terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

8667 - HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS

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Ciências Humanas e Filosofia

A relação entre as Ciências Humanas e a Filosofia é de tal monta que a síntese mais simples e direta ainda reside no já clássico conceito humanista, assim formulado por Lucien Goldman, precisamente num livro intitulado Ciências Humanas e Filosofia, da Editora Difel:



“Se a Filosofia traz respostas quanto ao ser do Homem no mundo as Ciências Humanas têm de ser obrigatoriamente filosóficas caso pretendam ser científicas!”



Nas ciências naturais, hoje em dia há uma concordância generalizada com relação aos termos propostos para o debate (outras eram as condições, por exemplo, na Idade Média européia, quando dizer, por exemplo, “A Terra se Move” ou “A Terra é Redonda!” poderia levar o cientista à incineração!)

Não existe a menor possibilidade de se ministrar aulas “neutras” em Ciências Humanas. O fundamento científico das Humanas reside precisamente em opiniões profundamente arraigadas (tanto que, via de regra, sequer como tal são reconhecidas!). Assemelhar o revolucionário ao criminoso contribui para o pensamento conservador. Por outro lado, anunciar o “pós-modernismo” como “a nova cara do velho demônio”, contribui para o humanismo, as teorias libertárias: nada pior aconteceu com a filosofia nas últimas décadas que esta invenção verdadeiramente diabólica: ressuscitar velhas teorias conservadoras recapeadas com nomes “simpáticos” como “neo” ou “pós”-seja-lá-o-que-for.

Dizem que os cientistas da área de Naturais quando se encontram, trocam “informações” – “descobri a partícula x”, “consegui dissecar tal ou qual parte do átomo”, “há uma nova equação que permite resolver tal problema”, etc. Quando cientistas da área de Humanas se encontram, em geral, trocam “insultos” – “Positivista!”, “Marxista!”, “Liberal!”, “Comunista!”, etc. Não fujo à regra: daqui da esquerda e do humanismo, vejo o irracionalismo de tudo o que recebe os prefixos “neo” e “pós” – neoliberalismo, pós-modernismo, pós-capitalismo e o denuncio onde encontro!

A exatidão das Ciências Naturais vem sendo questionada mais e mais. Hoje se prefere chamá-las simplesmente de “Naturais”. Como imaginar a matemática como uma ciência “exata” se é fundamentada em postulados arbitrários e chega a hipercubos e geometria multiplana não existentes em nossa dimensão? Qual a exatidão disso? Na física, pior ainda: ao se resolver um problema qualquer aparece no postulado coisas como: “desprezar a resistência do ar” ou “imaginar atrito igual zero”. Mas o ar não oferece resistência? O atrito não existe de fato? Qual a “exatidão” de uma ciência que despreza as coisas reais?

A Filosofia está na raiz das Ciências Humanas. Entre os sociólogos, particularmente os positivistas e weberianos (assumidos ou não...) recomenda-se “afastar sistematicamente as pré-noções” ou “evitar juízos de valor”, ou seja, as opiniões. Acontece que são precisamente os juízos de valor que aparecem no início da pesquisa em Ciências Sociais! Em outras palavras, é a partir de uma opinião solidamente formada que se parte em busca de respostas. Aqueles que têm formação libertária ou socialista partem suas pesquisas da premissa que o ser humano é mais importante que a propriedade. Aqueles que têm formação burguesa partem da premissa de que não é conveniente – paroxisticamente partem do pressuposto ou da pré-noção de que “não é possível” – efetivar transformações na direção da valorização do humano. Lucáks chama a isso “pessimismo defensivo”. Com vistas a arrefecer os ânimos daqueles a quem deseja controlar partem do pressuposto (hoje deploravelmente obrigatório em praticamente todos os estabelecimentos de ensino superior) de que “não tem jeito”, “sempre foi assim e assim sempre será” e outros pseudo-alegatos hoje mais aceitos que as Tábuas da Lei o eram pelos seguidores de Moisés.

Ora, nas ciências humanas, a desconsideração com respeito à filosofia ou à psicologia humanas redunda simplesmente falseadora da realidade, conducente a teorias estapafúrdias, ou seja, à negação da ciência.





Um exemplo ou contra-exemplo explicativo


Examinemos de perto a pedagogia antifilosófica, portanto anticientífica, portanto anti-humana, portanto antipedagógica existente nas tendências conhecidas como “tecnicistas” de pedagogia:

Sem que se discuta ou faça reunião ou sequer se tente explicar (traço também de autoritarismo) aos interessados no processo ensino/aprendizagem, professores da mesma matéria, formados em diferentes academias e necessariamente com diferentes abordagens, diferentes ritmos e diferentes formas de encaminhamento (embora em tese e somente em tese sejam habilitados a transmitir os mesmos conteúdos – admitir o contrário redundaria ainda mais escandaloso!) freqüentemente têm de “dividir frente”, ou seja, ministrar a mesma matéria em seqüência uns aos outros, como se todos partissem dos mesmos pressupostos e chegassem às mesmas conclusões.

Clara contaminação das Ciências Naturais, que exigem obrigatoriamente que se siga a mesma seqüência de raciocínios sob pena de se chegar a conclusões diversas, e assim incorrer em erro.

Nas Ciências Humanas, diferentemente, quem parte de pressupostos filosóficos, portanto humanos, chega a conclusões mais precisas e quem abandona os pressupostos filosóficos abandona o humanismo, prende-se ao miseravelmente factual e consequentemente incorre mais facilmente em erros.

Talvez em Ciências Naturais seja viável a professores tecnicistas “dividirem frente”. Nas Humanas, definitivamente não é! Já vi um professor de história, forçado a “dividir frente”, com outro dizer algo como “eu vou até a página tal, você pega daí e vai até a tal”. Em outra ocasião: “até que parágrafo você chegou hoje? Daí eu continuo...” Isso é simplesmente irracional!

Nesta estrutura, também incompreensível, um professor ou grupo de professores elabora um programa a cumprir, dois professores ministram aulas em seqüência, um terceiro elabora as provas e um quarto as corrige. Isso sem que qualquer deles tenha necessariamente o menor contato uns com os outros. Certa feita, fui “escalado” para a correção e chorava lágrimas de sangue, de compaixão dos alunos: as provas, que deveriam servir para aferir o conhecimento e aprimorá-lo, transformaram-se em coisas torturantes, incompreensíveis. Tanto que alguns “responderam certo às perguntas erradas”, outros “responderam errado às perguntas certas” e outros ainda (este terceiro grupo, infelizmente mais numeroso...) simplesmente capitulou derrotado deixando a maior parte em branco. Nenhum atingiu cem por cento de acerto. Os poucos que se aproximaram disso, com certeza o devem ao seu esforço pessoal, não à estrutura da escola...

Imagino que esta prática, de “dividir frente”, seja monstruosamente danosa mesmo em se tratando de mera transmissão de conhecimento positivo e/ou positivista da matemática, da física ou da química, por exemplo. No caso das ciências humanas – repito – é radicalmente impraticável, absurdamente irracional. Não se pode tratar o processo humano de ensino/aprendizagem como se estivéssemos na linha de montagem de uma fábrica e este tipo de procedimento somente contribui para manter a todos sob severa vigilância. Sob temor e tremor, os dois maiores inimigos do aprendizado. Maldito o professor que, em vez de facilitador, se interpõe como um obstáculo entre o aluno e o conhecimento!

Já vivi o suficiente para ver o irracionalismo seguir cada vez mais poderoso, assim como já o vi sucumbir à Verdade algumas vezes. Qualquer alternativa, no fundo, é provável. Impossível é a intransigência na defesa da Verdade manter-se em estrutura assim irracional.

Escrevo estas linhas sob protesto materno: “meu filho, não critique a estrutura de escolas que poderiam te empregar”. Faz isso não mãinha... Você me ensinou a falar a verdade, por mais que doa. Assim como os cientistas da Idade Média acabaram, sob grave sacrifício, por consolidar o conhecimento de que a Terra é redonda, alguns entre nós hoje insiste que se retirem as máscaras, que se ultrapassem os preconceitos de classe social para que finalmente cheguemos ao cerne da questão: é preciso, é urgente que o homem se passe, de armas e bagagens, para o lado do homem! Mal comparando, que sou apenas humano, lembra daquela música da Rita Lee? Reproduzo para terminar estas notas com uma reflexão lírica:



José
Rita Lee


Olha o que foi meu bom José

Se apaixonar pela donzela

Entre todas a mais bela

De toda a sua Galiléia

Casar com Deborah ou com Sarah

Meu bom José você podia

E nada disso acontecia

Mas você foi amar Maria



Você podia simplesmente

Ser carpinteiro e trabalhar

Sem nunca ter que se exilar

De se esconder com Maria

Meu bom José você podia

Ter muitos filhos com Maria

E teu oficio ensinar

Como teu pai sempre fazia

Porque será meu bom José

Que esse teu pobre filho um dia

Andou com estranhas idéias

Que fizeram chorar Maria

Me lembro as vezes de você

Meu bom José meu pobre amigo

Que desta vida só queria

Ser feliz com sua Maria



Lázaro Curvêlo Chaves – 15 de junho de 2001
(*) É indispensável a leitura da Obra de Lucien Goldmann, Ciências Humanas e Filosofia, disponível nesta página. Clique aqui para ler on line.






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