sexta-feira, 27 de abril de 2012

FERRONORTE VERSUS FALÊNCIA DE OLACYR MORAES

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Cansado, abatido e com os credores batendo à sua porta, Olacyr vendeu há poucos dias a fazenda Itamarati, em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As mesmas terras que lhe renderam o título de rei da soja serão usadas para assentar três mil famílias ligadas ao MST. Olacyr, o mais jovem brasileiro a alcançar um patrimônio pessoal de US$ 1 bilhão – e que já não lhe pertence mais – ficará com uma pequena parte do dinheiro da fazenda. Cobrado dia e noite, ele ainda tenta pagar uma última dívida de US$ 60 milhões – semanas atrás, foi registrada em São Paulo uma associação de credores de Olacyr de Moraes. “Jamais imaginei que, no fim da vida, sofreria tal humilhação”, disse Olacyr à DINHEIRO. “Já vendi tudo o que tinha, perdi US$ 1 bilhão e estou fazendo um apelo aos credores: peço que me perdoem, que me desculpem”. Quando toca no assunto da dívida, Olacyr mira o infinito, seus olhos ficam avermelhados e suas palavras travam na garganta. O empresário que foi dono de um dos cinco maiores grupos do País e já empregou mais de 25 mil pessoas sabe que está se retirando de cena. “É o fim, não tenho sucessor.” Nos últimos oito anos, desde que o império entrou em crise, o verbo que Olacyr mais conjugou foi vender. Primeiro, ele se desfez do Banco Itamarati, adquirido pelo BCN. “Eu tinha US$ 400 milhões em caixa e lucrava US$ 10 milhões por mês.” Depois, foram-se as fazendas, os dois jatos Citation e uma série de propriedades no campo e na cidade. Sua construtora, a Constran, ainda está ativa, mas o volume de contratos é muito pequeno. Ficaram algumas obras no Rio Tietê, em São Paulo, e na BR-101, no Rio Grande do Sul. “Estou negociando a venda para os executivos”, revelou Olacyr. Divorciado e morando só em seu apartamento no bairro do Itaim, em São Paulo, Olacyr tenta também superar uma crise familiar. Seu filho Marcos de Moraes, que seria o sucessor natural, afastou-se do pai desde que fez o maior negócio da internet brasileira: a venda do portal Zip.net para a Portugal Telecom por US$ 365 milhões em 2000. Os dois ficaram mais de três anos sem se falar. “Eram tantas as divergências que nosso relacionamento esfriou”, disse Olacyr. “Ele achava que eu me metia em negócios muito arriscados – e estava certo.” Nas últimas semanas, os dois começaram a ensaiar uma aproximação. No entanto, Marcos, com negócios nas áreas de moda e de cachaça, não tem interesse na construção ou na agricultura. Daí o conformismo de Olacyr com a venda de seus ativos. “Meu consolo é saber que vou deixar algo de bom para o Brasil”, resigna-se Olacyr. “E sinto que, por isso, as pessoas ainda gostam de mim.” Quando Olacyr fala de seu legado como empresário, o que lhe vem à mente não são os túneis e pontes levantados pela Constran, mas sim a abertura de uma nova fronteira para o agribusiness brasileiro. Olacyr começou a plantar soja no Centro-Oeste em 1973, depois de uma inundação que devastou as lavouras no Mississipi,nos Estados Unidos. Na fazenda Itamarati, hoje em poder do MST, ele fez mais de 10 mil pesquisas e cruzamentos genéticos até chegar ao algodão ITA-90. Graças a essa semente, o Brasil deixou de ser importador para se tornar exportador do produto. “Olacyr foi o precursor de tudo de bom que existe no Cerrado brasileiro”, avalia Homero Alves Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Mato Grosso. Por uma ironia do destino, o lance que transformou a soja brasileira na mais competitiva do mundo acabou determinando o naufrágio de Olacyr. Foi a construção da Ferronorte. Nela, o empresário investiu US$ 200 milhões, mas os trens ficaram sete anos parados porque o governo de São Paulo demorou a erguer uma ponte sobre o Rio Paraná – ela ligaria a Ferronorte aos trilhos do Sudeste e ao porto de Santos. “Olacyr foi um visionário destruído por um Estado desonesto”, avalia o deputado Delfim Netto. Hoje, a Ferronorte transporta 7 milhões de toneladas de soja. “Com o seu pioneirismo, ele abriu caminho para o sucesso da agricultura, mas acabou pagando um preço alto demais”, aponta o executivo Nelson Bastos, que presidiu a Ferronorte. Enquanto Olacyr se retira do palco empresarial, o governo apressa a integração das três mil famílias de sem-terra aos 24,5 mil hectares da fazenda Itamarati. Tem tudo para ser o mais moderno assentamento do Brasil, que funcionará nos moldes de uma cooperativa. Na propriedade, com acesso por estrada asfaltada, há três mil hectares irrigados por 27 pivôs centrais, uma subestação de energia elétrica e 56 edificações para o armazenamento de até dois milhões de sacas de cereais. “Cada família terá um lote individual e irá se beneficiar de uma área de produção coletiva”, disse à DINHEIRO Rolf Hackbart, superintendente do Incra. “Em poucos anos, estará tudo deteriorado”, aposta Delfim Netto. Alheio ao debate, Olacyr prepara sua aposentadoria e ainda ocupa seu tempo na companhia de belas mulheres. “Não vou esperar a morte como um ancião”, diz ele, cansado de tanto patrulhamento. “E elas nem são namoradas, são minhas sobrinhas e algumas amigas”. Na sexta-feira 20, Olacyr jantava com uma delas no sofisticado La Tambouille, em São Paulo. E sorria. Colaborou Tina Evaristo "MEU SONHO É NÃO DEVER MAIS NADA A NINGUÉM" Biô Barreira Dias depois de vender a fazenda Itamarati, Olacyr de Moraes falou à DINHEIRO. DINHEIRO – O que o sr. pretende fazer com os R$ 165 milhões da fazenda? OLACYR DE MORAES – A maior parte foi paga em Títulos da Dívida Agrária, que têm um enorme deságio. Além disso, ficou quase tudo retido no Banco do Brasil para pagamen- tos de dívidas. DINHEIRO – Mas R$ 56 milhões foram pagos em cash. Sobrou alguma coisa, mas eu tenho mais dívidas junto a bancos. Meu grande sonho é pagar todas elas. Estou fazendo um esforço gigantesco para acertar uma operação de euronotes. É a coisa que mais me incomoda e que me dá uma tristeza incrível, porque sempre cumpri minhas obrigações. No passado, devia mais de US$ 1 bilhão. Perdi tudo e ainda falta alguma coisa. O que é essa operação de euronotes? Eu tomei US$ 50 milhões emprestados, paguei uns US$ 25 milhões de juros e hoje me cobram US$ 60 milhões. A garantia da operação são os 16% que eu tenho na Ferronorte. Vou ceder aos credores as ações da ferrovia que era o sonho da minha vida (Olacyr emociona-se). Aos 74 anos, quero terminar a vida sem dever nada. Seus credores criaram uma associação para pressioná-lo. Isso me mortificou demais. Nunca imaginei que seria humilhado. Quero que eles saibam que eu vou acertar tudo. Fiz o que foi possível. O erro foi deixar de ser banqueiro para investir em infra-estrutura? Fiz a Ferronorte, que hoje transporta 8 milhões de toneladas de soja e é vital para o agronegócio brasileiro. Investi US$ 200 milhões e a ferrovia só seria viável se o governo de São Paulo tivesse honrado o compromisso de fazer a sua parte. Era uma ponte sobre o Rio Paraná. O problema é que, em vez de fazer em dois anos, conforme prometido, fizeram em sete. E aí eu fiquei com o custo financeiro nas costas. O sr. pensa em ser indenizado pelo Estado? Estou estudando. Mas para quê? Sem sucessor, isso não tem sentido para mim. Seus filhos não vão sucedê-lo? Minha filha não tem interesse, assim como meu filho. E minha relação com ele esfriou. O Marcos tinha muitas divergências comigo. Ele achava que eu entrava em coisas muito arriscadas. Ele não estava certo? Todo pioneirismo é arriscado. Abre as portas para quem vem depois. Paguei o preço, mas vou legar ao País muita coisa importante na agricultura, no trans- porte e na pesquisa. O sr. vai abrir mão do direito de buscar uma indenização pelos atrasos do Estado? Se eu pensasse só em dinheiro, não teria vendido o banco. Ele me dava um lucro de US$ 10 milhões por mês. Eu seria muito bem tratado pela sociedade, estaria bem de vida, não teria nenhum credor batendo à minha porta, mas acho que eu fui mais útil para o Brasil ajudando na agricultura do que sendo mais um banqueiro. O que o sr. pretende fazer depois de acertar as dívidas? Nunca mais quero fazer nada de risco. Meus últimos dez anos têm sido uma odisséia terrível para acertar tudo. Quero uma aposentadoria. E como estão os negócios da Constran? Os investimentos em infra-estrutura no Brasil pararam. O que nós temos de bom na Constran é o acervo tecnológico. Mas perdemos o bonde das privati- zações e dos pedágios. Como o sr. processou a passagem do Olimpo ao inferno empresarial? Foi um choque brutal. Você sente uma tristeza porque realizou muito e recebe uma carga pesada e injusta. Ninguém sabe o que eu sofri. O conforto é saber que os produtores agrícolas são solidários. Muita gente torce por mim. E os grandes empresários? Esses se desligaram. Foi uma lição de vida. O que se respeita é o patrimônio, não a pessoa. E eu sofri incompreensões até na vida pessoal. Por exemplo? Eu sou divorciado, só e saio com algumas sobrinhas e amigas que me fazem companhia. Algumas são namoradas, não? Na minha idade não tem jeito. São amigas. Que conselho o sr. daria a um jovem empresário no Brasil? Que não entre na porta de um banco. Os Estados Unidos dão certo porque quem tem uma boa idéia tem crédito barato. MultimídiaVídeos Fotos Podcasts Investidores atentos à inflação no Brasil Nesta sexta-feira (27), sai a terceria prévia do IGP-M de abril. 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Para o País ter taxas civilizadas e crescer, é preciso fazer muito mais. O plano de voo da Oi Após dois anos sem crescer, a operadora de telefonia anuncia investimento de R$ 24 bilhões, até 2015, e promete acirrar a briga pelo consumidor comentários (2) Sua opinião Luiz Felipe em 14/02/2012 11:38:38 São eles que deveriam ensinar como ser empreendedor, tanto quanto Olacyr de Moraes como Eike Batista, se arriscaram muito,porem, como Olacyr afirmou é muito dificil para o pioneirismo, já para quem herda só basta manter as rédias e saber agir em dias de tempestade. Denuncie esse comentário MOTIVO DA DENÚNCIA: escreva em até 300 caracteres Nome: (obrigatório) Email: (não será exibido) Desejo receber resposta por e-mail Luiz Felipe em 14/02/2012 11:38:36 São eles que deveriam ensinar como ser empreendedor, tanto quanto Olacyr de Moraes como Eike Batista, se arriscaram muito,porem, como Olacyr afirmou é muito dificil para o pioneirismo, já para quem herda só basta manter as rédias e saber agir em dias de tempestade. Denuncie esse comentário MOTIVO DA DENÚNCIA: escreva em até 300 caracteres Nome: (obrigatório) Email: (não será exibido) Desejo receber resposta por e-mail Por favor, preencha todos os campos abaixo para deixar seu comentário. A Istoé Dinheiro pode utilizar este comentário para divulgação na revista impressa. 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