domingo, 1 de abril de 2012

VIAJANTES E PESQUISADORES ESTRANGEIROS QUE PESQUISARAM A AMAZÔNIA

BRASIL DOS
VIAJANTES
16
P. E. V A N Z O L I N I
A CONTRIBUIÇÃO
ZOOLÓGICA
DOS PRIMEIROS
NATURALISTAS
VIAJANTES
NO BRASIL
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um ponto de vista mais profissional.
Começo analisando brevemente o estado
da Zoologia como ciência no nosso período.
Por acordo unânime de seus praticantes, considera-
se que a Zoologia Sistemática como
disciplina começou com a publicação dos trabalhos
de Lineu no século XVIII, resumidos
e cristalizados na décima edição do Systema
Naturae, de 1758, e estendidos à décima segunda,
a última publicada em vida de Lineu.
O Systema, compendiando, de maneira
efetiva e original, toda a História Natural do
tempo, e implantando o sistema extremamente
prático da nomenclatura binominal, determinou
uma como que homogeneização do conhecimento
zoológico europeu e, assim, um
patamar para o progresso da ciência: bem delimitadas
as fronteiras do conhecido, tornavase
fácil cruzá-las pela simples exploração geográfica
de um mundo em boa parte por descobrir.
Assim o Systema Naturae, como toda obra
seminal, criou as condições para sua própria
ultrapassagem, e isso especialmente por intensa
atividade faunística, conjugada com a acelerada
exploração geográfica, envolvendo
muitas viagens de circunavegação no fim do
século XVIII e começo do XIX.
O primeiro quartel do século XIX viu o
início da exploração científica intensiva,
profissionalizada, do Novo Mundo (Papavero,
1971-73). No caso do Brasil, a entrada de
pesquisadores foi retardada pela política
exclusivista de Portugal (Vanzolini, 1981).
A fuga, porém, da família real portuguesa,
acossada pelos exércitos napoleônicos, para
o Brasil em 1810, tendo, como conseqüências
imediatas, a abertura dos portos e a vinda
de ponderável corpo diplomático, abriu o território
a pesquisadores europeus.
Em 1817 o príncipe herdeiro Dom Pedro
(mais tarde Primeiro) casou-se, por procuração,
com a arquiduquesa imperial da Áustria,
D. Leopoldina. Esta veio para o Brasil
em fins do mesmo ano, trazendo em seu
séquito uma boa comissão científica, selecionada
por E. Schreiber, diretor do Museu
de Viena (Ramirez, 1968). Esse evento
marca, tanto oficialmente quanto na realidade,
o início da atividade profissional
zoológica no Brasil. Antes de entrar, porém,
na história, há dois precursores a con-
1. INTRODUÇÃO
eu tema é a contribuição subs
tantiva dos primeiros viajan
tes científicos no Brasil para o
progresso da Zoologia, tanto
sob o aspecto faunístico quanto no campo da
sistemática acima do nível de espécie.
Considero substantivas as contribuições
intencionais e ponderáveis. Não incluo os
inúmeros naturalistas que fizeram coletas
incidentais, cujo navio escalou por alguns dias
na Bahia, no Rio de Janeiro ou em Florianópolis
– embora Darwin ele mesmo tenha
coletado uma espécie nova de lagarto no Rio.
Levo apenas em conta expedições projetadas
e realizadas com o fim precípuo de explorar
a fauna brasileira. Incluo apenas um naturalista
residente, Marcgrave, por ser o primeiro,
e o único pré-lineano. Deixo de incluir
outro residente, Lund, porque o tipo de informação
que obteve é sui generis, muito diferente
(e nisso vejo, aliás, muita grandeza) do
que resultava das expedições convencionais.
Lund, com Warming, Reinhardt e Winge, é
um fenômeno único, idiossincrático, que até
hoje não foi devidamente compreendido. Não
cabe em uma análise comparativa de sedimentação
de conhecimento.
Cinjo-me à zoologia de vertebrados. É este
o campo que se desenvolvia rapidamente ao
tempo dos viajantes cuja contribuição foi
significante. Assim, omito Wallace e Bates,
com suas esplêndidas coleções de insetos e
com suas idéias teóricas revolucionárias – que
não têm a ver com Zoologia propriamente
dita. Omito Auguste de Saint-Hilaire por ser
botânico; embora tenha tido grande visão
ecológica, e coletado um pouco, suas coleções
não tiveram personalidade suficiente
para causar impacto na profissão. Omito
d’Orbigny. Trabalhou próximo ao Brasil, mas
em outro contexto faunístico; é um autor
andino-patagônico, extratropical.
Por razões de certa forma análogas às
que causaram estas omissões, incluo duas
expedições de importância zoológica muito
pequena, a de Langsdorff e a de Agassiz.
Essas expedições adquiriram no meio leigo
importância tão desproporcional à sua contribuição
real que é útil examiná-las sob
M
P. E. VANZOLINI é
pesquisador e exdiretor
do Museu de
Zoologia da USP.
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siderar: Georg Marcgrave no século XVII e
Alexandre Rodrigues Ferreira no XVIII.
2. OS PRECURSORES
2.1. Georg Marcgrave
Marcgrave, ou Marcgraf, nascido na
Saxônia em 1610, veio para o Brasil em 1638,
participando do plano de governo de Maurício
de Nassau para o Brasil holandês. Veio
como astrônomo: para ele fez Maurício construir
o primeiro observatório do Novo Mundo.
Sua obra astronômica, dita considerável,
parece ter-se perdido na quase totalidade
(Taunay, 1942) – Marcgrave passou à posteridade
por seu trabalho, para ele mesmo aparentemente
secundário, de naturalista. Escreveu
um dos volumes de uma História Natural
do Brasil; o volume companheiro foi escrito
por Willem Pies (“Piso”). Marcgrave não
viveu para ver sua obra publicada; viajando
para a África a serviço, morreu em Angola
em 1644. O livro foi publicado por seu amigo,
o belga Johannes de Laet, sob o título
Historia Naturalis Brasiliae, em Leiden e
Amsterdã, em 1648.
É uma lista de animais (245 espécies de
vertebrados), contendo o nome vulgar em tupi
ou português, ou ambos, uma descrição ao
gosto da época e numerosas ilustrações.
Até o começo do século XIX os métodos
de preparação e armazenagem de exemplares
zoológicos estavam na infância, e as coleções
zoológicas constituíam-se em grande
parte de pinturas executadas, quando possível,
de modelos vivos. A publicação dessas
ilustrações era difícil e cara, e por isso nas
obras da época elas eram substituídas por
xilogravuras. No caso de Marcgrave, as ilustrações
constam de xilografias abertas na
Holanda, copiando originais a aquarela ou
óleo feitos no Brasil. Os originais são magníficos;
há debate sobre sua autoria (Taunay,
1942; Albertin, 1985). As xilografias, ao contrário,
são cruas. É de fato chocante o
constraste entre a gravura em talha doce,
opulenta e barroca, da página de rosto da
História Natural, e as xilografias, duras,
reminiscentes das ilustrações do século XV
(Febvre e Martin, 1992). Muitas delas, porém,
permitem identificação inequívoca, especialmente
nos casos em que os contornos
do corpo são característicos (por exemplo,
peixes – Günther, 1880).
Marcgrave era, como dito, astrônomo.
Embora tivesse estudado História Natural em
Rostock (Taunay, 1942) e fosse observador
minucioso, moderado e honesto, falta, como
óbvio para a época, caráter profissional ao
seu trabalho. Mesmo assim, este é bem superior
aos dos contemporâneos frei Christóvão
de Lisboa (livro composto de 1624 a 1627,
publicado em 1967), sobre fauna do Maranhão
e, especialmente, Zacharias Wagener (composto
de 1634 a 1641, publicado em 1964).
Este também foi funcionário de Maurício de
Nassau, era saxão como Marcgrave e escreveu
sobre a mesma fauna. Marcgrave, diz
Stresemann (1951, p. 36; 1975, p. 34), havia,
como viajante científico, adquirido
“imorredoura fama”. Sua sobrevivência, contudo,
deve-se unicamente a Lineu. Na décima
edição do Systema Naturae este incluiu
1.370 espécies de vertebrados: Marcgrave é
citado a respeito de 39 destas, 14 mamíferos,
15 aves, 2 répteis e 8 peixes. Em todos os
casos, menos dois, Marcgrave é citado entre
outros autores, inclusive o próprio Lineu, em
“Jaburu”,
xilogravura que
ilustra a Historia
naturalis Brasiliae de
Piso e Marcgrave
(Amsterdam/Leiden,
1648)
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2.2. Alexandre Rodrigues Ferreira
O segundo precursor, nascido em Salvador,
em 27 de abril de 1756, tomou ordens
menores “na muito baixa idade” (Tavares da
Silva, 1947) de 12 anos, mas imediatamente
abandonou a carreira eclesiástica, abraçando
as ciências naturais e doutorando-se, com
distinção, em Coimbra, sob a direção de
Domenico Vandelli.
Há indícios de que D. Maria I, rainha de
Portugal, ou alguém forte em seu governo
iluminista, gostava de História Natural e tinha
interesse na flora e fauna das colônias
(Pinto, 1979, p. 46). Provavelmente por um
encontro dessa inclinação com interesses
administrativos e diplomáticos (Moreira Neto,
1983), decidiu a corte portuguesa empreender
uma expedição ao Brasil. Alexandre foi
indicado pela universidade para chefiá-la.
Veio para o país no segundo semestre de 1783,
radicando-se em Belém do Pará.
Há diversas biografias de Alexandre (lista
em Goeldi, 1982). Apenas uma delas, porém
(Corrêa Filho, 1939), obra enfadonha por
entusiasta e sacarina, dá indicações claras,
confirmadas pelo Roteiro de Alexandre (1933
q.v.i.), sobre as funções desempenhadas pelo
naturalista no Pará, de outubro de 1783 a setembro
de 1784, quando partiu para o rio
Negro: teriam sido de técnico agrícola, como
que um extensionista de hoje, e de inspetor
geral do serviço público (“vogal nas Juntas
de Fazenda e de Justiça”, Pontes, 1858), sob
as ordens do governador João Pereira Caldas.
Nessas funções visitou a costa de Marajó fronteira
a Belém, a baía de Marajó e o baixo
Tocantins. Depois seguiu para o Amazonas e
Mato Grosso.
No que segue utilizo, resumidamente, um
estudo paralelo a este que fiz, especificamente,
do itinerário de Alexandre (Vanzolini, em
preparo). De acordo com seu Roteiro partiu
ele em 19 de setembro de 1784 para o rio
Negro. Fez uma viagem relativamente rápida
de Belém a Manaus (147 dias), com algumas
poucas digressões, na baía de Portel, no Xingu,
no Paru e no Tapajós.
No Amazonas fez base em Barcelos, capital
da capitania. Em uma primeira viagem subiu o
Negro até a pedra extrema de Cucuí, entrando,
trabalhos anteriores. Nos dois casos restantes,
porém, ele é a única autoridade citada, devendo
assim ser considerado responsável pelo
conceito lineano da espécie. São elas, o mamífero
Lepus brasiliensis (atualmente Sylvilagus,
família Leporidae), a lebre ou tapiti, e o peixe
Pleuronectes papillosus (agora Syacium), um
linguadinho da família Bothidae.
Depois disso Marcgrave caiu no olvido,
até que Lichtenstein (1818-26, 1961), descobrindo
os originais das ilustrações na Biblioteca
de Berlim, atualizou em um longo artigo
a identificação das espécies. Levando-se em
conta que as formas descritas por Marcgrave
são todas comuns, com nomes vulgares firmes,
e que as descrições são complementadas
por gravuras, compreende-se que nunca tenha
havido qualquer dúvida sobre a identidade
das espécies marcgravianas, especialmente
aquelas referidas por Lineu – as únicas de
importância prática. Assim, o trabalho de
Lichtenstein vale apenas por levantar do olvido
um acervo artisticamente notável. Depois
de Lichtenstein, Schneider (1938) apresentou
uma excelente nota crítica sobre as
estampas e identificou as aves.
Os originais das figuras da História Natural
foram vendidos (Rodolfo Garcia, 1922, p.
865) por Maurício de Nassau a seu parente
Friedrich Wilhelm, Grande Eleitor de
Brandemburgo, na biblioteca de quem foram
organizados pelo médico Christian Mentzel
em quatro volumes, Icones Aquatilium, Icones
Volatilium, Icones Animalium e Icones
Vegetabilium. Eventualmente foram parar
entre os Libri Picturati da Biblioteca de
Berlim, de onde foram apressadamente evacuados
durante a Segunda Guerra Mundial,
ficando desaparecidos por muitos anos, até
que em 1977 o ictiólogo Peter Whitehead
descobriu a coleção na Universidade
Jagelonsquiana, em Cracóvia. Uma editora
brasileira, Index, publicou em 1993 esse
Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae, sem
comentários científicos mas com uma história
da recuperação da obra. As figuras são
muito bem reproduzidas e têm grande valor
artístico. Zoologicamente, porém, como dito,
quase nada acrescentam, e praticamente não
estão comentadas. Uma discussão técnica dos
originais é apresentada por Albertin (1985).
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na ida, nos rios Uaupés, Içana e Xié e, na volta,
no Cauaburis, no Padauiri e no Aracá.
Entre parênteses, sempre me pareceu, a
julgar pelos itinerários e pelo andamento das
viagens, que Alexandre tinha, remando para
si, a fina flor da indiada. No entanto, Corrêa
Filho (1939) conta que por diversas vezes,
eespecialmente no Madeira, Alexandre teve
que enfrentar duros problemas (comuns nas
viagens longas) de motins e de deserção
maciça de remadores e mesmo de soldados.
A viagem seguinte foi ao vale do rio Branco,
subindo o Uraricoera (um dos formadores)
até um pouco além da Ilha de Maracá.
Subiu também o Maú, rio da fronteira
guianense, e fez uma viagem a pé pelo “lavrado”
de Roraima, a vasta extensão dos chamados
“campos do Rio Branco”, semelhantes a
cerrados (Vanzolini e Carvalho, 1991). Levou
na exploração do Branco 88 dias, voltando
a Barcelos em 3 de agosto de 1787.
Em agosto de 1787 mudou o teatro de suas
operações, de Barcelos para Vila Bela da
Santíssima Trindade, do Negro para o alto
Guaporé. Levou 378 dias de percurso, tendo
entrado por distâncias várias nos rios
Aripuanã, Araras (Arauá) e Manicoré.
De Vila Bela viajou por terra às lavras de
ouro da Serra de São Vicente e de Poconé e à
Chapada dos Guimarães. Essa empresa toda de
Mato Grosso tomou dois anos e cinco meses.
A viagem final de Alexandre foi de Cuiabá,
rio abaixo, até o Forte de Coimbra, com visita
à Caverna do Inferno, e regresso a Vila Bela
subindo o Jauru e levando ao todo 102 dias.
Verifica-se assim que fantástica experiência
de campo adquiriu Alexandre, homem
minucioso e perspicaz, ao longo de seis anos e
meio de viagem, dos quais pelo menos quatro
e meio passados efetivamente no campo, explorando
majoritariamente mata amazônica,
mas também uma certa medida de cerrado. As
coleções feitas, porém, não foram grandes.
Devemos aqui considerar o problema da
missão de Alexandre, que trato em mais detalhe
em outro artigo (Vanzolini, em preparo). O
atraente título “viagem filosófica” desde sempre
cativou as imaginações, e Alexandre é
geralmente considerado um pesquisador puro
desempenhando uma tarefa científica. Penso
diferente. Não tenho dúvida de que os objetivos
das viagens ao Negro e a Mato Grosso
eram antes administrativos e estratégicos, ligados
a questões de fronteiras e de produção
de ouro. O título de “philosophica” pode ter
sido em parte um disfarce, em parte complacência
com as inclinações de naturalista de
Alexandre, e provavelmente correspondia aos
intuitos iniciais da coroa portuguesa. Que tenha
havido intervenção de burocratas envolvidos
na administração direta do projeto (leia-se
João Pereira Caldas) é mais que provável. De
qualquer maneira, é fato que, durante as viagens,
Alexandre coletava e mandava desenhar
animais, por seus dois “riscadores”, José Joaquim
Freire e Joaquim José Codina, ambos
razoavelmente competentes.
É óbvio que Alexandre tinha recebido
instruções de duas ordens, política e técnica.
Sobre a primeira já comentei que fica para
Joaquim Freire
ou José Codina,
“Crocodilu”,
desenho aquarelado
sobre papel,
Fundação Biblioteca
Nacional,
Rio de Janeiro
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outro artigo (Vanzolini, em preparo). Sobre a
parte técnica há uma interessantíssima nota
(Mendes, 1946).
As instruções iniciam-se com o que fazer
durante a viagem marítima. Os oito primeiros
dias (a viagem durava dois meses) seriam
de feriado, para acomodação geral, inclusive
com o enjôo. Depois disso deveriam os expedicionários
dedicar-se à coleta de peixes
marinhos, identificando-os (“reduzindo”) e
desenhando-os. Também, considerando-se o
alto investimento da coroa em artes de pesca
(linhas, anzóis, etc.), os peixes não poderiam
ser desperdiçados, mas sim preparados e conservados
para o Real Gabinete.
No caso das viagens por terra (após um
mês e meio, início de férias para
reacomodação) tudo era estritamente previsto
e prescrito: a ordem de marcha (os pretos
e índios na frente, para absorverem ataques
inesperados), o horário e a qualidade das refeições,
o tipo de camas e colchões, etc.
Corrêa Filho (1939) diz que essas instruções,
de que viu um manuscrito não assinado,
são de autoria do próprio Alexandre. Eu duvido
de que um brasileiro nato, homem de
bom senso comprovado, prescrevesse para
seu próprio uso, em tão impiedoso detalhe, a
vida quotidiana de uma expedição de muitas
dezenas de índios e vaqueanos no meio de
nenhures. Prefiro crer na velha e honrada tradição
luso-brasileira de burrice burocrática,
interferindo pela primeira vez, mas certamente
não pela última, na profissão científica.
As prescrições sobre a feitura e manutenção
de diários de campo são também detalhadas
e, no geral, sensatas, se bem que ocasionalmente
difíceis de entender: “denotar huma
Carta Geographica do Paíz em que venhão
marcados com sinais chimicos os diferentes
minerais e fosseis [...] os habitantes, seus
costumes e sua Religião [...] não omitir lugar
nenhum beira mar [...]” (Mendes, 1946).
Os materiais coletados eram, na medida
das possibilidades, despachados para Lisboa,
para o Museu da Ajuda.
Nesse mesmo museu passou Alexandre,
de volta a Portugal em 1793, a trabalhar como
pesquisador, depois de breve período como
oficial administrativo. Sua coleção brasileira,
apesar dos anos passados no campo, não era
grande. Isso se explica não só por causa das
outras funções desempenhadas por ele, mas
também pelas próprias limitações da zoologia
da época. A ênfase tinha obrigatoriamente que
ser posta em peles de mamíferos de tamanho
médio, cascos de tartarugas e peças que tais,
exigindo pouca delicadeza no preparo e permitindo
conservação por via seca.
Relatam os biógrafos que, em Lisboa, Alexandre
entrou em progressiva depressão (“fatal
melancolia”, Pontes, 1858) e que dela faleceu
em 1815. O único biógrafo que tentou
explicar essa enfermidade foi Corrêa Filho
(1939), e não concordo inteiramente com ele.
Alexandre, mostram seus manuscritos
remanescentes, planejava publicar sobre todas
as suas coleções e apontamentos de campo,
zoológicos e etnográficos. O ambiente
científico em Portugal era, na época, muito
ruim. Com exceção do grande e completo (e
muito posterior) José Vicente Barboza du
Bocage (1857-1901), nenhum zoólogo português
de relevo jamais se ocupou da fauna
das colônias. O próprio museu era deficiente
quanto a coleções e biblioteca. Corrêa Filho
(1939, p. 154) dá para as coleções 96 mamíferos,
1.250 aves (96 do Brasil) e 1.230 peixes.
A biblioteca contava com 307 volumes,
boa parte dos quais (loc. cit.) de história e
literatura. Alexandre lutava para empreender
seus estudos, que andavam devagar. Encontram-
se na literatura também várias insinuações
de que Alexandre teria vida difícil no
museu, sofrendo inclusive sabotagem de seus
materiais, por inimizade de um colega. Este
poderia ter sido o próprio Vandelli (Pires de
Lima, 1953, p. 29).
No ano de 1808, os exércitos napoleônicos,
comandados por Junot, invadiram Portugal.
Como de costume, acompanhavam o
exército alguns savants franceses, encarregados
da rapina cultural do país derrotado.
Etienne Geoffroy Saint-Hilaire foi o zoólogo
que saqueou a Ajuda. (A Grande
Encyclopédie Larousse diz que em 1808
Etienne foi encarregado de uma mission
scientifique en Espagne et en Portugal.)
Os franceses ao tempo tentavam cobrir
com um véu diáfano de legalidade a nudez
crua da expropriação: era celebrado um “tratado”,
trocadas cartas de intenção, dadas exR
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plicações, passados recibos e mesmo
fornecidas duplicatas do Museu de Paris em
troca de doações “voluntárias”, merecendo
assim a admiração dos próprios saqueados
(Appel, 1987, p. 92; bárbara coragem ou santa
ingenuidade?). De fato, às vezes, a manobra
aparentemente funcionava, e os rapinantes
acabavam mesmo elogiados por sua moderação
e civilidade (Silva Carvalho, 1930, p. 903).
Neiva (1929, p. 16) transcreve a ordem de
serviço do duque de Abrantes, comandante
do exército português, autorizando o museu a
retirar das coleções e encaixotar para transporte
à França 65 espécies (384 exemplares)
de mamíferos, 238 (384) de aves, 25 (32) de
répteis e 89 (100) de peixes . Existe um caso
idêntico, bem documentado, na literatura: o
saque “legalizado” das coleções do Stadholter
Guilherme V da Holanda em 1795
(Boeseman, 1930; Pieters, 1980). Para não
falar no fantástico saque das antigüidades e
história natural do Egito, pelo mesmo
Napoleão Bonaparte e seus savants. Mas aí
era um país de pretos.
No fim, o material terminava em Paris,
bem estudado mas conservado em um museu
não muito melhor que a Ajuda, em termos de
curadoria.
Até o fim da vida, Etienne Geoffroy Saint-
Hilaire referia-se, com evidentes orgulho e
satisfação, a “mon voyage de 1808 au Portugal”,
do mesmo jeito por que um zoólogo
brasileiro poderia referir-se a “minha viagem
a Marajó em 1958” – uma maravilhosa oportunidade
de coleta. O mesmo orgulho e satisfação
revelava o filho e sucessor, Isidore
Geoffroy. Foi de fato uma bela excursão,
barata e proveitosa.
Não há propósito, a esta altura, em esmiuçar
mais este mesquinho episódio, mas deve-se notar
que há outros exemplos. Schweigger (1812, p.
302), descrevendo a nova espécie Emys
geoffroana (hoje Phrynops) diz: “Vidi specimen
in museo Parisiensi, quod ill. Geoffroy Lisbonae
in museo regio collegerat”. Gervais (1855b, p.
90) menciona o exemplar trazido de Lisboa que
servia de tipo para Inia geoffrensis, o boto branco
ou malhado da Amazônia, originalmente
coletado por Alexandre.
Assim, em vez de Alexandre publicar o
resultado de suas pesquisas (isto é, à maneira
da época, as espécies novas), as novidades
foram descritas pelos dois Saint-Hilaire e por
Anselme Gaetan Desmarest. Diz E. Geoffroy
Saint-Hilaire (1809a) terem sido levados da
Ajuda 66 mamíferos e 275 aves; a discrepância
entre esta lista e a de Neiva (1929) é pequena,
explicável pelas circunstâncias e pela
competência das duas instituições envolvidas.
Nem tudo, porém, era do Brasil: havia
outras colônias no meio. No Catalogue
Méthodique da coleção de mamíferos de Paris
(I. Geoffroy Saint-Hilaire, 1851) encontramos
18 espécies de macacos como originárias
da famosa viagem de 1808. As seguintes
são baseadas em exemplares provavelmente
coletados por Alexandre (sinonímia de
acordo com Groves, 1993): 1) Saimiri ustus
I. Geoffroy, 1843; 2) Cebus cirrifer E.
Geoffroy, 1812 = C. apella (L., 1758); 3)
Cebus flavus E. Geoffroy, 1812 = C. albifrons
(Humboldt, 1812); 4) Ateles marginatus E.
Geoffroy, 1812; 5) Lagothrix canus E.
Geoffroy, 1812 = L. lagothricha (Humboldt,
1812); 6) Pithecia monachus E. Geoffroy,
1812; 7) Jacchus humeralifer E. Geoffroy,
1812 = Callithrix humeralifer; 8) Jacchus
melanurus E. Geoffroy, 1812 = Callithrix
argentata (L., 1771); 9) Midas labiatus E.
Geoffroy, 1812 = Saguinus labiatus.
Assim, a influência do primeiro naturalista
profissional brasileiro no progresso da
zoologia pátria foi defletida, passou a indireta,
limitada a um único grupo (Primates) e
trazendo em si uma história das mais repugnantes.
O verdadeiro zoólogo não tem a paixão
aguda da novidade. Seu serviço consiste
na construção de sistemas simples e lógicos,
em que as espécies se insiram com naturalidade
e se expliquem mutuamente, dentro de
um contexto ecológico e geográfico. Ver esse
projeto frustrado, à vista da conclusão, é (pensando
como zoólogo) causa suficiente para
“melancolia fatal”, declínio, misantropia e
morte prematura. Essa é a opinião de Corrêa
Filho (1939) e também foi a minha, até que o
livro de Pires de Lima (1953) atraiu minha
atenção para algumas pistas contidas na literatura,
sobre problemas médicos anteriores
de Alexandre, indicando que a questão não
era tão simples.
Em uma carta de 30 de junho de 1784,
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escrita em Belém, a Martinho de Souza e
Albuquerque (Pires de Lima, 1953, pp. 129-
32), conta Alexandre seus sintomas (“novela
que diverte a quem ouve porém aflige a quem
figura nella”).
“No parecer do Médico do hospital eu não
tinha outra coisa mais que melancholia:
pelo vóto do Commissario delegado do
Proto-Medicáto eu padesso huma
cardialgia histerica. [...] No entanto em
toda a cidade, pela qual se espalhou que
eu não tinha mais que melancholia hum
me há tido por scismático, outro por
melancholico, e alguns por pateta [...]”.
Durante as viagens queixa-se Alexandre
continuamente da saúde. A visita à serra dos
Cristais, no Rio Branco, havia sido penosa (Pires
de Lima, 1953, p. 60). A subida do Madeira
e do Guaporé, que durara 13 meses e 18 dias,
havia sido muito mais dura ainda; um dos expedicionários
morrera ao chegar a Vila Bela
(Pires de Lima, 1953, pp. 77-8). A visita à Gruta
das Onças, em Mato Grosso, resultara em um
longo período de enfermidade para Alexandre
(Pires de Lima, 1953, p. 85).
Parece provável, que, ao longo da vida,
tenha sofrido Alexandre de uma síndrome de
depressão, talvez de pânico. O peso do trauma
de 1808 sobre um organismo com tal passado
psiquiátrico e tanto depauperamento
orgânico deve ter sido com certeza suficiente
para desorganizar a sua psique e levá-lo ao
alcoolismo e entrevecimento (Pires de Lima,
1953, pp. 22 e 32). O detalhe do alcoolismo
realça a relevância da síndrome suspeitada
(Lotufo-Neto e Gentil, 1994).
Essa passagem, relatada concisa e dignamente
por Pires de Lima (1953), vem sendo
cuidadosamente omitida, obviamente por
delicadeza, por todos que escrevem sobre
Alexandre. Acho um erro. A condição humana
não é vergonha; a verdade que não revela
desonestidade não enfeia.
2.2.1. Alexandre Rodrigues
Ferreira como zoólogo
A auto-imagem de Alexandre era a de
qualquer sistemata em qualquer tempo: “essa
leve tintura que tenho de alguns Estudos
Naturaes” (Pires de Lima, 1953, p. 220), ou
seja, ele sabe que não sabe nada – e que os
colegas sabem menos.
Alexandre obviamente não tinha inclinação
para a Ecologia. Passando pelos lugares
por onde passou, vendo as paisagens que viu,
não tomou uma nota ecológica sequer. Deve
ser antes julgado como sistemata, profissão
em que não havia sido treinado (Vandelli era
muito medíocre), mas para a qual o inclinava
seu espírito meticuloso de alistador emérito
(inclusive de alfaias de igreja).
Muito da mitologia que cerca Alexandre,
obviamente encorajada pelas peculiaridades
étnicas e pelos infortúnios da carreira,
concerne seu valor como cientista. É ele
comumente considerado um gênio frustrado;
não conheço, porém, uma avaliação fria de
sua qualidade profissional. As pistas que temos
para fazê-lo são quatro artigos publicados
postumamente e, menos diretamente, a
coleção de estampas publicada pelo Conselho
Federal de Cultura em 1971 sob o título
Viagem Filosófica.
Três artigos, publicados em 1903 nos
Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro
(Rodrigues Ferreira, 1903 a-c), com
notas de rodapé de Alipio de Miranda Ribeiro,
são de pouca importância.
“Sobre o Peixe Pirá-urucu”: curiosamente,
uma descrição formal em latim, modelo lineano,
enxuta, razoável, sem proposta de nome.
“Sobre o Peixe Boy”: tem muito pouco
conteúdo zoológico, mas mostra um aspecto
interessante: ao lado dos usuais comentários,
feitos por todos os viajantes, sobre tamanho,
amamentação e distribuição geográfica, revela
uma preocupação objetiva (característica
de Alexandre) com a conservação da espécie,
em si e como recurso natural desfrutável.
“Sobre a Yurara-reté”: esta é Podocnemis
expansa, a tartaruga por excelência da Amazônia,
e Alexandre fez com ela o que nenhum
viajante jamais deixou de fazer: descreveu a
desova, a pesca e o aproveitamento dos ovos.
Mas, além disso, também caracteristicamente,
deu os primeiros dados estatísticos que se
têm da espécie.
“As Pranchas de Animais”: o Conselho
Federal de Cultura publicou excelentes reR
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algumas notórias: a ema (Rhea americana,
Rheidae), o nhambu-chintã (Crypturellus
tataupa, Tinamidae), a perdiz (Rhynchotus
rufescens, Tinamidae), a tachã (Chauna
torquata, Anhimidae) e a seriema (Cariama
cristata, Cariamidae). Entre os mamíferos, o
sagüi Callithrix penicillata (Callithrichidae)
e o lobo guará (Chrysocyon brachyurus,
Canidae). Nove espécies em 115: Alexandre
andou por Mato Grosso, mas não coletou
muito. Outras coisas terá feito.
Quanto à execução, as estampas são no geral
de valor mediano. Há algumas muito boas (especialmente
peixes), outras muito ruins: a do
lobo guará, justamente uma das espécies roubadas
de Alexandre, é simplesmente horrível. O
tatu-peba está mal desenhado e mal identificado
(tanto nas estampas quanto na Explicação do
Conselho Federal de Cultura): não é um peba,
é um galinha – Dasypus e não Euphractus.
produções de 147 pranchas da coleção de
Alexandre (Rodrigues Ferreira, 1971). Muitas
têm duas figuras, macho e fêmea da espécie
ou espécies diferentes. Acompanham um
prefácio e uma introdução, ambos um tanto
anêmicos, e uma “Explicação das Estampas”,
que consta apenas de uma lista, não comentada,
de identificações e distribuições geográficas
generalizadas.
Como projeto de ilustração faunística a
escolha das espécies é, no geral, muito razoável:
Alexandre, afinal, era um zoólogo. De
mamíferos são representadas 50 espécies: 1
marsupial, 16 macacos, 5 xenartros, 12 carnívoros,
o peixe-boi, 3 ungulados, 10 roedores
e 2 cetáceos (os botos de água doce). Sentese
falta apenas de morcegos. Nas aves (50
espécies), 29 famílias estão representadas, das
73 possíveis; a distribuição é muito boa. A
representação dos répteis é muito fraca: são
animais que na maioria se conservam por via
úmida. São citados 3 lagartos, 1 anfisbênio, 1
jacaré e 5 quelônios, incluindo um exemplar
bicéfalo de tracajá (Podocnemis unifilis,
Pelomedusidae). Não há nenhum anfíbio (de
novo o problema da conservação em álcool).
Há 58 espécies de peixes fluviais e 7 de peixes
marinhos. Os invertebrados, na maneira
da época, são representados por 4 insetos (incluindo
larvas e um ninho de vespas), um
quilópodo e um molusco (o turu, Teredinidae).
Cabe aqui uma indagação sobre a procedência
geográfica dos exemplares, não
explicitada nas figuras e não registrada no
Museu da Ajuda. Em um trabalho paralelo a
este, sobre as viagens de Alexandre
(Vanzolini, em preparo), eu me perguntava
sobre a verdadeira missão do naturalista: era
a intenção “filosófica” real e primacial, ou,
pelo menos em parte, pretexto e disfarce para
outras atividades, administrativas e diplomáticas.
A lista de animais permite uma verificação
indireta. Alexandre demorou 29 meses
em Mato Grosso: o que e quanto teria coletado
aí? Há na lista de animais 9 espécies que
são decididamente extra-amazônicas, restritas
a formações abertas – no caso, o cerrado.
Entre os répteis, o lagarto Hoplocercus
spinosus (Hoplocercidae), o conhecido
cuviara, e a sucuri da bacia do Paraguai,
Eunectes notaeus (Boidae). Entre as aves há
Prinz Maximilian
zu Wied-Neuwied,
“Capitão Bento
Lourenzo Vas de
Abreu Lima”,
aquarela sobre
papel (1816),
Brasilien Bibliothek
der Robert Bosch
Gmebtt, Sttutgart
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Muitos dos desenhos de aves são de exemplares
obviamente taxidermizados, dobrados e
comprimidos. Não fazem boa ilustração. Finalmente,
alguns exemplares de aves e mamíferos
são representados recém-atirados, o que é indicado
por delicados sangramentos, que, na realidade,
dão um certo encanto perverso.
Todas as pranchas, porém, permitem a
pronta identificação das espécies; nesse campo
nada ficam a dever às similares européias
da época, e confirmam o status normalmente
profissional de Alexandre Rodrigues Ferreira.
“Os mammaes”: a grande monografia de
Alexandre, sobre os mamíferos “dos três rios”,
Amazonas, Negro e Madeira, foi publicada em
1934 pelo Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia, de forma pura e seca, como se fosse
obra contemporânea, sem um comentário sequer
de natureza técnica. Carvalho (1965)
publicou um comentário, não só sobre esta
monografia, mas sobre toda a informação
mastozoológica de Alexandre, inclusive manuscritos
e estampas então inéditos da Biblioteca
Nacional. Esses comentários cingem-se
unicamente às identificações, que aparecem
uniformemente boas. É, porém, possível ir um
pouco mais a fundo. Da leitura da monografia
entende-se bem que Alexandre tinha bom domínio
da literatura contemporânea e que encarava
os problemas de identificação e de descrição
com adequado espírito crítico. Suas descrições
são profissionais, dentro do padrão comum
da época, concentrando-se em feições
morfológicas salientes (número de dígitos, presença
ou ausência de barba) e no colorido. São
descrições comparáveis às de Etienne Geoffroy,
o grande beneficiário das coletas de Alexandre.
Goeldi (1895, 1982), que não gostava de
brasileiros, disse que a produção científica de
Alexandre é “de pequeno calado científico”.
Como discutido acima, não concordo com
essa avaliação: antes a aplicaria à produção
do próprio Goeldi, operoso mas irremediavelmente
medíocre.
Não têm tampouco valor nenhum para
mim afirmações do tipo de que os bichos de
Alexandre acabaram por ter ficado melhor
em Paris do que em Lisboa, por terem caído
assim nas mãos de cientistas mais preparados
e melhor equipados (Pinto, 1979, p. 57). Não
tenho dúvida, repito, de que Alexandre teria
feito um trabalho pelo menos tão bom quanto
o de Saint-Hilaire, levando ainda sobre este a
vantagem de ser um homem de bem.
Uma consideração final sobre Alexandre
como zoólogo diz respeito à etiquetagem dos
exemplares e à catalogação na Ajuda. A primeira
metade do século XIX foi o tempo do
início do alerta quanto aos registros de procedência
dos exemplares de museu. Foram exatamente
os grandes zoólogos de campo, Wied,
Spix, Natterer, Castelnau, que primeiro compreenderam
a natureza e a problemática da
distribuição geográfica dos animais, e que
primeiro se ocuparam em documentar a procedência
dos bichos coletados, etiquetandoos
individualmente. Essa preocupação demorou
ainda um pouco para atingir os gabinetes
dos museus, e catálogos de coleção em ordem
só aparecem uma geração mais tarde.
Há, porém, evidência publicada de que
Alexandre de alguma maneira etiquetava seu
material. Na relação (Pires de Lima, 1953) da
oitava e última remessa do Negro, expedida
da foz do Madeira em 11 de setembro de 1788,
lê-se, a respeito do material enviado em frascos:
“Numero das contas que levão os
Productos, pelas quaes, se saberão os nomes,
que lhes correspondem”. Cada frasco tem sua
seqüência própria; fica claro que Alexandre
não mantinha um catálogo geral, mas se ocupava
de cada unidade de remessa (caixão,
frasco, etc.) individualmente.
Essa etiquetagem perdeu-se. Há comentários
(Pires de Lima, 1953, p. 33; Tavares da
Silva, 1947, p. 165) sobre sabotagem na Ajuda,
havendo suspeitas, mas não revelações,
sobre os eventuais criminosos. Contudo,
mesmo que essa informação tivesse sobrevivido,
seria de pouca utilidade, pois referia-se
apenas ao nome vulgar do bicho e à estação
de embarque (“Barcellos”, “Rio Negro”, etc.).
Essa própria informação, no caso da Ajuda,
nem sempre é firme. Há, por exemplo, na
coleção atribuída a Alexandre (J. Bethencourt
Ferreira, 1923) um exemplar de Caiman
latirostris, identificado por Bocage e, portanto,
provavelmente certo, que não ocorre em
nenhuma região onde Alexandre tenha estado.
Quer-me parecer que, com a descrição dos
macacos e com a publicação dos “Mammaes”
e das pranchas, encerrou-se um ciclo de aproR
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veitamento dos trabalhos de Alexandre
Rodrigues Ferreira. Os exemplares e estampas
estão esgotados, e resta apenas a exegese
dos textos, até hoje muito mal aproveitados.
2.2.1.1. As remessas
de Alexandre
Pires de Lima (1953) publicou diversas
listas de remessa de animais enviados por
Alexandre a Lisboa. Contêm elas algumas
espécies que, a julgar pelos nomes vulgares,
não foram incluídas na Viagem Filosófica de
1971. Essas listas ampliam, portanto, a dimensão
das coleções de Alexandre. Um único
caveat é que os nomes vulgares devem ser
interpretados. Isto é, contudo, bem menos
difícil do que parece: os nomes de espécies
comuns são firmes e têm vida longa, especialmente
na Amazônia. No caso de Alexandre
é possível ainda verificar sua aplicabilidade
na comparação com as figuras da Viagem,
facilmente identificáveis. No que segue apresento
uma lista das formas (“productos”) alistados
nas remessas, com a minha interpretação.
Esta se baseia primeiramente em experiência
pessoal de cerca de cinqüenta anos de
coleta na Amazônia; em alguns casos, devidamente
anotados, recorri à literatura, seja
aos catálogos sistemáticos (Pinto, 1938, 1944;
Vieira, 1955), seja a obras lingüísticas
(Martius; 1867; Tastevin, 1923a-c).
Não usei os nomes vulgares constantes da
lista final da Viagem Filosófica (Rodrigues
Ferreira, 1971) porque certamente são devidos
a quem identificou as estampas, não a
Alexandre; ele dificilmente usaria o nome
vulgar “mabuia” (p. l60). Também contém essa
lista erros que Alexandre não cometeria: por
exemplo, chamar de “curimbatá” uma espécie
de Curimatus, à qual se aplica no Brasil inteiro
o nome “saguiru”, sendo curimbatá universal
para o gênero Prochilodus.
Peixes
Acará: os peixes pequenos da família
Cichlidae; em geral com um qualificativo (por
exemplo, acará-doido).
Acari: os cascudos da família Loricariidae.
Anujá: os bagres da família
Trachycoristidae.
Arauanã: Osteoglossum bicirrhosum, família
Osteoglossidae; também aruanã.
Curumará: Lepidosiren paradoxa, família
Lepidosirenidae (Martius, 1867, p. 447)
Jeraqui: Prochilodus brama, família
Prochilodontidae; hoje jaraqui.
Jundihá: bagres pequenos e médios da
família Pimelodidae, especialmente do gênero
Rhamdia; também jandiá.
Mandué: bagres da família Ageneiosidae;
mais freqüentemente mandubé.
Mussi (= Mussum): Synbranchus
marmoratus, família Synbranchidae.
Pirá-catimbau: Tastevin (1923c, p. 726)
em sua clássica monografia sobre o tupi da
Amazônia, incluindo nomes de bichos e plantas,
oferece a variante pirá-caximbu; os dicionários
modernos de fato dão que caximbu é
um cachimbo usado no catimbó. Pensa-se,
portanto, em acari-cachimbo, nome aplicado
a diversas espécies de cascudos (Loricariidae)
de cabeça comprida e afilada; entre as pranchas
da Viagem há a figura de uma Farlowella,
um dos acaris-cachimbo.
Pirá-manha: “Manha” (mãe) é o protetor
sobrenatural de cada animal (Tastevin,
1923b, p. 628). “Pirá” é peixe. Mais não pude
averiguar.
Puraquê: Electrophorus electricus, peixe
elétrico, família Electrophoridae.
Surubim: os bagres grandes da família
Pimelodidae, subfamília Sorubiminae.
Tarayraboya (erroneamente alistada como
serpente): Lepidosiren paradoxa, família
Lepidosirenidae; dita também trairambóia,
mais conhecida hoje como pirambóia.
Tareyra: peixes do gênero Hoplias, família
Erythrinidae (traíra).
Tucunaré: espécies grandes do gênero
Cichla, família Cichlidae.
Uacary: o mesmo que acari.
Uacary pucu: cascudo não identificado;
“pucu” quer dizer comprido (Tastevin, 1923b,
p. 655; Martius, 1867, p. 85). Poderia ser uma
das espécies grandes de Loricariidae, por
exemplo do gênero Pterygoplichthys.
Yacundá piranga: “yacundá” (= jacundá)
aplica-se às espécies de Crenicichla (família
Cichlidae); “piranga” quer dizer “vermelho
encarnado” (Tastevin, 1923b, p. 653); não
identifiquei a espécie.
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Anfíbios
Aru: Pipa pipa, família Pipidae.
Boya assica (erroneamente alistada como
serpente) = boiacica, nome dado na Amazônia
às espécies de gimnofionos, especialmente
do gênero Siphonops.
Cururu: sapos do gênero Bufo, especialmente
na Amazônia Bufo marinus, família
Bufonidae.
Cutaca: qualquer anuro pequeno; o equivalente
de perereca.
Répteis: Testudines
Cabeçudo: Peltocephalus dumerilianus,
família Pelomedusidae.
Jabutim: quelônios do gênero Geochelone,
família Testudinidae; na Amazônia ocorrem
G. denticulata e G. carbonaria; a pronúncia
corrente é jaboti.
Jabutim juruparigê: Platemys
platycephala (Mittermeier, Medem &
Rhodin, 1980).
Jabutim muritinga: não identificado.
Martius (1867, p. 72) diz que “morotinga” é
coisa branca.
Matamatá: Chelus fimbriatus, família
Chelidae.
Muntaumatá (= matamatá, v.s.): Alexandre
dá uma boa diagnose em latim.
Pituí (= pitiú), tartaruga-de-cheiro:
Podocnemis sextubercu-lata, família
Pelomedusidae.
Tartaruga grande: Podocnemis expansa,
família Pelomedusidae.
Uirapequê: Podocnemis erythrocephala,
família Pelomedusidae; pronúncia corrente
irapuca.
Répteis: Crocodylia
Jacaretinga: Caiman crocodilus, família
Alligatoridae.
Répteis: Sauria
Jacuraru: na Amazônia, lagartos do gênero
Tupinambis, família Teiidae.
Répteis: Serpentes
Acutiboya: hoje se aplica a Oxybelis
aeneus, família Colubridae. Martius (1867,
p. 434), contanto, explica: “qui Cutiae
insidiatur”, aquele que embosca a cotia, o
que não se aplica a Oxybelis, que se alimenta
de lagartos e de pequenos anfíbios.
Araraboya: Boa canina, família Boidae.
Boya assica: engano; ver Anfíbios.
Boya membeca: não identificada; “boya”
é cobra; “membeca” quer dizer, ainda hoje,
“mole”; possivelmente um gimnofiono, como
boiacica, ou um peixe-ápodo.
Boya pinima: não identificada; “pinima”
quer dizer pintada; possivelmente uma cobra-
coral (q.v.i.), embora este nome seja explicitamente
usado por Alexandre. Martius
(1867, p. 440) diz “Boi-pinima, Boya pinima
i.e. pictus. Elaps”.
Cobra de coral: serpentes das famílias
Aniliidae, Colubridae e Elapidae com um
padrão mimético de anéis pretos, brancos e
vermelhos; numerosas espécies amazônicas.
Cujubi boya: não identificada; cujubi é
uma ave (q.v.).
Cururu boya: serpente que come sapocururu
(Martius, 1867, p. 447). No sul do
Brasil aplicado às vezes a Waglerophis
merremii, família Colubridae (mais conhecida
por boipeva). Na Amazônia possivelmente
se refira a uma espécie de Xenodon ou a
Hydrodynastes gigas, todas da família
Colubridae.
Giboya: Boa constrictor, família Boidae.
Jararaca: Bothrops atrox, família
Viperidae.
Parauá boya: Bothrops bilineatus, família
Viperidae; o nome tupi não sobrevive, mas
sobrevive sua tradução cobra-papagaia
(Martius, 1867, p. 467, “serpens colore
variegatus Psittaci”).
Purunupàa-boya: possivelmente a jibóia,
Boa constrictor, família Boidae (Tastevin,
1923c, p. 742).
Sacahyboya: diversas serpentes ágeis da
família Colubridae, que se diz açoitarem as
pessoas (“surradeiras” – já em Tastevin, 1923,
passim).
Sucuruju: Eunectes murinus, família
Boidae.
Tarayraboya: engano, é um peixe, q.v.
Aves
Acurao: aves das famílias Nyctibiidae e
Caprimulgidae; equivalente a bacurau.
Andorinha ou muriny: nome genérico para
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as aves da família Hirundinidae,
freqüentemente mal aplicado a outras aves de
vôo semelhante.
Antim-antim ou gaivota: Tastevin (1923c,
p. 693) tem átianti, gaivota; Martius (1867,
p. 439) tem “atyaty , Larus, gaivota dos portugueses”.
Na Amazônia aplica-se a Phaetusa
simplex e Sterna superciliaris, família
Laridae.
Anum: gênero Crotophaga, família
Cuculidae.
Araçari: tucanos pequenos dos gêneros
Pteroglossus e Selenidera, família
Ramphastidae.
Arapaçu: designação coletiva dos passarinhos
da família Dendrocolaptidae.
Arara: Psittacídeos grandes dos gêneros
Anodorhynchus e Ara.
Arara encarnada: Ara macao, família
Psittacidae.
Auapé assoca: Jacana jacana, família
Jacanidae (Martius, 1867, p. 435,
aquapeaçoca).
Caracaraí: Daptrius ater, família
Falconidae (Pinto, 1938).
Carará: Anhinga anhinga, família
Anhingidae.
Corica (= curica): papagaios pequenos do
gênero Amazona, família Psittacidae. O nome
quer dizer rouco (Martius, 1867, p. 135, ajurucurica).
Coroca: Crotophaga major, família
Cuculidae. Também anu-coroca.
Cujubim: Pipile pipile, família Cracidae.
Galo da serra: Rupicola rupicola, família
Cotingidae.
Garça: espécies brancas e cinzentas da
família Ardeidae.
Gavião: aves das famílias Accipitridae e
Falconidae.
Ierena ou corta-água: família
Rynchopidae (Pinto, 1938).
Inambu toró: Tinamus major, família
Tinamidae.
Itaã (= itã): alistada como ave; conheço
apenas como molusco bivalvo fluvial.
Jacamim: gênero Psophias, família
Psophiidae; há na Amazônia três espécies.
Japiim: aves do gênero Cacicus, família
Icteridae; há na Amazônia duas espécies.
Macucaua: tinamídeos da mata, principalmente
do gênero Crypturellus, mas também
Tinamus.
Maguary: Ardea cocoi, família Ardeidae.
Massarico: designação genérica para a
família Charadriidae.
Murucututu: corujas grandes do gênero
Pulsatrix, família Strigidae.
Mutum: gênero Crax, família Cracidae;
três espécies na Amazônia.
Papagaio corica: ver Corica.
Parauá: papagaios, Psittacidae de tamanho
médio.
Parauá-hy: Psittacidae do gênero Pionus
(Pinto, 1938, p. 212, tem a leitura errada
“paraná-i”).
Pavão: termo aplicado a diversas aves
vistosas; geralmente acompanhado de um
determinativo (por exemplo, pavão-do-pará).
Pequi (= Ipequi): Heliornis fulica, família
Heliornithidae.
Periquitos: as espécies de Psittacidae de
pequeno tamanho, especialmente do gênero
Forpus.
Picaçu: pomba grande, geralmente
Columba cayennensis, família Columbidae.
Picapau: designação genérica para as aves
da família Picidae e, na Amazônia, também
Dendrocolaptidae (pinica-pau).
Piranha-uirá: Tyrannus savanna, família
Tyrannidae, tesourinha (tradução literal do
nome: “piranha” é tesoura, Tastevin, 1923b,
p. 653).
Quiquiá: não identificado.
Sahi: designação aplicada a espécies de
pássaros pequenos de cor azul (Tastevin,
1923c, p. 730), especialmente sanhaços, família
Thraupidae (Martius, 1867, p. 473,
Thraupis sayaca).
Saracura: designação geral das aves
paludícolas da família Rallidae.
Sigana (= cigana): Opisthocomus hoatzin,
família Opisthocomidae.
Suiriri: Tyrannus melancholicus, família
Tyrannidae.
Surucuá: designação coletiva das aves da
família Trogonidae.
Suriti (= juriti): Leptotila verreauxi, família
Columbidae (na época era freqüente a
substituição de s por j ou x: o rio Xeruini já foi
Serevini).
Tamburupará: aves do gênero Monasa,
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família Bucconidae. Outras formas:
tangurupará, tango-do-pará, todas derivadas
(diz Tastevin, 1923c, p. 736) de tunguri-pará.
Tauató: designação de vários gaviões escuros
da família Accipitridae.
Tayassu-uirá: Martius (1867, p. 478) diz
“Tajasu, Tayaçu-uira (guira) isto é, avis
Dicotylis (Rio Branco) – avis Cozzygus:
Natterer”. Aparentemente seria Coccyzus
minor, família Cuculidae, que Natterer coletou
no Pará (Pinto, 1938, p. 170). Tastevin
(1923c, p. 740) copia Martius, mas ajunta “avepescadora”.
Esta espécie habita os manguezais
e, como os outros anus, ocasionalmente pesca
(Sick, 1984, p. 318). O problema é que Alexandre,
nesta fase da sua vida, não andou perto
de nenhum manguezal. Possivelmente o nome
se aplicasse, no interior, a outros cucos.
Tucano: espécies grandes da família
Ramphastidae.
Tuiuiu: Jabiru mycteria, família
Ciconiidae.
Uanambé (= Anambé): designação aplicada
a diversas formas da família Cotingidae,
geralmente acompanhada de qualificativo
(por exemplo, anambé-roxo).
Uanambu-assu (= nambu guaçu):
Crypturellus variegatus, família Tinamidae.
Uarirama-assu: Ceryle torquata, família
Alcedinidae, martim-pescador-grande,
ariramba-açu.
Uirá membu: Cephalopterus ornatus, família
Cotingidae (Pinto, 1944, uiramembi).
Uirá pagé: Piaya cayana, família
Cuculidae, alma-de-gato (Pinto, 1944).
Uirá tatá: passarinhos vistosos do gênero
Phoenicircus, família Cotingidae (Pinto,
1944).
Uru: aves galiformes do gênero
Odontophorus, família Phasianidae; duas
espécies na Amazônia.
Urubitinga-y: urubitinga, urubu branco,
hoje, na Amazônia a despeito da freqüente
atribuição na literatura a gaviões grandes, é o
urubu-rei (Sarcoramphus papa), família
Catarthidae. Não sei a que viria o sufixo “y”,
diminutivo.
Urubu: as espécies dos gêneros Coragyps
e Catarthes, família Catarthidae.
Yaçaná (= jaçanã): Jacana jacana, família
Jacanidae.
Yereua (= jereba): urubu (q.v.s.).
Yriúa: não identificada.
Mamíferos
Acutypuru: designação coletiva para os
roedores da família Sciuridae (esquilos,
caxixes, caxinguelês, serelepes).
Acutypuru pardo: diversas espécies de
Sciurus de pele avermelhada.
Acutypuru preto: Sciurus do grupo
aestuans.
Acuti-yaua-reté: não identificado.
Boto: ocorrem na Amazônia dois cetáceos,
Inia geoffrensis, família Platanistidae, botobranco,
boto-vermelho ou boto-malhado, e
Sotalia fluviatilis, família Delphinidae, botopreto
ou tucuxi.
Cayarara: Cebus albifrons, família
Cebidae.
Cutynayas: provável corruptela de
acutiwaya, cotia-de-rabo, Myoprocta, família
Dasyproctidae (Tastevin, 1923b, p. 641).
Irara (macaco): Eira barbara, família
Mustelidae. Obviamente não é um macaco,
embora até hoje a confusão seja feita.
Japuçá (= Uapuçá): espécies de
Callicebus, família Cebidae; na Amazônia
ocorrem diversas.
Jurupixuna: espécies do gênero Saimiri
(mico-de-cheiro), família Cebidae, várias
espécies na Amazônia.
Lontra: Lutra longicaudis, família
Mustelidae.
Macaco de boca preta: ver Jurupixuna.
Macaco de prego ou itupuhá: espécies de
Cebus (três na Amazônia), família Cebidae.
Macaco Uyapeçá: ver Japuçá.
Maracajá: gatos pintados do gênero
Leopardus, família Felidae, desde o pequeno
L. tigrinus até a jaguatirica, ou maracajá-açu,
L. pardalis.
Mucura: designação coletiva dos marsupiais
da família Didelphidae, especialmente
do gênero Didelphis; na Amazônia, D.
marsupialis.
Mucura-xixi: Philander opossum, família
Didelphidae.
Onça pequena: ou jovem de Panthera onca
ou adulto de jaguatirica (Leopardus pardalis).
Paca: Agouti paca, família Agoutidae.
Parauacu: macacos do gênero Pithecia,
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família Cebidae.
Peixe-boi: Trichechus inunguis, família
Trichechidae.
Preguiça: designação coletiva dos
Bradypodidae.
Preguiça de lato ou ahy-sauiá: “ahy” é
preguiça; “sauiá” (sawiya) é rato (Tastevin,
1923c, pp. 691 e 732). A palavra “lato” poderá
ser um erro de leitura ou de imprensa por
“rato”. O bicho não é exatamente
identificável, com certeza, mas sugere-se um
rato-de-espinho, roedor arbóreo do gênero
Echimys, família Echimyidae.
Tamanduá: Myrmecophaga tridactyla,
família Myrmecophagidae.
Tamanduahy: Cyclopes didactylus, família
Myrmecophagidae.
Tatu: designação coletiva da família
Dasypodidae (seis espécies na Amazônia).
Yauara-caá-pera: provavelmente a irara
ou papa-mel (Eira barbara, Mustelidae), ou
seja, o cachorro (yauara) da caipora (caapera)
do folclore indígena.
3. SÉCULO XIX
Os dois precursores, Marcgrave e Alexandre
Rodrigues Ferreira, homens dos séculos
XVII e XVIII, têm alto interesse histórico,
mas tiveram pouco impacto científico. Este
só começou a ser sentido no primeiro quartel
do século XIX. A Zoologia fez nessa época,
dentro da nossa óptica, rápidos progressos,
pela interação de dois mecanismos: aceleração
no conhecimento de faunas, levando também
a uma conscientização zoogeográfica, e
aperfeiçoamento da sistemática, por meio de
obras no estilo do Systema Naturae, cobrindo
de forma diagnóstica, seja toda a Zoologia,
seja uma classe ou ordem.
O progresso no conhecimento de faunas
obviamente se dava de duas maneiras. Por
um lado, o simples acúmulo de exemplares
nos grandes museus possibilitava melhores
revisões sistemáticas. Por outro lado, a publicação
dos resultados de expedições extensas
e demoradas não só fornecia rica
matéria-prima para revisões, como facilitava
a identificação de materiais, melhorando
o acervo dos museus e ampliando o acesso à
pesquisa em sistemática.
Estudaremos sob este ponto de vista cinco
grandes expedições que se realizaram no
Brasil no século XIX: Spix e Martius,
Maximilian zu Wied-Neuwied, Johannes
Natterer e a missão austríaca, Castelnau e
Deville. Mencionaremos ainda duas expedições
de pouca importância zoológica,
Langsdorff e Agassiz.
3.1. Spix e Martius
A expedição de Spix e Martius (para um
estudo um pouco mais detalhado, com itinerário,
ver Vanzolini, 1981) foi, como dito, em
parte uma conseqüência da invasão de Portugal
pelos exércitos napoleônicos. A mudança
da corte portuguesa para o Brasil (trazendo
junto um volumoso e ativo corpo diplomático)
tornou impossível a política de fechamento
do país aos estudiosos do mundo. Por exemplo,
Langsdorff, cônsul da Rússia, nesse caráter
realizou sua abortada expedição. O episódio
fundamental, porém, foi o casamento
do príncipe D. Pedro com a arquiduquesa
Leopoldina da Áustria. Não só trouxe ela no
seu séquito uma ponderável força-tarefa de
pesquisa biológica, como também vieram, de
arrasto, os dois inexcedíveis naturalistas
bávaros. Spix tinha 36 anos ao começar a
viagem em 1817, Martius apenas 23. Viajaram
ininterruptamente por trinta meses, seguindo
o itinerário mais inteligente que se
possa imaginar.
Um aspecto de viagem que não tem merecido
atenção, e é difícil atacar com os recursos
de biblioteca do Brasil, é que a leitura do
livro que relata a viagem (a Reise, Spix e
Martius, 1823-36, 1938) indica que Martius
havia feito um eficiente estudo de considerável
bibliografia, de natureza diversa, que havia
na Europa sobre o Brasil.
É necessário também ressaltar, como no
caso de Alexandre Rodrigues Ferreira, a
concomitância de altos interesses científicos
com questões mais mundanas, tais como
agropecuária, comércio e, principalmente,
mineração. A Reise contém dentro de si um
verdadeiro compêndio de economia brasileira
no início do século XIX.
Spix e Martius começaram, como todos,
pelos arredores do Rio de Janeiro (trecho
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meira importância das expedições pioneiras
residia na ampliação do conhecimento das
faunas. Não se estranhe, portanto, a insistência
em species novae nos títulos dos livros de
Spix: é a constatação de uma realidade. Por
esse tempo começa a afirmar-se a consciência
da inteireza das faunas e de suas relações
ecológicas e geográficas, mas Spix neste aspecto
ainda pertence à pré-História: o valor
de seu trabalho residia, como ainda reside, na
boa descrição e ilustração das espécies e no
registro das localidades-tipo.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-
45) Munique foi duramente bombardeada, e
as notícias contemporâneas (Lorenz Müller,
in litt.) eram de que as coleções estavam em
grande parte perdidas. Mais tarde verificouse
que a situação era menos grave, e que muitos
materiais haviam sobrevivido, em Munique e
em outros museus. Notícias detalhadas são
dadas na obra em homenagem a Spix editada
por Fittkau (1983).
3.1.1.1. Mamíferos, Primates
Os macacos são um dos grupos mais precocemente
conhecidos no Brasil: das 62 espécies
reconhecidas hoje (Groves, 1993) 33,
ou seja, mais de 50%, já eram conhecidas
muito rico, aliás, da Mata Atlântica), visitando
especialmente a Fazenda Mandioca, de
Langsdorff, na Serra da Estrela. Em seguida
vieram para a província de São Paulo, onde
pararam em Ipanema (próximo a Sorocaba),
como todos os teutófonos, na fundição de ferro
operada por metalúrgicos alemães. Daí seguiram
para as minas de ouro e diamantes em
Minas Gerais, atravessando a seguir a Bahia
e cortando as caatingas para o norte, até Oeiras,
então capital do Piauí. Terminaram o trecho
em São Luís do Maranhão, de onde seguiram
embarcados para Belém, para iniciar uma
última fase, de extensa exploração da hiléia,
subindo o Amazonas até Tabatinga, o Japurá
até Araracoara, na Colômbia, e o Negro até
Barcelos.
Esse itinerário deu-lhes a oportunidade
de ver quase toda a diversidade ambiental do
Brasil: mata atlântica, cerrado, caatinga e
hiléia. Deixaram de ver os pinheirais e as
pradarias mistas do Rio Grande do Sul; tratando-
se, porém, de faixas extratropicais de
menor expressão geográfica, essa lacuna não
prejudicou a extraordinária sistematização
feita por Martius das paisagens maiores do
Brasil – sistematização que ainda constitui,
na sua inteireza, a base dos conceitos correntes
de domínios morfoclimáticos (Ab’Sáber,
1977; Seibert, 1983).
Spix foi o responsável pelos relatórios zoológicos
da viagem. Morreu em 1826, debilitado
pelas moléstias tropicais contraídas na Amazônia,
sem ver a obra completamente publicada:
o fiel Martius encarregar-se-ia disso.
3.1.1. As obras de Spix
Spix publicou sobre mamíferos: macacos
e morcegos (1823), sobre aves (1824a), sobre
anfíbios (1824b, 1840a) e, entre os répteis,
sobre quelônios (1824b, 1840b), crocodilianos
(como lagartos) e lagartos (1825). As serpentes
e anfisbenas foram descritas por Johann
Wagler (Spix, 1824c) e os peixes por Louis
Agassiz (Spix, 1829), com parte das espécies
especificamente atribuída a Spix.
Convém neste ponto explicitar os critérios
aqui usados para avaliação da contribuição
dos viajantes ao progresso da Zoologia
brasileira. Como ficou dito, e é obvio, a pri-
Litografia
aquarelada do livro
de Johann Baptiste
von Spix Simiarum
et Vespertilionum
Brasiliensium
species novae...
(Munique, 1823),
Biblioteca
do IEB- USP
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quando da publicação do livro de Spix. É fácil
de compreender: são animais diurnos,
arborícolas, gregários, altamente conspícuos.
São visualmente orientados, o que torna
fácil seu reconhecimento pelo homem, também
um primata visualmente orientado. (É
mais difícil a sistemática de animais orientados
pelo som, como os anuros, ou por sentidos
químicos, como certos peixes.) O tamanho
dos exemplares e a boa resistência das
peles dos símios facilitam a preparação, ainda
mais que os nativos de regiões florestadas
costumam ter prática de coureá-los.
Cinco autores apenas eram responsáveis
pelas 33 espécies de macacos então conhecidas:
Lineu (1758, 1766) com 10 espécies;
Hoffmansegg (1807), com 3; Etienne
Geoffroy Saint-Hilaire (1806, 1809a,b, 1812),
com 10, Humboldt (1812) com 8; e Kuhl
(1820), com 2 espécies.
De acordo com as Regras Internacionais
de Nomenclatura Zoológica, deve fazer parte
da descrição de qualquer nova espécie a designação
de um exemplar “tipo”. O termo é
infeliz, pois pode levar a crer que se trata de
um exemplar que de alguma maneira
“tipifique” a espécie. Não se trata disso: o
tipo é um exemplar que ancora o nome da
espécie. Qualquer dúvida a qualquer tempo
sobre a aplicabilidade de um nome deve ser
resolvida por referência ao tipo. Nos casos
em que, no passado, a designação tenha sido
omitida, há mecanismos para designação supletiva.
Os tipos são especialmente importantes
no caso de espécies antigas, sumária
ou insuficientemente descritas, ou sem localidade
explícita.
Kraft (1983) reviu os tipos restantes de
macacos de Spix; infelizmente, baseou-se
fundamentalmente, para atualização da
taxonomia, na lista de Cabrera (1958), que é
especialmente insegura no que diz respeito a
subespécies de mamíferos tropicais, assunto
de que Cabrera não tinha experiência pessoal.
Revisando o material à luz de literatura
recente (especialmente Groves, 1993), podemos
dizer que Spix descreveu como novas 28
espécies de macacos; citou 7 como de descrição
alheia, mas coletadas e reconhecidas por
ele. Das 28 espécies descritas como novas, 8
são hoje válidas e 20 consideradas sinônimos.
Não se pode atribuir esse alto número de
sinônimos a desconhecimento da literatura:
as obras relevantes eram de amplo conhecimento
geral e os cientistas mantinham boas
relações pessoais. A elevada sinonímia deve
ser antes atribuída a dificuldades intrínsecas
dos grupos (variação sexual, ontogenética e
residual da coloração da pelagem) e à falta de
ilustrações nas descrições originais. Relativamente
ao problema da variabilidade das
formas, Spix descreveu sob 4 nomes diferentes
a espécie Cebus apella (L., 1758) e sob
dois nomes Cebus albifrons (Humboldt,
1812). Até hoje, porém, não existe nenhuma
revisão suficiente de Cebus, gênero sobre o
qual não há consenso (Groves, 1993).
Adicionalmente, Spix descreveu Lagothrix
lagothricha (Humboldt, 1812) como duas
espécies novas, bem como Pithecia monacha
e Callicebus personatus (E. Geoffroy, 1812).
Callicebus e Pithecia são gêneros difíceis até
hoje; Lagothrix nem tanto.
Pode-se resumir a contribuição de Spix à
primatologia neotropical dizendo-se que ajuntou
8 espécies às 33 então conhecidas, o que
contribuiu sensivelmente, pela qualidade de
suas descrições e ilustrações, para a melhoria
do nível da pesquisa.
3.1.1.2. Mamíferos, Chiroptera
Os morcegos constituíam um grupo difícil
para o zoólogo do início do século XIX.
São animais voadores de vida noturna, difíceis
de capturar antes do aparecimento das
mist nets: das 15 espécies coletadas por Spix,
6 foram obtidas dentro de habitações humanas.
A taxidermia deforma bastante partes
moles dos morcegos importantes para a sistemática,
tais como o focinho e as orelhas. Os
exemplares taxidermizados são frágeis e sofrem
na coleção (Lawrence e Genett, 1988).
Acresce que é um dos grupos em que os
caracteres externos e a fisionomia são menos
úteis à identificação, os melhores caracteres
residindo no crânio e, principalmente, na
dentição – isso apenas começava a ser percebido
no tempo de Spix.
Sob outro ponto de vista, muitas espécies
de morcegos têm vagilidade extrema, migrando
por longas distâncias (Eptesicus) ou ocu208
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pando territórios muito grandes (Myotis).
Estes fatos levam o zoólogo a erros, decorrentes
de óptica regional: julga serem novas
espécies já anteriormente descritas de outras
áreas, às vezes remotas. Na realidade, a sistemática
dos morcegos neotropicais ainda está
longe da saturação, ocorrendo a todo instante
descrição de espécies novas e reajustes da
sistemática, tanto no nível específico quanto
no genérico.
Segundo Koopman (1993), ocorrem no
Brasil cerca de 120 espécies de quirópteros:
28 já eram conhecidas ao tempo de Spix, que
descreveu como novas 9, das quais subsistem
5: Tonatia bidens, Trachops cirrhosus,
Diphylla ecaudata, Thyroptera tricolor e
Promops nasutus. A revisão dos tipos de Spix
por Kraft (1983) nada ajunta ao dito acima.
Além das dificuldades inerentes ao grupo,
deve-se ainda relevar que a literatura sobre
morcegos era muito dispersa: as 28 espécies
haviam sido descritas em 15 trabalhos,
de variada natureza, por 11 autores. O único
a descrever mais que Spix foi Etienne
Geoffroy de Saint-Hilaire, que descreveu 10
espécies em 4 trabalhos.
3.1.1.3. Aves
A sistemática tradicional de aves difere
da de todos os demais grupos de vertebrados
(menos talvez da dos anfíbios) pela falta de
caracteres objetivos. É baseada em peles sem
ossos, e os caracteres importantes não são
enumeráveis ou (com exceção de algum raro
bico ou tarso) mensuráveis. Os gêneros são
definidos por consenso – na realidade é uma
curiosidade para os zoólogos em geral o consenso
que existe na Ornitologia. Há poucos
estudos da estrutura geográfica das assim
chamadas subespécies reconhecidas: há que
aceitá-las na base da confiança.
Estabelecidos estes caveats, podemos dizer,
grosseiramente, que ao tempo de Spix cerca
de 30% eram conhecidos das aproximadamente
2.400 formas de aves aceitas hoje para o
Brasil. Haviam escrito, antes de Spix, autores
de amplo compasso: além de Lineu, houve
Vieillot, Gmelin, Temminck, Boddaert, P. S.
Müller, Latham e alguns outros de menor volume.
No que segue baseio-me no artigo de
Hellmayr (1906) sobre os tipos de Spix, atualizado
na medida do possível. A revisão dos tipos
spixianos por Reichholf (1983) e a lacônica
avaliação publicada na mesma obra por Sick
(1983) pouco ajuntam à história que se pode
colher da literatura geral, começando com a
primeira revisão (Hellmayr, 1906) dos tipos.
Spix ilustrou e descreveu 326 espécies de
aves, uma das mais ponderáveis contribuições
de qualquer tempo. Oitenta e nove formas eram
anotadas como não sendo suas; às vezes a atribuição
é explícita, às vezes precisamos recorrer
a Hellmayr (1906). Das 237 formas descritas
como novas, temos informação segura sobre
220, das quais 67 (30%) são hoje consideradas
válidas e 153 (70%) caíram na sinonímia
(Sick, 1983). É uma excelente porcentagem
para a época; o valor da contribuição é realçado
pela qualidade da ilustração.
3.1.1.4. Répteis e anfíbios
Houve um problema inicial com a coleção
de Spix ao regressar à Europa (Vanzolini,
1981): insinuaram-se nela três espécies européias
de serpentes, uma de anfisbenídeo e
uma de tartaruga. Todas foram descritas
como brasileiras e como novas, a tartaruga
por Spix, as cobras e o anfisbenídeo por
Wagler (uma delas duas vezes). Das 35 espécies
de serpentes brasileiras realmente
presentes, cinco eram de outros autores, uma
com proposta de nome novo. Das 34 espécies
descritas por Wagler como novas 16
eram válidas, 4 eram as formas européias já
mencionadas, 12 são consideradas sinônimos
e sobre 2 há dúvidas. Ainda misturado
com as serpentes havia um gimnofiono, uma
espécie de Mikan (q.v.i.), não explicitamente
citada mas reconhecível.
Trinta e oito espécies de lagartos são alistadas
por Spix, sendo 3 declaradamente de
outros autores. Das 35 que ele se atribui 11
são válidas (2 descritas 2 vezes cada) e as
demais sinônimas. Spix na realidade descreveu
7 espécies duas vezes consecutivas, 1
espécie três vezes e uma espécie cinco vezes.
Dos 4 jacarés listados apenas um é válido:
exatamente o jacaré-açu, Melanosuchus niger.
Quanto aos sapos, 53 espécies estão alistadas,
das quais 20 são realmente novas; as
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Água doce Marinha
Válidas 25 21 46
Sinônimas 14 15 29
39 36 75
ilustrações são de qualidade regular. Aqui
também Spix descreveu algumas formas mais
de uma vez como novas: duas vezes (três
casos), quatro vezes (dois casos) e cinco vezes
(um caso).
De um modo geral, pode-se dizer que a
contribuição herpetológica de Spix e
Wagler, embora incluindo algumas espécies
importantes, é de qualidade apenas mediana.
Militam muito contra o não terem
reconhecido espécies européias comuns e
as múltiplas descrições sinônimas de formas
muito características: Iguana iguana
recebeu cinco nomes, Bufo marinus recebeu
quatro. O que realmente restou do seu
trabalho foram as espécies protegidas pela
novidade da fauna.
Os tipos remanescentes foram estudados
por Hoogmoed e Gruber (1983). Mais uma
vez lembro que as poucas novidades que resultam
da revisão dos tipos de Spix testemunham
a boa qualidade de suas descrições; os
necessários ajustes foram sendo feitos a seu
tempo, sem necessidade de recurso aos tipos.
3.1.1.5. Peixes
Como dito, as espécies novas de peixes
são atribuídas explicitamente a Agassiz ou a
Spix – 54 e 21 espécies respectivamente.
Agassiz é responsável por 34 das 36 espécies
marinhas – a primeira contribuição ao campo
no Brasil – infelizmente sem dados de distribuição
geográfica. Das espécies de água doce,
Spix descreveu 19 e Agassiz 20. Dez espécies
são de outros autores, mais ou menos claramente
citados, e sobre 8 não consegui informação
suficiente.
Terofal (1983) dá uma lista das espécies
descritas por Spix e Agassiz, com as atribuições
correntes. É uma lista útil, mas nada adiciona
aos catálogos de Fowler (1941, 1948-54).
Seria de esperar que o número de espécies
válidas fosse relativamente maior para água
doce que para o mar, dadas as possibilidades
de endemismos em bacias diversas. As espécies
marinhas, ao contrário, e especialmente
as pelágicas, têm no geral ampla distribuição,
com a decorrente maior probabilidade de já
haverem sido descritas de outras paragens.
Isso no entanto não se dá:
O valor de χ2 para esta tabela é .0758,
obviamente não significante: não há associação
entre o ambiente das espécies e a proporção
de validez.
A contribuição de Spix e Agassiz à
ictiologia mundial e brasileira não é fácil ao
leigo de julgar; os especialistas, contudo,
consideram-na muito importante.
3.1.1.6. Invertebrados
A citada obra editada por Fittkau (1983)
contém diversos interessantes capítulos sobre
as coleções de invertebrados feitas por
Spix e Martius. Seu interesse para mim reside
principalmente no fato de demonstrarem que
a simples disponibilidade de materiais não é
suficiente para o progresso da pesquisa. É
indispensável um certo grau de maturidade: a
despeito das coleções reunidas, nada foi feito
na época com respeito aos invertebrados que
se compare ao estudo dos vertebrados.
Há uma interessante característica da obra
de Spix, que concorre com o dito na introdução
deste trabalho, ou seja, que nenhum dos
viajantes trouxe contribuição conceitual ou
metodológica à Zoologia. Spix pertencia
(Stresemann, 1951, p. 176; 1975, p. 175) à
escola idealista germânica da
Naturphilosophie. Publicou trabalhos dentro
dessa orientação, nenhum, porém, relacionado
com a viagem ao Brasil: o trabalho de
campo modera as fantasias do homem inteligente.
3.2. Maximilian,
Príncipe de Wied-Neuwied
Maximilian Alexander Phillip, Prinz zu
Wied-Neuwied (Prinz Max para os colegas
zoólogos), foi um nobre da Renânia que, aos
32 anos de idade, terminadas as guerras
napoleônicas, trocou a carreira das armas pela
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vida científica. Influenciado por Humboldt,
como tantos outros, decidiu empreender uma
expedição ao Brasil, recém-aberto a pesquisadores
estrangeiros.
A expedição durou de 1815 a 1817. Saindo
do Rio de Janeiro, subiu ao longo da costa
até Ilhéus, onde cortou para o interior, na
direção de Vitória da Conquista, voltando ao
Rio através do estado de Minas Gerais. Entre
o Rio de Janeiro e Vitória no Espírito Santo
contou com a colaboração de Georg Wilhelm
Freyreiss e Friedrich Sellow, coletores profissionais
a soldo de vários museus da Europa,
principalmente do de Berlim (Papavero,
1971, p. 58).
Wied coletou vertebrados terrestres e
publicou sobre eles. Teve a particularidade
de publicar muitas espécies novas no livro
que escreveu sobre a viagem (Reise, 1820-
21). Não se trata de descrições formais, porém
de diagnoses curtas (nenhuma espécie,
porém, é duvidosa), enriquecidas pelo contexto
geográfico e ecológico. Entre a publicação
da Reise (1820-21) e os subseqüentes
trabalhos de Wied decorreram alguns anos,
durante os quais outros autores, combinados
(v.i.) ou não com Wied, publicaram diversas
espécies do príncipe como novas. Assim,
“salvaram-se” aquelas descritas na Reise,
“perderam-se” as das Beitraege (q.v.i.).
Publicou também Wied (por exemplo,
1820) alguns artigos nas revistas científicas
do tempo. A massa estruturada das observações,
porém, foi publicada de 1825 a 1833 em
um livro de quatro volumes, Beitraege zur
Naturgeschichte Brasiliens, uma das mais
ricas e mais agradáveis obras zoológicas jamais
escritas sobre a América do Sul. O livro
foi publicado parceladamente e acompanhado
por uma série autônoma de estampas (1822-
31), “Abbildungen zur Naturgeschichte
Brasiliens”, algumas das quais contêm a descrição
de espécies novas. Essas estampas
constituem um certo problema bibliográfico:
não são numeradas nem datadas. Sua seqüência
só pode ser restabelecida acompanhando
as notícias e recensões da imprensa científica
contemporânea, especialmente a revista
publicada em Jena por Lorenz Oken, a famosa
Isis von Oken. Algumas das pranchas de
Wied, como dito, são acompanhadas por um
texto, de desenvolvimento vário, às vezes
contendo informações relevantes. Como se
vê, a bibliografia de Wied não é simples. O
presente artigo funda-se nas Beitraege, a obra
de síntese.
Abramos um parêntese para dizer que essa
viagem ao Brasil, o sonho dourado do Wied
militar, matou nele o zoólogo. Sua convivência
com os índios do Espírito Santo e Bahia
acendeu uma insopitável paixão antropológica.
Assim que terminou a publicação dos resultados
brasileiros, embarcou para os Estados
Unidos, onde realizou, de 1832 a 1834,
uma longa e justamente famosa expedição de
cunho puramente etnográfico. Não voltou às
regiões tropicais e não voltou à zoologia.
Wied morreu aos 85 anos, em 1867, aparentemente
lúcido e ao corrente do movimento
científico: pouco antes de morrer, provavelmente
prevendo que os materiais seriam
vendidos após a morte, preparou listas (com
a sistemática atualizada) de suas coleções,
que mantinha no castelo da família. Eu trabalhei
com o catálogo dos répteis: a letra é firme
e legível, e não se encontram erros.
Quero começar a apreciação da influência
do príncipe por um aspecto de ordem geral,
usualmente negligenciado. Ele foi um pioneiro
da zoogeografia ecológica no âmbito
intracontinental. A Mata Atlântica estende-se
da Paraíba (cerca de 07º30’S) ao norte do Rio
Grande do Sul (cerca de 30º30’S): aproximadamente
2.500 quilômetros, 23 graus de latitude.
É óbvio que a temperatura deve ser o fator
predominante na distribuição das espécies
animais, uma vez que a precipitação é uniformemente
alta (é o que permite que exista mata
atlântica). Nas Beitraege Wied ocupa-se
freqüentemente dos limites latitudinais das
espécies. Diz, por exemplo (1825, p. 118) que
a iguana não ultrapassa o paralelo de 14ºS, e
que Enyalius catenatus (p. 136), outro lagarto,
é limitado pelo paralelo de 16ºS. Não quero
dizer que ele tenha estudado sistematicamente
as distribuições, ou que tenha resolvido alguma
questão corológica maior. Apenas que
demonstrou clara consciência de uma problemática
nova para o tempo, cuja apreensão tinha
que ser muito dificultada pelo seu sistema
de trabalho, viajando para a frente e pegando
poucos bichos.
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Antes de analisar numericamente a contribuição
de Wied à faunística do Brasil, fazse
necessária uma pequena digressão. Não
sei se o fato é conhecido fora da esfera profissional,
mas as todo-poderosas “regras de
nomenclatura zoológica”, publicadas pela
International Commission on Zoological
Nomenclature (última edição 1985), não têm
conteúdo intelectual nenhum. Muitas vezes a
sua aplicação agride o senso estético e o próprio
bom senso dos pesquisadores sujeitos a
elas. São, porém, indispensáveis à boa ordem
da casa zoológica. É por isso que são universalmente
adotadas, com resmungos e reclamações
(como estes), mas sem nunca ter havido
cisma ou dissidência. Ao contrário, numerosos
zoólogos escrevem, sobre e em torno
delas, trabalhos que talvez até julguem ser
de pesquisa.
Um dos pilares básicos das “regras” é o
princípio de prioridade, que diz que, exceptis
excipiendis, o único nome válido de toda e
qualquer forma animal é o mais antigo nome
legalmente aceitável, proposto após 1o de janeiro
de 1758, data convencionada de publicação
do Systema Naturae. Nomes são de fato
essenciais à comunicação; sua estabilidade é
fundamental, e toda a ênfase da nomenclatura
(como o nome indica) recai sobre nomes,
não sobre conceitos.
O princípio de prioridade estabeleceu-se
em 1842, em um primeiro conjunto de regras
de nomenclatura proposto pelo ornitólogo
inglês Hugh E. Strickland e adotado inicialmente
na Inglaterra. Foi o germe das presentes
“regras” (Stresemann, 1951, p. 266; 1975,
p. 263). Até essa época não havia consenso,
e cada um agia de acordo com sua própria
cabeça.
A cabeça do príncipe era caracteristicamente
liberal e generosa. Comunicava-se
abertamente com colegas, trocava informações
e exemplares – e cada um publicava livremente.
Este último detalhe resultou em
alguma confusão. Por exemplo, Wied certa
vez mandou a seu amigo, o ilustre Blasius
Merrem, de Marburg, que Wied muito respeitava
na sistemática acima do nível de espécie,
um exemplar da cobra-coral venenosa
da Mata Atlântica, sem dúvida chamando sua
atenção sobre tratar-se de uma espécie nova
e das mais lindas. Merrem concordou, e ambos
concordaram ainda que, desde que se tratava
de uma cobra-coral, o nome corallinus
caberia muito bem. Os dois publicaram: a
mesma espécie, com o mesmo nome, baseado
no mesmo exemplar, e quase na mesma
data (Roze, 1966). Um sinônimo-homônimo!
Os amantes da nomenclatura vibram com
esses casos; as pessoas sensatas aplicam com
naturalidade o princípio de prioridade
(Merrem publicou um pouco antes e a espécie
é atribuída a ele) e não se impressionam
demais com a autoria nomenclatural. Todos
conhecem a história, todos sabem que o conceito
original é de Wied, que foi ele quem
coletou o tipo e reconheceu, no campo, a nova
espécie. Aliás, todos os pesquisadores da
época, despreocupados de formalismos
legalistas, atribuíam a espécie a Wied. Na
realidade, sobre ela, dadas as particularidades,
não poderia haver dúvida alguma a não
ser quanto à prioridade.
Quando, no começo deste século, desencadeou-
se na nomenclatura um forte movimento
legalista – em parte por ser realmente
necessário, em parte pela muleta psicológica
que representa para os praticantes – todos
esses velhos casos foram resolvidos pela
Comissão Internacional de Nomenclatura
Zoológica, que publicou, com abundância,
suas decisões. Os nomes foram atribuídos
estritamente de acordo com as “regras”, lastimando-
se mas nada se fazendo em casos
como o da cobra-coral.
Dessa exata maneira “perdeu” Wied inúmeras
espécies novas, que havia comunicado
a amigos que estavam preparando obras de
caráter geral, nas quais ele achava que as
novidades deveriam ser incluídas. Pelos acasos
das datas de publicação perdeu ele espécies
para Merrem, para Schinz e para
Temminck – espécies que ele mesmo depois
publicou como novas. Não eram novas, embora
sem dúvida fossem dele, uma distinção
que, já foi dito, no tempo não existia. Essas
sinonímias não representam incompetência
de Wied, apenas ângulos especiais de um
momento histórico. Por isso, no que segue,
pensando na influência de Wied, não prestarei
atenção à autoria formal das espécies, mas,
apenas, à prioridade na obtenção das cole212
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ções e no reconhecimento das formas: à parte
conceitual de preferência à formal.
Considero uma vergonha que até hoje não
se haja feito no Brasil um estudo estruturado
da obra zoológica de Wied. Biografias não
faltam (Ratzel, 1885 – a melhor; Amaral,
1931; Baldus, 1941; Karl Viktor Prinz zu
Wied, 1954; Schaden, 1955; Rocha, 1971;
Hartmann, 1975; Cascudo, 1977). Quanto à
zoologia, porém, há apenas três trabalhos: as
revisões dos tipos de aves, por Allen (1889),
dos tipos de mamíferos, por Avila-Pires
(1965) e dos tipos de répteis e anfíbios, por
Vanzolini e Myers (em publicação). As espécies
descritas na Reise, especialmente as de
aves, foram identificadas e brevemente comentadas
por Pinto na edição brasileira (1940)
da obra. Uma boa análise das Beitraege, com
sua imensa riqueza, porém, ainda é devida.
Para este artigo tive que usar ampla e dispersa
literatura e, na realidade, não me satisfiz.
O itinerário de Wied foi analisado por
Bokermann (1957). As lacunas desse trabalho
foram na maior parte supridas por
Vanzolini (1992).
Wied passou algum tempo nas caatingas
da Bahia e nos “campos gerais” (cerrados) de
Minas Gerais, mas a maior parte de sua atividade
desenvolveu-se na Mata Atlântica, e esta
deve preponderar na avaliação do seu impacto
científico.
3.2.1. Mamíferos
Na área da Mata Atlântica onde Wied coletou
ocorrem cerca de 110 espécies de mamíferos.
A sistemática de quase todos os grupos
é firme, restando dúvidas (poucas) quanto a
morcegos e (muitas) quanto a ratos-do-mato
(família Muridae, subfamília Sigmodontinae).
Excetuando os ratos (de que Wied descreveu
uma espécie importante, Wiedomys
pyrrhorhinus) são relevantes cerca de 80 espécies,
das quais ele descreveu 58, o que mostra
a qualidade do seu trabalho faunístico; devese
lembrar que o único instrumento de coleta
era a espingarda de carregar pela boca. Das 27
espécies cujo primeiro conhecimento Wied
atribui a si mesmo, 18 são válidas: 9 são atribuídas
formalmente a ele, 6 foram “perdidas”
como comentado acima, e 3 receberam dele
nomes pré-ocupados. (Como a correspondência
entre nome e espécie, de acordo com as
“regras”, deve ser biunívoca, ou seja, um e um
só nome para cada espécie, um nome utilizado
inadvertidamente pela segunda vez no mesmo
gênero, dito “homônimo”, deve ser automaticamente
substituído, a autoria da espécie passando
para o autor da substituição: é outra
maneira de “perder” uma espécie.)
Nove formas descritas por Wied como
novas eram sinônimos “puros”, isto é, ele não
tinha conhecimento de que tivessem sido
anteriormente descritas e nomeadas, ou cometeu
enganos de julgamento sobre o valor
de diferenças percebidas. Como de costume,
Cebus apella aparece 4 vezes; outras 3 espécies
aparecem com 2 sinônimos cada; são
casos (Callicebus personatus e Nasua nasua)
que só foram resolvidos recentemente. Resta
como engano puro o caso de 2 nomes para
Noctilio leporinus.
3.2.2. Aves
Vimos que Wied foi bom mastozoólogo;
veremos abaixo que se deu bem na
Herpetologia. Seu melhor campo de trabalho
foi, porém, a Ornitologia.
Joel Asaph Allen (1889), na sua revisão
dos tipos de aves de Wied, conservados desde
1870 no American Museum of Natural
History, em Nova York, diz:
“Maximilian, for the time in which he lived
and worked, was an excellent
ornithologist, combining ample field
experience with a good technical
knowledge of his subject. He not only took
careful measurements, and notes of the
color of the eyes, bill and feet, etc., from
the freshly-killed bird, but his published
descriptions, in respect to minuteness of
detail and the careful discrimination of
nice points, are not excelled, and rarely
equaled, in our best modern works”.
Os volumes de aves das Beitraege constituem
um dos mais completos e equilibrados
levantamentos faunísticos jamais feitos. O
nível técnico é superior; além dos aspectos
citados por Allen, que são pontos relevantes
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para a Sistemática, há uma riqueza de observações
em outros campos. Sobre a biologia
das espécies são citados dados de reprodução,
conteúdo estomacal, canto (expresso no
pentagrama), etc. Não se trata de achados
ocasionais, mas de uma filosofia de trabalho:
por exemplo, Wied às vezes lamenta não ter
encontrado o ninho de uma determinada espécie,
apesar de tê-lo buscado. A única coisa
de caráter esporádico são notas anatômicas,
obviamente eventuais. Analisaremos portanto
também a contribuição de Wied preferencialmente
sob o ponto de vista da faunística.
A sistemática de aves ainda está em evolução
no âmbito de família e gênero. Adotei
para este estudo um esquema relativamente
conservador, que me permite usar sem grandes
traumatismos os catálogos de Pinto (1938,
1944, 1978) e de Schauensee (1966). Ocupome
apenas das aves continentais, excluindo
as marinhas (sem significado regional), das
quais Wied tratou 14 espécies.
Dentro desse esquema, ocorrem na região
trabalhada por ele 65 famílias de aves. Dessas
deixou de coletar representantes de 4:
Colymbidae, Oxyruncidae, Cyclarhidae e
Compsothlypidae.
As 61 famílias coletadas por Wied variam
em número de espécies presentes na região, desde
muitas famílias com apenas uma espécie, até
Tyrannidae com 59. Fiz uma regressão, tomando
como variável independente (x) o número de
espécies de cada família, e como variável dependente
(y) o número de espécies daquela família
coletadas por Wied. Se a amostragem fosse perfeita,
cada y seria igual ao correspondente x, e
teríamos uma linha reta passando pela origem
(a da equação da reta, y’ = a + bx, igual a zero),
com coeficiente de regressão b igual a 1 e coeficiente
de determinação, r2, também igual a 1.
Obtive uma reta, passando pela origem (a =
.754 + ou – .888), mas com coeficiente de regressão
(b = .589 + ou – .0263) significantemente
menor que 1.0. O coeficiente de determinação,
r2 = .8948, é muito bom. Como se vê pelo gráfico,
duas famílias de bom porte numérico tiveram
representação completa, Accipitridae (21
espécies) e Psittacidae (19 espécies). Uma família,
Trochilidae, mostrou o maior déficit (12
sobre 35).
Esses dados estão de acordo com as expectativas.
O coeficiente de regressão menor que
1 indica que, quanto mais espécies contenha a
família, menor a probabilidade de ser completamente
representada, o que é intuitivo. As
famílias de melhor amostragem (Accipitridae
e Psittacidae) são representadas por aves conspícuas,
grandes e bem conhecidas dos caçadores
regionais. Os beija-flores são na realidade
difíceis de coletar, especialmente com espingarda
de carregar pela boca.
Passando ao nível de espécie, Wied descreveu
nas Beitraege 444, das quais 63 (14%)
das caatingas e campos da Bahia e de Minas.
Incluiu portanto 381 espécies da Mata Atlântica.
O número máximo aproximado para a
área seria de 500: ele obteve mais que 3/4 da
fauna regional – um resultado excelente.
Na Reise e nas Beitraege são propostas
como novas 125 espécies, quase um terço do
total estudado. Dessas mantêm-se como válidas
58; 59 são sinônimos claros; 8 não são
identificáveis, principalmente por se terem
perdido os tipos (Allen, 1889).
Finalmente, consideremos o aspecto das
sinonímias múltiplas, ou seja, o insucesso no
reconhecimento de espécies, com a conseqüente
atribuição de mais de um nome a cada
uma. Este é um indicador seguro da competência
do zoólogo, embora a competência de
um mesmo indivíduo possa variar de grupo
para grupo. Já tivemos ocasião de ver, por
exemplo, quanto se iludiram os zoólogos, de
todos os tempos, com a variação de pelagem
do macaco-prego, Cebus apella. No caso de
Wied, pode-se aprofundar um pouco mais a
análise, com base nos dados de Allen (1889)
sobre os tipos sobreviventes.
Sete vezes descreveu Wied a mesma espécie
de ave sob 2 nomes, nenhuma sob 3 ou
mais. Em 3 dos 7 casos foi traído por fases de
plumagem ou por mudanças ontogenéticas;
em 1 caso tratava-se de um albino; em 1 caso
o problema era de dimorfismo sexual. Engano
puro e simples ocorreu em 2 casos. Sobre
444 espécies, uma performance admirável: o
que se chama “um sistemata nato”.
3.2.3. Répteis
Ocorrem quatro espécies de tartarugas
marinhas nas costas do Brasil. Wied alista as
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quatro, mas comete um engano: sua Chelonia
mydas é Caretta caretta, como se pode ver na
descrição de uma bela gravura na Reise (Wied
de roupa social e cartola, olhando a tartaruga
desovar) e pelo fato de que C. mydas não
desova no Brasil. As outras três espécies estão
corretas.
Quanto aos cágados (Chelidae) Wied incluiu
Emys depressa (Merrem) = Phrynops
geoffroanus (Schweigger) e Emys radiolata
(Mikan) (Acanthochelys). Faltou-lhe apenas
uma espécie, Phrynops tuberculatus. Descreveu
um dos jabotis, Geochelone denticulata (L.).
O jacaré, claramente Caiman latirostris
(Daudin), está mal identificado como
Crocodilus sclerops = Caiman crocodilus
(L.).
No que segue não farei comparações numéricas,
pois a Mata Atlântica é avara de seus
répteis e uma viagem como a de Wied, sempre
para a frente, não permite boas
amostragens.
A contribuição ao estudo dos lagartos é
fraca. Inclui 16 nomes, representando um
máximo de 14 espécies. Hemidactylus
mabouia é descrito duas vezes (Gekko
incanescens e Gekko armatus); na discussão
Wied mostra ter-se convencido da individualidade
das formas, iludido pela variação do
padrão de colorido. O macho (Anolis gracilis)
e a fêmea (A. viridis) de A. punctatus são
descritos como espécies diferentes. O
Cnemidophorus incluído (Teius cyanomelas)
não é reconhecível, nem as duas espécies (se
forem) de Mabuya, alistadas como Scincus
sloanei e S. striatus, ambas de Daudin. Como
Gymnophthalmus quadrilineatus é apresentada
a espécie mais tarde descrita como
Micrablepharus maximiliani (Reinhardt &
Luetken). Polychrus marmoratus (L.),
Enyalius pictus (Wied), Enyalius catenatus
(Wied), Tropidurus torquatus (Wied),
Tupinambis teguixin (L.), Ameiva ameiva (L.)
e Kentropyx striata (Daudin) são apresentados,
às vezes sob outros nomes, mas reconhecíveis.
Dois anfisbenídeos são incluídos entre as
serpentes: Amphisbaena punctata (Wied) =
Leposternon microcephalum (Wagler) e A.
flavescens = A. alba (L.).
De nível muito superior é a contribuição
ofiológica. Seis espécies de outros autores
são descritas e imediatamente reconhecíveis:
Boa constrictor (L.), Boa cenchria (L.)
(Epicrates), Boa aquatica (L.) = Eunectes
murinus (L.), Coluber nattereri (Mikan)
(Thamnodynastes), Dipsas cenchoa (L.)
(Imantodes), Crotalus horridus (Daudin) (engano
por C. durissus ssp. – engano aliás natural
para a época). A serpente descrita como
Scytale coronata (Merrem) estava mal
identificada e foi descrita mais tarde como
Pseudoboa neuwiedii (Duméril, Bibron e
Duméril). (Era, e ainda é costume, quando
corrigindo um colega, homenageá-lo com a
dedicação de um nome.)
Dezesseis espécies de cobras foram descritas
como novas e como tal se mantêm:
Coluber poecilostoma (Pseustes sulphureus
poecilostoma), C. liocercus (Leptophis
ahaetulla liocercus), C. bicarinatus
(Chironius), C. pyrrhopogon (Chironius), C.
laevicollis (Chironius), C. carinicaudus
(Helicops), C. plumbeus (Clelia), C.
undulatus (Liophis), C. merremii (Liophis
miliaris merremii), C. rabdocephalus
(Xenodon), C. poecilogyrus (Liophis), C.
formosus (Oxyrhopus), C. venustissimus
(Erythrolamprus), Lachesis rhombeata,
Cophias jararaca (Bothrops), Cophias
bilineatus (Bothrops).
Oito espécies descritas como novas revelaram-
se sinônimos: Coluber variabilis =
Spilotes pullatus (L.); C. lichtensteinii =
Mastigodryas bifossatus (Raddi); C.
acuminatus = Oxybelis aeneus (Wagler); C.
dictyodes = Liophis miliaris (L.); C. pileatus
e C. herbeus, ambos Philodryas olfersii
(Lichtenstein); C. saurocephalus = Xenodon
severus (L.); C. doliatus, o jovem de Liophis
poecilogyrus (Wied); Elaps corallinus, sinônimo
e homônimo de Micrurus corallinus
(Merrem), como comentado acima; Elaps
marcgravii = Micrurus ibiboboca (Merrem),
caso idêntico ao anterior.
Cabem aqui duas observações. Coluber
aeneus só recentemente veio a substituir
Oxybelis acuminatus. As razões são puramente
nomenclaturais, tendo o conceito da espécie
se formado e aperfeiçoado em torno do
nome de Wied. C. doliatus, como dito, é o
jovem de C. poecilogyrus; Wied desconfiou
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do caso, mas acabou cometendo sua única
dupla sinonímia em serpentes.
Finalmente, há 7 nomes de Wied cujos
tipos não sobreviveram e cujas descrições
originais não resultaram em caracterização
de espécies: Coluber testaceus, C. modestus,
C. collaris, C. marginatus, C. erythrogaster,
Cophias holosericeus, Typhlops leucogaster.
Tive, como dito, recentemente a oportunidade
de rever os répteis sobreviventes da
coleção de Wied no American Museum of
Natural History. É realmente impressionante
a precisão das medidas e das contagens de
escamas feitas por Wied e a qualidade das
ilustrações, quanto aos detalhes técnicos.
Reconhece-se sem a menor dificuldade qualquer
exemplar descrito nas Beitraege.
3.2.4. Anfíbios
Como se poderia esperar de uma viagem
para a frente, feita antes do advento da lanterna
elétrica, a coleta de anfíbios de Wied foi
fraca, e ele pouco se dedicou à coleção. Não
se preocupou sequer com a citação cruzada
entre Beitraege e Reise, tão cuidada e tão útil
no caso das aves.
Apenas 16 espécies são citadas, compreendendo
Mata Atlântica e regiões interiores;
10 são propostas como novas. Destas, 6 permanecem:
Bufo crucifer, Hyla faber, H.
crepitans, H. elegans (Scinax), Ceratophrys
boiei (Proceratophrys). Os 4 sinônimos são
Bufo fuliginosus = B. ictericus (Spix); B.
cinctus = B.crucifer (Wied); Ceratophrys
dorsata = C. aurita (Raddi) e Rana sibilatrix
= Leptodactylus fuscus (Schneider). A
sinonímia entre B. cinctus e B. crucifer é a
única sinonímia dupla de Wied em anfíbios.
Em resumo, um finíssimo zoólogo.
3.3. A missão austríaca
Por ocasião do casamento de D. Pedro
(futuro Primeiro) com D. Leopoldina, em
1817, veio ao Brasil no séquito da noiva uma
luzida comissão técnica – aliás, três luzidas
comissões técnicas. Um conjunto de valor
comensurável com o da nova imperatriz.
O grupo mais numeroso, o austríaco, era
constituído pelo naturalista tcheco Johann
Christian Mikan, pelos coletores Johann
Natterer e Dominick Sochor, pelo jardineiro
(encarregado da introdução de plantas vivas
na Europa, uma tarefa de primeira importância
na época) Heinrich Schott, pelos pintores
Thomas Ender, Franz Joseph Frübeck e
Johann Buchberger, e pelo bibliotecário e
curador de coleções Rochus Schüch, ninguém
menos que o futuro primeiro barão de
Capanema (Ramirez, 1968).
O segundo grupo, bávaro, era o já comentado
de Spix e Martius, imensamente superior
aos demais. O terceiro grupo constava
unicamente do naturalista italiano Giuseppe
Raddi.
Empregando o critério de relevância zoológica,
podemos descartar de início Mikan
(1820-25) e Raddi (1820, 1822). Publicaram
alguns poucos trabalhos sem expressão, contendo
espécies novas, mas sem impacto que se
diga. Do ponto de vista zoológico o homem
forte da expedição foi Natterer. Por 18 anos
coletou ele no Brasil quase inteiro (Vanzolini,
1993) acompanhado por Sochor, até que este
morreu de malária em Mato Grosso, em 1826.
Natterer continuou firme até 1835, quando
voltou (casado naturalmente com brasileira) à
Áustria, para estudar seu material – uma das
melhores e mais bem preparadas coleções jamais
feitas no mundo. Natterer foi não só um
bom taxidermista (ver exemplos de suas peças
em Schifter, 1983), mas, mais importante, foi
um dos introdutores de anotar-se, em uma etiqueta
individual para cada espécime, localidade,
data, sexo, medidas e informações sobre a
cor das partes moles (Stresemann, 1975, p. 209;
estranhamente não encontro este trecho no
original alemão; talvez se trate de uma
interpolação silenciosa de G. W. de Cottrell, o
comentador da tradução de 1975.)
Natterer não viveu para descrever seus
materiais; o que publicou foi pouco e sem
grande importância. Aparentemente não era
tão bom no museu quanto no campo. Além
disso, havia passado 18 anos longe da civilização,
longe do movimento científico, justamente
durante uma fase explosiva do conhecimento
das avifaunas. Deve ter perdido o
contato. Morreu em 1843, tendo publicado
apenas dois trabalhos. Um, em colaboração
com L. Fitzinger (Natterer, 1840), sobre os
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jacarés do Brasil, lindamente ilustrado e contendo
dados principalmente de biologia e distribuição
(Vanzolini, 1977, p. 60). O outro
trabalho (Natterer, 1837) versa sobre a
pirambola, que havia sido descrita por
Fitzinger (1836) com base em um exemplar
coletado por Natterer (ver também Fitzinger,
1837).
Jacob Heckel (1840) publicou uma primeira
memória (sem continuidade) sobre os
peixes fluviais de Natterer. Ocupou-se apenas
de uma fração da coleção: 50 espécies,
das quais 48 de Cichlidae, 1 de Sciaenidae e
1 de Polycentridae. Quarenta e nove espécies
são descritas como novas.
É muito ilustrativo considerar o problema
das sinonímias de Heckel. Nenhuma de suas
espécies é sinônimo de forma anteriormente
descrita. Por outro lado, sua sinonímia interna
é desoladora. Duas espécies receberam 5
nomes cada; duas receberam três; nove receberam
dois nomes. Vê-se que era uma fauna
nova e muito individualizada, estudada por
um autor inexperiente.
As localidades não eram muitas: rio Negro
(sem mais), Marabitanas, Manaus, Rio
Branco (sem mais), rio Guaporé em Vila Bela,
rio Paraguai em Cáceres, Cuiabá.
Os demais peixes, os répteis e os anfíbios
das coleções de Natterer foram
parceladamente estudados por diversos autores,
especialmente Kner (peixes) e
Steindachner.
Coube a August von Pelzeln desfrutar as
coleções brasileiras de aves e mamíferos,
publicando aqueles em 1868-70 e estes em
1886. Os artigos de Pelzeln são compactos e
proficientes; colocam ordem em um belo
acervo de 12.293 peles de aproximadamente
1.200 espécies. Dá ele sempre escrupulosamente
crédito a Natterer por espécies que este
tenha deixado reconhecidas em notas de campo.
Levantou inestimáveis dados sobre os itinerários.
Infelizmente, ao saírem os artigos,
estava quebrado o fio do pioneirismo. As
faunas já estavam bem caracterizadas; a necessidade
passara a ser de trabalhos de caráter
monográfico, não-faunístico e, principalmente,
faunísticos de uma área tão grande e
heterogênea quanto o Brasil. Pelzeln, indispensável
à ornitologia brasileira, sequer é
mencionado na História da Ornitologia de
Erwin Stresemann (1951,1975).
3.4. Castelnau
Francis de la Porte, conde de Castelnau,
misto de diplomata de carreira e naturalista,
veio à América do Sul chefiando uma missão
científica oficial do governo francês, parte do
grande ciclo de explorações geográficas empreendido
pela França. Completavam a equipe
Émile Deville, preparador do Museu de
Paris e zoólogo, Eugène Osery, engenheiro
de minas (morto no Peru pelos índios jeberos),
e Hugh A. Weddell, botânico.
O extenso itinerário (“do Rio de Janeiro a
Lima, e de Lima ao Pará”) teve duas fases
brasileiras (Papavero, 1971). A primeira, entre
o Rio de Janeiro, que deixaram em outubro de
1843, e a entrada na Bolívia, por Casalvasco,
próximo a Vila Bela da Santíssima Trindade,
em fins de junho de 1845. As etapas foram: (i)
do Rio de Janeiro a Belo Horizonte; (ii) a
Goiás Velho; (iii) ao rio Araguaia, descendo
o rio Crixás a partir da vila de Crixás, em
Goiás; (iv) descendo o Araguaia até a confluência
com o Tocantins e subindo este até
Peixe; (v) volta por terra a Goiás Velho; (vi)
a Cuiabá; (vii) descendo os rios Cuiabá e
Paraguai até Forte Olimpo, no Paraguai; (viii)
subindo o rio Paraguai até Cáceres; (ix) a Vila
Bela da Santíssima Trindade; (x) por
Casalvasco à Bolívia. Ao todo pouco mais de
vinte meses.
Na Bolívia a expedição subiu os Andes
via Potosi e Oruro até La Paz e o lago Titicaca,
realizando, além dos trabalhos de história
natural, importantes explorações arqueológicas
pioneiras. Do altiplano boliviano seguiram
para Puno, no Peru; daí por Arequipa
passaram à costa, onde separaram-se em dois
grupos; um seguiu para Lima embarcado, o
outro por terra.
De Lima seguiram para Cuzco, pelo antigo
caminho dos Incas. De Cuzco desceram o
rio Urubamba e, sucessivamente, o Ucayali e
o Amazonas até Belém, que alcançaram em
meados de março de 1847.
Considero a reentrada em nossa área de
interesse (segunda fase brasileira) como acontecendo
em Sarayacu, no Ucayali, importanR
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tíssima localidade-tipo da expedição (incluindo
a vizinha Pampa del Sacramento, na
estrada Pucallpa-Tingo Maria), e lugar de
fauna francamente amazônica; excluo destas
notas apenas o material puramente andino.
Depois de uma parada em Pebas, no Solimões,
pouco foi coletado até Belém, de onde a expedição
seguiu para as Guianas, e destas para
as Antilhas, regressando a Paris em julho de
1847, gastos cerca de 49 meses no campo.
Castelnau voltou ao Brasil pouco depois,
como cônsul da França em Salvador, de onde
ainda mandou a Paris material herpetológico,
como narrado abaixo. Aí teria ainda
(Papavero, 1971) escrito a narrativa da viagem,
cujo primeiro volume foi publicado em
1850. São ao todo seis volumes, os quatro
primeiros dedicados ao Brasil; o sexto, por
Weddell, relata suas pesquisas, principalmente
paleontológicas, na Bolívia.
A narrativa de Castelnau (1850-51, 1949)
é precisa e minuciosa; não deixa dúvidas
quanto aos lugares visitados e contém sólida
informação ecológica.
Depois de Salvador, Castelnau assumiu
outros postos consulares, na África do Sul e
na Austrália, tendo publicado sobre os peixes
e os insetos de ambas as regiões. Morreu na
Austrália em 1880.
O outro zoólogo da expedição, Émile
Deville, após publicar alguns artigos científicos
em Paris, voltou ao Brasil, e morreu em
1853 no Rio de Janeiro, de febre amarela,
moléstia que pretendia estudar (Des Murs,
1855-56, p. 2).
A publicação dos resultados da expedição
seguiu o então novo modelo adotado pelos
grandes empreendimentos franceses, ou seja,
caráter enciclopédico, com a colaboração de
numerosos especialistas. (Para uma idéia mais
precisa, ver British Museum, 1904, sob
“France [Voyages &c.]”.) Note-se, especialmente
(do ponto de vista do Brasil), a inclusão,
pela primeira vez, de um forte contingente
de zoologia de invertebrados: insetos,
aracnídeos, crustáceos, miriápodos, moluscos
e outros grupos marinhos.
Como dito, os quatro primeiros volumes
tratam da viagem. Há na série volumes especiais
sobre vues et scènes, arqueologia
incaica, geologia, geografia (inclusive itinerários)
e botânica. A parte da viagem referente
ao Brasil foi publicada pela
“Brasiliana” (Castelnau, 1949) em tradução
simples, sem comentários.
Em outubro de 1844 Castelnau havia escrito
uma carta ao ministro da Instrução Pública,
relatando suas viagens em Goiás, descendo
o Araguaia e subindo o Tocantins; esse
relatório foi publicado pelo Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro em 1866.
A proclamação da República francesa em
fevereiro de 1848 e o golpe de Napoleão III
em dezembro de 1852, com inevitável perturbação
da ordem pública, atrasaram a publicação
da obra. Por isso os zoólogos da equipe
publicaram em revistas parte dos resultados
zoológicos: Deville (1849, 1851, 1852a,
1852b); Deville e Des Murs (1849a, b);
Deville e Sclater (1852); I. Geoffroy Saint-
Hilaire (1850, 1851a); I. Geoffroy Saint-
Hilaire e Deville (1848). Des Murs (1855-56,
p. 1) queixa-se da antecipação das descrições
originais de espécies.
Um detalhe é que, no tratamento conjunto,
nem sempre a ordem dos autores é a mesma
que no título do trabalho em revista. Também
Castelnau recebe freqüente crédito por
trabalhos que não assinou.
Os dois volumes da obra total, publicados
em livraisons em 1855 e 1856, tinham como
título geral Animaux Nouveaux ou Rares
Recueillis Pendant l’Expédition dans les
Parties Centrales de l’Amérique du Sud, de
Rio de Janeiro a Lima, et de Lima au Para;
Exécutée par Ordre du Gouvernement
Français Pendant les Années de 1843 a 1847,
sous la Direction du Comte Francis de
Castelnau. As datas das livraisons foram recuperadas
por Sherborn e Woodward (1901),
que acompanho aqui.
O primeiro volume contém os mamíferos
e as aves.
3.4.1. Mamíferos
Isidore Geoffroy e Deville publicaram em
1848 oito novas espécies de macacos (notese
mais uma vez a ênfase da época, nos macacos
e morcegos). Das oito espécies sobrevive
Chiropotes albinasus, o cuxiú. Em 1850
Isidore publicou mais três espécies. Uma,
218 R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 1 9 0 - 2 3 8 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6
como podemos dizer, “de costume”, é sinônimo
de Cebus apella, e duas de Saguinus
fuscicollis – completando três sinônimos
(double employ) de Isidore para esta espécie,
que ocorre no Brasil.
Deville descreveu em 1849 um macaco
novo da Bolívia, sinônimo também de
Saguinus fuscicollis e em 1852 um gênero e
espécie novos de roedores (Lasiusomys
villosus), sinônimo de Isothrix histriata
(Wagner).
Na obra geral o tratamento dos mamíferos
é mal organizado e confuso. Sou forçado
a dar uma tabela explicativa.
“ANIMAUX NOUVEAUX OU RARES,
TOME PREMIER
Anatomie (P. Gervais)
Recherches sur les mammifères fossiles
de l’Amérique du Sud (P. Gervais) [a
palavra ‘fossiles’ é omitida no índice].
Description ostéologique de l’Hoazin, du
Kamichi, du Cariama et du Savacou,
suivie de remarques sur les affinités
naturelles des oiseaux (P. Gervais).
Ostéologie de la tête du Vastrès et du
Mylétès (P. Gervais).
Remarques ostéologiques sur les genres
Brachyure et Callitriche de la tribu des
singes américains (P. Gervais).
Anthropologie, Note explicative des
planches consacrées à l’Anthropologie (P.
Gervais).
Mammifères (P. Gervais).
Primates (Isidore Geoffroy Saint-Hilaire)
Documents zoologiques pour servir à la
monographie des Cheiroptères sud
américains (P. Gervais).
Description des trois espèces de dauphins
qui vivent dans la région du haut Amazone
(P. Gervais).
Sur quelques points de l’histoire
zoologique des Sarigues, et, plus
particulièrement, sur leur système
dentaire (P. Gervais).
Description d’un nouveau genre de
Rongeurs, sous le nom de Lasiuromys (E.
Deville).
Énumeration des principales espèces de
Mammifères recueillis pendant
l’expédition dans les parties centrales de
l’Amérique du Sud (P. Gervais)”.
O trabalho de Gervais sobre mamíferos
fósseis, baseado principalmente em uma bela
coleção feita por Weddell, não nos concerne
aqui, mas é muito bonito e importante.
As descrições do Hoazin, etc., tratandose
de aves, serão tratadas no contexto.
O “Vastrès” (pirarucu) e o “Mylétès”
(pacu) são peixes e ficam também para a ocasião.
Os gêneros Brachyurus (= Cacajao) e
Callitrix (= Callicebus) são cebídeos, e as
notas de Gervais são importantes. (No índice
do volume está grafado, por engano,
“Lagotriche” em vez de “Callitriche”.)
As pranchas antropológicas são de crânios
indígenas, com exceção de uma, linda, de
uma cabeça mumificada pelos índios
mundurucus. É característico do pensamento
europeu da época as raças indígenas serem
estudadas por mamalogistas.
O capítulo de Isidore Geoffroy sobre
primatas encaixa os macacos da expedição
em um sistema genérico baseado em
caracteres externos. Vinte e uma espécies são
alistadas; nenhuma é descrita como nova, as
novidades já havendo sido apresentadas por
Geoffroy e Deville (1848). É um trabalho sem
importância.
Os “documentos zoológicos” são um
pródromo da sistemática dos morcegos sulamericanos.
São comentadas, em diversas
profundidades, 55 espécies, apenas 13
coletadas na viagem; dessas, 4 descritas como
novas. Duas subsistem: Micronycteris minuta
e Lasiurus ega.
No trabalho sobre botos, Gervais reconhece
corretamente Inia geoffrensis (“le
dauphin rapporté de Lisbonne”, ver acima
R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 1 9 0 - 2 3 8 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6 219
Cochlearius cochlearius). São aves de posição
sistemática peculiar, pertencentes a grupos
monoespecíficos, cujas relações só podem
ser analisadas à luz da anatomia. A própria
consideração dos resultados parciais levantou
problemas de ordem geral, interessando
a todo o sistema das aves e levando a
mudanças e aperfeiçoamentos. Paul Gervais
era eminentemente qualificado para a tarefa
(paleontólogos são tradicionalmente finos
osteologistas), mas o discernimento em planejar
e executar as coletas e preparar os materiais
foi obviamente dos zoólogos de
campo. Não está claro quem tenha realizado
as dissecções; provavelmente Deville, que era
preparador de seu ofício. Os dados, porém,
foram colocados à disposição dos sistematas,
para uso eficiente.
3.4.3. Répteis
A coleção de répteis da expedição de
Castelnau não é de primeira ordem, seja pela
quantidade, pela qualidade, ou pelo tratamento.
Inclui 10 espécies de tartarugas, uma de
jacaré, 26 de lagartos e 40 de serpentes. Dessas
espécies, 10 não foram coletadas durante
Alexandre Rodrigues Ferreira) e descreve
duas vezes como novo o tucuxi, Sotalia
fluviatilis.
O artigo sobre “sarigues” (didelphídeos)
é uma excelente contribuição ao estudo dos
marsupiais sul-americanos ao nível de gênero.
O trabalho de Deville (já então falecido)
sobre Lasiuromys é uma republicação do artigo
de 1852.
Finalmente, a enumeração das 11 “espécies
importantes” coletadas é acompanhada
de comentários sem grande interesse.
3.4.2. Aves
A coleção de aves de Castelnau é numericamente
modesta, especialmente considerando-
se que ele viajou durante mais de quatro
anos por mata atlântica, cerrado, pantanal,
pré-cordilheira e cordilheira andinas,
costa do Pacífico e hiléia. Des Murs, o responsável
pela obra de conjunto em aves, alista
73 espécies, das quais 62 do Brasil ou de
regiões assimiladas (preponderantemente de
Sarayacu, no Ucayali). Parece ter havido perdas
de material em viagem (Guichenot, 1855-
56, p. 1).
Dessas 62 espécies 28, quase a metade,
foram descritas como novas e 18 assim se
mantêm. Há apenas um caso de sinonímia
interna (uma mesma espécie descrita duas
vezes como nova). É um resultado cientificamente
bom, embora faunisticamente pobre.
Há, porém, na coleção e na obra de
Castelnau, três aspectos não-faunísticos muito
fortes: observações ecológicas, dissecções
anatômicas, no campo, de peças frescas, e
coleção de esqueletos completos.
As observações ecológicas, incidentais e
desprovidas ainda de orientação teórica, não
são importantes em si, mas marcam uma tendência.
Ao contrário, os estudos anatômicos,
rigorosamente na escola de Cuvier, são importantes.
Deles resultaram contribuições
expressivas à sistemática acima do nível de
espécie. Refiro-me aqui principalmente ao
estudo sobre a cigana (“hoazin”,
Opisthocomus hoatzin), a anhuma (“kamichi”,
Anhima cornuta), a seriema (“cariama”,
Cariama cristata) e o arapapá (“savacou”,
Litografia do livro
Expéditions dan les
parties centrales de
l’Amerique du
Sud... , do conde de
Castelnau(Paris,
1850-59),
Biblioteca do
IEB- USP
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havido confusão com B. moojeni, que viria a
ser descrita muito mais tarde. No caso do
Leposternon também poderia ter havido confusão
com L. infraorbitale; o gênero é difícil.
Nos demais casos, porém, não é crível que o
Museu de Paris errasse as identificações; no
caso de P. hilarii, sobretudo, há no livro uma
linda prancha que não deixa dúvida sobre a
determinação, além do que o tipo está em
Paris. Somos obrigados a crer em confusão
de localidades na coleção de Castelnau. Além
disso, há 27 espécies (34% do total de 79)
sem localidade ou (o que dá no mesmo) com
a localidade vaga “Brésil”.
3.4.4. Anfíbios
Não houve publicação prévia sobre anfíbios
de Castelnau; há apenas o tratamento por
Guichenot, no mesmo capítulo dos répteis.
São alistadas poucas espécies (15), todas
comuns e plausíveis, nenhuma nova. Não há
comentário de significância; é um capítulo
muito bem ilustrado e morto.
Tenho a impressão de que, após o ponto
alto representado pela Erpétologie Générale
de Duméril e Bibron, este capítulo de
Guichenot marca o início da decadência da
herpetologia francesa no século XIX.
3.4.5. Peixes
A coleção de peixes de Castelnau, que
não foi objeto de publicação prévia, e que foi
tratada na obra de conjunto pelo próprio
Castelnau, é tão grande que só é possível, nos
limites deste trabalho, tratá-la estatisticamente.
Aliás, isto em si já é um comentário sobre
a importância do material.
São alistadas 264 espécies; 5 são de fora de
nossa área e 30 não consegui identificar; os
cálculos abaixo são feitos sobre 229 espécies.
São descritas como novas 95 (41%), das
quais 35 (37%) consideradas correntemente
como válidas. São números consistentes com
os dos grandes viajantes da época.
Os sinônimos apresentam alguns aspectos
interessantes. Há apenas 7 espécies descritas
duas vezes e uma descrita três vezes,
Geophagus brasiliensis, o acará mais comum
e mais amplamente distribuído do Brasil.
a viagem, mas enviadas posteriormente da
Bahia por Castelnau. Duas foram coletadas
na Guiana, mas são aqui incluídas por terem
ampla distribuição no Brasil.
Guichenot (1855-56, p. 1), como dito,
refere perda de materiais em viagem. Não
entendo, porém, Castelnau ter atravessado o
altiplano da Bolívia sem fazer chegar a Paris
sequer um Liolaemus do grupo multiformis.
Nas publicações anteriores à obra de conjunto,
quatro espécies novas haviam sido
descritas sobre materiais da viagem: Anolis
transversalis (Duméril e Duméril, 1851);
Apostolepis flavotorquata (Duméril, Bibron
e Duméril, 1854); Bothrops castelnaudi
(Duméril, Bibron e Duméril, 1854) e Bothrops
alternatus (Duméril, Bibron e Duméril, 1854).
Na obra de conjunto a parte herpetológica
ficou a cargo de A. Guichenot, herpetologista
de vôo mediano, que descreveu três espécies
novas: Gymnodactylus (= Gonatodes)
humeralis; Enyalus (= Enyalioides) laticeps
e Enyalus planiceps, sinônimo da anterior, e
da mesma localidade.
Há alguns problemas aborrecidos. As espécies
nominais Salvator merianae e S.
nigropunctatus são explicitamente ditas ocorrerem
em simpatria em “várias localidades”
brasileiras (não especificadas). Salvator é um
sinônimo de Tupinambis e não há localidade
brasileira onde dois Tupinambis sejam
simpátricos.
Na realidade, há diversos outros problemas
sérios de localidades na coleção. As localidades
peruanas de Pebas e Nauta são mais
de uma vez atribuídas ao Brasil. Na descrição
original de Bothrops castelnaudi (Duméril,
Bibron e Duméril, 1854, p. 1511) é declarado
que a localidade-tipo não era conhecida;
Guichenot (1855-56, p. 76) diz que o exemplar
vem de Goiás; a espécie não ocorre em
Goiás. Outras espécies são assinaladas em
áreas onde se sabe que não ocorrem: Platemys
hilarii do rio Amazonas; Neusticurus
bicarinatus de Nauta; Leposternon
scutigerum do rio Araguaia; Anilius scytale e
Xenodon severus da Bahia; Bothrops jararaca
de Mato Grosso e Goiás. Essas discrepâncias
podem dever-se, no geral, a dois tipos de causa:
erros de identificação ou de rotulagem (má
curatoria). No caso de B. jararaca poderia ter
R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 1 9 0 - 2 3 8 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6 221
ta plástico Aimé-Adrien Taunay e a rápida e
completa deterioração mental de Langsdorff,
que terminou a viagem louco e inválido.
Langsdorff, que tinha conhecido o Brasil
de passagem, como membro da viagem de
Krusenstern (Papavero, 1971, p. 50), conseguiu
o lugar de cônsul russo no Rio de Janeiro
(falava português por ter servido como médico
militar em Portugal) com a intenção de ter
acesso contínuo à natureza tropical. Chegou
em 1813 e ficou, em uma primeira fase, até
1820. Tinha uma confortável casa na cidade
e, principalmente, uma finíssima casa de campo,
a fazenda Mandioca, na rampa da Serra
dos Órgãos, em plena Mata Atlântica. Ali
recebia com generosidade e em ambiente culto
os viajantes científicos que começavam a
afluir ao Brasil; praticamente todos se referem
ao fato em suas memórias de viagem. Foi
na casa de Langsdorff que o príncipe de Wied
conheceu os coletores Freyreirs e Sellow
(Papavero, 1971, p. 58).
Contei em Sherborn (1902) 42 nomes
específicos homenageando Spix, 36
Langsdorff, 9 Max zu Wied-Neuwied e 6
Castelnau. Parece-me óbvio um forte componente
afetivo nas homenagens a Langsdorff,
em número tão desproporcional a sua importância
científica.
Langsdorff ficou no Rio de Janeiro de 1813
a 1820, quando voltou à Europa. Veio de novo
ao Brasil em 1822, saindo para uma
longamente sonhada expedição em 1826,
depois de diversos adiamentos e peripécias.
Nesse ínterim realizou duas excursões de
média duração a Minas Gerais, seguindo a
estrada real daqueles tempos, por Juiz de Fora
e Barbacena a Ouro Preto, capital da província.
Em junho de 1826 deu a saída à expedição
propriamente dita.
O itinerário (Papavero, 1971) foi dos mais
interessantes, e vem descrito com muito
charme por Hercules Florence (1875-76,
1929, 1941). Uma primeira fase foi de Porto
Feliz em São Paulo a Cuiabá no Mato Grosso.
Previamente, de Porto Feliz fizeram uma digressão
pela estrada das tropas até Castro no
Paraná. Não deixaram, como bons alemães,
de visitar a fábrica de ferro de Ipanema. Em
seguimento, a expedição fez o velho caminho
das monções paulistas: descendo o Tietê até
Dezesseis nomes são sinônimos de espécies
cujos tipos estavam no Museu de Paris.
Penso que isso reforça a hipótese de que
Castelnau não tenha escrito sua obra no museu.
Sendo esta a única coleção de Castelnau
que tem interesse faunístico, é necessário
considerar as localidades.
No caso de peixes marinhos apenas duas
localidades são citadas: Rio de Janeiro, o início
da expedição, e Bahia, sem dúvida a fase
consular de Castelnau em Salvador. São alistadas
124 espécies, pertencentes a 14 famílias.
Vinte são descritas como novas, 8 são
válidas.
Quanto às localidades fluviais, o Amazonas
é mencionado a respeito de 50 espécies,
a bacia do Araguaia 47 vezes, o Ucayali (incluindo
o Urubamba) 22 e o Tocantins 13.
Houve alguma coleta de água doce na Bahia
(6 espécies) e coleta ocasional em localidades
de Minas Gerais (bacias do São Francisco
e do Paraná).
Como se vê, uma contribuição fundamental.
O capítulo (Gervais, 1856) sobre a anatomia
craniana do pirarucu (Arapaima gigas) e
de um pacu grande (Colossoma bidens) é
puramente descritivo, sem contribuição à
anatomia comparada ou à sistemática.
3.4.6. Comentário
A contribuição de Castelnau mostra três
faces distintas. Os mamíferos e aves têm pouca
importância faunística, ou seja, para o
conhecimento da fauna sul-americana; a contribuição
à sistemática acima do nível de espécie
é importante. Os peixes têm grande
importância faunística, comparável à de Spix
e Agassiz, mas não ensejaram outros tipos de
estudo. Os répteis e anfíbios são medíocres
sob ambos aspectos.
3.5. Langsdorff
A expedição do barão alemão e cônsul
russo Georg Heinrich (ou Grigori Ivanovich,
como preferiam os soviéticos) Langsdorff
tornou-se notória por diversas razões, nenhuma
delas zoológica. A história da viagem seria
até pitoresca, não fossem dois dolorosos acontecimentos,
a morte no campo do jovem artis222
R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 1 9 0 - 2 3 8 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6
o Paraná, subindo este e entrando pelo Pardo
até as cabeceiras do pequeno afluente
Camapuã, passando por terra (duas léguas e
meia no carro-de-boi) para as cabeceiras do
Coxim e por ele abaixo, e pelo Taquari, até o
rio Paraguai; subindo sucessivamente este, o
São Lourenço e o Cuiabá até a cidade.
Em Cuiabá pararam dez meses, sendo
empreendida uma viagem colateral por
Cáceres até Vila Bela da Santíssima Trindade.
Durante esta viagem Taunay afogou-se
no alto Guaporé. Riedel, que estava com ele,
desceu o Guaporé e o Mamoré até o Madeira,
para o Amazonas e Belém. O resto da
expedição, com Langsdorff, tomou de novo
o caminho dos bandeirantes, descendo o
Preto, a partir de Diamantino (no divisor de
águas entre as bacias do Amazonas e do
Prata) e depois o Arinos, o Juruena e o
Tapajós até Santarém.
Havia um propósito de seguir para
Manaus e subir o Negro, saindo nas Guianas
(Garcia, 1922, p. 885), mas as condições de
saúde de Langsdorff não permitiram. Em
Santarém foi dada a expedição por terminada,
em primeiro de julho de 1828.
Langsdorff, por todos testemunhos, um
homem culturalmente muito interessante, teve
(não simultaneamente) a colaboração de três
excelentes ilustradores, Johann Moritz
Rugendas, Aimé-Adrien Taunay e Hercules
Florence. As obras desses artistas, desde
manchas e esboços até retratos acabados,
constituem um inapreciável documentário,
social e etnográfico, daquele Brasil desconhecido
– isso sem mencionar a fina qualidade
artística. Em 1988, a Academia de Ciências
da então União Soviética fez publicar essa
iconografia, em três álbuns, um para cada
artista, com um excelente histórico da viagem
por Boris N. Komissarov (ver também
1988) e farta bibliografia (ver, na Bibliografia
abaixo, Expedição Langsdorff ao Brasil,
1821-1829).
A expedição contava com um astrônomo
(na conjuntura com funções de geógrafo), N.
G. Rubsov, que não entra na nossa história;
com um botânico, Ludwig Riedel, homem
metódico e cumpridor, que coletou muito e,
quando exigido, assumiu as responsabilidades
de Langsdorff enfermo; tampouco participa
da saga zoológica. Esta é a província de
Edouard Ménétriès e dos ilustradores.
Ménétriès foi contratado como zoólogo da
expedição ainda na Rússia. Veio com Langsdorff
ao Brasil, onde, antes da expedição, trabalhou
bastante nos estados do Rio de Janeiro e Minas
Gerais. No Rio desentendeu-se com Langsdorff
e, em fevereiro de 1825 (Pinto, 1952, p. 6) voltou
à Rússia, onde se estabeleceu até a morte.
Para substituí-lo na expedição foi contratado
Christian Hasse. Este, contudo, meteu-se em
complicações amorosas (a moça casou-se com
Florence e entroncaram uma família ilustre
em Campinas) e abandonou a expedição
(Garcia, 1922, p. 886). Langsdorff cruzou o
Brasil sem zoólogo.
Na década de 1980, como dito, houve um
curioso e intenso esforço propagandístico do
governo soviético, de toda maneira promovendo
a expedição, com exposições internacionais,
acompanhadas por combativos intelectuais,
edição de catálogos e panfletos, culminando
na publicação da obra acima referida,
em três volumes (ver também Chur, 1981).
A apresentação desses álbuns começa da seguinte
maneira: “A expedição Langsdorff
(1821-29) representa um dos mais importantes
acontecimentos culturais e científicos do
Brasil [...]”. Zoologicamente falando, nada
mais errado. Ressalvado o valor dos desenhos
e aquarelas, o demais da expedição foi
um triste fracasso.
Strauch (1889) escreveu, por ocasião do
qüinquagésimo aniversário, uma detalhada
história e descrição do museu de São
Petersburgo. Langsdorff é mencionado três
vezes, por “valiosas” (“beträchtlich”, um termo
convencional) coleções de peles
(“Bälgen”) de mamíferos, aves e peixes (pp.
147, 172, 205). Komissarov (1988, p. 33)
afirma que há no museu cerca de mil exemplares
coletados por Langsdorff. Acredito,
mas o relevante no presente contexto é saber
que uso foi feito desses materiais, em época
útil, para adiantar a pesquisa zoológica.
Tanto quanto pude averiguar, foram publicados
dois artigos de pesquisa sobre materiais
zoológicos de Langsdorff. Um é a revisão
das aves do grupo das Myiotherinae (então
na família Formicariidae) por Ménétriès
(1835). O outro é um trabalho de Brandt
R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 1 9 0 - 2 3 8 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6 223
O mesmo Hellmayr (1924, p. 27) descarta
Cuiabá como localidade-tipo de outra espécie
de Ménétriès, Conopophaga
melanogaster, e propõe que seja substituída
por “rio Madeira”. A tolice aqui é dupla. A
nova localidade é de novo proposta sem discussão
dos eventuais indícios que a tornariam,
senão provável, ao menos aceitável.
Quem desceu o Madeira foi Riedel (o resto da
expedição desceu o Tapajós); não há documentação
publicada de sua viagem. Não se
sabe, por exemplo, sequer, se esse botânico
coletou aves. Em segundo lugar, o rio Madeira
não é uma “localidade”: tem cerca de 1.300
km de extensão. Cientistas dogmáticos, como
Hellmayr, por mais competentes que sejam,
acabam cometendo disparates desses.
O artigo de Brandt (1835) é heterogêneo,
tanto quanto à abrangência sistemática (inclui
várias subordens de roedores) quanto à
geográfica (cobre 4 continentes). Das 17 espécies
tratadas 11 são sul-americanas, 6 descritas
como novas. A autoria de uma delas é
explicitamente atribuída a Langsdorff, em
uma carta escrita de Ipanema – que eu saiba
o único testemunho da competência científica
de Langsdorff. Essa carta não mais existe
(N. Komissarov, comunicação pessoal). Uma
das espécies novas é válida, a presente Galea
flavidens. Um novo gênero proposto,
Holochilus, é válido, embora a espécie-tipo
seja um sinônimo. Os materiais
declaradamente atribuídos à coleção de
Langsdorff referem-se a 8 espécies. Uma é
válida (a citada Galea) e uma tem situação
complicada até hoje (Mus anguya, um
Oryzomys). Ménétriès contribuiu com uma
espécie. Não é muito.
3.5.1. Comentário
Curiosamente, a literatura sobre
Langsdorff é muito sectária, apaixonada em
desproporção com a importância científica
da contribuição. Contudo, nem os mais exaltados
defensores (em 1985 um dos
debatedores russos quase me agrediu fisicamente)
sustentam que a expedição tenha trazido
algum sensível progresso às ciências
naturais. Alguns alegam que os materiais
conservados em São Petersburgo ainda têm
(1835), diretor do museu de São Petersburgo.
Em sua revisão (que abrange, na verdade,
por critérios atuais, três famílias) Ménétriès
descreveu onze espécies novas. Seu trabalho
foi revisto por Chrostowski (1921) e Hellmayr
(1924). São consideradas válidas oito dessas
formas, uma excelente proporção. É óbvio
que todos os exemplares vieram da coleção
de Langsdorff, mas não obrigatoriamente da
expedição propriamente dita. Muitos devem
ter sido coletados por Langsdorff e Ménétriès
durante a estada do primeiro como cônsul no
Rio de Janeiro.
De fato, as localidades-tipo são Cuiabá (3
espécies), Rio de Janeiro (2), São João del
Rei (1) e Minas Gerais (2), sem mais. Com
exceção de Cuiabá as localidades indicam
claramente coleta anterior à expedição, durante
a residência de Langsdorff no Rio de
Janeiro.
Quanto a Cuiabá, que seria uma localidade
normal, dado que a expedição lá demorou
dez meses, há problemas. Aparentemente,
alguns dos exemplares atribuídos por
Ménétriès a essa localidade pertencem a formas
que aí não ocorrem. Reinhardt (1870, p.
366) acompanhado por Hellmayr (1924, p.
204) pensa que “Cuyaba” no caso não seja a
cidade mato-grossense, mas uma mina de ouro
“não longe” de Sabará (na realidade em
Caeté), onde Langsdorff possivelmente tivesse
estado. Acho essa hipótese fraquíssima.
A existirem razões ornitológicas muito
fortes para duvidar da localidade-tipo, é sempre
preferível deixá-la como duvidosa a substituí-
la por outra, proposta engenhosamente
mas sem apoio factual, ou seja, sem referência
a um exemplar-tipo. Aliás, se a localidade
não fosse a cidade de Cuiabá, de todos conhecida,
e sim uma obscura mina em outro estado,
Ménétriès, que conhecia muito bem o
Brasil, teria sido o primeiro a chamar a atenção
para o fato.
Para mim este caso significa apenas que
não se pode ter confiança completa na
etiquetagem. Ou, é claro, em Hellmayr. Finalmente,
esse tipo de mudança de localidade-
tipo não tem valor junto às “regras”. Localidade-
tipo é a localidade do tipo, e o tipo
é um indivíduo físico, é um exemplar, não um
conceito.
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terços das espécies ainda eram desconhecidos
da ciência. A diferença entre peixes de
um lado e mamíferos e aves, do outro, é altamente
significante (χ2 = 40.777 para 2 graus
de liberdade, probabilidade menor que .001).
Quanto às localidades, as espécies assim
se distribuíam: bacia do Prata, 36 (Alto Paraná,
20, Alto Paraguai, 16), bacia do Amazonas
(Tapajós), 9. Uma distribuição das mais promissoras,
pois a ictiologia da alta bacia do
Prata era desconhecida na época. Vemos assim
que, pelo menos nos peixes, teria tido
Langsdorff, se ajudado pela sorte, uma boa
oportunidade de contribuir para o conhecimento
da fauna brasileira.
3.5.2. Conclusão
A contribuição de Langsdorff ao conhecimento
da fauna brasileira não está no nível
da dos demais zoólogos aqui discutidos.
Amadorismo e má sorte conspiraram para
que a aventura quase nada representasse zoologicamente.
Uma interessante lição
colateral que se tira é que coleções têm seu
tempo de maturação; ultrapassado este, o
valor decai e acaba por desaparecer. A coleção
ictiológica de Langsdorff, estudada no
tempo certo, poderia ter sido valiosa. Hoje
não é mais; nem valor histórico tem. Há indícios
de que a coleção de mamíferos também
pudesse ter tido algum interesse. Está
igualmente ultrapassada.
Ménétriès cita localidades exatas anteriores
à expedição; Brandt não. Qual era a prática
da expedição ficamos sem saber, e esse é
um elemento importante na avaliação das
potencialidades, especialmente tendo em vista
os dados geográficos de Spix, de Wied e de
Castelnau.
Não sabemos o tamanho da coleção. Temos
apenas uma lista dos exemplares desenhados,
e não há informação sobre o destino
desses exemplares após a coleta (coleção,
panela ou volta ao rio), nem sobre que porcentagem
da pesca para fins de coleção eles
representavam. Uma coisa, porém, sabemos:
por maior que seja o número de exemplares
em São Petersburgo (e não tem como ser grande),
a coleção remanescente não passa hoje de
uma curiosidade científica.
grande valor potencial para eventuais estudos
sobre a evolução (ou depauperação) da
fauna brasileira. A hipótese é remota. O problema
das potencialidades da expedição pode,
porém, mesmo frente à magreza da publicação
científica, ser até certo ponto analisado
com base nas aquarelas e desenhos dos álbuns
de 1988.
A qualidade e a quantidade das ilustrações
zoológicas e botânicas indicam que
Langsdorff pretendia publicar pelo menos um
livro sobre a história natural da viagem. Os
três desenhistas ilustraram 156 espécies de
vertebrados, uma quantidade apreciável.
Como não existe inventário do material de
Langsdorff, publico (Tabela 1) a lista dos álbuns.
Dessas 156 espécies, 140 podem ser
identificadas sem hesitação. Aceitando (com
duas exceções estatisticamente insignificantes)
as identificações dos álbuns, fica possível
verificar que importância teriam tido as
coleções, no campo da faunística, se adequadamente
estudadas.
Das 140 espécies identificáveis, 100 já
haviam sido anteriormente descritas. Assim
teria tido Langsdorff em mãos um máximo de
40 espécies novas de vertebrados, quase 30%
das identificáveis, uma proporção normal para
a época.
Pode-se tirar mais alguma informação do
desdobramento desses dados. A Tabela 2
mostra que, como de costume, a contribuição
dos anfíbios é mínima. Estavam esperando o
lampião de querosene para começar a comparecer.
Verifica-se também como estava relativamente
adiantada a sistemática de aves: 92%
das espécies ilustradas já não eram novas.
Nota-se entre elas a ausência de pequenos
passeriformes: possivelmente não oferecessem
atrativos pictóricos (pouco provável, há
espécies lindas) ou fossem de mais difícil
coleta e preparação.
Os mamíferos também já estavam relativamente
bem conhecidos na época: 83% das espécies
já eram descritas. Não há diferença estatística
com relação às aves (χ2 = .524 para 1 grau
de liberdade, probabilidade cerca de .50).
No caso dos peixes fluviais (só 4 espécies
marinhas comuns são ilustradas, por
Rugendas), as proporções são inversas: dois
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Tabela 1
VERTEBRADOS ILUSTRADOS PELOS DESENHISTAS DE LANGSDORFF
Peixes
Paratrygonidae Artista fig. pág.
Potamotrygon cf. castexi Cast. e Yagolk., 1969 Taunay 34 35
Tetragonopteridae
Schizodon isognathus Kner, 1859 Florence 47 36
Leporinus obtusidens Valenciennes, 1847 Taunay 31 33
Leporinus octofasciatus Steindachner, 1917 Florence 33 29
Leporinus striatus Kner, 1859 Florence 36 30
Abramites hypselonotus (Günther, 1868) Florence 43 34
Curimatus modestus F.-Yepes, 1948 Taunay 30 32
Salminus maxillosus Valenciennes, 1840 Florence 31 28
Cynopotamus kincaidi Schultz, 1950 Florence 52 38
Acestrorhynchus altus Menezes, 1969 Florence 44 35
Acestrorhynchus lacustris Reinhardt, 1874 Taunay 33 34
Boulengerella cf. lucia (Cuvier, 1817) Florence 60 40
Brycon cf. hilarii (Valenciennes, 1849) Taunay 33 34
Triportheus sp. Florence 43 34
Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Taunay 29 31
Serrasalmidae
Serrasalmus nattereri (Kner, 1860) Taunay 35 36
Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) Florence 42 33
Myloplus sp. Florence 59 40
Gymnotidae
Gymnotus carapo L., 1758 Florence 39 32
Apteronotidae
Apteronotus sp. Florence 32 29
Rhamphichthyidae
Eigenmannia virescens (Valenciennes, 1847) Taunay 32 33
Ageneiosidae
Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) Florence 49 36
Doradidae
Platydoras costatus (L., 1766) Florence 41 32
Pimelodidae
Pimelodella sp. Taunay 37 37
Pimelodus maculatus Lacépède, 1803 Taunay 30 32
Pimelodus ornatus Kner, 1857 Florence 47 36
Pseudopimelodus cf. zungaro (Humboldt, 1833) Florence 50 37
Rhamdia sp. Taunay 27 30
Hemisorubim platyrhynchus (Valenciennes, 1840) Florence 45 36
Phractocephalus hemiliopterus (Schneider, 1801) Florence 58 40
Pseudoplatystoma coruscans Agassiz, 1829 Florence 38 31
Pseudoplatystoma fasciatum (L., 1766) Florence 45 36
Steindachneridion sp. Taunay 36 36
Cetopsidae
Pseudocetopsis sp. Florence 56 39
Callichthyidae
Callichithys callichthys (L., 1758) Florence 37 30
Loricariidae
Hemiodontichthys acipenserinus (Kner, 1853) Florence 54 39
Hypostomus cf. regani (R. von Ihering, 1905) Taunay 37 37
Ancistrinae sp. Florence 56 39
Hemiramphidae
Hyporamphus sp. Rugendas 13 81
Exocoetidae
Exocoetus volitans L., 1758 Rugendas 12 81
Carangidae
Naucrates ductor (L., 1758) Rugendas 10 81
Cichlidae
Crenicichla cf. lepidota Heckel, 1840 Florence 35 30
Crenicichla vittata Heckel, 1840 Florence 44 35
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Crenicichla sp. Florence 53 38
Cichlidae indeterminado Florence 34 30
Diodontidae
Chilomycterus spinosus (L., 1758) Rugendas 11 81
Anfíbios
Bufonidae
Bufo ocellatus Günther, 1859 Florence 62 42
Leptodactylidae
Proceratophrys boiei (Wied, 1825) Rugendas 14 82
Ceciliidae
Siphonops annulatus (Mikan, 1820) Florence 69 45
Répteis
Chelidae
Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Florence 67 44
Iguanidae
Iguana iguana (L., 1758) Taunay 47 45
Teiidae
Ameiva ameiva (L., 1758) Taunay 38 38
Tupinambis teguixin (L., 1758) Taunay 39 39
Teiidae não identificado ? Rugendas 16 84
Anguidae
Diploglossus fasciatus (Gray, 1831) ? Rugendas 15 83
Ophiodes striatus (Spix, 1824) Taunay 45 44
Amphisbaenidae
Amphisbaena alba L., 1758 Florence 72 45
Leposternon microcephalum (Wagler, 1824) ? Rugendas 18 85
Boidae
Epicrates cenchria (L., 1758) Taunay 42 41
Eunectes notaeus Cope, 1862 Florence 64 43
Colubridae
Apostolepis assimilis (Reinhardt, 1861) Florence 68 44
Apostolepis erythronota Peters, 1880 Florence 71 45
Chironius bicarinatus (Wied, 1820) ? Rugendas 21 87
Erythrolamprus aesculapii (L., 1758) ? Rugendas 19 86
? Rugendas 44 43
Hydrodynastes gigas Duméril, Bibron e
Duméril, 1854 Florence 65 43
Imantodes cenchoa (L., 1758) Taunay 43 42
Liophis almadensis (Wagler, 1824) Florence 70 45
Liophis miliaris (L., 1758) ? Rugendas 20 86
Liophis poecilogyrus (Wied, 1825) ? Rugendas 17 84
Taunay 44 43
Mastigodryas bifossatus (Raddi, 1820) Taunay 41 41
Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron e
Duméril, 1854 Taunay 44 43
Spilotes pullatus (L., 1758 ) ? Rugendas 18 85
Elapidae
Micrurus corallinus (Merrem, 1820) ? Rugendas 18 85
Viperidae
Bothrops jararaca (Wied, 1825) ? Rugendas 48 85
Bothrops jararacussu Lacerda, 1884 Taunay 46 44
Bothrops moojeni Hoge, 1966 Florence 63 42
Bothrops neuwiedi Wagler, 1824 Taunay 40 40
Crotalus durissus L., 1758 Florence 66 43
Aves
Ardeidae
Casmerodius albus (L., 1758) Taunay 69 59
Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Florence 75 47
Florence 98 58
Ciconiidae
Euxenura maguari (Gmelin, 1789) Florence 74 47
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Threskiornithidae
Phimosus infuscatus (Lichtenstein, 1823) Florence 86 52
Anhimidae
Anhima cornuta (L., 1758) Taunay 78 64
Chauna torquata (Oken, 1816) Florence 85 51
Anatidae
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Taunay 64 55
Cairina moschata (L., 1758) Florence 76 48
Cathartidae
Sarcoramphus papa (L., 1758) Taunay 23 27
77 63
Accipitridae
Chondrohierax uncinatus (Temminck, 1822) Florence 88 53
89 53
Gampsonyx swainsonii (Vigors, 1825) Florence 96 57
Rosthramus sociabilis (Vieillot, 1817) Taunay 62 53
Momotidae
Momotus momota (L., 1766) Florence 24 25
Florence 77 49
Bucconidae
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) Florence 24 25
Ramphastidae
Pteronotus castanotis Gould, 1833 Taunay 70 59
Ramphastos toco P. L. S. Müller, 1776 Taunay 68 58
Taunay 76 62
Ramphastos tucanus L., 1758 Florence 99 59
Picidae
Dryocopus lineatus (L., 1766) Taunay 59 52
Melanerpes cruentatus (Boddaert, 1783) Taunay 74 60
Furnariidae
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) Florence 84 50
Schoeniophylax phryganophila (Vieillot, 1817) Florence 87 52
Formicariidae
Formicivorus colma Boddaert, 1783 Taunay 48 46
Rhinocryptidae
Melanopareia torquata (Wied, 1831) Taunay 72 59
Taunay 79 65
Falconidae
Herpetotheres cachinnans (L., 1758) Florence 94 55
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Taunay 60 53
Polyborus plancus (Müller, 1777) Taunay 55 50
Cracidae
Ortalis canicollis (Wagler, 1830) Florence 81 50
Penelope ochrogaster Pelzeln, 1870 Florence 82 50
Penelope superciliaris Temminck, 1815 Taunay 56 50
Pipile grayi (Pelzeln, 1879) Florence 79 49
Phasianidae
Odontophorus capueira (Spix, 1825) Taunay 56 50
Rallidae
Micropygia schomburgkii (Schomburgk, 1848) Taunay 71 59
Taunay 79 85
Porphyrula martinica (L., 1758) Taunay 61 53
Heliornithidae
Heliornis fulica (Boddaert, 1780) Florence 80 49
Charadriidae
Vanellus chilensis (Molina, 1782) Taunay 63 54
Rynchopidae
Rynchops nigra L., 1758 Florence 73 46
Florence 97 58
Columbidae
Columba speciosa Gmelin, 1789 Florence 93 54
Uropelia campestris (Spix, 1825) Florence 95 56
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Psittacidae
Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790) Florence 83 50
Brotogeris sp. Taunay 65 66
Pionus maximiliani (Kuhl, 1820) Florence 78 49
Tytonidae
Tyto alba (Scopoli, 1769) Florence 90 54
Taunay 67 57
Strigidae
Otus choliba (Vieillot, 1817) Taunay 57 51
Speotyto cunicularia (Molina, 1782) Taunay 58 51
Trochilidae
Lophornis magnifica (Vieillot, 1817) Taunay 54 49
Alcedinidae
Chloroceryle inda (L., 1766) Florence 91 54
Cotingidae
Cephalopterus ornatus Et. Geoffroy, 1809
Procnias nudicollis (Vieillot, 1817) Taunay 53 49
Tyrannidae
Pyrocephalus rubinus (Boddaert, 1783) Taunay 52 49
Thraupidae
Stephanophorus diadematus (Temminck, 1823) Taunay 49 47
Tangara peruviana (Desmarest, 1806) Taunay 50 48
Mamíferos
Didelphidae
Caluromys philander (L., 1758) Rugendas 23 89
Chironectes minimus (Zimmermann, 1780) Rugendas 22 88
Didelphis albiventris Lund, 1840 Taunay 89 72
Didelphis aurita Wied, 1826 ? Rugendas 28 93
Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842) Taunay 82 67
Monodelphis domestica (Wagner, 1842) Florence 102 60
Philander opossum (L., 1758) Taunay 90 73
Dasypodidae
Cabassous tatouay (Desmarest, 1804) Taunay 86 70
Dasypus novemcinctus L., 1758 ? Rugendas 24 90
Phyllostomidae
Artibeus lituratus (Olfers, 1818) Florence 103 61
Chiroderma doriae Thomas, 1891 ? Rugendas 29 95
Platyrrhinus lineatus (Et. Geoffroy, 1810) Taunay 83 68
Callithrichidae
Callithrix argentata (L., 1771) Taunay 91 75
Callithrix aurita (Et. Geoffroy, 1812) Rugendas 9 79
Rugendas 32 96
Callithrix geoffroyi (Humboldt, 1812) Rugendas 33 97
Cebidae
Alouatta fusca (Et. Geoffroy, 1812) Taunay 87 71
Taunay 88 71
Cebus albifrons (Humboldt, 1812) Taunay 92 75
Canidae
Cerdocyon thous (L., 1766) Florence 104 61
Felidae
Panthera onca (L., 1758) Florence 101 60
Procyonidae
Nasua nasua
Cervidae
Mazama sp. Taunay 84 69
Ozotocerus bezoarticus (L., 1758) Florence 100 60
Dasyproctidae
Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823 Taunay 81 67
Echimyidae
Euryzygomatomys spinosus (G. Fischer, 1814) Taunay 85 69
Leporidae
Sylvilagus brasiliensis (L., 1758) Taunay 80 67
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Tabela 2
ESPÉCIES IDENTIFICÁVEIS DE VERTEBRADOS REPRESENTADAS NOS ÁLBUNS DE LANGSDORFF:
ÉPOCA DE DESCRIÇÃO
Antes de 1830 Depois de 1830
Peixes fluviais 9 (28.1%) 23 (71.9%) 32
Anfíbio 2 1 3
Répteis 20 (71.4) 8 (26.6) 28
Aves 46 (92.0) 4 (8.0) 50
Mamíferos 20 (83.3) 4 (16.7) 24
97 (70.8) 40 (29.2) 137
extensão territorial possível, dividiu sua equipe
em subgrupos e distribuiu-os pelo país
(Dick, 1977). Ficaram no campo até meados
de 1866, cerca de 14 meses ao todo.
O grosso das coleções foi conseguido na
Amazônia, com total preponderância dos
peixes, único grupo a que Agassiz se dedicou.
Não se coletaram aves nem mamíferos:
o preparador da expedição era fraco, os assistentes
tinham tarefas e interesses próprios.
Não havia no grupo um botânico, e não há
praticamente notas ecológicas, apenas observações
casuais de Agassiz, que via por todo
lado vestígios de recentes glaciações (um dos
erros mais egrégios da pesquisa no Brasil).
A meu ver, nunca zoólogo nenhum teve
as condições de trabalho de que gozou
Agassiz. Previamente avisados pela corte, os
grandes fazendeiros faziam construir tanques
e estocá-los com os peixes da região. Hospedavam
a expedição. Agassiz escolhia os
exemplares e seu artista, James Burkhardt,
desenhava-os vivos. Essas aquarelas inéditas,
da melhor qualidade, adornam hoje as
paredes da diretoria do MCZ.
Na Amazônia, onde não havia fazendeiros
ricos desejosos de agradar o imperador,
teve Agassiz o concurso de um extraordinário
oficial brasileiro, o major de engenheiros
João Martins da Silva Coutinho. Vaqueano,
pois tinha desempenhado missões militares
na Amazônia (Garcia, 1922, p. 897), experiente,
fino, dedicado, era um gerente ideal e
companheiro de viagem ainda melhor. Os
Agassiz referem-se a ele na narrativa da viagem
com muito carinho.
Uma digressão. A narrativa é assinada
pelo casal (Agassiz e Agassiz, 1868), mas foi
3.6. Agassiz
O encontro de Louis Agassiz e D. Pedro
II foi uma convergência: um imperador que
amava a intimidade dos sábios, e um sábio
que amava a intimidade dos imperadores
(pelo menos, dos ricos).
Agassiz, suíço-francês, começou a vida
como geólogo, especificamente como
glaciologista: ganhou rapidamente reputação
por estudos pioneiros sobre as glaciações alpinas.
Ainda muito jovem fez os peixes da
expedição bávara, com o brilho que se sabe.
A seguir publicou, entre 1833 e 1843, um
tratado fundamental sobre peixes fósseis. Em
1850 emigrou para os Estados Unidos, onde
fundou, na Universidade de Harvard, o
Museum of Comparative Zoology (MCZ)
que, apesar do nome sem sentido, foi e é uma
instituição muito importante.
Agassiz era um conferencista abundante
e apreciado. Tinha vida social intensa e mantinha
relações pessoais com os grandes da
política e, especialmente, das finanças. Desde
o tempo em que, muito jovem, com seus
20 anos, estudara a coleção de Spix, acalentava
o sonho de vir ao Brasil fazer pesquisa
ictiológica de primeira mão. Acabou por
montar uma expedição, custeada pelo milionário
Nathaniel Thayer (o nome oficial era
“Thayer Expedition to Brazil”) e contando
com entusiástico endosso de D. Pedro II. Veio
em 1865.
Trouxe consigo um grupo de assistentes
jovens e ainda inexperientes. (Alguns saíram
para a fama, como o grande geólogo Frederick
C. Hartt; os demais tiveram desempenho
menor.) Com a intenção de cobrir a maior
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obviamente escrita pela mulher, Elisabeth
Cary Agassiz, intelectual de seu próprio direito,
fundadora do famoso e pioneiro
Radcliffe College para moças, hoje fundido
com a Universidade de Harvard. É uma narrativa
clara, singela, simpática, mas também
algo turística e muito convencional. É um
estilo que não satisfaz o biólogo: quer-se algo
com mais carne e sangue, e cheiro de chão.
Por isso havia entre os zoólogos brasileiros
um grande desejo de descobrir o “baú” do
major Coutinho – seu arquivo pessoal, provavelmente
contendo diários ou notas de campo,
que se previam francos e interessantes.
Na década de 80 o baú foi descoberto, e a
família, generosamente, permitiu a publicação
do inventário (ver, na bibliografia, Inventário...).
Foi uma terrível decepção. Não havia
uma única nota sobre a expedição; em vez,
farto material sobre estradas de ferro, aparentemente
uma paixão do major. A Amazônia
fora apenas “missão cumprida”.
Como dito, os assistentes de Agassiz eram
inexperientes – aliás, ele também era. As coleções,
por motivos que nunca me foram explicados,
foram recebidas e desempacotadas
no museu, em Cambridge, Massachusetts, por
um grupo de estudantes de Teologia. Diz a
tradição oral no MCZ que nessa ocasião foram
cometidas grandes barbaridades quanto
à rotulagem dos exemplares.
Incorporada à seção de Ictiologia do MCZ,
a coleção nunca foi estudada como um todo.
Apenas uso eventual, tardio e pouco, foi feito
de seus exemplares (por exemplo, Garman,
1913; Eigenmann, 1917). Na verdade, só
muito recentemente o material recebeu
curadoria adequada. Quando eu era aluno de
pós-graduação no MCZ, o diretor do museu
e meu orientador de tese, dr. A. S. Romer,
contratou-me para dar um primeiro trato às
localidades de Agassiz. Fiquei horrorizado,
mas também fascinado. Havia, por exemplo,
e entre muitos, um registro “Sarruarruhaia”;
alguém escreveu “samambaia” com caligrafia
angulosa, e o seminarista interpretou.
Como as coleções de Langsdorff, não tendo
sido objeto de um estudo firme, que lhe
marcasse a personalidade, a coleção de peixes
de Agassiz tem hoje o mesmo valor que
qualquer material avulso daquele tempo. Das
regiões visitadas existem agora coleções bem
preparadas e bem documentadas. A “Thayer
Expedition”, apesar de Agassiz e de D. Pedro
II, perdeu a vez na história.
4. CONCLUSÃO
A extensão e a duração das viagens dos
primeiros naturalistas, compensando as deficiências
técnicas da época, resultaram em uma
sedimentação relativamente rápida do conhecimento
da fauna brasileira. Por volta do terceiro
quarto do século XIX os vertebrados do
Brasil estavam melhor cadastrados do que,
por exemplo, os dos Estados Unidos. A importância
dos viajantes para a Zoologia em
nível global foi das maiores.
Esse conhecimento não trouxe, porém,
contribuição direta ao país. Não havia sequer
germe de história natural, e esses materiais
carreados para fora saíram da circulação cultural
do Brasil. A zoologia brasileira veio a
estabelecer-se no começo do século XX, fundada
nos “Catálogos do Museu Britânico” –
que devidamente incorporavam a contribuição
dos viajantes, diluída, porém, no tratamento
catalográfico.
Jacques Burkhardt,
“Peixes
Brasileiros”,
aquarelas sobre
papel(1868),
Museum of
Comparative
Zoology, Harvard
University,
Cambridge
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exécuté par ordre de S. M. le Roi de Bavière dans les années 1817, 1818, 1819, 1820, Publiée par
Jean de Spix. Monachii, Franc. Seraph. Hübschmann, 1823, viii + 72 p., 38 pls.
———. Avium species novae quas in itinere per Brasiliam annis MDCCCXVII-MDCCCXX jussu et
auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis suscepto collegit et descripsit Dr. J. B. de Spix.
Monachii, Franc. Ser. Hübschmann. 1824a, Vol. 1: (8) + 90 p., 91 pls.; Vol. 2: (4) + 85 p., 109 pls.
———. Animalia nova sive species novae Testudinum et Ranarum quas in itinere per Brasiliam
annis MDCCCXVII-MDCCCXX jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis suscepto
collegit et descripsit Dr. J. B. de Spix. Monachii, Franc. Seraph. Hübschmann, 1824b, 53 p., 17 +
22 pls.
———. Serpentum Brasiliensium species novae ou Histoire Naturelle des Serpens, recueillies et
observées pendant le voyage dans l’intérieur du Brésil dans les années 1817, 1818, 1819, 1820,
exécuté par ordre de Sa Magesté le Roi de Bavière, publiée par Jean de Spix, écrite d’après les
notes du voyageur par Jean Wagler. Monachii, Franc. Seraph. Hübschmann, 1824c, viii + 75 p., 26
pls.
———. Animalia nova sive species novae Lacertarum quas in itinere per Brasiliam annis
MDCCCXVII-MDCCCXX jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavierae Regis sucepto collegit
et descripsit Dr. J. B. de Spix. Leipsig, T. O. Weigel, 1825, 26 p., 28 pls.
———. Selecta genera et species Piscium quos in itinere per Brasiliam annis MDCCCXVIIMDCCCXX
jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis Augustissimi peracto collegit
et pingendos curavit Dr. J. B. de Spix, digessit, descripsit et observationibus anatomicis illustravit
Dr. L. Agassiz, praefactus est et edidit itineris socius Dr. C. F. Ph de Martius. Monachii, C. Wolf,
1829, xvi + ii + 136 p., pls 1-76, A-F.
———. Species novae Ranarum quas in itinere annis MDCCCXVII-MDCCCXX per Brasiliam
jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis Augustissimi suscepto collegit et descripsit
Dr. Joannes Bapt. de Spix. Operis a Spixio anno MDCCCXXIV primum editi tabulas revisit, denuo
imprimendas et emendatis coloribus imbuendas curavit Dr. Car. Frid. Phil. de Martius. Monachii,
Impensis Editoris, 1840a, 29 p., 22 pls.
———. Species novae Testudinum quas in itinere annis MDCCCXVII-MDCCCXX per Brasiliam
jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis Augustissimi suscepto collegit at descripsit
Dr. Joannes Bapt. de Spix. Operis a Spixio anno MDCCCXXIV primum editi tabulas revisit, denuo
imprimendas et emendatis coloribus imbuendas curavit Dr. Car. Frid. Phil. de Martius. Monachii,
Impensis Editoris, 1840b, 24 p., 17 pls.
238 R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 30 ) : 1 9 0 - 2 3 8 , J U N H O / A G O S T O 1 9 9 6
——— e MARTIUS, C. F. P. von. Reise in Brasilien auf Befehl Sr. Majestät Maximilian Joseph I.
Königs von Baiern in den Jahren 1817 bis 1820 gemacht und beschrieben von Dr. Joh. Bapt. von
Spix und Dr. Carl Friedr. Phil. von Martius. Vol. 1 (München, 1823, bei M. Lindauer): xiv + 412
pp.; Vol. 2 (München, 1828, bei I. J. Lentner): xviii + 413-884; Vol. 3 (München, 1831, beidem
Verfasser; Leipzig, in Comm. bei Friedr. Fleischer): 1vi + 885-1.388 + 40 p. Atlas: 41 pls., 12
mapas.
———. Viagem pelo Brasil. Tradução brasileira promovida pelo Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro para a comemoração do seu centenário. Tradutora, d. Lucia Furquim Lahmeyer, bibliotecária
do Instituto; revisores, o dr. B.F. Ramiz Galvão e o prof. Basilio de Magalhães (que foi
também o anotador). Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1938. Vol 1: xxxv + 389 p.; Vol. 2: 567 p.;
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