quarta-feira, 4 de abril de 2012

O CORAÇÃO DAS TREVAS: JOSEPH CONRAD

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6. A Linha de Sombra - Textos publicados na Folha
Depois do inferno
(publicado em 08/06/2002)

CELIA CAVALHEIRO
especial para a Folha

Há cem anos saía a publicação de "O Coração das Trevas", de Joseph Conrad. Uma espécie de tratado sobre aquilo de que não se diz o nome, onde um narrador/ personagem, ao navegar sobre o Tâmisa "à luz augusta das memórias duradouras", apresenta um outro personagem, o marinheiro Marlow, que, pelo marasmo da hora ou pelas lembranças impositivas nascidas daquela luz, começa a contar uma história, sobre algo ou alguém --Kurtz-- que não deve ser esquecido.

Ainda como uma criação da criação, 23 anos depois T.S. Eliot inicia seu poema "Os Homens Ocos" com a epígrafe "Mr. Kurtz -- ele morreu". Sabemos da ironia do poeta, que, afinal, as coisas não morrem, pois "muito longa é a vida", para frente ou para trás. A prova, ou uma delas, é que, passadas algumas décadas, outra espécie de narrador, o cineasta Francis Ford Coppola, colocou os versos do poeta na boca desses personagens: Kurtz e Marlow, transformados então em capitão e soldado, no filme "Apocalypse Now". Representando outra guerra, a do Vietnã, numa época diferente portanto, mas sob o mesmo sentimento de que então "é assim que o mundo acaba": ao vislumbrarmos o inominável, o abominável que, de resto, sabemos quem somos. Agora, na virada de outro século, perto de guerras bem mais anunciadas, recebemos esta nova tradução da novela de Conrad, centrada em resgatar um certo estilo --quase descontraído--, mas que pontua muito mais a aflição da narrativa, como um pano de fundo contrastante.

Se pensarmos no filme, que há menos de um ano pôde ser visto outra vez nos cinemas, em sua versão ampliada e revista, verificamos que nele a escolha do pano de fundo é feita por insistência, presença absoluta. O cenário é vermelho, barulhento, esfumaçado. Todo o tempo o desespero dos personagens enche a tela, como se o diretor não quisesse dar nenhuma folga para que o espectador se distraia do que "deve" ser visto.

Enquanto a narrativa de Conrad, longe de ser leve, é porém conduzida pelo tom do marinheiro, que conta a sua história. Dando tempo para que se respire, para que se perceba, lentamente, a crueza do relato --e a lentidão em si é uma crueldade. Se o filme é explícito ao mostrar a total demência de homens que acham que estão cumprindo seu dever, em contrapartida ao delírio declarado do homem que deve ser morto (Mr. Kurtz, no filme, deve ser morto porque assumiu que só a loucura é páreo para aquele horror, enquanto os outros fingem que poderão voltar para casa), a peripécia da narrativa conradiana é ocultar esta personalidade, que só vai se delineando através de uma certo alinhavo conclusivo do contador do caso, que, aos poucos, constrói o desconhecido Mr. Kurtz, aquele que ele não pensava em "ver", mas "ouvir" e, apesar dos seus métodos insanos, encontra, no próprio perseguidor, um aliado.

Na verdade, o que trama tanto a obra de Conrad, que só chega a ser explícita quando trata de conduzir a descida aos infernos que é o esquecimento de si mesmo, quanto a adaptação de Coppola é a questão do conhecimento, do que pode ou não ser dito, da mentira sim, mas a necessária. O personagem Mr. Kurtz encarna "aquele que tem a Palavra", aquele que pode diferenciar, em meio à miséria, o que deve virar testemunho. Mais para frente o narrador do romance arremata: "É claro que você pode ser tolo o bastante para se perder -estúpido demais mesmo para saber que está sendo assaltado pelos poderes das trevas".

Advertindo, de certo modo, que é preciso um mínimo de consciência para perceber o lado obscuro das coisas, consciência sem a qual não há sofrimento e, se não houver sofrimento, não pode haver rendição. E o que é a rendição senão observar, um sem número de vezes, que as coisas não mudam, mas podem, em instantâneos, serem flagradas?

Dito assim, parece que se privilegia, no romance, o aspecto puramente psicológico, ainda mais que está seguido, nesta edição, do conto "O Cúmplice Secreto" (1912), onde o protagonista, ao esconder e salvar um assassino, vai libertando a si mesmo, reconhecendo, às escondidas (no fundo do quarto, atrás da porta, no canto agachado...), que o outro é sua parte mais querida.

Mas isto seria talvez simplificar a reviravolta literária que deparamos com a leitura da obra de Joseph Conrad --eterno exilado de seu país, da casa paterna, de suas convicções--, que consegue misturar, sem confundir, as importâncias das coisas, sem relativizar seus significados. Ao fazer um relato de viagem, ele trata de questões reais, como o massacre de um povo pela exploração comercial, o aprisionamento de escravos, a política de uma Europa prepotente e, no meio disto, o homem como joguete do seu não-discernimento, sendo, ao mesmo tempo, o que come e o que é comido.

O fator psicológico do espelhamento na trama do poder está presente, claro que sim, mas o que se apura desta leitura é que, se o século 19 se ocupou em desvendar o que há por trás da linguagem, a mestria de Conrad é mostrar o que há por dentro desta significação. Não adianta desvendar as entrelinhas, mas lê-las em conjunto. O espaço e a palavra estão trabalhando para o conjunto, não há silêncio. E talvez aí o filme de Coppola tenha alcançado plenamente o sentido da obra, pois, apesar de dar endereço certo para a "trama" (Camboja-Vietnã), também não deixa espaço para que o espectador se situe demais no que pode haver ali de real.

Percorrendo uma espécie de paraíso às avessas, tanto a falta de pressa do contador de histórias de Conrad quanto as imagens escatológicas, sem descanso, de Coppola remetem para uma espécie de salvação. Destacadamente no romance, onde o marinheiro termina sua narrativa contando como, um ano depois de ter se aventurado rio acima no resgate daquele homem, vai ao encontro de sua prometida, reconhecendo na mulher ainda de luto o lado são de Mr. Kurtz. E, mentindo sobre as últimas palavras do amado, percebe que, apesar da traição, esse era o único modo de continuar vivo para, enfim, testemunhar o que viu.

Do não-silêncio, da aflição ininterrupta, da novidade eternamente reinaugurada --como o próprio personagem que, ao ter que deixar o livro achado, sentiu-se meio que "separado do abrigo de uma velha e sólida amizade"--, retiramos, também desamparados, os olhos do texto, mas sabendo, mesmo sem consolo, que depois do inferno é possível dar de novo nome às coisas.

Celia Cavalheiro é contista, autora de "Poucas e Boas" (Iluminuras).

O Coração das Trevas
Joseph Conrad
Tradução: Celso M. Paciornik
Iluminuras
(Tel. 0/xx/11/3068-9433)
192 págs., R$ 28,00
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