terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

9387 - HISTÓRIA DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO NO BRASIL

História dos Transportes - Personagem

CAMILO COLA
Um homem que é história

A maioria das pessoas assistem a história acontecer. Algumas, por diversas razões e oportunidades, fazem parte da história, mas outras, raros personagens no mundo, são história. Esse é o caso de Camilo Cola, filho de imigrantes italianos, que começou a trabalhar numa rampa lavando carros e hoje, aos 82 anos, ainda comanda a o maior grupo de transportes do Brasil e maior empresa de transporte rodoviário de passageiros do mundo.

Aos 18 anos, Camilo Cola alistou-se na FEB (Força Expedicionária Brasileira), num regimento de infantaria, onde sua experiência com mecânica e direção eram úteis, e participou de batalhas e missões em Monte Castelo e Montese na Itália.

Foi justamente a experiência da guerra e o dinheiro que economizou nesse período, que deram a Camilo Cola os ingredientes para iniciar sua trajetória de sucesso no setor de transporte de cargas e depois passageiros.

Fluente em italiano, Camilo Cola passou uma semana em Florença, alojado na garagem da empresa italiana de ônibus, onde ficava observando com interesse aqueles veículos e refletindo sobre o transporte de passageiros na Itália, em que a infra-estrutura de rodovias era excelente para os padrões da época e comparava com a realidade brasileira.Teve acesso aos documentos da companhia, os quais lia com grande interesse e começou a refletir sobre o futuro do transporte no Brasil, onde as ferrovias não atendiam as necessidades de um país continental.

Camilo Cola revela que, uma das coisas que mais o impressionou na guerra, foi o comportamento das pessoas. Apesar de precisarem de tudo não pediam nada. "Elas tinham dinheiro, mas não havia o que comprar, e não aceitavam nada de graça". Pelo seu conhecimento do idioma e origem italiana, foi sempre tratado com especial cortesia pelas pessoas e descobria o que elas precisavam.

Ao mesmo tempo que economizava seu soldo, Camilo Cola vendia os cigarros da sua cota, que todos os soldados tinham direito, bem como outras mercadorias que comprava dos soldados para a população, que tinha dinheiro, mas não encontrava os produtos. Assim criou seu capital de giro e recursos para comprar seu primeiro caminhão quando regressou da guerra.


Sua experiência na guerra, além de fundamental para seu futuro como empresário, marcou sua vida como ser humano e Camilo Cola retornou com freqüência à Itália, como em abril deste ano, para uma série de eventos comemorativos dos 60 anos da FEB.

Ao retornar ao Brasil, após a participação do Brasil na guerra, Camilo Cola, iniciou suas atividades no setor de transportes, com um caminhão, com o qual enfrentava as precárias estradas brasileiras. Em 1948 surgiu a oportunidade de ingressar no setor de transportes de passageiros Começou adquirindo a linha Castelo-Cachoeiro de Itapemirim, e criou a empresa ETA "Empresa de Transportes Auto Ltda.", embrião da gigante de hoje Itapemirim, que só veio a ser constituída com esse nome em 1953.

No seu livro "A Estrada da Vida", Camilo Cola conta que conseguiu nesse entretempo a representação da Goodyear e, nas caminhadas noturnas que fazia com sua esposa e eterna companheira Ignez, pelas ruas de Cachoeiro, como quase ninguém possuía garagem, ao encontrar os carros estacionados na rua, colocavam nos pára-brisas dos veículos com pneus carecas um pequeno anúncio, informando: "Vendem-se pneus novos da Goodyear. A bom preço. À vista ou financiado".

Em 1953, já com 29 ônibus e uma empresa cujo porte era equivalente às maiores do interior do Rio e São Paulo, Cola decide criar o próprio parque de manutenção da empresa, inspirado em dois empreendimentos de grande porte feitos na África do Sul por duas empresas inglesas de transporte de cargas. Essa iniciativa do empresário cuja fama já ultrapassava as fronteiras do seu estado, foi fundamental para o desenvolvimento da Itapemirim e das inovações que o grupo trouxe para o setor de transporte de passageiros.

Paralelo ao espírito empreendedor e criatividade, Camilo e Ignez mantinham um padrão de vida espartano, que permitira acumular recursos e desenvolver princípios que inspiraram o padrão de administração da empresa e explicam parte de seu sucesso.

Nos anos 50, os empresários do setor de transportes enfrentavam dificuldade de financiar seus investimentos, já que não existiam praticamente linhas de crédito de longo prazo nos bancos. Conhecido por sua honestidade, dedicação ao trabalho e uso parcimonioso e responsável dos recursos, Cola conseguiu dinheiro com pessoas de posse que emprestavam pela mesma taxa que conseguiam nos bancos. Com isso, o empresário conseguiu recursos que permitiam atender as necessidades de expansão da empresa.

No parque de manutenção da empresa, a Itapemirim começou a desenvolver novas carrocerias para ônibus, ampliando os bagageiros tão importantes para os passageiros brasileiros que carregavam muita bagagem e os comerciantes que precisavam de espaço para as mercadorias. As modificações foram tão bem sucedidas que começaram a ser adotadas pela Mercedes Benzs. Era a "Camilo Service", ensinando os alemães a trabalhar no mercado brasileiro.

Em 1965, sempre em busca de novos conhecimentos, Camilo foi com a esposa para os EUA, onde passou a conhecer em detalhes como funcionava o sistema de transportes rodoviários nos EUA. Na época foi recebido na Greyhound, a maior empresa do setor no mundo, então com 4.000 ônibus. A partir dessa viagem Camilo estabeleceu meta de 3.000 ônibus, aproveitando que o governo sinalizava que a interiorização do país era inevitável e seriam investidos muitos recursos na ampliação da malha rodoviária. Os anos que vieram provaram que a interpretação do futuro de Cola estava certa e a Itapemirim superou a própria Greyhound.

Em 1970 e empresa já possuía 600 veículos, superou os 1.500 em 1980 e chegou a quase 1.700 em 1990. Em 1976 começou a produzir os ônibus de três eixos, os chamados Tribus, que foram um grande sucesso pelo conforto e vantagens que teve após a lei da balança, que determinava um peso máximo por eixo.

Em fins de 1973, a empresa assumiu o controle da Nossa Senhora da Penha, que abriu as portas para o mercado da região sul e representou um grande salto na empresa, já que a Penha possuía frota equivalente a metade da Itapemirim. A aquisição teve repercussão internacional e, um aspecto fundamental na forma de conduzir a incorporação da empresa paranaense foi à preocupação de Camilo Cola de valorizar os profissionais que trabalhavam na Penha.



Em 1980 entrou na linha Rio-São Paulo, ao adquirir as linhas da Única. Com os Tribus novos e muito confortáveis, encontrou o diferencial para enfrentar a concorrência das competentes Expresso Brasileiro e Cometa. Em 1982 a Itapemirim chegou a ter metade do mercado mais importante do país: a ponte rodoviária.

Em 1995 a Itapemirim lançou o Starbus, ônibus executivo. Em 1998 chegou o Golden Service, com conforto do leito, ar condicionado e tarifa de executivo. Depois vieram o certificado ISO 9002, a venda pela internet, a revista "Na Poltrona" e várias outras inovações.

O sucesso da Itapemirim tornou Camilo Cola um dos maiores empresários do setor de transportes do mundo e um dos grandes responsáveis, juntamente com outros empresários do mesmo setor, pela integração do Brasil.

Além das atividades empresariais, Camilo Cola, também esteve envolvido na política e levou sua experiência administrativa para a Confederação Nacional dos Transportes Terrestres, onde teve marcante gestão, principalmente durante os trabalhos da Constituinte, defendendo os interesses dos transportes nacionais.

Além do transporte de passageiros e carga por via rodoviária, a empresa opera também com transporte aéreo de cargas, possui concessionárias de veículos, fazendas, empresas de turismo, postos e indústria. Num leque variado de atividades. Mas o coração da empresa está em Cachoeiro do Itapemirim, onde Camilo Cola criou raízes e mora numa confortável casa, literalmente dentro de área da empresa.

O êxito de Camilo Cola pode ser creditado a vários fatores. Um dos mais importantes foi sempre manter contato permanente com os clientes, identificando suas necessidades e aproveitando as queixas e sugestões para melhorar a empresa e administra-la cada vez de forma mais eficiente.

Sua paixão pelo trabalho, capacidade de antever o futuro, parcimônia no uso dos recursos, ousadia com responsabilidade, espírito de equipe, capacidade de liderança, são outras qualidades inegáveis. Mas a força de Camilo Cola, a mola mestra de sua história, foi a sua história familiar. Os princípios que formaram sua personalidade, a sorte na companheira que encontrou, disposta participar da história desse homem, cujo sucesso pode ser medido em bens, finitos como todos nós, mas cujo legado e importância para a integração do Brasil e não apenas da história dos transportes em nosso país, atravessará a fronteira do tempo.





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