terça-feira, 20 de março de 2012

COMO FAZER MONOGRAFIAS

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Como é organizado um texto bem redigido?
As partes que compõem o texto — a introdução, o desenvolvimento e a conclusão — devem se organizar de maneira equilibrada. A introdução é o ingresso no assunto e, nos ensaios bem redigidos, caracteriza-se como um argumento inicial. O desenvolvimento é a parte maior do ensaio, responsável pela relação entre a introdução e a conclusão. Esta, por sua vez, é o componente mais importante do texto. É a linha de chegada. Os dados apresentados, as idéias e os argumentos convergem para esse ponto em que se fecha a discussão ou a exposição.


1. Uma boa introdução
A introdução apresenta a idéia central do texto. Essa apresentação deve ser direta. Em um bom texto, o autor entra no assunto sem "rodeios", porque o ensaio é uma exposição objetiva que deve estimular o leitor a pensar sobre o conteúdo desde a leitura do título. Assim, é preciso evitar os "chavões", os lugares-comuns.


A introdução que serve a qualquer ensaio deve ser evitada, pois não serve para nenhum. Fuja de frases como "Desde os primórdios da civilização que o homem..." ou "O homem é um ser social". Frases que podem ser usadas para abrir diferentes temas são péssimas.

1a. O tamanho ideal
As introduções vagas, imprecisas, genéricas contrariam o caráter de tese que toda introdução deve ter. Nos textos bem redigidos, a introdução raramente excede a 1/5 do ensaio. Por ser uma colocação inicial, realmente não há por que ser longa. Assim, em uma redação de 40 linhas, por exemplo, a introdução não deve ir além das oito ou dez primeiras linhas. Com freqüência, introduções maiores do que 1/5 são um primeiro indicador de que os textos são malfeitos. Se isso acontece, é porque:

• O autor já está avançando no desenvolvimento.
• Há argumentos que não serão discutidos.
• Quem redige pode estar querendo "encher lingüiça".



1b. Ensaios curtos
A proporção de 1/5 só não vale para textos muito curtos, de 20 linhas ou menos. Nesses casos, a introdução pode exceder a esse tamanho, confundindo-se com o desenvolvimento.


Para lembrar:


Em uma redação de vestibular, por exemplo, em que se pede ao aluno para escrever apenas 15 ou 20 linhas, o melhor é considerar o próprio título como introdução e ir direto ao desenvolvimento.

Com essa estratégia, ganha-se espaço para os argumentos mais consistentes e o primeiro parágrafo pode ter mais de três ou quatro linhas, que correspondem a 1/5 do total de linhas solicitadas.

1c. Ensaios médios e longos
Nos ensaios longos, de várias páginas, a introdução pode ser um capítulo ou uma parte precedida por subtítulo. Nesse caso, poderá ter vários parágrafos. Em ensaios curtos, de 25 a 80 linhas, por exemplo, ela será o primeiro parágrafo.


A alienação social se exprime numa 'teoria' do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. (...)

Um exemplo desse senso comum aparece no caso da 'explicação' e da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça e ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade — sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante de sua sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das classes sociais — a dominante e dirigente — tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade.
A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de 'humanidade', ou da idéia de 'nação' e 'pátria', ou da idéia de 'raça' etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor etc.


A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as idéias. (...)


Marilena Chauí, Convite à Filosofia


2. Delimitação do tema
Se o tema do ensaio é muito amplo, podendo ser explorado de vários ângulos, às vezes é necessário delimitá-lo, fixando-se em um desses ângulos e aprofundando sua discussão.

Para lembrar:


Delimitar é reduzir a abrangência de um conteúdo.
A delimitação é feita geralmente na introdução e pode ser explícita ou implícita.


2a. Delimitação explícita
É aquela em que se utilizam as primeiras pessoas, singular e plural, do verbo — eu e nós. Desse modo, o autor faz-se presente no texto e anuncia claramente que está delimitando. Observe o exemplo ao lado, em que o autor emprega a 1ª pessoa do plural:



O que pretendemos com este trabalho é tecer algumas considerações gerais sobre o nível de formação, informação e interesses dos alunos que nos chegam para um curso de Literatura. Acreditamos que as observações que realizaremos podem ser aplicadas tanto aos alunos que ingressam no 2º grau, como àqueles que iniciam o curso superior.

Adilson Citelli, " O Ensino da Literatura no 2º Grau",
in Língua e Literatura: o Professor Pede a Palavra

2b. Delimitação implícita
Nesse caso, o leitor deduz que o tema está sendo delimitado, pois o autor não diz isso claramente. Ou seja, não há a presença do verbo nas primeiras pessoas. Mas, mesmo assim, percebemos que a discussão está sendo delimitada. Observe o exemplo abaixo:


Esta pequena obra visa ao estudante de Letras das nossas universidades, sem também perder de vista o secundarista e o vestibulando. É um resumo de teorias sobre os pontos fundamentais do estudo de Literatura, em nível bastante elementar, mas procurando ser informativo e, ao mesmo tempo, tentando orientar o estudante no intrincado dos problemas, sem todavia acumulá-lo com excessos doutrinários.

Afrânio Coutinho, Notas de Teoria Literária

2c. Quando usar uma ou outra delimitação
Essa decisão depende do autor, do objetivo de seu texto e de suas intenções com o seu leitor. Ou seja, o autor do texto deve ter sensibilidade para definir qual é o melhor caminho a seguir.


Em algumas situações, porém, a delimitação explícita pode ser arriscada ou um pouco pedante. Em um vestibular, que é uma situação bastante impessoal, pode parecer pretensão escrever o texto usando o verbo na primeira pessoa.

Em outros casos, o autor do texto pode ter segurança suficiente para utilizar a delimitação explícita, sem parecer presunçoso. O importante é não esquecer que o bom senso deve prevalecer sempre.

3. O desenvolvimento
As idéias, os dados e os argumentos que sustentam e explicam as posições do autor são apresentados nessa parte do texto.

Para lembrar:


O desenvolvimento orienta a compreensão do leitor até a conclusão.
Faz a relação entre a introdução e a conclusão.

Podemos comparar o desenvolvimento a uma ponte. De um lado, está a introdução. Do outro, a conclusão. Essa ponte é formada por idéias bem organizadas em uma seqüência que permite a relação equilibrada entre os dois lados. O desenvolvimento depende de outras partes. Isoladamente, a introdução e a conclusão podem fazer algum sentido. O desenvolvimento não tem essa autonomia, porque ele tem a função de relacionar trechos do texto.

3a. O ponto de vista do autor
É no desenvolvimento que o autor do texto revela toda a sua capacidade de argumentar. É aí que ele defende seus pontos de vista e, de forma inteligente, tem de dirigir a atenção do leitor para a conclusão. Nessa parte do texto, todas as possíveis linhas de argumentação devem ser consideradas. É que a antítese, ou o desenvolvimento, tem a função de fundamentar as conclusões.

3b. Organizar o desenvolvimento
Não dá para redigir um bom ensaio sem termos clareza de qual será a conclusão. Sem essa clareza é como se fôssemos iniciar a construção de uma ponte sem saber onde ela vai dar.

Para lembrar:


É arriscado começar a redigir um ensaio — ou a chamada "dissertação" — sem se ter a noção da conclusão a que se quer chegar. O risco é maior para quem está aprendendo a redigir. Por isso é tão importante planejar o texto.

3c. Distribuindo as idéias
Se a introdução deve corresponder a aproximadamente 1/5 do texto e a conclusão também, o desenvolvimento ocupará 3/5 dele, no mínimo. Em ensaios longos, o desenvolvimento pode ter capítulos ou trechos destacados por subtítulos. Em ensaios curtos, terá alguns parágrafos. Para o leitor, o ensaio deve parecer uma redação inteligente e bem estruturada, que constrói uma argumentação sólida e lhe permite conclusões enriquecedoras. Precisa ser saboroso e prender sua atenção, de forma que só no final ele complete satisfatoriamente o sentido da argumentação.

Para lembrar:


Todo texto pode (e deve!) ser surpreendente para o leitor, com suas conclusões muito bem fundamentadas. Para o autor, não. Não pode haver surpresas. É importante estar previsto antes da redação. Para isso, é preciso planejá-lo, principalmente prevendo a conclusão.

4. Evitar falhas
Muito cuidado com as falhas no desenvolvimento. Entre elas, existem duas principais:


• O desvio da argumentação — O autor toma um argumento secundário, por exemplo, e se distancia da discussão inicial; ou então, concentra-se em apenas um aspecto do tema e esquece a sua amplitude (toma a parte pelo todo).
• A argumentação desconexa — Acontece quando o autor tem muitas idéias ou informações sobre o tema e não consegue encadeá-las. Ele também pode ter dificuldade para estruturar suas idéias e definir uma linha lógica de raciocínio.

4a. O plano
As falhas do desenvolvimento podem ser evitadas se antes da redação o autor fizer um plano do que irá escrever.

Para lembrar:


O plano é um roteiro em que organizamos as idéias e a seqüência que iremos utilizar no texto. Ele deve ser o mais enxuto possível. Nos ensaios curtos, o plano deve prever pelo menos as partes do texto e os parágrafos. Nos ensaios longos, é bom incluir os subtítulos.

Retomando nossa imagem da ponte, o plano são os pilares que sustentam essa construção, mostrando sua lógica de raciocínio e antecipando, para quem escreve, o que depois aparecerá em uma seqüência clara e racional para o leitor.


O Plano da Redação
• Ao planejar um texto que irá discutir o uso de fotografias no ensino de História, o autor precisa ter clareza do público leitor e do tamanho, ou do número de linhas, que deve ter o seu texto.
• É necessário definir a maneira como montará a introdução — que, além de direta e objetiva, precisa apresentar o tema ao leitor e, mais do que isso, estimulá-lo a refletir sobre o assunto em questão. É importante pensar também no tamanho da introdução.
• Na seqüência, o roteiro define os argumentos ou as idéias que serão debatidas no desenvolvimento do texto. Pode ser uma idéia ou várias; o imprescindível é que ela faça a relação entre a introdução e a conclusão.
• O passo seguinte é pensar na "amarração" das idéias desenvolvidas e que, de forma sintética, levem a uma conclusão de seus pontos de vista.


5. A conclusão
Parte mais importante do texto, é o seu ponto de chegada. Os dados utilizados, as idéias e os argumentos convergem para este ponto em que a discussão ou a exposição se fecha. A conclusão tem o valor da síntese no pensamento dialético. E, na sua estrutura normal, não deve deixar abertura para continuidade da discussão. Em uma comparação, a conclusão é equivalente à resposta em um problema de Matemática.

5a. Concluir sem repetir
Um texto bem concluído é aquele que evita repetir argumentos já utilizados.


A repetição de argumentos e o uso de fórmulas feitas empobrecem qualquer redação. Fuja de expressões como: "Portanto, como já dissemos antes (...)" ou "Então, como já vimos (...)".

Além disso, o caráter de fecho da conclusão deve ficar evidente na clareza e força dos argumentos do autor. Portanto, é desnecessário e pouco elegante escrever "Concluindo (...)" ou "Em conclusão (...)".

5b. O tamanho ideal
Proporcionalmente, o tamanho da conclusão é equivalente ao da introdução, ou seja, 1/5. Essa é uma característica e uma qualidade de quase todos os textos bem redigidos. Nas conclusões que ultrapassam essa proporção; ou seja, naquelas que ficam muito longas, é possível que haja um dos seguintes erros:


• O desenvolvimento não é suficientemente explorado e invade a conclusão.
• O desenvolvimento não é suficiente para fundamentar a conclusão e há necessidade de mais explicações.
• O autor está "enrolando", "enchendo lingüiça", "floreando".
• O autor usa frases vazias, perfeitamente dispensáveis.
• O autor não tem clareza de qual é a melhor conclusão e se perde na argumentação final.
• Na falta de argumentos conclusivos de fato, o autor fica girando em torno de idéias paralelas ou redundantes.

5c. Quando a conclusão não conclui
A conclusão, é claro, deve concluir o texto. Por isso, não pode ser uma abertura para novas discussões. Existem exceções. Acompanhe em seguida algumas delas:


• O autor apresenta idéias polêmicas e deixa a conclusão em aberto para não influenciar o posicionamento do leitor.
• O autor não fecha a discussão propositalmente, estimulando o leitor a ler uma possível continuidade do texto, como um outro capítulo.
• O autor não deseja mesmo concluir, mas apenas apresentar dados e informações sobre o tema que está desenvolvendo.
• O autor quer que o próprio leitor tire suas conclusões e enumera perguntas no final.


Glossário

Chavão: fórmula muito repetida de escrever ou falar; lugar-comum.
Intrincado: obscuro, confuso, emaranhado, complicado.
Tema: é uma formulação que circunscreve e delimita um conteúdo. É o assunto de que se fala ou de que se vai falar.

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