sexta-feira, 25 de maio de 2012
poços artezianos
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Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 21 / 1998
Aspectos Humanos, Geográficos e Meteorológicos do
Nordeste Brasileiro
Julio Buchmann
Departamento de Meteorologia da UFRJ
Abstract
The survival human conditions of life in the Northeast Brazil is very hard. We
have a very strong situation of proverty in the semi-arid region and this must be
changed.
1 Introdução
O destino do homem que habita o nordeste brasileiro está intimamente ligado
ao clima desta região. Sua sobrevivência depende da sua adaptação no meio em que vive.
Carência alimentar é fator predominante na sua compleição física, desenvolvimento
mental e cáries dentárias, sendo quase um sub-humano (assunto comentado e estudado
na comunidade médica-científica). O tempo do “coronelismo” existe até hoje, com a
célebre “indústria da seca” ligada aos políticos nordestinos de hoje e que estão sentados
no Congresso Nacional, sem “nada produzir ou decidir”, e pouco fazem por estes seres
humanos sofridos.
Acabar com a seca era imperativo nacional proclamada no tempo do império
(Lucena, 1998). Todavia o nordeste encontra-se na mesma latitude da Amazônia, onde
constatamos observacionalmente uma maior precipitação, comparada ao da região do
NE. Este fato indica a existência de uma ou mais anomalias climáticas que atuam nesta
área. Vapor d’água existe na atmosfera , nos níveis baixos, entretanto está possivelmente
faltando um mecanismo dinâmico que possa causar movimentos ascendentes, condição
necessária para que haja precipitação, em determinadas épocas (Aragão, 1975).
Podemos citar alguns trabalhos importantes que indicam a existência de
anomalias climáticas como causa de secas e inundações que eventualmente ocorrem
nesta região, ver Namias(1972), Gomes Filho(1979), Kousky et al.(1979), Buchmann
et al.(1986 a e b, 1989, 1990, 1995), Moura e Sukla (1981) e Paegle et al.(1987).
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Estes estudos de anomalias climáticas e suas influências no NE brasileiro são
causadas por diferentes fenômenos de escala de clima. Podemos evidenciar os efeitos do
El Nino (Buchmann et al. 1986 b), La Niña (Buchmann et al., 1989), as influências das
águas do Atlântico Norte (Moura e Shukla, 1981 e Buchmann et al. 1990), efeitos
extratrópicos-trópicos (Namias, 1972), sistema frontais oriundos do sul (Kousky, 1979),
a variabilidade interanual da precipitação na região amazônica (Buchmann et al., 1986 a)
e os ventos de leste, que podem ser constatados observacionalmente. Como vemos
existem múltiplas causas, o que torna muitas vezes difícil sabermos com antecedência
qual a causa principal que predominará para provocar efeitos danosos no NE. Diante
destas adversidades climáticas existem perdas de sementes, colheitas, falta d’água ou às
vezes em abundância, causando enormes perdas na economia da região em questão.
Quando estas anomalias de teleconexões ou as causas localizadas dentro da área não
ocorrem, o homem obtém excelentes colheitas tendo em conta a alta incidência da
radiação solar, importante para a maturidade das árvores e lavouras. Os efeitos locais
(Gomes Filho, 1979 e Berkofsky, 1976) e os externos referidos anteriormente à região
mencionada, não podem ser alterados, pois são mecanismos complexos localmente e
menos ainda os de teleconexões não devem ser alterados , pois são efeitos globais. Isto
poderia causar possivelmente danos irreparáveis em outras partes do globo e bem como
as causas locais, com menor intensidade e possibilidade, a longa distância. Pesquisadores
têm sugerido utilizar condições locais com o objetivo de abrandar, em especial, as
situações de seca do semi-árido. Entre estas condições podemos considerar transporte
de água do rio São Francisco (Lucena, 1998), de possíveis existência de poços artesianos,
a existêcia de contradições na construção de açudes (Lucena, 1998) e a nucleação de
nuvens convectivas (Buchmann, 1981), com o intuito de minimizar a ausência de
precipitação, que é de cerca de 500 mm no inverno (Kousky e Chu, 1978).
Hoje em dia, com o advento dos modelos de circulação geral da atmosfera e a
existência do CPTEC, já somos capazes de simular e prever situações de secas e de
inundações extremas nesta região. Com o auxílio dos satélites podemos acompanhar o
aparecimento de fenômenos como El Nino (Buchmann et al., 1986 b) e La Niña
(Buchmann et al., 1989). Tendo em conta que os sensores de temperatura dos satélites
são capazes de detectar variações de 0.1C na temperatura da superfície da água do mar,
no oceano Pacífico.
Pelo que se viu, o NE está inserido no contexto global da circulação geral da
atmosfera, onde existe e mostrou-se que há influências oriundas de todas as direções
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sobre o NE, baseados nas citações bibliográficas anteriores, referenciadas no terceiro
parágrafo da introdução.
Algumas modificações climáticas podem ser ensejadas no NE, tais como
aumento do albedo (Charney, 1975), “alteração orográfica” (Marinho e Rebouças, 1970),
nucleação de nuvens no Atlântico Sul (Buchmann, 1981), consideradas alterações locais.
Anomalias mais distantes do NE, são mais difíceis de serem alteradas, pois poderiam
afetar profundamente regiões ainda mais remotas, alterando o clima destas áreas, o que
se tornaria perigosos, pois não sabemos o que ocorreria, como citamos anteriormente.
Grande parte desta região, no passado, era possivelmente vegetada (Ramos,
1975) Todavia portuguêses, franceses, holandeses começaram por desmatar o NE, para
contrabandear madeira de lei para a Europa, possivelmente o conhecido Pau-Brasil.
Além disto animais domésticos também contribuíram provavelmente para diminuição
da vegetação, tornando o clima semi-árido (Ramos, 1975). Isto levou aproximadamente
400 anos (Sampaio Ferraz, 1950), hoje com as moto-serras o processo teria sido mais
intenso e rápido. Os homens e os animais são os maiores predadores da face da Terra,
destruindo quase que totalmente o meio ambiente que o cercam (Ramos, 1975). Fala-se
da possível existência do Pau-Brasil desde o início da colonização (Ramos, 1975),
depois provavelmente desapareceu pela ganância do homem.
Hoje a comunidade meteorológica, as universidades, o institutos de pesquisas
e os serviços meteorológicos prestam mais atenção e atuam efetivamente sobre o
desmatamento do NE e em outras regiões brasileiras.
Este trabalho pretende mostrar o homem vivendo no seu habitat do semiárido
e correlacionando sua dificuldades com o clima, para poder sobreviver nestas
condições de adversidades climáticas.
No próximo capítulo veremos as condições para cultivo na região do NE e
finalmente, no terceiro capítulo, as conclusões.
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2 Infra-estrutura do Nordeste para cultivo
O semi-árido não está inviabilizado, obras podem ser feitas. Recentemente o
Governador Ciro Gomes, do Ceará, construiu um canal trazendo água para a periferia
de Fortaleza. Basta ter vontade política. Dez anos atrás, pensou-se em irrigar esta
região, utilizando-se das águas do rio São Francisco (Lucena, 1998). Entretando o custo
desta obra estava orçado em oito bilhões de dólares. Não se inicializou pelo alto custo
financeiro da obra, na época.
O Estado de Israel tem tido um grande aproveitamento na agricultura utilizandose
do processo de irrigação das águas do rio Jordão que vem do degelo da neve nas
Colinas de Golam, na Síria e das águas do mar Morto dessalinizadas. Estas plantações
são traduzidas em ótimas colheitas.
Isto poderia, evidentemente, ser realizado no NE brasileiro aproveitando a água
salobra dos poços artesianos, questionáveis em sua existência ,e até da própria água do
mar, através do processo de dessanilização. Todavia faltam recursos e principalmente
vontade política para se resolver os problemas desta região.
Os políticos se utilizam da pobreza e da seca, para obtenção de verbas e
consequentemente de votos na ocasião das eleições. Achamos entretanto que o processo
poderia ser inverso e continuariam a conseguir os votos pelo que realizassem. Mas a
exploração do homem pelo homem nesta região é absurda, patética e ridícula.
Potencialmente as terras do NE são muito boas para o cultivo devido a fertilidade e
sendo uma região de forte radiação solar, o que contribui enormemente para obtenção de
ótimas colheitas, muitas vezes anunciadas pelos meios de comunicação. A água com
esforço pode ser possivelmente conseguida, como vimos anteriormente.
O problema da seca no NE é secular (Sampaio Ferraz, 1950). O que falta é determinação
e vontade de fazer politicamente para acabarmos de vez com o sofrimento deste povo
bom, honesto, sincero e amargurado. A migração, nos períodos adversos, é um absurdo do
ponto de vista humano e geográfico causando possivelmente dramas familiares e aumentando
provavelmente a concentração urbana nas periferias das grandes cidades, o que implica em
outras conseqüências, tais como: falta de escola, saúde, moradia, trabalho, criminalidade e
saneamento básico para os migrantes que acabam por não resolver o seu problema.
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3 Conclusões
Através das imagens dos satélites vemos que já se configura, possivelmente, a
existência da La Niña. Tendo em conta este fato, os agricultores talvez já possam
esperar um aumento de pluviosidade no NE e uma diminuição no sudeste e no sul do
país (Buchamnn et al., 1989). Para tanto, já seria hora de começarmos a pensar em
semear a terra e provavelmente obtermos uma boa colheita. Devemos esperar um ano
adverso no sul, com possibilidade de uma safra fraca, que acarretará severos prejuízos
a lavoura mas com boa probabilidade no NE.
Este fato dará ao homem do nordeste um certo alívio, caso ocorra a precipitação
acima da normal , antecipando o inverno sem grandes inundações ou chuvas severas.
Tudo isto é incerto, mas é o que poderá acontecer caso se configure a La Niña (Buchamnn
et al., 1989) na atmosfera (ver figura). Com início em 1997 e até os dias atuais está
ocorrendo o fenômeno El Niño. Este trabalho faz parte de uma monografia sobre o
homem nordestino versus as adversidades climáticas no nordeste.
4 Agradecimentos
Agradecemos aos autores dos diversos artigos citados sobre o nordeste que serviram
de fonte de inspiração e consulta deste pequeno ensaio e aos professores e amigos
Audálio Rebelo Torres Junior e Gutemberg Borges França. Este trabalho foi parcialmente
desenvolvido na Universidade de Utah, em 1990.
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Serra,A.1969.Atlas climatológico do Brasil: reedição de mapas selecionados, Rio de
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