sexta-feira, 22 de junho de 2012

SOLDADOS DA BORRACHA NA AMAZÔNIA

HomeA HistóriaQuem SomosGaleria de FotosNotíciasFale ConoscoFilie-seHISTÓRICO DOS SOLDADOS DA BORRACHA NA AMAZÔNIA A ocupação da Amazônia teve desde seu início do século XVII, quando os portugueses se fixaram na foz do rio amazonas, o objetivo de desenvolver uma produção econômica voltada para a extração de recursos da região. No início as drogas do sertão as especiarias, ouro, minerais e recursos naturais como: cacau, castanha, borracha, cravo canela e outros produtos, proporcionaram durante um bom tempo a base econômica de sustentação para a realização do processo de ocupacional da Amazônia. No período de 1890 até 1910, o contingente de trabalhadores saídos para os seringais da Região Norte ( Souza: 1978:74), não teria sido inferior a meio milhão. Vale lembrar que foi o trabalho destes migrantes que elevou a produção da borracha em 40% do total da exportação brasileira em 1910. Já no final do século XVIII, por volta de 1870, alguns autores calculam que pelo quinhentos mil nordestinos sucumbiram às epidemias, ao impaludismo,à tuberculose e beribéri na época do auge da goma. “este sinistro ossário foi o preço da indústria da borracha.” O Brasil durante as décadas de 1930 e 1950 ainda era um país atrasado, desprovido de recursos técnicos, e isto contribui para que os meios de transportes fossem muito precários, impossibilitando o atendimento ao deslocamento da população. No início da década de 40 alguns fatos de conteúdos bélicos provocaram repercussões radicais, esses acontecimentos foram: o bombardeio da Base Americana de “Pearl Harbour” e a tomada dos seringais Ingleses, situados na Malásia na Ásia pelos japoneses, este episódio fez o Governo Americano assinar com o governo Brasileiro “ OS ACORDOS DE WASHINGTON”. Esses acordos proporcionaram ao Governo Brasileiro, a oportunidade para consolidar a ocupação Amazônica, reativando os seringais e a produção de borracha. Em decorrência do envolvimento do Brasil na II Guerra Mundial em 1942, o Governo brasileiro forneceu contingentes militares para as frentes de batalha e firmou convênio com a Rubber Reserve Company, assinando os acordos acima descritos. A segunda Guerra Mundial, em fins de 1941 estava tomando rumos muito perigosos. Além de não conseguir conter a ofensiva alemã, os países aliados viam os esforços de guerra consumir rapidamente seus estoques de matérias primas estratégicas. A entrada do Japão no conflito, a partir do ataque à base Norte Americana de Pearl Harbor, impôs o bloqueio definitivo dos produtores de borracha. Já no princípio de 1942 o Japão controlava mais de 97% das regiões produtoras asiáticas. A inserção dos Norte americanos no conflito, os EUA passaram a necessitar da produção de borracha natural brasileira. Em troca desta matéria-prima, subsidiariam as despesas do governo brasileiro com o envio de voluntários para os seringais da Amazônia e locação de recursos para construção da Companhia Siderúrgica Nacional, com isso o governo brasileiro na época chefiado por Getúlio Vargas, juntamente com o governo Norte Americano, criaram vários órgão e instituições( SEMTA, CAETA, SAVA , SESP, DNI e outros) que se encarregariam do financiamento, recrutamento, transporte, alojamento, assistência médica e sanitária e alimentação para os que lutariam na batalha. Antes da entrada do Brasil na guerra, a pressão norte americana foi intensa, já que os Estados Unidos era o maior credor do país. Além do mais, os alemães foram acusados de afundar os submarinos brasileiros( navios Buarque, Olinda e Cabedelo em águas brasileiras, matando 55 pessoas). Com esse fato o governo brasileiro declara guerra à Alemanha. Assim Getúlio Vargas, assina o acordo com os EUA, os Acordos de Washington ( 1942- 1943), comprometendo-se a fornecer borracha, desencadeando, a famosa “Batalha da Borracha”. Para o governo era juntar a fome com a vontade de comer, literalmente, somente na cidade de fortaleza cerca de 30.000 flagelados da seca de 41-42 estavam disponíveis para serem enviados imediatamente para os seringais. ( Celso Furtado) fonte. O governo criou o Batalhão dos Soldados da Borracha e serviço de encaminhamento de Soldados da Borracha, através da Lei nº 5813 de 14 de setembro de 1943. Essa lei determinava o recrutamento, encaminhamento de trabalhadores para os seringais da Amazônia. A assinatura dos tratados de Washington em 03 de março de 1942, foi ratificada. Instituiu-se a criação do Serviço Especial de Trabalhadores para a Amazônia ( SEMTA), criação do Banco de Crédito da Borracha, para superar a questão dos transportes e abastecimento foi criada em 04 de dezembro de 1942 a SAVA – Superintendência para o Abastecimento do Vale Amazônico. Em Fortaleza o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). A CAETA Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para Amazônia, foi criada pelo Decreto nº 85.813 de 14 de setembro de 1943, pleiteava mão de obra e destinava aos seringais amazônicos também. E para agilizar as atividades foi criado o Departamento Nacional de Imigração(DNI). PROPAGANDA E RECRUTAMENTO: “Tudo pela vitória” um trabalho de brasilidade. A propaganda dirigida e veiculada nos meios de comunicação fazia cada novo trabalhador na seringa se sentir um genoíno soldado de um novo front,a Amazônia. A campanha da borracha encontrou trinta mil flagelados à espera de ajuda. No interior do Estado(sobral, iguatu e Crato), o Governo Federal também abriu postos de arregimentação para o Exército da Borracha. Exames físicos e assinaturas nos contratos selavam o compromisso, os voluntários passaram a ser empregados imediatos. Com direito a salário de meio dólar por dia e alojamento até a partida. A tropa vivia sob firme disciplina militar. A propaganda dirigida e veiculada nos meios de comunicação trazia promessas mirabolantes e era chamariz para os desavisados. Na esquina do país, retratos de seringueiros tirando ouro branco das árvores com um simples corte. “ Terra da Fortuna”, eram as palavras de ordem. Mais foi Getúlio Vargas, em discurso pelo rádio, que convenceu mais brasileiros. A solidariedade de vossos sentimentos me dá a certeza da vitória! Para se garantir a adesão, se prometia um prêmio para o seringueiro campeão. O maior fabricante de borracha em um ano levaria 35 mil cruzeiros. No recrutamento os nordestinos tinham que ter resistência, por isso foram classificados pelo tipo físico. Ver foto O interessante é que o processo de alistamento, chamamento, recrutamento, treinamento com a rigorosa disciplina militar foi semelhante para não dizer igual ao das forças armadas, com a aplicação de número para cada soldado. Além de aliciadores profissionais, a mando dos patrões, donos de seringais no amazonas, o trabalho de convencimento era feito por padres, médicos,advogados. O ônus de alistamento ficou ao cargo do exército brasileiro. O Governo de Getúlio Vargas apelou para o espírito e sentimento patriótico, prometendo aos voluntários alistados que voltariam como heróis da pátria, sob o total apoio seu, e que ficariam ricos na extração da borracha. O que não foi dito, milhares de nordestinos tiveram que descobrir depois, quando já era tarde demais para voltar, de livres viraram escravos, no coração da selva ficaram isolados e na solidão, eles trabalharam para pagar uma dívida econômica e moral com o patrão. De lá não se podia escapar. Essa consolidação se deu pelo envio de milhares de nordestinos aos seringais localizados no ventre da selva Amazônica., nos cantos mais recondidos e inabitáveis das fronteiras do Brasil. O número de nordestinos quer foram escritos pelo serviço de recrutamento de trabalhadores para a Amazônia foi estimado em 100 mil pessoas, segundo Pedro Martinello em sua obra A Batalha da Borracha, aponta esse número, e também a fonte: Relatório da Comissão Administrativa do Encaminhamento de trabalhadores para Amazônia. Já o governo brasileiro fala e sustenta que só aproximadamente 60 mil trabalhadores foram encaminhados. A extração da borracha foi corresponsável pelo verdadeiro processo ocupacional. Sem nenhuma reserva de vitaminas, os camponeses das terras secas realizaram a longa viagem para a selva úmida. Ali os aguardava, nos pantanosos seringais, a febre. Iam amontoados nos porões dos barcos, em tais condições que muitos sucumbiam antes de chegar; antecipavam assim, o próximo destino. Não só a febre; também aguardava, na selva um regime de trabalho bastante parecido com a escravidão. O trabalho se pagava em espécie: carne seca, farinha de mandioca, rapadura, aguardente, até que o seringueiro saldasse suas dívidas, milagre que raras vezes ocorria. Havia uma acordo entre os seringalistas da época, para não dar trabalho aos seringueiros com dívidas pendentes; os guardas rurais postados às margens dos rios, disparavam contra os fugitivos. As dívidas somavam-se às dívidas. À dívida original, pelo transporte do trabalhador do Nordeste, agregava-se a dívida pelos instrumentos de trabalho: facão, faca, baldes, e como o trabalhador comia, e sobre tudo bebia, quanto mais antigo fosse o operário, maior seria a dívida por ele acumulada. Analfabetos os nordestinos sofriam sem defesas os passes de contabilidade dos administradores. Fazendo um parênteses destaquemos aqui parte do termo do contrato entre o SEMTA e o Soldado da Borracha recrutado: O DNI fornecerá gratuitamente ao trabalhador: Meios de transportes para ele e para seu equipamento de viagem, dos pontos de recrutamento a concentração nos seringais; assistência médica e sanitária; alimentação e moradia adequada durante a vigência do contrato e assistência as famílias. Um outro contrato justo e claro deveria ser assinado, quando da chegada do trabalhador ao seringal, com o próprio patrão, assegurando os direitos, constando inclusive a participação nos lucros da venda da borracha produzida. Mas na realidade a relação que foi estabelecida entre: mão- de-obra, produção e capital, foi exercida com técnicas ante-humana. O estado brasileiro, foi apenas um agente recolhedor de benefícios, tendo participado com muita eficiência, apenas como agenciador, aliciador de mão-de-obra e propagador de uma ideologia ilusória que manteve-se enquanto durou, alimentando um processo migratório, transferindo o homem do nordeste para a região Amazônica. Contudo no solo inóspito da Amazônia, os nordestinos enfrentaram o trabalho escravo e péssimas condições de moradia. Do outro lado tinha-se uma situação outra, um sistema de aviação e fornecimento de mercadorias que deixava os seringueiros presos as dívidas dos patrões. A confabulação do governo e suas propagandas fizeram milhares de trabalhadores nordestinos sem fuzis nas mãos, apenas com suas valentias cheias de idéias patrióticas, travarem no norte do país uma guerra silenciosa, com milhares de vítimas, deixando um saldo aproximadamente cinqüenta mil mortos ou desaparecidos, uma parcela considerável desse total pereceram na selva, vítimas das enfermidades da região e insalubridades que a floresta oferecia, espalhados pela Amazônia existem milhares de cemitérios, túmulos e lugares onde descansam perdidos e esquecidos aqueles que norteados pela propaganda do governo e pelo ideal patriótico criado através das propagandas oficiais, lançaram-se na grande marcha para ocupar o inabitável e trabalhar no esforço de Guerra do governo de Getúlio Vargas. Dos milhares de rapazes e crianças que vieram com suas famílias do nordeste brasileiro para os seringais, muitas delas morreram ou foram vítimas dos perigos e armadilhas da selva, as que o destino não levou embora, com o tempo como moravam nos seringais se transformaram em habitantes e povos da floresta, muitos se aposentaram como soldados da borracha outros como agricultores, ganhando apenas um salário mínimo, alguns até hoje vivem sem aposentadoria ou renda alguma nos mesmos lugares onde outrora existia seringais em condições análogas. Na atualidade quase todos os seringais, principalmente no estado de Rondônia e em Mato Grosso foram extintos, dando lugar a grandes latifúndios ou sistemas de monoculturas. O Soldados da Borracha ou Seringueiros não foram apenas produtores de borracha, foram pioneiros da região, da floresta a serviço do Brasil e aprenderam com a selva, extrair os recursos para constituírem o meios e condições para suas próprias sobrevivência. Tiravam das plantas da floresta quando podiam, o antídoto para as enfermidades que contraiam naquela região. Aprenderam esse ofício por força das circunstâncias, nesse momento o estado brasileiro os negligenciava, não existiam médicos ou assistência a quem dela necessitava, várias cláusulas do Acordo de Washington foram quebradas , uma delas o amparo e a assistências aos trabalhadores, a própria atrebina e quinino remédios usados para o controle da febre e malária eram vendidos por altos valores pelos donos dos seringais. Fonte (relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Borracha feito em 1946).Sem estruturas necessárias para trabalhos considerados pesadíssimos, milhares de trabalhadores, construíram picadões, varadouros ou centenas de estradas, que ligavam as colocações ao barracão, carregavam por muitas vezes pesos na costas para descarregar a produção, superiores a peso do próprio corpo. Em si o seringueiro foi um autodidata, um desbravador, um personagem que proporcionou o desenvolvimento de cidades como: Belém, Porto Velho, Rio Branco e Manaus. A borracha extraída por esses rudes homens, proporcionou aos barões da borracha ou senhores dos barrancos e as elites políticas da região norte prosperidade necessárias e condições para gerenciarem os estados e territórios. Nesse momento o Brasil dispunha da quase totalidade das reservas mundiais; a cotação internacional estava nos picos e os bons tempos pareciam infinitos, mesmo assim os seringueiros não desfrutavam do bom desse ciclo, embora fossem eles que saíam a cada madrugada de suas choças ou tapiris, com vários recipientes amarrados às costas enganchando-os nas seringueiras para sangrá-las. Faziam várias incisões no tronco e nos ramos grossos próximos à copa, brotava assim de ferida o látex , suco leitoso e pegajoso que enchia os jarros em algumas horas, a noite cozinhavam os discos planos das gomas, que se acumulariam na administração das propriedades. A exploração do trabalho humano excessivo, combinou com o sistema de barracão, quanto mais trabalhavam e mais dias passavam naquela localidade, mais endividados ficavam. Enquanto isso os magnatas da borracha edificaram na região mansões de arquitetura extravagante e decoração suntuosa, os novos ricos da selva mandavam trazer alimentos mais caros do Rio de Janeiro, as melhores modistas da Europa cortavam seus trajes e vestidos, enviavam seus filhos para estudar no exterior. E por muitas vezes o seringueiro que era obrigado a trabalhar incessantemente para atender a produção e o ideal de guerra, passava agudas privações por conta das longas jornadas de trabalho que eram lhe aplicadas por parte do seringalista. O Teatro Amazonas, monumento barroco, é o símbolo maior da vertigem daquelas fortunas dos dois ciclos da borracha. Ao longo desse período histórico, as elites regionais e o poder estatal nutriram-se de forma satisfatória. Quanto ao seringueiro, o que trabalhava e produzia, nada foi atribuído em seu benefício, o Seringueiro ou Soldado da Borracha, todos que viviam a extrair a borracha foram explorados, espoliados, lesados e submetidos a mais extrema miséria, tanto o Soldado da borracha como o seringueiro trabalharam espalhados na vasta região Amazônica atendendo um projeto Geopolítico do governo de Getúlio Vargas denominado Marcha para Oeste, objetivando os interesses regional e nacional. Além da ausência do estado, com relação a assistência médica, informação, seguridade, assistência social e jurídica, o estado também foi responsável pelo processo de conflito, enfrentamento a que foram submetidos os índios e os civilizados. Esse fato contribuiu milhares de mortes entre os dois lados. Hoje todos nós sabemos que o governo brasileiro, na época recebeu por força dos Acordos de Washington, a quantia de US$ 2.400.00,00 ( dois milhões e quatrocentos mil dólares) pago ao governo brasileiro que devia servir como fundo de assistência e benefício aos que durante o período da segunda guerra haviam trabalhado nos seringais. Todos aqueles que estavam nos seringais quando termino a guerra, permaneceram trabalhando, extraindo borracha. As décadas de 1950 e 1960 passaram sem que os seringueiros tivessem recebidos qualquer informação sobre seus destinos. Muitos ficaram aborrecidos e injuriados diante da omissão do estado. Sem receberem informações, desanimados até desfaziam-se dos documentos, comprovante de “recrutamento e encaminhamento”. Vários documentos deterioraram-se, sem que o seringueiro recebesse informação alguma. Dos Soldados da Borracha que foram encaminhados para os seringais, quase a metade pereceram vitimados por doenças diversas como: malária, febre amarela, hepatite, beribéri, ou foram mortos e devorados por onças, assassinados por índios, ou por capangas a mando dos patrões. Os que permaneceram nos seringais passaram por situações deprimentes, sofrendo com a miséria, doenças e a falta de informações. Hoje 80% dos Soldados da Borracha estão mortos, outros não se tem notícias, a parcela restante dessa categoria que ainda está viva espera ansiosa por uma ação na justiça de indenização por dano moral e material, movida pelo sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia desde o ano de 2009, e procura na porta dessa instituição que defende os direitos da categoria, notícias de dias melhores que possam compensar a pesada velhice, a desconsideração do governo brasileiro que repousa sobre os ombros desses bravos e já velhos guerreiros. ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA DO SINDSBOR Email – sindsborpvh@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. lutaurbana@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. Tel. 069- 3224-2611/3224-5872/ 9275-7198 Copyright © 2011. All Rights Reserved. COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO

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