domingo, 1 de abril de 2012

VIAJANTES E CIENTISTAS ESTRANGEIROS QUE PESQUISARAM A AMAZÔNIA

TRAFICANTES DO EXCÊNTRICO

os antropólogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60


Mariza Corrêa


"Perhaps the first thing that strikes the sociologist is that anthropologists are a tribe."

(D. MacRae., 1974)

"Plus généralement, la photographie peut être le prétexte à une libération de l'imagination, ou le plus souvent une tentative de compensation pour ceux qui ne peuvent plus ‘vivre que par le souvenir’, et la tentation du bovarysme lorsqu'on ne peut accéder au dépaysement en premiére personne."

(R. Castel, em Bourdieu, 1965)





Talvez seja uma ironia adequada a esta disciplina que se quer uma ciência do outro que ela tenha criado, em quase toda parte, tradições antropológicas nacionais fundadas por estrangeiros: Franz Boas nos Estados Unidos, Curt Nimuendaju no Brasil, Bronislaw Malinowski na Inglaterra. Seja como for que estrangeiro édefinido, de certa maneira, integrantes dessa tribo, somos todos estrangeiros (o que não é o mesmo que dizer, como Clifford Geertz, que "somos todos nativos"). Cada antropólogo que conta sua história pessoal relembra como veio de um outro campo do saber, de uma outra região de seu país, ou de outro, ou como perdeu qualquer outra referência inicial que possuía. Conta, em suma, como é um desenraizado, um ex-cêntrico (1). Ironias de uma tribo que talvez se defina, afinal, por pretender não pertencer a nenhuma outra que não a antropológica.

No caso brasileiro, se acrescenta ainda a esta ambigüidade, às vezes uma harmonia, às vezes um descompasso, entre ‘como pensamos' e ‘como nos pensam'. A trajetória brasileira da disciplina é, mais do que costumamos registrar explicitamente, parte tanto de seu percurso internacional, quanto do imaginário dos antropólogos em geral: lembrando de novo o exemplo de Geertz, é de Lévi-Strauss que ele está falando quando escreve "mito brasileiro" ao invés de seu nome (1983, p. 150). E, assim como os antropólogos inventaram "tradições tribais" para povos entre os quais elas não faziam sentido (Cf. Ranger, 1984), costumam criar e re-criar as suas próprias: como diz Kuper, para toda uma geração, "a Antropologia Social nasceu em 1914 nas Ilhas Trobriand" (1978, p. 11).

As tradições aqui inventadas, se não o foram apenas por estrangeiros, tiveram uma forte participação deles nessa invenção: se olharmos atentamente o mapa etnológico de Curt Nimuendaju, quase poderemos ver as sombras dos pesquisadores que as estudaram projetando-se sobre os contornos das comunidades indígenas por eles estudadas até a década de 40, projeção que nos ajudaria mais, entretanto, a entender a distribuição deles, pesquisadores, num território disciplinar comum, do que a de seus objetos de interesse. Mas isto seria ainda apenas um esboço dos inícios de uma disciplina que se apropria, talvez indevidamente, de uma história que não é exatamente, ou inteiramente, a sua. Ainda que grosseiro, este esboço ou rascunho indicaria que boa parte do conteúdo que se manteve em vigência no interior do que hoje chamamos de Antropologia, desde este início mítico, o fez de certa forma incorporando as informações aí contidas, como se fosse um precipitado delas. Não é sem interesse lembrar que o outro ramo mítico da disciplina, o dos estudos sobre negros, tem como herói fundador Raimundo Nina Rodrigues: desse cruzamento entre nativos que se interessavam pelo estudo de ‘estrangeiros’ (os "colonos negros" como os chamava o médico maranhense) e estrangeiros que se interessavam pelos nativos, nasceu a tradição antropológica no Brasil. Antes de avaliar a harmonia e o descompasso mencionados, de analisar o diálogo mantido pelos antropólogos entre si nesses anos todos, convém entender um pouco melhor como se distribuíam no país os integrantes dessa `tribo'.

Algumas imagens podem ajudar a circunscrever os espaços e os personagens de uma história difícil de recuperar no detalhe em todas as regiões do país: diferindo no singular, os antropólogos se reconheciam no plural em alguns momentos ou certas situações que, certamente não por acaso, estão registrados nas (mesmas) fotografias que vários deles exibiram no decorrer da pesquisa. Algumas dessas fotos vão ser lembradas aqui justamente porque expressam bem alguns daqueles momentos na história da disciplina, de certa maneira concentrando instantes de uma realidade que só aos poucos pode ser recuperada por quem não a viveu. Os três momentos são, eles mesmos, exemplares: nas décadas de trinta e quarenta, com a chegada do cinema falado (como lembra Almir de Castro, 1977), entrou também no país a modernidade da língua inglesa — belas cartas de amigos de Eduardo Galvão, dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra, sugerem o impacto do modo de vida norte-americano sobre os brasileiros, assim como o registram os cronistas da época; na década de cinqüenta, o espírito de desenvolvimento vigente no país se expressou também na institucionalização dás ciências sociais e, na década seguinte, muitas das iniciativas dos anos anteriores amadureceram, não obstante os obstáculos políticos conhecidos.

Roberto Da Matta (1985) chamou a atenção recentemente para uma foto de 1939 num artigo tão interessante pelo que diz quanto pelo que deixa de dizer. Nela aparecem, da esquerda para a direita, Claude Lévi-Strauss, Ruth Landes, Charles Wagley, Heloísa Alberto Torres, Luís Castro Faria, Raimundo Lopes e Édison Carneiro (Foto 1). Tirada no Jardim da Princesa (2), no Museu Nacional, a foto parece emblemática pela `troca de guarda' que sinaliza tanto quanto pela posição ocupada pelos retratados, enfatizada por Matta e levemente alterada em outra (Foto 2).

Lévi-Strauss, e com ele muitos outros integrantes das várias ‘missões francesas’ que para cá vieram na época, estava deixando o Brasil, logo após uma viagem de pesquisa que teria importância marcante no seu trabalho e do qual participaram dois outros antropólogos, um deles presente na foto (Castro Faria) (3). Ao voltar por escrito, com o sucesso do estruturalismo na década de 60, teria passado por outra influência decisiva no seu pensamento, em sua estada nos Estados Unidos durante e logo após a Segunda Guerra, influência que, a partir daí, seria notável também no Brasil (4). Os dois outros estrangeiros fixados pela câmera brasileira, Ruth Landes e Charles Wagley, vindos de Columbia, aparentemente atendiam a um apelo feito por dona Heloísa a Boas (Wagley, 1977),no sentido de enviar pesquisadores treinados ao país: não eram os primeiros antropólogos norte-americanos a chegar e não seriam os últimos, mas foi nessa época que a sua vinda se intensificou.

A presença de ambos — e a do professor Donald Pierson, vindo da Universidade de Chicago, que começou a trabalhar no ensino e na pesquisa em São Paulo no mesmo ano — indica uma mudança de orientação metodológica e teórica que seria decisiva para os caminhos das ciências . sociais no país, e para a antropologia em particular, até meados da década de 60. Inicialmente, e em termos institucionais, Columbia e Chicago deteriam esta influência, só mais tarde compartilhada por Harvard e, depois, multiplicada.

Convém lembrar também á origem regional dos brasileiros fotografados: ladeando dona Heloísa e Castro Faria, ela carioca, ele fluminense, estão o baiano Édison Carneiro (1912-1972), principal guia de Ruth Landes nas suas pesquisas em Salvador e o ‘maranhense’ Raimundo Lopes (1894-1941). Ambosevocam, com sua presença, a de outros maranhenses e baianos sempre lembrados quando se fala nas origens da disciplina no país (5). Segundo Matta, a foto é de março de 1939 e poderíamos conjeturar sobre os desencontros que impediram que outros pesquisadores estrangeiros, presentes no país, figurassem nela. Alfred Métraux (1902-1963),suíço criado na Argentina, aluno de Mauss e Rivet, com um doutorado sobre os Tupi-Guarani e, até sua morte, representando a Unesco na América Latina, viera desde Nova York no mesmo navio que trouxe Wagley e, em fevereiro, encontrou-se no Museu com dona Heloísa, Veliard e Raimundo Lopes. Wagley, que se demorou um pouco mais no Rio, estudando o português e levantando fontes para a sua pesquisa com os Tapirapé na biblioteca do Museu, menciona ainda, além de Landes, William Lipkind, também de Columbia, e Buell Quain, que o acompanhou uma tarde ao Museu: os dois tinham chegado um pouco antes ao Brasil, também para estudar nossos índios. Landes chegara no ano anterior e, por recomendação de Pierson, fora apresentada por Arthur Ramos a "amigos no Rio" (Acervo: correspondência D. Pierson-Arthur Ramos). Dina Lévi-Strauss, primeira esposa do etnólogo, tendo adoecido durante a expedição ao Brasil Central, voltara um pouco antes para a França.

Esses encontros e desencontros de antropólogos de regiões e nacionalidades distintas, evocados pela foto de uma reunião certamente nada fortuita no Museu Nacional — de onde dona Heloísa; "usando seu grande prestígio e vasto círculo de amigos", guiava os visitantes pela "intrincada burocracia que exigia o registro de estrangeiros, a permissão para realizar uma expedição científica e vários documentos oficiais" (Wagley, 1977) (6) — sugere um dinamismo ,dá disciplina naquela época que desmente a imagem fixa desses personagens num antigo negativo. Não só podemos vê-los mover-se no contexto brasileiro como reaprendemos, acompanhando este movimento, a importância dos laços internacionais para a nossa antropologia, e o alcance nacional dela. Visto da ótica dos viajantes e pesquisadores de outros países que o freqüentavam há muito tempo, o país parecia quase sem fronteiras internamente, como um imenso cenário único para suas expedições e mesmo seus limites externos eram tênues para quem, como era muitas vezes o caso, acompanhava grupos indígenas em seus prolongamentos dentro e fora do país geopolitico (7). Os contatos que eles estabeleciam, a partir de seu conhecimento da realidade ‘americana’, também os ajudaram a formar uma rede social importante tanto para a antropologia internacional quanto para a disciplina no país: a relação entre Métraux e Lévi-Strauss é apenas um dos exemplos possíveis disso.

O isolamento regional, retrospectivamente enfatizado hoje por muitos antropólogos que viveram a década de 30 e 40 fora do eixo Rio-São Paulo parece ser também sublinhado por comparação à aceleração das comunicações na época contemporânea — na prática, ele nunca impediu a sua circulação e encontros como o registrado na foto do Museu. Mesmo os nativos cruzavam facilmente nossas fronteiras. Homens do Norte e do Nordeste ocuparam cargos no centro do cenário institucional que nos interessa, o da antropologia, como Gilberto Freyre e Arthur Ramos, entre tantos — mas só na década seguinte algumas poucas mulheres antropólogas foram para a capital do país — ainda que o inverso fosse menos comum. Nesse momento era bem maior também o número de estrangeiros que chegavam do que de brasileiros que saíam do país enquanto antropólogos.

Na Universidade do Distrito Federal, Gilberto Freyre ocupou a cadeira de Antropologia Social e Cultural, além da de Sociologia, entre 1935 e 1936, ficando Arthur Ramos com a de Psicologia Social: Ramos assumiu depois a cadeira de Antropologia Física e Cultural na Faculdade Nacional de Filosofia que reiniciava as atividades interrompidas, justamente nesse ano de 1939, da Faculdade de Ciências da Universidade do Distrito Federal com a criação da Universidade do Brasil. Com exceção de ambos, de Édison Carneiro, de Roquette-Pinto e da própria, dona Heloisa, todos os integrantes da comunidade antropológica nacional nas três décadas seguintes eram, então, estudantes (8). Em São Paulo, estudantes de Donald Pierson, Emílio Willems e Herbert Baldus, todos estrangeiros, na Escola de Sociologia e Política (fundada em 1933), ou dos professores franceses na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (fundada em 1934), onde também lecionava Willems e onde Roger Bastide (1898-1974) foi a influência estrangeira mais duradoura, tendo permanecido lá por dezesseis anos (Pereira de Queiroz, 1983). Herbert Baldos, desde este ano de 1939 catedrático de Etnologia brasileira na Escola de Sociologia e Política, cargo que ocupou até morrer, foi, de certa forma, o contraponto ‘indígena’ do ‘africanista’ Bastide.































Arthur Ramos morreria na década seguinte e o fotografado Édison Carneiro nunca teve um posto acadêmico, apesar (ou talvez por causa) de sua luta política pelos direitos dos negros e das associações religiosas de origem africana em Salvador. Roquette-Pinto, embora tenha presidido a comissão organizadora da Primeira Reunião Brasileira de Antropologia, já falecera quando da organização da Segunda em que a Associação foi fundada. Os nomes mais conhecidos na antropologia no país desde então estavam ainda em início de carreira: Castro Faria, a época da foto, era ‘naturalista voluntário’ no Museu Nacional, para onde entrou por concurso em 1944, dois anos depois do de Eduardo Galvão (1921-1976), também `voluntário' no final de 1939 e que estreou como antropólogo do mesmo modo que seu colega, numa expedição dirigida por Charles Wagley no ano seguinte. Darcy Ribeiro, que menciona a si mesmo como um dos três antropólogos da segunda geração da "família dos etnólogos brasileiros" (em Galvão, 1978), em 1939 ainda não tinha saído de Minas Gerais, de onde foi, pelas mãos de Donald Pierson, para a Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Egon Schaden, recém-licenciado na Faculdade de Filosofia, ex-aluno de Lévi-Strauss, fundava com seu pai, Francisco Schaden, a revista Pindorama, onde publicou, no ano anterior, seu primeiro artigo etnológico, em alemão, língua em que era editada a revista. Lévi-Strauss publicara, dois anos antes, o seu primeiro artigo etnológico, em português, na Revista do Arquivo Municipal. Futuros presidentes da ABA (Associação Brasileira de Antropologia) como Thales de Azevedo, na Bahia, e René Ribeiro, em Pernambuco, ainda publicavam apenas artigos médicos nessa época; Manuel Diégues Jr. começava a se interessar pela antropologia através de um curso de Gilberto Freyre na Faculdade de Direito do Recife e, no sul do país; Loureiro Fernandes, (1903-1977) também se dedicava, com sucesso, a sua clínica médica. O quadro é certamente esquemático, mas dá uma idéia dos componentes da tribo antropológica para o ano de 1939.

Neste final da década de 30,era freqüente também o cruzamento das fronteiras institucionais: Mário Wagner Vieira da Cunha, formado na Faculdade de Filosofia, fez seu doutorado em Chicago, estimulado por Donald Pierson, e depois trabalhou com ele na Escola de Sociologia e Política; Florestan Fernandes, também vindo da Faculdade, fez seu mestrado na Escola, com Baldus, defendendo o doutorado na Faculdade de Filosofia; Gioconda Mussolini, uma dos três primeiros mestres da Escola, foi trabalhar na Faculdade — e assim por diante. Como os exemplos sugerem, as fronteiras disciplinares eram facilmente atravessadas. A distinção entre antropologia e sociologia era bem menos marcada do que parece sê-lo atualmente; ver, por exemplo, a lista dos integrantes da Sociedade de Sociologia e a dos da Sociedade de Etnografia e Folclore: como sugere Lélia Soares (1983), havia uma sobreposição de ambas. A rede social dos intelectuais parecia cruzar-se em muitas direções, em cada região ? a dos ‘cientistas sociais’, inovação recente, em muitas mais e já num sentido nacional.

A instituição acadêmica não era, também, o único ponto de cruzamento das biografias de estudantes e professores naquele momento: um dos professores da Escola de Sociologia, por exemplo, Sergio Milliet, trabalhava também no Departamento Municipal de Cultura, dirigido por Mario de Andrade, e foi quem ofereceu espaço do Departamento, num prédio ao lado do Mercado Municipal, para ser ocupado por Pierson e seus jovens assistentes de pesquisa (Nogueira, Depoimento). Outra iniciativa do Departamento foi a criação, por Mário de Andrade, de um curso, dado por Dina Lévi-Strauss, com a duração de um ano, sobre folclore, de onde se teria originado a Sociedade de Etnografia e Folclore, que encerrou suas atividades no ano de 1939, dois anos depois de ter-se iniciado. Do curso resultou também a publicação de um manual, Instruções Práticas para Pesquisas de Antropologia Física e Cultural, primeiro do tipo a ser publicado em português, pelo Departamento, em 1936 (9). Sobre a Sociedade, diz Mario Wagner Vieira da Cunha:

"Constituímos um pequeno grupo que queria, antes de tudo, voltar-se para o trabalho de campo. Nesse período, organizou-se com Mario de Andrade o Departamento de Cultura, dando o apoio material necessário ao que se chamou, primeiro, Clube de Etnografia. Era chamado Clube justamente para ficar bem claro que não tinha nada do convencionalismo de sociedade. Acabamos caindo nas amarras do convencionalismo e transformamos aquilo numa sociedade mesmo. Mas nunca teve mais vida do que nas reuniões que se faziam, às segundas-feiras, na Escola de Comércio Álvares Penteado, no sótão, onde havia mesmo um museu de etnografia, organizado desde logo pela Diva Lévi-Strauss, onde ela tinha reunido muitos cacos de cerâmica, muita palha" (Citado em Soares, 1983).

Quase em seguida, em 1941, Arthur Ramos criou no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, da qual se tem escassa notícia: deveria estar ainda em funcionamento no final da década, pois em 1947 Ramos apresenta o livro de Nunes Pereira (1979) como o primeiro volume das publicações da Sociedade e em 1948, segundo Florestan Fernandes (1975, p. 167), saiu o livro do padre Albisetti sobre os Bororo, também sob sua chancela. Em 1984, Nunes Pereira lembrava apenas de outra publicação dela, um livro de Luisa Gallet, companheira de Ramos. Arthur Ramos convidou Donald Pierson a fazer uma palestra para seus alunos no Rio, logo após a sua chegada ao Brasil é manteve com ele uma correspondência regular até morrer. Sua assistente e sucessora, Marina São Paulo Vasconcelos, seria, juntamente com dona Heloísa, eleita para a primeira diretoria da ABA, como integrante de seu Conselho Científico.

O outro antropólogo carioca reconhecido na época e autor de um antigo Guia de Antropologia (1915), Edgard Roquette-Pinto, que fora diretor do Museu Nacional antes de dona Heloísa (de 1926 a 1935), também mantinha relações com os intelectuais paulistas: Mário de Andrade recomendava o uso de sua "maquininha" em 1938, para expedições etnográficas, e Fernando de Azevedo escreveu um sentida necrológico, em que lembrava os passeios de ambos no "pequeno e velho Ford" de Roquette, a procura de um lugar para o Instituto de Educação (10). Mas, nessa época, ele estava já interessado e muito envolvido com o projeto do Instituto nacional de Cinema Educativo que organizou em 1937 e do qual foi o primeiro diretor.

Fora do eixo central do país, em regiões onde as Faculdades de Filosofia se instalariam mais tarde, seguindo aqueles modelos, e dependendo da região, a concentração daqueles que seriam depois definidos ou reconhecidos como antropólogos estava em torno de um museu (caso do Museu Paraense Emilio Goeldi, por exemplo, de tradição antiga), de um personagem (como Gilberto Freyre, já nessa época personagem nacional em Pernambuco), ou de um ‘movimento’ (o da defesa do folclore, de Câmara Cascudo, em Natal, ou os Congressos Afro-Brasileiros, no Recife, em 1934, organizado por Gilberto Freyre, e na Bahia, em 1937, organizado por Édison Carneiro). Que essas instituições, pessoas ou grupos eram os pontos de referência de uma território antropológico implicitamente reconhecido são testemunhos os depoimentos daqueles que vinham de fora dele, como os antropólogos estrangeiros, ou os antropólogos nativos em sua circulação interna: esses pontos, mencionados por todos, vão assim desenhando o perfil de um grupo que se reconhecia, ainda que não se definisse explicitamente como tal, nos anos trinta e quarenta.

Essa explicitação se faria na década de cinqüenta, com a fundação da Associação Brasileira de Antropologia, durante a Segunda Reunião Brasileira de Antropologia., em Salvador, em 1955 (11). Diz a apresentação de seus Anais:

“Em dois aspectos diferiu nitidamentea primeira da segunda Reunião. Enquanto aquela forainiciativa do Museu Nacionale se realizara sob o patrocínio do Ministério de Educação e Cultura por intermédio da Reitoria da Universidade do Brasil, a última já foi uma iniciativa dos próprios antropologistas ali reunidos, marcando a tendência à constituição de um órgão profissional que não se organizou formalmente na ocasião devido a dificuldade de encontrar uma fórmula satisfatória, mas que veio a constituir-se na reunião da Bahia. (...)

"Apesar de funcionar, em parte, com o caráter de congresso, a Reunião não se perdeu em formalismos ou convencionalidades que, tantas vezes, afetam as assembléias científicas; teve, antes, o cunho de um seminário, de uma troca informal de experiências e conhecimentos, de um esforço de colaboração, entre os participantes, para o progresso dos estudos antropológicos e para a criação de uma consciência profissional entre os antropologistas brasileiros" (Anais, 1957, ênfase adicional).

Estavam na reunião "47 antropologistas e estudantes", alguns presentes na foto de uma das sessões (Foto 3). Na primeira fila, da esquerda para a direita, estavam Thales de Azevedo, Camilo Cecchi, Froes da Fonseca, Castro Faria e Darcy Ribeiro; na segunda, Herbert Baldus, Charles Wagley, Carlos Eduardo da Rocha e Consuelo Pondé; na terceira, Harry Hutchinson, Carmelita Junqueira Alves Hutchinson, Josildeth da Silva Gomes (Consorte) e Egon Scháden. Nessa foto meio apagada, o professor Thales de Azevedo reconheceu ainda Maria Thetis Nunes e Lygia Estevão "de Oliveira (12). O grupo se ampliara desde 1939, mas só a partir da Terceira Reunião (1958), seus integrantes passariam a se definir como antropólogos, ao invés de antropologistas, um indicador, na linguagem, da influência norte-americana na disciplina.

Além das instituições existentes no período anterior - o Museu Nacional, o Museu Paulista, o Museu Paraense, a Faculdade de Filosofia e a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, outras estavam presentes na lista das que enviaram representantes a Reunião: o Museu do Índio, criado em 1953; o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, oficialmente criado em dezembro de 1955, e representado por Wagley, B. Hutchinson e Josildeth Gomes; o Instituto Joaquim Nabuco de Ciências Sociais, criado em 1949, representado por René Ribeiro; a Faculdade de Filosofia da Bahia, criada em 1943, entre outras. Basicamente, as ampliações se fizeram seguindo o pontilhado esboçado pelos núcleos regionais ou institucionais presentes antes, com duas inovações importantes que serão, por isso, tratadas em outro texto: a forte ligação das Ciências Sociais com a Educação, através dos centros de pesquisas educacionais do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da Educação, e da influência de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, e a participação de antropólogos brasileiros e estrangeiros em projetos de longo alcance. Isto é, os grandes museus tradicionais continuaram abrigando o trabalho de antropólogos e, em alguns casos, com Baldus no Museu Paulista desde 1949 e Galvão no Museu Paraense a partir de 1955, ampliaram suas seções de Antropologia; as faculdades de filosofia continuaram a seguir o parâmetro estabelecido pela USP e depois pela Nacional de Filosofia (13), até que o novo padrão, configurado com a criação da Universidade de Brasília, começasse a ter vigência na década de 70 e a influência teórica e metodológica mais importante continuou a ser a da Antropologia norte-americana, quase hegemônica até o final da década de 60.

















Se a organização da Segunda Reunião — distribuída em sessões sobre Arqueologia, Antropologia Física, Lingüística, Antropologia Cultural, Aculturação e Ensino da Antropologia — mostra como os antropólogos definiam a disciplina naquele momento, o índice dos trabalhos apresentados constitui um pequeno léxico dos interesses e orientações dos pesquisadores. Os estudos de "Etnologia Indígena", além de uma sessão, mereceram duas conferências, uma feita por H. Baldus, a outra por Darcy Ribeiro; as outras duas conferências trataram de "Cultura e Personalidade" (René Ribeiro) e de "Aculturação" (Egon Schaden). Os termos mais freqüentes, a denotar os temas e/ou orientação da Antropologia em geral, na época, eram aculturação e comunidade, mas havia lugar também para contato inter-racial, possessão, messianismo e imigração, indicativos, todos, do que.foi publicado pelos antropólogos na década de 50.

Se a foto de 1939 sugere que os temas dominantes na disciplina eram então os estudos indígenas (Wagley e Lévi-Strauss) e as questões raciais (Landes e Carneiro), a de 1955 indica, que esses temas permanecem, com uma nítida preeminência agora dos primeiros (H. Baldus, Darcy Ribeiro, Egon Schaden) e um deslizamento sutil dos estudos de relações raciais, que estavam passando do terreno dos médicos antropólogos para o dos sociólogos — e saindo do âmbito do nordeste — inflexão cuidadosamente anotada por Gilberto Freyre (1943), e que começar, a ser apresentados de maneira mais

reiterada os estudos de comunidades rurais ou tribais. A Antropologia Física, ainda presente, tenderá a atenuar cada vez mais sua participação nessas reuniões enquanto que o ensino da Antropologia, já problematizado (Schaden, 1954; Durham e Cardoso, 1961), reaparecerá com razoável freqüência desde então nos debates da associação.

Uma avaliação geral, ainda que sumária, sobre essas reuniões, mostra que aquela definição e a configuração temática, apesar da mudança de terminologia e de ênfase, têm se mantido constantes desde a fundação da ABA.. Seis de seus doze presidentes são, ou eram a época da eleição, especialistas em assuntos indígenas — e todos os outros mantiveram o tema em primeiro plano em suas gestões (14).

Quanto a circulação de antropólogos nacionais e estrangeiros pelo país, ela continuou a ocorrer, agora com maior freqüência. No ano anterior à criação da ABA, por ocasião do IV Centenário de fundação da cidade de São Paulo, pelo menos dois encontros importantes permitiram a reunião de vários dos personagens dessas fotos, e outros que nelas não aparecem: o I Congresso de Sociologia, em junho, e o XXXI Congresso Internacional de Americanistas, em agosto. Como que rememorando as relações estreitas entre sociólogos e antropólogos desde a década de trinta, Fernando de Azevedo, presidente do Congresso e também da Sociedade Brasileira de Sociologia, citava várias vezes a ambos como seus interlocutores preferenciais na sua "oração inaugural": deveriam estar a ouvi-lo, pelo menos, Egon Schaden, Herbert Baldus (ambos do Conselho Fiscal da Sociedade), Castro Faria, Heloísa A.. Torres, Eduardo Galvão e Édison Carneiro, a julgar pelos registros da época (15), mas apenas dois dos oradores da reunião da Bahia apresentaram trabalhos no congresso, Egon Schaden e Maria Isaura Pereira de Queiroz. Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni e Renato Jardim Moreira, que não se apresentaram neste Congresso, no entanto enviaram à reunião de Salvador comunicações sobre suas pesquisas a respeito das relações raciais no sul do Brasil.

Já no Congresso dos Americanistas, estiveram presentes quase todos os que participaram da fundação da ABA e muitos dos que estavam apenas no congresso de Sociologia. Florestan Fernandes e Charles Wagley, presidente e vice-presidente do encontro, organizaram um "Simposium Etno-Sociológico sobre Comunidades no Brasil" — confirmando a importância do tema para sociólogos e antropólogos, entre os 18 grupos de trabalho, apenas este e o sobre arqueologia sul-americana tiveram duas reuniões. Só foram superados pelo grupo sobre Etnologia Brasileira que, sempre presidido por estrangeiros, se reuniu três vezes. Os "estudos afro-americanos" mereceram uma sessão. Já estava presente ao congresso David Maybury-Lewis numa das sessões (chamado de ‘David Maybury’) que, graças ao conhecimento com Baldus no congresso anterior, em 1952 na Inglaterra, decidira pesquisar no país.

Isto indica que também neste momento as fronteiras institucionais e disciplinares (com mais ênfase no caso da Sociologia, mas incluindo a Lingüística e a Arqueologia) eram ainda facilmente atravessadas. Darcy Ribeiro, no Rio desde 1947, foi responsável pela ida de muitos paulistas para lá, ex-colegas de seu tempo de estudante em São Paulo, como pesquisadores e/ou professores dos cursos de aperfeiçoamento e treinamento que, desde 1955, promoveu, primeiro no Museu do Índio e depois no CBPE e que, de certa forma, tiveram continuidade nos cursos oferecidos no Museu Nacional desde 1960 (Castro Faria, 1957; Cardoso de Oliveira, 1962). Esses cursos foram assistidos por muitos jovens pesquisadores de outros estados (da Bahia, do Paraná, de Minas Gerais) onde o ensino da Antropologia se dava apenas na graduação das faculdades de Filosofia (em cadeiras ocupadas muitas vezes por um velho médico que, não obstante conseguia interessar os estudantes, vagamente, na Antropologia, como relembra Roque Laraia de sua experiência em Minas), e vários desses estudantes são hoje professores nas universidades brasileiras. Não só a formação profissional não estava ainda associada definitivamente à universidade, como o financiamento de pesquisas se fazia, com mais freqüência, fora dela, como foi o caso dos centros regionais de pesquisas educacionais e dos projetos financiados por agências internacionais, acoplados ou não a agências nacionais, não necessariamente ligadas à área acadêmica: a CAPES ofereceu bolsas aos estudantes dos cursos mencionados, no Rio, assim como financiava, indiretamente, através do CBPE, pesquisas em São Paulo, e o então Conselho Nacional de Pesquisas patrocinou alguns estudos e pesquisadores ? mas a atual Fundação SESP (Serviços Especiais de Saúde Pública), na década de 40 e a Companhia do Vale do São Francisco, na década de 50, por exemplo, também financiaram projetos de pesquisa (16).

Isto não significa que o treinamento universitário não tenha sido importante para a maioria desses pesquisadores/professores mas sim que, sendo ainda restrita a formação especializada na década de cinqüenta (neste momento, e apenas desde 1947,só a USP oferecia o título de mestre e doutor em Antropologia, Sociologia e Ciência Política; a Escola de Sociologia e Política e a Universidade do Brasil ofereciam o título de mestre e doutor em Ciências Sociais), aqueles que a obtinham faziam o papel de multiplicadores desse conhecimento no país, sendo ou não nativos dele, e não apenas nas instituições acadêmicas. Nesta década, Charles Wagley teve, na Bahia e no Rio, um papel equivalente ao de Donald Pierson na década anterior em São Paulo. Formado em Chicago, Pierson ainda representava a confluência da Sociologia e da Antropologia e foi estimulador do desenvolvimento de ambas as disciplinas; Wagley, decididamente um antropólogo, ou antropologista, como dizia, ao chegar, trouxe a influência de Columbia e de Sinton para as pesquisas feitas na Bahia e no Rio, no âmbito dos projetos Bahia-Columbia (Azevedo, 1964; Wagley,1970)e da colaboração com o CBPE, além de sua mais conhecida contribuição aos estudos sobre a Amazônia (ver, por exemplo, Margolis & Carter, 1979).

Sendo também um grupo reduzido este que atendi pelo nome de cientistas sociais, muitos deles estavam presentes nas várias instituições concomitantemente ou sucessivamente criadas para desenvolver essas pesquisas. Entre os antropólogos, Darcy Ribeiro é o exemplo mais flagrante nesse momento, por sua múltipla atuação, docente (na Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, na Faculdade Nacional de Filosofia, no Museu do Índio, no CBPE onde, intermitentemente deu cursos de "Etnografia Brasileira" e de "Antropologia Cultural"), administração (no Serviço de Proteção aos Índios, no CBPE, no Instituto de Ciências Sociais) e de pesquisa. Esta multiplicidade, no entanto, ainda que em menor escala, foi assumida por quase todos os personagens centrais das comunidades antropológicas, a nível nacional e estadual, na década de 50.

O investimento desses multiplicadores na formação de pesquisadores para as Ciências Sociais nem sempre foi bem-sucedido no sentido de torná-los profissionais de uma disciplina: no Rio de Janeiro, entre os doze alunos citados por Darcy Ribeiro como "orientandos com pesquisa de campo" na década de 50, só um ocupa hoje a posição de professor de Antropologia numa universidade (17) os outros tendo se tornado professores de Sociologia, administradores, diplomatas, burocratas.. Em São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, seis títulos de mestrado e doutorado (18) foram obtidos até o final da década na área das Ciências Sociais — e nenhum em Antropologia.

A situação se alteraria um pouco nos anos seguintes, mas o grande crescimento do número de profissionais titulados se daria no final dos anos sessenta e início dos setenta. Este descompasso entre a atuação prática dos antropólogos como docentes, pesquisadores, orientadores de pesquisa de campo e administradores, e a sua titulação — quase impensável trinta anos depois — sugere que os parâmetros universitários só passaram a ser decisivos para a profissão com a quase recriação da universidade que representou a reforma instituidora dos cursos de pós-graduação num novo formato, em 1968. A transição é perfeitamente legível também nos nomes eleitos para a diretoria e o conselho científico da ABA, a partir da década de 70 ainda que, ao invés de uma ruptura tenha havido uma confluência entre os representantes de um e outro momento — expressa também pela permanência, naquelas posições, até hoje, daquele que dirigiu a I Reunião Brasileira de Antropologia.

A.década se encerra com uma nota triste, que é ainda, assim mesmo, um eco das relações estreitas entre a Antropologia, e a Sociologia: a Sociedade Brasileira de Sociologia e o Museu Paulista, representados por H. Baldus, F. de Azevedo, F. Altenfelder Silva, Antonio Candido, E. Schaden, D. Moreira Leite, Aziz Simão, F. H. Cardoso, O. Ianni e Renato Jardim Moreira, recebiam, em abril de 1958, os despojos do pai mitológico da Antropologia, exumados por Harald Schultz na Amazônia (Revista do Museu Paulista, N. S. XI, 1959). Seu nome, no entanto, seria ainda ressuscitado muitas vezes para legitimar posições opostas no campo da Antropologia, ou para indicar uma insubordinação em relação a posições vigentes, fossem quais fossem — como o exemplifica a votação que recebeu para o Conselho da ABA em 1984 (19). A frase que parece melhor retratar Nimuendaju está numa carta enviada por dona Heloísa a Eduardo Galvão, então no campo, acompanhando os pesquisadores James e Virgínia Watson, mencionando o curso que ele estava dando três vezes por semana no Museu: "Ele recomenda muito que vocês deixem toda iniciativa sobre decisões de negócios indígenas aos próprios índios" (Acervo: HAT a EG, 7.10.1943). Posição difícil de manter nas décadas seguintes, ela servirá não obstante como forte ponto de referência para os etnólogos brasileiros.

O terceiro momento dessa história de trinta anos poderia ser expresso de várias maneiras — há, por exemplo, duas fotos escolhidas por Carlos Guilherme Mota (1977) para retratar, entre outras, as vicissitudes da ‘cultura brasileira’ nos anos 60, e que nos dizem respeito diretamente: a foto de Darcy Ribeiro abraçado a sua mãe, deixando o país, e a do prédio da Faculdade de Filosofia da USP em chamas. A que está aqui representa, entretanto, cercos traços ausentes ou diluídos, nas fotos anteriores, e também uma certa continuidade entre os três momentos, mais do que rupturas. É certo que, ao deixar o país, Darcy Ribeiro rompeu com uma cadeia de acontecimentos nos quais a sua figura teve importância central, mas nem tudo o que fora construído desmoronou com a saída das lideranças carismáticas. Ao queimar, a Maria Antonia (como era conhecido o coração da universidade e bem de acordo com a concepção de seus fundadores) deixou um ressaibo amargo em muitos dos personagens centrais da década anterior na história das Ciências Sociais. Florestan Fernandes, dos últimos a sair do prédio, parecia pressentir em sua tristeza o que aquela queima simbolizava (20). Ela sinalizou também uma aproximação talvez difícil antes, de integrantes de uma geração cujo empenho nas lutas pela transformação educacional do país não pode ser exagerada: alguns anos depois, Florestan Fernandes evocava o espírito de certas frases de Darcy Ribeiro, ditas alguns anos antes (21). A amargura verbal, e tantas vezes por escrito, que ambos expressaram, ao voltarem à cena intelectual, sugere que eles enfatizavam, como as fotos mencionadas antes, mais as rupturas do que as continuidades entre as décadas de 60 e 70.

Se uma parte da estrutura educacional montada pelos responsáveis por ela desde o início dos anos 50 ficou em pé e certas propostas foram lentamente digeridas pelos novos empresários da educação, também muitas iniciativas tomadas antes, ao amadureceram no final dos anos 60, foram ironicamente assimiladas a uma ‘nova ordem’ quando eram expressão de uma mais antiga (22). Menos do que pela continuidade institucional, no entanto, o traço pelo qual se distingue a constituição da Antropologia como disciplina no período, é definido por características, por assim dizer externas (metodologia, abordagem teórica), tanto quanto pelo seu conteúdo. Isto é, a partir da década de 30, cada vez que um novo impulso teórico ou metodológico foi dado à Antropologia, ele se expressou em pesquisas, depois tornadas exemplares também para outras áreas, cujo objeto são as sociedades indígenas (23). Também por isso, a foto escolhida para expressar um terceiro momento dessa constituição é de Biorn, filho do antropólogo inglês David Maybury-Lewis, junto a um Xavante no Brasil Central, em 1958 (Foto 4).

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