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HISTÓRICO DOS TRANSPORTES COLETIVOS
Colecionador Eduardo Cunha - e-mail: ecunha2@ig.com.br
Coleção de Fichas de Transportes Histórico da Utilização das Fichas
Houve um tempo em que ir e vir nas grandes cidades era um verdadeiro martírio. Ruas mal calçadas onde a grande maioria nem calçamento tinha. As dificuldades eram muitas, mas não foram suficientes para que a criatividade dos verdadeiros bandeirantes urbanos colocassem em ação suas idéias de transportar pessoas.
Foi assim que surgiram os primeiros veículos de transportes coletivos urbanos nas cidades brasileiras no final do século passado, os quais hoje, em 1998, contam a história de mais de 100 anos dos transportes coletivos no nosso país.
Vários diferentes meios foram utilizados como carruagens, bondes, trens, carros, lotações, ônibus, inclusive contando com ajuda e participação ativa de animais de tração, os quais estaremos abordando e referenciando relativos a regiões, cidades e estados, pequenas histórias de grandes homens e empresas que fizeram do transporte público mais do que um simples negócio.
Como referência, inicialmente tudo que estivesse associado aos transportes coletivos continha a palavra "carril", que conforme o Aurélio, significa: "sulco deixado pelas rodas dos carros". Vejam o caso dos bondes: "Ferro-Carril".
Rio Grande do Sul
A primeira linha de transporte coletivo em Porto Alegre, inaugurada em 1865, utilizava uma carruagem que transitava por uma estrada de ferro, chamada carinhosamente de "maxambomba". Essa concessão pública foi concedida aos empresários Estácio Bittencourt e Emílio Gengebre que após alguns anos de operação se desentenderam com a Câmara de Vereadores e o sistema foi extinto.
Somente em 1873, através de uma concessão governamental, vieram os bondes puxados por animais (mais especificamente por mulas) pertencentes a Companhia Carris de Ferro Porto-alegrense. Em 1888, quatro linhas operavam na cidade.
Em 1893 uma segunda concessão outorgava à Companhia Carris Urbanos explorar mais uma fatia da cidade. As duas empresas fundiram-se em 1906 sob o nome Companhia Carris Porto-alegrense, então utilizando energia elétrica da Companhia de Força e Luz e aposentando as velhas mulas, operando dez linhas com 37 veículos.
A chegada dos carros e ônibus começou a trazer um atrativo para a população, pois além de atingir bairros distantes também transportavam mais pessoas, e fez com que os bondes começassem a perder a clientela pois não tinham horários fixos nem fiscalização. À partir de 1928, o poder público iniciou a fiscalização e regulamentação para o funcionamento de ônibus privados, determinando linhas e horários.
Alguns dos desbravadores "gaúchos" e suas empresas:
Amador dos Santos Fernandes (Empresa Amador, atual Central em São Leopoldo e transportes Coletivos Viamão em Viamão);
Alberto Rodrigues (Expresso Vila Ipiranga e Expresso Veraneio em Porto Alegre);
José Geraldes (Viação Lusitanos Ltda. em Esteio).
Paraná
1887 é o ano que marca a entrada em circulação em Curitiba (que em guarani significa Pinheiral) dos bondes puxados a tração animal (também com mulas), pertencentes a Empresa Ferro Carril Curitybana, de propriedade de Boaventura Clapp. Esse transporte não era somente para pessoas como também para cargas. Em 1895, a concessão foi transferida para a propriedade de Santiago Colle. Além dos bondes, no início do século, havia também no Paraná um serviço de diligências para algumas localidades do estado.
Posteriormente em 1910 a concessão dos bondes foi novamente transferida para Eduardo Fontane de Laveleye, presidente da empresa belga Etienne Muller, por 500:000$000 (quinhentos mil contos de réis), sob a denominação de South Brazilian Co. Em 1912, a tração animal começou a ser substituída pela tração elétrica e em 1928 a empresa foi adquirida pelo município, transformando-se então na Companhia de Força e Luz do Paraná com 41 veículos e 28km de linhas.
O serviço de bondes, já então contando também com o serviço de ônibus, foi em 1945
colocado em concorrência pública pela prefeitura. Os bens foram arrematados por Aurélio Frestas dono da empresa Companhia Curitibana de Transportes Coletivos que não foi bem sucedido e faliu, retornando o patrimônio a municipalidade em 1950. O serviços dos bondes elétricos foi desativado em 1952.
São Paulo
1865 é a marca do início dos transportes coletivos em São Paulo, através de tilburis (veículos de duas ou quatro rodas puxados por um ou dois cavalos) utilizados como carros de praça pelo italiano Donato Severino, em viagens próximas ao Centro. Para lugares mais distantes eram utilizados carros de boi.
A primeira empresa a receber concessão para operação de linhas de bondes puxados a tração animal (burros) foi a Companhia carris de Ferro de São Paulo à Santo Amaro, em 1871.
Em 1880, a segunda concessão foi outorgada a Alberto Kuhlmann, sob a denominação de Companhia Carris de Ferro de São Paulo, que em pouco tempo substituiu a tração animal por pequenas locomotivas alemãs.
Após estas concessões mais três foram efetivas: em 1889, a Companhia Viação Paulista;
em 1890, a Companhia São Paulo Construtora; e em 1891, a Companhia Ferro Carril do Bom Retiro à Bela Vista.
Em 1900 estas empresas foram incorporadas a recém-criada The São Paulo Tramway, Light & Power Company Ltd., sendo o sistema de transporte totalmente eletrificado.
Em 1897 foi regulamentada e concedida autorização para exploração dos transportes coletivos, cargas e bagagens, através de ônibus com tabelas de preços e horários, para Jules Dulpen, Pedro França Pinto e Evaristo Maciel mas este sistema só iria efetivamente se solidificar em 1924, devido em grande parte ao poder da The São Paulo Tramway, Light & Power Company Ltd. (já conhecida como Light e que posteriormente também operaria este sistema) como ao desconforto e falta de segurança dos veículos.
Desta época até 1932 a Light operou ônibus luxuosos, apelidados de "jacaré", em bairros chiques da capital. A partir daí novas empresas surgiram entre elas, Lapa Auto Ônibus; Empresa Auto Ônibus Alto do Pari; Empresa de Ônibus Vila Pompéia; Empresa Auto Ônibus Vila Ipojuca; Empresa Auto-Ônibus Vila Anastácio; Empresa Paulista de Ônibus Moóca; Empresa Auto Ônibus Lapa-Moinho Velho; Empresa Parada Inglesa; Empresa de Ônibus Vila Bertioga; Empresa de Ônibus Vila Hamburguesa; Empresa de Ônibus Vila Pirituba; e Auto Viação Jabaquara (futura Viação Cometa), perfazendo um total de 34 concessões particulares. Em 1947, as concessões e serviços foram assumidos pela Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), exceção a três empresas que ficaram com seus proprietários e a já então existente Viação Cometa que começou a explorar linhas para o interior e para fora do estado de São Paulo. Cinqüenta anos depois, em 1997, a CMTC é extinta e os transportes coletivos passam a ser coordenados, e não mais explorados, pela prefeitura.
Distrito Federal (Cidade do Rio de Janeiro)
A cidade do Rio de Janeiro teve o privilégio de em 1837 utilizar o primeiro ônibus com tração animal (puxado por quatro burros), a se ter notícia no Brasil. Tratava-se de um veículo enorme trazido de Paris por João Lecocq, pintado de vermelho, com quatro rodas e dois andares. Nesta época circulavam carruagens, cabriolés e tilburis.
Neste mesmo ano foi fundada a Companhia de Ômnibus, através do desembargador Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho e quatro sócios. Sua concorrente à época era a Companhia de Gôndolas Fluminenses, composta por coches puxados também por burros. Ambas, todavia, sucumbiram em 1868 com a chegada dos bondes de tração animal para a primeira concessão dada à Botanical Garden Rail Road Company.
Em 1908 retorna a circulação o serviço de auto-ônibus, desta vez com veículos movidos a gasolina e novamente trazidos de Paris. Em 1911 é fundada a Empresa Auto Avenida; em 1923 a Empresa Jacomo Rosário Staffa e a Companhia Bento, Lopes & Freitas; e em 1924 é inaugurado um sistema específico para excursões e turismo com auto-ônibus para 30 passageiros.
Em 1926 surge a The Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company Ltd. com 28 veículos. Em contrato com a prefeitura e a Light é criada em 1927, a Viação Excelsior sob direção da Light. A criação desta empresa causou avanços para a época desconhecidos, tais quais:
regulador de velocidade lacrado, o que impedia velocidades acima do permitido;
caixas coletoras para depósito de moedas para pagamento das passagens, que mais tarde deu lugar as fichas de seções (criadas pela própria Excelsior em 1932); e
controle no excesso de lotação dos veículos.
O ano de 1927 também representou a explosão dos transportes coletivos em ônibus na cidade, tendo iniciado com 4 empresas, 6 linhas e 55 km e terminado com 22 empresas, 40 linhas, 275 km e 286 veículos (não contabilizados os que serviam a zona suburbana).
O maior percurso existente era de 23,1 km, linha entre a Muda da Tijuca e o Leblon, operado pela Empresa Nacional Auto Viação.
Na década de 50 e 60, um sistema de lotações (veículos de 22 lugares) foi adotado, podendo assim cada empresário ter o seu próprio coletivo. Com o crescimento da cidade na década de 60, os proprietários foram obrigados a se unir e formar empresas, que significou um melhor atendimento a população, a regulamentação dos transportes e o processo de profissionalização dos empresários.
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Atualizado em 06/07/02
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