sexta-feira, 22 de junho de 2012

RUY BARBOSA: LIÇÕES DE COISAS

Primeiras Lições de Coisas (Venancio Mol) -------------------------------------------------------------------------------- PRIMEIRAS LIÇÕES DE COISAS MANUAL DE ENSINO ELEMENTAR Para uso dos PAES E PROFESSORES A tradução que Rui fez de N. A. Calkins , Primeiras LIÇÕES DE COISAS foi publicada em 1886, três anos depois da publicação de Métodos e Programa Escolar, em 1883. Com toda a certeza, Rui Barbosa publicou esta tradução para que ela servisse de suporte de aplicação, de trabalho prático, aos Métodos e Programa Escolar. No prefácio da primeira edição de Calkins de Lições de Coisas, encontramos: --- "Não pela descripção oral, mas pela inspecção real dos objectos, há de começar o ensino. Por essa inspecção é que se adquire o conhecimento certo das coisas. O que efectivamente se vê, mais depressa se imprime na memoria, do que verbalmente expendido ou enumerado cem vezes" (João Amos Comenius, seculo dezessete) --- "A observação é absolutamente a base de todo o conhecimento. O que antes de tudo, pois, se deve ter em mira, na educação, é habituar o menino a observar exacta, e depois a exprimir correctamente o resultado do que observar." (Pestalozzi, seculo dezoito) Trechos retirados do PREAMBULO DO TRADUCTOR --- página VI e VII --- "De feito, o que até hoje se distribue em nossas escolas de primeiras lettras, mal merece o nome de ensino. Tudo nellas é mechanico e esteril; a creança, em vez de ser o mais activo collaborador na sua propria instrucção, como exigem os canones racionaes e scientificos do ensino elementar, representa o papel de um recipiente passivo de formulas, definições e sentenças, embutidas na infancia a poder de meios mais ou menos compressivos. O mestre e o compendio affirmam, o alumno repete com a fidelidade do automato; e o que hoje aprendeu, sem lhe deixar móssa mais que na memoria, amanhã dessaberá, sem vestigios, na intelligencia, ou no caracter, da minima impressão educativa. E' o dominio absoluto do "verbalismo", esse vicio, atrophiador da energia mental das gerações nascentes, que uma das maiores autoridades da França (Michel Bréal), nestes assumptos accusava, depois da catastophe nacional de 1870, como a chaga de que mais soffria a educação naquele paiz. Estamos ainda completamente nessa phase da cultura intellectual, em que, para me servir das palavras de um dos espiritos mais vastos deste seculo, "o entendimento das creanças verga ao peso de generalidades, antes de possuir nenhum dos factos concretos que as autorizam; em que as mathematicas se acolhem na escola sob a fórma puramente racional, posta á margem a sua feição empirica, a única por onde as devia principiar o menino, como as encetou a especie humana; em que um assumpto abstracto como a grammatica figura entre os primeiros, quando se havia de retardar para entre os ultimos, e se ensina, em vez de synthetica, analyticamente." (Herbert Spencer) Esses methodos empecivos e funestissimos incorrem hoje na mais geral condemnação; e a experiencia dos paizes modelos indigita, as lições de coisas, o ensino pelo aspecto, pela realidade, pela intuição, pelo exercicio reflexivo dos sentidos, pelo cultivo complexo das faculdades de observação, como o destinado a succeder triumphantemente aos processos verbalistas, ao absurdo formalismo da escola antiga." 1 - New Object Lessons. Primary object lessons for training the senses and developing the faculties of children. A Manual of elementary instruction for parents and teachers --- página XI, XII, XIII e XIV --- "O ensino intuitivo condemna as nomenclaturas. Foge de tudo quanto é arbitrariamente convencional e formalistico. Repudia as noções a priori. Não tem por fito sortir a mente da creança de uma provisão, mais ou menos copiosa, de informações a respeito das coisas reaes, mas educar-lhe as faculdades no habito de desentranharem, com segurança, do seio da realidade a expressão de sua natureza e das suas leis. Circunscreve a parte cathechetica, didactica, expositiva da missão do professor. Restitue aos factos, directamente consultados pelo alumno, a parte preponderante, que lhes cabe, na educação do homem. Não permite que o professor veja, oiça, compare, classifique, conclua pelo discipulo. Cinge-se, quanto ser possa, a facilitar ao estudantinho primario as condições da observação e da experiencia, solicitando-o constantemente a exercer todas as aptidões, sensitivas e mentaes que põem a intelligencia em communicação viva com o mundo exterior. Não é uma secção do programma escolar, um assumpto independente, com o seu espaço reservado no horario: é o fundamento absoluto de toda a educação elementar, o sôpro que há de animal-a em todas as suas partes, o methodo que se deve apoderar exclusivamente de toda ella, e affeiçoal-a inteiramente ás suas leis. Num escripto acerca desse processo pedagogico, um sabio educador allemão, F. Busse, o director da escola superior de meninas em Berlim, estabelecia-lhe os fins immediatos com a mais correcta precisão. 1. O ensino objectivo ha de adaptar-se ao caracter especial de meio de educar os sentidos. Essa educação consistirá em exercicios de observação, que desenvolvam a energia latente em cada sentido, com particularidade a da vista. 2. O fim principal do ensino intuitivo será desenvolver os modos de observar as condições de applicação das leis do pensamento. A estes denominaremos exercicios de reflexão. 3. O outro instituto essencial seu é o desenvolvimento da linguagem, consistindo todas as lições desta ordem em exercicios de falllar, e escrever. Tudo está, em summa ( e nisto reside a intenção geral deste methodo), em reunir o cultivo dos sentidos, o da razão, o da palavra, e encaminhal-os todos ao mesmo passo. Na base primordial de tudo avulta a cultura dos sentidos, á qual cumpre recorrermos como o principal instrumento de todo o ensino. Milhares de creaturas humanas têm vista, e não vêem; ouvido, e não ouvem. Milhares há, capazes de percorrer museus, sem aprenderem coisa nenhuma; e o facto é que nada viram, porque não têm a intelligencia do que alli se lhes deparou. Cega é a observação, si o espirito foi incapaz de representar e conceber o que presencêa. Exercicios reaes de observação, sem exercer o pensamento, são impossiveis. De outro lado, antes perniciosa que salutar será a influencia dos exercicios de pensar, se não buscarem na observação viva essa fonte de insuperavel attracção, que ella encerra. E, porque seja facto evidente que não ha concepção e representação intellectual sem palavra, não nos sendo possivel pensar senão mediante a linguagem, - a observação reflexiva e a reflexão observativa, par a par com o cultivo incessante da lingua vernacula, constituem o escopo essencial do ensino objectivo... "Não ha coisa mais despropositada que esta especie de ensino sem a observação actual (inspecção). Nunca lhe caberá justa e correctamente o titulo de ensino objectivo, nem se lhe poderá reconhecer a natureza intuitiva, emquanto se não firmar na observação immediata das coisas e suas relações. Pela observação directa facilmente se obterá o que nunca lograrão explicações copiosas e longas definições." O exame attento do livro com que nos propuzemos enriquecer a litteratura escola em nossa lingua, demonstrará que o juizo magistral dos profissionaes na exposição de Philadelphia não se enganou. Esta obra corresponde ás exigencias do methodo intuitivo, tanto quanto a expressão escripta da vida nas paginas de um livro pode-se aproximar da vida mesma na plenitude da sua acção real. Em parte nenhuma encontrareis nella os moldes rijos da cartilha ou do compendio. Em nenhum dos seus conselhos ao professor vereis attribuido á memoria esse papel de movel de marchetaria, que lhes reservam os methodos em voga. Tudo nella respeita a liberdade da vocação no mestre e a espontaneidade de acção no alumno. Emfim, si houvessemos de compendiar nalgumas palavras o espirito que constantemente anima o livro de Calkins, tel-o-hiamos substanciado nesses bellos periodos, em que, ha menos de um anno, se exprimia uma das pennas mais celebres de hoje na esphera desses assumptos: "A escola não desenvolverá na creança a actividade, a espontaneidade e o raciocinio, si não tiver as janellas abertas para a cidade, para a natureza, para a vida. Tudo o que permanece no estado de fórmula, tudo o que se refolha sob a lettra, é morto, emquanto o espirito não fizer surgir das palavras a coisa visivel e palpavel, activa, envolvida em nossa existencia, que nos espera ao sahirmos da escolar, para ser examinada, interrogada, e revelar-nos os seus segredos." COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO

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