quinta-feira, 26 de abril de 2012
EMPRENDEDORISMO
DESENCADEANDO
O EMPREENDEDORISMO
O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Comissão para o
Setor Privado& Desenvolvimento
RELATÓRIO PARA O SECRETÁRIO GERAL
DAS NAÇÕES UNIDAS
1° de março de 2004
As análises e recomendações de políticas deste
Relatório não refletem necessariamente as
opiniões do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, de sua Diretoria Executiva ou dos
Países Membros das Nações Unidas.O Relatório
é uma publicação independente, feita pelo PNUD,
e reflete o pensamento dos membros da Comissão
para o Setor Privado e Desenvolvimento.
Direitos reservados (2004):
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
One United Nations Plaza, New York, NY 10017, USA
Todos os direitos reservados.Nenhuma parte desta
publicação será reproduzida, armazenada ou
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forma, eletrônica, mecânica, fotocópia ou outro meio,
sem a permissão prévia do PNUD.
MEMBROS DA COMISSÃO
CO-PRESIDÊNCIAS
Honorável Senhor Paul Martin
Primeiro Ministro, Canadá
Ernesto Zedillo
Diretor, Centro Universitário de Yale para Estudos da Globalização
Ex-Presidente, México
MEMBROS
MEMBROS EX-OFFICIO
Maurice Strong (Canadá)
Conselheiro Especial da Comissão
Mark Malloch Brown (Reino Unido)
Administrador, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SUPLENTES
Debra Dunn, para Carleton Fiorina (Estados Unidos)
Vice-Presidente Sênior de Assuntos Corporativos, Companhia Hewlett-Packard
Michael Froman, para Robert Rubin (Estados Unidos)
Presidente e CEO, CitiInsurance
SECRETARIADO DA COMISSÃO
Diretor Executivo: Nissim Ezekiel
Equipe Principal: Jan Krutzinna, Naheed Nenshi,Yann Risz e Sahba Sobhani
Eduardo Aninat (Chile)
Ex-Diretor Administrativo Adjunto
Fundo Monetário Internacional
Jorge Castañeda (México)
Ex-Ministro das Relações Exteriores, México
Professor Emérito de Políticas e Estudos da América
Latina, Universidade de Nova Iorque
Luisa Diogo (Moçambique)
Ministra do Planejamento e Finanças,
Moçambique
Carleton Fiorina (Estados Unidos)
Presidente e CEO, Companhia Hewlett-Packard
Rajat Gupta (Índia)
Sócio Sênior - Global
McKinsey & Company
Anne Lauvergeon (França)
Presidente do Conselho Executivo, Areva Group
Presidente e CEO, Cogema
Jannik Lindbaek (Noruega)
Presidente, Statoil ASA
Peter McPherson (Estados Unidos)
Presidente,Michigan State University
Alan Patricof (Estados Unidos)
Vice-Presidente do Conselho de Administração e
Fundador, Apax Partners
Kwame Pianim (Ghana)
CEO,Novo Mundo Investimentos
C.K. Prahalad (Estados Unidos)
Professor de Administração de Empresas
Titular da Cadeira Harvey C. Fruehauf
Faculdade de Administração, Universidade de
Michigan
Robert Rubin (Estados Unidos)
Diretor e Presidente do Conselho
Comitê Executivo, Citigroup
Ex-Secretário do Tesouro, Estados Unidos
Miko Rwayitare (África do Sul)
Presidente e Diretor Executivo,
Telecel International
Proprietário da Vinícola Mont Rochelle
Juan Somavia (Chile)
Diretor Geral, Organização Internacional do Trabalho
Hernando de Soto (Peru)
Presidente, Instituto para Liberdade
e Democracia, Peru
liminar a pobreza, aspiração primordial dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, é
maior prioridade de desenvolvimento do século
21. Apesar do enorme progresso feito nos últimos
50 anos, 1,2 bilhões de pessoas (a quinta parte da população mundial)
subsistem com menos de um dólar por dia, sem acesso a muitos dos serviços
sociais considerados básicos para uma vida digna. Esta situação penosa requer uma
resposta global, que utilize todos os recursos financeiros, intelectuais e
organizacionais que possamos reunir.
Diante deste quadro desolador, o Secretário Geral Kofi Annan desafiou a
Comissão para Setor Privado e Desenvolvimento a responder duas perguntas:
Como podemos desencadear o potencial do setor privado e do
empreendedorismo, nos países em desenvolvimento? Como o setor privado pode
ser engajado no combate à pobreza? O presente relatório é a nossa resposta a essas
interrogações.
O Relatório oferece recomendações sobre como os atores principais – governos,
instituições públicas de desenvolvimento, o setor privado e as organizações da
sociedade civil (ONGs) – podem alterar abordagens e estratégias para reforçar
significativamente a capacidade do setor privado de promover o desenvolvimento.
PRÓLOGO
E
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES i
Foto: Sonya Laurence Green/PNUD Somália
O objetivo de combater a pobreza nos
leva a focar no desenvolvimento de
negócios que criam empregos e
riqueza na economia nacional,
potencializando a capacidade dos
empreendedores locais.
Traçamos um plano ambicioso para
nossa tarefa, que se completou em
pouco mais de um semestre desde
nosso primeiro encontro em junho de
2003. Nossa intenção não foi a de
realizar pesquisa básica: já se
encontram em andamento muitas
iniciativas de pesquisa, e as principais
agências de desenvolvimento,
fundações privadas e instituições
acadêmicas vêm direcionando sua
energia para analisar as contribuições
do setor privado ao desenvolvimento.
Ao invés disso, nossa abordagem
consistiu em compreender e assimilar
o trabalho já feito por todas as partes
da coalizão para o desenvolvimento –
incluindo empresas, sindicatos e
organizações da sociedade civil – e
integrar nossas conclusões ao marco
aqui apresentado.
A voz do empresariado se fez muito
presente nos trabalhos da Comissão,
expressa através de suas ações e
respostas às ambiciosas consultas
realizadas para entender o que mais
afeta sua capacidade de produzir e
crescer. É a capacidade, o ímpeto e a
inovação dos empreendedores que,
conjuntamente, ampliam o impacto do
setor privado amplamente constituído.
As ações do empresariado abrangem
as diretivas de gestores de
multinacionais e de grandes empresas
nacionais, mas também as de
indivíduos que operam informalmente
em pequenas comunidades. Demos a
suas vozes nossa maior atenção.
A Comissão procurou destacar uma
ampla gama de exemplos e boas
práticas, que mostram como as
estratégias do setor privado podem ser
direcionadas para a causa do
desenvolvimento e da redução da
pobreza. Dentre tais experiências,
incluem-se iniciativas de sucesso
originadas a partir de atores
tradicionais de desenvolvimento, como
os organismos multilaterais de
desenvolvimento e as agências de
cooperação bilateral. Porém,
freqüentemente, destacamos
abordagens menos conhecidas, porém
inovadoras, desenvolvidas e
implementadas pelo setor privado,
tanto por empresas quanto por
organizações da sociedade civil. Estes
métodos baseiam-se em mecanismos
de mercado e em incentivos do setor
privado, tornando-os mais facilmente
replicáveis e ampliáveis, como
acreditamos ser necessário fazer. Uma
de nossas principais constatações é a
escassez de conhecimento sobre boas
práticas, gerando a necessidade de
melhores pesquisas e análises sobre o
que funciona e o que não funciona.
Nossa conclusão preliminar foi de que
não bastaria que esta Comissão
produzisse um relatório tradicional, do
tipo em que se declaram opiniões e
conclama-se outros para a ação. Pelo
contrário, consideramos fundamental
elaborar uma série de
iniciativas e ações piloto, que testassem
nossas principais observações e
conclusões, de tal forma que sua
correspondência com o universo real
do desenvolvimento pudesse ser
demonstrada. Essa é a razão pela qual
o relatório se encerra apresentando um
repertório ilustrativo de ações, que
serão detalhadas nos próximos meses,
para serem brevemente implementadas
como projetos piloto. Algumas destas
ações poderiam ser impulsionadas pelo
Sistema das Nações Unidas, outras por
seus parceiros e partes interessadas.
As iniciativas propostas não são
suficientes. Nós as apresentamos como
orientação acerca dos tipos de ações
que consideramos que podem e devem
ser replicadas, para que haja o maior
impacto possível. Tampouco cremos
que cada uma destas ações constitua-se
num modelo perfeito. As
peculiaridades de cada país nos
exigirão modificações nas iniciativas,
assim como em algumas de nossas
recomendações gerais, para adaptá-las
a cada situação concreta. Nossas idéias
e conclusões são apresentadas como
diretrizes que propiciam um diálogo
construtivo. O intuito é catalisar uma
coalizão renovada entre os principais
atores envolvidos, centrada nos
desafios aqui apresentados. Tal
coalizão é essencial para desencadear o
potencial do setor privado, atingir os
Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio e combater a pobreza.
ii DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Paul Martin Ernesto Zedillo
Co-Presidente Co-Presidente
Foto: Luc Anh/PNUD
trabalho da Comissão não teria sido possível sem
a participação e a contribuição de muitas
pessoas e organizações.Desejamos expressar
nossa sincera gratidão a todos aqui mencionados.
AGRADECIMENTO ESPECIAL...
À McKinsey & Company, que ofereceu informações e assessorament à Comissão
e seu Secretariado durante todo o projeto. A equipe de Maria Blair,Michael
Monson e Mark Templeton, que foi conduzida por Tilman Ehrbeck, Diana
Farrell, Jeremy Oppenheim e Les Silverman.
A Jennifer Barsky, Prabal Chakrabarti e Irene Philippi que também deram
contribuições vitais para o trabalho do Secretariado.
LEITORES E ESPECIALISTAS
Nosso trabalho recebeu contribuições de muitos que nos precederam, e outros
muitos que nos brindaram generosamente com seu tempo e conhecimento para
ajudar-nos a consolidar nossas idéias. Dentre eles:
AGRADECIMENTOS
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES iii
O
Adrian Hodges, Fórum
Internacional de Líderes
Empresariais; Lalita Gupte,Mahdav
Kalyan e K. V. Kamath, Banco
ICICI; Nandan Nilekani e Sanjay
Purohit, Infosys Ltd.; Percy S.
Mistry, Oxford International Group;
Richard Frank, Bob Graffam, Julio
Lastres e Alexander Schwedelheim,
Darby Overseas Investments Ltd;
Michael Barth, Companhia
Holandesa de Financiamento ao
Desenvolvimento;
Nancy Bearg, Enterprise Works;
Gary Bond, Noreen Doyle e Michael
McCullough, Banco Europeu para
Reconstrução e Desenvolvimento;
Cameron Rennie, Conselho
Empresarial Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável;
Enrique Ferraro, Jim Kaddaras e
Maria Otero, Accion; Jide Zeitlin,
Goldman Sachs; Masood Ahmed,
David Stanton e Adrian Wood,
Departamento Internacional para o
Desenvolvimento, Reino Unido;
Professores Michael Chu, Calestous
Juma, Tarun Khanna, George Lodge,
Michael E. Porter, Iqbal Quadir e
Deborah Spar, Universidade de
Harvard; Michael Fairbanks, On the
Frontier; Craig Wilson, DeltaPearl;
Elli Kaplan; Benjamin Krutzinna;
Neysan Rassekh; Alex Shakow;
George Ivanov; Eleonore Kopera,
Fórum Humanitário de Negócios;
Barbara Samuels, Samuels
Associates; Donald Snodgrass,
Development Alternatives, Inc.;
Elizabeth Littlefield, CGAP; Bill
Kramer, Instituto de Pesquisa da
Água; Hugh Locke, Locke
Associados; Bill Draper,
DraperRichards; Joaquim
Boborquez; Maria Cattaui Livanos e
William Stibravy, da Câmara
Internacional de Comércio; Robert
Litan, Robert Chernow, Fundação
Ewing Marion Kauffman;
Professores John McMillan e Paul
Milgrom, Universidade de Stanford;
Christopher Woodruff, Universidade
da Califórnia, San Diego; Professor
Jonathan Morduch, Universidade de
Nova Iorque; Jeb Brugman e Craig
Cohon, GlobalLegacy; Bob Fitch,
Enterplan; Daniel Zelikow, JP
Morgan; Kenny Pegram e Ray
Smilor, Fundação para o
Desenvolvimento de Empresas; Sunil
Sinha, Emerging Market Economics;
Roland Dominicé e Jean-Philippe de
Schrevel, BlueOrchard; Professor
Roger Leeds, Universidade Johns
Hopkins; Professor Ted London,
Laboratório de Estudos sobre a Base
da Pirâmide da Universidade da
Carolina do Norte; John Richardson
e Sevdalina Rukanova, Centro das
Fundações Européias; Kenneth
Borghese, John E.Wasielewski,
Agência Internacional de
Desenvolvimento dos Estados
Unidos; S. Aftab Ahmed, Sabine
Durier,Mariann Kurtz, Guy
Pfeffermann, Harold Rosen, Thomas
Schipani, Bernard Sheahan e Udayan
Wagle, Corporação Financeira
Internacional; Gerard Byam, Cesare
Calari, Gerard Caprio, Arvind
Gupta, Jemal-ud-din Kassum,
Michael Klein, Khalid Mirza,
Francois Nankobogo, Neil Roger,
Marilou Uy and Dileep Wagle,
Banco Mundial; Gerald T.West,
Fundo Multilateral para Garantia de
Investimentos; Jonathan Fiechter
and Prakash Loungani, Fundo
Monetário International; Karen
Decker and Arvind Mathur, Banco
de Desenvolvimento da Ásia; Nancy
Boswell, Transparência Internacional;
Antonio Vives, Banco Inter-
Americano de Desenvolvimento; e
Ric Cameron e Arthur Saper,
Agência de Desenvolvimento
Internacional do Canadá.
CONSULTAS
O Secretariado da Comissão efetuou
quatro consultas formais com
representantes internacionaos do
trabalho; fundações européias,
acadêmicos, organizações canadenses
da sociedade civil. Nosso
agradecimento aos anfitriões dessas
consultas, incluindo a Organização
Internacional do Trabalho e o Centro
Europeu de Fundações, assim como
aos participantes das consultas,
dentre os quais encontram-se: Bob
Kyloh, da delegacia sindical da
Organização Internacional do
Trabalho; Raul Requena, Rede
Internacional de Sindicatos;Wendy
Caird, Internacional de Serviços
Públicos; Carla Coletti, Federação
Internacional dos Metalúrgicos;
Esther Busser, Confederação
Internacional dos Sindicatos Livres;
Sándor Köles, Fundação Carpathian;
Matthieu Vanhove, Cera Holding;
William White, Charles Fundação
Stewart Mott; Dario Disegni,
Compagnia di San Paolo; Charles
iv DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Buchanan, Fundação Luso-
Americana; Michael Brophy, Help
for All Trust; Luc Tayart de Borms,
Fundação King Baudouin; Michel
Bourges Maunaury, Madariaga
Fundação Européia; Raymond
Georis e Alexandre Kirchberger,
Rede das Fundações Européias para
Cooperação em Inovação; Ineke
Derkzen, Fundação Rabobank; John
Mroz, Instituto Leste-Oeste; Charles
Maynes, Fundação Eurásia; John
Wyn Owen, Nuffield Trust; David
Dollar, Banco Mundial; Michael
Klein, Grupo Banco Mundial;
Raymond Fisman, Universidade de
Columbia; Florencio Lopez-de-
Silanes, Universidade de Yale; Nazeer
Aziz Ladhani, Fundação Aga Khan;
Gerry Barr, Conselho Canadense
para a Cooperação Internacional;
John Watson, CARE Canadá;
Patricia McCullagh, Ric Cameron e
Arthur Saper, Agência de
Desenvolvimento Internacional do
Canadá; Michel Chaurette, Centro
Canadense para Estudos
Internacionais e Cooperação; Pam
Foster, Iniciativa Halifax; Molly
Kane, Inter Pares; Robert Letendre,
Organização Católica Canadense
para o Desenvolvimento e a Paz;
Mark Fried e Rieky Stuart, OXFAM
Canadá; Roy Culpeper, Instituto
Norte-Sul; e Kathy Vandergrift,
Visão Mundial do Canadá.
NAÇÕES UNIDAS
Muitos dentro da grande família das
Nações Unidas generosamente nos
concederam seu tempo e seu
conhecimento, incluindo: Michael
Henriques e Stephen Pursey da
Organização Internacional do
Trabalho;Wilfried Luetkenhorst e
sua equipe na Organização das
Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial; Georg
Kell e sua equipe, do Global
Compact; e Antti Piispanen,
Lorraine Ruffing, Karl Sauvant e a
equipe da Conferência das Nações
Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento. Nosso
agradecimento também a John
McArthur e sua equipe do Projeto
Milênio; e aos colegas do Programa
das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD): Zéphirin
Diabré, Administrador Adjunto;
Bruce Jenks, do Departamento de
Recursos e Parcerias Estratégicas, e
quem forneceu a orientação geral do
PNUD ao projeto; Sanjay Gandhi,
Connie Gratil, Sirkka Korpela e
Casper Sonesson, também do
Departamento de Recursos e
Parcerias Estratégicas; Kalman
Mizsei do Departamento para a
Europa e CIS; Shoji Nishimoto do
Departamento de Políticas de
Desenvolvimento; Hafiz Pasha do
Departamento para a Ásia e o
Pacífico; a equipe do Escritório do
Administrador, em especial Gilbert
Houngbo, Lauren Canning, Alan J.
Lee e Mark Suzman; Djibril Diallo,
Victor Arango, Carmen Higa,
Hyacinth Morgan e William Orme
do Departamento de Comunicação
do Administrador; Christina
Barrineau, Normand Lauzon e Peter
Kooi do Fundo de Desenvolvimento
de Capitais das Nações Unidas; e
Bibi Amina Khan e Golda Kruss,
que deram suporte ao Secretariado
da Comissão.
EDIÇÃO, DESIGN
E PRODUÇÃO
Por fim, agradecemos profundamente
àqueles que nos ajudaram com a
edição, a produção e a tradução,
sempre trabalhando com prazos
reduzidos: Bruce Ross-Larson e
Meta de Coquereaumont, Elizabeth
McCrocklin, Thomas Roncoli e
Christopher Trott, da Cia. de
Desenvolvimento de Comunicações.;
Julia Dudnik-Ptasznik da Colonial
Comunicações; Michel Coclet;
Edward Ranney Carta, da EurOz
Tecnologias; Thomas Barbush e a
equipe da Gráfica Moore Wallace-
Hoechstetter; Kaika Clubwala da
A.K. Suprimentos para Escritórios; e
Elizabeth Scott Andrews, Naeem
Arastu, Sokhna Diouf, Françoise
Gerber, Rajeswary Iruthayanathan,
Maureen Lynch e Jeremy Owens, do
PNUD.
Finalmente, gostaríamos de
agradecer o Escritório do Programa
das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) no Brasil,
em especial ao seu Representante
Residente Carlos Lopes, e à equipe
que nos prestou inestimável suporte
para a produção, lançamento e
distribuição no Brasil e nos demais
países de língua portuguesa, da
versão em português do relatório:
Marielza Oliveira, Karla Parra,
Denise Kipmann, Narue Shiki e
Wilson Soares.
AGRADECIMENTOS v
ÍNDICE
MEMBROS DA COMISSÃO
PRÓLOGO i
AGRADECIMENTOS i i i
DESTAQ U E S 1
CAPÍTULO 1 . POR QUE O SETOR PRIVADO
É TÃO IMPORTANTE PARA A REDUÇÃO DA POBREZA 5
A extrema pobreza persiste 6
O setor privado é importante para os pobres...e, muitas vezes, é constituído pelos pobres 7
Quem são os empresários? 8
O foco no setor privado nacional 9
CAPÍTULO 2 . RESTRIÇÕES AO S E TOR PRIVADO
NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
11
Informalidade generalizada entre as microempresas 12
Poucas empresas pequenas e médias são competitivas 13
A ausëncia de pressão competitiva sobre as grandes empresas 14
Bases para o empreendedorismo—ainda por construir 14
Os três pilares do empreendedorismo—normalmente inexistentes 17
CAPÍTULO 3 . COMO DESENCADEAR
O PODER DO SETOR PRIVADO 21
Construindo as bases 23
Erguendo os pilares 24
CAPÍTULO 4 . ENGAJANDO O SETOR PRIVADO
NO DESENVOLVIMENTO 29
Servindo os mercados na base da pirâmide 30
Formando um ambiente favorável e construindo redes 30
Fomentando parcerias público-privadas para o desenvolvimento sustentável 33
Aprimorando a governança corporativa 34
Avançando as práticas empresariais responsáveis e os padrões
de responsabilidade social corporativa 34
CAPÍTULO 5 . AÇÕES RECOMENDADAS 37
Ações na esfera pública: criando um ambiente favorável 38
Ações na esfera público-privada: associações e inovação 40
Ações na esfera privada: mobilizando capacidades e recursos 41
Olhando para o futuro 42
NOTA BIBLIOGRÁFICA 43
BIBLIOGRAFIA 45
QUADROS
Quadro 1.1 Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 7
Quadro 3.1 O setor privado da Costa Rica — um bom exemplo 27
Quadro 4.1 Recursos inexplorados, para o desenvolvimento do setor privado 30
Quadro 4.2 O potencial da base da pirâmide 32
FIGURAS
Figura 1.1 Mais investimentos — maior crescimento 7
Figura 1.2 Quatro bilhões de pessoas forman a base da pirâmide 8
Figura 2.1 A informalidade cresce nos países mais pobres 12
Figura 2.2 Na medida em que os países enriquecem, pequenas e médias
empresas tornam-se mais importantes e a informalidade menos importante 13
Figura 2.3 Bases para o setor privado e pilares do empreendedorismo 15
Figura 2.4 Empresas de países de baixa renda suportam maiores
encargos para se formalizarem 17
Figura 3.1 Fortalecendo a eficácia das ações de desenvolvimento
do setor privado tradicional 22
Figura 4.1 Contribuições do setor privado para o seu próprio desenvolvimento 30
Figura 5.1 Ações em três áreas centrais 38
Foto: Pedro Cote/PNUD
Comissão acredita que qualquer programa de
desenvolvimento do setor privado – assim como
recomendações de ações e políticas que o
acompanham – deve estar embasado na
consciência de que a poupança, os investimentos e a inovação que conduzem ao
desenvolvimento são efetuados majoritariamente por indivíduos, corporações e
comunidades.
O setor privado pode reduzir a pobreza ao contribuir para o crescimento
econômico, a criação de empregos e a geração de renda para a população pobre.
Também pode empoderar a população pobre, ao oferecer um vasto espectro de
produtos e serviços a preços mais baixos.
Pequenas e médias empresas são criadoras de emprego, representando sementes
para a inovação e o empreendedorismo. No entanto, em muitos países pobres,
pequenas e médias empresas têm relevância marginal no ecoistema nacional. Um
número significativo delas opera de forma ilegal, contribuindo para a ampliar a
informalidade e reduzir a produtividade, e lhes falta financiamento e capital de
longo prazos, bases necessárias à construção de empresas viáveis.
DESTAQUES
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 1
A
A Comissão acredita que a
responsabilidade principal para atingir
o crescimento e o desenvolvimento
eqüitativos é dos países em
desenvolvimento, e consiste em criar as
condições que possibilitem a obtenção
dos recursos financeiros necessários
para efetuar investimentos.
Essas condições – a governabilidade,
as políticas macro e microeconômicas,
as finanças públicas, o sistema
financeiro e outros elementos
fundamentais do ambiente econômico
de um país – são, em grande parte,
determinadas pelas ações dos
responsáveis pela formulação de
políticas. Seu desafio consiste em
capitalizar os avanços da estabilidade
macroeconômica e da democracia, e
assim iniciar reformas que produzam
mais mudanças nos marcos
institucionais e que, por sua vez,
potencializam e estimulam o setor
privado.
A maior parte das ações recomendadas
implica em colaboração entre os atores
sociais. Quando os governos
implementam mudanças nas políticas,
normalmente o fazem com o apoio e
participação direta das instituições
multilaterais de desenvolvimento.
Quando o setor privado adota uma
postura mais ativa no processo de
desenvolvimento sustentável, muitas
vezes o faz em resposta a
posicionamento da sociedade civil, que
chama a atenção para o tema. Quando
os governos implementam reformas
regulatórias, podem efetuá-las em
consulta direta a representantes do
setor privado. As ações específicas
identificadas neste relatório devem ser
entendidas no contexto desta ampla
cooperação – cada vez mais necessária
para combater a pobreza.
Existem três áreas de grande interesse
para nós, quais sejam:
1.Na esfera pública, promover
reformas na legislação, na regulação e
em outras barreiras ao crescimento.
2.Na esfera público-privada,
facilitar a cooperação e as parceiras
entre atores públicos e privados, de
forma a ampliar o acesso a fatores
determinantes, tais como
financiamento, capacitação e serviços
básicos.
3.Na esfera privada, estimular o
desenvolvimento de modelos de
negócios que podem ser expandidos e
reproduzidos, e que sejam
comercialmente sustentáveis.
AÇÕES NA ESFERA
PÚBLICA: CRIANDO UM
AMBIENTE PROPÍCIO
A criação de um ambiente propício ao
desenvolvimento inclui medidas para
reduzir participação do setor informal
na economia, através de reforma do
ambiente geral favorável à economia
formal.
Para os governos dos países
em desenvolvimento
Reforma dos marcos regulatórios e
fortalecimento do estado de direito.
Os governos dos países em
desenvolvimento devem externar um
compromisso forte e definitivo para
com o desenvolvimento sustentável do
setor privado, combinando este
compromisso com um esforço genuíno
para reformar o ambiente regulatório e
eliminar as barreiras artificiais,
oriundas de políticas que restringem o
crescimento econômico.
Formalizar a economia. Os governos
dos países em desenvolvimento
precisam enfocar a criação de condições
para reduzir a informalidade e
assim, no longo prazo, alterar a
composição do ecosistema do setor
privado.
Engajar o setor privado nas políticas.
Os governos precisam criar uma
parceria verdadeira com os
representantes do setor privado
nacional, de forma a por em prática as
mudanças e assegurar que a voz do
setor privado inclua as vozes das
micro, pequenas e médias empresas.
Para os governos dos países
desenvolvidos
Fomentar um ambiente
macroeconômico internacional e um
regime de comércio favoráveis. Com
o objetivo de promover o rápido
crescimento do investimento privado
nacional, é essencial aumentar o fluxo
da cooperação para o desenvolvimento
e reformar o sistema de comércio
global, a fim de oferecer oportunidades
econômicas justas aos produtores dos
países em desenvolvimento.
Redirecionar as estratégias
operacionais das instituições e
agências multilaterais e bilaterais de
desenvolvimento. Ao encorajar o
desenvolvimento sustentável do setor
privado, os países desenvolvidos
precisam assegurar que as ações
coletivas dessas agências serão melhor
coordenadas, de forma a auamentar
sua eficiência e reduzir a pressão
exercida sobre a capacidade
administrativa dos governos dos países
em desenvolvimento.
2 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Desatar os nós do financiamento.
São desejáveis certas mudanças nas
regras administrativas que regem
fundos vinculados, para que um uso e
uma prestação de assistência técnica
mais efetivos estimulem o
desenvolvimento do setor privado.
Para as instituições multilaterais
de desenvolvimento
Aplicar a recomendação de
Monterrei sobre especialização e
associação, para as atividades de
desenvolvimento do setor privado.
A significativa sobreposição de
atividades é contraproducente e precisa
urgentemente ser abordada.
Tratar o problema da informalidade
nos países em desenvolvimento. Há
um trabalho pioneiro em marcha, para
descrever a estrutura do setor informal,
e um esforço global para expandir
a cobertura deste trabalho poderia
alcançar benefícios significativos.
AÇÕES NA ESFERA
PÚBLICO-PRIVADA:
ASSOCIAÇÕES
E INOVAÇÃO
A Comissão considera necessário que
todas as partes façam esforços
coordenados nos âmbitos financeiro,
de capacitação e de parcerias públicoprivadas
para a prestação de serviços
essenciais.
Facilitar o acesso a maiores opções
de financiamento. Visualizamos o
desenvolvimento contínuo dos
mercados financeiros nacionais,
acoplado à capacitação de reguladores
e de instituições financeiras privadas.
Contribuir para o desenvolvimento
de capacidades e conhecimentos.
Ações de construção de capacidades
poderiam abranger desde programas
para lideranças públicas e privadas,
passando pelo treinamento de microempreendedores,
até colaboração com
autoridades públicas e sindicatos para
melhorar a capacitação de
trabalhadores.
Facilitar o fornecimento sustentável
de serviços básicos, principalmente
energia e água.Neste campo, a
Comissão observa a necessidade de
que se desenvolvam modelos
inovadores que fomentem parcerias
entre provedores de serviços
governamentais, multinacionais e
empresas locais.
AÇÕES NA ESFERA
PRIVADA:
MOBILIZANDO
CAPACIDADES E
RECURSOS
A Comissão acredita que o setor
privado – e, em especial, grandes
empresas nacionais e multinacionais -
precisa estar consciente de que pode
contribuir para acelerar o
desenvolvimento econômico e a
redução da pobreza.
Para o setor privado
Canalizar a iniciativa privada para
os esforços de desenvolvimento.
Acreditamos que o setor privado tem
um potencial imenso para contribuir
com o desenvolvimento, por meio do
seu conhecimento, especialização,
recursos e relacionamentos.
Desenvolver vínculos entre
multinacionais e grandes empresas
nacionais, para fortalecer pequenas
empresas. Os elos estabelecidos entre
os diferentes tipos de empresas, em
países em desenvolvimento, oferecem
um canal efetivo para proporcionar às
empresas locais o acesso a mercados,
financiamento e conhecimentos
técnicos.
Fomentar oportunidades de
negócios em mercados localizados
na base da pirâmide. Outra ação vital
que pode ser feita pelo setor privado,
tanto nacional quanto internacional,
consiste em reconhecer as necessidades
dos mercados da base da pirâmide (os
4 bilhões de pessoas que ganham
menos de US$1.500/ano), criando
soluções inovadoras para atender essas
necessidades.
Estabelecer padrões. O setor privado
precisa ter um compromisso real com
o desenvolvimento sustentável,
prestando especial atenção à
governabilidade e à transparência das
empresas.
Para as organizações do trabalho
e da sociedade civil.
A Comissão considera que as
organizações do trabalho e da
sociedade civil devem continuar
exercendo seu papel de observadores
críticos da agenda de desenvolvimento
– e de facilitadores e apoiadores de
abordagens inovadoras para atingir os
Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio e melhorar as condições de
vida das pessoas pobres.
Aumentar a responsabilidade no
sistema. Este é um elemento
fundamental do trabalho das
organizações da sociedade civil, assim
como de sua liderança em disseminar
o conceito de desenvolvimento
sustentável. Esse trabalho deve ser
fortalecido.
DESTAQUES 3
Desenvolver novas parcerias e
relações para atingir objetivos
comuns. As organizações da sociedade
civil são as que se encontram mais
próximas da base da pirâmide. Elas
também são, por muitas vezes,
instrumentos de experimentação de
novas tecnologias para solução de
problemas.
OLHANDO
PARA O FUTURO
Para fomentar o progresso, a Comissão
recomenda que as Nações Unidas
promovam o acompanhamento do
desenvolvimento do setor privado. Um
relatório anual de progresso manteria a
proeminência das recomendações gerais
da Comissão e asseguraria o
compromisso em tratar os diversos
problemas a aqui identificados.
A Comissão está preparando uma
primeira série de iniciativas viáveis,
que propiciam as transformações em
países específicos, e provêem as
ferramentas para que governos e setor
privado complementem os recursos
disponíveis e iniciem rapidamente a
implementação de um programa de
mudanças. Essas primeiras ações têm
o intuito de estimular respostas
colaborativas de potenciais parceiros
que venham a ler este relatório. Nossa
mensagem a todos vocês é: juntem-se
a nós.
2 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Foto: Boris Missirkov
Este relatório nos leva a percorrer um vilarejo
humilde num dia qualquer, e nos permite enxergar
os empreendedores em sua labuta diária. Nos
conscientiza de que o pequeno empreendedor é
um elemento tão importante do setor privado quanto uma corporação
multinacional, fazendo-nos reconhecer que o setor privado já ocupa uma posição
central na rotina das pessoas pobres, e que detém o poder de melhorar suas vidas.
Nos orienta a fazer uso das inovações tecnológicas, organizacionais e gerenciais do
setor privado, para melhorar as condições de vida dos pobres. Portanto, o tema
central deste relatório é como desencadear o poder dos empreendedores locais
para reduzir a pobreza em suas comunidades e nações.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ambiciosos em magnitude e
alcance, só podem ser atingidos se estabelecermos o compromisso de aplicar as
melhores práticas e conhecimentos. O problema é gigantesco, com um quinto da
população mundial subsistindo com menos de um dólar por dia, porém exemplos
CAPÍTULO 1
POR QUE O SETOR PRIVADO
É TÃO IMPORTANTE PARA
A REDUÇÃO DA POBREZA
E
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 5
de empresas privadas que contribuem
para reduzir a pobreza nos encorajam a
ser otimistas. Considere as exportações
de roupas por Bangladesh, de
tecnologia da informação pela Costa
Rica, e de flores pelo Quênia – novas
indústrias gerando empregos,
aumentando a renda, fazendo a
esperança crescer. Considere, ainda, as
seguintes experiências de sucesso,
abrangendo desde modernas
multinacionais até empreendedores
nacionais, que demonstram o potencial
do retorno privado para fomentar o
desenvolvimento:
■ A Cemex, uma empresa
cimenteira mexicana, tornou-se
uma das principais produtoras e
inovadoras mundiais do seu setor,
empregando milhares de pessoas.
■ As Casas Bahia, no Brasil,
desenvolveram um modelo de
negócios único, através do qual
ofertam serviços de varejo
eficientes a consumidores pobres.
■ A Infosys, uma empresa indiana
de serviços de tecnologia da
informação, cresceu, de um
faturamento inferior a US$ 10
milhões no início de 1990, até se
tornar uma líder mundial, com
faturamento atual de quase US$
800 milhões, ao mesmo tempo que
estabeleceu padrões internacionais
de governança corporativa e criou
uma nova parceria para o
desenvolvimento com os governos
local e central.
■ O Banco ICICI, também da Índia,
emprega tecnologia e uma
abordagem integrada de toda a sua
variada carteira de clientes –
particularmente em mercados
rurais, micro, pequenas e médias
empresas.
■ No Camboja, centenas de
pequenos fornecedores privados
oferecem serviços que vão desde a
recarga de baterias até a provisão
de energia elétrica a comunidades
inteiras. Esses fornecedores
atendem, hoje, um total estimado
de 115 mil consumidores, mais de
um terço dos consumidores de
energia elétrica do País.
■ A forte competição entre empresas
privadas de telefonia na Somália
contribuiu para reduzir o custo das
ligações internacionais a menos de
um dólar por minuto, cerca de um
sexto do que custa em muitos
outros países africanos. Isso ocorre
em um país onde não há sistema
postal ou bancário oficial, e onde
muitos não têm acesso à água
encanada ou eletricidade.
■ Na Guatemala, a Confederação de
Cooperativas Agrícolas formou
uma joint venture com uma
empresa canadense, que hoje
exporta mais de três milhões de
dólares/ano em vegetais para o
Canadá, gerando uma renda estável
para 100 mulheres indígenas e
sustento para mais de mil
produtores rurais.
■ Em Moçambique, um produtor
rural comprou, financiada, uma
prensa para extração de óleo de
semente. Hoje em dia, dono de
quatro prensas para extração de
óleo, ele se uniu a nove outros
operadores de prensas numa
cooperativa que negocia em grupo
com bancos e compradores locais.
■ Na Índia, pequenos produtores de
soja usam um pequeno quiosque de
acesso à Internet para conferir os
preços de seu produto no website
da Bolsa de Chicago, eliminando
intermediários locais e obtendo
preços melhores.
Esses exemplos não são apenas
histórias de sucesso, são histórias sobre
o sucesso do setor privado nacional, e
o tema central deste relatório. Porém,
sair do “caso de sucesso” para chegar a
resultados significativos requer uma
nova forma de pensar o
desenvolvimento, que não seja limitada
pelas ideologias ou viciada por debates
exaustivos.
A EXTREMA POBREZA
PERSISTE
Apesar dos progressos em alguns
países e regiões, a extrema pobreza
persiste como um problema de difícil
solução na maior parte do mundo.
Ganhos substanciais em alguns países
são acompanhados por grandes perdas
em outros, e o número de pessoas que
continua a ganhar menos de um dólar
por dia, e a sofrer com a fome e a falta
de água, saneamento e energia, ainda é
enorme. O último Relatório de
Desenvolvimento Humano do
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) informa
que o percentual de pessoas vivendo na
extrema pobreza caiu de 29,6% em
1990 para 23,2% em 1999. Porém, o
número de pessoas vivendo com
menos de um dólar por dia diminuiu
somente de 1,29 bilhões para 1,17
bilhões, em uma década. Ademais, se a
fantástica melhoria nos indicadores de
pobreza da China forem excluídos,
verificamos que o número de pessoas
vivendo em condições de extrema
pobreza na realidade cresceu.
Nos anos recentes, a redução da
pobreza tornou-se o tema central do
diálogo mundial, ocupando o lugar de
6 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
principal objetivo do desenvolvimento,
ao invés de resultado deste processo. A
Declaração do Milênio constituiu-se
numa expressão de solidariedade e
determinação sem precedentes,
comprometendo países ricos e pobres a
erradicar do mundo a pobreza,
promover a dignidade e a igualdade
humanas e alcançar a paz e a
sustentabilidade ambiental. A
declaração resultou no consenso acerca
dos Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (Quadro 1.1).
O progresso é possível, e ocorre
regularmente quando existem
condições adequadas. O crescimento
econômico permitiu que milhões de
pessoas deixassem a economia de
subsistência, inserindo-se nos setores
industrial e de prestação de serviços, o
que contribuiu para aumentar a
riqueza e reduzir a pobreza. Basta ver o
progresso dramático , em termos de
qualidade de vida, alcançado pelo
conjunto de países do leste asiático que
inclui Indonésia, Coréia, Malásia e
Tailândia e a redução considerável no
número de pessoas pobres na China.
O impacto geral que o crescimento
econômico exerce sobre a pobreza
depende de uma gama de fatores que
influenciam a natureza do próprio
crescimento, mas as evidências
empíricas são convincentes. No leste
da Ásia e no Pacífico, a região com as
maiores taxas de crescimento dos anos
90, um crescimento de 6,4% ao ano do
PIB per capita resultou numa redução
de 15% na taxa de pobreza (medida
pelo critério de US$ 2 diários). No sul
da Ásia, um crescimento anual de
3,3% produziu um declínio de 8,4% na
pobreza. Em contraste, o baixo
crescimento da América Latina e do
Caribe, de 1,6%, e de 1,0% no Oriente
Médio e Norte da África, levou a uma
redução apenas marginal das taxas de
pobreza. Como exemplo mais grave, as
taxas negativas de crescimento da
África subsaariana e dos países da
Europa e Ásia Central resultaram em
aumentos na pobreza de 1,6% e de
13,5%, respectivamente.
A mensagem é clara: o crescimento
sustentado reduz a pobreza. A conexão
entre o crescimento econômico e o
forte investimento privado, é
igualmente clara. Um estudo de 50
países em desenvolvimento, de 1970 a
1998, examinou a relação entre
investimentos privados e públicos, de
um lado, e crescimento e renda, de
outro. Países com maior crescimento
eram os que desfrutavam de maiores
investimentos privados (Figura 1.1).
Porém, para que o crescimento da
produção contribua para combater a
pobreza, o mesmo precisa resultar em
renda para os pobres. A quantidade de
empregos e o valor dos salários são
elementos cruciais para trabalhadores
CAPÍTULO 1: POR QUE O SETOR PRIVADO É TÃO IMPORTANTE PARA A REDUÇÃO DA POBREZA 7
1. A erradicação da extrema pobreza e
da fome: reduzir pela metade a
proporção das pessoas vivendo com
menos de um dólar por dia; reduzir à
metade a proporção de pessoas
sofrendo com a fome.
2. O alcance da educação primária:
assegurar que todos os meninos e
meninas completem o curso primário.
3. A promoção da igualdade de gênero
e o fortalecimento da mulher: eliminar a
disparidade de gênero na educação
primária e secundária até 2005, e em
todos os níveis de educação até 2015.
4. A redução da mortalidade infantil:
reduzir em dois terços os índices de
mortalidade das crianças abaixo de
cinco anos.
5. Aprimoramento da saúde maternal:
reduzir em três quartos o índice de
mortalidade materna.
6. Combate ao HIV/AIDS, malária e
outras doenças: conter e reverter a
disseminação do HIV/AIDS; conter e
reverter a disseminação da malária e
outras grandes doenças.
7. Assegurar a sustentabilidade
ambiental: integrar os princípios do
desenvolvimento sustentado nas
políticas e programas nacionais; reverter
a perda de recursos naturais; reduzir
pela metade a proporção de pessoas
sem acesso sustentável a água potável e
saneamento básico; atingir melhora
significativa nas vidas de pelo menos
100 milhões de habitantes de bairros
degradados até 2020.
8.Desenvolver uma parceria global para
o desenvolvimento.
QUADRO 1.1 OS OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO
FIGURA 1 . 1 MAIS INVESTIMENTOS—MAIS CRESCIMENTO
16
14
12
10
8
6
4
2
0
< 3% 3–5% > 5%
Taxas de Crescimento, 1970–98
■ Privado ■ Público
Investimentos em Percentual do PIB, 1970–98
Fonte: Bouton and Sumilinski (2000)
assalariados e contratados. Para os
autônomos, produtividade e retorno,
fatores influenciados pela tecnologia,
pelos insumos e pelos preços, são
fundamentais. Assim, o emprego é o
vínculo principal entre o crescimento
da produção e a redução da pobreza.
O SETOR PRIVADO É
IMPORTANTE PARA OS
POBRES... E, MUITAS
VEZES, É CONSTITUÍDO
PELOS POBRES
O setor privado é crucial na vida das
pessoas pobres. Em primeiro lugar,
todos os pobres são consumidores. A
história se repete em todo o mundo: os
consumidores pobres pagam mais que
os consumidores ricos por serviços
básicos. Em Mumbai, habitantes das
favelas de Dharavi pagam 1,2 vezes
mais pelo arroz, 10 vezes mais por
remédios e 3,5 vezes mais por água do
que os moradores da Avenida
Bhulabhai Desai, bairro de classe média
localizado no outro extremo da cidade.
Cerca de quatro bilhões de pessoas -
aquelas que ganham menos de US$
1.500 por ano -formam os mercados da
base da pirâmide (Figura 1.2).
A qualidade dos bens que as pessoas
pobres adquirem - seja comida, água
ou serviços financeiros – é, quase
sempre, inferior. Em geral, um setor
privado que opera na informalidade é
que se encarrega de preencher as
lacunas, com produtos de preços mais
altos e qualidade duvidosa. E atende
necessidades importantes, pois é a
economia informal que sustenta a
maioria das famílias pobres em muitos
países. Porém, as vantagens das
economias de escala e de escopo estão
presentes nas vidas de quem se
encontra na base da pirâmide.
Algumas das barreiras são processos
deficientes de marketing e
distribuição.
O setor privado já atende as
necessidades dos pobres onde o
governo não chega. Em certos países,
por exemplo, o governo tem pouco
impacto sobre os pobres. As favelas
não possuem serviços de saúde,
educação pública ou infra-estrutura.
Esta história se repete por todo o
mundo em desenvolvimento. Em
muitos casos, quando os serviços
existem, são oferecidos pela iniciativa
privada. De 15% a 90% da educação
primária é fornecida por escolas
privadas. Aproximadamente 63% dos
gastos com saúde efetuados nos países
mais pobres ocorre no âmbito privado,
quase o dobro dos 33% que este gasto
representa nos países ricos da
Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico.
Com as devidas atenção e
regulamentação, os serviços oferecidos
pelo setor privado podem contribuir
para atender as demandas da
população pobre. Dados recentes sobre
novas ligações de água, em três países
da América Latina, mostram que entre
25 e 30% da expansão da rede se
destina ao atendimento do quintil
mais pobre da população.
Em resumo, um setor privado
inovador pode encontrar formas de
ofertar bens e serviços de custo baixo
(mesmo os mais sofisticados) a
consumidores de todos os níveis de
renda. Ele pode atender tanto áreas
urbanas deprimidas quanto vilarejos e
comunidades rurais humildes.
Empresas podem desenvolver canais
de distribuição para consumidores em
vilarejos e, assim, ampliar seu
conhecimento sobre as reais
necessidades deste segmento de
mercado. Para reduzir custos, pode
utilizar a terceirização, que propicia
8 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
F I G U R A 1 . 2 QUATRO BILHÕES DE PESSOAS NA BASE DA PIRÂMIDE
> $20,000
$1,500–20,000
< $1,500
Camada 1
Camada 2–3
Camada 4
75–100
1,500–1,750
4,000
Paridade de poder de
compra em dólares
População em
milhões
Fonte: Prahalad and Hammond (2002)
maior flexibilidade.
Assim, o setor privado pode aliviar a
pobreza via:
■ Contribuição para o crescimento
econômico, contribuindo para
gerar emprego e renda.
■ O poder que atribui aos pobres ao
oferecer serviços e bens de
consumo, ao aumentar sua gama de
opções, e ao reduzir preços,
melhorando a qualidade de vida
das pessoas pobres.
A maior interação entre os que estão
na base da pirâmide e o setor privado
cria oportunidades para o
envolvimento direto na economia de
mercado.
QUEM SÃO OS
EMPREENDEDORES?
A Comissão adota uma visão
expansiva do setor privado. As grandes
empresas constituem uma parte
indispensável da economia privada,
mas os próprios pobres são igualmente
importanted. Muitas vezes, eles
mesmos são os empreendedores,
frequentemente por necessidade,
exercendo uma atividade informal e
amarrados a negócios precários. Nós
compartilhamos a visão de que
ambientes empresariais orientados
para o mercado abrangem diversas
formas de empresas privadas, que
coexistem em relações simbióticas. O
ecosistema geralmente inclui
corporações multinacionais, grandes
empresas nacionais, micro, pequenas e
médias empresas, com atores formais e
informais. Portanto, encompassa tanto
os pequenos agricultores quanto as
multinacionais.
A agricultura suscita um interesse
especial, pois 75% das pessoas que
vivem com menos de um dólar por dia
estão na zona rural, e sua produção é
majoritariamente de subsistência. Na
África, a agricultura sustenta mais de
70% da população, contribuindo com
30% do PIB. O fornecimento de
insumos para o setor agrícola, e a
agregação de valor a produtos agrários,
através de processamento e marketing,
são mecanismos importantes de
desenvolvimento do setor privado. A
relevância crítica do setor agrícola para
o combate à pobreza reforça a
necessidade de progresso urgente na
eliminação dos subsídios auferidos por
produtores de mercados desenvolvidos,
e na reforma das regras comerciais.
Em muitos países em
desenvolvimento, as mulheres
constituem a maioria dos
microempreendedores da economia
informal, e um percentual significativo
do setor formal. Muitas delas são
analfabetas e vivem em comunidades
rurais pobres. Constituir suas próprias
empresas - geralmente microempresas
- é geralmente a única possibilidade de
obterem trabalho e auferirem renda.
Na América Latina e no Caribe, de
25% a 35% das micro, pequenas e
médias empresas formais pertencem e
são conduzidas por mulheres. Nas
Filipinas, 44% das microempresas
pertencem a mulheres, mais de 80%
das quais estão em zonas rurais. No
Zimbábue, as mulheres dirigem a
maioria das micro e pequenas
empresas (67%), ao passo que as
empresas conduzidas por homens
tendem a proporcionar a maior parte
da renda familiar e a ter mais
empregados.
Também são empreendedores os
executivos de grandes empresas, que
toman a iniciativa de inovar e expandir
os negócios. Este relatório ressalta
muitos exemplos de grandes empresas
que buscaram os mercados da base da
pirâmide, e desenvolveram produtos e
processos para atender os pobres de
forma lucrativa ou operar de forma
sustentável em ambientes desafiadores.
Iniciativas individuais de engenheiros
e executivos estão, muitas vezes, na
raiz destes movimentos por parte das
grandes corporações, que podem ter
grande impacto positivo sobre o
desenvolvimento.
O empreendedorismo também é força
motriz em muitas organizações da
sociedade civil, além de existir no
governo e nas administrações
públicas. Alguns indivíduos nestas
organizações sentem o ímpeto de
inovar e aproveitar as oportunidades
que se apresentam, com a mesma
paixão e dedicação de um
empreendedor, apesar do pouco ou
nenhum retorno financeiro.
Talvez onde o empreendedorismo
mais prospere seja nas pequenas e
médias empresas com alto potencial
de crescimento e inovação. Esse
segmento dinâmico é tipicamente a
incubadora do empreendedorismo e
da inovação, dirigindo o crescimento
econômico, criando empregos e
fomentando a competitividade, a
inovação e a produtividade.
O FOCO NO SETOR
PRIVADO NACIONAL
Nos centramos aqui no setor privado
nacional por 3 razões principais.
Primeiro, os recursos nacionais são
muito maiores que os externos, sejam
reais ou potenciais. Investimentos
privados nacionais alcançaram médias
entre 10 e 12% do PIB nos anos 90,
ao passo que os investimentos
públicos nacionais mantiveram-se em
7% e os investimentos estrangeiros
diretos (IED), entre 2 e 5%. Segundo,
quando examinamos os recursos
CAPÍTULO 1: POR QUE O SETOR PRIVADO É TÃO IMPORTANTE PARA A REDUÇÃO DA POBREZA 9
10 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
informais, como o valor potencial da
terra, a riqueza nacional que pode ser
alavancada é significativamente maior
que os IED acumulados, ou das
carteiras de investimentos privados.
Terceiro, o impulso dado aos recursos
nacionais de uma economia -tanto
financeiros quanto empresariais –
normalmente cria condições para um
crescimento mais estável e sustentável.
Estimativas dos ativos nacionais nos
países em desenvolvimento alcançam $
9,4 trilhões, valor que representa
muitas vezes o valor dos fluxos de
carteiras de investimento, ou de IED
para os países em desenvolvimento,
nos últimos 15 anos. Essas
comparações, de fluxos com ativos, são
apenas ilustrativas.
Converter os ativos informais em
recursos financeiros requer um
programa amplo de reformas que
possibilitem o uso destes ativos como
garantias ao sistema bancário. Não
obstante, deve-se ter em mente o
gigantesco valor destes ativos. Por
exemplo, estudos recentes efetuados
no Egito concluiram que o país dispõe
de uma economia informal vibrante e
imensa, que emprega mais de 8
milhões de pessoas (cerca de 40% da
força de trabalho) e que possui ativos
no valor de quase $ 250 bilhões,
montante este que representa 30 vezes
a soma do valor de mercado de todas
as empresas listadas na Bolsa de
Valores do Cairo.
Esse interesse no setor privado
nacional não significa atribuir pouca
importância ao IED. Além dos
recursos financeiros que o IED aporta,
a penetração da cultura empresarial
contribui para modificar a maneira
pela qual os negócios são feitos,
transmite conhecimentos e melhores
práticas gerenciais, oferece acesso a
mercados internacionais, transfere
tecnologia e inovações, introduz
pressão competitiva em mercados
antes protegidos, e constitui um
impulso ao crescimento das empresas
locais. Nessas circunstâncias, o IED
pode melhorar todo o ambiente de
investimento.
Os países em desenvolvimento possuem
energia e riquezas em abundânica, e todos os
segmentos do setor privado demostraram que
podem responder quando se ampliam suas
capacidades. Porém, segundo as investigações da Comissão, o setor privado
enfrenta três desafios estruturais fundamentais em todos os países em
desenvolvimento, mesmo que em diferentes medidas:
■ Microempresas, e muitas pequenas e médias empresas, operam informalmente.
■ Muitas pequenas e médias empresas encontram barreiras para crescer.
■ A ausência de pressão competitiva protege as grandes empresas das forças de
mercado e da necessidade de inovar e aumentar sua produtividade.
CAPÍTULO 2
RESTRIÇÕES AO SETOR
PRIVADO NOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
O
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 11
Foto: PNUD Cuba
INFORMALIDADE
GENERALIZADA ENTRE
AS MICROEMPRESAS
O microempreendedorismo é uma
forma comum de emprego em muitos
países em desenvolvimento (Figura
2.1). Quase todas as microempresas
trabalham fora do sistema legal,
contribuindo para difundir a
informalidade.
A informalidade oferece alguns
benefícios, em determinadas
circunstâncias. Pode servir como um
substituto do emprego, para
trabalhadores que encontram
dificuldades em conseguir um posto de
trabalho. Por exemplo, os tailandeses
urbanos que perderam seus empregos
durante a crise econômica do final dos
anos 90, passaram a se sustentar por
meio de oportunidades no comércio
ambulante informal. Nas sociedades
que limitam a participação das
mulheres na economia, empresas
familiares oferecem oportunidades às
mulheres de auferir renda. Se as regras
formais, sistemas de controle e
condições culturais são tão restritivas
que a maior parte dos empreendedores
ficam impossibilitados de usar seus
talentos, a economia pode se beneficiar
se passam a operar informalmente.
As dificuldades de acesso a
financiamentos também obrigam os
empresários dos países em
desenvolvimento a trabalhar operações
de pequena escala. Empreendedores e
empresas que operam informalmente
não conseguem empréstimos a custos
razoáveis porque não possuem
registros legais nem títulos de
propriedade dos imóveis que ocupam.
Freqüentemente, a única opção de
acesso ao capital é por meio de
agiotas, que cobram juros altos e só
podem emprestar pequenas quantias,
insuficientes para impulsionar o
crescimento de uma empresa .
O acesso das empresas informais ao
sistema legal e a seus benefícios é
limitado. Em geral, o sistema formal
deveria respeitar contratos e proteger
direitos de propriedade de forma mais
justa do que ocorre em sistemas
informais. Regras previsíveis e
mecanismos de resolução de
controvérsias são essenciais para que os
empreendedores se engajem em
negócios de longo prazo, que
possibilite a eles inovar, ganhar
experiência e difundir conhecimentos
e benefícios. Propina paga a agentes
públicos, que contribui para reduzir a
incerteza no mundo incerto em que
estes empreendedores operam, diminui
a renda que poderia, de outra forma,
ser investida em aumentar a
produtividade das operações.
Sistemas informais de controle, cruéis
e arbitrários, também limitam a
capacidade produtiva dos
empreendedores. As prisões por
dívidas e punições ao estilo da máfia
prejudicam o pleno acesso do
empreendedor a recursos humanos
essenciais. De acordo com Hernando
de Soto, um terço dos devedores
egípcios que obtiveram crédito
informalmente, passaram algum tempo
em cárcere privado, por não terem
quitado o que deviam.
Os empreendedores que operam
formalmente se vêem prejudicados
pelos subsídios implícitos que as
empresas informais recebem por meio
das desigualdades na aplicação das leis
e por mecanismos precários de
proteção à propriedades e aos
contratos, os quais geram distorções
competitivas. Ambos os aspectos criam
um ambiente desigual e reduzem o
acesso de empreendedores formais a
insumos e mercados, o que os
desencoraja a investir para aumentar a
produtividade.
Empresas informais podem cobrar
preços menores pois não pagam
impostos nem cumprem outras
obrigações regulamentares. Aquelas
empresas formais que são mais
produtivas têm dificuldades em
aumentar sua participação no mercado
na disputa com empresas informais, já
que as primeiras pagam impostos e
outras contribuições que aumentam
significativamente seus custos.
Empresas mais produtivas estão menos
aptas a tirar empresas informais menos
produtivas do mercado. Assim,
mecanismos ineficientes de controle
permitem que empresas informais
continuem existindo, impedindo que
12 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
F I G U R A 2 . 1 A INFORMALIDADE CRESCE NOS PAÍSES POBRES
Portugal
Chile
Mexico
Tailândia,Turquia, Brasil
Índia, Indonésia,
Paquistão, Filipinas
África subsaariana
Estimativa de trabalhadores
não agrários do setor informal
30
38
40
50
70
80
Fonte: Banco Mundial e Organização Internacional do Trabalho
empresas produtivas atinjam escala
máxima. Ainda assim, dada a
significativa vantagem em
produtividade de empresas formais,
sua inabilidade em competir pode
simplesmente estar refletindo a mávontade
em atender certos segmentos
de mercado, ao invés de demonstrar as
vantagens de custo oferecidas pela
informalidade.
Além disso, os direitos e a proteção
dos trabalhadores do setor informal
deixam muito a desejar em
comparação com o que ocorre no setor
formal, e os consumidores - que só
podem adquirir bens de qualidade e
segurança duvidosas - carecem de
acesso à maior variedade e aos
menores preços existentes em
mercados realmente competitivos.
Há muitas restrições à entrada no
setor formal. A principal questão é a
relação entre custos e benefícios para o
empreendedor, que precisa escolher
entre conduzir operações formais e
informais.
Na maior parte dos países em
desenvolvimento, a formalidade custa
caro. Agentes formais são
frequentemente sobretaxados (um
círculo vicioso, uma vez que eles são
sobretaxados porque poucas empresas
formais carregam a maior parte do
peso dos impostos). O registro de uma
empresa pode ser um processo longo e
caro (na Angola, por exemplo, essa
operação leva 146 dias e custa mais de
oito vezes a renda per capita). A
regulação e as exigências do governo
são complexas - e o custo de atendêlas,
alto. As oportunidades de suborno
crescem com a complexidade da
regulação, deixand indefesos aqueles
agentes econômicos menores, que não
possuem acesso a recursos jurídicos.
Além disso, os empreendedores vêem
poucos benefícios em se formalizarem.
Enquanto as empresas formais nos
países desenvolvidos podem levantar
capital ao hipotecar seus ativos, isso
não é possível em muitos países em
desenvolvimento, onde as leis
hipotecárias são fracas e os bancos
relutam em financiar pequenos agentes
econômicos. Em teoria, a formalidade
facilitaria vender em mercados além
das fronteiras nacionais, mas a precária
infra-estrutura local e a corrupção nas
alfândegas limitam as oportunidades.
E a legislação de falências, que protege
as empresas formais em países
desenvolvidos é, muitas vezes,
ineficiente nos países em
desenvolvimento, expondo os
empreendedores formais a riscos
maiores (devido à visibilidade maior)
do que aqueles que eles enfrentariam
se permanecessem no setor informal.
POUCAS EMPRESAS
PEQUENAS E MÉDIAS
SÃO COMPETITIVAS
Pequenas e médias empresas tendem a
ser grandes geradoras de empregos,
pois representam o embrião da
inovação e empreendedorismo. Ao
entrarem no mercado e aumentarem a
competição, PME impulsionam a
eficiência e o cresciment, e promoverm
o desenvolvimento.
De fato, algumas pesquisas recentes
indicam que o crescimento econômico
em países pobres é acompanhado por
um crescimento mais do que
proporcional na parcela do setor
formal representada pelas pequenas e
médias empresas. Nos países de
menor renda, as pequenas e médias
empresas formais respondem por
cerca de 30% dos empregos e 17% do
PIB, ao passo que em países com
renda elevada esses percentuais são de
60% e 50%, respectivamente. Ou seja,
os países mais ricos apresentam menos
atividade informal e muito mais
atividade de pequenas e médias
empresas (Figura 2.2).
A realidade em muitos países pobres,
especialmente na África Subsaariana, é
que o setor das pequenas e médias
empresas é relativamente marginal no
ambiente nacional. Por que as
pequenas e médias empresas não
conseguem “ascender” ao nível de
empresas maiores?
Para que essa evolução seja possível, é
essencial que as condições sejam
razoavelmente justas, e que existam
estruturas institucionais de suporte
entre os atores já estabelecidos
(normalmente maiores) e os recémchegados
(quase sempre menores). As
regras que restringem a entrada a
expansão no mercado têm um efeito
contracionista para as pequenas e
CAPÍTULO 2 : RESTRIÇÕES AO S E TOR PRIVADO NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 13
Países
de baixa
renda
Países
de renda
intermediária
Países
de alta
renda
■ Atividade Informal
■ Atividade das pequenas e médias empresas
■ Atividade remanescente
Fonte: Ayyagari, Beck, and
Demirguc-Kunt (2003)
Percentual do PIB
FIGURA 2.2 PEQUENAS E MÉDIAS
EMPRESAS TORNAM-SE MAIS
IMPORTANTES E A INFORMALIDADE
MENOS IMPORTANTE À MEDIDA QUE
OS PAÍSES ENRIQUESSEM
47
16
37
31
39
30
13
51
36
médias empresas, favorecendo as
grandes corporações já estabelecidas.
Pequenas e médias empresas poderiam
competir efetivamente em nichos de
mercados, mas as vantagens
desfrutadas pelos grandes atores
estabelecidos impedem a competição
advinda do setor das pequenas e
médias empresas. Sem os custos
razoáveis derivados de sistemas
competitivos justos, pequenas e médias
empresas não podem crescer e se
tornar mais produtivas. São ainda
penalizado por legislações tributárias
arbitrárias ou ineficientes,
regulamentações onerosas aos negócios
e outras restrições.
A informalidade generalizada e a
ausência de capacitação e
financiamento também são fatores que
afetam a capacidade dos
empreendedores de fazerem seus
negócios crescer. As pequenas e
médias empresas, apesar de
normalmente animadas por idéias
inovadoras ou pelas oportunidades
representadas por mercados
inexplorados, sofrem com a menor
produtividade dos fatores de produção,
seja o uso de tecnologias ultrapassadas
ou a utilização de recursos humanos
menos qualificados. O custo dos
serviços de suporte empresarial é
normalmente mais alto do que as
pequenas e médias empresas são
capazes de custear, ou não estão em
sintonia com suas necessidades. As
exportações mais baixas das pequenas
e médias empresas decorrem, em
grande parte, da falta de acesso ao
conhecimento dos padrões
internacionais de qualidade.
O mais importante é que pequenas e
médias empresas carecem de acesso a
financiamento e capital de longo
prazos, bases sobre as quais as
companhias são erguidas. O alto risco
associado a pequenas e médias
empresas, seja real ou percebido, existe
pela ausência de instrumentos de
financiamento que permitem
administrar e diversificar este risco. Os
bancos também enfrentam altos
custos, ou não conseguem obter
informações confiáveis, mesmo
quando as pequenas e médias
empresas sejam merecedoras de
crédito. Esses fatos elevam as taxas de
juros e reduzem os volumes
emprestados, estabelecendo barreiras
de preço e quantidade para o
crescimento das pequenas e médias
empresas. Tais empresas acabam sendo
obrigadas a recorrer a empréstimos de
familiares ou de amigos, a utilizar
lucros retidos ou crédito de curto
prazo oferecido por outros pequenos
compradores ou fornecedores, ao invés
de poder contar com linhas de crédito
de longo prazo, oferecidas por grandes
instituições, voltadas para usos
específicos.
A AUSÊNCIA DE
PRESSÃO
COMPETITIVA SOBRE
AS GRANDES
EMPRESAS
As grandes empresas formam o
nódulo central das redes e dos arranjos
produtivos locais e, em razão de seu
tamanho e da amplitude de atividades
empresariais em que se envolvem,
fornecem a centelha que energiza o
ambiente competitivo. Mas em muitos
países em desenvolvimento, as grandes
empresas podem também sufocar os
esforços e a iniciativa empreendedora.
Muitas vezes, elas se aproveitam de
ambientes institucionais fracos para
levantar barreiras anticompetitivas e
assim proteger sua posição de
vantagem. Enquanto mercados
informais locais podem funcionar
normalmente sem muita
regulamentação, mercados mais
maduros e complexos precisam de
regras apropriadas para um
funcionamento eficaz.
Um setor financeiro dinâmico, no qual
as novas empresas podem obter
financiamento em termos
competitivos, é também importante
para criar pressão competitiva no
mercado. Entretanto, empresas com
posição protegida nesses mercados
normalmente têm fortes incentivos
para usar seus instrumentos de pressão
e atrasar o progresso das iniciativas de
governo destinadas a melhorar a infraestrutura
institucional dos mercados.
Práticas desse tipo prejudicam
diretamente as pessoas pobres, pois
resultam em preços mais altos e
produtos de qualidade inferior. As
pessoas pobres se beneficiaram
enormemente da abertura de mercados
competitivos, na Índia, no início dos
anos 90. Antes disso, a população
estava subsidiando a maior parte do
setor privado, que vendia produtos de
baixa qualidade por altos preços,
graças ao controle da entrada de
competidores no mercado doméstico, e
a severas quotas e tarifas de
importação. Políticas anticompetitivas
como essas são normalmente
perpetuadas por estranhas alianças
entre as grandes empresas protegidas e
as pessoas pobres, que temem perder
seus empregos em um mercado
competitivo.
A corrupção, aliada a um sistema legal
fraco e arbitrário, sustenta as empresas
protegidas em prejuízo das
potencialmente mais competitivas. As
protegidas recebem subsídios, licenças
especiais ou privilégios que preservam
sua posição e reduzem o incentivo à
inovação e redução de preços. Essas
firmas são responsáveis por incentivos
perversos a fornecedores sem
competitividade, mesmo quando
existem fornecedores mais
competitivos. Um ambiente
macroeconômico precário encoraja
gastos desnecessários e retarda o
14 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
crescimento da produtividade das
empresas competitivas.
Essas empresas podem, também
indiretamente, impedir que
competidores tenham acesso a capital,
ao contribuir para um ambiente que
mantém o financiamento pouco
desenvolvido. As grandes empresas,
portanto, controlam a maior parcela
dos recursos existentes em um sistema
financeiro pouco desenvolvido.
BASES PARA O
EMPREENDEDORISMO
— AINDA POR
CONSTRUIR
A construção de um setor privado
forte requer uma base sólida nos
macroambientes globais e nacionais,
na infra-estrutura física e social e no
estado de direito (Figura 2.3).
Macroambiente global
As bases para o crescimento no setor
privado começam por um ambiente
macroeconômico que funcione bem,
envolva uma economia global
dinâmica, abasteça os mercados e
promova regras adequadas de comércio
que permitam acesso competitivo às
oportunidades do mercado. A livre
circulação de mercadorias, capital e
informação - além da transferência de
tecnologia e idéias - estimula o
desenvolvimento do setor privado. Isso
ocorre por meio de diversos
mecanismos: mercados abertos,
investimento estrangeiro de qualidade,
ajuda efetiva ao desenvolvimento,
transferência eficiente de tecnologia e
conhecimento, e requer a
implementação de reformas voltadas
para o desmantelamento dos subsídios
agrícolas e de outras formas de
protecionismo que tão evidentemente
impedem o desenvolvimento do setor
privado exportador nas áreas rurais dos
países em desenvolvimento.
Há amplo consenso de que a abertura
de mercados tem impulsionado o
crescimento econômico. Cabe reiterar
as vantagens, ainda que conhecidas.
Uma política comercial aberta estimula
o crescimento da produtividade ao
abrir o setor privado à concorrência. O
livre comércio ajuda os países a
alocarem seus recursos nas suas áreas
mais produtivas de vantagem
comparativa. As importações mais
baratas elevam a qualidade de vida e
permitem o uso de insumos mais
baratos, já que o setor privado produz
tanto para os consumidores nacionais
quanto para os externos. Um regime
como esse oferece acesso livre a
mercados por meio de redução das
tarifas e das barreiras não-tarifárias.
O macroambiente nacional
Os elementos centrais de um
macroambiente doméstico sólido, do
ponto de vista das empresas, incluiem
paz e estabilidade política, boa
governança com previsibilidade das
políticas públicas, transparência e
responsabilização, e políticas
macroeconômicas relevantes. Para as
empresas, conflitos internos ou
externos aumentam os custos e a
incerteza, desencorajando os
investimentos domésticos e
estrangeiros. Mais grave ainda, os
conflitos impedem o desenvolvimento
do setor privado, pois eles geralmente
levam à trágica destruição do capital
humano, à má alocação dos escassos
recursos públicos, à devastação das
terras, ao ataque aos recursos naturais
e à eliminação do acesso a mercados.
Infra-estrutura física e social
A infra-estrutura física e social de um
país inclui estradas, energia, portos,
saneamento e telecomunicações, assim
como educação básica e saúde. A
construção desses serviços básicos tem
duplo benefício: melhora a vida das
pessoas pobres diretamente e
possibilita o crescimento dos negócios.
CAPÍTULO 2 : RESTRIÇÕES AO S E TOR PRIVADO NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 15
Pilares do
empreendedorismo
Bases para o
setor privado
Ambiente
elevado de
negócios
Acesso ao
financiamento
Acesso a
técnicas e
conhecimento
Estado de direito
Infra-estrutura física e social
Macroambiente doméstico
Macroambiente global
Crescimento do setor privado
FIGURA 2 . 3 BASES PARA O S E TOR PRIVADO
E P I LARES DO EMPREENDEDORISMO
Ineficiências técnicas nas rodovias,
linhas férreas, energia e água, sozinhas,
causaram um prejuízo estimado de
US$ 55 bilhões/ano em perdas no
início dos anos 90, uma quantidade
equivalente a 1% do PIB dos países
em desenvolvimento, ou a duas vezes o
orçamento anual do financiamento da
infra-estrutura no mundo em
desenvolvimento. Essas perdas recaem
sobre grandes e pequenas empresas, e
sobre as pessoas, especialmente as mais
pobres. Rodovias de baixa qualidade
podem retirar pequenos produtores
dos mercados regionais, e causam a
interrupção do fornecimento de
insumos essenciais aos grandes
produtores.
Uma infra-estrutura bem conservada
melhora o comércio ao acelerar o
transporte de produtos e matériasprimas,
sustentando a produção
intensiva em energia e tornando a
informação e a comunicação
rapidamente acessíveis. Infraestruturas
precárias normalmente
impedem a atividade empresarial.
Garantias de conectividade através de
telecomunicações e tecnologia da
informação têm se tornado
especialmente importantes, pois
contribuem para que algumas
barreiras, criadas pela infra-estrutura
física inadequada, sejam sobrepujadas.
O acesso eficiente à informação é
claramente uma parte vital das
necessidades de infra-estrutura básica
nas economias modernas.
A manutenção de uma infra-estrutura
de alta qualidade é, em grande parte,
uma questão de investimentos de
capital. Contratos eficientes, leilões,
credibilidade regulatória e capacidade
de gestão pública e privada também
são muito importantes.
Os estudos que demonstram os
retornos sociais e econômicos dos
investimentos em educação e saúde
ressaltam sua eficácia. Altos níveis de
investimento em capital humano, em
educação e saúde, estabelecem as
condições básicas para o crescimento
do setor privado. Uma força de
trabalho capacitada e saudável é uma
força de trabalho produtiva. Basta que
alguém observe os países devastados
por problemas de saúde, ou por
doenças, para verificar os estragos que
uma infra-estrutura de saúde
inadequada ou subfinanciada podem
causar em economias produtivas. As
empresas privadas auferem retornos
dos investimentos feitos em educação,
do ensino fundamental até o superior,
da educação universal até a específica.
Garantir que esta educação seja
apropriada para a futura força de
trabalho é uma tarefa crucial da boa
infra-estrutura educacional. A
educação das mulheres tem efeitos
particularmente positivos na sua renda
futura – e na renda da sociedade como
um todo.
Os investimentos em saúde e educação
envolvem tanto o setor público quanto
o privado, e, indo na contra mão da
crença tradicional, muitos serviços
educacionais e de saúde em países em
desenvolvimento são fornecidos pela
iniciativa privada, incluindo
cooperativas e organizações mutuárias
de previdência. Em alguns sistemas,
entre 70 e 80% dos gastos com saúde
ocorrem no âmbito do setor privado.
Muitas vezes, mas nem sempre, o
envolvimento privado é conseqüência
dos parcos investimentos públicos. O
desenvolvimento do setor privado se
baseia em dois elementos
fundamentais: a melhoria da infraestrutura
social e a garantia de que as
pessoas que vivem com rendas mais
baixas terão acesso a serviços de saúde
e educação de alta qualidade.
O Estado de Direito
O “estado de direito” significa que as
decisões governamentais são tomadas
de acordo com leis e regras
estabelecidas, e que são seguidas por
todos os cidadãos. As regras são
aplicadas de forma consistente por
uma burocracia profissional, e julgadas
por um Judiciário justo e transparente,
que é adequadamente recompensado.
Em quase todos os casos, as cortes
apresentam justificativas legais para
suas decisões, seguindo o devido
processo legal. Países podem estar
sujeitos a sistemas legais diferentes,
provenientes de sistemas políticos e
culturais diferentes, mas a
administração honesta e a manutenção
da ordem por meio de um sistema
legal justo são princípios centrais.
Ambos - a lei e a sua gestão - são
importantes.
As leis formam uma camada intrínseca
às bases de um setor privado robusto.
Sem um sistema legal transparente e
honesto, os sistemas judicial e
administrativo, e outros esforços para
impulsionar o desenvolvimento do
setor privado, não conseguem
funcionar conforme planejado, e
podem até mesmo ser prejudiciais.
Governos locais precisam estabelecer
as “regras do jogo”, montando um
sistema que reduz os custos
transacionais ao torná-los previsíveis e
operativos. Os sistemas legal e
administrativo influenciam quando e
como as transações acontecem.
O estado de direito se manifesta no
setor privado pela legislação comercial,
leis sobre consumo e contratos, entre
outras. O reconhecimento e a proteção
dos direitos de propriedade
circunscrevem o comportamento do
setor privado. Sistemas legais
contraditórios e confusos tornam as
práticas de negócio complexas, e
pressionam as empresas a se tornarem
ou permanecerem informais. A má
legislação apóia empresas oligárquicas
e corruptas ante as forças competitivas,
16 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
normalmente em prejuízo das
pequenas e médias empresas. Relações
promíscuas entre empresas e
reguladores impedem o
desenvolvimento da competição do
mercado aberto e livre. Os pobres são
as primeiras vítimas das falhas legais.
Embora possa existir um conjunto de
leis estabelecidas, o sistema legal, em
muitos países em desenvolvimento,
funciona de maneira informal. Na
mudança do sistema informal para o
formal, muitos países possuem
sistemas novos e antigos coexistindo, e
que muitas vezes estão em conflito. O
perdedor é, normalmente o novo
sistema mais formal, que acaba por ser
implementado de forma superficial e
ineficiente. Uma estimativa sugere que
80% dos assuntos legais envolvendo os
pobres são direcionados para sistemas
informais ou são julgados com base
em usos e costumes.
Corrupção e confusão sobre o
cumprimento das leis são geralmente
as culpadas pelos altos custos de
conformidade legal. A rotina
burocrática, a acumulação de
processos, as decisões arbitrárias e
outras condições e práticas onerosas e
ineficientes, impedem a atividade
privada. Arbitrariedades ou corrupção
no cumprimento das leis subverte
aquelas leis criadas como formas
benevolentes de proteção, tais como
leis de segurança do trabalho, proteção
ambiental e segurança do consumidor.
Práticas corruptas distorcem preços e
mercados, e impedem a competição
livre e justa.
O Banco Mundial estima que a
corrupção pode reduzir o crescimento
de um país em cerca de 0,5 a 1% ao
ano. O Índice de Percepção da
Corrupção, publicado pela
Transparência Internacional, é quase
perfeitamente correlacionado com o
nível de renda de um país, com
pouquíssimas exceções. Geralmente, os
países mais pobres são classificados
como mais corruptos, apesar de haver
muitas evidências recentes de que a
corrupção não está limitada às
categorias de menor renda.
OS TRÊS PILARES DO
EMPREENDEDORISMO -
NORMALMENTE
INEXISTENTES
Mesmo tendo bases macroeconômicas
e institucionais sólidas, três fatores
adicionais são indispensáveis para que
o empreendedorismo e o setor privado
floresçam em uma economia: um
ambiente de negócios nivelado, acesso
a financiamento, e conhecimentos e
habilidades.
Um ambiente de negócios
nivelado — com regras justas,
impostas com justiça
Talvez o requisito mais imprescindível,
para que o empreendedorismo e o
setor privado floresçam, seja um
ambiente de negócios equânime para a
competição no mercado nacional. Este
ambiente só pode existir em virtude de
regras e de mecanismos que permitam
seu cumprimento em condições justas,
confiáveis e efetivas. Regras previsíveis
asseguram o acesso livre dos
empreendedores a mercados, e uma
atividade empresarial eficiente. A
confiança no sistema encoraja o
empreendedorismo e atrai o tipo de
talento (nacionais, estrangeiros) que
embarca na aventura empreendedora.
Boas regras são um elemento crítico
para a criação de um ambiente
nivelado de negócios, e regulação
efetiva é essencial para a economia de
mercado. Se as regras forem
excessivamente complexas e aplicadas
incorretamente, podem se tornar
barreiras significativas e atrasar o
crescimento das empresas. Isso se
aplica às regras para a entrada,
operação, distribuição e saída do
mercado.
Regras de entrada. Licenças e
requerimentos processuais excessivos,
para o registro de novas empresas,
CAPÍTULO 2 : RESTRIÇÕES AO S E TOR PRIVADO NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 17
FIGURA 2.4 EMPRESAS EM PA Í S E S D E B A I XA RENDA ENFRENTAM
MUITO MAIS DIFICULDADES QUANDO SE REGISTRAM
Número de
processos
Duração
(dias)
Nota: Países de baixa renda têm PIB per capita (paridade de poder de compra)
menor que US$2,976 in 2001, Países de renda intermediária estão entre US$2,976 e
US$9,205 e os países de alta renda estão acima de US$9,205.
Fonte: Banco Mundial (2003a)
Renda
Baixa
Média
Alta
11
11
8
70
58
42
115
29
17
Custo (% da
RNB per capita)
■ Empresas
em países de
baixa renda
levam mais
tempo e têm
maiores
custos (em
percentual
da RNB per
capita).
elevam os custos de entrada no setor
formal e atrapalham o ambiente de
negócios em muitos países em
desenvolvimento (Figura 2.4). Por
exemplo, o estudo Custos de se Fazer
Negócios, do Banco Mundial, estima
que o início de um negócio requer
US$ 5,531 na Angola (mais do que
oito vezes a renda per capita) e cerca
de US$ 28 na Nova Zelândia (muito
menos de 1% da renda per capita).
Regulamentações de entrada muito
complexas estão diretamente ligadas à
queda na produtividade. Quando os
países são classificados pelo grau de
facilidade com que permitem iniciar
um negócio, vemos que os 25%
colocados no topo da lista possuem
uma produtividade do trabalho de
US$ 40 por trabalhador, quase o dobro
dos 25% últimos. Processos de registro
mais longos estão diretamente
relacionados a níveis mais altos de
corrupção.
Regras de operação. As regras de
demonstração de informações podem
ter impacto positivo nos ambientes
industrial e de negócios, ao permitir
que os consumidores e investidores
tenham acesso à informação de que
necessitam para escolher que produtos
comprar, e como alocar seu capital.
Regras trabalhistas são importantes
para evitar que os trabalhadores sejam
explorados. Porém, diversos países em
desenvolvimento possuem regras
trabalhistas excessivamente complexas,
mais que as dos países desenvolvidos.
Para demitir empregados, as empresas
de países de renda baixa ou média
enfrentam barreiras mais altas, em
média, do que suas contrapartes nas
economias desenvolvidas. Os
mecanismos para que o diálogo social
permita encontrar formas de mitigar
os efeitos das demissões, e para que as
redes de seguridade possam proteger
os pobres, são normalmente fracos ou
não existem, na maioria dos países em
desenvolvimento. Além disso,
regulações trabalhistas rígidas são
associadas ao alto desemprego de
mulheres. Note-se, porém, que poucas
dessas regras são de fato cumpridas,
justificando a simplificação e melhor
acompanhamento. Regras tributárias e
estruturas complexas também impõem
custos mais altos, que recaem mais
sobre pequenas e médias empresas do
que sobre empresas grandes, que
podem contratar especialistas em
planejamento tributário.
Regras creditícias. Muitos países
carecem de regras para compartilhar
informação sobre crédito, tornando
virtualmente impossível aos credores
checar o quão endividado um
potencial cliente se encontra. Além
disso, os credores têm proteção
limitada em caso de não liquidação do
débito, reduzindo bastante sua
disposição em assumir os riscos de
emprestar as pequenas e médias
empresas.
Regras tributárias. Impostos altos e
administração tributária complexa
representam restrições para pequenas e
médias empresas, e podem levá-las à
informalidade se a carga tributária se
tornar excessiva.
Uma economia informal representativa
pode significar menor arrecadação de
impostos pelo governo, elevando a
carga tributária das empresas formais e
criando incentivos para que passem a
funcionar de maneira informal. No
Brasil, por exemplo, a economia
informal cresceu ao mesmo tempo que
a arrecadação tributária, de 24% do
PIB em 1991 para 29% em 1999.
Regras de mercado. Barreiras no
mercado imobiliário são altas em
muitas nações. Nas Filipinas, por
exemplo, a obtenção do título formal
de propriedade de um terreno
“informal” requer 168 etapas,
envolvendo 53 agências públicas e
privadas, e levando 13-25 anos. Esse
árduo processo desencoraja as pessoas
a comprar terras formalmente, fazendo
com que seja impossível o uso da
propriedade como garantia na
obtenção de crédito, uma das maiores
fontes de capital nos países
desenvolvidos.
Barreiras de mercado a produtos
também impedem o crescimento. As
barreiras comerciais e os subsídios,
oferecidos pelo mundo desenvolvido,
são os maiores culpados. Mas muitos
países em desenvolvimento também
levantam barreiras protecionistas - por
exemplo, proibindo pequenas empresas
de distribuir energia em áreas rurais,
mesmo quando os monopólios estatais
não atendem essas áreas.
Restrições a preços também podem
conturbar o ambiente de negócios.
Muitos governos, por exemplo,
cobram preços excessivamente altos
para ligações domésticas e
internacionais no setor de serviços de
telecomunicações. Como resultado, os
monopólios que operam nessas
condições são altamente lucrativos,
mas seu capital e sua produtividade
são baixos. Os preços altos conferem
poucos incentivos às empresas de
telecomunicações para que usem seus
recursos de forma mais efetiva.
Regras de saída. Regras e proteções
inadequadas de falência podem criar
obstáculos adicionais para o
18 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
financiamento das empresas. Países
com melhores regulações de
insolvência tendem a ter empréstimos
em maior volume e a custos mais
baixos.
A atuação precária das instituições
formais permite que empresas se
livrem de algumas ou de todas essas
regras, gerando vantagens de algumas
delas sobre as demais. O colapso de
instituições formais acontece quando
os agentes públicos não têm
conhecimento ou vontade de executar
suas funções regulatórias. Os agentes
públicos às vezes não têm a intenção
de implementar as regras, pois as
instituições para as quais trabalham
não lhes oferecem os incentivos
adequados. As instituições talvez não
recompensem seus agentes por
aplicarem a lei de forma justa e
equânime. Talvez elas careçam de
transparência e muitas não
supervisionem seus agentes de maneira
suficiente. Além disso, os agentes
governamentais podem também não
ter os conhecimentos e recursos de que
precisam para fazer valer a lei. Eles
normalmente carecem de ferramentas
e capacitação.
Acesso ao financiamento
Mesmo que o investimento
estrangeiro direto exerça um papel
essencial no processo de
desenvolvimento, é impossível que um
país progrida sem que haja
investimento doméstico, oriundo da
poupança interna. Isso requer
instituições financeiras nacionais que
administrem eficientemente o risco e
aloquem o capital em investimentos
produtivos. Muitos países em
desenvolvimento dispõem de setores
financeiros estatais fracos e incapazes
de agir como catalisadores do
desenvolvimento. Porém quando
reformas são realmente
implementadas, os benefícios são
rápidos e evidentes, mesmo
considerando que a criação e a
reestruturação no setor financeiro seja
uma tarefa de longo prazo.
Grandes empresas são bem servidas
pelos sistemas bancários existentes, e
tem havido progresso considerável em
microfinanças nos últimos dez anos -
com 41 milhões de pessoas pobres
atendidas em mais de 65 países. Mas,
na melhor das hipóteses, o progresso
no financiamento das pequenas e
médias empresas tem sido lento.
Então, a questão não é apenas de falta
de dinheiro. Pequenas e médias
empresas são empreendimentos
arriscados. Elas requerem capital de
risco, mas as fontes desse tipo de
capital são difíceis de acessar. Assim,
as pequenas e médias empresas
acabam utilizando o mecanismo
clássico de financiamento através do
endividamento. Este método pode se
revelar difícil para os empreendedores
de países em desenvolvimento, pois
poucos deles conseguem alavancar
ativos de garantia, da forma como
empreendedores de países
desenvolvidos conseguem. Por quê?
Principalmente, devido à
informalidade dos direitos de
propriedade, e à ausência de mercados
hipotecários. O requerimento de
garantias atua como um funil pelo qual
passam os tomadores de empréstimos
ricos, e exclui empreendedores com
alto potencial de crescimento.
A maioria dos mercados emergentes
financia até 90% de seus investimentos
localmente, ainda que na África
Subsaariana esse número fique em
torno de 65% (sendo que a maioria
das empresas produtivas gera lucros
em moeda local, o que torna o
financiamento local sustentável). O
crédito privado, em percentual do PIB,
cresce de 12% em países de baixa
renda para 25% nos países de renda
média-baixa, continua crescendo para
30% nos países de renda média-alta,
até atingier 85% nos países de alta
renda.
Uma teia de fatores está envolvida,
além da mera falta de capital.
■ A lei e sua implementação
geralmente estão no cerne da
questão. A maioria dos países têm
direitos de propriedade fracos,
fazendo com que o uso de bens,
como forma de garantia, seja
dificultado. Mesmo quando os
direitos de propriedade são bem
definidos, a implementação de
contratos hipotecários é
normalmente impossível, por
razões políticas e judiciais. Além
disso, as leis de falência são
tipicamente inexistentes,
aumentando o risco dos credores e
gerando desincentivos para que
invistam em pequenas e médias
empresas.
■ Instituições financeiras precárias
também são um problema.
Instituições financeiras nacionais
operam em condições de oligopólio
ou monopólio, com pouca pressão
dos acionistas para que entrem em
novos mercados, por exemplo,
emprestando para pequenas e
médias empresas.
■ Mesmo quando as instituições
financeiras querem atuar, muitas
vezes elas carecem da capacidade
de emprestar a pequenas e médias
empresas. Os bancos estão
acostumados a efetuar análises de
risco muito completas, dado que
operam com grandes clientes – tais
análises são caras demais para
pequenas e médias empresas. No
extremo oposto do espectro, as
instituições de microcrédito
emprestam a partir de análises
muito limitadas, apoiando-se, na
CAPÍTULO 2 : RESTRIÇÕES AO S E TOR PRIVADO NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 19
maioria das vezes, na rede
comunitária para obter reembolso.
Isso não funciona muito bem para
os volumes maiores, dos quais as
pequenas e médias empresas
precisam.
■ A falta de informação confiável
também atrasa o crescimento dos
empréstimos as pequenas e médias
empresas – geralmente por não
existirem agências de informação
creditícia, e porque os
requerimentos de demonstração de
informações são fracos ou não
implementados.
■ Os investidores carecem de
oportunidades para se retirar da
operação. Os mercados de capitais
de países pobres são inexistentes ou
têm pouca liquidez, fazendo com
que seja impossível efetuar ofertas
públicas. Ofertas privadas podem
funcionar, mas muitos mercados
estão longe de terem liquidez, com
poucas oportunidades de transação.
■ Os empreendedores, comumente,
carecem de conhecimento e
vontade de receber capital de risco.
Quanto ao conhecimento, o talento
gerencial é limitado. Quanto à
vontade, investidores privados
informam a relutância de pequenas
e médias empresas em abrir seus
livros publicamente, em países
onde o caixa dois é comum.
Acesso a técnicas e conhecimento
As inovações tecnológicas e a mudança
das economias em direção ao
conhecimento fazem do investimento
em capital humano uma prerrogativa
para o crescimento econômico
sustentável, e torna estes investimentos
cruciais para a criação, o crescimento e
a produtividade das empresas. O
capital humano pode determinar o
potencial de crescimento e de
sobrevivência de uma empresa,
contribuindo diretamente para sua
produtividade ao facilitar a adoção de
inovações em tecnologias e processos.
A vantagem competitiva de uma
empresa nasce de sua capacidade de
empreendedorismo; de seu
conhecimento técnico e gerencial; e
das habilidades, educação e
adaptabilidade de seus funcionários.
O nível educacional é importante, e as
habilidades dos empregados precisam
ser continuamente melhoradas por
meio de treinamentos no ambiente de
trabalho, que aumentam a
produtividade empresarial e sua
capacidade de absorver novas
tecnologias. Na Costa Rica, Ilhas
Maurício e Singapura, o setor privado
tem se beneficiado de um círculo
virtuoso de educação formal, reforçado
pela aprendizagem e treinamento
dentro das empresas. A Costa Rica
tem a maior exportação de software
per capita da América Latina, fazendo
com que o país seja um eixo
tecnológico na região, graças a seus
investimentos no ensino fundamental
(produzindo um dos mais altos índices
de alfabetização) e no ensino técnico.
Muitos países em desenvolvimento
sofrem de baixos níveis de
investimentos em capital humano, o
que é agravado pela emigração de
profissionais altamente qualificados. A
fuga de cérebros ocorrida desde 1990
tem sido estimada em 15% para
América Central, 6% para África, 5%
para Ásia e 3% para a América do Sul.
A Organização Internacional para
Migração estima que cerca de 300 mil
profissionais do continente africano
vivem e trabalham na Europa e na
América do Norte. Segundo algumas
estimativas, até um terço dos
20 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
profissionais de P&D do mundo em
desenvolvimento residem nos países da
OCDE.
Essa persistente fuga de cérebros retira
dos países em desenvolvimento o
know how de milhares de talentos de
sua população, reduzindo o estoque de
capital humano qualificado existente,
erodindo a base tributária doméstica, e
pressionando a classe média educada,
que é um fator de estabilidade na
maioria das sociedades.
A migração de empreendedores
talentosos e não avessos ao risco do
mundo em desenvolvimento, que
buscam oportunidades em sociedades
mais favoráveis ao empreendedorismo,
evidencia os obstáculos para iniciar e
ampliar negócios em seus países de
origem. A maior causa disso é o
ambiente social deteriorado, que limita
o número de possíveis empreendedores
e restringe seu potencial.
■ ■ ■
Esse diagnóstico, da estrutura do setor
privado e das restrições ao seu
crescimento rápido, aplica-se em
diferentes graus a um amplo conjunto
de países em desenvolvimento. O
equilíbrio entre diferentes fatores varia
de acordo com a renda,
desenvolvimento institucional e a
composição do setor privado. Resolver
as restrições, de forma a desencadear o
poder do setor privado, demandará
programas customizados para as
necessidades individuais de cada país,
mas as abordagens serão, de maneira
geral, similares. Passaremos a elas
agora.
Foto: Evan Schneider/PNUD
Comissão reconhece que as restrições para o
desenvolvimento de um setor privado
sustentável são bem conhecidas – e geralmente
aceitas como tal. O mesmo ocorre com os
elementos principais das políticas formuladas para minorá-las. O grande desafio
consiste em passar do estágio da compreensão dessas principais limitações, para o
estágio em que se desenham “pacotes” de soluções específicas, aplicáveis pelos
países. O foco da atenção, nesse momento, deve passar de mera determinação de
“quais” são as limitações, para centrar-se em “como” elas podem ser superadas e
“quem” irá superá-las. Aqui examinaremos os passos políticos e administrativos
que podem diminuir essas restrições e contribuir na criação da capacidade
necessária para governar transações, capacidade esta que é vital para o
desenvolvimento do setor privado e para o funcionamento eficiente de uma
economia de mercado.
A Comissão tem enfatizado que o setor privado é importante para os pobres, de
várias maneiras. Se os benefícios das reformas são claramente articulados e seus
resultados rapidamente vistos, iniciativas construtivas para o desenvolvimento do
setor privado podem traduzir-se em maior apoio político. E o ímpeto e o
CAPÍTULO 3
COMO DESENCADEAR O
PODER DO SETOR PRIVADO
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 21
A
consenso para a mudança, assim
produzidos, podem proporcionar a
plataforma para um programa global
de reforma e de mudança.
Algumas lições gerais, frutos da
experiência:
■ Reformas bem-sucedidas
geralmente são aquelas nas quais os
governos e tomadores de decisão
envolvidos assumem
voluntariamente compromissos de
mudança claros.
■ Reformas recheadas de
condicionantes raramente são bem
sucedidas, quando os governos que
as implementam não estão
comprometidos.
■ Mudanças significativas
freqüentemente ocorrem quando
os países enfrentam graves crises
econômicas (Índia em 1991, Leste
Asiático no final da década de 90),
e a resposta a essas mudanças
pode ser rápida. Obviamente, é
melhor não esperar por uma crise
para iniciar as reformas.
■ Mudanças podem também
resultar de alterações profundas na
filosofia econômica básica (China,
Vietnã e Leste Europeu).
■ Novos governos que substituem
antigos regimes com histórico de
governança deficiente (Quênia,
Nigéria nos últimos anos) podem
muitas vezes utilizar o ímpeto da
mudança para implementar
reformas.
■ Mudanças quase sempre implicam
em novos papéis para o setor
privado local e para organizações
da sociedade civil, incluindo
organizações de empregados e de
empregadores.
■ Tecnologia é o agente de muitas
das mudanças necessárias, e novas
tecnologias permitem que
mudanças sejam implementadas
muito mais rapidamente do que
normalmente se pode esperar.
Apoio ao desenvolvimento do setor
privado – nacional e mundial – pode
envolver pesquisa econômica,
assessoramento à formulação de
políticas macroeconômicas e setoriais,
assistência técnica e apoio financeiro
direto a projetos específicos do setor
privado. Salvo este último caso, a
maioria dessas intervenções envolve
governos e instituições públicas em
países em desenvolvimento (Figura
3.1).
Os principais atores públicos nessa
área são o Grupo Banco Mundial
(incluindo a Corporação Financeira
Internacional e a Agência Garantidora
de Investimento Multilateral) e o
Fundo Monetário Internacional. Os
bancos de desenvolvimento regional,
incluindo o Banco Asiático de
Desenvolvimento, o Banco Africano
de Desenvolvimento, o Banco
Europeu para Reconstrução e
Desenvolvimento e o Banco
Interamericano de Desenvolvimento,
também concentram esforços no
suporte à criação de um ambiente
propício para o desenvolvimento
empreendedor nas suas respectivas
regiões. Importantes funções também
são desempenhadas pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) em pesquisa e
formulação de políticas, e pelas
principais organizações especializadas
da ONU, como a Organização das
Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial, a
Conferência das Nações Unidas em
Comércio e Desenvolvimento, a
Organização Internacional do
Trabalho e o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento.
Agências bilaterais e instituições
(como a Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional,
a Agência Canadense para o
Desenvolvimento Internacional e a
Companhia Financeira de
Desenvolvimento da Holanda)
também se dedicam a pontos
22 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
F I G U R A 3 . 1 FORTALECENDO A EFETIVIDADE DAS ATIVIDADES
TRADICIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DO SETOR PRIVADO
Dirigidas por
atores do setor
privado
■ Empresas
■ Organizações da
sociedade civil
■ Fundações
Dirigidas por
atores do setor
público
■ Governos locais
■ Colaboradores
governamentais
■ Agências de
desenvolvimento
Direcionadas aos
atores do setor público
■ estabelecer padrões mais
amplos (normas industriais,
sustentabilidade, controle
corporativo)
■ Pressionar por mudanças
nas políticas
■ Promover o processo
participativo através do
diálogo com a sociedade
■ Reforma nas políticas
■ Assessoramento
para formulação de
políticas
■ Financiamento e suporte
técnico às reformas
do setor público
■ Tranferências financeiras
(assistência, empréstimos)
Direcionadas aos
atores do setor privado
■ Vínculos negociais e
parcerias
■ Investimento, incluindo
investimento estrangeiro
direto
■ Mentoria para
empreendedores
■ Parcerias público-privadas,
por exemplo, para provisão
de serviços essenciais
■ Órgãos consultivos
público-privados
■ Privatização ou tercerização
■ Promoção de investimentos
■ Diretamente prover serviços
de desenvolvimento de
negócios
■ Financiamento direto
importantes da tarefa, incluindo
melhorias no acesso ao capital e
suporte ao desenvolvimento de
microempreendedores e pequenas e
médias empresas.
A Comissão acredita que qualquer
abordagem ao desenvolvimento do
setor privado – e as políticas e
recomendações que a acompanham -
precisa ser baseada no entendimento
de que a poupança, os investimentos e
as inovações que conduzem ao
desenvolvimento são efetuados
principalmente por indivíduos
privados, corporações e comunidades.
Portanto, os governos devem agir
como facilitadores do desenvolvimento
do setor privado, evitando ações que o
impeçam. Governos e agências
intergovernamentais só conseguem
facilitar o desenvolvimento do setor
privado através de estímulos aos
mercados que funcionam de forma
competitiva. Para tal, devem:
■ Oferecer ambientes conducivos a
operações e investimentos, nos
quais todas as empresas privadas
(nacionais, estrangeiras,
politicamente associadas ou não)
possam prosperar sem temores ou
favores, o qual passa por um
contexto social geral politicamente
estável e previsível, que conta com
regras adequadas ao favorecimento
da competição, velando de forma
adequada à sua efetiva aplicação, e
que conta ainda com princípios
macroeconômicos sensatos,
incluindo uma política fiscal que
permita o desenvolvimento do
setor privado formal e que seja
adequada ao financiamento da
infra-estrutura física e humana
necessárias.
■ Estabelecer sistemas legais e
judiciais que funcionem
adequadamente, protejam direitos
de propriedade e promovam a
resolução de disputas contratuais –
sistemas percebidos como capazes
de operar com credibilidade e
eficiência, quando comparados a
padrões internacionais.
■ Facilitar a movimentação do
capital privado de todos os tipos, e
não apenas do investimento
estrangeiro direto, através do
fomento à progressiva evolução dos
mercados de capital nacionais e de
seus vínculos com mercados de
capital regionais e globais. No
entanto, a liberalização dos fluxos
de capital financeiro exige muita
prudência. É necessário que exista
um sistema financeiro sólido, com
boa regulamentação e
cumprimento das normas, antes
que se proceda à total liberalização.
■ Influenciar favoravelmente as
percepções de risco global, nacional
e regional, através de melhoras na
disseminação da informação em
tempo real (e não simplesmente
através de marketing promocional
das oportunidades de
investimento) e estimular
comportamentos, por parte do
governo, que excitem e estimulem
os investidores nacionais ou
estrangeiros, ao invés de
desencorajá-los.
■ Criar subsídios e incentivos
tributários onde isto for claramente
necessário para corrigir as
imperfeições do mercado, e evitar o
uso excessivo de medidas que
podem ser politicamente atrativas
no curto prazo, mas
contraproducentes para o sólido
desenvolvimento do setor privado
no longo prazo.
■ Prover ou facilitar o fornecimento
privado de infra-estrutura básica
(energia, água, comunicações,
transporte) através de parcerias
público-privadas, modelos
inovadores de regulação e outros
meios para garantir que empresas
privadas não sejam levadas a
desvantagens competitivas.
CONSTRUINDO AS
BASES
O capítulo 2 discutiu o
macroambiente nacional e
internacional e a disponibilidade da
infra-estrutura física e social. Neste
capítulo, nos concentraremos em ações
mais específicas para a promoção do
estado de direito e a criação de
condições competitivas justas para os
empreendedores. Nós também
tocaremos nos princípios gerais que
precisam ser adotados para ampliar o
acesso ao financiamento e a
disponibilidade de capacidades e
conhecimento. A implementação
efetiva dessas políticas pode ajudar os
empreendedores privados a realizar
transações, com a confiança de que as
bases contratuais dessas transações
serão cumpridas. Em qualquer
economia, é preciso que exista uma
sólida governabilidade das transações,
para liberar a energia do
empreendedorismo nacional.
Fortalecendo o estado de direito
Para empresas privadas, o estado de
direito constitui a base de um marco
regulatório previsível e da
governabilidade das transações entre
atores privados. Para assegurar o
estado de direito, não basta ter ou criar
um conjunto apropriado de normas –
é preciso garantir que as leis serão
cumpridas de maneira justa.
Existe uma necessidade imperiosa de
assegurar a integridade do serviço
público, e portanto o governo deve:
■ Estabelecer e aplicar
procedimentos públicos
transparentes, abertos e nãoexcludentes,
para as contratações e
aquisições públicas.
CAPÍTULO 3 : COMO DESENCADEAR O PODER DO SETOR PRIVADO 23
■ Estabelecer sistemas abertos,
transparentes, eficientes e justos
para a contratação de servidores
públicos, de modo a garantir
eficiência e a qualidade dos
serviços públicos e a evitar o tráfico
de influência, o nepotismo e o
favorecimento.
■ Oferecer mecanismos para
incentivar a educação, a formação e
a supervisão, assim como códigos
de conduta, que fomentem e
recompensem a integridade e o
profissionalismo.
■ Estabelecer um sistema para evitar
conflitos de interesse e influência
indevida sobre servidores públicos,
oferecendo também mecanismos
através dos quais um funcionário
público possa denunciar tais
condutas sem colocar em risco a
sua segurança e sua posição
profissional.
Assegurar a integridade no serviço
público é assegurar a responsabilidade
e a transparência nas ações dos
servidores públicos. Isso requer dos
governos:
■ A mobilização de uma ampla base
de apoio, mediante campanhas
participativas anti-corrupção,
dirigidas aos setores público e
privado.
■ O estabelecimento de
procedimentos de controle
adequados para a administração e o
setor públicos, assim como
métodos e sistemas que
disponibilizem, pública e
tempestivamente, relatórios sobre
as decisões tomadas e os resultados
obtidos no setor público.
■ A garantia de transparência nos
procedimentos públicos para
aquisições, privatizações,
adjudicação de projetos e
permissões estatais, assim como
para empréstimos de bancos
nacionais e outros empréstimos
garantidos pelo governo, para
alocações orçamentárias e para
isenções fiscais. Tais procedimentos
devem estimular a livre
concorrência e prevenir a
corrupção, bem como proporcionar
ambientes regulatórios
descomplicados, através da
eliminação das regras conflitantes,
ambíguas ou excessivas que
sobrecarregam as empresas.
■ A criação de sistemas de acesso à
informação sobre gastos públicos.
■ O fortalecimento de medidas para
combater o suborno e promover a
integridade das operações
negociais.
Proteção aos
direitos de propriedade
Há evidência abundante de que os
governos fazem muito pouco para
salvaguardar os direitos de
propriedade. Os países em que se
registram as melhores práticas
dispõem de tribunais eficientes, e leis e
instituições que os respaldam, para
definir os direitos de propriedade dos
cidadãos e das empresas. No entanto,
em muitos países em desenvolvimento,
as instituições que definem e fazem
valer os direitos de propriedade – o
sistema judiciário, cartórios e os órgãos
responsáveis por efetivar o
cumprimento da lei– são muitas vezes
as instituições públicas menos
modernas e aquelas que contam com
os menores volumes de recursos,
dentre as instituições públicas.
Os direitos de propriedade das
empresas podem muitas vezes ser
protegidos através da criação de meios
alternativos de solução de
controvérsias com outras empresas,
clientes, fornecedores e funcionários
de governo.
■ Sistemas alternativos para solução
de controvérsias oferecem um
substituto aos morosos e caros
tribunais formais, pois conseguem
prover proteção legal previsível aos
contratos e propriedades dos
pequenos empreendedores. A
Argentina estabeleceu um sistema
alternativo piloto, e o resultado foi
que 66% de 32 mil conflitos
comerciais foram resolvidos em um
prazo médio de dois meses (bem
melhor que a média de 3-4 anos,
obtida no sistema formal).
■ Distribuição automática e aleatória
de processos aos juízes, utilizando
sistemas computadorizados,
aumentam a eficácia do Judiciário e
reduzem a corrupção. Em uma
experiência piloto da Eslováquia, o
tempo transcorrido entre o
protocolo da ação e a primeira
audiência foi reduzido de 73 para
28 dias, e o número de fases do
processo diminuiu de 23 para 6
passos.
■ Tribunais especializados em
cobranças de dívidas resolvem as
reclamações com maior celeridade,
pois quem os preside tem maiores
competências para aplicar a
legislação responsabilidade sobre
todo o processo de cobrança, desde
o embargo até o leilão da
propriedade, se isto for necessário.
Na Colômbia, um tribunal
especializado em cobrança de
dívidas conseguiu que o número de
processos tramitados passasse de 4
mil para 11 mil por ano (1996-
2000), resolvendo 75% dos casos
em um ano, e reduzindo o estoque
de processos pendentes em 5 mil
casos.
ERGUENDO
OS PILARES
O Capítulo 2 também descreveu os
três pilares indispensáveis para o
empreendedorismo e para o
24 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
crescimento do setor privado:
condições justas, acesso a
financiamento, e conhecimentos e
capacitação.
Criando condições justas
Criar e preservar condições justas para
as empresas requer um sistema de
regras e de mecanismos de controle
que inspire confiança e limite
razoavelmente os custos e encargos
dos empreendimentos. Nos últimos
anos, esta área tem recebido mais
atenção dos atores públicos e privados
de desenvolvimento. Um dos
principais focos de atenção tem sido o
aperfeiçoamento da legislação e da
regulação. No Vietnã, uma nova lei de
sociedades contribuiu para a criar um
milhão de novos postos de trabalho.
Um ambiente justo implica ainda em
fortalecer as instituições responsáveis
por colocar em prática a
regulamentação e zelar pelo seu
cumprimento. A receita parece não
deixar dúvidas – antes de mais nada, é
preciso extirpar o comportamento
habitual que gera a regulação
deficiente. Sempre há alguém que se
beneficia de cada regra, e encontrar
formas de vencer sua resistência é o
primeiro passo para uma reforma
efetiva.
Simplificando regras. Um elemento
importante para o ambiente
empresarial justo consiste em
simplificar as regras que afetam o
registro, a operação e a extinção de
empresas privadas. A experiência
demonstra que a maneira de abordar
essas questões é muito simples –
necessita-se apenas de vontade real de
implementar mudanças. Os passos
fundamentais implicam em adotar as
melhores práticas no que se refere ao
registro de empresas, às mudanças de
titularidade, ao encerramento das
operações e à governança das
transações. Exemplos de programas de
ação incluem:
■ Quiosques e postos de
atendimento que simplificam o
registro comercial e da propriedade
s„o eficientes, e sua maior
transparÍncia contribui para
minimizar a corrupção em todos os
níveis. Na Tanzânia, a Agência de
Registro e Licenciamento de
Negócios reduziu o tempo de
registro de novas empresas, de 90
para 3 dias. Na Índia, o processo
eletrônico para registro de
propriedades, implantado no
estado de Andhra Pradesh, reduziu
o tempo dispendido de 7-15 dias
para poucas horas.
■ Licenças unificadas para empresas
permitem aos governos consolidar
os registros de empresas, de modo
que os empreendedores necessitam
obter apenas uma licença para
tornarem-se proprietários de uma
empresa e poder exercer suas
atividades, em vez de uma
variedade de licenças em cada nível
governamental. No Quênia, as
licenças únicas para empresas
permitiram reduzir os custos para
as pequenas empresas e aumentar
em 30-40% a arrecadação do
governo.
■ A responsabilidade pelo
recolhimento de impostos
(incluindo taxas alfandegárias) e
pela fiscalização passa a ser
exercida por autoridades tributárias
unificadas, para todos os níveis de
governo. Em Zâmbia, um sistema
com estas características eliminou
duplicidades nas inspeções e
fiscalizações, ao mesmo tempo em
que melhorou os serviços ao
consumidor e o cumprimento da
normativa vigente.
Muitas dessas mudanças podem
reduzir substancialmente a
informalidade na maioria das
economias, sobretudo quando vêm
acompanhadas de esforços de cada
país para melhorar sua compreensão
das características das empresas
informais. Porém, a informalidade é
tão difundida e difícil de erradicar que
requer um enfoque especial.
Buscar maneiras de aumentar os
benefícios da formalização é uma das
estratégias possíveis. Este resultado
pode ser obtido, em parte, abrindo-se
as licitações públicas à participação de
atores informais que cumpririam os
trâmites de formalização caso viessem
a ser declarados vencedores, e
melhorando-se o acesso ao mercado
através da organização de feiras
comerciais e do estabelecimento de
contatos com compradores
internacionais. Oferecer serviços de
desenvolvimento empresarial a preços
acessíveis, para aprimorar a capacidade
gerencial, a produtividade e a
qualidade, são estratégias comprovadas
de apoio a pequenas e médias
empresas formais.
Boa parte do êxito dessas iniciativas
reside numa crescente tomada de
consciência sobre os custos da
informalidade – e a uma mudança de
mentalidade. Pode-se fomentar o
debate público através de campanhas
de conscientização, e pode-se
fortalecer as organizações da sociedade
que representam os interesses de
pequenas empresas.
Criando mercados competitivos. A
criação de mercados competitivos e a
redução da influência das empresas já
estabelecidas são cruciais para nivelar
as condições vigentes. Quando já
existem empresas estabelecidas
dominantes, pode-se contribuir para a
abertura de mercados através de três
ferramentas: inovação tecnológica,
desenvolvimento de mecanismos de
CAPÍTULO 3 : COMO DESENCADEAR O PODER DO SETOR PRIVADO 25
financiamento, comércio e fluxos de
capital mais livres. Mudanças
tecnológicas incentivam a competição
e aliviam as restrições de entrada. Ao
trazer pressão de fora, a tecnologia
ajuda a derrubar barreiras de entrada e
a criar as bases para futuras
intervenções para eliminação de
restrições à entrada nos mercados. Um
mercado financeiro desenvolvido
promove a competição pois facilita o
acesso a recursos de empréstimo e de
financiamento para aquelas empresas
que não dispões de contatos ou de
acesso a subsídios. Os fluxos
comerciais e de capital também
reduzem a capacidade das empresas já
estabelecidas de influenciar a
governabilidade das transações, ao
fomentar a concorrência entre
empresas nacionais e estrangeiras.
A competição gera vencedores e
perdedores, o que se supõe uma fonte
de tensão entre os mercados e a
democracia. Quem trabalha em
empresas ineficientes pode acabar
sofrendo as desvantagens das
mudanças, sobretudo quando não
existem redes de proteção social
adequadas. Dessa maneira, é ideal que
a abertura de mercados para a
concorrência ocorra de forma
escalonada, de maneira que a abertura
completa tenha lugar apenas quando já
se conte com um conjunto sólido de
instituições que possam velar pelo
adequado funcionamento do mercado.
É preciso ainda que se articule um
rede de proteção social voltada para as
pessoas e não para as empresas, que
possa prestar assistência
socioeconômica àqueles indivíduos que
tenham sido prejudicados.
Para que o processo de mudanças
continue apesar dessas tensões, é
preciso que os custos de mercados
não-competitivos se tornem
transparentes. A sociedade deve ser
conscientizada, e um modo de fazê-lo
consiste em evidenciar as diferenças de
preços e qualidade existentes entre
produtos produzidos em economias
protegidas e aqueles oriundos de
economias mais abertas. Outra forma
de demonstrar estes custos seria
disponibilizar informações sobre o
valor dos subsídios que acabam
destinados a empresas protegidas.
A reforma fiscal – simplicidade,
clareza e estabilidade. A criação de
uma ambiente favorável às pequenas e
médias empresas requer uma política
fiscal que responda às suas
necessidades, incentive a
implementação de novas iniciativas e
ajude a expansão das empresas que já
existem. Os governos precisam
desenvolver políticas fiscais em
colaboração com pequenas e médias
empresas, simplificando as regras que
lhes dizem respeito, reduzindo suas
cargas tributárias e fomentado a
transparência e a estabilidade.
Os governos também necessitam de
mecanismos formais para organizar
regularmente reuniões e consultas, que
assegurem que os órgãos
representantes das pequenas empresas
estejam informados sobre as últimas
mudanças na regulamentação fiscal e
tenham ocasião de apresentar suas
opiniões e propostas. Para auxiliar as
pequenas e médias empresas a cumprir
as regras e garantir interpretações
comuns em todas as regiões do país, os
funcionários fiscais devem poder
contar com uma formação básica em
matéria de regulamentação e
procedimentos tributários.
Reforma financeira e acesso ao
capital.
A criação de mercados financeiros
domésticos eficientes e de acesso ao
crédito para empresas locais têm sido
os maiores objetivos dos bancos
multilaterais e das agências bilaterais
de desenvolvimento, cujas atividades
são, na maioria das vezes, direcionadas
para a estabilização do ambiente de
negócios e para o fortalecimento das
instituições financeiras.
Um dos grandes problemas das
intervenções que atualmente se
realizam, quando se trabalha com
muitos intermediários de eficácia
desigual, é que estes nem sempre são
motivados pela demanda. Modelos de
sucesso têm implementado uma
abordagem que envolve múltiplos
atores para o desenvolvimento de
mercados eficientes. Considere-se os
esforços da Corporação Financeira
Internacional (CFI) para desenvolver o
setor de arrendamento mercantil
(leasing) em muitos países, um modelo
que também é aplicável a
microcréditos e financiamento
habitacional. Este modelo se baseia na
formação de uma coalizão de atores do
mercado integrada por governos e
reguladores, instituições internacionais
de arrendamento mercantil,
instituições financeiras locais e
especialistas em aspectos legais,
regulatórios e tributários do leasing.
Os governos devem desempenhar um
papel chave na criação e construção de
infra-estrutura e instituições
financeiras de longo prazos, para
fortalecer o sistema bancário e tornálo
mais competitivo. Neste processo, os
governos devem garantir que os
programas públicos de ajuda financeira
sejam complementares – ao invés de
competir com o financiamento privado
disponível em condições comerciais
normais.
Os formuladores de políticas devem
concentrar-se em reduzir as barreiras
de acesso ao financiamento,
reconhecendo que o acesso é
geralmente mais importante que o
custo desse financiamento. Eles devem
reconhecer que programas de crédito
subsidiado são insustentáveis e
desnecessários, e que é mais
importante reduzir os custos
transacionais e aumentar a
26 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
produtividade e a inovação entre os
provedores de serviços financeiros.
Eles devem também reformular as
regras dos mercados financeiros,
introduzindo novas estruturas legais e
eliminando qualquer tipo de obstáculo
ou limite restritivo. É preciso contar
com condições legais e sistemas de
implementação eficientes, para abordar
temas tais como falências, registros,
garantias e regulamentação de
empréstimos. Tais medidas podem
gerar benefícios muito mais
importantes do que programas de
crédito específicos.
Para atender melhor as necessidades
de empresas menores, é preciso
reforçar o alcance e a capacidade
operativa das instituições financeiras.
Sempre que estão sujeitas à
regulamentação apropriada, as
instituições financeiras não bancárias
desempenham um papel mais
relevante, pois são mais capazes de se
ajustarem de forma efetiva às
necessidades de pequenas e médias
empresas via a oferta de produtos
financeiros inovadores e de
instrumentos que fomentem a liquidez
e coloquem à sua disposição uma
gama de produtos personalizados de
seguros, empréstimos e poupança.
Em certos casos, o financiamento
público permite preencher lacunas
existentes nos mecanismos de
financiamento. Mas os governos
precisam garantir que os programas
públicos sejam complementares, ao
invés de competir com o
financiamento privado que poderia
estar disponível em termos comerciais.
Os esforços devem orientar-se para
utilizar os sistemas bancário e
financeiro existentes de forma a
distribuir os recursos, e não para criar
agências estatais específicas, que
durante muito tempo têm
demonstrado sua incapacidade em
canalizar fundos. Os Estados Unidos
adotaram o conceito de Gestão da
Pequena Empresa, que é útil como
modelo. O objetivo é fazer com que o
sistema financeiro possa catalisar o
crescimento das pequenas e médias
empresas e aliviar os risco extrínsecos
aos negócios, dos quais os empresários
podem prescindir.
Os pequenos empresários devem
dispor das mesmas ferramentas de
administração de risco que as grandes
empresas possuem, dentre as quais se
encontram produtos de seguro e
proteção, assim como produtos
sofisticados que permitem minimizar,
por exemplo, riscos cambiais ou
inflacionários. Porém, redes e parcerias
podem chegar a ser ainda mais
importantes. Os recursos podem vir de
emigrantes, novos ofertantes de capital
de risco, participações societárias, ou
de outros tipos de empresas ou grupos
de particulares, mais conhecidos como
“anjos”, pessoas que progrediram no
sistema e agora desejam ajudar outros
a progredir também. O acesso a esses
fundos pode introduzir o
empreendedor em redes profissionais
que compartilham padrões para a
avaliação de novas empresas. À
medida que o acesso a essas redes é
formalizado pelas instituições, mesmo
os empreendedores pobres podem
desfrutar de financiamentos e de
serviços de gestão de riscos.
CAPÍTULO 3 : COMO DESENCADEAR O PODER DO SETOR PRIVADO 27
A Costa Rica tem atraído algumas das principais empresas de tecnologia da informação.
Hoje, a fábrica de montagem e produção de chips da Intel, avaliada em 0,5 bilhão de
dólares, é responsável por 25% dos produtos da empresa em todo o mundo e responde por
40% das exportações do país. Isso fez do país um dos 30 maiores exportadores de software
no mundo e o maior exportador per capita de tecnologia da informação na América Latina.
Entre 1985 e 2002 as exportações do país quintuplicaram, passando de 1,1 bilhão de dólares
para 5,1 bilhões.O fluxo de investimentos estrangeiros diretos cresceu mais de dez vezes, de
59 milhões em 1989 para 661 milhões em 2002.
A taxa de alfabetização na Costa Rica é de 95,5%, e 18,5% da força de trabalho em atividade
possui ensino superior ou técnico completos. Políticas governamentais aprimoraram o
sistema educacional, incorporando ensino técnico e treinamento em eletrônica, informática
e engenharia. O país possui 85 escolas vocacionais (que ensinam a mais de 85.000
estudantes por ano), 4 universidades públicas e 46 privadas, incluindo uma das mais
reconhecidas instituições de ensino de negócios da América Latina, a INCAE. O governo
também fundou um Instituto de Ensino Nacional, que oferece treinamento técnico gratuito,
já tendo treinado mais de 127.000 pessoas.
O setor privado lidera a atração de investimentos e a criação de um ambiente favorável aos
negócios através de uma organização sem fins políticos e lucrativos, a Organização para
Investimentos e Desenvolvimento da Costa Rica (CINDE). Criada em 1983, é financiada por
doadores internacionais e fortemente apoiada pelos altos escalões do governo. Nos anos 90,
a CINDE começou a atrair corporações multinacionais, tendo exercido papel fundamental na
decisão da Intel de instalar na Costa Rica sua primeira fábrica de chips na América Latina, o
que não estava nos planos iniciais. A empresa foi influenciada pelo ambiente, aberto e
favorável aos negócios, conjugado a um sistema político estável, respeito pelo domínio da
lei, baixos índices de corrupção e boa infra-estrutura.
Mais de 30 multinacionais se mudaram para a Costa Rica, gerando mais de 10.000 empregos
na indústria eletrônica. Corporações multinacionais, como a Intel, também contribuíram
diretamente para o desenvolvimento de uma força de trabalho capacitada, através de
treinamento no local de trabalho e instituições formais de ensino, além de aumentar o
conhecimento sobre oportunidades de carreira na engenharia e em outras áreas
técnicas.
Fonte: PNUD (2001)
QUA D R O 3 . 1 O SETOR PRIVADO DA COSTA R I CA – UM BOM EXEMPLO
O objetivo de longo prazo deve ser
dispor de instituições financeiras que
apóiem as pequenas e médias empresas
e encorajar os mercados financeiros a
operarem de maneira efetiva. Isso
requer que se ponha em marcha e se
desenvolvam agências de crédito e
outros mecanismos que proporcionem
uma referência creditícia, um método
eficaz para fortalecer os sistemas
financeiros.
Desenvolvendo capacidades e
conhecimentos
Mais investimentos são necessários na
capacitação de empresas locais,
incluindo línguas estrangeiras,
tecnologia da informação e
planejamento gerencial, incluindo
noções de economia, finanças e gestão
de projetos. Parcerias público-privadas
que combinem formação prática no
local de trabalho com o ensino básico
podem ser pontos de partida de
modelos viáveis de aprendizagem.
Também são eficazes os esforços
recentes no sentido de propiciar
treinamento em liderança para
tomadores de decisão de países em
desenvolvimento, fornecido por
instituições educacionais proeminentes
no tema. É de especial importância a
capacitação local de formadores,
“ensinando a quem ensina”, por ser a
única maneira de responder à enorme
demanda por capacitação existente nos
países em desenvolvimento.
Também existem oportunidades para
acelerar a capacitação e para incentivar
o empreendedorismo, aproveitando-se
os vínculos sociais no setor privado de
países em desenvolvimento. Os
emigrantes que residem em economias
avançadas estão em excelente posição
para incentivar empreendedores locais,
ou para tornarem-se investidores ou
empresários. Expatriados nos países
em desenvolvimento também podem
contar com uma capacitação que lhes
permita treinar e motivar
empreendedores locais.
Adicionalmente, os governos devem
fazer o possível para:
■ Construir redes de
empreendedores e associaÁıes
para a aprendizagem entre pares.
As redes podem criar um clima
empreendedor para treinamento,
capacitação e aprendizado, além
de reforçar as conexões existentes
entre empresas. Nelas se apóiam
sistemas privados e nativos de
aprendizado, que encoraja os
empreendedores a aprender com
seus pares.
■ Aproveitar o potencial do setor
privado para oferecer formaÁ„o e
treinamento no local de trabalho,
como uma parte vital do
desenvolvimento do capital
humano.
■ Estabelecer um sistema nacional
efetivo para treinamento e
desenvolvimento de capacidades,
envolvendo organizações de
empregados e trabalhadores como
atores principais.
■ Desenvolver instituiÁıes de
formaÁ„o em gest„o empresarial,
incluindo escolas de negÛcios,
para formar talento empresarial
local.
■ Conduzir pesquisas adicionais
sobre empreendedorismo nos
paÌses em desenvolvimento,
visando melhor compreender as
interaÁıes entre as características
empreendedoras e o ambiente de
negócios.
■ Desenvolver polÌticas públicas
para incentivar emigrantes
capacitados a retornar a seus
países.
O verdadeiro envolvimento dos
principais atores no processo de
mudança somente é útil se vem
28 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
acompanhado do comprometimento,
nos níveis mais altos, e da percepção
de que as mudanças estão
acontecendo. Especialmente no início
do processo, demonstrações de sucesso
e mudanças são vitais para dissipar o
sentimento de ceticismo e descrença
que geralmente acompanham anúncios
governamentais de mudança. As
autoridades já possuem o poder de
implementar novas abordagens de
forma rápida, particularmente nos
casos em que as mudanças abarcam as
regras administrativas.
Divulgar o sucesso de modelos de
reforma em outros países em
desenvolvimento ou vizinhos pode ser
uma ferramenta útil para garantir
apoio, uma vez que é provável que
sejam vistos como aplicáveis, dadas as
condições locais semelhantes. Assim, a
liberação da capacidade intelectual e
de implementação do setor privado
doméstico será muito importante,
sendo completada pela experiência
internacional ou entre países em
desenvolvimento.
Constantemente, as pessoas pobres
têm demonstrado habilidade no uso da
tecnologia, o que deveria ser utilizado
como elemento central de qualquer
programa de reforma, permitindo o
salto essencial para que o progresso
seja rápido. O trabalho com
organizações da sociedade civil para
examinar e monitorar impactos e
extrair lições será responsável pelo
processo de construção da coalizão que
deixará as bases para futuros processos
de mudanças.
maioria dos esforços para abordar as limitações
ao desenvolvimento do setor privado tem origem
nos governos e instituições de desenvolvimento
público. Mas a Comissão acredita que para
alcançar o nível necessário de mudança, é preciso ir mais longe e pensar como
melhor envolver o setor privado no desafio do desenvolvimento. Muitos recursos
importantes para a promoção do setor privado ainda permanecem latentes ao
desenvolvimento, uma vez que sua materialização nãofica a cargo dos atores
tradicionais e não ocorrem sob o rótulo explícito de desenvolvimento (Quadro 4.1).
Ações privadas e parcerias público-privadas se dividem em duas categorias. Elas
são transações comerciais conduzidas por incentivos do mercado, desenvolvidas
como parte de uma corporação de negócios em formação e de uma estratégia
comercial, e que, apesar de tudo, tem fortes implicações para o desenvolvimento.
Ou elas são especificamente estruturadas como tentativas inovadoras de adotar
princípios e abordagens do setor privado para os problemas do desenvolvimento
(Figura 4.1). De uma perspectiva diferente, essas atividades inovadoras do setor
privado são também puramente interações entre entes privados ou elas caem mais
obviamente na área das parcerias público-privadas.
A
Foto: Sonya Laurence Green/PNUD Somália
CAPÍTULO 4
ENGAJANDO O SETOR PRIVADO
NO DESENVOLVIMENTO
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 29
SERVINDO OS
MERCADOS NA BASE
DA PIRÂMIDE
ECONÔMICA
O vasto mercado consumidor
emergente na base da pirâmide –
integrado por 4 bilhões de pessoas
com renda per capita inferior a
US$1,500 anuais – oferece às
multinacionais e grandes empresas
locais um mercado atrativo para seus
bens e serviços (Quadro 4.2). Tal é o
caso da Índia, que possui 700 milhões
de pessoas no mercado rural. A China
conta com um bilhão.
Á medida que as economias avançadas
passam a representar uma parte cada
vez menor da economia mundial, as
mudanças nos hábitos de consumo que
a acompanham podem gerar
oportunidades nada desprezíveis para
corporações globais. Investir e
participar de mercados adequados,
especialmente ospujantes –
particularmente os mercados
emergentes – pode adequados – e
particular os pujantes – pode-se
constituir numa opção estratégica
muito mais importante. De fato,
muitas empresas já estão servindo o
“mundo dos pobres” por meios que
geram altos retornos, levando a uma
maior eficiência operacional e
descobrindo novas formas de inovação.
Para essas empresas, e para aquelas que
seguem essa tendência – promover
negócios voltados para a base da
pirâmide promete oferecer vantagens
competitivas no desenrolar do século
21. Ao mesmo tempo, proporciona
vínculos importantes com o mercado,
disponibilizando recursos para os
consumidores da base da pirâmide.
FORMANDO UM
AMBIENTE FAVORÁVEL
E CONSTRUINDO
REDES
Uma das maneiras mais certeiras de
contribuir para o êxito das empresas é
reforçando o poder das conexões e
redes de que fazem parte. Muitos
ecosistemas empresariais evitam
ambientes regulatórios frágeis, através
da criação de capacidade privada,
dentro da própria rede, para a
autoregulação e para que as regras
sejam de fato aplicadas. Deste modo,
pode-se reduzir assimetrias dentro das
redes e aumentar sua capacidade para
fazer cumprir os contratos, ampliando
assim a confiança no sistema.
As redes podem trazer muitos
benefícios, como:
30 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Muitos atores privados, de fora da comunidade de desenvolvimento tradicional, estão
focando os desafios do desenvolvimento.
Companhias
■ Grandes corporações (multinacionais e locais) estão liderando ambientes privados que
desenvolvam e fortaleçam as habilidades de micro, pequenas e médias empresas locais.
■ Instituições financeiras globais e instituições financeiras locais estão desenvolvendo
abordagens inovadoras e tecnologias para melhorar o acesso ao crédito para os pobres
e para pequenas e médias empresas.
■ Empresas individuais, geralmente corporações multinacionais, mas também algumas
grandes corporações locais, estão lançando programas de responsabilidade social
corporativa para direcionar as necessidades específicas de desenvolvimento.
■ Importantes empresas locais – sozinhas ou com associações do setor privado doméstico
– estão ampliando os instrumentos para o alcance das estratégias de pressão específicas
para ações benéficas ao setor privado, instruindo e influenciando o processo de
desenvolvimento.
Associações e fundações
■ Associações internacionais do setor privado, como o Conselho de Desenvolvimento
Sustentável, Câmara Internacional de Comércio, Fórum Internacional de Líderes
Empresariais, Fórum Econômico Mundial, Organização Internacional de Empregadores e
outras em nível regional, como Rede de Negócios do Oeste da África e o Fórum de
Negócios da Commonwealth, estão centradas em vários aspectos do desenvolvimento.
Associações empresariais nacionais, como a Confederação das Indústrias da Índia e a
Federação dos Manufatureiros da Malásia, têm desempenhado um importante papel no
planejamento econômico nacional.
■ Fundações privadas estão comprometidas num processo de desenvolvimento mais
amplo, com o foco na responsabilidade e resultados.
Instituições acadêmicas
■ Instituições acadêmicas (incluindo cursos de administração) – nos países que são
membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e em alguns
países em desenvolvimento – estão se concentrando mais no desenvolvimento do setor
privado e em temas mais amplos do desenvolvimento.
■ Escolas de negócio importantes estão trabalhando com colegas africanos para um
treinamento gerencial comum de funcionários públicos locais e líderes do setor privado.
Redes de pessoas
■ As pessoas estão participando ou querendo participar mais na resolução dos temas
globais, através da contribuição com seu conhecimento e serviços para várias
organizações do tipo “grupos de desenvolvimento da paz” (experientes executivos
aposentados, estudantes de administração e negócios, especialistas do setor financeiro).
■ Executivos estrangeiros de corporações multinacionais estão orientando os
empreendedores locais ou lecionando sobre negócios em cursos onde estão alocados.
■ Imigrantes na América do Norte e Europa estão apoiando empreendedores na sua terra
natal com remessa de fundos, financiamento informal de pequenos empreendimentos, e
consultoria e orientação em negócios. Eles são o reflexo da fuga de cérebros abordada
no capítulo 2, e representam a massa crítica (banco de cérebros) que poderia
desempenhar um papel mais ativo se as mudanças nas políticas do país, discutidas no
capítulo 3, começassem a acontecer.
QUADRO 4.1 OS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO
DO SETOR PRIVADO
■ Permitir a transferência de
capacidades, tecnologias e padrões
de qualidade.
■ Garantir que o investimento
estrangeiro direto tenha efeitos
indiretos positivos.
■ Atrair empresas para o setor
formal.
■ Criar a capacidade para regular as
transações através de contratos
comerciais.
■ Abrir mercados e suprir com
insumos as empresas menores
através de redes de parceiros
maiores.
■ Melhorar a capacidade das
pequenas e médias empresas,
nessas redes, de obter
financiamento em condições
comerciais.
■ Aumentar os salários, níveis de
emprego e produtividade das
empresas locais.
■ Ampliar a oferta e baixar os preços
para consumidores pobres,
introduzindo no mercado uma
maior variedade de bens.
O potencial dessas redes – que
incluiem relações verticais de cadeias
de fornecimento e agrupamentos
horizontais – é enorme. Mas até agora
seu impacto tem sido limitado, e
concentrado em uns poucos países em
desenvolvimento, como Brasil, China,
Índia e Malásia. Nos países da África
Subsaariana existem poucas transações
comerciais entre grandes
multinacionais e pequenas empresas
nacionais. Um estudo de 5
companhias estrangeiras e 36 empresas
locais, no Quênia, revelou que
nenhuma das multinacionais lá
instaladas utilizou o fornecimento
nacional.
Um bom exemplo das possibilidades
de um ecosistema privado é a
Hindustan Lever Ltda., a maior
fabricante de produtos alimentícios e
de higiene pessoal da Índia. Seu
ecosistema se compõe de 80
instalações industriais, 150 pequenas e
médias empresas fornecedoras que
empregam cerca de 40.000 pessoas,
7.250 distribuidores exclusivos, 12.000
atacadistas e pequenos varejistas,
300.000 lojistas e 150.000
empreendedores individuais que
vendem seus produtos em vilas
distantes, um número que deve
aumentar para 1 milhão segundo as
expectativas recentes.
Trabalhando com mulheres
empresárias, a Hindustan Lever está
aproveitando o ecosistema na intenção
de atingir os mais de 200 milhões de
consumidores em zonas rurais. Essas
empresas aprendem tudo sobre os
produtos, preços e lucros, de forma a
poder assessorar os clientes, nas
próprias vilas, sobre os produtos que
vendem. A Hindustan Lever tem a
capacidade de alcançar clientes que
normalmente não alcançaria, se
utilizasse os canais normais de
distribuição. Esse ecosistema de
mercado constitui um meio de
demonstrar aos pobres os benefícios da
transparência nas transações e a
necessidade do respeito aos contratos –
sejam eles explícitos ou tácitos em
relação às empresas. Esse acordo entre
empresas nacionais e sistemas de
negócios globais reduz a dependência
em relação a agiotas e exploradores
locais.
Outro exemplo é a exportação de 2
bilhões de dólares da indústria do
vestuário, em Bangladesh, baseada na
capacidade de disseminação da
inovação. Em função da limitada
exportação de têxteis e vestuários
coreanos aos Estados Unidos, a
Daewoo iniciou uma parceria com
CAPÍTULO 4 : ENGAJANDO O SETOR PRIVADO NO DESENVOLVIMENTO 31
F I G U R A 4 . 1 CONTRIBUIÇÕES DO SETOR PRIVADO AO
DESENVOLVIMENTO DO SETOR PRIVADO
Dirigidas por
atores do setor
privado
■ Empresas
■ Organizações da
sociedade civil
■ Fundações
Dirigidas por
atores do setor
público
■ Governos locais
■ Doações
governamentais
■ Agências de
desenvolvimento
Direcionadas aos atores
do setor público
■ estabelecer padrões mais
amplos (normas
industriais,
sustentabilidade, controle
corporativo)
■ realizar articulações para
mudanças políticas
■ promover o processo
participativo através de
amplo debate com a
sociedade
■ Reforma política
■ Consultoria política
■ Financiamento e apoio
técnico às reformas no
setor público
■ Transferências financeiras
(assistenciais, empréstimos)
Direcionadas aos atores
do setor privado
■ Vínculos comerciais
e parcerias
■ Investimento, incluindo
investimento
estrangeiro direto
■ Aconselhamento
para empreendedores
■ Parcerias públicoprivadas,
por exemplo,
para a prestação de
serviços básicos
■ Órgãos consultivos
público-privados
■ Privatização ou terceirização
■ Promoção de investimentos
■ Serviços de
desenvolvimento de
negócios diretos
■ Financiamento direto
32 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
QUADRO 4.2 MOSTRANDO O QUE É POSSÍVEL NA BASE DA PIRÂMIDE
No setor financeiro
O Banco ICICI da Índia está apresentando formas inovadoras de
disponibilizar serviços financeiros aos carentes. Foram
desenvolvidos dois modelos:
■ O modelo “acesso direto ao banco” promove e mantém grupos
de auto-ajuda, para criar uma poupança em comum. Uma vez
que esse fundo alcança um certo tamanho (poucas centenas
de dólares americanos), o Banco ICICI poderá conceder
empréstimos de US$5.000 com a distribuição de US$ 250 por
pessoa. A pressão do grupo é a melhor garantia, e as taxas de
adimplemento são de 99.9%.
■ De forma indireta, o Banco ICICI estabelece parcerias com
instituições de microcrédito e obtém vantagens delas. A
instituição de microcrédito faz uso de suas aptidões para
contribuir nos aspectos de intermediação social, ao passo que
o banco realiza a intermediação financeira e arca com o risco
do crédito. Isso pode efetivamente alavancar o capital de risco
existente nos bancos, e pode ser a solução possível para as
restrições de capital nas instituições de microcrédito. Esse
modelo reduz o custo de intermediação sem afetar a qualidade
da carteira.
A estratégia faz sentido comercial e teve impacto importante no
desenvolvimento. Por exemplo, o número de grupos de autoajuda
aumentou para mais de 10 mil, permitindo ao Banco ICICI
ampliar substancialmente sua participação no mercado nas áreas
rurais.Moradores dos vilarejos tem tido muitas oportunidades de
financiamento.De maneira interessante, um estudo
independente mostrou uma forte onda de autoconfiança nos
membros dos grupos de auto-ajuda.
No setor de varejo
As Casas Bahia, a maior rede varejista do Brasil, tem o foco quase
que inteiramente em consumidores de baixa renda. Ela usa o
carnê, ou caderneta, sistema de financiamento que permite aos
consumidores de baixa renda comprarem a crédito. As Casas
Bahia usa um sistema próprio de verificação de crédito e aplica
regras baseadas no senso comum para oferecer ou não
financiamento àqueles sem histórico creditício.
As Casas Bahia tem receita de 4,2 bilhões de reais, 330 lojas, 10
milhões de clientes e 20 mil empregados. Cerca de 70% de seus
clientes não possui renda fixa ou formal, e são basicamente
faxineiros, cozinheiros, vendedores ambulantes e trabalhadores
da construção civil cuja renda mensal é o dobro do salário
mínimo. Os carentes agora têm acesso a uma linha de produtos e
benefícios muito mais ampla, e com melhores condições de
crédito, do que tinham antes.
No setorde cimento
A CEMEX, maior companhia de cimento do México e terceira do
mundo, criou dois programas básicos para abranger a população
carente do México, onde 60% das pessoas sobrevivem com
menos de US$5 por dia.
■ A Patrimonio Hoy visa atender os segmentos da população de
baixa renda e construtores autônomos. É como um sistema de
microcrédito, com pequenos grupos que emprestam recursos,
que são usados para comprar cimento e outros materiais de
construção.
■ Construmex é um método inovador de contenção da
emigração, e o dinheiro enviado ao país de origem para
construção pode ser transferido diretamente para a empresa
de cimento sem pagar intermediários financeiros.O serviço
permite aos mexicanos que moram nos Estados Unidos que
enviem seu dinheiro e seus pedidos diretamente aos
distribuidores de cimento no México, que então entregam o
cimento no local da futura casa ou empresa da pessoa.
A CEMEX sabia que uma parte significante dos 10 bilhões em
remessas de dinheiro para o México (aproximadamente 10%) é
usada para construção de casas.
A Patrimonio Hoy triplicou a taxa de cimento consumido pelos
construtores autônomos de baixa renda. A Construmex registrou
US$2.5 milhões em vendas desde que começou a operar, em
julho de 2001, a maior parte de emigrantes em Los Angeles. Com
o seu potencial de vendas para os Estados Unidos estimado em
US$160 milhões por ano, a Construmex está planejando expandirse
para outras cidades com grandes comunidades mexicanas,
incluindo Chicago e Houston. Ambos os programas oferecem à
população carente oportunidades para construir suas casas e
melhorar sua qualidade de vida.
No seto de telefonia móvel
GrameenPhone é a maior operadora de celular em Bangladesh.
Vodacom é a subsidiária sul-africana da Vodafone e a maior
operadora da África do Sul. Ambas companhias trabalham com
empreendedores locais que adquirem telefones celulares e
revendem serviços telefônicos em seus vilarejos.GrameenPhone
combina essa atividade com micro-crédito para empreendedores,
com grande foco nas mulheres.
A GrameenPhone construiu a maior rede de celulares do país,
com investimentos superiores a US$300 milhões e mais de um
milhão de assinantes. O seu programa rural já está disponível em
mais de 35 mil vilarejos, oferecendo acesso à telefonia para mais
de 50 milhões de pessoas, enquanto ajuda na formação de
microempreendedores.O segredo para o sucesso da telefonia nos
vilarejos tem sido o núcleo de empreendedores, 95% deles
mulheres, que se beneficiaram da oportunidade de gerenciar
suas próprias microempresas.
Vodacom oferece mais de 23 mil linhas de celulares em mais de
4.400 localidades por toda a África do Sul. A companhia tem
oferecido serviços de comunicação a preços acessíveis para
milhões de sul-africanos, permitindo a milhões de pessoas
anteriormente desprovidas a oportunidade de geração de renda
e capacidade comercial duradoura. Esses negócios geram as mais
altas receitas da Vodacom.
Fonte: Prahalad
empresas locais de Bangladesh para
produzir vestuário para exportação, e
treinou a mão-de-obra local com as
mais recentes técnicas de produção.
Com o tempo, no entanto, 115 dos
130 gerentes coreanos que foram
treinados deixaram a organização e,
com o conhecimento e rede de
contatos que haviam adquirido,
abriram suas próprias empresas. A
indústria, que contribui com mais da
metade das exportações do país,
cresceu mais de 2 bilhões de dólares
em vendas anuais.
As redes conectam empreendedores a
potenciais fontes de financiamento,
aptidões humanas, parceiros,
fornecedores e informação. Através
dessas redes, os empreendedores
compartilham informação, análises de
mercado, tecnologia e suas próprias
experiências de aprendizado. Eles
também reunem grupos para discutir
temas de interesse comum e contribuir
de forma mais ampla para as
comunidades em que vivem.
As redes empresariais informais
(muitas vezes de origem étnica ou
religiosa) predominam nos países em
desenvolvimento. Na ausência de
disposição legal para observância das
obrigações contratuais, essas redes
baseadas em relacionamentos –
apoiadas na confiança, garantias
pessoais e execução informal dos
contratos – facilitam as transações e o
comércio entre países e oferecem uma
fonte de financiamento. Muito
conhecida é a grande rede de
empreendedores chineses no exterior,
com negócios predominantemente
familiares, situados entre os 50
milhões de emigrantes chineses, que
teve um papel importante na
transformação econômica da China e
apareceu como uma força nos negócios
no Sudeste Asiático. Estatísticas
oficiais chinesas revelam que
empreendedores chineses no exterior
colaboram com 70% do investimento
direto estrangeiro na China – mais de
US$50 bilhões, recentemente.
A emigração indiana tem menos a ver
com investimento direto em seu país
de origem do que em estabelecer
conexões empresariais entre
investidores estrangeiros e a
comunidade empresarial local, além de
facilitar o rápido desenvolvimento de
ecosistemas empresariais privados.
Com o desenvolvimento do mercado e
o surgimento de grandes empresas, os
vínculos informais baseados em
contatos pessoais estão sendo
substituídos por redes formais de
organizações, como as câmaras de
comércio, associações de ex-alunos e
incubadoras. Essas redes formais de
organizações têm sido fonte de apoio
mútuo no mundo desenvolvido, e o
fazem, cada vez mais, no mundo em
desenvolvimento, desempenhando um
importante papel em:
■ Agrupar e agregar recursos em um
fundo comum que sirva de base
para criar instituições e
compartilhar habilidades;
■ Estabelecer relacionamentos e
níveis de confiança que as torne
mais efetivas;
■ Definir padrões comuns;
■ Orientar ou facilitar a ação coletiva
na aquisição e reunião de
informações e no marketing
internacional.;
■ Definir e transmitir crenças
comuns e posicionamentos;
■ Oferecer mecanismos para
desenvolver um programa
econômico comum ou regional.
As associações empresariais,
especialmente organizações de
indústria e comércio, estão
representando os interesses comuns de
seus membros através da coordenação
de atividades, estabelecimento de
padrões de autoregulação,
pressionando os governos e oferecendo
serviços diretos a seus membros,
dentre os quais se contam a promoção
de contatos, formação, disseminação
de informações e acesso a mercados.
Associações empresariais têm liderado
a melhoria da competitividade de seus
membros através de:
■ Redução dos custos da informação;
■ Estabelecimento de coordenação
horizontal (distribuição de cotas,
redução da capacidade) e
coordenação vertical (para cima e
para baixo);
■ Definição de padrões e melhoria
da qualidade.
FOMENTANDO
PARCERIAS PÚBLICOPRIVADAS
PARA O
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Benefícios importantes podem ser
obtidos através do estímulo de
parcerias público-privadas mais
efetivas, particularmente no
fornecimento seletivo de serviços,
como energia e água. Projetos de
produção de energia e saneamento
básico podem utilizar a mais eficaz
estrutura de propriedade necessária,
incluindo a propriedade pública. Mas
a entrega final para o cliente rural ou
para o setor informal pode muitas
vezes ser administrada por pequenas
empresas nacionais. A produção
descentralizada de energia, através da
distribuição de energia de vários tipos,
pode também ser contratada junto ao
setor privado por acordos com a rede
do setor público. Energia solar e
pequenas centrais hidrelétricas são
exemplos.
Parcerias público-privadas são
também eficientes para implementar
objetivos de desenvolvimento
CAPÍTULO 4 : ENGAJANDO O SETOR PRIVADO NO DESENVOLVIMENTO 33
sustentável. Importante ressaltar aqui
o Global Compact das Nações Unidas
– um compromisso voluntário das
empresas de respeito ao meio
ambiente, direitos humanos e direitos
do trabalho – e os Princípios
Equatoriais da Corporação Financeira
Internacional, um acordo de
instituições financeiras internacionais
para cumprimento de padrões
rigorosos de proteção ambiental e
políticas sociais em todos os projetos
que financiam, independentemente de
alguns serem co-financiados por
instituições públicas, que observam os
mesmos padrões.
Parcerias público-privadas similares
em gerenciamento corporativo e
transparência estão influenciando o
comportamento do setor privado. A
campanha “Publique o que Você
Paga” pretende orientar cidadãos de
países em desenvolvimento ricos em
recursos a exigir de seus governos a
demonstração de como as receitas das
indústrias de petróleo, gás e
mineradoras são gerenciadas e
distribuídas.
A campanha, promovida por uma
coalizão mundial de mais de 170
organizações não-governamentais e da
sociedade civil, foi fundada pela Global
Witness, pelo Instituto Open Society, de
George Soros’s CAFOD (Agência
Católica da Inglaterra e País de Gales
para o Desenvolvimento), Oxfam,
Save the Children do Reino Unido e
Transparência Internacional do Reino
Unido.
A coalizão exige a regulação
internacional da divulgação dos
impostos líquidos, taxas, royalties e
outros pagamentos feitos pelas
empresas aos governos dos países em
desenvolvimento em todos os países
que elas operam.
Dado que empresas individuais podem
ficar em desvantagem ao revelar
informações se outras não as divulgam,
confiar na divulgação voluntária
poderia não ser uma opção viável.
Todavia, todas as empresas e a
comunidade investidora se
beneficiariam com um jogo de regras
iguais, se os organismos reguladores
passassem a exigir essa divulgação. A
importância deste enfoque também se
reflete na Iniciativa de Transparência
para as Indústrias Extrativas,
desenvolvida pelo governo do Reino
Unido e recentemente endossada pelo
Banco Mundial.
Além de estabelecer padrões para o
setor privado, um número pequeno,
porém crescente de empresas, está
elevando os padrões para que elas
próprias sirvam de modelo para avaliar
outras empresas privadas. Essas novas
tendências oferecem um importante
complemento à visão tradicional de
um setor privado regulado e de um
organismo público regulador. A
Infosys, na Índia, não só está
pavimentando o caminho nessa área,
mas também se envolvendo
diretamente com os governos para
participar de uma reforma mais ampla
e de um plano de desenvolvimento
tanto de suas próprias operações
quanto do país. Esse tipo de função
para o setor privado é fundamental no
esforço para o desenvolvimento.
APRIMORANDO A
GOVERNANÇA
CORPORATIVA
A governança corporativa constitui um
ponto fundamental na criação de
mecanismos contra a corrupção e a má
administração, limitando o acesso a
informações privilegiadas e ao
favorecimento, enquanto promove os
valores da economia de mercado numa
sociedade democrática. Estes valores
incluem demonstrações de contas,
comprometimento, transparência e o
estado de direito – assim como a
equidade, responsabilidade, o sentido
de propriedade e proteção a acionistas
minoritários.
Dentre os benefícios do compromisso
com os mecanismos da governança
corporativa, encontram-se: menor
corrupção, um setor privado mais
saudável, mercados mais justos e maior
desenvolvimento institucional,
elementos que conjuntamente
oferecem suporte ao crescimento da
economia. Além da governança
corporativa, que é, em essência, a
proteção dos direitos dos acionistas, há
o interesse crescente na
responsabilidade social das empresas.
Empresas não são pressionadas apenas
pelo governo, que define
regulamentação para a boa governança
corporativa através da imposição de
códigos de conduta nos negócios, mas
também pela opinião pública,
estimulada pela sociedade civil e
organizações do trabalho. Códigos
auto-regulatórios ou voluntários de
conduta corporativa comprovam que
as empresas estão dispostas a ser boas
“cidadãs corporativas”.
É importante que os setores público e
privado trabalhem de forma conjunta
para desenvolver um conjunto de
regras vinculantes, que determinem a
forma como as empresas devem ser
conduzidas. Associações empresariais,
como as câmaras de comércio e os
grupos setoriais, devem estimular seus
membros a desenvolver padrões de
governança corporativa para proteger
os acionistas e outros constituintes – e
padrões de responsabilidade social para
responder às partes interessadas
34 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
externas. Forças tarefa do setor privado
que promovam a governança
corporativa e associações empresariais
que desenvolvem códigos de
governança corporativa para seus
membros são pontos de partida
promissores.
AVANÇANDO AS
PRÁTICAS
EMPRESARIAIS
RESPONSÁVEIS E OS
PADRÕES DE
RESPONSABILIDADE
SOCIAL CORPORATIVA
Para alguns, a atual tendência
conhecida como a “tripla avaliação de
resultados” (triple bottom-line) – que
congrega o respeito ao meio ambiente,
a equidade social e a viabilidade
financeira – é uma boa notícia para os
negócios. Segundo este balanço
tríplice, as empresaa devem atentar
não apenas para o valor econômico
que aportam, mas também aos valores
sociais e ambientais que produzem – e
destroem. O termo aglutina os
parâmetros, ações e procedimentos que
as empresas devem observar para
minimizar qualquer dano advindo de
suas atividades e produzir resultados
econômicos, sociais e ambientais. Isso
implica em transparência por parte da
empresa quanto a seus objetivos, e leva
em consideração as demandas de todas
as partes interessadas – acionistas,
clientes, empregados, parceiros
comerciais, governos, comunidades
locais e o público em geral.
As possibilidades de alinhamento
entre interesses comerciais e sociais
ainda estão por explorar. A maioria das
empresas que sabiamente se voltaram
para o desenvolvimento sustentável
foram empurradas ou puxadas nessa
direção: empurradas pela mudança nas
expectativas sociais e pelas exigências
de seus constituintes, e puxadas em
direção dos mercados emergentes pelo
acirramento da competição nos
mercados maduros do mundo
desenvolvido.
Muitos dos esforços têm se
concentrado nos tradicionais modelos
de caridade e filantropia: construção
de escolas e clínicas de saúde ou apoio
a organizações culturais e artísticas.
Embora seja importante e talvez até
necessário, esse modelo é mais uma
vitrine do que uma contribuição real e
sustentável para a vida dos mais
carentes. Pelo fato de situarem-se fora
do modelo tradicional de negócios, os
benefícios são avaliados em termos
abstratos – tais como reputação,
redução do risco e autorização para
operar – ao invés de como resultado
financeiro, pois muitas vezes
representam resultados financeiros de
curto prazo, indetermináveis e não
contabilizáveis. E os compromissos
podem ir e vir de acordo com
variações nas condições de negócio ou
no gerenciamento.
A última década apresenta evidências
crescentes de que as empresas que
foram pioneiras em ativamente
gerenciar seus impactos no
desenvolvimento sustentável
alcançaram melhores resultados
financeiros. Empresas têm sido
pressionadas por advogados, pelos
sindicatos, pela mídia e até mesmo por
acionistas, para que levem em
consideração os efeitos negativos e
positivos de suas atividades, em grau
muito maior do que faziam antes. Elas
estão incorporando direitos humanos,
padrões trabalhistas fundamentais e
desenvolvimento sustentável a seus
compromissos corporativos. Aos
poucos, elas estão aprendendo a
implementar esses valores através de
sistemas gerenciais e padrões contáveis
mais abrangentes. E, ao longo deste
processo, elas estão divulgando
publicamente seus sucessos e fracassos,
utilizando sofisticados relatórios de
responsabilidade social corporativa.
Parcerias globais para definir padrões
em diferentes setores da indústria têm
também facilitado a liderança no setor
privado e os atributos da governança
corporativa que refletem mudanças na
conduta corporativa. Essas parcerias
incluem a “Cuidado Responsável”
(Responsible Care) na indústria
química, a “Iniciativa Sustentável para
Florestas” (Sustainable Forest
Initiative), a “Pesca Sustentável”
(Sustainable Fisherie)s, e a “Iniciativa
Mineradora Global” (Global Mining
Initiative), lançada em 1998 por nove
companhias mineradoras ao redor do
mundo.
A indústria mineradora mundial
procurou redefinir seu papel,
demonstrando o compromisso
corporativo de diálogo com
constituintes e de desenvolvimento
sustentável. A iniciativa resultou em
um projeto de pesquisa independente
sobre extração, mineração e
desenvolvimento sustentável, além de
uma conferência com múltiplos atores
sociais, em Maio de 2002. As parcerias
e esforços de pesquisa que surgiram
dessas iniciativas continuam através do
Conselho Internacional em Extração e
Metais, e o Conselho de Comércio
Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável e outras associações de
indústrias e empresas que
compartilham experiências para
promover o crescimento local, através
de padrões e pincípios de
sustentabilidade.
CAPÍTULO 4 : ENGAJANDO O SETOR PRIVADO NO DESENVOLVIMENTO 35
As parcerias refletem a evolução dos
novos padrões voluntários para
avaliação de empresas. Alguns críticos
vão denunciar essas parcerias como
mecanismos corporativos para evitar
regras obrigatórias. Outros as vêem
como evidência direta do compromisso
corporativo e da compreensão de como
é importante assumir a liderança no
desenvolvimento sustentável. Entre os
novos parâmetros estão: AA1000
(desenvolvido pelo Instituto para
Responsabilidade Ética e Social),
ISO14001 (Organização Internacional
para Padronização) e Projeto Sigma
(um modelo de gerenciamento da
sustentabilidade sendo desenvolvido
pela Instituição Britânica de Normas,
Fórum para o Futuro, e outros).
A elaboração e a melhoria dos
indicadores de desenvolvimento,
através das agências internacionais de
desenvolvimento, como o Sistema de
Sustentabilidade da Corporação
Financeira Internacional, e através de
associações como a Iniciativa do
Relatório Global, oferecem
oportunidades únicas para monitorar
as contribuições do setor privado ao
desenvolvimento sustentável. O
mesmo ocorre com as avaliações dos
esforços corporativos para contribuir
com os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio, publicados através da
Iniciativa de Governança Global, do
Fórum Econômico Mundial. Essas
ferramentas quantitativas permitirão
que as corporações possam ir além dos
relatórios qualitativos associados à
filantropia tradicional, rumo a
investimentos sociais estratégicos com
objetivos de curto, médio e longo
prazos. Ser capaz de orçar e reportar
resultados trará o benefício de
quantificar as contribuições do setor
privado para a redução da pobreza
mundial, e ainda, simultaneamente de
incentivar a adoção de abordagens
mais pró-ativas de desenvolvimento
sustentável. Modelos de indicadores
baseados em sistemas internacionais já
existentes também fornecem as
ferramentas para análise do custobenefício
dos investimentos e a
identificação de padrões eficientes.
■ ■ ■
A Comissão percebe uma grande
necessidade de acelerar a divulgação de
informações sobre modelos bem
sucedidos, criando novos modelos ou
adaptando os modelos existentes a
novos ambientes, reproduzindo-os
em diferentes localizações e
ampliando-os.
O setor privado, especialmente a
administração de grandes empresas
locais e multinacionais, necessita
efetuar um compromisso muito maior
de capturar as oportunidades
–pesquisando mercados na base da
pirâmide, avançando padrões de
sustentabilidade e de confiabilidade
pública, e ainda, sendo criativo sobre
como interagir com empresas locais ou
externas para auferir benefícios
mútuos. Os governos dos países, tanto
desenvolvidos como em
desenvolvimento, podem facilitar este
processo, e as instituições
internacionais de desenvolvimento
podem ajudá-los.
36 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
Foto: Chao Doan/PNUD
Comissão acredita que a responsabilidade
primordial de proporcionar crescimento e
desenvolvimento equânime é dos países em
desenvolvimento. Essa responsabilidade inclui a
criação de condições que tornem possível assegurar os recursos financeiros
necessários para investir. As ações dos responsáveis pela formulação de políticas
condicionam, em grande parte, o estado da governabilidade, as políticas
macroeconômicas e microeconômicas, as finanças públicas, o sistema financeiro e
outros elementos básicos do ambiente econômico de um país. O desafio dos países
em desenvolvimento está em capitalizar os avanços na estabilidade
macroeconômica e na democracia, e assim iniciar reformas que proporcionem
mudanças complementares nos marcos institucionais que, por sua vez,
potencializam e fomentam o setor privado.
A maioria das ações recomendadas envolve o trabalho conjunto de vários atores.
Quando os governos efetuam mudanças nas suas políticas, normalmente o fazem
com o apoio e a participação diretos de instituições multilaterais de
desenvolvimento. Se o setor privado assume uma posição mais ativa no
desenvolvimento sustentável, isto ocorre porque a sociedade civil chama sua
atenção para o tema. Quando os governos implementam reformas nos marcos
regulatórios, geralmente o fazem através de consultas diretas a representantes do
CAPÍTULO 5
AÇÕES RECOMENDADAS
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 37
A
setor privado. As ações individuais aqui
identificadas devem ser vistas na
estrutura dessa cooperação mais ampla
– cada vez mais necessária para reduzir
a pobreza.
O nosso interesse repousa em três
áreas:
1. Na esfera pública, promover as
reformas de leis, regulamentos e
outras barreiras ao crescimento.
2. Na esfera público-privada,
facilitar a cooperação e as parcerias
entre atores públicos e privados,
para ampliar o acesso a fatores
determinantes tais como
financiamento, capacitação e
serviços básicos.
3. Na esfera privada, estimular o
desenvolvimento de modelos de
negócios passíveis de serem
ampliados e reproduzidos, que
sejam comercialmente sustentáveis.
A gama de ações nessas três áreas
centrais – necessária para colocar em
prática um programa bem-sucedido de
desenvolvimento do setor privado –
deriva de um modelo analítico
concebido para desencadear a
capacidade dos empresários nacionais,
segundo descrito nos Capítulos 2 e 3.
Estas iniciativas reforçam e
potencializam as contribuições do setor
privado para o desenvolvimento,
conforme explicado no Capítulo 4.
AÇÕES NA ESFERA
PÚBLICA: CRIANDO UM
AMBIENTE FAVORÁVEL
Criar um ambiente propício ao
desenvolvimento do setor privado
envolve passos formulados para reduzir
a fatia do setor informal na economia,
através da reforma do ambiente geral
propício à economia formal. Essas
medidas devem resultar na redução de
custos e na ampliação das vantagens da
formalidade.
Recomendações para os
governos dos países em
desenvolvimento
A Comissão acredita que os governos
dos países em desenvolvimento devem
assumir a responsabilidade pelas
seguintes ações:
Reformar o marco regulatório e
fortalecer o estado de direito.
Governos dos países em
desenvolvimento precisam assumir um
compromisso sério, que não deixa
margem a dúvidas, com o
desenvolvimento do setor privado – e
conciliar este compromisso com o
interesse legítimo de reformar o
panorama regulatório de forma a
remover os entraves artificiais,
induzidos por políticas que restringem
o crescimento econômico. Todo o
processo começa com a postura das
lideranças nacionais. Por exemplo, não
há justificativa para que o custo de se
abrir uma empresa em países de baixa
renda seja muitas vezes maior que o
mesmo procedimento em países
membros da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Nós
enfatizamos a adoção de uma visão
pragmática, focada no usuário final,
que se concentre em melhorias efetivas
no relacionamento dos
empreendedores com as instituições
públicas e as regulações. Assim, na
medida em que os governos
desenvolvem e fazem cumprir regras
formais mais efetivas, passarão a
entender a importância dos
ecosistemas privados em criar maior
participação na economia, além de
38 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
F I G U R A 5 . 1 AÇÕES NAS TRÊS ÁREAS-CHAVE
Dirigidas por
atores do setor
privado:
■ Empresas
■ Organizações da
sociedade civil
■ Fundações
Dirigidas por
atores do setor
público:
■ Governos locais
■ Doações
governamentais
■ Agências de
desenvolvimento
Direcionadas aos atores do setor público Direcionadas aos atores do setor privado
3. Esfera privada:
Mobilizar conhecimentos e recursos
■ Enfoque nas potencialidades do setor privado e
apoio a empreendedores e empresas.
■ Construir ecosistemas e redes de suporte.
■ Investir nas empresas da base da pirâmide.
2. Esfera público-privada: Parceria e inovação
■ Criar maiores opções de financiamento para empreendedores.
■ Desenvolver lideranças e habilidades empresariais com treinamento.
■ Apoiar parcerias público-privadas para fornecimento de serviços básicos.
1. Esfera pública: Criar um ambiente favorável
■ Reformar marcos regulatórios e fortalecer o
estado de direito.
■ Formalizar a economia.
■ Engajar o setor privado no processo de criação
de políticas.
demonstrar o valor da capacidade de
regular transações.
Formalizar a economia. Governos de
países em desenvolvimento precisam
concentrar seus esforços na criação de
condições para a redução da
informalidade e assim, com o tempo,
alterar a configuração do ecosistema do
setor privado. O foco deve ser em
resultados mensuráveis. Dado que a
composição do ecosistema do setor
privado em um país é um forte
indicador do seu processo de
desenvolvimento – níveis elevados de
informalidade estão associados a rendas
baixas - o objetivo concreto deve ser
alterar essa composição de forma
específica e mensurável. Metas
indicativas de ampliação da parcela de
empresas menores e formais na
economia, realizáveis num prazo de 5 a
10 anos, precisam ser estabelecidas.
Um claro reconhecimento do setor
informal deve ser acompanhado de
passos rápidos para analisar suas
características locais e para aplicar
medidas que ampliem seu acesso a
financiamentos, bem como de medidas
de suporte ao setor formal. Precisamos
começar pela conscientização e pela
disseminação de informações sobre o
predomínio da informalidade – e pelo
diagnóstico do problema no contexto
nacional. As soluções incluem reformas
em regras estatais específicas e na sua
aplicação.
Uma questão que demanda ações
urgentes é a melhoria das regras e
procedimentos de registro de
propriedade e de titularidade de
imóveis, pré-requisitos essenciais para
o acesso a financiamentos lastreados
nesses ativos. Aqui estão incluídos
procedimentos práticos e amigáveis
para que empreendedores possam
obter, e fazer valer, os direitos de
propriedade. Como em qualquer
processo de mudança no setor público,
órgãos consultivos devem orientar os
esforços de mudanças de uma maneira
transparente, envolvendo
empreendedores informais,
cooperativas e organizações da
sociedade civil.
Engajar o setor privado no processo
de criação de políticas. Os governos
precisam criar uma parceria efetiva
com os representantes do setor privado
nacional, para implementar mudanças
e garantir que os anseios do setor
privado incluam os anseios das micro,
pequenas e média empresas. Conselhos
e órgãos consultivos com membros do
governo e setor privado estão sendo
criados, porém mecanismos para
reduzir a distância entre a intenção de
colaborar e o apoio efetivo só podem
ser assegurados pelos governos e seus
parceiros do setor privado. Quando
novos arranjos são colocados em
prática, a divulgação de exemplos de
cooperação bem sucedida pode fazer as
relações evoluirem da desconfiança
mútua para a formação de parcerias
estratégicas. Órgãos consultivos
público-privados, onde funcionários
públicos e representantes do setor
privado compartilham opiniões, são
outro fator importante. Mas todas os
tipos de atores do setor privado devem
ser envolvidos, incluindo
empreendedores pequenos e informais,
além de organizações do trabalho.
Induzir um ambiente
macroeconômico internacional e um
regime de comércio favoráveis. A
Comissão acredita que os governos de
países desenvolvidos devem estimular
um ambiente macroeconômico
internacional e um ambiente político
favoráveis ao florescimento de todo o
potencial dos empreendedores nos
países em desenvolvimento, dado que
uma economia internacional forte
proporciona mercados para os bens das
empresas de países em
desenvolvimento. O aumento do fluxo
da cooperação para o desenvolvimento
e a reforma do sistema global de
comércio, contribuem para oferecer
oportunidades econômicas justas aos
produtores de países em
desenvolvimento, e são essenciais para
promover um rápido crescimento no
investimento privado doméstico.
Redirecionar as estratégias
operacionais das instituições e
agências multilaterais e bilaterais de
desenvolvimento. Os países
desenvolvidos são os principais
acionistas dos bancos de
desenvolvimento multilaterais e
controlam a maioria dos ministérios e
organismos bilaterais de cooperação,
ativos na arena do desenvolvimento.
Para apoiar o desenvolvimento
sustentável do setor privado, é
necessário assegurar que as ações
coletivas dessas agências sejam mais
bem coordenadas – aperfeiçoando sua
eficiência e reduzindo pressões sobre a
capacidade administrativa dos governos
de países em desenvolvimento.
Também é necessário que o foco da
cooperação para o desenvolvimento do
setor privado nos países em
desenvolvimento seja a criação de
condições para a redução da
informalidade e para a mudança na
composição de seu ecosistema.
Desatar a cooperação. Os países
desenvolvidos são a principal fonte dos
recursos de assistência técnica
utilizados, pelas instituições
multilaterais de desenvolvimento, no
suporte às reformas políticas e
institucionais nos países em
desenvolvimento. Apesar da introdução
de certa flexibilidade nos últimos anos,
os principais elementos desses fundos
são fixos, o que pode criar
complicações desnecessárias em relação
à eficácia com que podem canalizar e
afetar a qualidade do suporte prestado.
Além disso, a maior parte dos recursos
é oferecida aos governos, e não
diretamente aos seus receptores finais.
Certas mudanças nas regras
administrativas que regem estes fundos
poderiam permitir a liberação e o uso
mais eficazes da assistência técnica, e
assim estimular o desenvolvimento do
setor privado.
CAPÍTULO 5 : AÇÕES RECOMENDADAS 39
Ações recomendadas para as
instituições multilaterais de
desenvolvimento
O Consenso de Monterrei reconheceu
explicitamente o papel da iniciativa
privada no desenvolvimento,
assinalando a necessidade de se
aperfeiçoar o funcionamento e a
eficiência das agências globais e
bilaterais de desenvolvimento.
Reconheceu-se ainda a limitada
capacidade de absorção de muitos
países em desenvolvimento, bem como
o fato de que sua capacidade
administrativa fica sobrecarregada ao
lidar com a sobreposição de atividades
das instituições de desenvolvimento.
Desta maneira, o Documento de
Consenso incentivou um alto grau de
especialização e de parceria na
comunidade do desenvolvimento, de
forma a melhorar o impacto geral das
várias formas de cooperação para o
desenvolvimento.
Aplicar a recomendação de
Monterrei para a especialização e
estabelecimento de parcerias às
atividades de desenvolvimento do
setor privado. Muitas instituições
estão engajadas em esforços de apoio
ao desenvolvimento de mercados
financeiros, de prestação de serviços de
desenvolvimento empresarial às
pequenas empresas, de aconselhamento
sobre a criação de um ambiente
favorável, de aprimoramento da
governança corporativa e de
intensificação do foco na
sustentabilidade. Embora a escolha de
um “fornecedor” aos países recebedores
dessa ajuda seja importante, fica
evidente que essa sobreposição de
atividades é contraproducente e precisa
ser abordada com urgência.
Abordar a informalidade nos países
em desenvolvimento. Alguns
trabalhos pioneiros se encontram em
andamento para mapear a estrutura do
setor informal, e o esforço global para
expandir o alcance desse trabalho deve
obter benefícios significativos. Uma
parceria para acelerar esse mapeamento
na América Latina acaba de ser feita,
entre o Banco Interamericano de
Desenvolvimento e o Instituto para a
Liderança e a Democracia do Peru. Há
também grande espaço para facilitar a
criação de vínculos entre corporações
multinacionais e pequenas e médias
empresas, tendo em vista a importância
dos ecosistemas do setor privado e os
benefícios potencialmente advindos das
parcerias entre entes privados.
AÇÕES NA ESFERA
PÚBLICO-PRIVADA:
PARCERIAS E INOVAÇÃO
A Comissão acredita que todos os
atores precisam cooperar no fomento
ao financiamento, à capacitação e à
criação de parcerias público-privadas
para a prestação de serviços essenciais.
Em cada uma dessas áreas críticas,
governos de países em
desenvolvimento e atores privados
necessitam desenvolver modelos viáveis
de parcerias que possam alavancar suas
respectivas capacidades. Várias
organizações da sociedade civil podem
aportar percepções e experiências
valiosas a tais parcerias. A construção
de parcerias sustentáveis requer
habilidade para avaliar interesses
conflitantes e para a negociação de
acordos pragmáticos.
Organismos multilaterais de
desenvolvimento podem agir como
prestadores de serviços e moderadores
imparciais. Para se tornarem
intermediários eficazes, devem
construir a capacidade de criar
parcerias que façam sentido econômico
para os atores privados, ao mesmo
tempo que são administráveis por parte
dos órgãos públicos dos países em
desenvolvimento. Diferentes atores
podem iniciar e liderar parcerias em
momentos distintos. O mais
importante é que todos tenham
expectativas realistas sobre os interesses
e capacidades de cada parceiro. A
Comissão percebe a necessidade de
inovar no estabelecimento de modelos
de parceria verdadeiramente
sustentáveis para os países em
desenvolvimento.
Facilitar o acesso a maiores opções de
financiamento. Nós vislumbramos o
desenvolvimento continuado dos
mercados financeiros domésticos,
juntamente com a criação de
capacidade para reguladores e
instituições financeiras privadas. Vemos
como muito promissoras ações que
facilitam a transferência de
conhecimento Sul-Sul entre
instituições financeiras e agências
reguladoras. Alianças amplas para
fomento ao microcrédito, como parte
das recomendações do Ano
Internacional do Microcrédito 2005 da
ONU, e aos empréstimos para
pequenas e médias empresas, podem
gerar modelos financeiramente
sustentáveis. Métodos inovadores
também são necessários para
transformar fluxos financeiros de várias
emigrações em investimentos
produtivos de longo prazo em seus
países de origem.
Colaborar no desenvolvimento de
capacidades e conhecimento. As
atividades de construção de
capacidades podem abranger desde
programas para lideranças públicas e
privadas, passandoo pelo treinamento
de microempreendedores, até esforços
conjuntos entre autoridades públicas e
sindicatos para aprimorar a capacidade
da força de trabalho. A Comissão
vislumbra alianças mais amplas com
escolas de negócios e de comércio,
colaboração público-privada em
formação profissional e a criação de
programas de mentoria para
empreendedores – alavancando colegas,
residentes e emigrantes. Enxergamos
uma grande oportunidade para infraestruturas
organizacionais que
estabelecem redes de contato entre
recursos privados de todo o mundo e
aspirantes a empreendedores nos países
em desenvolvimento, que podem
40 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
incluir programas formais de empresas
multinacionais visando tornar
disponíveis seus recursos humanos e
know-how para empreendedores de
países em desenvolvimento.
Permitir o fornecimento sustentável
de serviços básicos, principalmente
energia e água. A Comissão considera
necessário o desenvolvimento de
modelos inovadores para parcerias
entre prestadores de serviços
governamentais, empresas
multinacionais e empresas locais. O
fornecimento sustentável de serviços
básicos depende de parcerias efetivas,
além de outras formas de cooperação
público-privada, difíceis de articular,
pois ainda estão por desenvolver as
habilidades necessárias para a
implementação de parcerias
duradouras, nas quais os incentivos de
todos os atores estejam equilibrados e a
governança adequada esteja presente.
Consideramos necessário gerar
capacitação adicional que visa ajudar a
lidar com disfunções do mercado e
assimetria de informações, oferecer
apoio operacional e experiência prática,
preencher lacunas de conhecimento e
atuar como intermediário imparcial
entre interesses conflitantes. A efetiva
intermediação, superando obstáculos
que poderiam impedir ações, pode
tornar viáveis mais transações.
Planejamos acompanhar entidades
públicas e privadas atuando nestes
temas, para averiguar de que maneira
seria possível suplementar a capacidade
institucional existente – e como as
pessoas carentes podem ser
diretamente capacitadas a desenvolver
seus negócios.
AÇÕES NA ESFERA
PRIVADA: MOBILIZAR
CAPACIDADES E
RECURSOS
A Comissão acredita que o setor
privado, particularmente grandes
empresas nacionais e corporações
multinacionais, deve contribuir para
acelerar o desenvolvimento econômico
e a redução da pobreza.
Ações recomendadas para o
setor privado
Ações requeridas ao setor privado,
conforme dispostas no Capítulo 4:
Canalizar a iniciativa privada para os
esforços de desenvolvimento.
Acreditamos que o setor privado possui
enorme potencial para contribuir com
o desenvolvimento por meio do seu
conhecimento, competência técnica,
recursos e relações. Para desencadear
esse potencial, será necessário o
aumento da visibilidade do grande
número de contribuições do setor
privado (ilustradas no Capítulo 4) que
permanecem desiguais e invisíveis –
além de estabelecer uma infra-estrutura
capaz de canalizar efetivamente essas
contribuições. Isso pode ser alcançado
através de uma nova organização
privada central que aproximaria knowhow,
serviços e recursos da necessidade
de sua utilização nos países em
desenvolvimento, principalmente
através do setor privado, mas também
através de agências governamentais.
Desenvolver vínculos entre empresas
multinacionais e grandes empresas
domésticas visando fortalecer
pequenas empresas. Os laços entre os
diferentes tipos de empresas nos países
em desenvolvimento oferecem um
canal efetivo de acesso a mercados,
financiamento, experiências e knowhow
para as empresas locais. É
necessário e urgente que empresas
multinacionais se integrem melhor a
pequenas e médias empresas e
reforcem elos com o ambiente
doméstico, assim como aqueles
existentes entre microempresas
distribuidoras e grandes empresas
domésticas. Muitos atores necessitam
trabalhar em conjunto para que isso
ocorra. A gama de atividades para
tornar duráveis os laços criados inclui
informação, know-how e apoio com
experiência prática.
Buscar oportunidades de negócios
em mercados localizados na base da
pirâmide. O reconhecimento das
necessidades dos mercados localizados
na base da pirâmide e a criação de
soluções inovadoras para preencher
essas necessidades são ações vitais
solicitadas pelo setor privado, tanto
doméstico quanto internacional. Os
esforços devem ser feitos
principalmente pela alcançar a
expansão dos mercados e de novas
oportunidades de negócios. A interação
nos ecosistemas nacionais
provavelmente resultará em mudanças
paralelas no comportamento
econômico de todos os participantes da
cadeia, de operadores informais a
pequenas e médias empresas e suas
financiadoras. Isso é importante para
dar poderes às pessoas carentes e
poderia também ter grande valia na
criação de um mecanismo de avaliação
para grandes empresas e multinacionais
avaliarem seu sucesso na criação de
mercados lucrativos para consumidores
pobres.
Estabelecer padrões. O setor privado
precisa estabelecer um compromisso
real com o desenvolvimento sustentável
– com o foco nítido na governança
corporativa e na transparência. Temos
destacado empresas de sucesso que
modificaram o debate em torno do
desenvolvimento dentro de suas
economias, criado um consenso
político que libera o caminho para que
os governos possam facilitar a expansão
e o crescimento de um vigoroso setor
privado. Tal mudança ocorrerá quando
os administradores pioneiros
perceberem o valor da liderança, forem
responsáveis em relação às necessidades
de desenvolvimento social e
estabelecerem novos padrões que
demonstrem o valor da
sustentabilidade. Hoje, muitas grandes
empresas nos países em
desenvolvimento são também
multinacionais no sentido em que suas
atividades de comércio não mais se
limitam ao seu país de origem.Todavia,
CAPÍTULO 5 : AÇÕES RECOMENDADAS 41
desempenham um papel diferente
dentro de suas economias locais – e são
vistas de maneira diferente de
multinacionais, no sentido tradicional
do termo. As próprias empresas desse
nível, onde existam, necessitam
compreender a maior amplitude de sua
estrutura de operações e trabalhar
ativamente para criar o novo consenso
que propomos. Muitas das iniciativas
voltadas à sustentabilidade discutidas
no presente relatório tendem a
envolver grandes multinacionais. Mas
iniciativas similares ou desdobramentos
de iniciativas globais envolvendo o
setor privado local podem ser bastante
eficazes na redefinição dos papéis dos
diferentes atores no processo de
desenvolvimento.
Ações recomendadas para a
sociedade civil e organizações do
trabalho
A Comissão acredita que a sociedade
civil e as organizações do trabalho
devem continuar atuando como
observadores críticos da agenda de
desenvolvimento – e como promotores
e apoiadores de abordagens inovadoras
para atingir os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio e
melhorar as condições de vida das
pessoas carentes. As organizações da
sociedade civil desempenham um
importante papel na formação de uma
poderosa aliança global que amplie
gradualmente a força de cada um dos
principais atores para atingir esses
Objetivos.
Aumentar a responsabilidade no
sistema. Esse é um ponto central do
trabalho das organizações da sociedade
civil, uma vez que cabe a elas a
liderança para impulsionar o conceito
de desenvolvimento sustentável. Esse
trabalho deve ser fortalecido.
Desenvolver novas parcerias e
relações para atingir objetivos
comuns.Numerosas organizações da
sociedade civil estão atuando em
parcerias diretas com o setor privado
para combinar os conhecimentos de
gerência e a capacidade financeira de
empresas privadas com seu know-how
e contatos em mercados localizados na
base da pirâmide, o que pode facilitar
uma colaboração do setor privado com
a sociedade civil, capaz de desenvolver
programas de microcrédito em bases
comercias e sustentáveis. As
organizações da sociedade civil estão
mais próximas da base da pirâmide.
Muitas vezes, elas também
representam uma opção de base de
testes para novas tecnologias de solução
de problemas. Essas organizações
necessitarão também medir seu êxito
em facilitar parcerias inovadoras entre
entes privados para lidar com objetivos
econômicos e de política social.
OLHANDO PARA O
FUTURO
Reconhecendo o tamanho e a
complexidade do desafio, a Comissão
conclui pela necessidade da canalização
da capacidade e de recursos privados
para fomentar o próprio setor privado
nos países em desenvolvimento.
Acreditamos que as energias e as
oportunidades continuam sendo pouco
aproveitadas, porque as necessidades
dos países em desenvolvimento não
encontraram correspondência
apropriada nos recursos e interesses
disponibilizados globalmente. Dessa
maneira, nossa proposta de programa
de ação foi desenhada para funcionar
como catalisadora de uma resposta
privada forte, que é o principal objetivo
do nosso trabalho.
Para promover o progresso, a Comissão
recomenda que as Nações Unidas
fomentem o acompanhamento do
desenvolvimento do setor privado. Um
relatório anual de progresso manteria a
relevância das recomendações gerais da
Comissão e asseguraria o compromisso
com o tratamento das várias questões
aqui apontadas. Esse relatório
ofereceria uma oportunidade para
comemorar progressos e expor
obstáculos para o desenvolvimento do
setor privado e deveria ser preparado
com a ajuda de alguns membros da
Comissão e instituições de
desenvolvimento.
À medida que os principais atores
comecem a trabalhar em conjunto na
direção de objetivos comuns, será
exigida uma mudança significativa na
estrutura das interações econômicas e
políticas de muitos países em
desenvolvimento. Os atuais
relacionamentos rompidos e
conflitantes terão de ser gradualmente
substituídos por parcerias
colaborativas, em que as ações de cada
ator são influenciadas e modificadas
por maiores desafios e pela capacidade
de outros.
Visando catalisar esse processo, a
Comissão está reunindo uma primeira
lista de iniciativas exeqüíveis para
facilitar transformações em cada um
dos países e fornecer as ferramentas
que permitam aos governos e ao setor
privado suplementar os recursos
disponíveis e começar rapidamente a
implementar um programa de
mudanças. Essas primeiras ações se
destinam a estimular reações
colaborativas de potenciais parceiros
que leiam o presente relatório. Nossa
mensagem a todos vocês é: juntem-se
a nós.
Nos próximos meses lançaremos
iniciativas e consultaremos os leitores
deste relatório visando atrai-los para a
tarefa. Convidamos os vários atores
envolvidos e identificados no presente
relatório a atentarem ao nosso
chamado e trabalharem prontamente
para transformar idéias iniciais em
planos comerciais definidos, que
podem ser lançados dentro dos
próximos seis meses. Somente se
formos capazes de criar um
sentimento de acompanhamento
contínuo de nosso trabalho inicial,
poderemos ter a esperança de liberar a
energia empreendedora das pessoas
pobres e aproveitá-la como alavanca
para o crescimento do setor privado.
42 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
omo indicado na Bibliografia a seguir e nas
detalhadas referências citadas abaixo, o presente
relatório baseia-se em uma ampla série de
documentos e numerosas fontes externas.
Muitas pessoas despenderam bastante tempo e energia contando suas experiências
e visões à Comissão. Essas pessoas estão identificadas na seção dos
Agradecimentos.
Recursos institucionais do Grupo Banco Mundial, incluindo a Corporação
Financeira Internacional e a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos,
foram importantes fontes de informação, conforme especificado no capítulo de
referências abaixo. A obra do Banco Doing Business in 2004: Understanding
Regulation merece menção especial como base de quantidade substancial das
análises e conclusões dos Capítulos 2 e 3. As recomendações do Capítulo 3 são
uma síntese de intervenções políticas sugeridas em várias fontes e, em particular,
resultado do trabalho de desenvolvimento do setor privado da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
NOTA BIBLIOGRÁFICA
C
DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES 43
Foto: Munira Morshed Munni/PNUD Bangladesh
A Secretaria da Comissão também
usufruiu de debates e entrevistas com
Michael Barth, Richard Frank e Percy
Mistry, cuja influência é sentida neste
documento. Da mesma forma, K.V.
Kamath, Lalita Gupte e Madhav
Kalyan do Banco ICICI, e Nandan
Nilekani e Sanjay Purohit do Infosys,
ofereceram uma ampla visão sobre
abordagens de administração das
principais empresas de países
desenvolvidos. Suas percepções
tiveram relevância especial para os
temas de desenvolvimento tratados.
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48 DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO: O PODER DAS EMPRESAS A SERVIÇO DOS POBRES
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