domingo, 1 de abril de 2012

LÍNGUAS DA AMAZÔNIA

portugalização da cidade, transformando-a na porta de entrada dos nordestinos, que fugiam
da seca e se dirigiam para os seringais, em função da demanda da borracha no mercado
internacional. Todos eles eram falantes de português, como o eram brasileiros de outras
regiões que afluíram para a Amazônia, em geral por razões comerciais. O número de
vapores de comércio no rio Amazonas, que em 1851 era de apenas três, subiu em 1860 para
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doze, e em 1888 já era superior a cem, de todos os tamanhos. Havia ainda grandes vapores
da linha brasileira, que faziam quatro viagens mensais ao Rio de Janeiro, e duas linhas
inglesas que ligavam Manaus com a Europa e os Estados Unidos, três vezes por mês, cada
uma delas (Marajó 1895:159). O vapor, portador da língua portuguesa e de produtos
europeus, acabou mudando a composição majoritariamente indígena da cidade.
A inserção da Amazônia na nova divisão internacional do trabalho exigiu mudanças
significativas em Manaus. Na última década do século – com o concurso do capital, da
tecnologia e das empresas inglesas – são instalados os serviços públicos. A cidade é dotada
de um sistema portuário moderno, de serviços de água encanada, esgoto e luz elétrica, de
um sistema de coleta e disposição de lixo, de serviço telefônico e de uma linha telegráfica
sub-fluvial, num processo de modernização estudado, entre outros pesquisadores, por
Geraldo Sá Peixoto Pinheiro (1993/1994) e Maria Luiza Ugarte Pinheiro (1999). Prédios
públicos monumentais como o Teatro Amazonas e o Palácio da Justiça, novas avenidas e
boulevards, praças e jardins com coretos, estátuas, fontes e chafarizes importados da
Europa, enfim “uma febre de construção tomou conta da cidade, varrendo tudo aquilo que
podia evocar os povos indígenas’. Vários jornais diários circulavam na cidade,
incentivando hábitos de leitura antes inexistentes. O professor Bradford Burns, da
Universidade de Miami, que estudou esse período, considera que “Manaus alardeava com
orgulho todas as civilidades de qualquer cidade européia de seu tamanho ou mesmo
maior” (Freire 1993/1994: 173).
Nesse contexto, já não havia espaço para a Língua Geral. Há registros de moradores
que conheciam a LGA, sobretudo comerciantes, índios e tripulantes de barcos das casas
aviadoras, que a usavam quando em viagem ao alto e médio Rio Negro, mas que, uma vez
na cidade, dispensavam o seu uso. Duas ou três décadas depois de Belém, Manaus
transformara-se igualmente numa cidade monolingue, falante de português, onde a Língua
Geral não era mais usada, sequer “da porta da sala para dentro”, como nos últimos anos.
Perdera, também, falantes e funções, para permitir a articulação progressiva da região com
o mercado nacional e mundial.
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4.4. 3 - Os usos e os espaços
“Todos os tapuias semi-civilizados das aldeias – na verdade, todos os habitantes dos
lugarejos mais isolados – falam a língua geral, que constitui uma adaptação feita pelos
missionários jesuítas do idioma original dos Tupinambás. Bates, em 1858 (1979: 39).
No processo de transição do bilingüismo (LGA-LP) para o monolinguismo (LP) nas
duas cidades amazônicas, em meados do século XIX, resta saber quais as funções exercidas
por cada uma das línguas, quem as falava, em que tipo de situação e em qual espaço, e as
razões pelas quais, uma delas predominou em detrimento da outra. Como já foi visto
anteriormente, alguns viajantes documentaram esse processo, dando conta da ocorrência de
um bilingüismo social, com a predominância do português, de forma muito mais marcante
em Belém do que em Manaus, e registrando as formas de contato entre essas línguas.
Um dado interessante sobre o quadro lingüístico nas duas cidades é acrescentado
por Bates, a partir de uma cena do cotidiano por ele presenciada, que nos permite pensar
sobre a função de cada uma das línguas, destacando a relevância do gênero - como variável
social - e a freqüência de alternância, no uso que delas se fazia. Ele estava hospedado em
Murucupi, a 30 quilômetros de Belém, e tinha por vizinho um “índio civilizado”,
carpinteiro, construtor de canoas, que vivia com sua mulher e trabalhava com dois
aprendizes, também índios, usuários de português, mas todos, sempre, taciturnos. Um dia,
receberam a visita de uma senhora idosa, que manteve uma conversa com a dona de casa,
mas para surpresa de Bates, “as duas papaguearam a tarde inteira, sem uma pausa,
falando apenas na língua tupi”. (Bates 1979:85). Desta forma, através de um fato trivial,
ele nos fornece algumas pistas sobre o possível uso de cada uma das duas línguas na cidade
de Belém e seus arredores. Lá, da porta para fora, dominava o português, mas “da porta da
sala para dentro”, falava-se a Língua Geral, conforme já havia alertado Lourenço
Amazonas (1852:104). O espaço externo, da rua, do público, era de domínio masculino,
mas o espaço interno, doméstico, da cozinha e do quintal, era controlado pela mulher, o que
autoriza a conjeturar que, nesta situação de bilingüismo social, o homem recorria mais
freqüentemente ao português, enquanto a mulher usava mais a Língua Geral.
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A situação de Manaus, nesse aspecto, não era diferente a de Belém, conforme o
testemunho do médico Avé-Lallemant. Durante a sua estadia na cidade, em 1859, ele notou
que “em Manaus, por certo, não há índio que, tendo-se demorado lá mesmo, só por poucas
semanas, não fale um pouco de português, e não tenha sido batizado”, isto quando se
tratava do sexo masculino, porque quando se tratava das mulheres, elas viviam repetindo
seus nomes de batismo, com prazer, “embora não entendam uma palavra de português”.
Hospedado na casa do major Tapajós, ele encontrou duas índias originárias do Rio Branco,
com as quais tentou comunicar-se: “Só uma dessas índias sabia algumas palavras em
português; a outra ficou inteiramente muda”. Depois de criticar o catolicismo superficial
dos moradores de descendência indígena, incapaz de superar “os velhos ecos da floresta”,
ele arremata: “Falam, perante o mundo, português; e, contudo, ouve-se por toda parte a
língua geral, (...) falada por eles, quando se encontram no seu ambiente”. (Avé-Lallemant
1980: 105-106,142-144). O ambiente a que se refere o autor estava relacionado muito mais ao
espaço cultural. Havia determinados temas que só se falavam numa língua e não na outra,
certos objetos que se designavam por vocábulos apenas de uma delas. Também havia
circunstâncias de maior ou menor formalidade, que implicavam o uso de uma ou outra língua.
Em situação deste tipo de bilingüismo social, algumas práticas estão reservadas para a língua
indígena, por exemplo, as mais informais e domésticas, e as mais formais, geralmente
relacionadas à escolaridade e administração para a língua oficial. A competência comunicativa
implicava, portanto, um conhecimento, por parte do falante, não só de um código
lingüístico, mas também do que dizer, a quem e como dizer, em uma situação determinada.
Cada vez que ´se encontravam no seu ambiente´, recorriam à Língua Geral. No
entanto, quando mudavam de ambiente, ou quando mudavam o ambiente, o português
tornava-se língua obrigatória. Com base, portanto, nesses e em outros testemunhos da
época, podemos pressupor que o bilingüismo existente nas duas cidades podia estar muito
mais generalizado do que aquele que foi notado pela maioria dos viajantes cujo foco de
observação incidia sobre o espaço externo, público, muito mais do que sobre o interno,
privado. No entanto, seja qual for sua extensão, parece oportuno indagar como se
processava a convivência das duas línguas, através dos seus falantes, e quais as atitudes por
eles mantidas em relação a cada uma delas.
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O trato diário entre português e Língua Geral aparece nos relatos, com muita
freqüência, de forma idealizada, como algo simétrico e harmonioso, omitindo-se ou
minimizando-se o seu caráter conflitivo. Avé-Lallemant viu no português falado em
Manaus, “o europeismo que avança”, e na Língua Geral, “a floresta virgem que se afasta
cada vez mais”, porém avaliou que esse processo não era “um combate de vida e morte”,
mas uma “agradável reconciliação”. Fez analogia do uso de uma língua com o de uma
arma, para descrever a função insubstituível de cada uma delas, permitindo-nos estabelecer
um paralelo: de um lado a língua portuguesa (espingarda), e de outro, a Língua Geral (o
arco e a flecha). Assim, os moradores da Amazônia aprenderam a usar a espingarda e a
apreciar seu valor, mas serviam-se dela apenas “na luta com os animais maiores, quando
podem obter a pólvora e as balas; para a caça menor, porém, a espingarda ainda não
substitui o arco e a flecha e matam, com grande segurança, o pirarucu e a tartaruga”.
(Avé-Lallemant 1980:100,105,110)
Na época em que o médico alemão passou pelas duas cidades, a Língua Geral era,
ainda, insubstituível para algumas funções, como continuava sendo seis anos depois,
durante a estadia, em Manaus, do casal Luiz e Elizabeth Agassiz, cuja versão apresentada
sobre um piquenique organizado em sua homenagem é dotada de forte carga simbólica.
Eles descreveram o passeio de barco que fizeram, ao por do sol, a um lago próximo da
cidade, na companhia do próprio presidente da Província: “partimos sem os canoeiros,
preferindo os cavalheiros remarem, eles próprios”. Os canoeiros dispensados eram,
evidentemente, índios, profissionais que remavam por dever de ofício; os cavalheiros eram,
obviamente, falantes nativos de português, amadores, que o faziam como exercício
esportivo. No meio do lago, o barco de cavalheiros se defronta com outro barco de dois
mastros, enfeitado de bandeirolas, esse totalmente tripulado por umas quinze índias, que
remavam e manejavam o leme, tendo a bordo, as figuras bronzeadas de alguns músicos. A
metáfora não podia ser melhor: o encontro de dois barcos num lago amazônico. Em um
deles, a língua era o português, falada por cavalheiros que estavam no lugar dos índios; no
outro, carregado de mulheres indígenas, a língua era a Geral. Nasceu, desse contato, uma
cena descrita por Elizabeth Cary Agassiz:
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“Então, as duas embarcações se puseram lado a lado e desceram juntas,
passando a guitarra de uma para outra e as canções brasileiras se alternaram
com os cantos indígenas. Não se pode efetivamente imaginar nada tão
fortemente marcado do cunho nacional, tão fortemente impregnado da cor dos
trópicos (...) que essa cena no lago” (Agassiz 1975:168).
O ´cunho nacional´, é verdade, se refere ao conjunto da cena, mas a autora reservou
o termo ´brasileiro´ para qualificar somente as canções em língua portuguesa, em oposição
ao ´indígena´, cujos cantos em Língua Geral acabam, assim, excluídos dessa comunhão
nacional. É até provável que – interpretações à parte - a descrição seja objetiva, mas
dificilmente o casal Agassiz encontraria outra cena similar. Nas cidades de Belém e
Manaus, as embarcações, portadoras do português e da LGA, quase nunca estiveram lado a
lado, nem tampouco passearam juntas, em igualdade de condições. O bilingüismo dos
moradores nas duas cidades se deu, sempre, sob fortes condições de dominação e de
opressão, num quadro no qual a língua materna da elite econômica e política era uma, e a
dos fornecedores da força de trabalho era outra. Uma tinha tradição escrita e, também por
isso, era considerada língua dominante. Embora nem todos os portugueses citadinos, por
serem analfabetos, tivessem condições de usar sua própria língua nas práticas de registro
escrito, o fato dela possuir uma tradição escrita e uma literatura erudita, lhe conferia o
status de prestígio. Era a língua da escola, dos livros, dos jornais, da administração, das
leis, da correspondência escrita, dos relatórios oficiais, enfim, das relações urbanas, e era,
sobretudo, a língua que permitia comunicar-se e integrar-se com o resto do país.
A outra, com forte tradição oral, era a língua da família, do trabalho, das conversações
coloquiais, das narrativas, das canções de ninar, da poesia e do lazer. Sua escassa produção
escrita consistia no registro, seja em gramáticas, em dicionários, em catecismos ou, ainda, na
coleta da literatura oral, feito por usuários de português, que dominavam a LGA. Entretanto,
na sociedade amazônica, era discriminada como língua dominada, em situação de
desvantagem, ficando limitada ao espaço da cozinha e do quintal, servindo de ponte entre a
cidade e a floresta, como um ‘elo para dentro’, enquanto o português funcionava como um
‘elo para fora’.
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Na realidade, essa tensão entre as ‘línguas em contato’, na Amazônia do século
XIX, ocorria dentro de um processo mais amplo, de confronto e conflito de culturas, que
acabou dando origem a uma sociedade mestiça, denominada de ‘sociedade fusca’ por
Robert Avé-Lallemant. De todos os viajantes, ele foi o que melhor registrou as marcas e as
formas de interculturalidade, presentes na forma de ocupação do espaço urbano. Depois de
comer chibé de farinha com champanha, “sob um telhado de folhas de palmeira”, e de
almoçar peixe e pupunha, bebendo cerveja e vinho do Porto, ele viu navegar pelo rio um
moderno barco a vapor, ao lado de uma canoa indígena. Percebeu, então, os contrastes dessas
duas cidades fuscas, cujas vias de circulação se alternavam, “ora em ruas, ora em igarapés”,
onde se erguiam “sólidos edifícios europeus” ao lado de “primitivas casas tapuias de barro”,
que abrigavam brancos, índios e vários tipos de mestiços. Testemunhou o aparecimento das
primeiras fábricas, “cujas altas chaminés se elevam, com singular surpresa, diante da floresta
virgem, como um dedo escrevendo nela: Aqui há progresso! Aqui há Europa!”. A Europa
estava presente também, em Óbidos, onde viu “damas mais ou menos brancas” usando
espartilhos, em contraposição às leves anáguas e camisas brancas flutuantes das “fuscas
tapuias”. No entanto, observou que o encontro de culturas nem sempre propiciou um
diálogo entre esses dois mundos, e nem sempre favoreceu a construção mancomunada de
novos significados (Avé-Lallemant, 1980: 143,206):
“Vi índias espartilhadas, com vestidos de seda preta e calçadas. Mas como
pareciam desajeitadas, mortificadas e sufocadas! Como, ao contrário,
andavam leves e alegres as fuscas tapuias, só de camisa e saia, subindo a
encosta do rio com o pote de água na cabeça” (Avé-Lallemant: 82-83).
Nesse contexto é que se desenvolve o bilingüismo nas duas cidades, com data
marcada para desaparecer, porque, como observou Avé-Lallemant - mencionando o
português, o espanhol, o inglês, o francês e o holandês, falados no norte da Pan-Amazônia -
“as línguas européias já penetram profundamente na floresta. A língua geral é apenas uma
transição, ou antes a língua de uma transição”. Nessa transição, muitos tapuias que
aprenderam português, talvez tenham sentido o mesmo desconforto das índias
espartilhadas, porque a aquisição da língua européia foi feita, em geral, de forma
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desordenada e sob essa condição de tensão. Essa situação está caracterizada pela literatura
regional, cujo discurso representa o bilingüismo social, especialmente em suas duas
cidades, como uma situação de antagonismo e não de complementaridade, de tensão e de
conflito e não de harmonia, como podemos observar nas obras de Lourenço Amazonas e
Francisco Gomes de Amorim, que foram aqui discutidas.
Parte significativa da literatura oral e dos etnoconhecimentos, veiculados através da
LGA, foram banidos das duas cidades, junto com a língua. Na década de 1880, o botânico
Barbosa Rodrigues teve certa dificuldade de coletar, em Manaus, narrativas, poesias,
canções e conhecimentos sobre as plantas: “O fato de quase já não se falar a língua geral,
e de se ter a morte encarregado de chamar a si grande parte daqueles velhos, que sabiam
esses contos, tem feito com que poucas pessoas, no Amazonas, os saibam, e penso mesmo
que, fora da Província, são completamente desconhecidos”. Quanto às cantigas registradas,
ele as considerou meros “fragmentos de tantas que se perderam com o correr dos anos”
(Rodrigues 1890:121, 275). A atitude dos falantes de LGA, em relação à sua própria
situação, é exemplificada por um fato ocorrido em março de 1884, presenciado por Barbosa
Rodrigues, em Manaus, no igarapé em frente ao Museu, do qual era diretor. Ele viu uma
canoa atracar no local de desembarque, com um casal indígena e seus filhos, trazendo
dentro dela o chefe da família, “magro, cadavérico e gravemente enfermo”. Dois dias
depois, o botânico carioca encontrou acidentalmente a mulher, e perguntou dela, em Língua
Geral, se o seu marido havia tido melhoras em sua saúde. Ela respondeu: - Timaã! Umanu
uana uiky koema irumo (Não. Morreu hoje de manhã). É ele, então, que narra:
“Olhei para o interior da casa e pela porta vi sobre uma mesa, coberto com um
lençol o cadáver do marido, para o qual a tapuia me apontava. - Não choras?
Não sentes a sua morte? Respondeu-me, então, com ar tristonho: - Yané anga
yma uana, tapuya ceté pira nhô ana (Nós já não temos alma, os tapuias só têm
corpo)” (Rodrigues, 1890: 277-278).
Nas duas cidades, os poucos falantes de LGA que restaram, eram corpos sem alma,
não tinham mais com quem falar, nem sobre o que falar. A LGA perdeu não apenas
falantes, mas funções, devido a uma série de fatores: a crescente urbanização, a escola, a
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navegação a vapor, a emigração dos tapuios e a imigração de nordestinos, tudo isso dentro
de um processo de maior integração das duas cidades ao resto do país e de inserção da
Amazônia na divisão internacional do trabalho como produtora de borracha. Empurrados
progressivamente para fora das cidades, os tapuios levaram com eles a Língua Geral, que
foi ficando cada vez mais circunscrita ao oeste da Amazônia, com o seu emprego tornandose
“mais consistente à medida que se avança para o interior” (Wallace 1979: 291).
4.5. A LGA nas vilas e povoações
Nitio xa potar cunhang / Setuma sacai waá
Curumú ce mama-mamane / Baia sacai majaué
Nitio xa potar cunhang / Sakiva-açu
Curumú monto-montoque / Tiririca-tyva majaué. 22
Vilas e povoações eram aglomerados humanos, espalhados nas margens dos principais
rios da Amazônia, que se diferenciavam pelo tamanho: as povoações, como regra geral, eram
“núcleos em que se agrupavam de 50 a 300 pessoas, marginando os rios e lagos”, enquanto
as vilas possuíam, em princípio, um número muito maior de casas e de habitantes (Bittencourt
1925: 153). Na realidade, havia povoações que excediam em muito o teto estabelecido, mas
que não foram elevadas formalmente à categoria de vila, porque os critérios para isso não
eram apenas demográficos, mas políticos. No entanto, visto numa perspectiva mais moderna,
tanto vilas como povoações não passavam de pequenas aldeias semi-urbanizadas, onde eram
poucos os moradores que se dedicavam a atividades comerciais, administrativas, políticas,
militares, artesanais ou religiosas, típicas do mundo urbano. Em sua maioria, eles dependiam
diretamente, para sua subsistência, de atividades extrativas, agrícolas e pesqueiras e, por essa
razão, eram obrigados a residir fora, durante muitos meses do ano. De qualquer forma, embora
22 Esses versos foram coletados por Spix & Martius, em março de 1820, no rio Urariá, afluente do rio
Madeira, da boca de um comerciante paulista, capitão José Rodrigues Preto, diretor de índios da aldeia Mawé,
que“havia se familiarizado perfeitamente com a língua tupi, e, também por isso, parecia impor-se aos índios,
cujos versos singelos entoava com modulação esquisita”. Da tradução do alemão foi feita uma versão
portuguesa, reproduzida por Joaquim Norberto de Sousa Silva e, depois, por Sílvio Romero, em sua História
da Literatura Brasileira, conforme nota de Basílio de Magalhães (Spix & Martius 1881: 278). Optamos por
outra versão: “Não gosto de mulher / de perna muito fina / Porque pode me enroscar / como cobra viperina. /
Não gosto de mulher / de cabelo alongado / Porque pode me cortar/ como tiririca no roçado”.
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não constituíssem concentrações humanas densas e estáveis, esses lugares exerciam um certo
poder de atração sobre as populações ribeirinhas, graças às instituições que muitas vilas
sediavam - igreja, escola, botica, às vezes até um pequeno hospital, taberna, mercearia,
mercadinho, lojas de secos e molhados, polícia, cadeia, quartel, corpo de trabalhadores – e
graças, também, aos serviços, mesmo precários, que podiam oferecer. Era lá que os produtos
extrativos eram trocados por certos produtos industrializados. Era lá que as festas religiosas
eram celebradas, e as canoas e remeiros para o transporte fluvial eram contratados. No
universo amazônico do século XIX, caracterizado por densidade demográfica extremamente
baixa, as vilas e povoações desempenhavam funções essenciais, como pontos focais de uma
rede, que articulava a economia rural extrativista, de cunho artesanal, através do sistema de
comércio regional.
Às vésperas da Independência, no Grão-Pará, essa rede era formalmente composta por
44 vilas e 60 povoações, aonde viviam um pouco mais de dois terços da população
recenseada, de acordo com o arrolamento de 1820, reproduzido por Spix & Martius (1981:40-
41). No Pará, nessa época, além da Vila de Cametá e de Santarém, ambas com cerca de 6.000
habitantes, as maiores vilas tinham, cada uma, por volta de 2.000 habitantes: Bragança,
Macapá, Mazagão, Monte Alegre, Melgaço, Óbidos, Vigia, Moju e Abaeté. Na capitania do
Rio Negro, em 1814, os seis núcleos mais importantes, com exceção de Silves, não
ultrapassavam, cada um, os 1.000 moradores: Barcelos, Moura, Maués, Vila Nova da Rainha e
Vila de Ega. Na década de 1830, algumas dessas vilas passaram a ter um status mais
importante que outras, quando foram criadas as comarcas do Grão-Pará, do Baixo Amazonas e
do Alto Amazonas, como decorrência da entrada em vigor, em 1832, do novo código de
processo criminal. As comarcas foram divididas em ‘termos’, cada um com uma ‘cabeça’. As
vilas, que eram cabeças de termo, tinham um governo local, câmara municipal, comandante
militar, comandante dos trabalhadores – encarregado de distribuir os índios para as obras
públicas – juiz de direito ou juiz criminal e civil da comarca, delegado de polícia, vigário,
professor e alguns outros funcionários.
No entanto, para o desenho do mapa sociolingüístico, mais importante que esse dado
político-administrativo, era o tipo de relação que esses núcleos mantinham com as duas
cidades, especialmente com Belém, o que dependia, em grande medida, de sua localização. A
proximidade ou o distanciamento da capital significava um maior ou menor isolamento,
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sobretudo antes da navegação a vapor, quando todo o transporte era feito em canoas a remo,
implicando um gasto descomunal de energia e de tempo. Com esse critério, podemos
identificar três situações diferenciadas, do ponto de vista geográfico e lingüístico: o Baixo
Amazonas, cujas vilas e povoações mantinham relações permanentes e sistemáticas com
Belém; o Alto Amazonas, incluindo aqui os rios Solimões e Negro, cujas vilas tinham relações
esporádicas com a capital; e, finalmente, o Sertão, situado nos territórios dos afluentes mais
afastados, cabeceiras de rios e interior dos lagos, cujas povoações e sítios não diferiam muito
de uma aldeia indígena e permaneciam isoladas, recebendo visitas esparsas de um ou outro
comerciante ou funcionário governamental. Nas três regiões, havia um uso diferenciado da
Língua Geral, conforme explicitou o naturalista Alfred Russel Wallace, em 1852, no
momento em que regressava à Inglaterra, depois de uma experiência de quatro anos na
Amazônia:
“Nas vizinhanças das cidades e vilas mais povoadas, ouve-se tanto essa língua
[Geral] quanto o português. Longe daí, porém, existem locais nos quais ela é o
único idioma utilizado. Mas no interior, coexiste com as línguas nativas das
tribos, cujo alcance é apenas local. Assim, no baixo Amazonas, todos os índios
falam tanto o português como a língua geral; no Solimões e no Rio Negro,
geralmente falam apenas a língua geral; no interior, ao longo dos tributários do
Solimões e na região lacustre, utilizam-se desse idioma e das línguas Mura e Juri
para se comunicarem com os comerciantes que por ali passam” (Wallace 1979:
292-293).
Quanto mais próximo do litoral se encontrava o núcleo urbano, maior era a presença
da língua portuguesa e de índios ´civilizados´ bilíngües (LGA-LP). Na medida em que as vilas
e povoações iam se distanciando da costa e penetrando no interior da Amazônia, a Língua
Geral ia afirmando seu predomínio, com falantes monolingües - os ´tapuios´, e bilingües
(LGA-LV) - os ´índios mansos´.
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4.5.1 - No Baixo Amazonas: os ‘civilizados’
“Ao meu redor, treze índios nus tagarelavam numa linguagem desconhecida. Só dois sabiam
falar português, Fiquei conversando com eles, respondendo às mais diversas perguntas. De
onde vinha o ferro? Como se fazia a chita? No meu país nascia a planta que dava papel?
Havia lá muitas mandiocas e bananas? Eles ficaram espantadíssimos quando lhes contei que
lá só havia homens brancos.- Então, quem é que trabalha?” Wallace, em 1850 (1979:144).
A Comarca do Baixo Amazonas, com sede em Santarém, compreendia as vilas e
povoações, situadas na faixa que começa na zona dos estreitos do rio Amazonas e se
estende até os limites do atual estado do Pará, integrando os então municípios de Gurupá,
Porto de Mós, Macapá, Monte Alegre, Vila Franca, Pauxis (Óbidos) e Faro. Para efeitos
desse trabalho, incluiremos aqui a parte inferior de alguns afluentes, que embora não
pertencendo a esta comarca, estavam sob a zona de influência de Belém. Desta forma, esse
território assim ampliado, de mais de 1.200.000 km², abrangia cerca de 35 vilas e 25
povoações (Spix & Martius 1981: 40). O perfil sociolingüístico de seus habitantes pode ser
desenhado, hoje, graças às valiosas informações proporcionadas pelos naturalistas e
viajantes sobre as línguas faladas em cada localidade e sobre os contatos entre os seus
falantes. Essas informações serão tratadas aqui, com a ajuda de trabalhos recentes sobre
classificação de línguas indígenas, que permitem revelar as relações e os graus de
parentesco, por ventura existentes entre elas.23
Quando Spix e Martius passaram, em 1819, pelo Baixo Amazonas - incluindo a
parte inferior de alguns dos seus afluentes - os habitantes dos núcleos urbanos eram “quase
todos índios e mestiços”. Os primeiros, de procedências lingüísticas as mais variadas,
necessitando comunicar-se entre si, já haviam abandonado suas línguas vernáculas,
substituindo-as pela Língua Geral. No entanto, como precisavam, além disso, de interagir
com a população branca – minoritária - haviam adquirido também a língua portuguesa,
tornando-se bilíngües (LGA-LP), e, portanto, ‘civilizados’. O bilingüismo, porém, era
23
As informações sobre as línguas indígenas do século XIX, no baixo Amazonas, podem ser encontradas em
vários viajantes, especialmente em Spix & Martius (1981: t. III, 82-111e 282-284), Hércules Florence (1977:
290-311) e Henry Bates (1979: 95-102). Para a classificação dessas línguas, utilizaremos preferencialmente os
trabalhos de Aryon Rodrigues (2000), Queixalós & Renault-Lescure (2000) e Loukotka (1968).
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diferenciado, dependendo da forma como os índios se inseriam na produção e do local onde
residiam.
Os índios prestadores de serviços domésticos mantinham contato permanente com
os brancos, com quem moravam. Seguindo o modelo da arquitetura escravagista do resto
do Brasil, na vila de Santarém, sede da Comarca, eles viviam sob telheiros, erguidos pelos
portugueses nos fundos dos quintais de suas residências, que serviam de “senzalas para a
criadagem da casa, quase sempre índios, sendo raros os pretos ou mulatos” . (Spix &
Martius 1981: 99). Mas havia também, em “quase todas as povoações da província”, os
índios ligados diretamente à produção extrativa, aos trabalhos artesanais ou ao transporte
fluvial, que viviam relativamente afastados, em bairros próprios, cujos contatos com os
brancos se davam apenas durante eventuais relações de trabalho. Um desses bairros, em
Santarém, habitado exclusivamente por índios, foi visitado, em junho de 1828, pelos
integrantes da comissão científica, organizada pelo Barão de Langsdorff, cônsul russo no
Brasil. O desenhista da expedição, o francês Hercules Florence (1804-1879), chegou a fazer
um croqui, mostrando a disposição das casas e das ruas do bairro, por onde, mais de vinte
anos depois, os índios desfilariam com “magníficos cocares de penas” e “o corpo pintado
e lambuzado de urucu”, executando a Dança da Caça e a Dança do Diabo, conforme
descrição do naturalista Henry Bates, que presenciou as comemorações festivas. Quem
entrava nesse bairro – segundo Florence - não ouvia mais “os ásperos sons da palavra
portuguesa, porém os sons doces e incompletos da língua geral brasílica” (Florence 1876:
295).
Por outro lado, a relativa segregação dos brancos trazia também conseqüências no
uso das línguas. Havia vilas como Cametá, Faro e Monte Alegre, onde se podia encontrar
muitos mamelucos, como resultado de casamentos mistos com camponeses portugueses,
que rapidamente se adaptaram ao modo de vida amazônico. Mas em outras, como
Santarém, “não parecia haver ali, em grande escala, uma mistura das duas raças”. Os
brancos – brasileiros e portugueses – eram comerciantes, donos de lojas, proprietários de
escravos, fazendas de gado e plantações de cacau, “que gostam de aparentar que são
altamente civilizados”, não se misturando com os índios. (Bates 1979: 140-141). No caso
específico dos portugueses abastados, mais numerosos em Santarém do que em outras vilas,
a segregação repercutiu no seu modo de falar. A língua que falavam continuava a ser o
188
português de além-mar. Hercules Florence estranhou “o sotaque carregado dos filhos
dalém Atlântico”, que conservavam “a pronúncia européia em sua integridade, sem sofrer
a modificação brasileira” (Florence 1876: 295).
Essas observações dos viajantes proporcionam alguns elementos para entender as
especificidades do bilingüismo na região. No início do século XIX, é certo, todos os índios
´civilizados´ do Baixo Amazonas eram bilíngües, da mesma forma que muitos brancos,
devendo, em princípio, usar alternadamente a Língua Geral e o português. No entanto, é
legítimo supor que os ‘índios de senzala’ tivessem uma prática cotidiana diferenciada dos
‘índios de bairro’. Além disso, nem todos eles herdaram o bilingüismo de seus
antepassados. Havia uma geração que adquirira muito recentemente a língua portuguesa, ou
estava ainda em processo de aquisição, a tal ponto que era possível identificar as línguas
vernáculas que haviam sido - ou estavam sendo - abandonadas. Essa geração era formada,
em grande parte, por descendentes de grupos locais, todos originalmente falantes de línguas
do tronco tupi, que ocupavam o território da margem direita do baixo Amazonas e de seus
afluentes e que foram remanejados de uma aldeia para outra, sempre nas cercanias. É o
caso dos moradores de Arapejó, Caviana, Alter do Chão e outras “povoações habitadas
exclusivamente por índios”, e de Porto de Moz, no Xingu, onde viviam remanescentes dos
Tacunhapé e Juruna. Na vila de Santarém, muitos índios da redondeza, empregados dos
colonos ou dos donos de pequenas roças, eram filhos e netos de casamentos interétnicos,
envolvendo falantes de línguas de famílias tupi: jacipoyá, juruna, curivere, munduruku e
cuzari, originários da região entre o Xingu e o Tapajós. Esse fato deve ter, seguramente,
facilitado a esses grupos a aquisição da Língua Geral, por ser uma língua do mesmo tronco.
No entanto, continuava em vigor a política de ‘descimentos’, instituída pela Carta
Régia de 12 de maio de 1798 que aboliu o Diretório de Índios e criou em seu lugar o Corpo
de Trabalhadores, com uma estrutura militarizada, obrigando o alistamento de todos os
índios aldeados e atribuindo ao governador o poder de determinar o número de anos de
serviço obrigatório dos índios, “passados os quais não ficarão obrigados a outro algum
que não seja o de Milícias, ao qual todos estão e devem ficar sujeitos” (Freire 1994:59).
Desta forma, muitos índios, de outras filiações lingüísticas, foram trazidos à força de
territórios mais distantes, situados a mais de dois mil quilômetros. Na povoação de
189
Almerim, uma das mais antigas, formada por imigrantes europeus, Spix & Martius
registraram que “os seus atuais habitantes são, na maior parte, descendentes de Apamas e
Aracajus”, os primeiros de filiação tupi e os segundos, do tronco Karib. Na própria vila de
Santarém, aos grupos tupi já mencionados, se somaram aqueles trazidos do rio Japurá e da
região fronteira com a Colômbia, entre os quais os Passé, Uainumá, Marawá, pertencentes
ao tronco Arawak; os Apiacá, do tronco Karib; os Miranha, do tronco Huitoto; além de
falantes de línguas não classificadas como Cariberi, Guaruará, e Yuri. Os falantes dessas
línguas não-tupis provavelmente tiveram mais dificuldades em se apropriar da Língua
Geral. (Spix & Martius 1981: 99-100).
Essas informações sumárias constituem indícios de que o território do Baixo
Amazonas era uma encruzilhada, para onde convergiam culturas e línguas indígenas muito
diferenciadas – dos troncos Tupi, Arawak, Karib, Huitoto e outros - envolvendo ainda
imigrantes europeus, especialmente portugueses. Nesse encontro, as línguas vernáculas
foram substituídas por duas línguas, que serviam de ligação entre eles: a Língua Geral, de
comunicação interétnica, e a língua portuguesa, de relações com o colonizador, ambas
adquiridas de forma desordenada, a tal ponto que, na visão da época, apresentada por Spix
& Martius, a Língua Geral teve seus “vocábulos transformados, mutilados e viciados pelas
diversas tribos”, e quando falada, muitas vezes só era possível perceber “um indistinto
sussurro ou cicio”. Eles proporcionam informações sobre o resultado desse processo:
Todas essas tribos refundiram-se ao contato dos brancos, muitas vezes dentro
de poucos anos, numa população quase homogênea nos costumes e na língua.
Muitos poucos se recordavam ainda da sua primitiva fala; também poucos
haviam assimilado perfeitamente o português ou a língua geral; antes falavam
esta última estropiadamente, cada um a seu modo. Já aqui começa a ser
veículo preferido a língua geral, por meio da qual os colonos se comunicam
com os índios (Spix & Martius 1981:100).
Os dois viajantes alemães, que falavam o português, mas inicialmente
desconheciam a Língua Geral, foram obrigados a usar intérpretes para interagir com os
moradores, cuja condição bilíngüe (LGA-LP), surpreendentemente, não garantia a eficácia da
190
comunicação em língua portuguesa, porque ela não havia sido ‘assimilada de modo perfeito’.
Atualizando esse discurso, podemos afirmar que muitos desses moradores não eram
necessariamente ‘bilíngües ativos’, ou seja, não desenvolviam, nas duas línguas, as quatro
habilidades lingüísticas básicas: entender, falar, ler e escrever. Os índios ´civilizados´, cuja
língua principal era a Geral, exercitavam, em português, apenas a primeira destreza: entender,
de acordo a informações dos observadores da época. Por outro lado, muitos moradores
brancos, cuja língua materna era o português, não falavam, mas entendiam a Língua Geral, o
que caracterizava, em ambos os casos, um tipo de bilingüismo, denominado por alguns
sociolingüistas como ´bilingüismo passivo’ ou ‘bilingüismo incompleto’ (Moreno 1998: 221).
O resultado dessa situação era que todos os moradores entendiam as duas línguas, mas a
maioria falava com facilidade e eficácia apenas uma delas. Quando os dois segmentos
interagiam, numa conversação coloquial, a estratégia para transmitir informação ou provocar
reação no interlocutor era cada um falar a sua, conforme testemunho de Lourenço Amazonas,
em passagem já citada, como epígrafe do capítulo:
“A Língua Geral [...] é a única, não por se ignorar a portuguesa, mas porque,
constrangidos os indígenas e os Mamelucos em falá-la, pela dificuldade de
formarem os tempos dos verbos, do que os dispensa a Geral, respondem por
esta se lhes pergunta por aquela” (Amazonas 1852:104).
Efetivamente, como corresponde à família Tupi, “os verbos da língua brasílica nunca
mudam de terminação” (Sympson 1877:39), ao contrário do sistema verbal português. No
entanto, a explicação referente à maior facilidade de conjugá-los em uma língua do que em
outra é improcedente. Se assim fosse, todos os nativos em língua portuguesa também
compartilhariam tal vantagem no uso da Língua Geral. Na verdade, trata-se de uma forma de
caracterizar a LGA como uma língua simplificada frente ao português.
Asituação comunicativa descrita por Lourenço Amazonas, bastante freqüente nas vilas
da região, tinha raízes mais profundas, relacionadas às formas desordenadas e não planejadas
de aquisição de segunda língua, responsáveis por aquilo que alguns autores, interessados em
etnografia da comunicação, denominaram de ‘semilinguismo’, caracterizado pelo uso precário
de, pelo menos, umas das duas línguas que estão em contato. Possivelmente, essa situação
191
reproduzia o modelo colonial, em que esses ‘neofalantes’ não tinham acesso a um modelo da
língua portuguesa, em função do contato escasso e, em lugar dela, a solução é o recurso de
uma língua ‘intermédia’. A situação ideal seria o seu oposto, o bilingüismo equilibrado, que
ocorre quando os interlocutores usam as quatro destrezas lingüísticas básicas nas duas línguas,
com similar facilidade e eficácia.24
A rigor, essas destrezas, numa sociedade como a amazônica, com fortes marcas de
oralidade, se limitavam basicamente às duas primeiras – entender e falar – porque os altos
índices de analfabetismo indicam que as práticas de leitura e escrita não eram exercitadas
pelos falantes, índios ou brancos, sequer em suas próprias línguas maternas. Ficou bastante
conhecido o episódio da Câmara de Vila de Boim, no rio Tapajós, cujos vereadores, todos
eles iletrados, para tomarem conhecimento do conteúdo de um ofício enviado pelo
presidente da Província, em 1827, tiveram de esperar vários dias, até a chegada de um
negociante, vindo de Santarém, que numa sessão convocada especialmente para isso, leu o
ofício e foi obrigado a redigir a resposta. “O negociante para se ver livre deles, escreveu o
que lhe pareceu, e cada um dos vereadores se prestou prontamente com a sua cruz, sem
que soubesse o que continha a resposta” .25
No entanto, ao contrário do que se possa imaginar, o iletramento não era
necessariamente maior na população indígena do que na branca. Navegando no baixo
Amazonas em setembro de 1849, o naturalista inglês Henry Bates constatou esse fato, tendo
como amostragem a sua própria tripulação, formada por nove índios, um mestiço e dois
brancos, no total de doze pessoas:
“Uma delas era um rapaz português da Províincia de Trás-os-Montes, o qual
constituía um bom exemplo do tipo de imigrante que Portugal manda para o
24 As noções de acontecimento comunicativo, ato comunicativo, situação comunicativa, interação
comunicativa, bilingüismo ativo, bilingüismo passivo, bilingüismo equilibrado, bilingüismo ambiental,
semilingüismo são usadas aqui no sentido proposto por Francisco Moreno Fernández, em ´Princípios de
sociolingüística y sociología del lenguaje´ (Moreno 1998).
25 Os detalhes deste fato, narrado pelo comandante militar da Comarca, podem ser encontrados no códice 451,
da seção de manuscritos da Biblioteca e Arquivo Públicos do Pará, intitulado Informação sobre Santarém e
demais núcleos do Baixo Amazonas, apresentada ao Presidente da Província pelo Coronel João Roberto
Aires Carneiro, a oito de janeiro de 1828, transcrito por Reis (1979: 103-105)
192
Brasil. Tinha pouco mais de vinte anos, e fazia dois anos que estava no país.
Vestia-se e vivia como os índios, aos quais evidentemente era inferior quanto
às suas maneiras. Não sabia ler nem escrever, ao passo que pelo menos um de
nossos tapuios sabia fazer as duas coisas” (Bates 1979: 94).
Bates não exagera quando considera esse exemplo representativo, pois outros
depoimentos demonstram que não era nada raro encontrar, no século XIX, na Amazônia,
imigrantes portugueses analfabetos. As referências ao iletramento dos imigrantes
portugueses, nesse período, são abundantes, e foram estudadas justamente por um deles:
Francisco Gomes de Amorim (1827-1891), que com dez anos de idade, deixou o seu
povoado natal, próximo a Póvoa de Varzim, no norte de Portugal, e viajou para o Pará,
onde viveu durante nove anos. Trabalhou, sobretudo na região do Baixo Amazonas,
coletando produtos da floresta ao lado dos tapuios, com quem aprendeu a falar a Língua
Geral. Ele conta que já era bilíngüe, quando encontrou, numa modesta casa de índios, em
Alenquer, uma mini-biblioteca, com vários livros velhos, conservados não numa estante,
mas dentro de um cesto forrado com folhas de bananeira brava: “Ao completar os meus
doze anos, envergonhei-me por não saber ler”. Foi tentando decifrar o conteúdo de um
deles - o poema Camões, de autoria de Almeida Garrett - que aprendeu, por conta própria, a
eliminar sua vergonha. Emocionado, escreveu, então, duas cartas ao escritor português,
cujos originais decidiu posteriormente conservar, por se tratarem de documentos de sua
“infância dramática”. As cartas, publicadas recentemente,26 foram “boçalmente escritas”,
nas palavras do seu próprio autor, apresentando muitas “faltas de gramática, pontuação
erradíssima, ortografia estapafúrdia, incongruências e erros palmares contra a história e
contra o senso comum”. Algumas vacilações visíveis na ortografia e na segmentação das
palavras são similares às encontradas nos textos, da mesma época, de autoria dos tapuios
cabanos, já mencionados aqui, no segundo capítulo.
Entre a população do Baixo Amazonas, nessa época, as raras pessoas capazes de ler
e escrever fluentemente transformavam a leitura num ato coletivo, compartilhando-a com
26 As duas cartas a Almeida Garrett, de janeiro e julho de 1845 respectivamente, foram reproduzidas na
biografia de Francisco Gomes de Amorim, de autoria de José Rodrigo Carneiro da Costa Carvalho, intitulada
“Aprendiz de Selvagem” (Carvalho 2000: 229-233). Sobre o processo de alfabetização e o encontro com a
obra de Garret, ver Amorim (1881, t.I: 2).
193
grupos iletrados. Sobre essa prática, Gomes de Amorim nos dá indicações, relatando que,
mesmo depois de mudar para Belém, onde trabalhou como caixeiro, continuava
organizando sessões de leitura, durante as quais lia em voz alta a História de Carlos Magno
para um auditório de “pretos, tapuios e mulatos”, e todos compreendiam tão bem o seu
conteúdo, que no relato da morte de Roldão, “desatavam num berreiro de choro”.
(Carvalho 2000: 75, 233). O português Amorim, bilíngüe (LP-LGA), que aprendeu a ler e
escrever em Alenquer, como um bom contador de histórias, tornou-se o primeiro escritor
português de verdadeira inspiração amazônica, precursor de Ferreira de Castro.27 A sua
obra, pouco conhecida no Brasil, está impregnada de elementos interculturais e bilíngües.
Por outro lado, o tapuio da tripulação de Bates que, ao contrário do imigrante
português, sabia ler e escrever, também não era um caso isolado. É possível encontrar
registros, embora raros e fragmentados, referentes a um certo exercício de leitura e de
escrita, em Língua Geral e em português, por parte de tapuios. Eles desenvolveram
sobretudo o gênero epistolar – bilhetes e cartas – que por não terem sido impressos,
acabaram se perdendo. Conservou-se, apenas, a literatura de caráter religioso, algumas
poesias, letras de canções anônimas e narrativas. Alguns desses manuscritos foram
recolhidos pelo cônego Francisco Bernardino de Souza, 28 em suas viagens pelo Pará e
Amazonas, entre outros, uma breve carta do tuxaua Vicente, dando os pêsames e tentando
consolar um amigo branco, cuja filha havia falecido. A transcrição de um trecho pode dar
uma idéia de como a Língua Geral chegou a desempenhar, embora precariamente, a função
de comunicação corrente, através da escrita. A tradução é de responsabilidade do cônego:
27 José Maria Ferreira de Castro (1898-1974) nasceu em São Pedro de Osselas, no norte de Portugal. Da
mesma forma que Amorim, com dez anos de idade, orfão de pai, emigrou para Belém do Pará. Embarcou para
um seringal no rio Madeira, onde trabalhou durante alguns anos como seringueiro. De retorno a Belém, editou
um jornal intitulado ‘Portugal’, destinado à colônia lusa. Finalmente, voltou ao seu país natal e publicou o
romance ‘A Selva’, recriando a experiência que viveu no seringal. “Com ele, a literatura amazônica marcou
o seu primeiro encontro público com os leitores do mundo” (Souza 1978: 127). Escreveu ainda outros
romances , o último dos quais intitulado ‘Instinto Supremo’, onde relata a pacificação dos índios Parintintin.
28
Francisco Bernardino de Souza (1831- ?) nascido na ilha de Itaparica, na Bahia, foi ordenado padre em 1854,
transferindo-se seis anos depois para o Rio de Janeiro, onde exerceu as funções de professor do Colégio Pedro
II e do Seminário Episcopal São José. Viajou pela Amazônia, como responsável pelos trabalhos etnográficos
da Comissão do Madeira, Pará e Amazonas. Os resultados dessas viagens foram inúmeros artigos, publicados
em jornais, e dois livros (Souza: 1873 e Souza: 1874/1875). Neles, reproduziu, entre outros textos em Língua
Geral, a letra do hino da festa popular do Sahiré, de caráter religioso, canções de ninar e trechos do catecismo
inédito do padre Manoel Justiniano Seixas. Publicou, além disso, um léxico em língua Bonari e a íntegra do
discurso, em português, do líder cabano, Maparajuba Miguel Apolinário, comandante geral das forças do
Baixo e Alto Amazonas, datado de 23 de abril de 1836.
194
“Aiana re iassiú, cariuá, ne ra era umanú, iché chaquá, chasse ne peá, tenupã
moiramé. Tupana u´senú iné aé perê, ne raiera miri, ussuanti iné: aiana re
iãssiu!. A tradução é: Basta de chorar, branco; tua filha morreu; eu sei que
muito deve doer-te o coração. Deixa, porém, quando Deus chamar-te a si, tua
filhinha correrá a encontrar-se contigo. Basta de chorar” (Souza 1875, II: 93).
De qualquer forma, essa prática de leitura e escrita em Língua Geral, de reduzido
alcance, não foi suficiente para garantir sua sobrevivência, num contexto definido por
alguns sociolingüistas como sendo de ‘bilingüismo ambiental’, conseqüência do contato
entre duas línguas, “cuando una de ellas, generalmente la del Estado, tiene un carácter
expansivo por su mayor peso demográfico y cultural” (Moreno 1998: 346). No caso
específico das vilas e povoações do Baixo Amazonas, os falantes de português adquiriram
um maior peso demográfico, depois da abertura de várias linhas de navegação a vapor, que
facilitou a imigração. Com o rush da borracha, os nordestinos, perseguidos pelos rigores
das secas, começaram a chegar, transformando os núcleos urbanos em passagem
obrigatória para os seringais, que eram “centros demográficos em movimento e em
crescimento constante”. O Censo de 1872 indica que algumas vilas ultrapassaram o teto de
25.000 habitantes, como Santarém, Cametá, Breves e Vigia. Várias delas ascenderam à
condição político-administrativa de cidade, como ocorreu, desde meados do século, com
Santarém, cujo bairro tapuio começou a ser demolido em 1869, substituindo “as cabanas
de palhas dos velhos indígenas” por construções mais sólidas, e os moradores
“descendentes de índios” pelos novos imigrantes. Os tapuios, ano após ano, abandonavam
esses espaços urbanos, que se tornavam “civilizados demais” para eles. Os que teimaram
em ficar, acabaram sendo compulsoriamente recrutados como ‘voluntários’ para a Guerra
do Paraguai, para a qual “o Baixo Amazonas, com seus municípios, comparecera com 746
homens”, sendo a maioria deles falantes de Língua Geral (Reis 1979: 122, 144,155).
Ao crescente peso demográfico dos falantes de português, somou-se o peso cultural
e político de uma língua, falada em todo o território nacional, cujo uso era garantido pelo
sistema de educação escolar. No seu retorno para a Europa, depois de viver mais de dez
anos na Amazônia, Henry Bates observou que havia “uma escola primária para meninos
195
em cada cidadezinha, desde o Pará até às fronteiras do Império”, mantida totalmente pelo
governo. Os moradores “pareciam bastante conscientes das vantagens que a educação
proporcionava aos seus filhos”. Uma delas, era justamente o uso obrigatório da língua
portuguesa e a alfabetização nessa língua, cujos resultados surpreendiam os observadores,
que registraram “a rapidez com que os meninos, tanto brancos, quanto de cor, aprendem a
ler, escrever e contar”. O próprio Bates, depois de participar de uma banca examinadora
para a escola secundária, em Santarém, reconheceu que “os conhecimentos demonstrados
pelos jovens, a maioria dos quais não tinha completado 14 anos, eram apreciáveis,
principalmente em gramática, e a facilidade com que aprendiam as coisas teria enchido de
satisfação um mestre europeu (Bates 1979: 142-143, 312-314).
Fragilizada demograficamente, banida da escola e das cidades, a Língua Geral
agonizava também nas vilas e nas povoações do Baixo Amazonas. Quando Charles
Frederick Hartt, na década de 1870, coletou narrativas na região, provavelmente estava
ouvindo os derradeiros guardiões da tradição oral em Monte Alegre, Óbidos e Santarém.
“A língua geral ainda falada pela gente velha, vai pouco a pouco cedendo terreno à
portuguesa, e a próxima geração achá-la-á extinta entre eles” (Hartt 1885: 133). Foi o que
efetivamente ocorreu no final do século XIX, quando a Língua Geral ficou circunscrita à
região do Alto Amazonas.
4.5.2 - No Alto Amazonas: os ‘tapuios’
“O fato é que esses índios pertenciam a diversas tribos e não sabiam falar todos
a mesma língua. Assim, era virtualmente impossível fazê-los obedecer a um líder
e trabalhar eficientemente em conjunto. É a única explicação que me ocorre”.
Wallace (1979:219), tentando esclarecer o comportamento dos tripulantes
indígenas, na travessia de uma cachoeira no alto rio Uaupés, em março de 1851.
A Comarca do Alto Amazonas, criada em 1833, com sua sede em Manaus,
correspondia ao território da antiga Capitania de São José do Rio Negro, que depois, em
1850, se transformou em província, e hoje é, grosso modo, o atual estado do Amazonas,
com uma área superior a 1.500.000 km². Na época, esta Comarca foi subdividida em quatro
196
termos (ou municípios): Manaus, que incluía a zona da Guiana, a partir do rio Nhamundá;
Tefé, que cobria toda a área dos rios Solimões e Japurá; Luséa, abrangendo o rio Madeira e
a região conhecida como mundurucânia; e, finalmente, Mariuá, envolvendo parte do rio
Negro e seus afluentes. Esses territórios abrigavam 1 cidade, 3 vilas e 35 povoações,
organizadas em 18 freguesias, com uma população recenseada total de 40.584 habitantes,
segundo o censo de 1840, além de centenas de aldeias indígenas excluídas dos censos
(Amazonas 1852:30). A única cidade era Manaus, habitada por 9% da população, cuja
situação sociolingüística já foi anteriormente abordada. O interesse, agora, é sobre os 91%
dos habitantes, que viviam no interior e que falavam, majoritariamente a Língua Geral,
quase sempre como monolingües.
De acordo com o censo de 1814, mamelucos, mestiços e brancos – juntos -
representavam 18% dos moradores das vilas e povoações, os negros constituíam 4.0%,
enquanto os índios eram a indiscutível maioria: 78% (Spix & Martius 1981: 41). Retirados
de suas aldeias de origem e levados, compulsoriamente, para as povoações, os índios
passavam a residir com outros índios provenientes das mais variadas famílias lingüísticas.
Nessas condições, os casamentos interétnicos eram a regra geral. Destribalizados, sem
interlocutores em suas línguas maternas, ocorreu o que foi registrado, em 1820, pelos dois
naturalistas alemães:
“E essa mistura de gente, primitivamente moradora quase toda das margens do
Solimões, entre Coari, e o Jutaí, mas também do Japurá e rio Negro, se foi
fundindo numa população atualmente de língua e costumes uniformes” (Spix &
Martius 1981: 179)
A língua uniforme era a Geral, e os costumes eram os da sociedade ‘fusca’, que se
formava no Alto Amazonas, num processo iniciado no século XVII, com o sistema de
aldeamento jesuítico. No século XIX, embora o processo já estivesse consolidado,
continuava o fluxo ininterrupto de índios ‘selvagens’, de suas aldeias para as vilas e
povoações, que desta forma exerciam, com a LGA, função similar à que as cidades
desempenhavam em relação à língua portuguesa. Era lá, que os índios ‘selvagens’ ficavam
‘mansos’ e aprendiam a Língua Geral, tornando-se bilíngües (LV-LGA). Era lá que, em
197
uma ou duas gerações, se perdiam as línguas vernáculas e, desta forma, predominava o
monolinguismo (LGA), passando esses falantes à condição de ‘tapuios’. Esse processo foi
acompanhado por Spix & Martius, em cada vila e em cada povoação, como na freguesia de
Serpa, atual Itacoatiara, próximo à foz do rio Madeira, onde os moradores índios, que
“falavam a língua geral, tinham perdido todo o vestígio de suas diferentes origens”; em
Silves, no lago Saracá, “nenhum deles tinha distintivo nacional e não sabiam dizer de que
tribo descendiam”; em Fonte Boa, no alto Solimões, “só restam poucos vestígios” de sua
antiga filiação lingüística (Spix & Martius 1981: 127,130, 202).
A identificação da procedência lingüística dos moradores indígenas é importante,
porque pode fornecer pistas para explicar as variedades dialetais da Língua Geral. Embora
eles tivessem esquecido as línguas que falavam seus pais e avós, existem documentos que
registraram essas informações, alguns do século XVIII, 29 usados como fontes por Spix &
Martius, que além disso fizeram, em campo, um levantamento minucioso, indicando,
povoação por povoação, as línguas vernáculas que aí foram um dia faladas. Através dessa
documentação, ficamos sabendo que em cada localidade, os seus falantes eram originários
de uma grande diversidade de línguas, das mais distintas famílias: Tupi, Karib, Arawak,
Tukano, Pano, Katukina, Huitoto, Mura e de um sem-número de línguas não-classificadas.
No entanto, eles encontraram um “veículo para entendimento mútuo” - a Língua Geral - que
se viabilizou “por sua grande correspondência com os demais idiomas indianos na estrutura
das palavras, na sintaxe e em toda a espiritualidade prática” (Spix & Martius 1981: 44).
Na realidade, sabemos que a correspondência lexical e sintática da LGA ocorre apenas
com línguas do mesmo tronco – o tupi. Com línguas de outros troncos, isso não acontece,
como verificou um observador europeu, Henry Bates, que viveu mais de três anos na vila de
Ega (atual Tefé), no alto Solimões, para onde convergiam índios dos rios Japurá, Içá e
Solimões, falantes de múltiplas línguas e, até mesmo, negociantes ingleses e brasileiros do
Pará. Lá, ele encontrou, entre os empregados domésticos, “indivíduos de pelo menos dezesseis
29
Destacam-se três relatos do século XVIII: o Roteiro de Viagem da cidade do Pará até às últimas colônias dos
domínios português em os rios Amazonas e Negro, escrito em 1768, pelo cônego Monteiro de Noronha
(Noronha: 1997); o Diário de Viagem do ouvidor Sampaio, pelas povoações da Capitania do Rio Negro, em
1774-1775 (Sampaio: 1985) e as Memórias do bispo diocesano do Pará, D. Frei Caetano Brandão, contendo
as crônicas das visitas pastorais realizadas no período de 1783 a 1789, transcritas em dois tomos, por um autor
anônimo, sob o título Memórias para a História da Vida do Venerável Arcebispo de Braga, D. Frei Caetano
Brandão. Braga, Tip. Dos Órfãos, 1868.
198
tribos diferentes”, notando que “bandos de indígenas, pertencentes a uma mesma tribo e
vivendo à margem do mesmo braço de rio, costumam falar línguas mutuamente
incompreensíveis” , como era o caso dos Miranha, no Japurá, e dos Kulina, no Juruá. Para ele,
a vila de Ega, da mesma forma que outras do Alto Amazonas, era um centro onde aqueles
índios tipificados como ‘selvagens’ acabavam adquirindo a Língua Geral. Suas observações
foram, em grande medida, resultado de tentativas malogradas de interação com uma criança
doente, que ele acolheu, como hóspede, em sua casa. Era uma índia monolingüe, que falava
miranha, uma língua do tronco Huitoto, com quem não conseguiu comunicar-se, nem ele, nem
moradores índios bilíngües (LV-LGA), que falavam passé – língua do tronco Aruak, ou juma,
do tronco Karib, ou ainda coretu, do tronco Tukano. Uma velha índia, bilíngüe em língua
miranha e LGA, serviu, então, de tradutora, evidenciando que a força da Língua Geral residia
no fato de permitir comunicação permanente entre os índios, “de uma ponta à outra do grande
rio, numa extensão de 3.800 quilômetros”. (Bates 1979: 205-209). Quanto à sua
aprendizagem e viabilidade, ele esclareceu, de forma mais objetiva, aquilo que Spix & Martius
definiram como espiritualidade prática:
“É notável a facilidade com que indígenas de nações diversas, que têm sua
própria língua – ao que tudo indica muito distintas umas das outras – aprendem o
tupi quando chegam a Ega, onde é esse o idioma comum. Isso talvez possa ser
atribuído, em grande parte, ao fato de serem as mesmas as formas gramaticais de
todas as línguas indígenas, embora as palavras sejam diferentes. Além do mais,
todos os indígenas têm a mesma maneira de pensar, e os assuntos sobre os quais
falam são sempre os mesmos. Essas circunstâncias também contribuem para
tornar fácil o aprendizado das outras línguas” (Bates 1979: 209).
No censo de 1840, o número de índios moradores nas vilas e povoações caiu de
78% para 58%, com os brancos representando 9%, os mamelucos 26%, os mestiços 4% e
os negros 3%, mas todos eles continuavam falando a Língua Geral (Amazonas 1852:24).
As vilas permaneciam como núcleos, onde não apenas os índios, mas também os viajantes e
os residentes europeus se iniciavam nessa língua de expressão regional. O naturalista
inglês, Henry Bates, aprendeu noções básicas dela com um mestiço, tripulante do barco,
199
durante suas viagens pela Amazônia, o que lhe foi extremamente útil para coletar os dados
que necessitava para a descrição de duas festas religiosas, uma em Ega e outra em Vila
Nova, ambas com fortes marcas interculturais. Na primeira, “misturavam-se os rudes jogos
indígenas com as cerimônias introduzidas pelos portugueses”. Na segunda, em honra de
Nossa Senhora da Conceição, a bebida era “mandioca fermentada”; a dança, “uma
modalidade de lundu português”; o dono da casa “um tapuio civilizado”, isto é, bilíngüe
(LGA-LP), e entre todos os convidados, cerca de sessenta índios e mamelucos, “alguns deles
sabiam português, mas a língua tupi era a única que falavam entre si” (Bates 1979: 120,
210,195).
Nessa mesma época, o colega de Bates, Alfred Wallace, encontrou, no alto
Solimões, famílias européias que haviam optado pelo uso da Língua Geral no espaço
doméstico, entre elas a de um francês, residente há mais de vinte anos na região, que “criou
o hábito de conversar com a mulher e os filhos em língua geral, achando-o preferível ao
francês ou ao português”. Encontrou ainda diversos colonos portugueses, cujos filhos
eram monolíngües em Língua Geral. No alto rio Negro, na vila de Marabitanas, assistiu a
celebração de casamentos oficiada por frei José dos Santos Inocentes, seguida de um
sermão, que “teria sido extremamente útil para os noivos se eles tivessem compreendido.
Mas como o sacerdote falou em português, de nada adiantou” (Wallace: 1979:
146,147,293).
No entanto, essa situação começou a mudar, a partir da segunda metade do século
XIX, quando a navegação a vapor facilitou a entrada de imigrantes provenientes de outras
regiões do Brasil e de Portugal, trazendo com eles a língua portuguesa, que iniciou sua
subida pelo rio Amazonas e seus afluentes, instalando-se em suas vilas e povoados.
Notícias sobre o início dessa mudança foram dadas pelo capitão de artilharia Joaquim
Firmino Xavier, um paulista que comandou os fortes de Tabatinga, no alto Solimões, e o de
São José de Marabitanas, no Rio Negro. Em relatório de 1858, reproduzido por Avé-
Lallemant, o capitão Firmino atesta que a população ticuna do alto Solimões, que vivia em
Tefé, Amaturá e São Paulo de Olivença, já começava a falar “um péssimo português”. No
rio Negro, em cerca de vinte povoações e aldeias, nominalmente citadas, a língua portuguesa
era falada, “muito mal” pelos homens adultos, mas era desconhecida das mulheres - bilíngües
em LGA e língua vernácula - e das crianças, em geral monolíngües em baré, warekena,
200
baniwa, tukano, mutum e outras línguas. Numa povoação, São Felipe, ele observou um
caso singular de bilingüismo: “Os homens são quase todos mamelucos e falam bem o
Português; as mulheres, ao contrário, são bronzeadas e só falam a língua geral” (Avé-
Lallemant 1980: 124-137).
A situação de São Felipe e de outras povoações do rio Negro obrigava os homens a
usar o português apenas para alguns tipos de contatos externos e situações especiais,
destinando a Língua Geral para o uso doméstico, cotidiano. A reprodução das línguas se fazia
basicamente através do núcleo familiar, mas eram as mulheres que desempenhavam o papel
preponderante. Na medida em que elas não falavam o português, as crianças acabavam
reproduzindo a situação de suas mães, tornando-se ou bilíngües (LGA-LV) ou monolingües
(LGA). Um caso relatado por Wallace, ocorrido num vilarejo chamado Nossa Senhora da
Guia, próximo a São Gabriel, no rio Negro, habitado por índios baré, warekena e baniwa
ilustra o papel que a língua portuguesa estava desempenhando na nova ordem social. Lá,
ele ficou hospedado na casa de um português, pai de cinco filhas, que se separou da mulher,
porque ela “mostrou-se incapaz de educá-las adequadamente, visto que nem sequer sabia
falar o português. Sem hesitar, ele a pôs para fora de casa e arranjou outra mulher mais
jovem e educada”, justificando:
- Ela era índia e só sabia falar língua de índio. Enquanto minhas filhas
ficassem em sua companhia, nunca iriam aprender o português! (Wallace
1979: 136).
Este episódio evidencia não só a perda de funções da LGA, mas a importância e o
prestígio que, para as práticas sociais mais valorizadas, vai ganhando a língua portuguesa.
Neste sentido, o papel da escrita compõe esse quadro de referência. A quase totalidade da
população das vilas do rio Negro nunca havia visto um livro, como atesta o capitão Firmino:
“Em Marabitanas apenas dois habitantes sabiam ler e escrever, em Guia um, e nas outras
nenhum” (Avé-Lallemant 1980: 130). Essa situação podia ser generalizada para o Alto
Amazonas. De tradição basicamente oral, a Língua Geral se sustentava, num contexto em que
93% da população, em 1850, eram iletrados, 6,5% sabiam ler e escrever, e apenas 0,5% tinha
“mais instrução que a ordinária”. Segundo o comandante militar Lourenço Amazonas, nessa
201
época, “só existiam em toda a Comarca três cadeiras de primeiras letras” e assim mesmo,
muitas vezes ficavam sem professor, levando-o a concluir: “o desleixo pela instrução não
direi que admira, mas que espanta” (Amazonas 1852: 25). Depois que o Amazonas foi
elevado à categoria de província, em 1850, as vilas e muitas povoações ganharam uma escola,
cujo funcionamento foi avaliado, em 1861, pelo poeta Gonçalves Dias. Nomeado visitador das
escolas da província, ele constatou, como vimos no primeiro capítulo, que o sistema não
funcionava, porque na sala de aula era usado o português, quando a língua falada em casa, na
rua e em todos os lugares, era a Geral. O poeta recomendou, no entanto, a continuidade do uso
obrigatório do português, para habituar as pessoas a falá-lo, e ao mesmo tempo desabituá-las
com a LGA (Dias 1861:16), o que passou a ser feito, em escala cada vez maior. O número de
escolas públicas oficiais duplicou, em doze anos, subindo de 25, em 1864, para 49, em 1876, e
atingindo, dez anos depois, o total de 109 escolas primárias, em toda a província do Amazonas
(Bittencourt 1925: 281-287).
A escola, transformando índios tapuios em civilizados, em muito contribuiu para que
as vilas e povoações do Amazonas deixassem de ser monolingües em Língua Geral,
passando por uma fase de transição onde predominou o bilingüismo (LGA-LP). Mas foi,
sobretudo, o fluxo migratório contínuo de nordestinos, que provocou mudanças no quadro
sociolingüistico. O total da população de vilas e povoações, muitas das quais foram
convertidas em cidades, pulou de 53.012 habitantes, em 1872, para 147.915 indivíduos
em 1890, daí para 249.756, em 1900. Em 1920, o total da população dos 28 municípios
nos quais se dividia o estado do Amazonas já era de 361.166 (Bittencourt 1925: 151).
Aconteceu no Alto Amazonas, o que já havia sido observado no Pará: “Os costumes
mudaram rapidamente depois que os navios começaram a subir o Amazonas (1853),
trazendo uma infinidade de idéias e de modas novas” (Bates 1979: 141). Com elas vieram
também muitos produtos de consumo, transportados da Europa pelos navios que voltavam
carregados de borracha. O comércio cresceu, de 1850 a 1865, em mais de 300%, segundo
Tavares Bastos (1866: 209). Num castanhal perdido nas matas do rio Arapecú, afluente do
Trombetas, José Veríssimo viu, em 1877, dentro de uma cabana ou barraca, “uma
máquina de costura da fábrica Singer”. Não era um caso isolado. Ele mesmo comenta:
“Esse invento, por ventura o mais importante do século, tem entrado por toda a parte e
não é raro encontrá-lo em lugares tão inferiores como os castanhais” (Verissimo 1878:
202
51). Ali onde entravam os produtos europeus industrializados, operava-se uma ruptura na
rede tradicional de comércio - base de sustentação da Língua Geral - e eram criadas as
condições objetivas para a hegemonia da língua portuguesa. Foi o que aconteceu no rio
Solimões e nos principais afluentes do Amazonas onde predominou a exploração da
borracha, e onde, na virada do século, o português tornara-se hegemônico. A Língua
Geral permaneceu com certa força apenas nas povoações do rio Negro - onde coexistia
com outras línguas indígenas e com o próprio português - nas cabeceiras dos rios mais
afastados e nos sertões onde o navio a vapor não entrava. 30
4.6 - Nas aldeias, os ´índios mansos´
“Cada nação fala sua gíria, e he muito raro achar-se alguma que com outra
se assemelhe, (...) porém todas as nações que se relacionão com os
estabelecimentos christãos fallão a lingoa geral ou túpica” (Lourenço
Amazonas 1852: 90).
Com exceção de cidades, vilas e povoações, onde era possível, em 1820, encontrar
“gente de origem européia”, os demais aglomerados humanos existentes no espaço
amazônico eram ocupados apenas por povos originários da região. Segundo o testemunho
de viajantes, “todo o vasto território, até imensa distância, é exclusivamente habitado por
tribos de índios muito espaçadas, entre as quais nenhuma família européia tomou pé”
(Spix & Martius 1981: 97). Esses índios, monolingües (LV), eram designados como
‘selvagens’, ‘errantes’, ‘boçais’ ou ‘bravios’, quando viviam em aldeias autônomas,
afastadas de qualquer contato com a sociedade regional; e de ´índios mansos´, quando
abandonavam essas aldeias de origem para residir em aldeamentos dependentes da Igreja
30 Uma boa descrição do funcionamento da rede de comércio tradicional, baseada no regatão ou ‘ambulante’,
que circulava em pequenas embarcações movidas a remo, encontra-se no relatório do capitão Firmino sobre a
situação do Rio Negro, datado de 1858: “Um desses ambulantes adianta a um índio não civilizado 100, 200,
300 mil-réis de artigos que, pagos pelo seu valor real, mal perfaziam 10, 20 ou 30 mil-réis. E a fim de pagálos,
o índio tem de trabalhar anos inteiros, evitar a atenção das autoridades, deixar a aldeia e não empregarse
em serviço público. [...] Esses ambulantes são cancros, que infestam as margens do Rio Negro, e
causadores do atraso dos índios” (Avé-Lallemant 1980 : 131)
203
ou do Estado, onde se tornavam bilíngües (LV-LGA), em contatos esporádicos com a
sociedade regional envolvente.
No final da Cabanagem, em 1839, o presidente da província do Pará, Bernardo de
Souza Franco, embora reconhecendo a impossibilidade de determinar o número de índios
‘selvagens’, admitiu que eles podiam chegar até a 200.000 - uma população ligeiramente
superior ao total dos habitantes de cidades, vilas e povoações amazônicas da época. Essa
estimativa parece acanhada, se confrontada com o cálculo da população de alguns grupos
étnicos: os Mura, por exemplo, que haviam se expandido do rio Madeira para outras áreas
dos rios Negro, Amazonas e Solimões, tinham uma população considerada entre 30.000 a
40.000 indivíduos; os Munduruku do rio Tapajós foram avaliados entre, no mínimo, 18.000
e no máximo 40.000 pessoas; os Mawé, que viviam em centenas de malocas redondas entre
os rios Tapajós e Madeira, somavam, no mínimo, 16.000 índios (Spix & Martius 1981:
120,276,279). Esses eram, no século XIX, os três grupos demograficamente mais
importantes. No entanto, havia, em 1840, só no Alto Amazonas, outras 213 ‘nações
indígenas’, segundo Lourenço da Silva Amazonas, que apresentou uma longa lista, em
ordem alfabética, nomeando cada uma delas e indicando os rios, regiões, aldeias e lugares
onde se localizavam (Amazonas 1852: 93-99). Se considerarmos uma média de 1.500
índios por nação, o total se aproximaria bastante dos 350.000 índios ‘selvagens’, calculados
para toda a Amazônia, em 1876, pelo ex-presidente da província do Pará, o general Couto
de Magalhães, para quem os brasileiros “não tem idéias precisas das grandes extensões do
nosso país que são ainda dominadas pelos aborígines”. Depois de estudar a densidade
demográfica da região, ele atribuiu tal desinformação a uma generalização equivocada:
“como os índios desapareceram da costa, muitos os supõem quase extintos, julgando que a
área povoada pelo brasileiro cristão é a quase totalidade de nosso país. A verdade é
justamente o contrário, como ficou demonstrado” (Magalhães 1975: 30).
A quantidade incalculável de índios ‘selvagens’, falando mais de duzentas línguas
diferentes, constituía o reservatório de onde eram retirados os moradores dos aldeamentos,
organizados com a colaboração da Igreja, porém sob o controle do Estado. Durante a
primeira metade do século XIX, essas aldeias, relativamente esvaziadas, ficaram sob a
responsabilidade do Juiz de Órfãos e, depois, do Ouvidor da Comarca, com intervenção
esporádica de missionários. Mas em 1845, o Decreto Imperial nº 426 regulamentou, para
204
todo o Brasil, a catequese e civilização dos índios, determinando como deviam ser feitos o
recrutamento, a formação dos aldeamentos e o funcionamento das missões; cada província
contaria com um diretor geral de índios, nomeado pelo Imperador, e cada aldeia, com um
diretor parcial e um missionário, responsável, entre outras funções, pela escola de primeiras
letras, que devia “ensinar a ler, escrever e contar aos meninos, e ainda aos adultos, que
sem violência se dispuserem a adquirir essa instrução” (Regulamento das Missões em
Beozzo 1983: 169-178).31
Depois de criada a província do Amazonas, em 1850, o governo desenvolveu uma
política de aldeamentos, caracterizando-os nitidamente como ‘depósitos’ ou ‘currais’ de
índios, que funcionavam como reserva de mão-de-obra, tanto para as obras públicas como
para o serviço de particulares. O sistema de trabalho, de acordo com o regulamento vigente,
era baseado no rodízio: o presidente da província requisitava dos diretores parciais de
aldeias o envio de um número determinado de índios, que eram, então, transportados para a
capital ou para as vilas e povoações, e lá permaneciam durante dois ou três meses, findos os
quais retornavam ao aldeamento, sendo substituídos por outro contingente. Eles eram
empregados em calçamento de ruas, praças, aterros, construção de igrejas, cadeias, quartéis,
mercados, edifícios públicos, tripulação de canoas das comitivas oficiais e do correio
oficial, ou na extração de produtos da floresta. Nas leis orçamentárias, ano após ano, são
abertas verbas do crédito governamental para a alimentação e o vestuário dos índios que
trabalhavam nas obras públicas.
No ano de 1853, por exemplo, os índios participaram, nesse sistema de rodízio,
trabalhando, em Manaus, na construção do quartel, na olaria provincial e na serraria,
merecendo os elogios do presidente da província, Ferreira Pena:
“Quase todos os trabalhadores são índios do alto Rio Negro, que recebendo
pontualmente os seus jornais no fim de cada semana (...) tem-se prestado ao
serviço de melhor vontade que dantes” (RP – Pena 1854: 14).
31 O Regulamento das Missões, promulgado em 1845, “é o único documento indigenista geral do Império.
Detalhado ao extremo, é mais um documento administrativo do que um plano político. Prolonga o sistema de
aldeamentos e explicitamente o entende como uma transição para a assimilação completa dos índios. Depois
dele, a única inovação perceptível é, nos anos 70, a experiência de Couto de Magalhães no vale do rio
Araguaia, que o governo pretendeu estender ao Amazonas e ao Mucuri ou ao rio Doce”... (Cunha 1992:141).
205
O pagamento dos jornais, na realidade, era um prato diário de comida e poucos
metros de pano de algodão no final da empreitada. Contrariando a imagem de ´indolente’
difundida na região, o presidente da Província elogiou a “conduta pacífica e laboriosa”
dos índios das aldeias do rio Negro, diferente dos mura, considerados como ‘rixosos’,
porque resistiam ao trabalho compulsório. No entanto, ele lamenta que nenhum índio queria
fixar-se na capital, preferindo voltar ao local de origem, logo no final do prazo do rodízio, o
que dificultava a capacitação nos ofícios mecânicos, porque quando começavam a adaptarse
ao trabalho, já era o momento de retornar: “Nem me parece conveniente obrigá-los a
ficar, para que não se desgostem” ( RP – Pena: 1854: 15).
A política de aldeamentos ou de formação de ‘currais de índios’ teve um notável
êxito do ponto de vista quantitativo. Ela foi precedida de várias viagens exploratórias, 32
organizadas pelo governo, com o objetivo de “entender-se com as tribos indígenas para se
informar das suas inclinações e disposições para a vida civilizada” (RP - Cunha 1862: 5).
A idéia, também, era avaliar o potencial de mão-de-obra e escolher os lugares considerados
mais propícios para os novos aldeamentos, o que foi feito. Milhares de índios abandonaram
compulsoriamente suas aldeias de origem, ano após ano, num processo relativamente bem
documentado para a Província do Amazonas, durante pelo menos uma década, na qual os
diretores obedeceram a legislação, confeccionando mapas estatísticos de cada aldeamento.
Esses mapas, publicados como anexos nas falas dos presidentes de província e nos
relatórios da Diretoria Geral de Índios, discriminam - aldeia por aldeia - o número de casas,
fogos ou malocas, o número de igrejas, o total de homens e mulheres, de adultos e de
menores, bem como a origem tribal de seus habitantes e o nome do diretor da aldeia; há
ainda um campo para observações, que era ocupado quase sempre com dados sobre as
atividades econômicas ali realizadas. Vale a pena reproduzir aqui pelo menos um quadro
resumido de seu conteúdo, apresentando os totais gerais:
32 Os relatos dessas expedições constituem fontes indispensáveis para tratar da situação dos índios aldeados,
classificados como ‘mansos’. Duas expedições foram feitas no Solimões, saindo de Manaus até o Peru: a
primeira, sob a responsabilidade do engenheiro militar Conde Rozwadowski(1854) e a segunda, por Wilkens
de Mattos (1854). No rio Negro, igualmente duas viagens exploratórias: Hilário de Gurjão (1854) e
Leovigildo Coelho (1861); o rio Madeira foi explorado por Silva Coutinho (1861), e, o rio Purus por Manuel
Urbano da Encarnação (1861).
206
ÍNDIOS ALDEADOS NA PROVÍNCIA DO AMAZONAS
1856 1857 1858 1860 1862 1866
Habitantes 6.748 10.260 8.878 15.832 13.676 17.385
Aldeamentos 104 139 - - 160 196
Casas, fogos ou malocas 510 671 686 1.013 - 757
Igrejas 13 16 9 - - 21
Sedes de Diretorias 24 24 27 49 40 38
Fontes: Relatórios da Diretoria Geral dos Índios no Amazonas: Wilkens de Mattos (1856); Wilkens de
Mattos (1858);Guimarães (1866); Livro 1856-1857 de Ofícios da Diretoria de Índios. Relatórios dos
Presidentes da Província do Amazonas: Vieira (1856); Amaral (1857); Furtado (1858); Cunha (1861);
Cunha (1863) e Mello (1866).
A diminuição, em 1858, dos índios aldeados, ocorreu porque, no rio Negro, mais de
3.000 índios abandonaram suas aldeias e fugiram para a Venezuela, em decorrência da
violenta repressão que sobre eles se abateu, quando da tentativa de aniquilamento do
movimento messiânico do ´falso Christo´.33 Já a redução, em 1862, reflete o fato de que os
mapas estatísticos estavam incompletos, deixando de fora muitos aldeamentos. De qualquer
forma, em apenas dez anos – de 1856 a 1866 – o número de aldeias quase duplicou,
aumentando de 104 para 196, e o número de índios aldeados quase triplicou, subindo de
6.748 para 17.385, disponibilizando uma considerável reserva de mão-de-obra indígena.
Do ponto de vista sociolingüístico, o sistema de rodízio permitia que esses índios
aprendessem a interagir, embora de forma elementar, em Língua Geral, ao obrigá-los a se
deslocar durante um período do ano para as cidades, vilas e povoações, contribuindo, em
grande medida, para torná-los bilíngües (LV e LGA). O que predominou foi essa
aprendizagem, por imersão, já que as escolas, previstas em lei, não chegaram a ser criadas
nos aldeamentos, mesmo porque, durante o resto do ano, seus moradores se dedicavam ao
extrativismo, cujos produtos eram trocados com comerciantes, para o qual também era
33
Na região do rio Negro, a partir da década de 1850, eclodiram vários movimentos messiânicos e milenaristas,
começando com Venâncio Kamiko, conhecido como ‘Cristo do Içana’, em 1857, seguido por Basílio
Melgueiro, que se dizia um novo Cristo, até os últimos messias no começo do século XX. Esses movimentos
estão bem documentados na revista do Arquivo Público do Amazonas (APA), no registro de viajantes como
Avé-Lallemant, na tradição oral dos índios e no trabalho de Wright (1981).
207
indispensável o uso desta segunda língua. Mas nem todos os índios aldeados eram
bilíngües, e nem todos os bilíngües usavam a LGA com igual fluência, como notou Bates,
numa excursão aos arredores de Ega, no rio Catuá. Lá, numa ilha do mesmo nome, ele
encontrou uma população, da qual fazia parte uma família de índios Xumana, que “tinha
sido vergonhosamente lograda por um mercador velhaco, numa outra praia, e quando nós
chegamos, veio apresentar queixa ao sr. Cardoso, que era o delegado de polícia do
distrito. A maneira branda como o velho chefe da família expôs o seu caso, num tupi
estropiado, sem o mais leve traço de raiva na voz, conquistou nossas simpatias para a sua
causa” (Bates 1979: 244).
A Língua Geral era, assim, um instrumento indispensável para as relações
comerciais e políticas dos índios e até para funções administrativas, permitindo registrar
queixas, fazer requerimentos, trocar seus produtos e comunicar-se com as autoridades
locais, ainda que apenas através do registro oral. De qualquer forma, nesse contexto,
aparecia como ‘língua de civilização’, porque servia de contato com a administração local,
mas também de elo com os visitantes forasteiros, o que foi percebido por vários viajantes,
que manifestavam seu desconforto diante das línguas vernáculas, e seu alívio, quando
encontravam nas aldeias algum falante de LGA, com quem podiam interagir. Nesse caso,
isso significava que era dispensável o conhecimento de todas as línguas de uma região,
indicando que ali onde havia chegado a Língua Geral, havia chegado a ‘civilização’.
Martius, ao subir o rio Japurá, visitou aldeias miranha, cujos habitantes eram monolingües
(LV), e, por isso, foram considerados ‘rudes’ e ‘selvagens’. Já os moradores de outra aldeia,
dos juri, foram reputados como “um povinho civilizado”, porque a maioria falava a Língua
Geral, o que permitiu inclusive solucionar problemas de saúde de alguns membros da comitiva
(Spix & Martius 1981:248). Similar atitude teve Avé-Lallemant, para quem as “gírias e
jargões” dos índios ‘selvagens’, não constituíam línguas “perfeitamente articuladas”, o que
representava “grande obstáculo para a civilização” (Avé-Lallemant 1980: 142). Reeditando
antigos discursos coloniais, o príncipe Adalberto, da Prússia, registrou os mesmos
comentários, quando viajando pelo rio Xingu, em 1842, conseguiu estabelecer
comunicação com os Juruna, através da Língua Geral (Adalberto 1977: 170).
208
A situação sociolingüística dos índios ‘mansos’ dos aldeamentos talvez possa ser
generalizada, a partir das observações feitas por Wallace sobre os Mura, cuja língua está
absolutamente distanciada do tronco tupi:
“Os muras (...) utilizam-se ainda de sua linguagem particular quando conversam
entre si, mas já compreendem e dominam suficientemente a língua geral,
empregando-a em seus contatos com os comerciantes, aos quais fornecem
salsaparrilha, óleo extraído dos ovos de tartaruga, azeite de peixe-boi, castanhasdo-
pará e estopa, que é o córtice das castanheiras jovens, sendo utilizada em
ampla escala na região para a calafetagem de canoas. Em troca, recebem tecidos
de algodão, arpões, pontas de flechas, anzóis, contas, facas, machadinhas, etc”.
(Wallace 1979: 313).
A política em relação aos índios ditos ‘selvagens’ sofreu mudanças radicais, a partir
da década de 1870, quando os novos índios contatados passaram a ser canalizados, já não
mais para os aldeamentos, mas diretamente para os seringais, destinados ao trabalho de
extração da borracha, como ocorreu com os que habitavam os rios Purús e Juruá, em seus
cursos médio e alto. Com o esvaziamento dos aldeamentos, e a conseqüente extinção do
sistema de rodízio em obras públicas, coube aos seringais o papel de converter os índios
denominados de ´selvagens´ em índios ´mansos´. No entanto, a Língua Geral ficou de fora
desse processo. Uma vez que o português, falado por milhares de nordestinos, predominava
nos seringais, os índios passaram a usá-lo como segunda língua, tornando-se bilingües (LVLP),
sem nunca haverem sido usuários da Língua Geral. Essa última cedia ao português a
função de língua de comunicação regional.
209
4.7 - O declínio da LGA
“Na hora em que escrevo isto, tenho como auxiliar do trabalho das lendas, que vai
adiante, um soldado do 2º Regimento de Artilharia, que quase não fala o português, e me
diz que desde seus bisavós a sua família é cristã. Asseverou-me um médico do exército
que, aqui na Côrte, morreu este ano de nostalgia um soldado que não falava o português
e chamava-se Patrocínio, do 2º Regimento de Artilharia. Em Mato-Grosso, Goiás, Pará e
Amazonas estes exemplos são numerosos. (Couto de Magalhães 1876: 138)
Procuramos demonstrar aqui, com a ajuda da documentação histórica, que a
população da Amazônia entrou no século XIX falando, majoritariamente, a Língua Geral,
de forma diferenciada nas cidades, nas vilas e povoações, e nos próprios aldeamentos
indígenas. No Baixo Amazonas, o uso da LGA era alternado com o português, e, no Alto
Amazonas, com línguas vernáculas, numa situação de bilingüísmo, que variava em função
da localização geográfica e da dimensão histórica e demográfica dos núcleos onde essas
línguas eram faladas. No entanto, na passagem para o século XX, a língua portuguesa já
era hegemônica, ficando a LGA confinada à região do rio Negro. É que, em 1823, depois
da adesão do Pará ao Brasil, já independente, iniciou-se um processo que, por um lado,
diminuiu o número de falantes da LGA - seja na categoria de monolingües, seja na de
bilingües – e, por outro, aumentou o número de falantes monolingües de português. Esse
processo, que ocorreu ao longo do século XIX, obedeceu a um ritmo e a uma cronologia,
que não foram os mesmos para todo o território. Ele foi, inicialmente, lento e gradual,
acelerando-se posteriormente em decorrência de vários fatores, que foram aqui assinalados:
a Cabanagem, a Guerra do Paraguai, a escolarização, a mudança do sistema de transporte e
comércio, a inserção da Amazônia na divisão internacional do trabalho como produtora de
borracha, o que provocou a entrada de grandes contingentes de nordestinos.
O número de falantes de Língua Geral diminuiu consideravelmente, em decorrência
de dois conflitos bélicos, cujas conseqüências demográficas para a região foram
catástroficas: a revolta popular da Cabanagem (1835-1840), e a Guerra do Paraguai (1864-
1870).
Na Cabanagem, morreram 40.000 pessoas, ou seja, um quarto de toda a população
recenseada do Grão-Pará, que compreendia a área dos atuais estados do Amazonas e Pará.
210
O número de mortos - quase todos falantes de LGA - equivalia, na época, a toda população
da Comarca do Alto Amazonas. Os cabanos eram, em sua maioria, tapuios e, portanto,
falantes de Língua Geral, geralmente na condição de monolíngües. A participação deles no
movimento foi tão maciça, que “tornou o nome ´tapuio´ um sinônimo freqüente para
cabano”, usado até mesmo na documentação oficial – inquéritos, atas e relatórios. Um
desses documentos, estudado por Moreira Neto - uma relação cuidadosa de presos na
corveta Defensora - identifica a procedência étnica dos mortos no período de agosto de
1837 a dezembro de 1838, 34 tornando-se uma amostragem bastante representativa. Do total
de 229 cabanos, apenas 6,9% foram identificados como brancos, 39.7% como tapuios, e os
demais foram enquadrados no item ´populações de cor´: índios (5.6%), mamelucos (9.1%),
mestiços (6.1%), mulatos (15.7%), cafusos (7.8%), pretos (4.3%) e pardos (3.9%). “Os
tapuios representam, como seria de esperar, a categoria mais numerosa” (Moreira 1988:
66-67).
A Cabanagem, talvez, tenha sido a última oportunidade histórica de sobrevivência
de uma sociedade tapuia, falante de LGA. A derrota dos cabanos marca o início do
processo de declínio de uma língua, que durante dois séculos e meio se expandiu por todo o
vale amazônico e que, a partir de então, começou a perder falantes e funções.
O outro acontecimento, várias vezes mencionado nesse capítulo, foi a Guerra do
Paraguai, que deixou a floresta “mergulhada em profunda tristeza”, e golpeou mortalmente
a economia regional, retirando dela grande número de homens, tanto os que foram
recrutados, como os que fugiram do recrutamento. Durante cinco anos, tropas do governo
vasculharam a região, agarrando índios ‘mansos’ e ‘tapuios’, “em qualquer lugar em que
fossem encontrados, sem considerações de idade ou circunstâncias”, e no caso de
resistência, “levavam-nos à força, muitas vezes com algemas e pesados ferros nos pés”. A
Província do Amazonas, a mais despovoada do Império, forneceu, proporcionalmente,
mais ‘voluntários’ do que qualquer outra província, suportando “parte maior do que a que
lhe devia caber no pesado encargo da guerra”. Segundo o casal Agassiz, que testemunhou
vários recrutamentos violentos, “os índios sem defesa, espalhados pelos seus aldeamentos
34 Trata-se de um manuscrito, assinado em 1º de Janeiro de 1839, pelo brigadeiro português Soares d´Andréa,
responsável pela repressão à Cabanagem, intitulado ´Rellação dos Prezos Rebeldes, fallecidos a bordo da
Corveta Defençora desde 4 d´Agosto do 1837, the 31 de Dezembro de 1838”. O original, pertencente ao
acervo do Arquivo Nacional – Rio de Janeiro, foi transcrito e publicado por Moreira Neto (1988:281-314).
211
isolados, foram particularmente vítimas dessa falta de eqüidade” (Agassiz 1975: 161-175).
De 1865 a 1868, foram enviados um total de 2070 homens, dos quais 746 eram
‘voluntários’ dos municípios do Baixo Amazonas, e 1324 da Província do Amazonas.
Desses últimos, sobraram, no final da guerra, apenas 55 soldados, comandados pelo capitão
Marcelino José Nery, que regressaram a Manaus, em julho de 1870 (Bittencourt 1925:278).
Mais de 1.250 falantes de Língua Geral, homens, adultos, muitos deles monolingües,
ficaram sepultados em terras paraguaias.
Enquanto a Língua Geral perdia falantes e funções, o português se expandia, graças,
em grande medida, à escola e à navegação a vapor. O uso obrigatório do português na
escola foi abordado aqui, neste capítulo e no anterior, ainda que de forma resumida. Já a
navegação a vapor, mencionada várias vezes, merece ainda um comentário adicional. Até
meados do século XIX, toda a navegação no rio Amazonas era feita em embarcações a
remo, que exigiam um esforço sobrehumano dos remeiros, para enfrentar a violência da
corrente, sobretudo na subida do rio, ou em barcos a vela, o que forçava os barcos a
permaneceram ancorados muitos dias, à espera do vento leste, ou a usarem a alternativa de
subir laboriosamente a corrente, com a ajuda de cabos e cordas, amarrando-se uma das
extremidades no mastro do veleiro e a outra passada à volta de um tronco de uma árvore.
Os tripulantes puxavam o veleiro, até o ponto onde se achava a árvore, depois embarcavam
de novo na canoa, e levavam o cabo mais adiante, repetindo a operação um sem-número de
vezes. “Por isso, a viagem subindo o rio era mais difícil do que para as Índias Orientais
(Avé-Lallemant 1980: 60). Quando os dois naturalistas ingleses, Wallace e Bates,
realizaram a sua primeira viagem de subida, em 1849, “a comunicação com o Alto
Amazonas vinha-se tornando menos freqüente fazia algum tempo, devido à crescente
dificuldade em se obter tripulantes para os barcos”. Levava-se, então, cerca de três meses,
para completar um percurso de 1.500 km., de Belém a Manaus, na foz do rio Negro, ou até
cinco meses, dependendo do tipo de embarcação e da época do ano. “Foi um grande
melhoramento para os habitantes da região o estabelecimento de uma linha de vapores em
1853, permitindo que essa viagem fosse feita em oito dias, com tranqüilidade e conforto, e
em qualquer época do ano” (Bates 1979: 91-92).
O sistema tradicional de navegação e comércio favorecia a reprodução da Língua
Geral, na medida em que limitava os contatos de seus usuários, espalhados pelas vilas e
212
povoações da região, com falantes de português. A introdução de um novo sistema
representou uma verdadeira revolução na economia e na cultura da região, prevista por um
oficial da Marinha Britânica, H. Lister Maw, que vindo dos Andes, desceu o rio Amazonas
em 1828:
“Estou persuadido de que o início da navegação a vapor no Amazonas e seus
tributários produzirá um efeito quase mágico, e estou certo que dez anos
depois, o viajante que atravesse a região, não será mais o mesmo”. (Maw
1831: 297).
Quando o casal Agassiz passou pelo rio Amazonas, em 1865, sua calha central já
era cruzada por doze a quinze navios a vapor, da Companhia de Navegação e Comércio do
Amazonas, criada pelo Barão de Mauá, o que produziu, efetivamente, um efeito quase
mágico na vida da população. Vinte cinco anos depois, em 1890, o rio Amazonas era
“sulcado por mais de cem vapores, de todas as lotações, e as bandeiras de muitas nações
diversas tremulavam em seus mastros”. (Marajó 1895: 46). Os vapores trouxeram dentro
deles, no período de 1872 a 1910, cerca de 500.000 nordestinos, distribuídos pelos
seringais, vilas e povoações, todos eles portadores da língua portuguesa, modificando o
quadro sociolingüístico da Amazônia e retirando da Língua Geral qualquer possibilidade
de continuar em expansão (Furtado 1959: 158).
O presente capítulo pretendeu dar inteligibilidade à evolução desse quadro, ao trazer
elementos históricos que permitem destacar os três momentos pelos quais passou a LGA,
definidos por Schmidt-Rise (2000:15) como expansão, decadência e indigenização. No
início do século XIX, a LGA consolidava o processo de expansão, iniciado duzentos anos
antes, adquirindo novos falantes e novas funções, e tornando-se a língua de toda a
sociedade amazônica. Em meados do século, entrava em declínio, perdia falantes e funções
e passava a ser a língua apenas dos tapuios e caboclos. Na passagem para o século XX, ela
voltava a ser uma língua de índios, usada quase exclusivamente por povos do rio Negro e
alguns comerciantes, com funções precisas e localizadas. Mesmo limitada territorialmente e
em suas funções, a LGA manteve a sua vitalidade, concorrendo para uma produção literária
213
oral, rica e diversificada. A complexidade lingüística da região é de tal forma visível, que
não só se faz presente na composição literária, mas é parte constitutiva dela. É dentro desse
contexto que deve ser discutida a produção literária, tanto a oral, em língua geral, coletada
por vários estudiosos no século XIX, quanto a regional, escrita em português.
A literatura oral em LGA pode ser caracterizada aqui como literatura tapuia, porque
constitui um dos lugares em que é agenciada a experiência social e histórica dos tapuios e
caboclos da Amazônia, embora suas origens possam estar enraizadas em tradições
indígenas específicas, originalmente circulando em línguas vernáculas. Nesse sentido, essa
literatura tapuia guarda relação com o processo instável de formação das línguas. Quanto à
literatura escrita em língua portuguesa, ela dialoga com essa complexidade lingüística,
elaborando a sua identidade regional, tematizando as relações interétnicas, em que, embora
o tapuio e/ou o caboclo sejam personagens, não são suas experiências históricas, nem suas
visões de mundo, que organizam o texto literário.
Estudiosos como Couto de Magalhães, Barbosa Rodrigues e Stradelli, entre outros,
responsáveis pela coleta da literatura oral em Língua Geral, consideram que as narrativas
por eles registradas constituem um dos aspectos da dinâmica de vitalidade da LGA, que dão
legitimidade ao seu objeto de estudo. O senso comum confere status de língua àquelas que
tem determinados atributos, por exemplo, uma gramática explicitada, além de literatura.
Nesse sentido, a gramática, ainda que de maneira restrita, circulava e era reproduzida desde
o século XVII, já a literatura não era reconhecida como tal, por tratar-se de uma língua
basicamente oral, sem um sistema de escrita, nem práticas sociais nesse registro. Recolher e
registrar as manifestações literárias em LGA, não só representa um corpus que serve como
exemplificação da língua, mas evidencia esta produção, como a representação cristalizada
das amostras ‘naturais’ da língua, capaz de estabelecer modelos de referência.
Durante todo o período colonial, a criação de um corpus para conferir legitimidade a
essa língua excluiu o discurso literário, primeiramente pelo pressuposto da Inquisição de que
as narrativas míticas eram heréticas, mas também pelo não-reconhecimento de atributos
literários a esse tipo de registro, basicamente oral. Somente na segunda metade do século XIX
é que ele será valorizado. Esperamos que os aspectos da história social da LGA aqui
abordados possam contribuir para a investigação do desempenho da Língua Geral no campo
da comunicação literária.
214
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O papagaio é um bicho inteligente,
ele fala toda língua,
até a língua amazonense (*).
Papagaio louro, oi, oi ,
do bico dourado, oi, oi,
Ele falava tanto,
ele falava tanto,
e agora está calado”.
(Letra de uma música de carimbó)
(*) Existe uma variante, para essa parte, que se refere à
‘língua paraense’
215
A história social das línguas é um campo do conhecimento, de caráter transdisciplinar,
ainda pouco explorado, que ao pesquisar a trajetória histórica das línguas, seus usos e funções,
e as formas como se reproduziram num determinado espaço geográfico e político, acaba
contribuindo para organizar o próprio tecido histórico, revelando aspectos básicos sobre a
identidade e a memória coletiva. Fornece, além disso, ao historiador, critérios para a
abordagem crítica das fontes, e ao lingüista, pistas que podem iluminar a própria história
interna das línguas. No caso do território brasileiro, e mais especificamente da Amazônia, as
fontes históricas estão sendo mapeadas e, sobretudo, começam a ser interrogadas por
historiadores e sociolingüistas, interessados em conhecer como e quando a língua portuguesa
se tornou hegemônica, e o que aconteceu com as línguas indígenas que eram aqui faladas e
com as línguas de origem africana, que para cá foram transplantadas. Procura-se acompanhar a
história do contato entre essas línguas, de observar as relações entre elas, e de formular
hipóteses sobre as influências que exerceram umas sobre as outras para, dessa forma, dar
inteligibilidade à própria organização da sociedade.
O quadro de línguas da Amazônia, apresentado na primeira parte deste trabalho,
constitui um dos indícios, reforçando outras evidências pré-históricas, de que essa região
formava um arquipélago multiétnico e plurilingüe, identificado hoje como ‘cultura da floresta
tropical’. Tratava-se de um ambiente com uma relativa unidade geográfica, mas com uma
grande diversidade cultural e política, no qual se desenvolveram várias centenas de línguas,
pertencentes a diferentes troncos lingüísticos.
A chegada do europeu no Amazonas, considerado então como rio Babel, implicou
rupturas e um reordenamento ‘catastrófico’, que encontrou na língua um dos princípios
organizadores. Através dela, são feitas tentativas de integração das sociedades indígenas à
economia mercantil. A forma predatória que caracteriza o relacionamento do colonizador com
os povos indígenas se estende também às línguas, de modo que quando se cria uma unidade
política na região - o estado do Maranhão e Grão-Pará - são acionadas intervenções
deliberadas por parte do Estado e da Igreja, com propostas de atingir também uma unidade
lingüística, em função dos interesses coloniais, o que concorreu para o desaparecimento e
extinção de muitas línguas.
Na busca por essa unidade, as políticas de línguas sofreram mudanças, passando por
diferentes etapas, cuja periodização, retomada aqui no terceiro capítulo, representa uma
216
tentativa de estabelecer marcos visíveis para conferir inteligibilidade às medidas e decisões,
que se articulavam com outras, sobretudo com a política relacionada à mão-de-obra indígena e
à catequese. Essas políticas distinguiam dois tipos de línguas: as gerais e as particulares. As
línguas gerais eram aquelas que permitiam a comunicação interétnica, entre falantes de
diferentes línguas particulares, que compartilhavam um determinado espaço geográfico. Os
portugueses fortaleceram as línguas gerais nos dois estados que criaram em território
americano – o Brasil e o Grão-Pará - pois elas viabilizavam o projeto colonial, na medida que
permitiam uma comunicação mais ampla, contornando a necessidade de conhecer várias
centenas de línguas particulares, que eram faladas em cada estado.
Dessa forma, uma língua indígena – o Tupinambá – que já servia de elo entre alguns
grupos na foz do rio Amazonas e na costa do Salgado, desempenha as funções de língua geral
e se firma como a língua, não só interétnica, mas de coesão regional, expandindo-se por toda a
Amazônia, com o apoio institucional da Igreja e da Coroa Portuguesa. Para consolidar o
processo colonial, o lugar da Língua Geral é referendado, quando institucionalmente se
acata e até se recomenda os usos dela nas práticas comunicativas do dia-a-dia, tanto da
administração política e religiosa, quanto das relações de produção.
Os incentivos oficiais que fomentam o uso da Língua Geral, cujas conseqüências
afetam a circulação da língua portuguesa e das demais línguas indígenas, constituem o
estímulo para a sua expansão, até meados do século XVIII, quando por razões de ordem
geopolítica, que foram analisadas no capítulo terceiro, a Coroa decide portugalizar todo o
Grão-Pará, tornando obrigatório o uso do português. Tal proposta, inexeqüível no século
anterior, tornou-se tecnicamente viável graças, em princípio, à ‘universalização’ da Língua
Geral, que havia dotado a região de uma relativa unidade lingüística, anteriormente
desconhecida. Agora, não se tratava mais de converter em usuários do português a índios
‘selvagens’, monolingües em centenas de línguas particulares, mas de fazer com que índios
‘mansos’ e ‘tapuios’, catequizados, todos eles competentes em uma língua – a Geral,
adquirissem a língua portuguesa, transformando-se em ‘índios civilizados’ e ‘caboclos’. O
deslocamento era, portanto, de uma única língua de base indígena para o português,
envolvendo, assim, duas línguas que haviam mantido contato contínuo por quase dois séculos,
com a realização de empréstimos mútuos, e não mais o deslocamento que tinha se mostrado
historicamente inviável de centenas de línguas indígenas para uma língua européia, da qual
217
estavam tipologicamente distanciadas. Dessa forma, a LGA, num longo processo que
atravessou várias gerações, serviu de ponte que permitiu a passagem do monolinguismo em
língua vernácula para o monolinguismo em português, depois de vivenciar situações variadas
de bilingüismo. No entanto, apesar das intenções então declaradas quanto à portugalização da
região, os objetivos não são imediatamente atingidos, o que só ocorrerá no século XIX.
A evolução do quadro lingüístico no século XIX mereceu, por isso mesmo, uma
abordagem à parte, no quarto capítulo, porque foi neste período que a língua portuguesa se
tornou hegemônica na região, em detrimento da LGA, que ficou espacial, social e
demograficamente limitada. A LGA passou, então, por uma trajetória composta de três
momentos, que foram ordenados a partir dos dados censitários, aqui analisados: expansão,
declínio e indigenização. Nas duas primeiras décadas do século XIX, ela ainda continua a
expansão que vem dos séculos anteriores, adquirindo novos falantes e novas funções,
mesmo sem o apoio institucional, consolidando-se como a língua de toda a sociedade
amazônica, incluindo brancos, negros e mestiços. No entanto, essa expansão cessa, quando
o estado do Grão-Pará se dissolve como entidade autônoma, em 1823, passando a ser uma
unidade subordinada ao estado do Brasil, já independente de Portugal, em cujo litoral a
língua portuguesa se tornara hegemônica havia mais de cem anos. Aí, então, a Amazônia
deixou de contar com políticas de línguas formuladas especificamente para a região, para
submeter-se às decisões e medidas que o governo central elaborava para todo o território
nacional brasileiro. É quando a língua portuguesa se difunde pelo Grão-Pará, agora dividido
em duas províncias - Pará e Amazonas - com apoio oficial efetivo, concretizado através do
aparelho escolar, dos jornais e do livro. As migrações em grande escala de brasileiros e
portugueses para a Amazônia, o novo sistema de transporte baseado na navegação a vapor,
a mudança no sistema comercial e o processo de urbanização contribuem decisivamente
para o avanço da língua portuguesa.
Por outro lado, a Cabanagem, primeiro, e a Guerra do Paraguai, depois, aceleraram o
processo de diminuição de usuários de Língua Geral, que vai progressivamente perdendo
falantes e funções, entra em franco declínio, deixando de ser usada majoritariamente nos
centros urbanos, em meados do século XIX. Nessa condição, passa a ser a língua local,
falada apenas por tapuios e caboclos do interior. Na passagem para o século XX, embora
continue desempenhando o papel de língua de contato com comerciantes e regatões em
218
área exclusiva do alto rio Negro, ela retorna à condição de língua de índios, com uso
predominante relativo às práticas sociais étnicas, restrito aos grupos dentro das aldeias.
Durante o período de expansão, que durou mais de dois séculos, a LGA manteve
sinais de sua vitalidade, fazendo parte da complexidade lingüística da região. Ela se fez
presente em todas as etapas do processo de deslocamento lingüístico, conforme revela o
fluxograma e o mapa da distribuição de seus falantes, desenhados no quarto capítulo, com o
objetivo de tornar visível o seu papel mediador. Do ponto de vista regional, a LGA
participou, como peça essencial, das sucessivas propostas de aménagement social e
lingüístico da Amazônia. Como uma língua de relação, produto da interação dos índios
entre si e com o colonizador, esteve em contato com todas as línguas, durante o período
estudado, em diferentes situações e diversos graus de bilingüismo, tornando-se, finalmente,
a ponte para a portugalização da região.
As denominações encontradas nos documentos históricos, na literatura e ainda hoje
circulando nos discursos locais - caboclo, tapuio, índio manso, brabo ou selvagem - se
referem a uma taxonomia de caracterização étnica em que os usos da LGA funcionam
como critério central e constituem a evidência de que a essa língua foi um elemento
ordenador da variabilidade, num contexto de diversidade lingüística. O fato de o senso
comum compor essa taxonomia popular, criando categorias nativas para designar grupos,
cujo elemento de identificação tem como traço distintivo a relação com a LGA, dá uma
dimensão de sua relevância no ordenamento social e na própria história da região. É
importante ressaltar que ainda no caso do monolingüismo de língua portuguesa regional, a
relação com a LGA está marcada por um lastro histórico. O referente do termo caboclo é o
falante individual de português, mas com a especificidade de ser proveniente de uma
coletividade enraizada em Língua Geral Amazônica.
A perda de hegemonia da LGA para a língua portuguesa tem uma contrapartida, no
plano nacional, quando afloram as diferenças entre o português falado no Brasil e em
Portugal. Nesse sentido, as diferenças representam pontos de vista conflitantes. Por um
lado, elas são vistas como uma corrupção da língua de Camões, isto é, um desvio de uma
norma padrão erudita, que na realidade estaria em Portugal, e não no Brasil. Entretanto,
numa outra perspectiva, essas diferenças se tornam emblemáticas, reivindicando na língua
brasileira, a construção de uma imagem nacional, em que o contato com as línguas
219
indígenas é em parte responsável pela sua fisionomia. Parte da produção da literatura
romântica reivindica a sua identidade nacional nesta perspectiva.
No que se refere à região amazônica, a hegemonia do português se processa
tardiamente em relação ao resto do país, o que imprimiu marcas particulares na sua
variedade regional. A documentação acusa, como foi visto, o uso da LGA, até metade do
século XIX, em quase todas as atividades, evidenciando o desconhecimento da língua
portuguesa, inclusive na própria escola, não só por parte dos indígenas ou dos mestiços,
mas também dos escravos africanos e até de filhos de portugueses. Esse fenômeno se torna
visível por suas dimensões demográficas, e, sobretudo, por tratar-se de um fato insólito,
num contexto em que as políticas integradoras da modernidade pressupõem o caráter
emblemático de uma língua – no caso, o português - representando o espírito nacional. Vai,
por isso mesmo, atrair a atenção de alguns intelectuais renomados, que tentam construir em
torno da LGA e das línguas indígenas a busca da identidade nacional, no grande debate
travado no século XIX.
Esse grupo importante de intelectuais, representando as instituições mais prestigiosas
da época, constrói como seu objeto de estudo a LGA e, a partir dela, começa a produzir
conhecimento metalingüístico, o que também não deixa de ser emblemático. No século
XIX, o funcionamento de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB), com apoio político e com recursos do Estado, representa a circulação das idéias
iluministas no Brasil, divulgando o pensamento científico e racional. Nesse contexto, a
formação da área reconhecida como tupinologia, responsável por organizar a documentação
e recolher os dados sistêmicos da língua, configura a formação de um campo, que faz parte
da história do pensamento científico do país, com uma preocupação em criar um corpus de
estudo ‘genuinamente’ brasileiro, com conseqüências no plano epistemológico.
Os trabalhos realizados nesse campo apresentaram avanços significativos no que à
concepção de língua se refere. Embora os pressupostos teóricos para abordá-la sejam
provenientes do romantismo alemão, que considera cada língua dotada de uma estrutura
própria, como reflexo do pensamento e da cultura de cada povo, os tupinólogos se
deparam com situações históricas de línguas em contato. Essa realidade lingüística
contribuirá para que eles relativizem as teorias canônicas, tomando distância em pontos
cruciais no que se refere à epistemologia, sobretudo em duas questões: a primeira referente
220
ao tratamento dado à oralidade, e a segunda, relativa ao enfoque dispensado à produção
literária.
No século XIX, a única forma concebida como capaz de apreender a língua era o
registro escrito, e as únicas amostras consideradas legítimas para representá-la, do ponto de
vista acadêmico, eram provenientes da literatura erudita, conforme se observa nas
gramáticas e dicionários. Nessa perspectiva, as línguas ágrafas eram classificadas como
bárbaras, rudimentares e incompletas, incapazes de produzir manifestações literárias,
servindo apenas, no limite, de fontes para serem ‘traduzidas’ por línguas civilizadas
(escritas). Em conseqüência, as sociedades orais eram tratadas como deficientes por serem
‘carentes de escrita’. Coube aos tupinólogos a coleta de dados que permitem questionar
esse enfoque, chamando a atenção para o fato dessas sociedades haverem desenvolvido,
com extrema eficiência, as potencialidades da oralidade, o que revelava que não eram
‘carentes de escrita’, e sim ‘independentes da escrita’. Portanto, nesse aspecto, eles
tiveram um papel de vanguarda, ao reconhecerem a oralidade, assim como a variabilidade,
na forma de coletar dados empíricos para construir um corpus lingüístico, o que marcaria o
pensamento científico do século XX.
Este papel de vanguarda alcançou também a produção literária e o lugar que ocupa,
tanto na constituição do corpus, quanto na legitimação da representação da língua. A
literatura é, como vimos, um dos componentes na configuração do status de uma língua,
mas a sua representação esteve sempre relacionada exclusivamente à escrita. Por essa
razão, as manifestações literárias orais foram consideradas como ‘técnicamente
subdesenvolvidas’ e ‘culturalmente atrasadas’, sendo excluídas da história da literatura
nacional. Coube aos tupinólogos do final do século XIX, influenciados pelos românticos, a
iniciativa de criar um novo recorte, construindo como objeto a literatura oral, cuja
produção não tinha suporte no registro escrito. Eles recolherem narrativas orais e poesia
‘selvagem’ em LGA, registraram e documentaram as manifestações de uma literatura
tapuia vigorosa, e nesse sentido compatibilizaram a LGA com as denominadas ‘línguas de
cultura’.
Um dos indicadores da importância da LGA é justamente essa literatura de caráter
ficcional, produzida na Amazônia no século XIX, que pode ser denominada de tapuia,
porque constitui um dos lugares em que é agenciada a experiência social e histórica dos
221
tapuios e caboclos da região, embora suas origens possam estar enraizadas em tradições
indígenas específicas, originalmente circulando em línguas particulares. Basicamente em
suporte oral, a sua temática é de natureza popular e, nesse sentido, essa literatura tapuia
guarda relação com o processo instável de formação das línguas e seus movimentos nos
espaços domésticos e das aldeias. Já a literatura regional escrita em língua portuguesa é
basicamente urbana, mas dialoga permanentemente com essa complexidade lingüística, e
tenta elaborar a sua identidade regional, tematizando as relações interétnicas, em que,
embora o tapuio e/ou o caboclo sejam personagens, não são suas experiências históricas,
nem suas visões de mundo, que organizam o texto literário.
Uma das questões paradoxais debatidas nesse trabalho reside na defasagem
entre, de um lado, a importância da LGA para a história da região, e de outro, a sua
representação na memória coletiva. A LGA adquiriu tal dimensão e visibilidade, que em
torno dela se configurou um objeto de estudo bastante vigoroso, sobretudo nas duas últimas
décadas do século XIX e nas duas primeiras do século XX. Nunca a produção sobre uma
língua indígena foi tão rica e diversificada quanto nesse período. Os estudiosos elaboraram
dicionários e gramáticas, coletaram centenas de narrativas, reproduziram poesias, criaram
métodos de ensino, incorporando em seus trabalhos a produção dos séculos anteriores. No
entanto, imediatamente depois, a LGA não só foi silenciada, como a memória sobre ela e
sobre o seu papel histórico deixou de circular, fazendo com que essa informação, ausente
dos currículos escolares e dos programas dos meios de comunicação, não faça parte
atualmente da consciência dos amazonenses e paraenses, e muito menos dos brasileiros. Os
descendentes dos falantes de LGA há duas ou três gerações ignoram não apenas a língua,
mas desconhecem o uso que era feito dela pelos seus avós. O único espaço em que transita,
embora de maneira restrita, fragmentada e cristalizada, é nas práticas orais da memória
popular, emblematizada na copla da letra do carimbó, epigrafada nesse capítulo. Ela
representa o registro popular do processo histórico aqui abordado, conservando um dos
últimos fios da memória e, talvez, nela esteja a chave de acesso às explicações que
proporcionem uma inteligibilidade razoável para o esquecimento.
Uma leitura possível é a de que os núcleos temáticos apresentados na letra do
carimbó - papagaio e bico - se referem à identidade regional e à língua, construindo
significados valorativos pela conotação afetiva acionada, como bicho inteligente e dourado,
222
respectivamente, na função de personagem central de uma pequena narrativa. O
‘acontecimento’ está na oposição entre a fórmula reiterada de ‘ele falava tanto’ para relatar o
passado acabado, e a referência ao presente - 'agora está calado', que alude não só à perda da
função ‘comunicativa’ da língua, mas também à perda do seu significado identitário, porque a
LGA perdeu a sua eficiência representativa. Por último, a língua amazonense / paraense é uma
metáfora desse continuum histórico formado pelas línguas em contato - a LGA e o português
regional. Todos os elementos da história social das línguas estão aqui presentes, articulados
numa coerência popular, incluindo a situação plurilingüe – ‘ele fala toda língua’. Cabe à
historiografia atribuir-lhes sentidos e significados.
.
223
6. BIBLIOGRAFIA
224
6.1 - FONTES
Arquivos:
- ABAPP - Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém. 1901.
Correspondência dos governadores, Alvarás, Cartas Régias e Decisões. a) 1727 – Do
Rei ao gov. Maia da Gama. Lisboa. 12 set. Doc. 181; b) 1752 – Do Gov. Xavier de
Mendonça ao Rei. 16 nov. Doc. 06; c) 1759 – Do gov. Xavier de Mendonça a Tomé
Corte Real. 27 fev.
- ABL – Arquivo da Academia Brasileira de Letras. Livro de Actas: a) Parecer da
Comissão de Lexicographia sobre o Diccionario tupi do major Pedro Luis Simpson e
Acta da 16ª sessão, em 8 de abril de 1925, p.68-72; b) Acta da 17ª sessão, em 16 de
abril de 1925, p. 76-80; c) Acta da 18ª sessão, em 23 de abril de 1925, p.81-87.
- AHE - Arquivo Histórico do Exército. Fundo Guerra do Paraguai. 1865-1873. Circular
dirigida ao presidente da Província do Amazonas sobre recrutas enviados para a Corte.
- AHU – Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. a) 1728 - Carta de Dom João V a João
da Maia da Gama. Jan.23 (Cópia paleográfica no Centro de Documentação da UA);
b)1758 – Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Pará. Cx. 18. Doc.1758.
- AN – Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Fundos: a) Eclesiástica: Proposta do Bispo
do Pará para nomeação de professor de língua geral no Seminário Episcopal de Belém,
de acordo com Decreto nº 839 de 11/10/1851; b) 1769-1799 - Junta da Real Fazenda da
Capitania do Pará; c) 1859-1896 - Ministério da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas e d) 1844-1889 -Tesouraria da Fazenda da Província do Pará.
- APA – Arquivo Público do Amazonas: 1798-1863 - Cartas Régias, Relatórios e Falas de
Presidentes de Província e Annaes da Assembléia Legislativa Provincial do Amazonas.
- BN – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: a) 1610-1855 - Manuscritos Relativos ao
Brasil: Maranhão e Grão Pará. b) Coleção Capistrano de Abreu: 1800-1927 - Glossário
Tupi e comentários sobre a ‘Gramática de Língua Geral’, do padre Luiz Figueira; c)
Coleção Nogueira da Silva (ou Gonçalves Dias): 1857-1861 - Correspondência de
Gonçalves Dias com J. A. Rodrigues, Von Martius e Joaquim Caetano da Silva sobre a
Língua Geral; d) Coleção Rodolfo Garcia: 1930-1940 – Correspondência ativa e
passiva do titular com críticas aos trabalhos de Hartt e Cabral sobre a Língua Geral.
- IHGB – Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. a) Arquivo Ernesto Ferreira França:
1798-1887 – Relatório dirigido ao Imperador Pedro II sobre as línguas indígenas e a
Língua Geral; b) Arquivo José Bonifácio 1821-1822 - Notas sobre a Extensão da
Língua Geral ou Guarani; c) Arquivo Padre João Pedro Gay: 1862 - Dicionário
Francês-Guarani e Gramática Guarani-Tupi.
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CUNHA, Manoel Clementino Carneiro da (presidente da Província). Relatório dirigido à
Assembléia Legislativa Provincial do Amazonas na sessão ordinária de 3 de maio de 1862.
Pará. Typ. De Frederico Rhossard. 1862
CUNHA, Manoel Clementino Carneiro da (presidente da Província). Relatório com que o
Exmo. Sr. Dr. Manoel Clementino Carneiro da Cunha passou a administração da
Província do Amazonas aos Exmo. Sr. Dr. Manoel Gomes de Miranda em 19 de janeiro de
1863 .Maranhão. Typ. Do Frias. 1864;
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José da Cunha Junior, presidente da provincia do Pará abriu a 2ª sessão da 18ª
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