quinta-feira, 19 de abril de 2012

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O Brasil holandês

O Brasil viveu durante três décadas, no século XVII, período de dominação por parte da Companhia das Índias Ocidentais (CIO). Esta experiência deixou duradouras marcas no país, particularmente no Nordeste, e constituiu em seu melhor momento - o período de Maurício de Nassau, cognonimado “Maurits de Braziliaan” - uma das experiências mais bem-sucedidas da atuação européia.

Grande produtor de pau-brasil e açúcar, mercadorias altamente valorizadas na época, o Nordeste brasileiro passou a integrar as rotas do comércio internacional ainda no século XVI. Os navegadores e corsários holandeses, atores importantes do comércio internacional, cedo começaram a freqüentar as costas brasileiras. Já no século XVII, dois centros urbanos atraíram particularmente sua atenção: Salvador, na Bahia, capital do Brasil, e Olinda, em Pernambuco.

A primeira tentativa de conquista holandesa no Brasil, que contou com a participação do lendário Piet Hein, consistiu na ocupação da Bahia por um ano, em 1624. Posteriormente, o mesmo Piet Hein, Witte de With e outros voltaram a atacar Salvador, limitando-se a apresar grande número de navios carregados de produtos da terra.

Uma posterior e mais bem organizada campanha resultou, em 1630, na conquista de Olinda. Esta cidade era a capital da florescente Capitania de Pernambuco, região rica em pau-brasil (madeira até hoje utilizada no fabrico de arcos para violinos, sob o nome de “pernambuco”). Pernambuco era igualmente a principal área de produção de açúcar do mundo e o maior centro comercial, religioso e artístico do Nordeste brasileiro.

A ocupação de Olinda deu aos neerlandeses o controle da cidade, do povoado próximo ao porto do Recife (chamado “o Povo”) e de muitos engenhos de açúcar das cercanias. A conquista de Itamaracá e Alagoas (1635) foram passos para atingir o domínio de toda a região Nordeste. Com exceção da Bahia, este objetivo, contudo, só foi atingido no período de Nassau. Embora o Conde tenha tentado conquistar a Bahia em 1638, a região nunca sucumbiu e permaneceu sempre sob controle ibérico.

Até 1637, escaramuças e atividades de guerrilha conseguiram tolher os movimentos dos batavos em toda a região. Nesse ano, a Companhia das Índias Ocidentais designou o Conde João Maurício de Nassau-Siegen (*1604 +1679) como Governador dos territórios brasileiros conquistados. O Conde era filho de um primo-irmão de Guilherme de Orange, o Pai da Pátria dos Países Baixos. A Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará, o Maranhão e Sergipe, no Brasil, e Angola, na África, de onde saíam os escravos que trabalhavam a cana de açúcar, foram incorporados ao controle da CIO por Nassau, homem de grande capacidade militar.

Os sete anos de governo de “Maurício de Nassau” (1637-1644) deixaram a memória de uma Época de Ouro, até hoje reconhecida no Brasil. No período se estabeleceu uma trégua na guerrilha dos luso-brasileiros e se criou uma civilização inédita nos trópicos. Contrapondo-se aos interesses exclusivamente mercantilistas da CIO, o Conde preocupou-se em manter convivência pacífica com os locais, inclusive e sobretudo com os senhores de engenho, e estabeleceu a liberdade religiosa – papistas, calvinistas e judeus conviviam e produziam harmoniosamente. Este foi um contraste com a intolerância da Inquisição e a dos calvinistas, que em 1631 incendiaram a bela e opulenta vila de Olinda alegando excesso de igrejas católicas.

Sobretudo, Nassau foi um grande mecenas que levou ao Nordeste do Brasil um séquito de cientistas, cartógrafos, artistas e administradores que deram à sua cidade Maurícia (Mauritstad ou Mauritiopolis, atual Recife) dimensão e brilho até então nunca vistos na América.

O período Nassau testemunhou diversas experiências inéditas para o Novo Mundo. Mauritiopolis teve projeto urbanístico de Pieter Post, com base nos mais avançados conhecimentos da época. Surgiram o primeiro Jardim Botânico e o primeiro Jardim Zoológico das Américas. Lá se tomaram as primeiras medições sistemáticas da meteorologia e foram realizadas as primeiras observações astronômicas com telescópios europeus no continente americano. Também foi lá que se reuniu o primeiro Parlamento.

Foi no Recife nassoviano que surgiu, na rua dos Judeus, atual rua do Bom Jesus, a primeira sinagoga das Américas, recentemente restaurada. Destinava-se aos judeus sefarditas portugueses que se haviam estabelecido em Amsterdam para fugir das fogueiras da Inquisição. Eles estiveram envolvidos, desde o século XVI, no financiamento e operação dos engenhos de açúcar brasileiros e na comercialização de suas safras, além de participarem ativamente do negócio do pau brasil, do algodão, do couro e de outros produtos coloniais. Ao final do período holandês, foram judeus saídos do Recife que fundaram a primeira congregação israelita em Nova York.

Nassau levou para o Brasil dois jovens pintores, que deixaram o mais importante legado artístico do período colonial: Frans Post e Albert Eckhout. Retratando as paisagens nordestinas, os tipos humanos, as riquíssimas fauna e flora, os engenhos de açúcar, os monumentos, as ruínas do incêndio de Olinda, Post e Eckhout criaram uma obra sem precedentes. Contemporâneos dos grandes nomes da pintura do Século de Ouro holandês, Post e Eckhout não alcançaram a genialidade de um Rembrandt ou de um Vermeer. Porém, ao apresentar aos neerlandeses com talento - e nos mínimos detalhes - a realidade de um mundo colorido, exótico e desconhecido, conseguiram, ao voltar para a Holanda, preços elevados para seus trabalhos. Hoje, também, seus quadros são cotados em milhões de euros.

A quase totalidade das pinturas de Albert Eckhout encontra-se no Museu Nacional de Copenhague. A maior parte dos quadros de Post encontra-se no Recife, dezessete no Instituto Ricardo Brennand, e outros cinco divididos entre o Museu do Estado de Pernambuco, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico e o Palácio do Governo de Pernambuco. Nos Países Baixos, podem ser vistos exemplares muito expressivos de sua arte na Mauritshuis da Haia (Vista da Ilha de Itamaracá), no Rijksmuseum de Amsterdam (Ruínas da Sé de Olinda) e no Boijmans van Beuningen de Rotterdam (O Engenho e O sacrifício de Manoah, pintura de tema bíblico com fundo de paisagem brasileira). O Louvre, em Paris, o British Museum de Londres, o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, a Fundação Pimenta Camargo, em São Paulo, e o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, também possuem belas pinturas do artista.

Além da obra artística/etnográfica/antropológica de Post e Eckhout, o trabalho de cartografia desenvolvido por nomes como Philip Vingboons e Cornelius Golijath consolidou o conhecimento das costas brasileiras. O Atlas de Johannes Vingboons compilado nas alturas de 1665 por esse excelente cartógrafo, constitui o ápice da cartografia holandesa no Brasil seiscentista. O IAHGPE e a Biblioteca do Vaticano possuem os únicos exemplares da obra. George Marcgraf foi autor dos minuciosos mapas constantes da obra de Gaspar Barléu “Rerum per octenium in Brasilia et alibi nuper gestarum, Sub Praefectura Illustrissimi Comitis I. Mavritii Nassoviae”, de 1647, que constitui o relato completo das realizações de Nassau e é considerado “o mais belo livro editado sobre o período colonial brasileiro”. O célebre Johan Blaeu também editou, em 1643, mapa-mural sob o título “Brasilia qua parte paret Belgis”, baseado em Marcgraf e com vinhetas de Frans Post, que contém a mais minuciosa descrição das costas brasileiras até então disponível. Marcgraf e o cientista Willem Piso deixaram, ademais, o mais abrangente inventário da fauna e da flora (a “Historia Naturalis Brasiliae”) disponível no continente americano até o século XIX.

O palácio de Friburgo, construído pelo Conde para residência no Recife, foi o mais importante edifício civil do Brasil na época. O palácio do Governador de Pernambuco ocupa, até hoje, a mesma área. Outro palácio, o da Boa Vista, também constituiu marco da arquitetura no Brasil (ambos foram lamentavelmente demolidos em anos posteriores para dar lugar a construções modernas). A ponte hoje chamada de Maurício de Nassau, construída pelo Conde com 15 pilares de pedra e 10 de madeira, em 1644, foi a primeira ponte de grande porte no Brasil, com recursos obtidos por Nassau com base no famoso episódio do “Boi Voador”, que rendeu aos cofres da CIO cerca de 20.800 florins. Ele construiu ainda uma segunda ponte sobre o rio Capibaribe e promoveu aterros e a drenagem de pântanos e brejos característicos da paisagem de delta do Recife.

O período Nassau, como se vê, foi sinônimo de boa administração: urbanização, construção de pontes e monumentos, o inédito estabelecimento de liberdade religiosa, volumoso e importante legado artístico e científico, financiamento e comercialização da produção de açúcar. Todavia, o fracasso da expedição contra Salvador, a visão da CIO de que Nassau era um funcionário dispendioso, e as tentativas do Conde de limitar o monopólio comercial da Companhia levaram a desavenças entre ambos. Nassau apresentou sua renúncia e regressou aos Países Baixos em maio de 1644. O Conde, um humanista que veio a ser Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico e terminou seus dias como “stadhouder” de Cleves (Kleef), na Alemanha, permanece no imaginário brasileiro como o primeiro governante democrático, esclarecido e amigo das artes no País, criador de um projeto sem par na história colonial.

A Mauritshuis, na Haia, conhecida na época como “a casa do açúcar” e, hoje, um dos melhores museus de pintura do mundo, atesta a grandeza do personagem. Surpreendentemente porém, Maurício de Nassau é muito desconhecido nos Países Baixos. Sua passagem por Pernambuco, no entanto, serve como principal ponto de referência da Holanda no Brasil e é motivo de admiração por parte do povo brasileiro. A cidade do Recife, das mais importantes do Brasil, é até hoje conhecida pelo epíteto de Mauricéia ou Cidade Maurícia, e tem em Maurício de Nassau seu modelo de governante.

Após 1644, o Príncipe de Nassau foi substituído por administradores pouco talentosos. Na Europa, Portugal recobrara, em 1640, sua independência da Espanha, perdida em 1580. Os preços do açúcar na Bolsa de Amsterdam sofreram brusca queda. Os luso-brasileiros voltaram a , novamente empenhar-se em ações de guerrilha e finalmente formaram-se como exército. Todos estes fatores resultaram na expulsão dos holandeses, consolidada com a rendição da Campina do Taborda, em 1654. Tropas compostas de soldados brasileiros e portugueses, índios, negros, mulatos e mamelucos, sem auxílio de Portugal, fizeram da vitória contra os batavos o que se considera ter sido a primeira manifestação de brasileiridade. Esta guerra configura o nascimento da Pátria: a data da primeira batalha dos Guararapes, 19 de abril, é até hoje o Dia do Exército do Brasil.

O episódio do Brasil holandês teve seu desenlace em 1703. No contexto da aliança concluída entre Portugal, os Países Baixos e a Inglaterra, no decurso da Guerra de Sucessão da Espanha, Portugal indenizou a CIO e o Brasil retornou definitivamente à sua soberania. Mas os laços fizeram-se permanentes. Sem nunca ter merecido da historiografia neerlandesa maior atenção, o período de Maurício de Nassau constitui, para o Brasil, momento excepcional e muito valorizado da história do País.








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