domingo, 29 de agosto de 2010

2758 - HISTÓRIA DO ÔNIBUS NO BRASIL

A Exposição Nacional de 1908: o começo de uma era para o transporte por ônibus
História do Ônibus



Duzentos anos se passaram desde que o então príncipe de Portugal Dom João VI, a princesa Carlota Joaquina, toda a Família Real, incluindo o futuro príncipe Regente do Brasil, Dom Pedro I, com apenas 9 anos de idade, e mais 12 ou 15 mil pessoas da corte portuguesa desembarcaram no Brasil fugidos da invasão de Napoleão ao seu país. A primeira parada foi em Salvador, em janeiro de 1808. Em março, a Família Real chegava ao Rio de Janeiro para mudar definitivamente a história do Brasil. Entre os principais feitos de Dom João VI no novo país, a abertura dos portos para nações amigas foi, de acordo com historiadores, o mais importante. Mas, o príncipe foi responsável também pela Fundação do Banco do Brasil, pela construção de estradas para facilitar o comércio interno; pela criação da Imprensa Régia, com a liberação da impressão de jornais, livros e documentos; pela criação do serviço postal, para melhorar a comunicação entre as províncias; pela instalação de indústrias, e pela fundação da primeira Escola de Medicina e do primeiro teatro do Brasil, o Teatro São João, atual João Caetano. Em matéria publicada na edição número 506 da Revista Época, o historiador José Murilo de Carvalho afirma que “se a Família Real não tivesse se mudado para o Rio e se Dom João não tivesse feito tudo o que fez, o Brasil teria se esfacelado no processo de independência”.

Portanto, a data merece realmente ser comemorada. E foi exatamente o que fizeram, 100 anos mais tarde, os governantes do Brasil e da cidade do Rio, quando resolveram realizar uma grande exposição para marcar o centenário da chegada da Família Real e, em particular, da abertura dos portos para o comércio exterior. Nos primeiros anos do século XX, o Rio de Janeiro passava por grandes transformações. O prefeito Pereira Passos tinha a responsabilidade de reformar o traçado urbano, a partir de modelos parisienses, alargando ruas e abrindo avenidas, como foi o caso da Avenida Central, atual Rio Branco. Na área da saúde, coube a Oswaldo Cruz a difícil missão de promover o saneamento e combater doenças sérias, como a febre amarela, a varíola e a peste bubônica, e o fez com sucesso. Além disso, evoluíram também o fornecimento de energia elétrica, as atividades sócio-culturais, o comércio.




A Cidade Maravilhosa se mostra ao mundo

O Rio representava com louvor seu papel de capital da República. Já era hora de a Cidade Maravilhosa, alcunha criada pelo jornalista Coelho Neto, no jornal A Notícia, em 1908, e transformada em hino, em 1934, pelo compositor baiano André Filho, ser mostrada para o mundo. E essa era mais uma razão para a realização de um evento de grande porte, que comemorasse com gala os 100 anos que haviam se passado, desde a chegada de Dom João VI e do início das transações marítimas com outros países, que não apenas Portugal. De acordo com o livro “Conduzindo o Progresso – A História do Transporte e os 20 anos de NTU”, publicado no ano passado pela editora Escritório de Histórias, “a exposição seria como uma confirmação dessa abertura e o desejo que ela se ampliasse cada vez mais...” O objetivo, segundo o livro, era conquistar novos mercados para outros produtos, além do café, como borracha e algodão.



1931 – A linha de ônibus Praça Mauá – Leblon, no Rio de Janeiro,
foi inaugurada em 23 de abril de 1928 pela Viação Excelsior que pertencia à Light.
A linha Mauá – Leblon existe até hoje.

A grande “Exposição Nacional de 1908”, época em que Affonso Penna presidia o país e Souza Aguiar estava à frente da prefeitura do Rio, foi inaugurada no dia 11 de agosto, em um sítio que ia da Praia Vermelha até o antigo Hospício, hoje campus da UFRJ. Pavilhões em alvenaria foram especialmente erguidos para abrigar a mostra, que ficou dez meses em cartaz. Os pavilhões representavam os estados brasileiros e sua produção econômica, além de Portugal, país convidado. O conjunto arquitetônico montado para o evento oferecia ainda aos seus visitantes restaurantes, teatros, salas de cinema e uma linha férrea para transporte no interior da exposição.A reboque deste grande evento, vem a iniciativa de transportar as pessoas para o local da exposição. Assim surgiu o primeiro ônibus sem tração animal na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil e na América do Sul, o auto-ônibus. Era o começo de mais uma transformação na vida da cidade.



1950 – Ônibus de mecânica Leyland (inglesa) e carroceria Grassi, na Av.Brasil vindo da Av. Lobo Júnior, no Rio de Janeiro.
O veículo, da Viação Estrela do Norte, fazia a linha 98,
Vaz Lobo – Candelária 1949 – Ônibus de marca REO, americana, da linha
Nova Iguaçú – Praça Mauá. O modelo é provávelmente um 19, de 6 cilindros passando por Bento Ribeiro, subúrbio do Rio de Janeiro


História do transporte De 1908 a 1920

Antes disso, um fato importante motivou os futuros empreendedores do transporte. Em julho de 1906, ainda sob a gestão de Pereira Passos, foi regulamentada no Rio a lei número 1.093, isentando de novos impostos por 20 anos “a todos quanto se propusessem a fazer trafegar, no Distrito Federal, ônibus automóveis destinados unicamente ao transporte de passageiros e cargas”. Assim, vislumbrando as possibilidades de bons negócios para atender ao grande evento que estava por vir e, certamente, incentivado pela isenção de impostos, o empresário Octavio da Rocha Miranda resolveu investir no transporte de passageiros, mesmo em caráter provisório, inaugurando a primeira linha de ônibus urbano motorizado do Brasil, ligando o Passeio Público à Praça Mauá pela Avenida Central. Na época da exposição, fazia viagens entre a Avenida Central e a Praia Vermelha, levando os visitantes da mostra.



1933 – Ônibus Guy-Daimler
com mecânica Daimler, chassis Guy e carroçaria feita nas oficinas
da Light. À frente, um bonde da Cia. Ferro-Carril Jardim Botânico.

Em dezembro de 1911 foi fundada a Empreza Auto-Avenida, sociedade entre Octavio Mendes de Castro e Rocha Miranda, que passa a oferecer um serviço definitivo na linha entre Avenida Central (esquina rua do Hospício, atual Buenos Aires) até a Praia Vermelha. Já em 26 de junho de 1913, outro contrato de serviço de auto-ônibus, que passaria a operar uma nova linha, ligando a Avenida Central à Praça Tiradentes, era firmado com o empresário Francisco Nilmar. Neste mesmo ano, foi assinado contrato entre a Empreza Industrial Rio de Janeiro e a Prefeitura do então Distrito Federal, para implantação de uma linha regular de auto-ônibus entre a Avenida Central e o bairro de Copacabana, com veículos mais espaçosos, que entraram em operação também em 1913. Ainda neste período, foi inaugurada a linha Rua dos Beneditinos – Praça da Bandeira. De acordo com o site www.rota.notlong.com, sobre a memória do transporte público, criado pelo arquiteto Marcelo Almirante, um admirador do assunto, a cidade do Rio contava com 27 ônibus em operação no ano de 1913.



A rara foto da década de 30 mostra um ônibus do tipo "mamãe me leva", construído pela Grassi em São Paulo, com mecânica International. A construção, com bancos em platéia e balaústres, lembra os bondes da época O primeiro ônibus a realizar serviço de transporte de passageiros para a localidade de Campo Grande, no município do Rio de Janeiro. Chevrolet 1927


Já entre 1916 e 1917, segundo o cadastro de controle de veículos da Prefeitura do Distrito Federal, não havia registro de ônibus na cidade, o que indica a inexistência de linhas. Mas, ainda de acordo com o site de Almirante, considerado uma das mais fiéis fontes sobre a história e cronologia do transporte, em dezembro de 1917, é organizada a Empreza Transporte Comércio e Indústria, dirigida por José Pereira dos Santos Bastos. Um ano antes, em novembro de 1916, foi firmado um terceiro contrato, com o inglês D. L. Wheatley, para a instalação e manutenção de um serviço de auto-ônibus entre a Praça Mauá e o Palácio Monroe, pela Avenida Central. O serviço só entraria em operação em agosto de 1918, com veículos elétricos, movidos a bateria. Em dezembro do mesmo ano, Wheatley transfere para a Light a concessão da linha, conhecida como Auto-Avenida. “Os carros elétricos eram renomados pelo seu conforto, com rodas de borracha maciça, sem barulho, vibração, fumaça, ou os inconvenientes dos carros a gasolina. A passagem custava 200 réis”, diz o site de Almirante. Esses ônibus circularam durante dez anos, aproximadamente até 1928, quando foram substituídos por veículos a gasolina.



Este lotação fazia a linha Praça Mauá-Nilópolis (Rio de Janeiro) em 1954.
O veículo, um ônibus REO 1941, tinha motor de 6 cilindros a gasolina.

Selo comemorativo

Para celebrar os 100 anos do ônibus com motor a explosão no Rio de Janeiro, a Fetanspor, em parceria com os Correios, lançou selo comemorativo alusivo à data. Por não ter valor comercial, o selo personalizado deve ser colocado sempre junto a outro, comum.





Fontes de pesquisa:

Livros “Conduzindo o Progresso – a História do Transporte
e os 20 anos da NTU”, Escritório de Histórias

Revista Época, edição nº 506, de 28 de janeiro de 2008.

Site “Memória do Transporte Público” (www.rota.notlong.com), de Marcelo Almirante.

Fotos: www.museudantu.org.br









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