quarta-feira, 2 de maio de 2012
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A introdução da telegrafia elétrica no Brasil
(1852-1870)
The introduction of electric telegraphy in Brazil (1852-1870)
MAURO COSTA DA SILVA
ILDEU DE CASTRO MOREIRA
Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ
RESUMO: A invenção da telegrafia elétrica e sua expansão pelo mundo foram dos maiores feitos científicos e tecnológicos
do século XIX. Este artigo apresenta e analisa o início da telegrafia elétrica no Brasil durante o segundo império, com
enfoque nas linhas terrestres construídas pela Repartição Geral dos Telégrafos, sob a direção de Guilherme Schüch de
Capanema. É mostrado o crescimento das linhas telegráficas durante os anos iniciais e o efeito da Guerra do Paraguai
sobre a extensão dessas linhas.
Palavras-chave: telégrafo; telegrafia; Capanema.
ABSTRACT: The invention of electric telegraphy and its expansion through the world were the highest scientific and
technological accomplishments of the XIX century. This article presents and analyses the beginning of electric telegraphy
in Brazil during the second empire, with focus on terrestrial lines constructed by the Telegraph Office, under direction of
Guilherme Schüch de Capanema. It is shown the development of telegraphic lines during the first years and the effect of
Paraguay‘s War over the extension of this lines.
Key words: telegraph, telegraphy, Capanema.
Introdução
A invenção da telegrafia elétrica e sua expansão pelo mundo, iniciada na primeira metade do
século XIX, celebrizou um dos principais momentos de interação entre a pesquisa científica e o desenvolvimento
tecnológico, alinhados a interesses políticos, financeiros e comerciais. As recém
descobertas da eletrodinâmica e do eletromagnetismo, ocorridas no início do século XIX, fizeram da
eletricidade um foco de atenções dos físicos da época. A rapidez com que a corrente elétrica se deslocava
nos condutores fez com que se iniciassem várias tentativas de utilização da eletricidade para a
transmissão de informação. Os resultados foram diversos. Construíram-se sistemas de transmissão
telegráfica utilizando vários fios condutores e um complexo sistema de codificação e decodificação da
mensagem1. Nos Estados Unidos, Samuel Finley Breese Morse (1791-1872) inventou um sistema
telegráfico que exigia apenas um único fio, além dos aparelhos de transmissão e recepção e um código
batizado com seu nome. Esse sistema de telegrafia representava uma enorme simplificação e economia
nos custos de implantação e manutenção em relação aos sistemas de telegrafia anteriormente
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inventados. Em 1838, Morse registrou sua patente, e, em 1844, a primeira linha elétrica telegráfica ligou
Baltimore a Washington, numa distância de sessenta e quatro quilômetros2. A utilização de um fio
único foi, em parte, possibilitada pela criação de um código baseado na emissão de curtos e longos
impulsos de corrente elétrica traduzidos em pontos e traços que, combinados, representavam letras e
números, o conhecido Código Morse. O sistema de transmissão inventado por Morse tornou possível
a rápida expansão da telegrafia elétrica verificada a partir da década de 1840. Nessa ocasião, Inglaterra,
França, Prússia, Áustria, península itálica e Estados Unidos construíram redes telegráficas terrestres
em seus territórios.
Na Europa, na década seguinte, as redes telegráficas nacionais foram interligadas às de outros
países, iniciando uma grande rede de comunicação que cobria quase todo o continente. A Grã-Bretanha,
em função de suas características geográficas, procurou desenvolver a telegrafia submarina a fim de
não ficar isolada das comunicações com o resto do mundo e ainda preservar sua posição de potência
hegemônica da época. A colocação de cabos isolados na água mostrou-se mais complexa do que
inicialmente se pensava. O sucesso do cabo submarino instalado no Canal da Mancha, em 1851, não
se repetiu quando se tentou utilizar cabos com extensões maiores. As dificuldades de recepção do sinal
telegráfico percebidas quando os cabos telegráficos eram submersos ou enterrados, tornaram-se desafios
para físicos e engenheiros. Após vários fracassos na tentativa de instalação de um cabo submarino
ligando os Estados Unidos à Europa, foi formada uma comissão composta de técnicos para estudar o
problema, entre eles William Thomson (1824-1907) e James Clerk Maxwell (1831-1879). Entre outros
resultados, essa comissão estabeleceu os padrões de unidades elétricas utilizados até hoje3. O cabo
atlântico foi instalado com sucesso em 1866.
Ainda na década de 1850, assim como ocorreu nos países mais desenvolvidos na década anterior,
iniciou-se em alguns países fora do eixo América do Norte – Europa o desenvolvimento de redes
telegráficas elétricas locais. A motivação e o modo pelo qual essas redes foram construídas diferenciam-
se caso a caso, mas a discussão presente em quase todos os países era de como realizar o
empreendimento telegráfico. Deveria o governo de um país contratar uma empresa de telegrafia estrangeira
ou realizar a obra através de uma empresa telegráfica estatal própria? Um dos principais
argumentos contra a primeira alternativa era permitir que uma nação estrangeira tivesse acesso a informações
importantes do governo. Contra a segunda havia, normalmente, a falta de recursos humanos,
financeiros e técnicos. Isso acarretaria, em princípio, um tempo maior para conclusão de uma linha
telegráfica que o contratado por uma empresa estrangeira.
No Brasil, essas questões também estiveram presentes. Este artigo vai descrever e analisar a
introdução e o desenvolvimento da telegrafia elétrica no Brasil, entre 1852 e 1870, mostrando os fatores
que motivaram a implantação e o seu desenvolvimento, bem como as dificuldades enfrentadas4.
O telégrafo óptico
Assim como em vários países europeus, no Brasil já havia algumas linhas de telégrafos ópticos
anteriores aos telégrafos elétricos. Elas operavam em certos pontos do Império, sobretudo no Rio de
Janeiro. Os primeiros foram construídos em 1809, entre as cidades de Cabo Frio e Rio de Janeiro. A sua
principal utilização era o aviso da chegada de navios e a comunicação deles com os portos. Os telégrafos
elétricos estavam localizados em Ponta Negra (Maricá), Cabo Frio, Itaipu (Niterói) – região litorânea
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ao norte da cidade do Rio de Janeiro –, nos morros da Babilônia (Copacabana) e do Castelo, e nas
fortalezas de Villegagnon5 e Santa Cruz, localizadas na entrada da Baía de Guanabara. O Morro do
Castelo, de onde não se avistavam as embarcações fora da barra, anunciava ao público, por meio de
sinais de bandeiras, as notícias que recebia da Fortaleza de Santa Cruz e do Morro da Babilônia. Eram
informações sobre os tipos e as nações das embarcações avistadas6.
Do Morro do Castelo se transmitiam as notícias para a Quinta da Boa Vista, onde estava o
Palácio Imperial, no bairro de São Cristóvão. Havia ainda uma linha de semáforos do Palácio para a
Fazenda Santa Cruz, a 11 léguas7 de distância da cidade, que tinha postos nos bairros de Cascadura,
Monte Alegre, Viegas (Campo Grande), Santa Clara e Fazenda Santa Cruz. Com a morte do príncipe
D. Pedro Afonso aos dois anos de idade, ocorrida na fazenda Santa Cruz, em 1850, a família imperial
deixou de freqüentar a fazenda transferindo posteriormente para Petrópolis o local de veraneio do
Imperador8. Com o desuso do local pelo Imperador, o pessoal dos semáforos foi reduzido a um guarda
para cada posto, para que não se arruinassem. Existiram também telégrafos ópticos na Bahia, em
Pernambuco, no Ceará, no Maranhão e em Santa Catarina para comunicação entre fortalezas.
À semelhança do que ocorrera em outros países, como na França9, a introdução dos telégrafos
elétricos no Brasil não provocou imediato sucateamento dos telégrafos ópticos; pelo contrário, os serviços
foram interligados como na estação do Morro do Castelo, onde as notícias recebidas dos navios pelo
telégrafo óptico eram repassadas através do telégrafo elétrico.
A primeira linha
Os primeiros ensaios para a introdução do telégrafo elétrico no Brasil datam de 1851, e contaram
com o incentivo do Ministro da Justiça, Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso Câmara (1812-1868), e
o apoio de um personagem central no desenvolvimento da telegrafia no país, Guilherme Schüch de
Capanema10 (1824-1909), lente de física da Escola Central11.
O conhecimento dos progressos que, no exterior, ia fazendo a aplicação da eletricidade à telegrafia
despertou também o interesse para seu uso no Brasil. Em 1851, o governo brasileiro recebeu, por meio
de um ofício do Ministro do Brasil em Washington, conselheiro Sergio Teixeira de Macedo, uma proposta
do norte-americano J. L. Leonardt para estabelecer comunicação telegráfica entre diversas cidades do
império brasileiro. No entanto, o empresário faleceu durante as negociações com o governo brasileiro
em 1851. O ministro Eusébio de Queiroz, ao receber a notícia da morte de Leonardt, pediu ao conselheiro
Macedo que buscasse outros interessados na empreitada telegráfica em solo brasileiro, mas com os
devidos cuidados e sem maiores comprometimentos12. Foi durante a sondagem para uma solução
externa que a telegrafia elétrica daria seus primeiros passos no Brasil. Isso ocorreu a partir de uma
experiência fracassada instigada por Eusébio de Queiroz.
Ao que parece, o Ministro da Justiça pretendia utilizar o telégrafo elétrico como um instrumento
para ajudar no cumprimento da lei de sua autoria, conhecida como lei Eusébio de Queiroz, de 1850,
que proibia o tráfico de escravos no Brasil a partir da sua publicação13. As ações governamentais para se
combater o comércio de escravos eram tímidas e tinham por finalidade muito mais dar algum tipo de
satisfação à Inglaterra, da qual o império brasileiro tinha forte dependência política, do que combater
efetivamente o tráfico escravista. A economia do Império estava por demais vinculada à mão-de-obra
escrava para que o assunto pudesse ser tratado com a simples elaboração de leis ou a ação policial.
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O interesse econômico no comércio escravo, em particular da estrutura política escorada nos grandes
proprietários de terras, nos exportadores e coronéis, oferecia na prática todo tipo de dificuldades às
iniciativas contrárias a ele. A telegrafia elétrica surge no Brasil dentro deste contexto: motivada real ou
supostamente para servir como instrumento de combate ao tráfico negreiro. Embora esse combate
não tenha se efetivado, o telégrafo poderia ter contribuído na comunicação rápida entre as fortalezas e
a polícia, quanto ao aviso de chegada de navios não identificados e a ação coercitiva da polícia.
O primeiro técnico a quem Eusébio de Queiroz recorreu para realizar o seu projeto de testar o uso
do telégrafo para possibilitar o combate ao tráfico negreiro foi Francisco Paula Candido14 (1805-1864),
lente de física da Escola de Medicina, em 1851. A experiência deveria realizar-se entre o Quartel da
Polícia, na Rua dos Barbonos, atual Rua Evaristo da Veiga, e a estação do telégrafo óptico do morro do
Castelo. As condições para a experiência eram bastante precárias e não é de se estranhar que nenhum
sinal tenha sido recebido na outra extremidade da linha: o fio era de cobre, envolto em seda e embebido
em resina; os isoladores feitos de fundo de garrafas; os aparelhos, que eram do sistema Breguet15,
foram obtidos por empréstimo pelo coronel Polydoro Quintanilha da Fonseca Jordão16, comandante
da polícia, ao professor Guilherme Schüch de Capanema, na Escola Central, onde eram usados no
estudo da eletricidade aplicada.
Alguns dias depois, o coronel Polydoro os restituía a Capanema afirmando: “Tome lá as suas
máquinas, que não prestam”. Contestando essa avaliação dos aparelhos, Capanema colocou um deles
sobre uma mesa em frente ao coronel Polydoro, levando o outro para uma sala vizinha. Ligou-os por
meio de um fio que, saindo por uma janela, rodeou as salas e entrou por outra. Daí a pouco o coronel
estava soletrando algumas palavras que o ponteiro ia marcando; depois, tomando a manivela, deu a
resposta. Segundo relato de alguns presentes na primeira transmissão telegráfica teria sido enviada a
seguinte mensagem: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”17.
Ao saber da experiência bem-sucedida, o ministro Eusébio de Queiroz solicitou a Capanema
uma relação de material necessário para estender uma linha subterrânea entre a Quinta Imperial e o
Quartel do Campo (localizado no atual Campo de Santana), além de linhas entre as Secretarias da
Polícia e da Justiça e a estação do Castelo. O Cônsul Geral do Império do Brasil na Prússia, J. D. Sturz,
foi então encarregado da compra do material especificado por Capanema: aparelhos telegráficos Morse
e cabos isolados com guta-percha envoltos em chumbo. Em correspondência trocada entre o Cônsul e
o fabricante alemão E. Stochrer, de Leipzig, nas datas de 13, 16, 19, 24 e 27 de novembro de 1851, ficou
acertada a seguinte relação de material18: 6 barris contendo arame e fio de cobre para telégrafo [recebidos
pela Alfândega em 15 de março de 1852]; 10 volumes contendo arame e aparelhos [recebidos pela
Alfândega em 14 de maio de 1852]; 1 caixa contendo papel para telegrafista [recebido em 11 de março
de 1852]; outras 5 barricas com a marca K.B.M. [que foram estocadas no Quartel dos Permanentes,
vindas de Hamburgo]; 3 aparelhos telegráficos Morse de 2 cavilhas; 3 galvanômetros; 3 baterias elétricas
de 10 elementos; 6 quintais de fio de cobre; 400 isoladores.
Quando da chegada do material, a partir de março de 1852, Capanema pessoalmente tratou da
colocação do cabo nas valas abertas pelos presos da Casa de Correção, o atual presídio da Rua Frei
Caneca. Como auxiliares, Capanema teve os acadêmicos da Escola Central, José Joaquim de Oliveira,
Ernesto Gomes Moreira Maia e Bento José Ribeiro Sobragy. Assim que o serviço ficou pronto, o telégrafo
passou a funcionar bem. Na inauguração, ocorrida em 11 de maio de 1852, telegramas foram trocados
entre o Imperador, que se encontrava na Quinta de São Cristóvão, e Eusébio de Queiroz e Capanema,
que estavam no Quartel General, no Campo da Aclamação, atual Campo de Santana19.
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Durante a negociação para aquisição do material, foi também sugerida pelo fabricante a contratação
de um técnico para acompanhamento dos trabalhos de implantação das redes telegráficas. Inicialmente
foi indicado o técnico Schümael, que, após contatos iniciais feitos na Alemanha, não foi mais encontrado.
Em substituição a ele, foi contratado o engenheiro, pirotécnico e tipógrafo Francisco Schusterchutz, de
Viena, que já havia participado da construção de telégrafo em Viena, Berlim e Stuttgart20. Como
pirotécnico, Schusterchutz havia trabalhado durante nove anos para o exército da Prússia, e por isso foi
também sugerida ao Ministro da Guerra, Manuel Felizardo de Souza e Melo (1805-1866), a utilização
de sua mão-de-obra nas oficinas do Arsenal de Guerra. Sua contratação se deu em 28 de maio de 1852,
e ele, entre outras atividades, ficou incumbido de montar a linha entre o Arsenal de Guerra e o Arsenal
da Marinha21. Não obtivemos informação de quanto tempo ele permaneceu no Brasil depois da construção
dessa linha.
Tem-se aí a repetição de um certo padrão encontrado no mundo todo, que era a contratação de
pessoal experiente, normalmente, europeu ou norte-americano, para o início da telegrafia. Assim
ocorrera ou viria a ocorrer em países como a Índia, Indochina, Rússia e Japão, para citar alguns
exemplos22. Com a contratação de mão-de-obra estrangeira, buscava-se adquirir a experiência obtida
pelos países que desenvolveram sua telegrafia uma década antes. Além de suprir a carência de pessoal
habilitado para implantação do telégrafo, era importante também que esse conhecimento fosse
repassado aos naturais da região. Esse era um dos desafios a ser encarado pelos países não europeus:
capacitar seu pessoal para a criação, expansão e manutenção da rede telegráfica, para que não ficassem
sempre submetidos ao conhecimento e à técnica estrangeira. Em alguns países houve a preocupação
de não deixar que fosse criado um vínculo permanente de dependência tecnológica com os países
mais desenvolvidos. Nessa direção, algumas soluções diferentes foram tomadas por países periféricos,
como o Japão, que enviou à Europa uma turma de jovens engenheiros para que se especializassem em
telegrafia, e a do Império Otomano, que criou uma escola telegráfica em seu território. No Brasil, o
treinamento de pessoal foi uma preocupação constante de Capanema, que, desde o início da telegrafia,
buscou fazê-lo pessoalmente, lecionando para os novos operadores de telégrafo, ou, mais tarde, exigindo
que seus auxiliares o fizessem.
Os três primeiros anos – tempos de calmaria e lentidão (1852-1855)
Nos primeiros tempos após a implantação da primeira linha telegráfica, em 1852, pouco ou quase
nada se fez quanto à construção de novas linhas. Em 1854, foi elaborado um projeto para construção
das primeiras estações telegráficas na Corte do Rio de Janeiro. Por meio do aviso do Ministro da Justiça,
José Thomas Nabuco de Araújo (1813-1878), de 17 de janeiro de 185423, ficava estabelecida a Secretaria
da Justiça como centro telegráfico, que se comunicaria simultaneamente com as demais estações que
seriam criadas: Arsenal de Guerra, Arsenal de Marinha, Barra, Secretaria de Polícia, Quartel de
Permanentes, Paço da Cidade, São Cristóvão, Petrópolis, Quartel de Permanentes de Niterói. Para além
do perímetro urbano, seguiria a linha pelo caminho de Botafogo até a Lagoa, pela estrada do Andaraí
até a Tijuca, pelas Laranjeiras até o Corcovado.
O aviso fazia também menção à contratação de engenheiros na América do Norte ou na Europa,
à especificação de aparelhos a serem adquiridos e à elaboração de uma planta da cidade com as estações
e distâncias relevantes24. Estabeleceu ainda como prioridade imediata para Capanema a comunicação
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entre a Secretaria de Justiça, a Secretaria de Polícia, o Quartel de Permanentes e o Paço de São Cristóvão,
com o uso dos aparelhos disponíveis. Apesar de estarem sendo estabelecidas prioridades para o trabalho
de Capanema, ele ainda não ocupava nenhum cargo oficial como responsável pelos telégrafos.
Uma questão de ordem prática foi a solicitação feita por Capanema ao Ministro da Justiça para a
construção da linha entre o Quartel de Permanentes e a Secretaria de Polícia. Foi pedido que os
proprietários, cujas casas seriam utilizadas para a fixação de grampos de ferro nas paredes para
sustentação dos isoladores, fossem previamente avisados, e que o aviso fosse feito pela polícia, alertandoos
também para que não danificassem o fio25. A preocupação com o vandalismo já estava presente;
Capanema havia sido inclusive alertado pelo fabricante alemão Stochrer quando da aquisição dos
materiais em 1851, para que se comprassem isoladores além do necessário, pois “[...] muitos se quebram
no transporte ou podem ser destruídos por maldade”26. Apesar de relatos sobre tiros que usavam os
isoladores como alvo ou danos causados às linhas, somente após 18 anos de inaugurada a primeira
linha telegráfica, seria criada uma lei que permitia punir atos de vandalismo27.
As linhas previstas no aviso de 17 de janeiro de 1854 haviam inicialmente sido imaginadas como
subterrâneas, mas foram posteriormente modificadas para linhas aéreas, possivelmente pelo menor
custo de implantação desse tipo de linha e maior facilidade de manutenção, não obstante a apreensão
por parte dos responsáveis sobre o fato de estas ficarem expostas às intempéries da natureza e a atos
de vandalismo.
Um fato curioso que merece a citação é a interceptação do cabo telegráfico pela tubulação de gás
da iluminação pública28. Representa um sinal dos tempos, ver que a cidade do Rio de Janeiro já começava
a apresentar problemas típicos das cidades modernas, com a disputa do subsolo urbano pelos serviços
públicos de infra-estrutura.
O aviso de 17 de janeiro de 1854 era de fato um primeiro plano de ação para a implantação dos
telégrafos na Corte. Sua importância está em ter dado diretriz inicial para o estabelecimento do serviço
telegráfico brasileiro. Bem modesto, é verdade, pretendia-se naquele momento criar um novo sistema
de comunicação, similar ao que já ocorria em outras partes do mundo na mesma época. Mesmo assim,
o cumprimento desse plano inicial levaria alguns anos para se consolidar.
No entanto o serviço claudicava já na sua fase inicial. Aparelhos e linhas estragavam-se por falta
de uso e de manutenção. O plano divulgado pelo aviso de 17 de janeiro não veio acompanhado dos
meios necessários para a sua execução. A falta de recursos e de uma estrutura mínima de trabalho para
a telegrafia elétrica foi motivo de várias reclamações de Capanema a seus superiores, exemplificada
em uma correspondência ao Ministro da Justiça José Thomas Nabuco de Araújo, de 1 de dezembro de
1854. Nessa carta, Capanema alerta para três pontos importantes: a deterioração das linhas e aparelhos
já instalados por falta de utilização; a ausência de engenheiros já solicitados para exploração do
terreno por onde passariam as linhas previstas no aviso de 17 de janeiro daquele ano, o que acarretava
um natural atraso e a falta de investimentos, sem os quais não se faria telegrafia. Cita que nos
demais “países onde existem linhas telegráficas, só chegaram ao estado em que se acham possuindo
consideráveis capitais”29.
Capanema, por conhecer bem o cenário europeu, tinha consciência da importância da telegrafia
no mundo e dos esforços canalizados pelos governos dos países que, direta ou indiretamente, promoviam
o seu desenvolvimento. Mesmo nos países fora do eixo norte-americano e europeu, os telégrafos
regionais tiveram um tratamento marcado pelos interesses econômicos, políticos e militares ligados
ao novo serviço: com o desenvolvimento da integração nacional; com reforço do poder de um comando
central; o estímulo ao comércio; a defesa e a proteção do território e de suas fronteiras.
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A partir da instalação das primeiras linhas telegráficas na década de 1840, houve um crescimento
acelerado da extensão das linhas nos países europeus. Pode-se inferir que durante os primeiros anos
de surgimento da telegrafia nesses países houve interesse por parte dos governantes em desenvolver a
telegrafia local. Na década seguinte, a partir de 1850, as linhas nacionais começaram a se interligar
através de acordos entre os governos, formando redes como a West European Telegraph Union, com a
participação de França, Bélgica, Suíça, Sardenha, Espanha, Holanda, Portugal, Vaticano e o Reino das
Duas Sicílias; ou a Austro-German Telegraph Union, com a participação de vários territórios alemães,
além da Prússia, Áustria e, posteriormente, Holanda30.
Em muitos países fora da Europa Ocidental, a telegrafia iniciou-se mais ou menos no mesmo
momento que no Brasil, entretanto, o desenvolvimento foi bem mais rápido que o nosso31. A telegrafia
brasileira permanecia estagnada após três anos de instalação da primeira linha e limitada a alguns
poucos pontos na capital do Império.
Capanema sabia da importância com que o assunto era tratado na Europa e buscava, no Brasil, o
empenho de políticos e governantes para que a telegrafia brasileira se desenvolvesse mais rapidamente.
Entre suas características pessoais não estava a de ser um político hábil, talvez necessário para mobilizar
forças políticas e econômicas, por vezes divergentes, no interesse da telegrafia nacional. Os muitos
atritos que ocorreram entre ele e os Ministros da Agricultura, durante o período em que esteve à frente
dos telégrafos, revelam pouca paciência com opiniões diferentes das suas. No entanto sua influência
junto ao Imperador, de quem era amigo pessoal, contribui para promover o desenvolvimento de uma
rede nacional construída e controlada pelo estado.
Em 1855, eram precárias as condições em que se encontrava o serviço telegráfico brasileiro. Não
havia local próprio para que fosse possível organizar e treinar pessoal; aliás, quase não havia pessoal,
apenas dois militares, José d’Oliveira e Bento José Ribeiro Sobragy, desviados de funções que estavam,
por empréstimo, ligados aos telégrafos. Os operários eram prisioneiros que trabalhavam por empreitada,
quando se fazia necessário. Com isso, o treinamento de pessoal para futuras obras ficava completamente
comprometido, visto não serem obrigatoriamente os mesmos prisioneiros empregados em cada obra.
Nem para adquirir equipamentos e materiais para o atendimento da meta inicial, descrita no aviso de
17 de janeiro de 1854, havia sido dada ordem.
Somente após as várias reclamações de Capanema, deu-se o primeiro ato para organização
administrativa do serviço telegráfico, a criação da Direção Geral dos Telégrafos e a sua nomeação para
Diretor Geral dos Telégrafos Elétricos, em aviso datado de 17 de março de 1855, do Ministro dos Negócios
da Justiça José Thomas Nabuco de Araújo. Era uma medida que vinha consolidar, na prática, o que
já vinha ocorrendo. Três dias depois, o Ministro da Justiça solicitou ao Ministro da Guerra, Pedro de
Alcântara Bellegarde (1807-1864), a disponibilidade do Capitão Guilherme Schüch de Capanema e
dos Tenentes do Corpo de Engenheiros, José d’Oliveira e Bento José Ribeiro Sobragy, para que pudessem
ser empregados nas seções telegráficas. A nomeação de Capanema e de seus ajudantes pode ser vista
como o início da estrutura organizacional dos telégrafos no Brasil. Na mesma data da nomeação do
Diretor Geral dos Telégrafos, foram publicadas as Instruções Provisórias para a Organização do Serviço
do Telégrafo Elétrico.
Logo após ter conseguido a organização provisória do serviço telegráfico, Capanema preparouse
para fazer parte da missão brasileira que iria representar o Brasil na Exposição Universal de Paris de
1855. Pouco depois de ter sido nomeado Diretor dos Telégrafos, encaminhou um ofício ao Ministro da
Justiça, em 9 de maio do mesmo ano, indicando um substituto para o cargo durante sua permanência na
Europa. O indicado foi José Joaquim de Oliveira, que permaneceu na função até o seu regresso, em 1857.
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Mãos à obra – o período de 1855 a 1870
As exposições universais começaram a ser organizadas a partir de 1851, em Londres, onde foi
erguido o suntuoso Palácio de Cristal para o evento. A primeira exposição contou com a participação
de trinta e quatro países e 13.937 expositores, e teve duração de 141 dias e visitação por mais de seis
milhões de pessoas.
As exposições universais representavam uma ode ao desenvolvimento industrial e à moder-nidade,
um culto à burguesia e ao capitalismo. Era uma grande festa onde os países participantes procuravam
apresentar seus produtos, sua cultura e seus costumes, numa divulgação da própria imagem que se
queria difundir, com claros interesses comerciais e políticos.
Na exposição de Paris de 1855, 20.839 expositores apresentaram seus produtos para mais de cinco
milhões de visitantes durante quase sete meses. A visitação da Exposição Universal era uma oportunidade
ótima de se entrar em contato com os últimos avanços da telegrafia justamente no momento
em que se deviam adquirir os aparelhos e materiais necessários para execução dos serviços telegráficos
descritos no plano inicial. Neste momento, a pretensão essencial era ligar algumas estações e quartéis,
além de estabelecer uma linha para Petrópolis. O lugarejo serrano vinha ganhando cada vez mais a
simpatia do Imperador, que havia comprado uma fazenda no local em 1830 com a pretensão de construir
um palácio de verão32.
A viagem de Capanema a Paris e a liberação das verbas para aquisição do material representavam
uma importante vitória pessoal. A verba inicialmente de 8 contos de réis, prevista para a compra do
material, atingiu a cifra de 65 contos de réis ao final das compras, em 1857.
De volta ao Brasil, Capanema deu início à construção da linha telegráfica para Petrópolis33. Após
a conclusão da obra, no início de 1857, o traçado da linha ficou o seguinte: a partir da praia da Saúde,
junto ao Instituto dos Meninos Cegos, estendia-se um cabo submarino com 7.050 metros até a Ponta
do Matoso na Ilha do Governador. Dali partia uma linha aérea com extensão de 6.160 metros até o
Saco do Pinhão. Desse extremo partia outro cabo submarino de 7.920 metros à ponte de Mauá, onde
se prendia à linha aérea de fio de ferro, que seguia ao lado da linha do trem até a Raiz da Serra da Estrela,
e de lá para Petrópolis, estendendo-se mais 29.500 metros. Desde a praia da Saúde até Petrópolis,
a extensão total era de 50.630 metros, sendo 14.970 metros de cabo submarino. A parte aérea era toda
de fio de ferro34.
Em janeiro de 1857 foi inaugurada a estação de Petrópolis. Nessa ocasião, o Ministro José Thomas
Nabuco de Araújo se animava em estender o telégrafo a Cabo Frio, Bahia, Pernambuco, Maranhão
e Rio Grande do Sul, ou seja, quase todo o litoral, idéia por demais grandiosa para o momento35. O
relatório emitido em 24 de dezembro de 1858, portanto quase dois anos depois da inauguração da
linha para Petrópolis, traça um perfil do estado dos telégrafos no Brasil naquela época, restrito apenas
à capital e imediações e quase unicamente para serviços da Corte36.
Quanto ao pessoal empregado para os serviços telegráficos, foram registrados como estacionários
e praticantes: um em São Cristóvão, um no Quartel General, três na Secretaria da Polícia, dois no
Quartel de Permanentes, três no Castelo, dois na Prainha (atual Praça Mauá), um em Petrópolis, um na
Secretaria de Justiça. Ao todo eram quatorze. Além dos empregados mencionados, havia um Diretor
Geral interino, um major encarregado do estabelecimento e conservação das linhas, um porteiro e um
zelador das pilhas. Utilizava-se ainda, com freqüência, “africanos livres” requisitados da Casa de Detenção
como serventes dos telégrafos elétricos.
Em 1 de agosto de 1858 foi franqueada a transmissão gratuita de correspondências pelo telégrafo
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elétrico entre as Estações da Prainha e de Petrópolis, que ficava em frente do Hotel de Bragança. Para
serviço de entrega dos telegramas foram contratados dois carteiros, um em Petrópolis e outro na Prainha,
na Corte. Da inauguração até 3 de novembro do mesmo ano haviam sido transmitidos cento e quarenta
telegramas. Oito meses após o início dos serviços foram transmitidos 1829 telegramas, ainda com
isenção de taxa37.
A frágil situação geral dos telégrafos em 1859 iria ainda enfraquecer-se mais com a partida de
Capanema para participar da Comissão Científica no Ceará38. Durante os dois anos que esteve afastado,
algumas estações foram fechadas e funcionários afastados. No seu retorno, em 30 de julho de 1861,
apenas cinco estações estavam funcionando: Quinta Imperial, Quartel General, Secretaria da Polícia,
Quartel da Polícia e Casa de Detenção.
Reassumido o controle, Capanema restabeleceu o funcionamento da linha de Petrópolis, assim
como as estações dos dois Arsenais e a do Castelo. Além disso, retomou a questão da organização dos
telégrafos cuja elaboração já havia iniciado39. O regulamento fora publicado pelo Decreto n° 2614, de
21 de julho de 1860, e era muito mais denso que o anterior, de 19 de maio de 1855, anexo ao aviso de
17 de janeiro de 1854. Ficaram estabelecidas, em detalhes, as atribuições de cada uma das funções
previstas na atuação no serviço telegráfico, a saber: Diretor Geral; ajudante (uma espécie de assessor
do diretor); encarregado geral de linha, que poderia tanto ser um engenheiro nacional quanto estrangeiro;
escriturário; zelador de pilhas; encarregado de arrecadação; estacionários e adjuntos; e carteiros.
A partir de 1861, já vinculado à Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas, começa-se a delinear a intenção para implantação de uma rede telegráfica nacional
que alcançasse as principais cidades brasileiras, como passa a ser mencionado nos relatórios ministeriais.
Dúvidas, entretanto, foram levantadas sobre a melhor forma de promover o crescimento das linhas:
dveriam ser contratadas por empresas privadas ou construídas pelo governo? As linhas seriam aéreas,
subterrâneas ou submarinas? As técnicas de construção das linhas telegráficas já estariam suficientemente
desenvolvidas para que o investimento se justificasse?
Ao longo desses anos muitas propostas haviam sido apresentadas ao governo imperial brasileiro,
varrendo muitas possibilidades de implantação e desenvolvimento dos telégrafos. Boa parte dessas
propostas oferecia projetos de implantação dos telégrafos de norte a sul do território brasileiro, envolvendo
normalmente quase todas as capitais das províncias, especialmente as do litoral. Desse modo, o
Império seria mais rapidamente atendido pelo serviço telegráfico. Este talvez fosse o ponto forte a favor
das empresas estrangeiras. As maiores empresas dispunham de recursos para implantação da rede
telegráfica em prazos em torno de dois anos, utilizando cabo submarino.
No entanto argumentações em contrário foram levantadas. Eram propostas que, se aceitas pelo
governo brasileiro, poderiam impedir o possível desenvolvimento de uma tecnologia nacional, no caso
das propostas para rede terrestre, pois exigiam exclusividade do serviço. Criariam também uma dependência
tecnológica do Brasil com o país de origem da empresa responsável pela obra, além de colocar
a correspondência nacional em mãos estrangeiras. Esses e outros problemas precisavam ser analisados
antes de se decidir o melhor caminho a seguir.
A opção feita pelo governo para o desenvolvimento da telegrafia é apresentada no relatório do
Ministério da Agricultura e Obras Públicas de 1861, que aponta a estratégia escolhida naquele momento:
a Repartição Geral dos Telégrafos deveria construir suas próprias linhas terrestres, avançando progressivamente
para o norte, levando a linha até São João da Barra e, ano a ano, progredir com a extensão da
linha conforme crédito aprovado40. O mesmo ministro cita ainda no relatório de 1861: “Autorizei ao
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respectivo diretor geral, como experiência, a estender uma linha telegráfica de Petrópolis ao rio Paraíba,
donde com facilidade se poderá prolongar até Ouro Preto”41.
É surpreendente que, após nove anos de inaugurada a primeira linha no Brasil, ainda se pretendia
fazer uma “experiência” para estender uma linha com alguns quilômetros de extensão. Os objetivos da
dita experiência não são citados nos relatórios, mas não consta em nenhum documento consultado a
menção sobre testes de novos materiais, novas técnicas ou procedimentos para instalação de linhas
aéreas. O desenvolvimento de um pequeno trecho de linha encarado como uma experiência, somado
ao surgimento apenas em 1861 de uma postura estratégica para expansão das linhas por todo o país,
reforça a idéia de que até aquele momento a telegrafia havia sido menosprezada. A partir de então,
poder-se-ia supor que as coisas iriam melhorar. No entanto a referida experiência acabou não sendo
feita pela Repartição Geral dos Telégrafos. No ano seguinte, a estrada de ferro D.Pedro II encarregouse
da referida linha.
Em 1862, o novo ministério encarregado dos telégrafos acusou ciência de diversas propostas
existentes para ligar telegraficamente o Brasil à Europa e aos Estados Unidos através de cabos submarinos.
Já se estabeleciam naquele momento entendimentos entre o governo brasileiro e o empresário
Pier Albert Ballestrini a respeito do seu projeto envolvendo a interligação telegráfica entre vários países
da Europa, América do Sul, América Central e América do Norte. Em 1862, foi encarregado o Marquês
de Lisboa para representar o governo junto aos comissários das outras potências interessadas no projeto.
Foi lhes comunicado que o Brasil permitiria a passagem do cabo pelos pontos marcados no projeto
entre o cabo de São Roque e a Guiana Francesa, mas não poderia participar com o custeio das despesas42.
Embora aprovado por várias nações, o projeto não foi realizado43. É possível que Balestrini engrosse a
lista de empresários que na época buscavam obter concessões de linhas telegráficas junto a governos
para depois negociá-las repassando a concessão a outras empresas interessadas e auferindo lucros.
Quanto à utilização de cabos submarinos no litoral brasileiro para ligação entre as capitais,
Capanema rejeitava inteiramente a idéia44. O Imperador também tinha dúvidas, e parecia mais inclinado
à linha terrestre.
No relatório ministerial de 1862, encontra-se a ordem do ministro para se estudar o estabelecimento
de uma linha telegráfica até Cabo Frio, bem como outra pela costa até Santa Catarina. Essa declaração
sinalizava a intenção de dar prosseguimento ao projeto de implantação nacional da telegrafia.
Durante o ano de 1864, tratou-se da fusão dos telégrafos ópticos e elétricos proposta por Capanema
como medida de economia45, e também da escolha de um local que acomodasse a estação central, a
diretoria, a secretaria, a oficina, o armazém de materiais, e demais necessidades da repartição. A fusão
ocorreu de acordo com o Decreto n° 3.288, de 20 de julho de 1864, assinado pelo Ministro da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas, Domiciano Leite Ribeiro (1812-1881), o Visconde de Araxá. Antes da fusão,
havia 13 estações com 21 empregados para o serviço dos telégrafos elétricos, e 7 estações com 39
empregados para o dos telégrafos ópticos, num total de 30 estações com 60 empregados. Ao final do
mesmo ano, já havia 23 estações e 50 empregados. Segundo Capanema46, logo que se efetivou a fusão,
foram guarnecidas as estações ópticas com aparelhos elétricos. Os respectivos empregados foram
chamados para exame de suficiência, e os que apresentaram habilitação foram incorporados ao serviço
elétrico como praticantes. Os não aprovados foram dispensados, o que justifica a redução de pessoal.
Como principais novidades, além da fusão, esse decreto estabeleceu a criação de uma oficina para
conserto dos aparelhos telegráficos. A oficina foi criada em abril de 1865, e instalada no número trinta
e nove do Campo da Aclamação, no mesmo local onde se instalara, no ano anterior, a Repartição Geral
dos Telégrafos. O local era sem dúvida inadequado. Estava sujeito a inundações quando ocorriam chuvas
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fortes, o que provocava grande estrago em ferramentas e aparelhos. Apesar da má instalação, a oficina
estava preparada para consertar e construir aparelhos e utensílios telegráficos, bem como instrumentos
de física, topografia e geodésia. Mesmo inicialmente provida apenas com um único torno velho retirado
de uma embarcação, a oficina participou das exposições nacionais exibindo alguns pequenos aparelhos
de telegrafia e instrumentos geodésicos, além de marcar presença na Exposição de Viena, em 1873.
Na ida para o norte chegou-se ao sul (1865-1870)
Desde o início, quando o aviso de 17 de janeiro de 1854 estabelecia um plano para as primeiras
instalações telegráficas a serem feitas no Império, Capanema já tinha a intenção de levar as linhas para
o norte: “Cheguei mesmo a conseguir fio e isoladores para ir de Petrópolis à Parahyba, contando depois
levá-la a Ouro-Preto, e pelo S. Francisco à Bahia e Pernambuco”47.
A declaração acima poderia servir como um indício de que havia um plano nacional mais amplo
para o desenvolvimento da telegrafia feito anos antes da transferência da Repartição Geral dos Telégrafos
do Ministério da Justiça para o Ministério da Agricultura e Obras Públicas, bem como o conhecimento
ou até a participação de Capanema na elaboração do projeto de desenvolvimento. Entretanto nenhum
documento foi encontrado que permitisse confirmar essa suposição.
Segundo Capanema, a estratégia para conseguir seu intuito começou modestamente: aproveitouse
da Questão Christie (1861-1865) para convencer o governo da necessidade de ligar as fortalezas
com o centro administrativo e, deste modo, levar o fio até a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, em
1866. Esse mesmo argumento possibilitaria a construção da linha até o farol de Cabo Frio. A execução
dessa obra foi facilitada pela redução dos custos dos materiais usados, como postes mais finos e fios
que seriam empregados na linha até a Paraíba do Sul, que acabou sendo feita pela estrada de ferro D.
Pedro II. Conforme já dito, a municipalidade garantiu o custo da estação e foi possível levar a linha até
a cidade. A linha foi concluída em 1866.
Para a linha de Cabo Frio, o custo por légua ficou em 753$000, mas, de acordo com as previsões de
Capanema, se algumas medidas fossem tomadas, como a divisão das turmas de trabalho com divisão
de tarefas, o custo por légua poderia ser reduzido para 700$000, usando a mesma linha com um fio de
três milímetros. Esses dados eram importantes naquela época, sendo necessário para se prever o custo
de implantação das linhas ao longo do território brasileiro e contribuir para uma tomada de decisão
melhor fundamentada. As dúvidas eram muitas: como fazer, se usar linha aérea ou submarina; qual o
custo real de cada opção de rede telegráfica; quem deveria fazer, se o governo ou particulares. Alegando
estar baseado em sua experiência adquirida até aquele momento, Capanema julgava ser capaz de levar
uma linha do Rio de Janeiro até Pernambuco, uma extensão estimada de 300 léguas, ao custo de
400:000$000, com linha dupla e fio de quatro milímetros. Segundo ele, a proposta mais em conta
apresentada ao governo imperial era de 540:000$00048. Certamente esses valores poderiam ser
questionados pela falta de informações mais precisas sobre as condições de instalação de uma rede
telegráfica nas diferentes regiões do território brasileiro. Até aquele momento Capanema só havia
construído linhas telegráficas na província do Rio de Janeiro, mesmo assim com pouquíssima extensão,
se comparada com a dimensão total da província. Isso parece pouco para se inferir o custo de levar a
linha à boa parte do território nacional, como era a intenção do novo ministério encarregado dos
telégrafos. No caso da linha até Pernambuco, a diferença entre o orçamento público e o privado era de
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35% a favor do público. Era uma diferença considerável se os valores estimados fossem confiáveis.
Mas não havia garantia de que o orçamento apresentado pela empresa privada, se aprovado, daria ao
país o serviço contratado. Era necessário ter cautela na condução desse assunto e, enquanto uma solução
macro não era tomada, a solução micro ia caminhando. A estratégia inicial usada pelo Ministério da
Agricultura e Obras Públicas foi mantida: realizar avanços anuais conforme o orçamento aprovado e a
construção feita pelo governo.
Depois de pronta a linha de Cabo Frio à Praça do Comércio no Rio de Janeiro, avisos telegráficos
sobre a passagem de paquetes eram transmitidos com antecipações de até oito horas. Algumas
embarcações vindas do norte, entretanto, passavam muito distantes da estação telegráfica e não
respondiam aos sinais (Sinais Maryath). Para solução do inconveniente, foi dirigida uma circular aos
cônsules do império para que orientassem os navios a fornecerem o nome, procedência, carga e consignatário
logo que passassem por Cabo Frio.
As cidades de Campos, Macaé e São João da Barra, posteriormente, seguiram o exemplo de Cabo
Frio, e a autorização foi dada pelo governo para se levar a linha até esses locais. Entretanto a obra teria
que aguardar alguns anos para ser concluída, pois quando parecia que, mesmo lentamente, se conseguiria
levar a linha telegráfica até Pernambuco, um fato novo surgiu: o início da Guerra do Paraguai,
em 1865. Ela atrasou os planos para linha do Norte e promoveu a mais rápida expansão da rede telegráfica
durante todo o período do Segundo Império, agora para o Sul49.
Mais uma vez repetia-se no Brasil um fenômeno observado em vários outros países: a construção
das redes telegráficas sendo motivada ou impulsionada por conflitos militares. Talvez tenha sido esse
o fator de maior promoção das linhas telegráficas terrestres em todo o mundo, no que se refere à
rapidez para se construir as linhas. A necessidade de rápida comunicação entre o front e o centro das
decisões militares conseguia superar barreiras às vezes de anos, que impediam o estabelecimento da
comunicação. Assim foi na China, quando a invasão japonesa da ilha de Taiwan, em 1874, parece ter
vencido a resistência chinesa aos telégrafos50. Naquele momento resolveram instalá-lo sob direção
própria. No Brasil não foi diferente.
Com a entrada do país na guerra contra o Paraguai, um grande mutirão nacional foi orquestrado
pela Repartição Geral dos Telégrafos para a construção de uma linha da Corte até o front. A empreitada
contou decisivamente com a colaboração de autoridades dos locais por onde o fio passava, assim como
dos proprietários de terras que custearam boa parte das despesas com o fornecimento dos postes e
mão-de-obra, ambos tirados das suas fazendas51.
A parte terrestre iniciou-se em setembro de 1865 e foi concluída em junho do ano seguinte, ligando
a Corte até o Sul do país. Ao longo do traçado, 17 barras foram atravessadas por cabos submarinos.
Esses cabos logo apresentaram problemas de deterioração e tiveram que ser substituídos. O
fabricante, Siemens Brothers, procedeu à substituição e reconheceu a falha do cabo, ocasionada pela
rápida decomposição do material isolante, tendo arcado com o prejuízo de 96:000$000. Entretanto a
comunicação entre a Corte e a província do Rio Grande do Sul foi prejudicada por esse atraso que retardou
a conclusão do serviço até a chegada do novo cabo. Ademais, a pressa na confecção desse
segundo cabo comprometeu sua qualidade, fazendo-se necessárias várias correções posteriores52.
Quando da chegada dos 39.600 metros do novo cabo submarino, foram usados 6.000 metros para
a ligação entre o Morro da Viúva e a Fortaleza de Santa Cruz, em substituição ao cabo existente.
O restante do cabo foi usado em 13 das 17 barras da linha Sul. A linha Sul seguiu o seguinte trajeto: da
capital liga-se a Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis, Parati, no Rio de Janeiro; Ubatuba, São Sebastião,
Santos e Iguape, em São Paulo; Paranaguá, no Paraná; São Francisco do Sul, Itajaí, Desterro
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(Florianópolis) e Laguna, em Santa Catarina; Torres, Conceição do Arroio e Porto Alegre, na província
de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Para atendimento às 17 estações que deveriam ser estabelecidas, foram admitidos 25 praticantes
nas aulas de telegrafia dirigidas pelo ajudante do diretor geral.
A oficina que havia sido criada recentemente teve sua parcela de contribuição53. Além de reparos
em aparelhos telegráficos, construiu 18 pára-raios destinados a proteger as estações telegráficas das
descargas atmosféricas comuns em várias regiões. Também já estavam sendo preparados na oficina
aparelhos telegráficos novos e peças sobressalentes para atendimento, principalmente, da linha do
Sul. Além desses trabalhos, a oficina fez, no ano de 1865, reparos em alguns instrumentos para a Comissão
de Limites com o Peru, para os gabinetes da Escola Central e para a Repartição de Obras Públicas.
Para a construção imediata da linha do Sul, motivada pela entrada do Brasil no conflito com o
Paraguai, a pressa foi mais uma vez inimiga da perfeição. A falta de pessoal treinado para instalação
das linhas, somada à ausência de um estudo preliminar cauteloso sobre o melhor traçado a ser seguido,
produziu uma série de imperfeições que tiveram de ser posteriormente corrigidas. As mudanças feitas
no traçado tinham, entre outros objetivos, a intenção de minimizar a ação da natureza sobre postes e
linhas telegráficas, livrando-os quando possível de charcos e da água salgada do mar.
O cabo submarino da linha do Sul, mesmo depois de substituído integralmente pelo fabricante
após o reconhecimento de falha em sua fabricação, não funcionou satisfatoriamente. Seja por problemas
de isolamento do cabo ou por ação da natureza sobre estes, a travessia das 17 barras entre a Corte e o
sul do Império esteve entre os principais motivos de interrupção das comunicações telegráficas. Este
problema foi parcialmente resolvido com a substituição dos cabos submarinos em 13 das 17 barras,
por linhas aéreas, com a conseqüente alteração no traçado. Não foi possível identificar se as 13 barras
substituídas por linhas aéreas foram as mesmas 13 barras em que se utilizou o segundo cabo que havia
sido enviado pelo fabricante Siemens em substituição ao primeiro cabo enviado.
Na medida em que o exército brasileiro avançava, já em território paraguaio, a rede telegráfica ia
acompanhando o contingente. Muitas foram as vezes em que se utilizou a própria rede paraguaia,
abandonada durante a retirada. Quando era possível, os paraguaios retiravam os fios, deixando para
trás apenas os postes e alguns isoladores.
A guerra do Paraguai provocou uma enorme expansão das linhas telegráficas terrestres no Brasil.
Desde a primeira linha, em 1852, até o início do conflito, tinham sido estendidos alguns poucos
quilômetros de fios. O gráfico abaixo mostra o impulso dado às linhas a partir de 186554.
Linhas telegráficas elétricas durante o Segundo Império
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Conclusões
Este artigo mostrou como se deu a introdução da telegrafia elétrica no Brasil, inicialmente limitada
a Corte do Rio de Janeiro e quase exclusivamente utilizada para despachos oficiais. A rápida expansão
em direção à fronteira sul, após quatorze anos de presença apenas em alguns pontos da província do
Rio de Janeiro, foi motivada pela guerra com o Paraguai.
O longo período em que a telegrafia permaneceu no ostracismo, da primeira linha instalada até a
guerra do Paraguai, pode ser explicado, em parte, pela motivação inicial dada a sua implantação – o
combate ao tráfico de escravos. É possível que o desinteresse dos proprietários de terras em abdicar da
mão-de-obra escrava tenha servido de obstáculo não explícito à expansão telegráfica. Como é sabido,
os desmandos políticos estiveram sempre ligados aos interesses dos mais poderosos. Outro fator de
atravancamento da telegrafia é a ausência de um comércio diversificado e a inexistência de indústrias
no Brasil. A agricultura monocultura, característica da época, permitia que navios fossem carregados
com alguns poucos telegramas. A falta de uma receita compatível com as despesas criava uma dificuldade
adicional aos planos de Capanema de criar uma rede telegráfica de âmbito nacional.
A despeito da polêmica sobre se o governo deveria entregar a telegrafia às empresas estrangeiras
ou desenvolvê-la através de companhia própria, o governo brasileiro fez a segunda opção. As redes
telegráficas terrestres foram construídas pela Repartição Geral dos Telégrafos, empresa do governo
sob a direção de Guilherme S. de Capanema. Entretanto a concessão dada a Kieffer, em 1869, para
estender uma linha terrestre entre a Corte e Ouro Preto indica uma tentativa do governo brasileiro de
experimentar a utilização de empresas estrangeiras no desenvolvimento da telegrafia55. Embora a linha
telegráfica construída por Kieffer tenha operado com sucesso, não foram dadas outras concessões para
linhas telegráficas terrestres durante o Império, exceto as linhas que serviam às estradas de ferro.
As aulas inicialmente dadas por Capanema e seus assistentes marcaram o início do estudo da
telegrafia no Brasil. Ainda que de forma precária, limitada a interesses práticos e atraindo um grupo de
trabalhadores com baixa formação escolar, a telegrafia se desenvolveu e despertou interesse. Posteriormente
ao período analisado neste artigo, o estudo da telegrafia passou a fazer parte da grade
curricular de algumas escolas de nível secundário, demonstrando a importância dada ao assunto.
NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ildeu de Castro Moreira é professor do Instituto de Fisica/UFRJ e Diretor do Departamento
de Popularização e Difusão da C&T/MCT. e-mail: icmoreira@uol.com.br
Mauro Silva é aluno de doutorado do HCTE/UFRJ; e-mail: maurosilva@ig.com.br
1 Entre muitas outras experiências telegráficas, os ingleses William Fothergill Cooke
(1806-1879), professor de anatomia, e Charles Wheastone (1802-1875), físico,
construíram o primeiro telégrafo elétrico ferroviário na Inglaterra, entre Paddington
e West Drayton, em 1837, numa distância de 21 quilômetros. Utilizaram um sistema
com seis fios e cinco agulhas magnéticas. Quando o telégrafo estava desligado, as
agulhas permaneciam paralelas entre si. Quando transmitiam mensagens, duas agulhas
inclinavam-se de tal forma que suas direções se cruzavam na letra correspondente
ao sinal emitido. Mais tarde, em 1839, Cooke e Wheastone criaram um telégrafo
mais simples com apenas duas agulhas que podia transmitir vinte e duas palavras
por minuto. STANDAGE, Tom. The Victorian Internet. New York: Berkley Books, 1999.
2 HEADRICK, Daniel R. The Invisible Weapon: Telecommunications and International
Politics 1851-1945, New York: Oxford University Press, 1991, p. 12.
3 HUNT, Bruce J. The OHM is Where the Art is: British Telegraph Engineers and the
Development of Electrical Standards. Osíris. Chicago, v.1, n.9, p. 48–63, 1994.
4 Sobre a telegrafia no Brasil, ver também MACIEL, L. A. Cultura e Tecnologia: a Constituição
do Serviço Telegráfico no Brasil. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.
21, p. 127-144, 2001.
5 Onde atualmente está instalada a Escola Naval, no Rio de Janeiro, ao lado do aeroporto
Santos Dumont.
6 BRASIL, Memória histórica: A repartição geral dos telégrafos. Rio de Janeiro: Tipografia
Imperial, 1907, p.1.
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61
7 1 légua = 6 km; 1 légua marítima = 5.555m;
8 SCHWARTZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador. 2ª. ed., São Paulo: Companhia das
Letras, 1998, p.229.
9 HEADRICK, op. cit., p.11 e 12.
10 Filho de Roque Schüch e Cecília Bors, nascido em Minas Gerais, doutor em matemática
e ciências físicas pela Escola Militar do Rio de Janeiro, engenheiro pela Escola
Politécnica de Viena, diretor da Repartição Geral dos Telégrafos, lente da Escola
Politécnica, professor honorário da Academia de Belas Artes, agraciado com o título
de conselheiro do Imperador, major honorário do exército, comendador da ordem
da Rosa e da de Cristo, sócio do IHGB, sócio do Instituto Fluminense de Agricultura,
fundador da Sociedade Estatística do Brasil. Lecionou física e mineralogia na Escola
Militar, fez parte da Comissão Científica do Ceará como diretor da seção geológica
e mineralógica. BLACK, Antonio V. Sacramento. Dicionário biobibliográfico brasileiro.
Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1970, 7 vol.
11 Em 1792, o vice-rei D. Luiz de Castro, 2º Conde de Rezende, assinou os estatutos
aprovando a criação da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, iniciando
aí o ensino de disciplinas que seriam a base da engenharia no Brasil. Mais tarde, em
4 de Dezembro de 1810, o Príncipe Regente, futuro Rei D. João VI, assinou uma lei
criando a Academia Real Militar que veio suceder e substituir a Real Academia de
Artilharia, Fortificação e Desenho. A Academia Real Militar passou à denominação
de Escola Militar e, em 1858, Escola Central. Em 1874, a Escola Central transferiuse
do Ministério do Exército para o Ministério do Império, com o nome de Escola
Politécnica do Rio de Janeiro, posteriormente chamada de Escola Nacional de
Engenharia, alterada em seguida para Escola de Engenharia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro e, hoje, voltando a ser a Escola Politécnica, agora da UFRJ. http://
www.poli.ufrj.br/ (consultado em julho de 2006).
12 BRASIL, 1907, op. cit, p.3.
13 BRASIL, 1907, op.cit., p.2. Almanak Laemmert, Rio de Janeiro, 1865, p.312.
14 Bacharel em ciências e doutor em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro; professor de física na mesma faculdade, conselheiro do Imperador D. Pedro
II; médico da Imperial Câmara; presidente da Junta Central de Higiene Pública; membro
da Imperial Academia, posteriormente Academia Nacional de Medicina, membro
honorário da Academia de Belas Artes; sócio da Academia Filomática, comendador
da Ordem da Rosa e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Na Faculdade de Medicina,
exerceu também cargo de vice-diretor. Na Câmara Temporária, representou sua
Província em quatro legislaturas: de 1838 a 1845 e de 1849 a 1856. BLACK, op. cit.
15 O telégrafo Breguet era composto de um transmissor dotado de um disco onde estavam
impressos letras e números. Uma manivela circundava o disco. Para se transmitir
um sinal, era necessário colocar a manivela na letra ou no número desejado. O
aparelho receptor, dotado de um disco semelhante, registrava através de um ponteiro
a letra ou número correspondente enviado.
16 Futuro General Polydoro, conhecido por sua atuação na guerra do Paraguai.
17 BRASIL, 1907, op.cit., p.4.
18 IGHB, Carta do agente diplomático da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça,
5/7/1853, Antonio Jose Victorino de Barros. Coleção Nabuco de Araújo, DL 384.2,
Lata 384 Livro 2.
19 BRASIL, 1907, op. cit., p.4.
20 IGHB, Carta do agente diplomático da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça,
5/7/1853, Coleção Nabuco de Araújo – Antonio Jose Victorino de Barros. DL 384.2.
21 IHGB, carta do ministro da justiça à Capanema 11/05/1855. Coleção Nabuco de
Araújo. DL 384.2.
22 HEADRICK, op. cit., p.51 a 69.
23 IHGB, Aviso do Ministro da Justiça 17/1/1854. Coleção Nabuco de Araújo. DL 384.2.
24 A referida planta não foi encontrada.
25 IHGB, Relatório de 1854. Coleção Nabuco de Araújo. DL 384.2.
26 IHGB, carta de I.D.Sturz, 13/11/1851, Emilio Stochrer. Coleção Nabuco de Araújo.
DL 384.2.
27 Em 28 de julho de 1860 foi criada a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, pelo Decreto n° 1067, na qual a Repartição Geral dos Telégrafos passou a
ser subordinada. Entretanto o primeiro Ministro da Agricultura, o Visconde de Inhaúma
(José Joaquim Inácio) só assumiu o cargo em 1861. Pelo Decreto de n° 1768, de 9
de julho de 1870, foi estabelecida punição com multas de até 200$000 e prisão por
até três meses para infratores que pudessem prejudicar a regularidade do serviço
telegráfico. Apesar do Decreto, a única menção de multa aplicada pelo governo que
encontramos foi para um navio que danificou o cabo submarino na baía de Guanabara,
em 1864.
28 IGHB, Relatório. DL 384.2. Vale lembrar que o serviço de iluminação pública a gás
foi inaugurado em 25 de março de 1854, tendo a frente do empreendimento Irineu
Evangelista de Souza, futuro Barão de Mauá. CALDEIRA, Jorge. Mauá Empresário
do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.289.
29 IHGB, carta de Capanema ao Ministro da Justiça, 1/12/1854. Coleção Nabuco de
Araújo. DL 384.2.
30 HEDRICK, op. cit., p. 13.
31 O Império Otomano iniciou seu sistema telegráfico por volta de 1853 com a guerra
da Criméia (1853-1856), e em seguida construiu uma linha que cruzava de uma extremidade
a outra o Império. Em 1877, era a oitava maior rede telegráfica do mundo.
Na Índia, a primeira linha foi construída entre 1850 e 1851. Em 1856, impulsionada
pela revolta dos sipaios, a Índia já possuía 7.200 km de linhas e 46 escritórios telegráficos.
HEADRICK, op. cit. p.52.
32 SCHWARTZ, op. cit., p.388.
33 Ao retornar da exposição de Paris, Capanema produziu um relatório que tratava de
agricultura, publicado na Revista Brasileira, tomo 1, pp.23, Rio de Janeiro: Tipografia
Universal Laemmert, 1857.
34 IHGB, coleção Nabuco de Araújo. DL 384.2.
35 Almanak Laemmert, 1860, p.465.
36 IHGB, Relatório emitido pelo diretor interino dos telégrafos, Joaquim de Oliveira,
1858, Coleção Nabuco de Araújo. DL 384.2. As estações em funcionamento naquele
momento eram dez: Paço de S. Cristóvão, atual Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão;
Quartel General, que ficava no atual Campo de Santana; Secretaria da Polícia na
Rua do Conde, atual Av. Visconde do Rio Branco; Secretaria da Justiça, também na
Rua do Conde; Quartel dos Permanentes na Rua dos Barbonos, atual Rua Evaristo
da Veiga; Secretaria da Polícia na Rua do Passeio, no Passeio Público; Secretaria do
Império na Rua da Guarda Velha, atual Rua 13 de maio; Estação dos Telégrafos Elétricos
do Castelo, no morro do Castelo; Arsenal de Guerra, atual Museu Histórico
Nacional; Arsenal de Marinha, na atual Praça Mauá. O Quartel General estava também
ligado por fio de ferro à praia da Saúde, junto ao Instituto dos Meninos Cegos,
de onde partia o cabo para Petrópolis. Estavam montadas oito estações: Petrópolis,
Raiz da Serra, Quartel General, Quartel dos Permanentes, São Cristóvão, Secretaria
de Polícia, Secretaria da Justiça e Castelo. A extensão total das linhas mencionadas
era de 62.930 metros.
37 BRASIL, 1907, op.cit., p.7.
38 Ver KURY, Lorelay. A comissão cientifica de exploração (1859-1861). A ciência imperial
e a musa cabocla. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (Orgs.). Ciência,
civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro: Access, 2001.
39 BRASIL, 1907, op. cit., p.49.
40 IHGB, correspondência de Capanema a José Thomas Nabuco de Araújo, S/D. Coleção
Nabuco de Araújo. DL 384.2.
41 Não fica claro se naquele momento o Visconde de Inhaúma esperava que o custeio
das linhas telegráficas fosse feito pelo governo central ou se o crédito a ser votado
seria feito pelas Câmaras municipais e das províncias beneficiadas.
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42 BRASIL, Relatório do Ministério da Agricultura de 1861, p.45.
43 O projeto assim como os citados pontos não foram encontrados.
44 CAPANEMA, Guilherme S. Correspondência enviada a D. Pedro II, 12/8/1862, Diário
do Imperador D. Pedro II, CD produzido pela Microservice, Museu Imperial.
45 Sobre o pretexto da medida de economia Capanema conseguira um fortalecimento
maior com a unificação dos dois serviços sobre o seu comando.
46 CAPANEMA, Guilherme S. Relatório do Ministério da Agricultura Anexo T Relatório
da Repartição Geral dos Telégrafos, 1864, p.1.
47 BRASIL, 1907, op.cit., p.15.
48 CAPANEMA, Guilherme S. Relatório do Ministério da Agricultura Anexo T Relatório
da Repartição Geral dos Telégrafos, 1864, p.5.
49 BRASIL, 1907, op.cit., p.22. BRASIL, Relatório do Ministério da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, 1866. p.176 e 177 e BRASIL, Relatório do Ministério da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas, Anexo J, 1870, p.3.
50 HEADRICK, op.cit., p.54.
51 CAPANEMA, Guilherme S. Algumas palavras sobre telégrafos e Ministério das Obras
Públicas. Rio de Janeiro: Tipografia Imperial, 1869, p.11.
52 BRASIL, 1907, op.cit., p.31.
53 Oficina, em 1865, contava apenas com um chefe com formação acadêmica, um
operário e três praticantes.
54 BRASIL, 1907, op.cit.,p.24.
55 BRASIL. Decreto n. 4350, de 5 de abril de 1869. Coleção de Leis do Império do Brasil.
REVISTA DA SBHC, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 47-62, jan | jul 2007
Artigo recebido para publicação em 11/2006.
Aprovado para publicação em 06/2007.
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