quarta-feira, 4 de abril de 2012

CORAÇÃO DAS TREVAS: JOSEPH CONRAD

Le mot juste
"Sentiu que seu espírito, instigado pelas gestas inventivas de um ardiloso demiurgo, lhe cobrava não mais a submissão a uma resposta com pendor científico, mas a assunção de uma irreverente reinvenção, característica dos que ousam fazer da linguagem a criação do improvável." Trecho de Le mot juste (Orobó Edições, 2011).



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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012Coração das trevas, de Joseph Conrad (trad. Sergio Flaksman) (Companhia das Letras)




Não sei se Borges leu Coração das Trevas, mas se ele queria um autêntico exemplo de uma romance de aventura: ei-lo, Conrad o escreveu! Trata-se de uma obra que nos mobiliza do começo ao fim, a bordo de um vapor em direção ao Congo, no coração da África. A narrativa é introduzida por um narrador inominado, que ao lado de alguns companheiros, aguarda a mudança da maré para poderem zarpar na iole de cruzeiro Nellie. A longa espera é a oportunidade para que o relato seja delegado a Marlow, o verdadeiro narrador, que irá contar a sua saga em direção ao coração das trevas africano, em busca de resgatar o misterioso e enigmático Kurtz. “E tudo isso para comandar um vaporzinho ordinário, subindo e descendo o rio ao som de um apito de metal! Parece, porém, que eu era um dos envolvidos na Obra, com maiúscula – sabem como é. Algo como o emissário da luz, uma espécie inferior de apóstolo”. (p. 23). Esta edição da Companhia das Letras traz também um conto de Conrad, anterior ao romance, chamado “Um posto avançado do progresso”. Nele é relatado a breve glória e o longo infortúnio de dois personagens Kayerts e Carlier, responsáveis por tomarem conta de um posto comercial em plena selva africana. O que a solidão, o medo, o tempo por passar e a distância da intimidade com a terra natal podem provocar a um ser humano! “Pegaram aqueles restos de romances, e, como nunca tinham lido nada do tipo, surpreenderam-se e acharam graça. E então, por longos dias a fio, travavam conversas tolas e intermináveis sobre enredos e personagens. No centro da África, foram apresentados a Richelieu e a D´Artagnan, a Olho de Falcão e ao Pai Goriot, e a muitas outras pessoas” (p. 132). [Veja-se a incrível proximidade deste trecho do conto de Conrad, com esta passagem narrada por Riobaldo, em Grande Sertão: Veredas: “Mas o dono do sítio, que não sabia ler nem escrever, assim mesmo possuía um livro, capeado em couro, que se chamava o ‘Senclér das Ilhas’, e que pedi para deletrear nos meus descansos. Foi o primeiro desses que encontrei, de romance porque antes eu só tinha conhecido livros de estudo. Nele achei outras verdades, muito extraordinárias” (p. 396).






R.A.
Postado por erre amaral às Segunda-feira, Fevereiro 20, 2012 Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no Orkut
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Diamantina, Minas Gerais, Brazil
Escritor. Doutor em Educação (UFG). Professor Adjunto e Diretor da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades da UFVJM. Coordenador do Grupo de Pesquisa "Identidade Narrativa e Formação Humana" (CNPq). Coordenador do Projeto de Extensão "Cinema Falado". Membro do Grupo de Estudos Interdisciplinares de Literatura e Teoria Literária - Möebius (CNPq). Coordenador do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas (CNPq). Autor de Paul Ricoeur e as faces da ideologia (Editora da UFG, 2008) e do romance Le mot juste (Orobó Edições, 2011).
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