terça-feira, 6 de novembro de 2012

NAUFRÁGIOS DE GALEÕES ESPANHÓIS

Batalhas e Naufr�gios nos A�ores (1591)


Paulo Monteiro





No ano de 1577, Matthew Baker iniciou em Deptford a constru��o de um navio que viria a simbolizar a supremacia das armadas inglesas nos mares. Ao contr�rio dos gale�es ib�ricos este novo modelo de navio tinha castelos de proa reduzidos e um conjunto de linhas afiladas, o que o tornava n�o s� mais r�pido, mas tamb�m mais manobr�vel.



A este novo navio deram o nome de Revenge. Media de quilha 31 metros e tinha um comprimento total de cerca de 45 metros, estando o seu porte compreendido entre as 440 e as 500 toneladas. Na popa encontrava-se a cabina do capit�o e o alojamento dos demais oficiais do navio bem como a casa do leme, a santa-b�rbara - ou casa da p�lvora - e os outros compartimentos de armazenamento de v�veres. Na proa, encontrava-se o mastro do gurup�s logo seguido do mastro do traquete, do mastro grande e do mastro de gata ou mezena.



O Revenge tinha duas cobertas de fogo, armando 42 canh�es, todos em bronze. Na coberta inferior - com as suas escotilhas a cerca de metro e meio da linha de �gua - estavam localizadas 20 pe�as de artilharia, das de maior calibre (entre estas contavam-se 2 meios-canh�es que disparavam proj�cteis de 15 quilos de peso e 4 canh�es-pedreiros que disparavam balas de pedra com um peso de 12 quilos). Para al�m destas armas de grande calibre, o Revenge armava ainda na sua coberta inferior 10 colubrinas que disparavam proj�cteis de 9 quilos e 4 meias-colubrinas que disparavam balas de 4 quilos de peso.



A rela��o de n�mero entre as colubrinas e as meias-colubrinas era excepcional j� que era o inverso do que se passava com os outros navios da �poca. O Revenge possu�a assim uma invej�vel capacidade de fogo. Na coberta inferior, as pe�as distribu�am-se de maneira que os canh�es se situavam a meio navio, com as colubrinas alinhadas de igual modo - ficando, no entanto, 2 colubrinas � proa, para ac��es ofensivas, e 2 outras � popa, para ac��es defensivas. No conv�s superior, o armamento era mais reduzido, de modo a tornar centro de gravidade mais baixo e, consequentemente, o navio mais est�vel (no conv�s estavam 4 meias-colubrinas, 10 quartos de colubrina e v�rios ber�os anti-pessoal de pequeno calibre).



Tr�s anos depois da sua constru��o, o Revenge combateu na ba�a de Smerwick como navio almirante da frota inglesa. Combateu igualmente, sob as ordens de Sir Francis Drake, a Invenc�vel Armada, no ano de 1588, partindo de Plymouth, no ano seguinte, para atacar Portugal, tamb�m sob o mesmo comandante. Em 1590, o Revenge era o navio-almirante da frota de Sir Martin Frobisher, participando no bloqueio da costa espanhola, no intuito de capturar as naus ib�ricas provindas da Nova Espanha.



Sir Richard Grenville



Nascido na Abadia de Buckland, no Devon, em 1542, Richard Grenville ficou �rf�o de pai aos tr�s anos, quando este se afogou num naufr�gio c�lebre, o do Mary Rose (recentemente escavado e recuperado em Portsmouth) .Da sua juventude obscura, sabe-se apenas que matou em duelo um homem chamado Robert Bannester e que foi admitido como estudante no Inner Temple, em 1559.



Grenville foi eleito para membro do Parlamento em 1563, tendo casado com Mary St. Leger em 1565. Depois do casamento parte em campanha contra os Turcos, tendo-se aliado aos ex�rcitos do Imperador Maximiliano II. Em 1576 foi eleito xerife da Cornualha sendo investido cavaleiro no mesmo ano devido ao papel preponderante que assumiu no debelar do Catolicismo no oeste da Inglaterra.



Em 1585, Sir Richard Grenville fez a primeira de duas viagens � Virg�nia, na Am�rica do Norte, ap�s ter obtido consentimento da Rainha Elizabete I, no que foi ajudado pelo seu primo, Sir Walter Raleigh. � em Roanoke Island que Grenville implanta a primeira col�nia inglesa na costa americana. Esta col�nia veio a perder-se pouco tempo depois, gorando-se as aspira��es colonialistas do cavaleiro ingl�s. Na viagem de regresso, Grenville ataca algumas localidades dos A�ores.



Em 1588, Grenville fornece tr�s dos seus navios para o combate contra a Invenc�vel Armada, tendo ele pr�prio perseguido os navios espanh�is sobreviventes at� �s �guas irlandesas. Em 1591, Grenville foi nomeado vice-almirante e, sob as ordens de Lord Thomas Howard, dirigiu-se aos A�ores para capturar as naus espanholas.



Dirigia-se tamb�m, sem o saber, ao encontro da sua morte.



A expedi��o aos A�ores



A 4 de Fevereiro de 1591, o Revenge embarca cerca de 90 barris de p�lvora bem como 110 mosquetes e 70 arcabuzes. Para al�m deste armamento ligeiro, a tripula��o estava ainda dotada de arcos ingleses e v�rios artefactos explosivos e incendi�rios.



Ainda em Londres, o navio recebeu cerca de 160 tripulantes, n�mero que foi aumentado para 260 quando, em Mar�o de 1591, o navio escalou os portos de Portsmouth e de Plymouth. O �nico oficial a bordo, para al�m de Grenville, era o capit�o William Langhorn, respons�vel pela disciplina e comando dos soldados que se encontravam a bordo da embarca��o.



O Revenge fazia parte de uma esquadra composta pelo Defiance, comandado por Lord Thomas, pelo Nonpareil, comandado por Sir Edward Denny, pelo Bonaventure do capit�o Robert Cross, pelo Lion do capit�o George Fenner, pelo Foresight, comandado por Thomas Vavascur, pelo Crane do capit�o Duffield e pela barca Raleigh, capitaneada pelo comandante Thynne.



Os outros navios de conserva, de reduzida tonelagem, eram o Pilgrim, o George Noble, o Moon, o Elisabeth, o Diana, o Wasp, o Moonlight, o Dainty, o Swallow, o Vanguard, o Bellyngham, o Bostock, o Disdain e o Delight.



No final de Agosto, junto �s Flores, esta armada de cors�rios aguardava, impaciente, a vinda da rica armada espanhola, provinda da Nova Espanha. No entanto, para sua surpresa, quem surgiu no horizonte n�o foi a armada da prata, mas sim a armada de guerra de Alonso de B�zan, que lhes tinha vindo dar ca�a.



A frota de defesa das ilhas



Com efeito, previamente avisado pelos seus espi�es em Inglaterra da prepara��o da frota inglesa onde se inclu�a o Revenge, Filipe II ordenou, simultaneamente, � sua frota das �ndias que permanecesse durante o Inverno de 1590 no porto de Havana, em Cuba e a Don Alonso de B�zan - filho do conquistador da ilha Terceira, �lvaro de B�zan - o regresso da sua frota de 40 navios ao porto da Corunha.



Esta frota de defesa (inovadora para a mentalidade conservadora da maior parte dos militares espanh�is da �poca que ainda acreditavam na for�a das gal�s mediterr�nicas e na superioridade da abordagem sobre os combates de artilharia no mar) tornara-se uma componente essencial na defesa do territ�rio ib�rico e na protec��o das armadas provindas das possess�es ultramarinas, desde que a Espanha vira derrotada a sua Armada Invenc�vel em 1588. Com efeito, a partir daquela altura, as incurs�es militares ingleses tornaram-se mais arrojadas e a Espanha viu declinar a sua supremacia nos mares, em favor da nova pot�ncia mar�tima.



Para defender a sua liga��o umbilical com os metais preciosos do Novo Mundo, Felipe II ordenou a constru��o de gale�es de guerra, - conhecidos como os Doze Ap�stolos, pelos nomes que vieram a tomar, entre os quais se contavam o San Felipe, o San Barnabe, o San Christobal, o San Pablo e o San Martin - a maioria dos quais integrava uma frota de defesa que, com base na costa espanhola, tinha como miss�o deslocar-se aos A�ores anualmente, de modo a comboiar as frotas mercantes que ali se reuniam.



A for�a sob as ordens de Don Alonso B�zan consistia num grupo comandado pelo general Marcos de Aramburu, que tinha sob as suas ordens 11 navios, dos quais 7 eram gale�es de Castela. Outros 2 eram flibotes holandeses - uma embarca��o r�pida, de linhas ligeiras e afiladas, � semelhan�a dos gale�es ingleses - denominados Le�n Rojo e Cavallero de la Mar. Os dois �ltimos eram navios de avisos, um dos quais era o San Francisco de la Presa. Na frota espanhola, existiam ainda 8 flibotes, que eram comandados pelo portugu�s Dom Lu�s Coutinho. Os gale�es de Biscaia eram capitaneados pelo general Martin de Bretendona, coadjuvado pelos restantes oficiais que comandavam as restantes embarca��es da armada: Sancho Pardo, Ant�nio Urquiola, Bartolom� de Villavicencio e Ant�nio Manrique.



Em 1591, Felipe II ordenou a partida desta frota do porto de Ferrol para a Terceira de modo a fazer face ao perigo que a armada inglesa representava para a frota da prata. O cors�rio ingl�s Lord Cumberland, que mantinha uma vigil�ncia apertada sobre a movimenta��o desta frota avisou ent�o Lord Thomas Howard - que permanecia desde Julho na paragem das Flores - da sua partida, atrav�s da pina�a Moonshine, comandada pelo capit�o Middleton.



B�zan chegou � Terceira, a 30 de Agosto, e foi imediatamente avisado da presen�a da frota inglesa no grupo ocidental onde tinha causado toda uma s�rie de desacatos e de pilhagens. O almirante espanhol partiu para Flores mas atrasou-se bastante devido ao tempo desfavor�vel que se fazia sentir no arquip�lago.



No dia 8 de Setembro, Don Alonso de B�zan encontrava-se a cerca de quinze l�guas da ilha das Flores. Pretendendo seguir imediatamente para a ilha, B�zan viu frustadas as suas inten��es devido � quebra do mastro gurup�s no gale�o de Sancho Pardo. Alonso de B�zan viu-se assim for�ado a mitigar o andamento, encontrando-o a madrugada do dia 9 ainda a cerca de 8 milhas de dist�ncia das Flores. O Almirante resolveu ent�o contornar a ilha pelo lado oeste de modo a surgir perante as for�as inglesas - que se encontravam ancoradas junto a Santa Cruz - como se viesse do ocidente, fazendo com que os ingleses confundissem a sua armada com a armada das �ndias



O estratagema de B�zan resultou em cheio. Os ingleses rapidamente levantaram ferro e acometeram a frota desconhecida. Para seu espanto, em vez de encontrarem navios mercantes fracamente armados, os ingleses encontraram pela frente quatro dezenas de navios de guerra, sete dos quais de grande tonelagem.



A batalha inicial



Aquando do avistamento da frota desconhecida, provinda de oeste, a maior parte dos navios ingleses estava desguarnecida, com as suas tripula��es em terra providenciando a aguada e o lastramento das embarca��es. Desses tripulantes, uma grande parte encontrava-se doente, sendo portanto, in�til para a ac��o b�lica que se avizinhava. Estima-se mesmo que cerca de 90 tripulantes do Revenge se encontrassem nessa situa��o. Pelo lado espanhol, � de crer que tamb�m estivessem incapacitados parte dos seus elementos, visto que estes se encontravam no mar, quase permanentemente, h� mais de dois meses.



Perante o avistamento da frota inimiga, os comandantes ingleses ordenaram o corte das amarras e fizeram embarcar � pressa as suas tripula��es. Grenville foi o �ltimo a deixar o ancoradouro, j� que a sua tripula��o demorou bastante a chegar ao Revenge.



Assim que se fez ao mar, Grenville constatou que tinha pela frente uma esquadra de guerra e n�o uma frota mercante. Com o vento a seu favor, os esquadr�es de Sevilha surgiram a estibordo do Revenge e deram-lhe imediatamente ca�a. �s cinco da tarde, Marcos de Aramburu iniciou uma troca de salvas com os navios de Lord Thomas Howard e tentou mesmo abordar o Defiance. O mesmo tentaram fazer os gale�es San Felipe e San Barnab�, mas debalde.



Uma primeira descarga de artilharia, disparada do Revenge, matou o oficial Jorge Troyano que seguia a bordo do gale�o San Felipe, comandado por Don Claudio de Biamonte. Este encostou ent�o a sua amura � do navio ingl�s e lan�ou uma corda de abordagem, por onde treparam dez soldados espanh�is. O Revenge afastou-se e a corda que os unia partiu-se, lan�ando os soldados que por ela desciam ao mar. Grenville disparou ent�o as suas armas da coberta inferior. Carregadas com balas enramadas, destinadas a destruir o aparelho do inimigo, a descarga ocasionou avultados estragos, quer no velame, quer no cordame do San Felipe, que acabou por se afastar. Imediatamente, Bretandona fez lan�ar um ferro de abordagem, a partir do San Barnab�.



Entretanto, aproveitando-se do anoitecer, Lord Thomas Howard escapou-se com o resto da sua frota, sendo perseguido pelo gale�o San Martin, a bordo do qual seguia um tercio lusitano e o Mestre de Campo, Gaspar de Sosa.



Grenville, preso ao San Barnab�, n�o o p�de acompanhar. A maior parte dos ingleses subiu ent�o at� aos seus castelos de proa e de popa, de onde disparou os arcabuzes e mosquetes, lan�ando mesmo granadas de m�o para o interior do gale�o espanhol.



Em ajuda deste, chegou ent�o Marcos de Aramburu, que fez desembarcar homens para a popa do Revenge. Abalrou-o para esse efeito com a sua pr�pria proa, que ficou destru�da at� � linha de �gua. Os espanh�is capturaram ent�o a bandeira do navio ingl�s, matando alguns dos seus tripulantes e atingindo mesmo a zona do mastro principal. Entretanto, Aramburu afastou-se, com a �gua do mar a entrar �s golfadas para o interior do seu navio e pediu ajuda ao resto da frota. Em seu socorro veio Don Ant�nio Manrique, a bordo do gale�o Ascenci�n, que abalrou igualmente a proa do Revenge, logo seguido pelo portugu�s Don Lu�s Coutinho, que o secundou nessa ac��o.



A captura do Revenge



Nesta altura, era j� noite cerrada. Don Alonso de B�zan fez reunir a sua esquadra ao redor dos tr�s navios imobilizados. �s onze da noite, o pr�prio Grenville foi atingido por uma bala de mosquete. Enquanto se submetia a cuidados m�dicos, uma descarga de arcabuzes matou o cirurgi�o de bordo e feriu gravemente na cabe�a o comandante ingl�s.



O Revenge tinha perdido toda a sua mastrea��o, enquanto que o navio de Coutinho se afundava durante a noite. O mesmo sucedia, durante a madrugada do dia seguinte, ao Ascenci�n tendo-se salvo a maior parte dos seus tripulantes no navio de Bretandona. O gale�o San Barnab� fora t�o atingido que chegou mais tarde ao porto de Vigo quase sem velas nem �ncoras.



Pela manh�, quase toda a p�lvora do Revenge tinha sido gasta e todas as lan�as estavam partidas. Do embate tinham resultado cerca de 40 mortos, estando ferida a restante tripula��o com maior ou menor gravidade. Na coberta acumulavam-se cerca de 1.5 metros de �gua proveniente de tr�s orif�cios de bala localizados abaixo da linha de flutua��o e atabalhoadamente remendados pelos carpinteiros de bordo. Do lado espanhol contaram-se mais de cem mortos, dois dos quais capit�es, um deles Lu�s de San Juan, capit�o de infantaria.



Grenville tentou ent�o convencer o seu mestre artilheiro a fazer explodir o navio. No entanto, o capit�o William Langhorn conseguiu persuadir o mestre da embarca��o a render-se aos espanh�is. Depois de uma breve confer�ncia a bordo da capit�nia espanhola. Don Alonso de B�zan ofereceu ent�o a vida e a liberdade aos ingleses em troca da sua rendi��o. A tripula��o encerrou o mestre artilheiro numa cabina do navio - impedindo-o mesmo de cometer suic�dio - e dirigiu-se ent�o para bordo dos navios espanh�is. Grenville foi levado para bordo do gale�o de Alonso de B�zan, onde veio a morrer, dos seus ferimentos, no dia seguinte.



S� quinze dias depois da batalha que dera a vit�ria a Alonso de B�zan, surgiu junto � ilha das Flores o remanescente da flota de la plata, comandada por Aparicio de Arteaga.



A frota das �ndias



A frota da Nova Espanha partira de San Juan de Ulloa, no M�xico, a 13 de Junho de 1591. Comandada por Ribera, esta frota de 22 navios fora atacada pelo cors�rio John Watts ao largo de Cuba e perdera dois dos seus navios. Tal j� n�o era novidade, visto que o mesmo cors�rio tinha feito o mesmo a outros 7 navios espanh�is provenientes de Santo Domingo. � chegada ao porto de Havana, Ribera juntou-se � armada das Honduras e aos navios mercantes que Felipe II tinha mandado ali invernar. Das 120 embarca��es iniciais, apenas 71 sobreviveram aos furac�es e os cors�rios.



A 27 de Julho, a frota partiu finalmente de Cuba em direc��o aos A�ores. Durante a travessia do Atl�ntico novas tempestades fizeram naufragar mais 11 navios em alto-mar e ocasionaram avarias substanciais no resto da frota. A 14 de Setembro, chegaram �s Flores os primeiros 11 navios da armada das �ndias. Comandadas por Ant�nio Navarro, estas embarca��es tinham-se separado do corpo principal da frota cerca de 3 semanas antes. Ap�s terem sido reabastecidos com �gua e v�veres, estes navios juntaram-se � frota de Don Alonso B�zan. No dia seguinte, surgiram no horizonte os restantes 49 navios, sob o comando de Aparicio de Arteaga. Os espanh�is viam com des�nimo a sua armada semi-destru�da. Velas, cordame, provis�es, tudo se encontrava estragado ou avariado.



Entretanto, a bordo do Revenge fora colocada uma tripula��o mista de 70 homens, espanh�is e prisioneiros ingleses, comandada pelo capit�o basco Landagorrieta. Don Alonso de B�zan resolveu ent�o convocar, a 14 de Setembro de 1591, uma junta para se decidir o caminho a tomar:



- deveria a armada permanecer junto �s ilhas e aguardar a chegada das fragatas vindas de Havana, com ouro e prata a bordo, bem como a arribada das naus portuguesas da Carreira das �ndias, tal como fora instru�do por Filipe II?



- ou deveria a armada partir imediatamente para a Terceira, de modo a que os navios danificados pudessem sofrer as repara��es necess�rias para fazer face ��ltima etapa da jornada, e partir da� para o continente?



Foi decidido que a armada deveria cumprir o regimento r�gio, pelo menos at� � data limite imposta pelo soberano: 5 de Outubro de 1591. Assim, enquanto que junto �s Flores permaneciam algumas zabras e caravelas de sentinela, Don Alonso de B�zan partiu com o grosso da armada - 60 navios vindos da Nova Espanha e 36 da sua pr�pria frota - para a Terceira, onde tencionava permanecer at� � data acordada.



A tempestade



No entanto, o Homem p�e e Deus disp�e. No dia seguinte, pelo meio-dia, o vento come�ou a soprar rijo de nordeste. Crescendo em intensidade e rodando para norte, o vento assumia j� ao anoitecer caracter�sticas cicl�nicas e continuava a piorar pela noite dentro. Ao amanhecer, Don Alonso de B�zan descobriu que com ele apenas permaneciam 10 navios. Toda a sua frota estava dispersa algures entre as Flores e a Terceira. Na manh� desse dia afundou-se junto ao San Pablo o navio Espiritu Santu, de S�o Domingo, tendo-se salvo apenas 1 dos tripulantes.



Por 3 dias e 3 noites soprou o vento furiosamente, agora vindo de oeste. Impelido por ele, B�zan n�o conseguiu ancorar em Angra, onde parte da armada tinha conseguido chegar miraculosamente, s� conseguindo aportar � Praia, onde ancorou a 18 de Setembro. A�, abrigado no interior da ba�a, o San Pablo foi inspeccionado e reparado por mergulhadores espanh�is enquanto se tentou, debalde, desembarcar 100 soldados no areal da vila.



Pouco tempo depois, o vento cresceu em intensidade e obrigou B�zan a deixar a Praia e a correr com o tempo, ao largo da ilha Terceira. Simultaneamente, em Angra, a situa��o n�o tinha melhor aspecto. Fustigados pelo vento cicl�nico de noroeste, os navios viram as suas amarras romperem-se, uma a uma. Empurrados para o largo, muitos procuraram ref�gio em S�o Miguel. Nessa noite 2 dos gale�es de B�zan fizeram abalroamento.



Entretanto, o Revenge lutava futilmente contra as ondas, no que era acompanhado por Aramburu e Bertendona. B�zan acabou por n�o voltar � Terceira. Comandado pelos ventos, agora provindos de sudoeste, B�zan procurou ref�gio em Lisboa, onde se reuniu a maioria das embarca��es sobreviventes. As restantes foram sendo dispersas pelos portos de San Lucar de Barramena, C�diz, Set�bal, Porto, Vigo e mesmo Bayonne.



Em plena tempestade, os ingleses continuavam no corso. Assim, os marinheiros do capit�o Robert Flicke conseguiram saquear dois dos navios da Terra Firme, antes que estes se afundassem. Ao mesmo tempo, Manuel Paez, comandante do Ca�ada, um dos flibotes de Coutinho, recapturava um outro navio n�o conseguindo fazer o mesmo � Nuestra Se�ora de los Rem�dios que acabou por ser levada, como presa de corso, para o porto de Plymouth.



Os naufr�gios



De encontro � costa norte da Terceira desfizera-se a nau-capit�nia da frota mexicana, uma das mais ricas a afundar-se nesta tempestade.



A nau Santa Maria del Puerto afundou-se a menos de duas l�guas da Terceira, sendo abandonada pela sua tripula��o assim que a �gua no seu interior ultrapassou a capacidade de esgotamento das bombas.



O San Medel y C�ledon foi visto, pela �ltima vez, junto �s Formigas.



A nau Madalena, do esquadr�o de Urquiola, deu � costa na Terceira perdendo-se metade da sua tripula��o.



Um patacho do mesmo esquadr�o deu � costa na Graciosa, tendo-se salvo a artilharia e a tripula��o.



Uma outra nau, a Vego�a de Sevilla, do esquadr�o de Sancho Pardo, perdeu-se em mar alto, afogando-se cerca de 70 homens da sua tripula��o de 200.



Duas outras naus naufragaram junto ao Topo, em S�o Jorge, tendo-se salvo quase toda a tripula��o.



Junto a S�o Miguel naufragaram ainda duas naus das �ndias e um gale�o bisca�nho.



Quanto ao Revenge, deu � costa na Terceira, junto � Serreta num local asperissimo. Da sua tripula��o de emerg�ncia, apenas sobreviveu um homem, que morreu pouco tempo depois, dos ferimentos sofridos no naufr�gio.



Ainda nesse ano, Suarez de Salazar aconselhava o Rei a proceder ao salvamento das pe�as do Revenge. Entre 1592 e 1593, procedeu-se � recupera��o de 14 bocas de fogo, recorrendo-se a meios de recupera��o subaqu�tica ainda n�o totalmente esclarecidos. Para tr�s ficaram 7 pe�as que foram, em 1603, arrastadas por uma tempestade para uma profundidade menor, junto � costa, conforme o relatado pelo capit�o de artilharia Pedro de Lumbieras. No ano seguinte, foram dispendidos cerca de 500 ducados com a recupera��o dessas pe�as, essenciais para o suprimento da fortaleza de S�o Filipe. Quase 34 anos depois, a 4 de Julho de 1625, foram recuperadas outras duas pe�as. Para a tarefa, foi escolhido um artilheiro espanhol, Sebastiano Rivero, que participara j� nas anteriores recupera��es, tendo s� ele recuperado 18 canh�es. Uma destas pe�as era um meio canh�o de bronze, com cerca de 40 quintais - 2 toneladas - de peso.



Para saber mais:



Carta de Christov�o Soares de Albergaria ao Archiduque Alberto, 24 de Outubro de 1591, in Archivo dos A�ores, Vol. II, 1880, Ponta Delgada

Documenta��o do Arquivo General de Simancas, GA l. 326, d. 21, d. 29, d. 36, d. 44, d. 45, d. 57, d. 202, GA l.626, Consiglio de Guerra

BUSHNELL, G. (1936) Sir Richard Grenville, George G. Harp & Co., Ltd., London

EARLE, P. (1992) Sir Richard Grenville and the Revenge, Collins & Brown Limited, 1992

FALC�O, A. (1981) �Do Sucesso da Armada que foi �s Ilhas Terceiras no anno de 1591�, in Arquivo dos A�ores, vol. VI, Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada

LINSCHOOT, J.(1609) �Histoire de la Navigation�, Jean Evertz Cloppenburch, Amsterdam

MARTINEZ, R. (1988) �Las Armadas de Felipe II�, Editorial San Martin, Madrid

RALEIGH, W., A report of the trues of fight about the Isles of A�ores, the last of August 1591, betwixt the Revenge, one of her Majesties shippes, and an Armada of the King of Spaine, Separata da Revista Insulana, Ponta Delgada

ROWSE, A. (1937) �Sir Richard Grenville of the Revenge�, Jonathan Cape, Londres

TEIXEIRA, M. (1971) A batalha da ilha das Flores - Sir Richard Grenville e o Revenge, BIHIT vol. XXV-XXVI, Angra do Hero�smo

TENNYSON, A., (1971) The Revenge: a ballad of the fleet in Poems and Plays, Warren, Oxford

WIGNALL, S. (1971) �Progress Report on the Forthcoming �International Marine Archaeological Expedition� to the island of Terceira, Archipelago of the Azores� �, BIHIT vol. XXV-XXVI, Angra do Hero�smo





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