quarta-feira, 4 de abril de 2012

CONGO BELGA

FLAGRANTES AFRICANOS: A VIDA REAL NO CONGO BELGA
por Alcides Melo em Dezembro 06,2007


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O rio Zaire ou Congo, é o segundo maior rio do mundo, em volume de águas. O primeiro, é o Amazonas. E o quinto em comprimento, 4,700 quilómetros. Atrás do Nilo, do Amazonas, do Mississipi e do Yang-Tsé. Com largura regular de 3 a 4 quilómetros, e excepcionalmente de duas dezenas, em alguns pontos da sua bacia hidrográfica, como seja, logo a montante da cidade de Leopoldville (assim lhe chamo, porque esta nota relata factos ocorridos no tempo da administração colonial belga), 25 kms - aí formado um enorme lago, a que os belgas, em homenagem a Stanley Henry Morton, deram o nome de Stanley Pool.

O rio Zaire tem por afluentes, também eles de tamanho impressionante, o Lomami, Ituri, Itimbiri, Mongala, Lulomga, Ruki, Ubangi e o Kasai, for-mando, entre todos eles, uma rede de mais de 14.000 kms, navegáveis, que os belgas apetrecharam com excelentes barcos, que serviam o Congo quase todo. E tal era o prazer dos cidadãos brancos que apostavam nesses serviços, que a magia que insuflavam havia de deixar marcada nas pessoas, uma recordação imorredoira.
n LUXO: Mas importante, importante, era a frota que navegava no próprio Zaire, representada superiormente pelo moderno e luxuoso General Olsen, à altura do melhor que ofereciam os transatlânticos da época. Piscina, cinema, comida, instalações tão agradáveis como se os passageiros estivessem refastelados em Paris nas luxuosas poltronas do cinema Maxime. Uma maravilha, a tornar efectivamente imorredoira qualquer viagem entre Leoldville e Stanleyville, de 1.734 quilómetros!!!.

VIAGEM A KINSHASA

Em 1958, viajei de Kinshasa a Coquilhatville, à volta de 700 kms. Estávamos no mês de Fevereiro. Verão no Hemisférico Sul, baixa acentuada do caudal do rio, com os bancos de fina areia doirada a brilhar sob a intensidade do sol escaldante dos trópicos.
A bicharada, macacos perscrutando o que se ia passando, desconfiados, lançando-se em saltos das copas das árvores para as pernadas mais baixas, próximas da superficie do solo.
Hipopótamos e crocodilos abandonando os areais e fazendo-se desaparecer nas águas escuras do rio, aves de alta e baixa perna, de grande e pequena envergadura de asas e plumagem multicolor, voando espavoridas e pondo-se a salto, os potentes holofotes do barco estendendo a luz pelo rio (tão bem sinalizado como as melhores das nossas auto-estradas), buscando no escuro da noite, as bóias e as balizas resplandecentes, que definem a linha de rumo. Um espectáculo extasiante!
n FRATERNIDADE: Outro, mesmo demasiadamente modesto, eram as aldeias indígenas que iam aparecendo na orla das margens, feitas de folhas de palmeira e cobertas com palha de capim, e, as vivendas dos colonos brancos de fino recorte colonial, de muito espaço e muito bonitas, a que as plantações de palmeiras, cafeeiros, seringueiras e cacueiros, que as rodeavam ou à beira delas plantadas, emprestavam uma beleza que arrebata e encanta.
E, finalmente, os fazendeiros, em calções e camisas de manga curta e, na cabeça, a protege-los, um grosso capecete colonial, que a insolação da fornalha tropical pode causar estragos irreparáveis, a saudar a passagem do barco com grandes gestos de simpatia, sinal da grandiloquência fraternal, que, claramente, distinguia a comunidade branca.

JARDIM BOTÂNICO ´

Era assim o ex-Congo-Belga, superiormente governado pelos belgas. O General Olsen deixara para trás “Kwamouth (foz do rio Kasai), Bolobo e Lukulela e após dois dias de viagem de prazer imenso, navegava por alturas de Wangata, onde Stanley parou em 1883, quando fazia a subida do rio (inverso da primeira, que o desceu) a expensas do rei Leopoldo II, da Bélgica, e a que dera o nome Equador, localidade que os belgas aproveitaram para criar o seu primeiro posto administrativo. Foi abandonado em 1891, abandonaram, em proveito de Coquilhatville. O General Olsen iria alcançá-lo dentro de breve tempo, e fundear no grande porto fluvial desta linda cidade.
n AVIÃO: Deixei o General Olsen que prosseguiu viagem para Stanleyville, indo hospedar-me no hotel Leopoldo II, onde encontrei o meu amigo Marcos, de Ma djindji, que me diria ter o seu bilhete de avião para Basankusu, que partiria a meio da manhã do dia seguinte.
Fui tratar do meu. Se não conseguisse, só 4 dias depois teria avião. Tamanha seria a minha sorte que me coube receber o último disponível. Em guisa de passatempo, à tarde, fomos, eu e ele, até ao jardim botânico de Eala, de uma riqueza científica notável, e, finalmente, pela manhã, no aeroporto à partida, tive a sorte de encontrar o meu amigo e companheiro de lides futebolísticas, padre Emile Van Der Harte. Às 11 horas em ponto, o avião, um pequeno Dakota (DC3), da Sabena, com os seus 25 lugares preenchidos, fazia-se à pista.

VIAGEM AÉREA
ATRIBULADA

O padre Emil sentou-se a meu lado e se tudo corresse bem, dentro de 45 minutos o avião tocaria no chão térreo, a pista da bonita vila de Basankusu. Recuo no tempo. Não parece que assim vá acontecer. Para os lados do rio Ikelemba, avista-se uma grande “cordilheira” de cúmulos e nimbos, que é costume tornarem o céu muito tempestuoso.
O piloto belga tudo faz para afastar o aparelho de seu forte emaranhado. Tenta passar ao lado, mas tamanha é a sua extensão que tem, irremediavelmente, de o enfrentar.
n SUSTOS: O pequeno aparelho estremece uma vez, duas, três, a ventania, agarrando-o fá-lo subir e descer desmesurada e indistintamente.
É tão grande o nosso medo, que Emile balbucia: “Vamos ficar por aqui”. E começa a rezar: “Notre sainte mére ayez compassion de nous e pardonnez nos péchés”!. Eu e o Marcos, apelando aos santos das nossas terras, os restantes passageiros, de várias nacionalidades, cada qual na sua língua, também erguem preces às suas divindades. Esposas agarram-se enternecidamente aos maridos e mães aos filhos.
Há lágrimas, as pessoas que não as deitam estão como que reduzidas a estátuas de pedra. É o inferno!, que dura cerca de 15 minutos - que parecem representar uma eternidade. Mas não passa de um grande susto, e finalmente, os valentes pilotos belgas acabam por levar o grande “cavaleiro” dos ares a aterrar na pista, em Basankusu após mais uma luta travada no ar e levada a cabo com êxito! Foi assim e muitas vezes.
Poderá haver quem pense que procurei ilustrar este acontecimento com falsa realidade. O certo, porém, é que, dezenas, centenas, senão milhares de viagens ao longo dos anos nos céus da região equatorial do Congo-Belga, passaram por estes transes, algumas por momentos ainda mais perturbantes.
n ALCIDES MELO


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