quinta-feira, 26 de abril de 2012
EMPREENDEDORISMO
From the SelectedWorks of Elói Martins
Senhoras
January 2003
Introdução ao estudo do empreendedorismo e a
sua correlação com as pequenas e médias empresas
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Available at: http://works.bepress.com/eloi/107
1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO E À SUA CORRELAÇÃO COM AS
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
Introduction to the Study of Entrepreneurship and to its Corretation to the Small and Medium
Enterprises
Clayton Luís GUIMARÃES1; Elói Martins SENHORAS2; Katiuchia Pereira TAKEUCHI3
1Graduando pela Universidade de São Paulo (USP) - Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e Visiting Scholar na École
Polytechnique de Montréal
2Graduando e Pós-graduando pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Instituto de Economia (IE) e Visiting
Scholar na University of Texas at Austin
3Doutoranda pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
RESUMO
Na nova visão, as empresas de menor porte deixaram de ser coadjuvantes e passaram a exercer um
papel de destaque na política econômica. Elas estão sendo encaradas como variáveis decisivas para
o aumento da competitividade internacional. O empreendedor passou a ser visto como extremamente
inovador e possibilitador de distribuição mais eqüitativa da renda. Não obstante, a valorização do
empreendedorismo decorre do fato de, no desenvolvimento local, as micro, pequenas e médias
empresas, as novas iniciativas empresariais e os próprios empresários estarem enquadrados na
lógica da inovação e na estratégia de negócios.
Palavras Chaves: empreendedorismo, pequenas e médias empresas.
ABSTRACT
In modern days, small companies are not backstage players anymore because they have come to
exercise a prominent role in the political economy. They have been portrayed as important variables
against the increase of international competitiveness. The enterpreneurs have come to be seen as
extremely important to innovate and to make possible a more equitable distribution of income.
Nevertheless, the focus on entrepreneurship really shows the fact that in local development; the micro,
small and medium companies; the new business initiatives and their propietors fall into a logical
system of innovation and businesses strategy.
Keywords: entrepreneurship, small and medium companies.
1- INTRODUÇÃO
O cenário nacional de crise e reestruturação da economia afeta o mercado de trabalho
acentuando a precarização das relações, tornando uma exigência social desenvolver políticas e
projetos que apóiem as alternativas de sobrevivência das classes populares.
Entretanto, o medo do desemprego estrutural não é nenhuma novidade: David Ricardo, no
início do século XIX, antevia as máquinas como destruidoras dos empregos. Karl Marx encarava o
desemprego como uma doença decorrente da acumulação de capital.
O emprego, no sentido comumente aplicado, tende a se extinguir. No entanto, o momento é
também de mudanças que favorecem grandes oportunidades, demonstrando que o desenvolvimento
de um espírito empreendedor se faz cada vez mais necessário.
A criação do próprio negócio surge como uma das alternativas ao emprego incerto. Não só
por uma conjuntura sócio-econômica que faz com que o desenvolvimento de novos negócios seja
uma necessidade ou uma alternativa ao desemprego, mas, também, pelo sonho de ter o próprio
negócio.
2
Diante desse quadro de mudança do Mercado, o foco do desenvolvimento deixa de ser
predominantemente composto de grandes corporações, passando a ser dominado por uma lógica de
micro e pequenos negócios.
Não se pode mais esperar das grandes empresas a solução para o desemprego e para a
falta de ocupação economicamente útil das pessoas. As grandes empresas produzem mais com
menor contingente de empregados.
Se as grandes empresas são relativamente independentes de seu ambiente, de forma a
assegurar o seu crescimento, parece que as micro, pequenas e médias empresas não poderiam
emergir facilmente, sem estar ancoradas numa comunidade local1.
O empreendedor, como gerador de novas empresas, passa a ser o eixo central da criação de
novos postos de trabalho, intensificando transações econômicas e contribuindo para a
competitividade de uma nação. Nesse sentido, esse artigo tem o objetivo de desenhar uma melhor
compreensão sobre a importância do empreendedorismo e sua ligação com as pequenas e médias
empresas (PMEs) no desenvolvimento local.
2 - EMPREENDEDOR: A EVOLUÇÃO DE UM CONCEITO
Nos estudos e pesquisas realizados sobre o fenômeno do empreendedorismo, observa-se
que não há consenso entre os estudiosos e pesquisadores quanto à exata definição do conceito de
empreendedor. As dificuldades encontradas para o estabelecimento desta conceituação são
decorrentes da própria evolução do fenômeno, bem como de concepções errôneas postuladas
principalmente pela mídia e pelo senso comum que acabam por obscurecer e distorcer alguns
conceitos.
O termo empreendedor foi utilizado pela primeira vez por volta de 1800 por Jean Baptiste
Say, economista francês, com o intuito de distinguir o indivíduo que consegue transferir recursos
econômicos de um setor com baixa produtividade para um setor com produtividade elevada.
Somente com Joseph A. Schumpeter (1934), é que a conotação de empreendedor adquiriu
um novo significado, ao se tornar o responsável pelo processo de destruição criativa, sendo o impulso
fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista. Assim, o empreendedor é um
agente fundamental, pois engendra impactos na economia, ao quebrar antigos padrões e criando,
constantemente, novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados e, implacavelmente,
sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais caros.
Segundo Penrose (1959), o espírito empreendedor é uma predisposição psicológica que
conduz certos indivíduos a se arriscarem em atividades de retorno incerto, na esperança de obter
lucros. A busca de oportunidades produtivas é uma decisão empreendedora e prévia à decisão de
avaliá-la do ponto de vista econômico. A fonte do movimento e dinamismo da empresa encontra-se
no espírito empreendedor. O empresário - manancial das pulsões empreendedoras - como inovador
dentro da empresa, sinaliza para novos caminhos e oportunidades de expansão.
Na visão de Ansoff (1981), ser empreendedor é ter o desejo de independência que motiva o
estabelecimento de seu próprio negócio. O empreendedor é aquele que busca a mudança, reage a
ela e vislumbra uma oportunidade, nem sempre vista pelos demais. É o empreendedor que cria algo
novo, diferente, inovando ou transformando valores e conseguindo conviver com as incertezas e
riscos inerentes ao negócio.
Na definição de Drucker (1985), os empreendedores são pessoas que inovam considerando
que a inovação é o instrumento específico destes, o meio pelo qual eles exploram a mudança como
uma oportunidade para um negócio ou serviço diferente. Essa definição converge com a proposta por
Oliveira (1995), segundo a qual:
1 No período de 1995 a 2000, enquanto as empresas com mais de 100 empregados criaram apenas 88.100 empregos, as
empresas com até 100 funcionários, consideradas pequenas, criaram 1,9 milhão de empregos, ou seja, o crescimento do
emprego nas pequenas empresas foi de 19,2% enquanto que nas médias e grandes foi de 0,6% (Cunha, 2002).
3
“Empreendedor é todo indivíduo que, estando na qualidade de principal tomador das
decisões envolvidas, conseguiu formar um novo negócio ou desenvolver negócios já existentes,
elevando substancialmente seu valor patrimonial, várias vezes acima da média esperada das
empresas congêneres no mesmo período e no mesmo contexto sócio-político-econômico, tendo
granjeado com isso alto prestígio perante a maioria das pessoas que conhecem essa empresa ou tem
relacionamentos com ela” (Oliveira, 1995: 22).
Gifford (1989) apresenta duas categorias de empreendedores, de acordo com seu campo de
atuação: a) entrepreneur – aquele empresário empreendedor dono do seu próprio negócio2; e b)
intrapreneur – aquele empreendedor que trabalha como funcionário em alguma empresa3.
Já Dolabela (1999) define o empreendedor como um agente de mudanças, o motor da
economia ou, ainda, utilizando-se da definição de Filion considerada mais abrangente, a pessoa que
imagina, desenvolve e realiza visões.
Enfim, nessa evolução de conceitos, percebe-se que a formação de empreendedores, no
entanto, é conseqüência fundamentalmente de indutores culturais, sociais, políticos, educacionais e
motivações de um novo negócio em face de risco e incerteza, com o propósito de conseguir lucro e
crescimento, através da identificação de oportunidades de mercado e do agrupamento dos recursos
necessários para capitalizar sobre estas oportunidades.
3 - A IMPORTÂNCIA DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (PMEs)
Globalização e desemprego constituem-se em temas recorrentes e predominantes na agenda
das principais lideranças de entidades governamentais e não-governamentais, envolvidas com a
formulação de políticas que propiciem uma resposta objetiva a esta questão: como gerar ocupação
econômica para a população em uma economia cuja dinâmica de crescimento está assentada na
automação e, por conseguinte, na permanente e progressiva redução do emprego da mão-de-obra?
Em meio a tantas transformações as surgem então como uma tendência, pois por serem
menores elas conseguem se reestruturar de forma mais rápida para atender às freqüentes oscilações
do mercado.
Nos estudos sobre desemprego e crescimento econômico tem sido ressaltada a importância
das PMEs como unidades geradoras de empregos e de renda para a população urbana, em geral,
vistas como importantes absorvedoras de mão-de-obra e por isso imbuídas de uma espécie de
missão social que as credenciam como alvo de políticas públicas de incentivos e tratamento legal
privilegiado.
O segmento das pequenas e médias empresas é, unanimemente, considerado um dos
pilares de sustentação da economia nacional, em função de seu número, abrangência e capilaridade.
Para Gracioso (1995) em todo o mundo desenvolvido existe a compreensão de que os
empreendimentos de pequeno porte constituem a base da economia de mercado e do estado
democrático.
Para a grande maioria dos estudiosos da importância e necessidade das PMEs, este tipo de
empresa apresenta características semelhantes; podendo então diferenciar a intensidade em que
estas características são vivenciadas pelas mesmas. As características encontradas com maior
facilidade são:
2 Esta primeira vertente tem um papel importante no desenvolvimento social e industrial de um país, principalmente no Brasil,
onde a grande maioria das empresas é micro e pequena empresa.
3 A segunda vertente estuda o potencial empreendedor de cada empregado de uma organização, ao englobar toda uma
filosofia de administração que apresenta prática para os empregadores desenvolverem o potencial empreendedor de seus
funcionários, atuando como uma maneira de se desenvolver o potencial inovador da empresa e contribuindo para sua
competitividade.
4
Tabela 1 - Semelhanças Típicas entre as PMEs
Gestão centralizada - na maioria das vezes sendo
exercida pelo próprio empreendedor
Ausência de planejamento, principalmente em
longo prazo.
Estrutura leve, sem complexidade - na maioria das
vezes, não existe divisão de tarefas e os
funcionários não são qualificados.
Integração relativamente forte na comunidade à
qual pertencem os seus proprietários, empregados,
concorrentes e fornecedores.
Estreito contato pessoal entre direção,
funcionários, fornecedores e clientes, devido ao
tamanho da empresa e da pouca formalidade
existente.
Baixa utilização dos instrumentos de Marketing,
Recursos Humanos e Informática.
Falta de força particular nas negociações entre
comprador e vendedor – os pequenos e médios
empresários não têm poder de barganha frente às
negociações
Utilização acentuada de mão-de-obra familiar
podendo ocasionar problemas de sucessão na
empresa, pois este assunto, muitas vezes, não é
discutido e a determinação do sucessor só é
decidida após o afastamento do até então dirigente.
Fonte: Elaboração Própria.
Um dos principais desafios a serem superados pelas Pequenas e Médias Empresas (PME’s)
tem sido a necessidade de se tornarem mais flexíveis e adaptáveis às características do ambiente de
negócios, obrigando as organizações a buscarem mecanismos mais adequados para a definição de
estratégias empresariais assim como o estabelecimento de processos de trabalho e de gestão mais
eficientes e eficazes. Surge então a necessidade deste segmento conhecer a formação de redes de
negócios, a qual pode ser considerada como uma ação determinante para a geração de melhorias
nas suas operações e contribuindo efetivamente para o alcance dos objetivos estabelecidos na
estratégia adotada.
Programas de apoio às Pequenas e Médias Empresas (PMEs) são considerados como
estratégicos para o desenvolvimento econômico não apenas nos países em desenvolvimento mas
também nos países centrais. De fato, as pequenas empresas contribuem largamente, para
impulsionar a economia, tanto como empregadores quanto como geradoras de renda local, fazendo
com que os promotores do desenvolvimento local e a própria comunidade adotem uma visão
empresarial.
Verifica-se que, apesar da reconhecida importância da pequena empresa na estrutura
produtiva da economia, as ações governamentais voltadas a esse segmento ainda são bastante
tímidas, apresentando resultados concretos muito restritos. No entanto, não se pode deixar de referir
que, mais recentemente, as instituições de alguma maneira voltadas para as PEs, nomeadamente o
SEBRAE, vêm privilegiando o apoio a projetos mais articulados e que sigam a orientação geral da
política industrial (Souza et al., 1998: 07).
As restrições ao crescimento das PMEs são muitas, passando por falta de apoio
governamental, ausência de um sistema de credito que atenda às necessidades do pequeno
empresário, política governamental adaptada à pequena empresa e que assegure os direitos desta,
até a falta de conhecimento e experiência empresarial e administrativa.
Ainda, segundo Maculan & Carleial (1998), foi somente a partir da atual década que a
importância das pequenas empresas começou a ser reconhecida e enfatizada. Elementos
institucionais mais favoráveis às pequenas empresas apareceram nos últimos anos com a
multiplicação das redes de subcontratação provocada pelas pressões de competitividade, ou o apoio
a um novo tipo de entrepreneurship mediante criação de incubadoras ou implantação de parques
tecnológicos, apoio que resultou de algumas diretrizes inicialmente pouco sistematizadas
dependendo do caso de cada país.
Nesse novo cenário, segundo Souza (1995) existem quatro modelos de trajetórias para a
inserção das PMEs no Mercado:
1) PMEs em mercados competitivos, onde a estratégia competitiva e a flexibilidade
associam-se a menores custos de mão de obra, portanto suas perspectivas de inserção são
extremamente reduzidas. Apresentando-se um estado de acomodação de seus proprietários para a
inovação de produtos, processos e mercados.
2) PMEs independentes em estruturas de mercados dinâmicas, onde seu desempenho
está associado com ás características dos empresários, portanto as perspectivas descansam em
5
encontrar novos "nichos" de mercado, os quais tecnologicamente estão diretamente ligadas com a
amplitude do ciclo de vida dos produtos e ás barreiras de entrada da inserção.
3) Modelo Comunitário onde as PMEs entram ao mercado em forma de organizações
coletivas as cooperativas, o exemplo mais conhecido, são os chamados distritos especiais de
especialização flexível, onde existem complementaridade com especialização entre as empresas.
4) Modelo de Coordenação, onde se incluem PMEs subcontratadas, fornecedoras,
contratadoras de serviços eventuais, pequenas consultoras especializadas, revendedoras. Ou seja,
todas as PMEs que interagem com as grandes empresas, fazendo parte da estratégia de estas e
ficando de alguma forma baixo seu controle, existindo complementaridade com especialização entre
empresas.
4 - A ARTICULAÇÃO DO BINÔMIO EMPREENDEDORISMO & PMEs
O próximo século estará repleto de um grande número de pequenas empresas. Pelo globo,
pessoas de todos os países estão escolhendo sistemas econômicos ancorados em pequenos
negócios altamente produtivos. Esta é a era do empreendedorismo. O ressurgimento do espírito
empreendedor é um do movimento mais importantes da história recente da administração. Este
empreendedor tem introduzido produtos e serviços inovadores, ampliado as fronteiras tecnológicas e
criados novos empregos e aberto novos mercados globais (Zimmerer & Scarborough, 1994: 04).
No Brasil a grande maioria das empresas, de acordo com o Conselho Nacional da Indústria
(CNI), são classificadas como micro ou pequenas empresas4. Micro e pequenas empresas podem ser
constituídos por acionistas que não participam da gestão das mesmas, mas em geral, são
constituídas por empreendedores. Tipicamente no Brasil, empreendedores são pessoas com pouco
preparo gerencial e eventualmente até com baixo nível de instrução acadêmica. Daí surge a
necessidade de capacitação.
É comum ver empresas formadas por um empreendedor tecnicamente preparado, mas sem
habilidade gerencial, agravando a tendência de redução do ciclo ou tempo de vida da empresa. Há
ainda, no Brasil, pouca atenção para a questão do treinamento e formação de empreendedores.
No entanto, o Brasil necessita de uma sociedade empreendedora, na qual a inovação e o
empreendimento sejam normais, estáveis e contínuos. Considerando que: (1) não se nasce
empreendedor e sim se torna empreendedor através do convívio com pessoas empreendedoras, da
permanência em locais que possibilitem ser e do exercício cotidiano; e (2) fatores culturais adversos
quando associados à mobilidade social podem facilitar ou dificultar a manifestação e o
desenvolvimento deste espírito empreendedor; vários estudiosos enfatizam a possibilidade de se
aprender e se ensinar às pessoas a serem empreendedoras e, sobretudo, de se desenvolver se
condições necessárias para que isto ocorra.
Ao contrário do que se observa nos países desenvolvidos, no Brasil ainda são poucos os
esforços empreendidos para a formação de empreendedores por parte das universidades, do
governo e de algumas entidades empresariais. E quando o são, quase sempre não passam de
pacotes importados de países desenvolvidos, com modelos gerenciais e de tecnologia fora da
realidade brasileira (Pereira, 1990).
Tabela 2 - Ranking do Empreendorismo no mundo
4 Segundo dados do SEBRAE (2001), no período de 1990 a 1999 foram constituídas no Brasil 4,9 milhões de empresas, dentre
as quais 2,7 milhões microempresas. Somente no ano de 1999 foram constituídas 475.005 empresas, deste total 267.525
microempresas, representando um percentual de 56,32% do total de empresas constituídas nesse ano.
6
País Taxa de Atividades
Empreendedoras (%)
1o Tailândia 18,9
2 o Índia 15,7
3 o Chile 14,5
7 o Brasil 13,5
11o Estados Unidos 10,5
24 o Alemanha 5.2
37 o Japão 1.8
Fonte: Global Entrepreneurship Monitor (2002).
Como pode ser observado na tabela 2, fator cultural e histórico tem uma importante definição
no espírito empreendedor de cada país. O fato é que existe uma vocação muito forte para o
empreendedorismo no Brasil, mas ao que parece ainda não se sabe muito bem como reduzir ou
evitar que uma enorme quantidade de empresas feche as portas de maneira precoce.
Não existe, no entanto, uma fórmula que faça com que alguém se torne um empreendedor.
Para Bernhoeft (1996), a criação de uma atividade própria é uma decisão de caráter pessoal,
influenciada por uma série de fatores que tanto podem ser estimuladores como podem funcionar
como inibidores.
Embora seja vasta a literatura a respeito da livre iniciativa que responsabiliza o lucro como
fator motivador de qualquer negócio, o mesmo não se pode dizer com relação à motivação do
empreendedor. Não é somente o lucro o principal agente motivador do empreendedor. Sua iniciativa
é fundamentada em outros aspectos classificados como comportamentais e que envolvem inovação,
criatividade, disposição para assumir riscos calculados, capacidade gerencial e de decisão, dentre
outros.
Estudos indicam que muitos dos novos empreendimentos no Brasil não conseguem passar
do primeiro ano de vida, tendo uma taxa de mortalidade alta5. Uma das principais causas desse
insucesso, dentre as listadas na tabela 3, é o desconhecimento por parte do futuro empresário das
qualidades necessárias ao bom desempenho de seu papel.
Tabela 3 - Fatores de Propulsão/Repulsão do Empreendimento
Criação da Empresa Esperança de Vida da Empresa
(+)
Empresar com maior tamanho
Maior escolaridade do proprietário
Experiência em empresa de ramo similar
Disponibilidade de capital
Apoio/ajuda profissional
Boa concepção de negócio
Experiência prévia
Domínio da tecnologia
Ajuda financeira
Ajuda física ou técnica
Aconselhamento gerencial
Apoio do Círculo de Amigos/Família
5 Assim como na Bíblia, a frase, 'muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos” se revela digna de autoridade para
mostrar a vida dos empreendedores. Embora o potencial empreendedor possa ser desenvolvido por muitas pessoas, na prática
o número de empresas que sobrevivem às turbulências de seus primeiros anos de existência é muito pequeno,
percentualmente ao total de empresas criadas. O Cadastro Central de Empresas, divulgado pelo IBGE (2002), mostra que
entre 1999 e 2000, para cada dez empresas que abriram no país, 6,5 fecharam. Em números absolutos: foram 710.258 nascimentos
para 457.990 mortes de empresas. Conforme pesquisa do Sebrae (1999), realizada em alguns estados do Brasil, a
taxa de mortalidade empresarial varia de cerca de 30 a 61% no primeiro ano de existência da empresa, de 40 a 68% no
segundo ano, e de 55 a 73% no terceiro ano do empreendimento.
7
(-)
Empresas com tamanho pequeno
Baixa escolaridade do proprietário;
Baixa Experiência como autônomo no ramo
Falta de capital
Falta de apoio profissional
Pouca preocupação com o cliente/Mercado
Recessão Econômica;
Custo de localização industrial;
Excesso de burocracia institucionalizada
Escassez de crédito e seu alto custo
Carência de informações sistematizadas
Canais de distribuição
Fonte: Elaboração Própria.
Mesmo assim, percebe-se facilmente a importância do empreendedorismo, subjacente às
novas micro, pequenas e médias empresas e responsável pela geração de postos de trabalho e
renda local, sem prejuízo da exploração de fatias do espaço econômico não-local (regional, nacional
e, até mesmo, mundial). Os micro e pequenos negócios constituem hoje um fenômeno global,
refletindo-se no Brasil, onde, no conjunto das empresas industriais, comerciais e de serviço.
Além das variáveis inerentes aos indivíduos, os valores de propulsão do empeendedorismo
devem ser também induzidos na sociedade através de vetores exógenos a eles. Levar o surgimento
de empreendedores através de agentes educacionais é um desses mecanismos institucionais. Neste
sentido, cursos de formação profissional que incluam disciplinas e mecanismos de aprendizagem de
estímulo à formação de empreendedores, podem se transformar em importantes agentes indutores.
Nesse ambiente dinâmico, como fenômeno endógeno e emergente, o desenvolvimento local
deve privilegiar o empreendedorismo e as micro, pequenas e médias empresas locais como fontes de
geração de empregos, além da promoção de parcerias mobilizadoras de energias e recursos.
O ambiente favorável ao empreendedorismo e aos empresários inovadores, vontade
comunitária de implementação, rede de negócios, instituições locais, organismos de suporte, capital
inicial, capital de risco são os aceleradores necessários para multiplicar as iniciativas e assegurar a
sua perenidade. Os exemplos de comunidades que souberam incubar o desenvolvimento, baseadas
no empreendedorismo, nas PME e nas instituições locais existem em diversos países, como no caso
Indiano que tende a se tornar um marco referencial no início deste novo século.
4.1 - FATORES ESTRATÉGICOS PARA O EMPREENDEDORISMO ALAVANCAR AS PMES
É possível retratar a dinâmica do Sistema Nacional de Inovação em diversos países através
de dois conjuntos de interações que têm forte ancoragem regional: a) a formação de redes de
subcontratação que incentivam o surgimento de pequenas e medias empresas; b) a consolidação de
pequenas e médias empresas; e finalmente, c) a criação de incubadoras que possibilitam a instalação
de microempresas de base tecnológica.
A formação de redes de subcontratação, ao longo da década de 90, demonstrou uma faceta
perversa à medida que não criou um novo contingente de emprego, mas apenas engendrou
transferência de empregados de um setor para outro. Portanto retrata um mecanismo arcaico de
empreender à la Say, que entrentanto ao invés de transferir recursos econômicos de um setor com
baixa produtividade para um setor com produtividade elevada, simplesmente se revelou como um
ajuste através do corte de custos e downsizing para as grandes empresas.
Na verdade, para sobreviver em um ambiente globalizado e competitivo, os empreendedores
de micro e pequenas empresas precisam adotar estratégias e alternativas eficazes. Entre as
estratégias, a formação de alianças empresariais, a exemplo de rede de empresas6, tem sido uma
alternativa adotada pelas empresas para ganharem maior competitividade. Os principais benefícios
6 Com a união de empresas através da formação de redes empresariais com objetivos comuns, as empresas podem alcançar
vantagens competitivas oriundas deste tipo de organização. Pela escala dos negócios conseguem a redução de custos e pela
sua formação (várias empresas pequenas) conseguem manter a flexibilidade e a agilidade. A formação desta aliança permite,
para as empresas participantes, a diminuição dos riscos e ganhos com a sinergia. Neste caso, as redes de empresas, apesar
de serem menores do que uma grande empresa, conseguem ser competitivas através da prática de uma boa relação entre
flexibilidade e custo.
8
obtidos através da rede são as ações de marketing e os principais objetivos das empresas, ao
ingressar na rede, são reduzir os custos e aumentar o poder de negociação com fornecedores.
O lugar do trabalhador empreendedor e da sua outra face, a rede de micro-empreendedores
enquanto forma de cooperação e organização empresarial está ligado a capacidade de serem
enfrentados os condicionamentos atuais da crise do modo de produção. O que significa que as redes
de microempresas devem ter estreita conexão com o ambiente social e institucional.
Tabela 4 - Razões para a formação de alianças
Exploração de economias de escala
Baixo custo de entrada em novos mercados
Baixo custo de entrada em novos segmentos de negócios
Aprendizagem com os concorrentes
Gerenciamento dos custos e compartilhamento dos riscos
Fonte: Elaboração Própria.
As empresas de pequeno porte, organizadas em sistemas de produção do tipo distritos
industriais tem chamado a atenção de analistas em virtude de possibilitarem o crescimento do
produto e possuírem um elevado potencial de geração de emprego. As empresas de pequeno porte
que funcionam em organizações do tipo distritos industriais7 conseguem vantagens do tipo:
economias de escala, uso de tecnologia, inserção no mercado.
As incubadoras de empresas representam uma outra eficaz maneira existente para se apoiar
às micro e pequena empresas nesta tarefa. Seus resultados podem ser comprovados pelo fato de
que 80% das empresas apoiadas por incubadoras obtém sucesso mesmo após os cinco anos iniciais
(Muritiba et al., 2003).
Nesse sentido, também o Governo Federal brasileiro criou o Programa Brasil Empreendedor
em 1998, visando não só auxiliar o segmento das PMEs como o de treinar e qualificar futuros novos
empreendedores, para que estes não se inserissem no mercado sem um bom planejamento prévio da
sua empresa, para no futuro tornar-se mais um empreendedor mal sucedido e fosse obrigado
encerrar suas atividades.
5 - À GUISA DE ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES
As mudanças econômicas ocorridas no cenário mundial a partir da década de 70
inauguraram a transição para um novo sistema de produção baseado no tripé flexibilidade produtiva,
conhecimento e informalização da economia. Essa nova ordem emergente geralmente denominada
de pós-fordismo se caracteriza por um modo de produção cada vez mais individualizado e
flexibilizado, estilos de consumo diferenciados em função da introdução de novas tecnologias no
processo de produção e do desenvolvimento de uma demanda cada vez mais segmentada.
Essas mudanças demonstram uma nova realidade do mercado de trabalho: o aumento atual
da produtividade das empresas não implica necessariamente na contratação de um maior número de
trabalhadores. Ademais, verifica-se que o desemprego cresce mundialmente com uma diminuição da
participação do setor formal nas economias e demonstrando um expressivo crescimento do setor
informal. Esse cenário aponta, portanto, para uma transformação das relações de trabalho tanto no
Brasil como no mundo, colocando na ordem do dia as questões relativas ao combate do desemprego.
Assim, torna-se necessário descobrir alternativas no sentido de lidar com essa realidade, pois
o desemprego parece resultar de uma modificação estrutural das condições da empregabilidade.
Com essa intenção, o empreendedorismo se coloca como um dos possíveis caminhos a serem
seguidos no seu combate. Trata-se da possibilidade que pessoas possuem de iniciar o seu próprio
negócio.
Essa situação tem recolocado o debate acerca das pequenas e médias empresas (PMEs)
enquanto opção para enfrentar a questão do desemprego. Percebe-se que esses pequenos negócios
7 Os distritos industriais são caracterizados pela aglomeração espacial e setorial de pequenas e médias empresas que
estabelecem um sistema de troca de informações e cooperação entre si devido à existência de valores e costumes comuns
que propiciam a confiança mútua.
9
possuem especificidades que os tornam capazes de enfrentar as condições adversas das economias
modernas, pois apresentam as dimensões de flexibilidade e complementaridade com as grandes
empresas, o que as capacitam a responder com maior rapidez as demandas flutuantes do mercado
globalizado (Villela, 1994). Há inclusive previsões de que “quanto maior e mais aberta se tornar a
economia mundial, maior será o domínio das empresas pequenas e de porte médio” (Naisbitt, 1994).
Quanto mais interligada se tornar a economia mundial, e quanto maior for o alcance
econômico das empresas de grande porte, mais vulneráveis serão suas economias ao colapso
econômico global. As PMEs, quando dinâmicas e flexíveis, ajudam nesses momentos de crise, como
um colchão amortecedor absorvendo os choques que poderiam, de outra maneira, causar danos
consideráveis à economia de cada país.
Assim, ao subconjunto de PMEs, flexibilidade e estratégia competitiva associam-se a
menores custos de mão-de-obra. Vistas, em determinadas circunstâncias, como tendo um papel
importante para evitar que um grande contingente de trabalhadores chegue ao desemprego são
admitidas como um mal necessário ou como um grande potencial em termos de emprego, merecendo
apoio e subsídios para que possam sobreviver.
Dessa forma, verifica-se que as micro e pequenas empresas têm um papel crucial através da
influência no número de estabelecimentos e postos de trabalho gerados nos diferentes setores da
economia brasileira, tornando-se praticamente o único segmento a apresentar variação líquida
positiva no número de postos de trabalho em períodos de recessão. Porém, observa-se que os
esforços destinados a esse segmento ainda são insuficientes, ou mal articulados, pois ainda ocorrem
altas taxas de mortalidade dos estabelecimentos deste porte.
Como verificado, o fortalecimento das PMEs e a criação de novas firmas não são somente
uma saída para o desemprego, senão também uma alternativa de longo prazo para dinamizar as
estruturas produtivas locais sobre a base do desenvolvimento e fortalecimento das capacidades
endógenas. Estimular o empreendedorismo para aumentar a taxa de criação de novas firmas
contribuiria ademais para a diminuição da concentração econômica e para uma distribuição mais
eqüitativa do produto produzido.
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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