quarta-feira, 4 de abril de 2012

CONGO BELGA

Estado Livre do Congo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação, pesquisa
Este artigo ou secção contém uma lista de fontes ou uma única fonte no fim do texto, mas esta(s) não são citadas no corpo do artigo, o que compromete a confiabilidade das informações. (desde janeiro de 2011)
Por favor, melhore este artigo introduzindo notas de rodapé citando as fontes, inserindo-as no corpo do texto quando necessário.

État Indépendant du Congo
Estado Livre do Congo
Reino privado

1885 – 1908 →



Bandeira Brasão


Continente África
Capital Boma
Língua oficial Francês
Governo Monarquia
Proprietário
• 1885-1908 Leopoldo II da Bélgica
História
• 1885 Estabelecido
• 15 de Novembro de 1908 Anexação pela Bélgica
O Estado Livre do Congo foi um reino privado, propriedade pessoal de Leopoldo II da Bélgica entre 1877 e 1908. Incluía toda a área hoje conhecida como República Democrática do Congo e assentava na exploração do trabalho africano para extracção de borracha e marfim.

Em 1908, depois da brutalidade deste tipo de colonização ter por fim sido exposta na imprensa ocidental, esta propriedade privada passou a ser uma colónia da Bélgica, o Congo Belga.

Índice [esconder]
1 Exploração Europeia
2 Prelúdio à conquista
3 A génese do Estado Livre do Congo
4 Conquista de Leopold
5 As regras de Leopoldo
6 O fim do Estado Livre do Congo
7 Referências
8 Ligações externas

[editar] Exploração EuropeiaO Rio Congo era a última parte do continente africano que os europeus ainda não haviam explorado.

Um por um, os outros grandes mistérios da África foram investigados: o litoral pelos marinheiros portugueses do Infante D. Henrique no século XV; o Nilo Azul por James Bruce em 1773; o alto Niger por Mungo Park em 1796; a vastidão do deserto do Saara pelos competidores Alexander G. Laing, René Callié e Hugh Clapperton na década de 1820; os manguezais do baixo Nilo pelos Irmãos Lander em 1830; o sul da África e o Zambezi por David Livingstone na década de 1850 e o alto Nilo por Burton, John H. Speke e Samuel Baker em uma sucessão de expedições entre 1857 e 1868. Contudo, o Congo permaneceu um mistério, mesmo tendo sido uma das primeiras regiões a se tentar explorar.

Desde o Século XV, os exploradores europeus navegaram pelo largo estuário do Congo, planejando abrir caminho até às cataratas e corredeiras que tinham origem a apenas 160 km da costa e viajam rio acima até sua fonte desconhecida. Todos falharam. As corredeiras e cataratas na verdade se estendiam por 352 km pelo interior, e o terreno perto do rio era praticamente intransponível, o que persiste ainda hoje. Repetidas tentativas de se viajar através dessa região foram frustradas por graves eventualidades. Acidentes, conflitos com nativos, e acima de tudo as doenças fizeram com que grandes e bem equipadas expedições não conseguissem percorrer mais que 60 km através do legendário Caldeirão do Inferno.

Somente a partir da Década de 1870 é que o Congo foi explorado pelos europeus, e mesmo assim não pelo mar, mas pelo outro lado do continente africano. Partindo de Zanzibar, o jornalista estadunidense Henry Morton Stanley tinha como objetivo encontrar o famoso Dr. Livingstone de quem não havia notícias há já alguns anos. Na verdade Livingstone estava explorando a parte superior de um grande rio do interior chamado Rio Lualaba, que se supunha relacionado com o Rio Nilo, mas que se revelou como sendo o alto Rio Congo.

Após deixar Livingstone, Stanley navegou por 1600 km Lualaba abaixo (alto Congo) até ao grande rio que ele chamou de Stanley Pool (agora chamado de Pool Malebo). Então, ao invés de perecer no impenetrável país das cataratas, Stanley optou por um longo desvio através da região para se aproximar da feitoria portuguesa em Boma no estuário do Congo.

[editar] Prelúdio à conquistaQuando Stanley voltou à Europa em 1878, ele não tinha apenas encontrado Livingstone, resolvido o último grande mistério da exploração africana, e arruinado a sua saúde: também tinha aberto o coração da África tropical para o mundo, o seu maior legado.

Stanley foi consagrado em toda a Europa. Ele escreveu artigos, apareceu em reuniões públicas, fez pressão junto dos ricos e poderosos, e sempre seu tema era a oportunidade para exploração comercial das terras que ele descobriu ou, em suas palavras, "despejar a civilização europeia no barbarismo africano."

"Há 40.000.000 de pessoas nuas" do outro lado das cataratas, escreveu Stanley, "e os industriais têxteis de Manchester estão à espera de os vestir... as fábricas de Birmingham estão a fulgurar com o metal vermelho que será transformado em objectos metálicos de todos os tipos e aspectos que os irão decorar... e os ministros de Cristo estão zelosos de trazer as suas pobres almas para a fé Cristã."

A Europa não se encontrava contente com esta ideia: a grande jogada sobre o continente africano e as suas riquezas ainda não tinha começado. Fora do cabo da Boa Esperança e da costa do Mar Mediterrâneo, a Europa não tinha colónias africanas que pudessem ser consideradas significativas e o interesse das grandes potências estava fortemente focado nas terras onde a Europa tinha feito a sua fortuna: as Américas, as Indias Ocidentais, a China e Australásia. Parecia por isso ser desprovido de senso económico qualquer investimento de energias em África quando o retorno proveniente das outras colónias se provava ser mais rico e mais rápido. Também não existia qualquer interesse humanitário forte no continente, agora que o comércio de escravos para a América tinha sido extinto. Stanley foi aplaudido, admirado, condecorado e ignorado.

Foi nesta altura que o Rei Leopoldo II da Bélgica desenrolou o seu papel. Nas palavras de Peter Forthard, o Rei Leopoldo era um homem alto e imponente... gozando um reputação de sensualidade hedonística, inteligência acutilante (o seu pai, uma vez descreveu-o como subtil e matreiro como uma raposa), com uma ambição desmedida e dureza pessoal. No entanto ele era um monarca extremamente menor na "realpolitik" desse tempo, reinando numa nação totalmente insignificante, uma nação que, de facto, ganhou existência apenas quatro décadas antes e que vivia sob a ameaça constante de perder a sua precária independência para as grandes potências vizinhas. Leopoldo foi uma figura da qual haveria toda a razão para se esperar que se dedicasse à manutenção da neutralidade estrita do seu país, evitando litígios com os seus vizinhos poderosos e dedicar-se aos seus prazer desenvolvidos pela carne, em vez de uma pessoa que iria causar um impacto tão grande na história. No entanto, de uma maneira tão espantosa como inimaginável, conseguiu, virtualmente sozinho, alterar o equilíbrio de poder em África e apressar a terrível era de colonialismo europeu no continente negro.

Como monarca constitucional, Leopoldo foi encarregue das funções simbólicas normais tais como abertura do parlamento, recepção de diplomatas, comparência a funerais de estado, etc.. Ele não dispunha de poder formal para orientar a política nacional. Mas, durante mais de 20 anos tinha vindo a estimular a Bélgica para assumir um lugar entre as grandes potências colonais da Europa. Leopoldo observou que "As nossas fronteiras nunca poderão ser alargadas dentro da Europa". contudo, acrescentou que "desde os tempos históricos que as colónias são úteis, elas podem desempenhar um grande papel naquilo que faz o poder e a prosperidade dos estados, vamos pois lutar para obtermos uma nossa".

Por várias vezes, lançou diversos esquemas sem sucesso tais como comprar uma província argentina, comprar Bornéu aos holandeses, arrendar as Filipinas à Espanha ou estabelecer colónias na China, Vietname, Japão ou nas Ilhas do Pacífico. Quando os exploradores da década de 1860 focaram a sua atenção em África, Leopoldo tentou criar esquemas para colonizar Moçambique, o Senegal e o Congo. Nenhum destes planos chegou a bom termo: o governo da Bélgica resistiu a todas as sugestões de Leopoldo, vendo a aquisição de uma colónia como uma boa maneira de gastar dinheiro com pouco ou nenhum retorno.


Leopoldo II da Bélgica.A solução encontrada pelo monarca foi extraordinária em sua simplicidade megalomaníaca. Se o governo da Bélgica não adquirisse uma colônia, ele o faria por si mesmo, agindo na sua capacidade de cidadão comum. Em 1876 Leopoldo II patrocinou uma conferência geográfica internacional em Bruxelas, convidando delegados das sociedades científicas de toda a Europa para discutir assuntos filantrópicos e científicos como a melhor forma de coordenar a fabricação de mapas, para prevenir o reaparecimento do comércio de escravos da costa ocidental e para procurar formas de enviar ajuda médica à África. A conferência foi uma encenação: em seu encerramento, Leopoldo propôs o estabelecimento de um comitê beneficente internacional para continuar o trabalho da conferência, aceitando modestamente o cargo de presidente. Outro encontro foi realizado no ano seguinte, mas a partir de então a Association Internationale Africaine tornou-se meramente uma frente da ambição de Leopoldo. Ele criou uma série de organizações, culminando na Association Internationale du Congo, da qual só existia um acionista: o próprio Leopoldo.

Logo depois que Stanley retornou do Congo, Leopoldo tentou recrutá-lo. Stanley, ainda na esperança do apoio do Inglaterra recusou a oferta. Entretanto, diante da insistência do monarca, acabou aceitando. Leopoldo, aparentemente, era o único europeu disposto a financiar o sonho de Stanley: a construção de uma ferrovia sobre as Montes Crystal, do mar até a Stanley Poll, de onde poderia se alcançar mil milhas no coração da África. Stanley, muito mais familiarizado com o rigor do clima africano e a complexidade da política local que Leopoldo, persuadiu seu patrão de que o primeiro passo deveria ser a construção de uma linha férrea e uma série de fortes. Leopoldo concordou e com profundo sigilo, Stanley assinou um contrato de cinco anos, com salário de £1000 por ano, e migrou para o Zanzibar sob um nome disfarçado. Para evitar desconfianças, trabalhadores e materiais foram conseguidos em diversas rotas, e as comunicações entre Stanley e Leopoldo eram confiadas ao Coronel Maximilian Strauch. Foi somente ai que Stanley foi informado da magnitude da ambição de Leopoldo: Stanley não iria simplesmente construir uma série de estações ferroviárias, mas iria construir uma nova nação. As instruções eram certeiras: "Esta é uma idéia de criar um novo Estado, tão grande quanto possível, e depois administrá-lo. No projeto era claramente inteligível que não havia possibilidade de garantir o menor poder político aos negros. Aquilo seria absurdo".

Sem encontrar nada repreensível nas ambições de Leopoldo, Stanley seguiu com sua tarefa. Com todos seus atalhos na sociedade européia, ele era, sem dúvida, o homem certo para tal tarefa. Em menos de três anos, sua capacidade para trabalho pesado, suas habilidades de jogar grupos sociais uns contra os outros, o constante uso de modernas armas para matar seus oponentes e toda a sua determinação abriram rota para a criação do Congo.

Anos mais tarde, Stanley escreveria que a parte mais cansativa de seu trabalho não era trabalhar sozinho, nem negociar com os nativos, mas sim manter a ordem entre os diversos homens brancos que ele trouxera consigo pelos mares, que reclamavam constantemente sobre pequenos problemas de status. "Praticamente todos eles", escreveu Stanley, "clamavam por gêneros de todos os tipos, o que incluia vinhos, tabaco, cigarro, roupas, sapatos, dentre um sem número de extravagâncias", (mencionou ainda folhas para aquecer suas camas).

Cansado, Stanley retornou a Europa, apenas para ser reenviado por Leopoldo, que lhe prometeu um surpreendente assistente: 'Chinese' Gordon (que não aceitou a oferta de Leopoldo, mas, ao invés, escolheu encontrar seu destino em Khartoum. "É indispensável", instruira Leopold, "que você deva obter para o Comité d'Études (i.e., ao próprio Leopold) o máximo de terra que você possa obter.

Tendo estabelecido um porto no Baixo Congo, em 1883, Stanley subiu o rio para estender os domínios de Leopoldo, empregando seus métodos usuais: negociações com os chefes locais para a obtenção da soberania em troca de roupas; jogar uma tribo contra a outra; e, se necessário, matar um chefe contrário a seus objetivos e negociar com o outro chefe. Porém, ao se aproximar de Stanley Falls, na junção do Congo com o Lualaba, ele rapidamente percebeu que seus homens não eram os únicos intrusos.

Tippu Tip, o último e maior esclavagista do Zanzibar do Século XIX, era bem conhecido de Stanley, assim como o caos social e a devastação que as caçadas aos escravos trouxeram. Isto foi somente através da ajuda de Tippu Tip que Stanley encontrara Livingstone (que sobrevivera por anos no Rio Lualaba pela virtude da amizade de Tippu Tip). Então Stanley descobriu que os homens de Tippu Tip haviam avançado ainda mais ao oeste em busca de aldeias frescas a serem escravizadas.

Seis anos antes, os zanzibaritas pensaram que o Congo era um lugar mortal e intransitável, a alertaram Stanley a não tentar ir lá, mas quando Tippu Tip soube em Zanzibar que Stanley havia sobrevivido, agiu rápido. Aldeias por toda região foram queimadas e despovoadas. Corpos boiaram rio abaixo. Tippu Tip fazera incursões em 118 aldeias, matara 4000 africanos, e, quando Stanley chegou em seu assentamento, haviam 2300 escravos, a maioria mulheres jovens e crianças, em correntes prontas para serem transportadas meio caminho através do continente, rumo aos mercados do Zanzibar.

Tendo encontrado o novo dono do lado superior do Congo, Stanley calmamente negociou um acordo a permiti-lo erguer sua última estação fluvial bem abaixo de Stanley Falls (o qual prevenia navios a viajarem rio acima). Ao fim de seus recursos físicos, Stanley repatriou-se, sendo substituído pelo Tenente-Coronel Francis de Winton, outrora do Exército Belga.

[editar] A génese do Estado Livre do Congo
Tippu Tip, magnata comercial de ZanzibarNa Europa, as intrigas de Leopold começaram a render frutos. Considerando que ele havia ganho a propriedade de Congo em grande parte por causa dos interesses dos mais poderosos, agora ele podia confirmar e fortalecê-la por causa de seus interesses. Em alguns anos desde o estabelecimento da empreitada no Congo, o humor na Europa tinha mudado decididamente, e a luta pela África estava a ponto de começar a sério. As atividades de Leopold no Congo já tinham empurrado os franceses a reclamar uma área na margem norte (A moderna República do Congo no extremo norte de Stanley Pool, Lago Malebo hoje). Enquanto ninguém (fora Leopold) em particular quis tais colônias economicamente pouco promissoras, as outras potências da Europa não estavam dispostas a permanecer ociosas e ver terras sendo adquiridas rapidamente por seus rivais.

Numa estarrecedora sucessão de negociações duvidosas, Leopoldo, na capacidade de presidente da desinteressada e puramente humanitária “Associação Internacional Africana”, jogou os protagonistas da política européia uns contra os outros.

A Inglaterra estava inquieta com a expansão francesa e tinha uma reivindicação no Congo apoiada na expedição do Ten. Cameron 1873 no Zanzibar para repatriar o corpo de Livingstone, mas estava relutante em se comprometer com mais uma colônia improdutiva. Portugal tinha uma reivindicação ainda mais antiga, datando já no descobrimento de Diego Cão na entrada do rio em 1482 e, tendo ignorado isso por séculos, estava estimulado a relembrar. Portugal flertou com os franceses em primeiro momento, mas os britânicos ofereceram apoiar a reivindicação do Congo inteiro em troca de um tratado de livre comércio. Para os ingleses, o livre comércio era uma perda menor: o verdadeiro benefício foi a frustração dos franceses. Depois Bismarck entrou na rixa da parte da Alemanha: já com propriedades vastas no Sudoeste Africano, ele não desejava o Congo, mas não lhe agradava como dono nem França nem Inglaterra.

Neste ponto Leopoldo agiu. Ele começou uma campanha publicitária na Inglaterra, mencionando os horrendos registros escravistas de Portugal, e sorrateiramente disse aos mercadores que se lhe fosse dado controle formal do Congo, dar-lhes-ia o mesmo status de “nação mais favorecida”, que Portugal ofereceu. Ao mesmo tempo, Leopoldo prometeu a Bismarck que ele não daria a nenhuma nação status privilegiado, onde seriam comerciantes alemães tão bem-vindos quanto qualquer outro. Então, aos franceses Leopoldo ofereceu apoio da “Associação” para a posse de toda margem norte, e adoçou o acordo propondo que, se sua riqueza pessoal se provasse insuficiente para segurar o Congo inteiro (como parecia totalmente inevitável), o Congo voltava para a França. Finalmente, ele alistou a ajuda dos Estados Unidos, enviando ao seu presidente, Arthur copias cuidadosamente editadas dos tratados que Stanley havia extraído de chefes locais, e propondo que, como uma junta humanitária desinteressada, a “Associação administraria o Congo para o bem de todos, passando o poder para os nativos tão logo estivessem prontos para tal responsabilidade. Isto foi o golpe de mestre.

Em novembro de 1884 Bismarck reuniu uma conferência de 14 nações para encontrar uma solução pacífica para a crise do Congo, e após três meses de negociações, Leopoldo fulgurou triunfante. A França foram dados 665.626,9444 km² (66.562.694,41 hectares) na margem norte (atual Congo-Brazzaville e a República Centro-Africana), a Portugal foi dado 665.626,9444 km² (90.908.582,67 hectares) ao norte (atual Angola), e a organização “filantrópica” totalmente controlada por Leopold recebeu a soma de 2.343.939,27 km² (234.393.924 hectares) para constituir o “Estado Livre do Congo”.

Num ofuscante espetáculo de virtuosidade diplomática, Leopoldo obteve da conferência não somente acordo na transferência do Congo para uma de suas muitas células filantrópicas, tampouco para sua autoridade de Rei dos Belgas, mas simplesmente para si. Ele se tornou único dono de 30 milhões de pessoas, sem constituição, sem supervisão internacional, sem ao menos ter estado alguma vez no Congo, e sem mais do que uma meia dúzia de seus obedientes tivesse ouvido falar nele.

[editar] Conquista de Leopold
Cecil RhodesLeopoldo não mais precisava fazer a fachada da “Associação”, e a substituiu por um gabinete apontado de belgas que executariam suas ordens. Para a temporária capital de Boma, ele mandou um governador-geral e um chefe de polícia. A vasta bacia do Congo foi dividida em 14 distritos administrativos, cada distrito em zonas, cada zona em setores, a cada setor em postos. Dos comissários de distritos até o nível de posto, todo encarregado-chefe era europeu: mercenários e aventureiros de todo tipo.

Três problemas principais se apresentaram pelos próximos anos. Primeiro, além dos oito empórios de Stanley, o Estado Livre era uma selva não-mapeada, e não oferecia qualquer retorno comercial. Segundo, Cecil Rhodes, então Primeiro Ministro da Colônia Britânica do Cabo (parte da atual África do Sul) estava expandindo do Sul e ameaçando a ocupar a área sul do Lualaba, a despeito da Conferência de Berlim e com tácita conivência de Londres. Terceiro, as gangues escravistas de Tippu Tip estabeleceram uma presença forte no norte, leste e oeste do país (atual Uganda), e efetivamente estabeleceram um estado independente.

Leopoldo era um dos homens mais ricos da Europa, mas nem mesmo ele pode agüentar manter as despesas. Ele precisou extrair riquezas do Congo, não gasta-las. Em flagrante violação de seu mandato, ele foi em busca disso, e arquitetou o mais brutal regime colonial da história moderna.

A primeira mudança foi a introdução das “terres vacantes” (terras vagas), que correspondiam a tudo o que ninguém efetivamente habitava. Essas terras foram atribuídas ao estado, e os servidores do estado (quer dizer, todo homem branco empregado de Leopold) eram encorajados a explorá-las.

Em seguida, o Estado Livre foi dividido em duas zonas econômicas: a Zona de Livre Comércio foi aberta a empreendedores de qualquer nação, que eram autorizados a arrendar o monopólio por 10 e 15 anos de qualquer coisa de valor: marfim de um distrito particular, ou a concessão de borracha. A outra zona --- mais de dois terços do Congo- -- se tornou o “Domaine Prive” (domínio privado): a propriedade privada exclusiva do estado, sendo premissa da conclusão de que Leopold era seu dono.

Nesta base, o Congo se tornou auto-suficiente financeiramente. Ainda que não o suficiente para a ganância de Leopoldo. Em 1893 ele extirpou o mais prontamente acessível 2.589.988,811 km² (258.998.881,1 hectares) da parte da Zona de Livre Comércio e as declarou como sendo “Domaine de la Couronne” (Domínio da Coroa), sujeito às mesmas regras das terras do “Domínio Privado”, exceto que toda renda ia diretamente para Leopold em pessoa. Ninguém sabe quanto Leopoldo lucrou do Estado Livre do Congo, mas o valor sem dúvida alcançou a ordem das dezenas de milhões, de longe mais do que até mesmo Leopoldo poderia gastar.

O segundo problema era o expansionismo britânico rumo a parte sul da Bacia do Congo. O vulnerável e distante distrito de Katanga, Lualaba acima, foi ocupado por um poderoso chefe chamado Msiri, que já rejeitara sondagens de Rhodes. Leopold não se incomodou em negociar: ele mandou expedições bem armadas para ocupar a capital. Msiri recuou floresta adentro, foi capturado, e ainda se recusou a desistir de sua soberania. Sob ordens de Leopoldo, um oficial do Estado Livre assassinou Msiri, cujo sucessor provou ser mais influenciável.

Em curto prazo, o terceiro problema, o dos escravos árabes, foi simplesmente resolvido: Leopold negociou em aliança, e depois indicou Tippu Tip como governador do distrito de Stanley Falls. Em longo prazo, isso foi insatisfatório. Na Bélgica, Leopold passava pelo constrangimento de estar aliado ao último escravista no mundo e, pior, Tippu Tip e Leopold eram rivais comerciais diretos: cada escravo que Tippu Tip extraía de seu domínio, cada quilo de marfim, era uma perda para Leopold. Uma confrontação bélica era inevitável.

Ambos os lados lutaram por procuração, armando e guiando as tribos canibais das florestas de Lualaba em conflitos de ferocidade sem paralelo. Eles acreditavam que sofrimento tornava a carne tenra, e prisioneiros eram preparados para o caldeirão ainda vivos; não só os guerreiros tribais permitiam-se esse costume: oficiais europeus comiam também carne humana. Os mosquetes de Tippu Tip não eram páreo para a artilharia e as metralhadoras de Leopold. Lá pelo início de 1894 a guerra já estava finda.

[editar] As regras de LeopoldoEnquanto isso, a busca por renda era dura. O salário dos funcionários distritais foi reduzido ao mínimo, e acrescidos de uma comissão baseada no lucro que a área rendesse a Leopoldo. Comunidades nativas no “Domínio Privado” foram meramente proibidas por lei a vender itens a qualquer um, a não ser o Estado: a eles era requerido prover aos funcionários públicos com um conjunto de cotas de borracha e marfim a um preço fixado, por mandato governamental, prover comida ao posto local, e prover 10% de sua população como trabalhadores forçados de tempo integral ---escravos em tudo, fora o nome---; e outros 25% de meio-período.

Para impingir as cotas de borracha, a Force Publique (Força Pública) foi instituida: de uso corrente, policiais, na sua maioria eram canibais do Lualaba. Armados com armas modernas e chicote. A “Força Pública” rotineiramente pegava e toturava reféns (na maioria mulheres), açoitavam, estupravam, incineravam aldeias, a acima de tudo, extirpavam mãos humanas como troféus mostrando que, quando as cotas não eram cumpridas, não estavam tendo vontade o suficiente de cumprir.

Um oficial branco de baixa patente F descreveu uma incursão para punir uma aldeia que havia protestado. O oficial branco em comando: "Ordenaram-nos a cortar as cabeças dos homens e as pendurar nas cercas da aldeia, bem como seus membros sexuais, e pendurar as mulheres e crianças em forma de cruz". Após ver um íncola morto pela primeira vez, um missionário dinamarquês escreveu: "O soldado disse: 'Não leve muito a sério. Eles matam 'a nós' se não levarmos a borracha. O comissionário nos prometeu que se tivermos muitas mãos, ele encurtará nosso serviço'" Nas palavras de Peter Forbath:

“ As cestas de mão cerradas, postas aos pés dos chefe de posto europeus, tornaram-se o símbolo do Estado Livre do Congo. ...A coleção de mãos se tornou um fim em si mesmo. Os soldados da “Força Pública” as traziam em vez da borracha; eles até mesmo iam colhê-las em lugar de borracha... Elas tornaram-se um tipo de moeda. Elas são usadas para amenizar o déficit das cotas de borracha, substituir... o povo ao qual é exigido trabalhar para as gangues de trabalhos forçados; e os soldados da “Força Pública” tinham seus bônus pagos de acordo com quantas mãos eles coletavam. ”

Pessoas mutiladas do Estado Livre do Congo.Em teoria, cada mão direita provava um assassinato judicial. Na prática, soldados “trapaceavam”, simplesmente cortando a mão e deixando a vítima para viver ou morrer. Numerosos sobreviventes relataram que eles viveram além de um massacre fingindo de morto, não se movendo nem mesmo quando tinham suas mãos serradas. E esperavam os soldados partirem para então procurar socorro.

Estimativas do total das chacinas variam consideravelmente. O relatório famoso 1904 do diplomata britânico Roger Casement aponta para 3 milhões apenas nos 20 anos que o regime de Leopold durou; Forbath, no mínimo 5 milhões; Adam Hochschild 10 milhões; a Enciclopédia Britânica estima um declínio populacional de 20 ou 30 milhões para 8 milhões.

[editar] O fim do Estado Livre do CongoLeopold se endividou vertiginosamente com seus investimentos no Congo, até que a salvação veio com o início da “era da borracha” que envolveu o mundo todo a partir de 1890. Preços subiram freneticamente através da década com as descobertas de novos usos da borracha em tiras por parte das indústrias: mangueiras, tubulações, isolamento para cabos telegráficos e telefônicos e fiações, etc. Ao fim de 1890 a borracha bruta havia superado de longe o marfim como principal fonte de renda do Estado Livre do Congo. O ano de pico foi 1903, com a borracha faturando o preço mais alto e empresas concessionárias obtendo os melhores faturamentos.

Entretanto, o frenesi conduziu a esforços para encontrar produtores a custo mais baixo. Empresas concessionárias congolesas começaram a enfrentar competição do cultivo de borracha no Sudeste Asiático e América Latina. Como plantações eram começadas em outras áreas tropicais, a maioria sob possessão de firmas inglesas rivais, o preço mundial da borracha começou a cair. A competição induziu ao aumento do uso de trabalho escravo para diminuir o custo de produção. Enquanto isso, o custo de aplicação estava devorando as margens de lucro, ao mesmo tempo que a tributação aumentava a insustentabilidade dos métodos de colheita. Pelo crescer da competição imposta por outras áreas de produção, o domínio privado de Leopold estava progressivamente vulnerável a escrutínios internacionais, especialmente da parte da Inglaterra.


Joseph Conrad em seu O Coração das Trevas e Mark Twain (acima) criticaram o regime colonial, que para eles era baseado em trabalho escravo, violação de direitos e mutilações. A obra King Leopold's Soliloquy de Mark Twain realizava essa crítica de uma maneira sarcástica.Quando a borracha congolesa atingiu seu pico, visitantes tiveram a entrada barrada. missionários foram permitidos somente sob vigilância, e principalmente se eles eram católicos belgas, que Leopold podia manter quietos. Ao mesmo tempo, funcionários foram proibidos de deixar o país. Mesmo assim, rumores circularam e Leopold desfechou uma enorme campanha publicitária para desacreditá-los, ao ponto de criar uma Comissão para a Proteção dos Nativos, fictícia, para desbaratar as “poucas ocorrências isoladas” de abuso. Editores foram subornados, críticos acusados de tocar campanhas secretas para alavancar as ambições coloniais de outras nações, relatórios testemunhais dos missionários excomungados como tentativas de difamar padres católicos honestos. E por uma década ou mais Leopold foi bem sucedido. O segredo circulava dentre as pessoas, mas poucos acreditavam.

Eventualmente, os argumentos mais efetivos vieram da mais inesperada fonte. Funcionários nas maiores empresas navais em Londres começaram a se perguntar por que barcos que traziam grandes cargas de borracha do Congo retornavam abarrotados de armas e munição para a “Força Pública”. Edmund Morel foi o mais famoso desses: ele se tornou um jornalista de investigação em tempo integral, e então (ajudado por mercadores que desejavam acabar com o monopólio secreto de Leopoldo), um editor. Em 1902, o romance de Joseph Conrad intitulado “O Coração das Trevas” foi publicado, baseado na sua breve experiência como capitão de um navio a vapor no Congo, dez anos antes. Este livro encapsulava o pavor crescente do público, e em 1904, Sir Roger Casament, o cônsul britânico, entregou um longo e detalhado relatório testemunhal o qual tornara público. A Associação Britânica de Reforma do Congo, fundada por Morel, exigia ação. Outras nações européias fizeram o mesmo, como fez os Estados Unidos, e o Parlamento Inglês clamou por uma reunião das 14 potências signatárias a rever a Conferência de Berlim. O Parlamento Belga forçou Leopoldo a organizar uma comissão independente de inquérito, e apesar dos esforços desesperados do Rei, em 1905 foi confirmado o relatório de Casement em cada sórdido detalhe.

Leopoldo ofereceu uma reforma em seu regime, mas poucos levaram isso a sério. Todas as nações estavam de acordo que o domínio do Rei deveria ser extinto o mais rápido possível, mas nenhuma nação estava desejosa de assumir a responsabilidade, e nunca foi sugerido que as terras em questão fossem devolvidas ao povo da região. A Bélgica era a forte candidata à administração do Congo, mas os belgas não estavam ainda dispostos a isso. Por dois anos a Bélgica debateu a questão e foi às urnas decidir. Enquanto Leopoldo fez o máximo de sua última oportunidade e, inacreditavelmente, aumentou o “Domínio da Coroa” para com isso espremer até a última gota de lucro enquanto podia.

Finalmente, em 15 de novembro de 1908, quatro anos depois do Relatório de Casement e seis anos depois de “O Coração das Trevas”, o Parlamento Belga anexou o Estado Livre do Congo e assumiu a administração. Contudo, o escrutínio internacional não representou nenhuma grande perda para Leopoldo ou para as empresas concessionárias no Congo Belga. Nesse tempo, o Sudeste Asiático e a América Latina tinham se tornado produtores de borracha de baixo custo. Junto com os efeitos do esgotamento dos recursos no Congo, os preços internacionais da mercadoria tornaram inviável a extração congolesa, mas a “era da borracha” já estava acabada.

[editar] ReferênciasPeter Forbath: The River Congo, Harper & Row, 1977. ISBN 0-06-122490-1.
Adam Hochschild: King Leopold's Ghost, Pan, 2002. ISBN 0-330-402333-0.
Walter Rodney: How Europe underdeveloped África, Howard University Press, 1974. ISBN 0-88258-013-2.
Thomas Pakenham: The scramble for África, Abacus, 1991. ISBN 0-349-10449-2.
Richard Hall: Stanley: an adventurer explored, Purnell, 1974.
[editar] Ligações externasReforming The Heart of Darkness: The Congo Reform Movement in England and the United States
Joseph Conrad's Heart of Darkness

Obtida de "http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estado_Livre_do_Congo&oldid=29519525"
Categorias: Estados extintos da ÁfricaHistória da BélgicaHistória da República Democrática do CongoCategorias ocultas: !Artigos que carecem de notas de rodapé desde janeiro de 2011!Artigos destacados na Wikipédia em alemão!Artigos destacados na Wikipédia em espanhol!Artigos destacados na Wikipédia em esloveno
Ferramentas pessoaisEntrar / criar conta Espaços nominaisArtigo Discussão VariantesVistasLer Editar Ver histórico AçõesBusca NavegaçãoPágina principal Conteúdo destacado Eventos atuais Esplanada Página aleatória Portais Informar um erro ColaboraçãoBoas-vindas Ajuda Página de testes Portal comunitário Mudanças recentes Estaleiro Criar página Páginas novas Contato Donativos Imprimir/exportarCriar um livroDescarregar como PDFVersão para impressãoFerramentasPáginas afluentes Alterações relacionadas Carregar ficheiro Páginas especiais Ligação permanente Citar esta página Noutras línguasБългарски Català Česky Dansk English Esperanto Español Suomi Français Galego Hrvatski Magyar Italiano 日本語 한국어 Latviešu Nederlands ‪Norsk (nynorsk)‬ ‪Norsk (bokmål)‬ Polski Română Русский Русиньскый Simple English Slovenčina Slovenščina Svenska ไทย Türkçe Українська Tiếng Việt Walon Yorùbá 中文 Esta página foi modificada pela última vez à(s) 00h13min de 31 de março de 2012.
Este texto é disponibilizado nos termos da licença Atribuição-Partilha nos Mesmos Termos 3.0 não Adaptada (CC BY-SA 3.0); pode estar sujeito a condições adicionais. Consulte as condições de uso para mais detalhes.
Política de privacidade Sobre a Wikipédia Avisos gerais Versão móvel


COPYRIGHT WIKIPÉDIA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas