, onde chega a a participar com 75% do mercado. Ver e-livros de Direito.

CAPÍTULO IV

De quem é a culpa pela falta de livros?

Durante muito séculos, até meados de 1870, o Brasil não contava com uma organização em torno da atividade da escrita: não havia política nem legislação de direitos autorais; tampouco os escritores eram bem remunerados. Mas se assistimos ao monopólio legal do governo e um certo abuso das casas editoras, é certo que os escritores também não se faziam organizar e reivindicar seus direitos.

Em 15 de maio de 1890, o jornal Correio do Povo noticia a fundação da SHL, ou Sociedade dos Homens de Letras. Machado de Assis, José do Patrocínio, Olavo Bilac, Aluísio Azevedo, Artur Azevedo. Num esforço para se organizar como classe, a SHL é o embrião da ABL, ou Academia Brasileira de Letras, criada em 1896, graças à liderança de Machado. Contudo, a perda de foco, de objetivos com relação à função da Academia, gera um vazio na questão da profissionalização dos escritores da época, trazendo pouco ou nenhum progresso.

Vimos que a tipografia e a imprensa só chegaram por essas bandas em 1808 e que foi, até 1821, monopólio régio - ou seja, tudo era censurado. Foi isso, aliado à alta de iniciativa dos escritores, que atrasou a disseminação e a cultura do livro entre os brasileiros. A implementação tardia de uma universidade e política educacional também são fortes ingredientes. Se em 1817 há alguns parcos registros de comércio de livros, isso se dá com a intermediação do Estado que vigiava tudo. Na década de 70, os documentos que tratam da compra dos direitos pelas editoras revelam que o editor sempre dava as cartas, impunha as tiragens, a baixa remuneração e a inexistência de porcentagens sobre as vendas. Pode-se acrescentar que a falta de profissionalismo se estendia a todas as etapas da produção do livro: desde a gráfica, distribuição, editoras. Todos inseridos numa estrutura pré-capitalista com alicerces de economia escravocrata e pouco afeita à prática da leitura.

CAPÍTULO V

Monteiro Lobato chegou e encantou...

Figura inesquecível - como empresário, escritor, criador, inovador, pioneiro. Monteiro Lobato habita a memória de todos nós com tanta força que até chegamos a crer, muitas vezes, que se trata de uma lenda, de um personagem. Será que ele existiu mesmo? Será que criou todas aquelas estórinhas lindas e, de uma hora para outra, preencheu um cenário com personagens divertidas, diferentes? Lobato viveu numa época de modernização da economia e ele próprio foi um dos principais protagonistas dessas mudanças, trazendo inovação, criatividade.

Assistia-se ao crescimento do movimento das artes plásticas e da literatura, graças ao Movimento Modernista. Embora tenham revolucionado a literatura brasileira, os modernistas não tiveram, quanto à edição de seus livros, muito mais sorte que seus antecessores. Com exceção de Lobato, as tiragens continuavam baixas, oscilando entre 300 e 1000 exemplares.

O mercado paulista sofreu, apesar de ter se transformado no principal do país, uma retração em 1926, o período pós-guerra. Os livros deixaram de se beneficiar da isenção de taxas de importação de papel, mantidas apenas para jornais e revistas. A indústria nacional não tinha infra-estrutura para fabricá-lo. Lobato sonhava então com um povo leitor e culto. Além de escritor, foi responsável pela abertura de uma das mais dinâmicas e modernas editoras do país. Mas devido à precariedade do setor e a produção em baixa escala, seu sonho minguou. De suas cinzas, além de outras gráficas, surgiu a Companhia Editora Nacional, uma das mais sólidas e exemplares editoras da história do país.

A História do Livro no Brasil pode ser dividida em "antes e depois de Lobato". Sucesso de público, o autor ficou logo conhecido e fez amizades entre políticos e empresários, o que proporcionou progresso em suas empreitadas litero-comerciais. Lobato avançou e nos fez avançar, progrediu e trouxe o progresso. Teve altos e baixos, mas construiu em torno de si um mito, não só pelo que fez - mas pelo que continua fazendo. Biografia de Lobato.

CAPÍTULO VI

Os Modernistas, os livros e as revistas

A precária infra-estrutura da indústria editorial brasileira, ainda à época de Lobato, foi surpreendida pela capacidade que o autor do "Sítio" demonstrou ao investir pesadamente no futuro do nosso mercado editorial. Lobato se endividou até onde pôde para fazer seu sonho virar realidade. Se não fosse ele, a história do livro no Brasil seria outra. Comprou maquinário caro e moderno para equipar a gráfica Moteiro Lobato e Cia., e contratou profissionais qualificados, como Natal Daiuto, que trabalhava na Imprensa Oficial do Estado. Dívidas que excederam sua capacidade levaram nosso autor à falência. Seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira, e Daiuto, foram incorporados pela Cia. Editora Nacional.

Em meio à perplexidade que estavam vivendo, Octalles e Daiuto se juntaram para arrematar o que sobrara da gráfica - e foi então que surgiu a São Paulo Editora. Com a implantação da impressão off-set e da brochura colada, a gráfica pôde então atender em grande escala, a todo país, tornado-se uma das maiores impressoras de livros nas décadas de 40 e 60.

A produção intelectual do país não era acompanhada pela produção industrial das editoras e, em tempos de Modernismo, isso queria dizer que os autores não interessavam muito às editoras, pois não tinham vendas expressivas. O destino destes era escrever para revistas especializadas, que atendiam a um púbico mais elitista e culto. Data desta época o surgimento da Revista Klaxon, para a qual ecreveram nomes como: Anita Malfatti, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral. A revista era financiada pelos próprios autores e lutou para permanecer circulando. Mas a semente lançada pelos modernistas repercutiu em todo país: em Minas Gerais, onde Drummond dirigiu A Revista; a carioca Estética, de Sérigo Buarque de Holanda; na Bahia, Arco e Flexa; e em Porto Alegre, Madrugada. A situação dos modernistas só melhoraria na década de 30, com a Editora José Olympio e sua famosa "Casa", cuja principal filosofia era lançar autores nacionais. Ver e-livros grátis de literatura brasileira.

CAPÍTULO VII

José Olympio - um pioneiro do mercado editorial brasileiro

Natural de Batatais, José Olympio, de origem humilde, chegou em São Paulo em 1918 para fazer faculdade de Direito e se empregou num armazém de secos e molhados. Como tendo o armazém falido, acabou por conseguir um emprego na Casa Garraux, ponto de encontro de intelectuais e políticos. Logo despontou como excelente funcionário e, de balconista, tornou-se gerente. Foi nesta época que fez muitos amigos influentes. Em 1931 partiu para o negócio de livros por sua própria conta. Comprou, com ajuda de amigos, 10 mil volumes da biblioteca de Alfredo Pujol, e lançou, já com a marca Editora José Oympio, seu primeiro título: Conhece-te a ti pela psicanálise, de Joseph Ralph. Tamanho foi o sucesso que o livro ficou por mais vinte anos no catálogo. Já aí demonstrava seu "faro" de editor.

A instabilidade político-social, propiciada pela Revolução de 1932, fez a editora interromper momentaneamente suas atividades. Insatisfeito com a estagnação do mercado editorial de São Paulo transferiu-se para o Rio de Janeiro. Foi então que um outro sucesso editorial, Os párias, de Humberto de Campos, consolidou sua posição ainda mais.

J. Olympio inaugurou uma política inédita no mercado editorial de então: o pagamento adiantado dos direitos autorais. Com isso ganhava simpatia dos autores e fez da sua Casa um ponto de encontro de intelectuais, professores, jornalistas, que se tornaram seus habitués.

Editou sucessos como Raízes do Brasil, de Sérigo Buarque de Holanda, e Vidas Secas de Graciliano Ramos, além de Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre e Guimarães Rosa. Foi, por isso, responsável direto pelo surgimento e popularização desses grandes nomes da cultura brasileira.

Os tempos começaram a mudar para o pioneiro J. Olympio e sua editora; a Segunda Guerra fez sua linha editorial orientar-se para as traduções de clássicos da literatura mundial, como Balzac, Dostoievski, Jack London, Tolstoi.

Outro fato, o surgimento da Livraria Editora Martins, cujas convicções políticas antigetulistas atrairam rapidamente os intelectuais e conquistaram o público leitor, causou um certo vazio na Casa. Assim foi, que de 1960 em diante, a velha Casa se voltou para o mercado de livros didáticos e logo teve filiais em sete capitais. Em 1962 já figurava entre as quinhentas maiores empresas do país, sendo o primeiro editor a ter ações na bolsa.

Originalidade na política de direitos autoriais, lançamento e popularização dos grandes nomes da literatura, preocupação com a estética, inovação no método da crítica nas "orelhas" dos livros e adoção do método domiciliar de vendas. José Olympio simboliza, por isso, um marco no mercado editorial brasileiro.

CAPÍTULO VIII

Getúlio trouxe livros?

Além de instituir o salário mínimo, os sindicatos, a legislação trabalhista, Getúlio Vargas, o "pai dos pobres" e o ditador demagogo por excelência, também negociou com industriais e conservadores. A política educacional de Getúlio representou uma ampla reforma do ensino que acabou por incentiver a indústria do livro - imediatamente consolidou o mercado didático e a médio prazo ampliou o público leitor.

A brusca queda nas exportações de café levou a uma desvalorização do nosso dinheiro, o mil-réis. A taxa de câmbio passou então a desfavorecer as importações - inclusive a de livros. O resultado é que o livro produzido no Brasil se tona mais barato do que o importado, fomentando a publicação de traduções e o consequente declínio do livro francês. A situação melhora ainda mais com o advento da Segunda Grande Guerra e o interesse do público pela leitura. São Paulo já era o maior centro industrial da América Latina e um dos maiores parques gráficos do Ocidente. Nesta época, 70% da produção editorial estava no Rio, mas grande parte dela era impressa em São Paulo. O número de editoras em atividade no país cresceu quase 50% entre os anos de 1936 e 1944. Os títulos e exemplares publicados quadruplicaram entre 1930 1950. No meio do século o país produzia 4 mil títulos e cerca de 20 milhões de exemplares.

A proteção do ditador não era gratuita: sentindo que não mais resistiria aos apelos para que realizasse as eleições, Vargas decretou o Estado Novo, regime de exceção que ampliava seus poderes. Toda atividade cultural passou a ser controlada pelo DIP, Departamento de Imprensa. A censura estava presente no rádio, imprensa, música, ensino - nos livros.

Apesar de seu aspecto autoritário, o longo governo de Vargas foi o período em que o nosso símbolos mais apareceram e cresceram. O rádio, o samba, o carnaval e o futebol se tornaram populares e ganharam projeção, tornando-se ícones, símbolos permanentes na nossa memória coletiva e moldando nosso mais profundo nacionalismo. O ditador Vargas, espertamente, se deixou rodear pelos intelectuais mais respeitados da época: Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Drummond, Mário de Andrade, Portinari.

Sem dúvida, todos esses fatores culturais impulsionaram a cultura livresca e, apesar da política, foi nessa atmosfera que os modernistas e intelectuais trabalharam e desenvolveram a mais fina cultura brasileira. A "Casa" José Olympio os acolheu e o sonho de Lobato de disseminar o livro parecia se tornar realidade.

CAPÍTULO IX

Como surgiu a Biblioteca Pública Municipal de São Paulo

O ritmo intenso de crescimento da cidade São Paulo, em 1926, trazia euforia e esperança para intelectuais e empresários. Todos desejosos de ter uma biblioteca à altura da daquela cidade progressista. Intelectual de formação clássica, o advogado Eurico Góes, pirmeiro diretor, concebeu a biblioteca em torno do "espírito brilhante da Renascença". O gosto pela antiguidade estava por toda parte: Palas Atena, ou Minerva, pairava sobre o frontispício do prédio original, na rua 7 de Abril. Até na Sala de Conferências havia o selo de Salomão e símbolos caldeus e egípcios.

A modernidade, a tecnologia, faziam parte da Biblioteca: projetor de cinema, estufa para desinfecção de obras, oficina de encadernação, gabinete para ampliação fotográfica, além de salas confortáveis e refrigeradas e um ambiente moderno e luxuoso na Sala de Leitura. A influência francesa era grande, mas o público procurava mesmo a literatura brasileira: Urupês, de Lobato; O cortiço, de Aluísio Azevedo, Os Maias, de Eça de Queirós.

A reforma do ensino básico aumentou o número de leitores potenciais e, logo, o diretor já lutava por um novo prédio, ainda maior e mais moderno. Este projeto ganho força em 1934, quando o governador Armando Salles de Oliveira e o prefeito Fábio Prado reuniram uma equipe de intelectuais para implementar o desenvolvimento cultural, chefiada por Mário de Andrade, que era diretor do Depto. da Cultura da Prefeitura. A prefeitura comprou o terreno que fica na esquina da Avendia São Luís com a rua da Consolação e iniciou a construção, que levou 3 anos, sob a ditadura Vargas. Foram 150 mil obras catalogadas. A Biblioteca foi modernizada por Rubens Borba de Moraes, que assumiu em 1936, mas indispôs-se com a ditadura, e foi substituído por Sérgio Milliet, que resumiu a filosofia da casa: "Não se atemorizem os tímidos diante da magnificência do mármore: a casa é de todos". Rebatizada em 1960 com o nome de "Biblioteca Mário de Andrade", ela é hoje a segunda maior da América Latina, e teve mais de 2,5 milhões de consulentes em 1993.

CAPÍTULO X

O Instituto Nacional do Livro e a Enciclopédia Brasileira

Independente de suas práticas políticas, é inegável a importância de Getúlio Vargas para a consolidação de um cultura livresca no país. Um dos sonhos do ditador, que não escondia suas vaidades intelectuais, era publicar uma Enciclopédia Brasileira, nos moldes da italiana Triccani, concluída à época de outro ditador, Benito Mussolini. Para executar esse projeto baixou um decreto-lei em 21 de dezembro de 1937. Foi então que surgiu o Instituto Nacional do Livro.

O poeta gaúcho, Augusto Meyer, foi nomeado para dirigi-lo. O sonho de Vargas, contudo, se deparou com a crônica problemática da falta de verba. Passaram-se 20 anos e só em 1956 o número um da Revista do Livro publicaria o plano de trabalho da Enciclopédia.

O projeto da Enciclopédia, obedecendo ao modelo da famosa Enciclopédia Britânica, deveria ter 250 mil verbetes e 6 volumes. Depois de lançada, a Enciclopédia não fez o sucesso previsto, mas o INL afirmou sua importância e prosseguiu com três objetivos básicos: abastecer as bibliotecas, reeditar obras raras e fundamentais, estimular a publicação de outras. Contudo, tornou-se ambígua a sua função: desempenhou um papel de estimular a cultura e a reprodução de livros; mas ao INL também foi designada a função de vigiar a cultura - e nisso inseria-se a censura aos livros. Sem ter tomado qualquer medida prática para censurar livros, o INL viu essa atribuição ser tranferida para o DIP, o temido Departamento de Imprensa, criado exclusivamente para exercê-la.

O INL firmava-se como um órgão voltado para o livro, com o intuito de radiografar e acompanhar a evolução deste mercado no Brasil. Para isso surgiu a Bibliografia Brasileira, que registrava toda a bibliografia nacional. Com o primeiro volume publicado em 1938, o boletim durou até 1956, quando foi substituido pela Revista do Livro.

Ao longo da década de 80 as atividades do INL foram se restringindo: em 85 só conseguia atender a 23% das 3,000 bibliotecas com as quais mantinha convênio para repasse de obras. Em 1990, o INL foi extinto e substituido pelo Departamento Nacional do Livro, uma das diretorias da Fundação da Biblioteca Nacional.

CAPÍTULO XI

Livros, perseguição e censura

Através do DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda, Getúlio manipulava seus inimigos e divulgava uma boa imagem de seu governo. Duros golpes foram lançados contra a indústria do livro: apesar de todo benefício que Vargas trouxe, sua insegurança pessoal e ambição política desmedida provocaram a reação contrária a tudo o que tinha plantado até então.

Sob sua ditadura, editoras punidas; escritores, como Jorge Amado, foram perseguidos e deixaram o país; edições inteiras confiscadas e incineradas em praça pública.

Essa hostilidade começou em 1931, com o aparecimento do Departamento Oficial de Propaganda. Reorganizado em 1934 como Depto. Nacional de Propaganda e Difusão Cultural , o órgão foi substituido em dezembro de 1939 pelo DIP, o todo-poderoso Depto. de Imprensa e Propaganda, que tinha a indigesta missão de controlar a informação e a produção cultural do país. A artilharia estava voltada para a atividade editorial, sob o comando de Lourival Fontes, que aos poucos foi minando as pequenas, mas importantes, casas editoras brasileiras. Até os grandes "players" do mercado como a José Olympio, apesar de sobreviver, amargaram prejuízos. Gilberto Freyre, Raquel de Queiroz, Tomás Santa Rosa, Jorge Amado, Cecília Meirelles, Graciliano Ramos, foram presos e perseguidos.

Além da leitura adulta, o governo controlava também a leitura infantil: criou a Comissão Nacional do Livro Escolar, que escolhia os livros a serem adotados nas escolas. Ao contrário, os títulos que tinham como tema a figura de Getúlio e que o glorificavam eram fartamente distribuidos. Rendida, a ABL, Academia Brasileira de Letras, chegou ao disparate de integrar Vargas entre seus membros e fazer do ditador um imortal.

Em janeiro de 1945 ventos novos pareciam soprar e, no primeiro congresso da Associação Brasileria de Escritores, o desejo comum de liberdade despontou. Albert Einstein apoiou a carta de princípios então elaborada. Menos de um mês depois, José Américo de Almeida, em entrevista ao Correio da Manhã, marcava o fim da censura à imprensa. E em outubro o Estado Novo começava a se tornar velho.

CAPÍTULO XII

Desponta o Sul do país como força intelectual

A Editora Globo começou como livraria, a Livraria do Globo. Numa região emergente sócio-culturalmente, a Livraria dirigida por Henrique Bertaso, filho do proprietário José, logo se tornou uma referência, sendo frequentada por Getúlio Vargas e pelo ex-boticário Érico Veríssimo. Em 1929, por sugestão de Vargas, nasceu a Revista do Globo, que mesclava colunismo social e crônicas.

Bertaso editava literatura de entretenimento: romances sentimentais "para moças", policiais e de aventura. Os primeiros compunham a "Coleção Verde", que bateu a casa dos 36 títulos e uma média de dois mil exemplares vendidos. Outra, a "Coleção Amarela", foi a mais bem-sucedida da editora, com 160 títulos e 5 a 10 mil exemplares vendidos de cada um.

Agatha Christie, Chesterton, Ellery Queen, Georges Simenon, Edgar Wallace - faziam tanto sucesso quanto Karl May. May escreveu a maioria dos romances de aventura que, de 1932 a 1942, compuseram a "Coleção Universidade".

Um pé em cada parte do mundo: Bertaso editava clássicos, best-sellers mundiais - mas sem esquecer dos gaúchos: Dyonelio Machado, Darcy Azambuja, Pedro Vergara. Da literatura mundial, Bertaso esbarrava num problema: não dominava o inglês. Foi então que decidiu chamar Érico Veríssimo - que lia e traduzia textos para a Revista do Globo. Juntos lançaram outras duas coleções que dariam à Globo projeção em escala nacional: a "Coleção Nobel" e a "Biblioteca dos Séculos". O Brasil dispunha agora de autores que brilhavam no cenário mundial: Virginia Woolf, Thomas Mann, André Gide. Além de clássicos: Montaigne, Rousseau, Proust, Nietzsche, Pirandello, Platão.

Com Veríssimo, a Editora diversificou seu catálogo e passou a editar livros técnicos, infantis e enciclopédias, como a Enciclopédia Brasileira Globo. Com a saída do autor, entretanto, a Editora ficou abalada. Externamente, o controle do governo sobre as remessas ao exterior, inibiram as traduções que consagraram a Casa. Somaram-se a isso outros problemas financeiros e os Bertaso abriram mão do controle acionário da empresa: em 1986 ela passou a pertencer às Organizações Globo.

CAPÍTULO XIII

A década de 50 e os americanos

Em 1945 a Guerra havia terminado. Getúlio caiu. E o mercado editorial enfrentava um período difícil, resultado das políticas governamentais de censura e economia.

O Brasil deixava a cultura francesa, na qual se espelhou por tanto tempo; enalteceu, na fase getulista, o nacionalismo; e agora olhava, com inveja, o florescimento e expansão econômica dos americanos. Zé Carioca e Carmen Miranda faziam sucesso como ícones da cultura brasileira nos EUA - sem deixar de estereotipar o "exotismo" do Brasil. A modernidade tomava conta de nossas capitais que rapidamente se transformaram em metrópoles: ônibus, telefones, e os primeiros arranha-céus. A admiração pelo estilo de vida progressista dos americanos se acentuaria na década de 50, quando o país foi invadido pelo rock´n´roll, o chiclete e a coca-cola. Com isso, até o samba, disfarçado de bossa-nova, parecia estar sendo deturpado.

O então presidente, J. Kubitschek (batizado de "presidente bossa-nova"), buscava estreitar laços com os EUA e trazer a todo custo o progresso: cinquenta anos em cinco - seu "Plano de Metas" e a criação de Brasília. Foi graças a isso que cresceu rapidamente o parque gráfico e atenção especial foi dada à produção de livros, com o fim da taxa de câmbio favorável à sua importação, tornaram-se mais vantajosas as edições brasileiras. Tais políticas, aliadas aos subsídios à indústria do papel, elevaram nossa produção a 66 milhões de exemplares.

O olho no vizinho americano e a importação do modelo de progresso a todo custo gerou no país um certo clima de contestação: inflação, invasão estrangeira e rápido endividamento externo foram alguns dos tópicos atacados. A fonte dessa crítica ferrenha ao governo JK e à sua política brotava das universidades. A partir dos anos 50, com a criação das Federais e da Universidade de Brasília - UnB- , o ensino superior deu um salto, passando de cerca de 44 mil universitários para 280 mil, no final dos anos 60. Surgiram então movimentos estudantis: o Teatro Arena, o Centro Popular de Cultura, a UNE, o Cinema Novo e as canções de protesto.

A cultura fazia seu papel de reivindicar uma sociedade melhor. Nomes como Caio Prado Jr., então proprietário da Editora Brasiliense, Florestan Fernandes, Álvaro Vieira Pinto, preenchiam o cenário intelectual e reivindicatório da época. O setor editorial faria sua parte publicando ensaios teóricos e análises de conjuntura. Outro nome a ser lembrado é o do editor Ênio da Silveira, dono da Editora Civilização Brasileira. Ao lado da Brasiliense, caracterizou-se por escrever contra o regime vigente, divulgando idéias e projetos de sociedade. Após o Golpe Militar, muitas dessas editoras sofreriam por se manterem na oposição.

CAPÍTULO XIV

A arte chega aos livros

O livro brasileiro perdia em comparação com os estrangeiros, até a década de 30. Mais uma vez estava lá, José Olympio, e seu colaborador, Tomás Santa Rosa, que foram os reponsáveis pela primeira revolução estética no mercado editorial brasileiro. A ausência de um acabamento mais esmerado era comum.

A admiração pela edições francesas luxuosas e ilustradas despertaram os editores brasileiros. O paraibano Santa Rosa, que até então fizera desenhos de capa, era pintor, produtor gráfico, cenógrafo, ilustrador. Trabalhando sempre inspirado por Portinari, Rosa, além do trabalho para editoras comerciais, passou a ser responsável pela arte visual das publicações do governo federal.

Outros dois nomes merecem destaque: Poty Lazzaroto e Luís Jardim, que a partir de 1942, executariam regularmente desenhos para a "Casa", e que, após a morte de Rosa, assumiu seu lugar. Entre outros colaboradores, estavam os modernistas: Anita Mafatti, que ilustrou Iracema, de José de Alencar; Tarsila do Amaral, ilustradora de A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Este foi considerado o período áureo da ilustração no Brasil.

Em 1942, surgiu a sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, que existiu até a morte de seu fundador, Raymundo de Castro Maia. Os grandes nomes da arte brasileira, como Iberê Camargo, Carybé, Cícero Dias, e Goeldi, também contribuiram para ilustrar as obras consagradas pelos bibliófilos.

Ênio da Silveira, o fundador da Editora Civilização Brasileira, também inovou ao contratar Eugênio Hirsch como produtor. Com ele, as cores vibrantes, os desenhos coloridos, passaram a dominar as capas. Os espaços em branco deixaram de ser vistos como desperdício de papel para ganhar status estético. Assim, o conceito de arte se inseriu nos livros e a diagramação também foi transformada para ajustar a funcionalidade à beleza.

CAPÍTULO XVI

Livrarias, autores, café, ponto de encontro, livros

As livrarias de sucesso no Brasil tiveram sua história marcada por uma carcterística: além de vender livros elas eram também pontos de encontro. Algumas reuniam autores, como a Garnier, no Rio. Outras eram frequentadas pela elite da sociedade, como a Garraux. A Globo, em Porto Alegre; a José Olympio, no Rio; a Teixeira, em São Paulo, mativeram a tradição. A livraria Jaraguá reunia nomes como Decio de Almeida Prado, Antonio Candido, Alfredo Mesquita (dono da livraria), Paulo Emilio Salles Gomes. Estes intelectuais publicavam a Revista "Clima", que pretendia ser o veículo de opiniões da nova geração sobre cinema, música, literatura, ciência, economia. Até 1957 a Jaraguá foi a principal livraria. Mas outras vieram: a Kosmos, Palácio do Livro e a Triângulo - esta última tinha entre seus ilustres Oswald de Andrade, que apelidou os intelectuais da Clima de Chato´s boys.

A livraria Brasiliense, da tradicional editora do mesmo nome, tinha uma atração especial: Monteiro Lobato aparecia por lá à tarde para conversar com fregueses. Lobato não gostava de se expor muito em público e, conta-se que Artur Neves, um dos donos, mandou isolar com uma vidraça o lugar onde o autor ficava.

Na década de 40 surgiram as livrarias preocupadas em vender apenas livros: a Siciliano e Cultura. O fundador da Siciliano, Pedro Sicliano, era um carioca que se mudou para São Paulo em 1928. Depois de trabalhar 12 anos como distribuidor das publicações de Roberto Marinho e Assis Chateuabriand, Pedro abriu sua primeira livraria em 1942, aonde está até hoje. Com o sucesso, Pedro abriu novas filiais, estas na periferia, o que também fez dele um inovador.

A Cultura, a livraria mais cara de São Paulo, teve origem em 1947, quando Eva Herz abriu um pequeno negócio de aluguel de livros com dez obras de autores alemães - foi a primeira biblioteca circulante de São Paulo. Aos poucos o negócio prosperou e, ao lado de seu marido, Kurt, abriu a livraria Cultura, nos fundos da casa onde moravam. Tradição e qualidade são caraterísticas dessas livrarias - mas preços altos também. Ainda estamos, no Brasil, esperando por livrarias que ousem quebrar o círculo vicioso dos preços altos, que tanto colaboram para o exclusivismo e elitização da leitura.

CAPÍTULO XVII

Revistas que deixaram saudades

Uma ebulição intelectual só comparável à ânsia transformadora do Modernismo: era uma época em que os jornais eram superficiais e os livros não atendiam a urgência dos debates. É nesse período que surgem as revistas - um meio termo entre jornais e livros.

A Revista Brasiliense foi a mais importante. Estreou em 1955 apresentando uma proposta em forma de manifesto e trazendo à discussão de problemas econômicos, sociais e políticos que inquietavam o país. Nomes como Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet, Josué de Castro, Florestan Fernandes. Apesar de seus colaboradores estarem estreitamente ligados ao Partido Comunista Brasileiro, a revista se opunha com frequência à direção do PCB. Considerada uma continuação da Revista do Brasil, de Monteiro Lobato, a Brasiliense foi publicada pela última vez em 1964, quando foi destruída na gráfica a mando do governo.

A Revista Civilização Brasileira surgiu como sucedânea da Brasiliense, tendo atingido 20 mil exemplares vendidos já no segundo número. Nesta época também ocorreram outras manifestações culturais de peso: a explosão da MPB, o Cinema Novo, os grupos teatrais Oficina e Opinião, o surgimento de uma vanguarda nas artes plásticas. Mas devido à repressão a Civilização também acabou por ser censurada e em 1968 se tornou inviável. Dez anos depois Ênio da Silveira voltava à carga com o mesmo formato, sob o nome Encontros com a Civilização Brasileira.

A Tempo Brasileiro, fundada em 1961, pelos irmãos Franco e Fernando Portella, figuravam nomes como Sérgio Paulo Rouanet, Marcílio Marques Moreira e o liberal José Guilherme Merquior.

A edição de revistas, para editoras de perfil combativo e politizadas, como a Brasiliense e a Civilização, era uma forma de engajamento político e de intervenção na sociedade e na opinião pública.

Texto baseado no livro: Momentos do livro no Brasil. comprar

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