quinta-feira, 29 de julho de 2010

2379 - HISTÓRIA DA IMPRENSA

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LOGOS 31 Comunicação e Filosofia. Ano 17, 2º semestre 2009
História da imprensa sob o
enfoque da memória
History of the press under the focus of memory
Sérgio Arruda de Moura | arruda@uenf.br
Professor Associado I da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF). Doutor em Literatura Comparada (UFRJ), com pesquisa pós-doutoral em Análise
do Discurso Literário (Université de Paris XII, Val de Marne)
Resenha do livro “História cultural da imprensa - Brasil - 1900-2000”,
de Marialva Barbosa, Rio de Janeiro, 2007
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Sérgio Arruda de Moura. História da imprensa sob o enfoque da memória
LOGOS 31 Comunicação e Filosofia. Ano 17, 2º semestre 2009
A professora titular do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da
Universidade Federal Fluminense vem respondendo por um número significativo
de pesquisas sobre mídia, memória e história em que tenta dar conta
de aspectos da história da imprensa como um processo que resulta necessariamente
na sua relação com o social. E é isso exatamente o que se depreende
da leitura de História cultural da imprensa. O livro, dividido em duas partes,
soma nove capítulos que visualizam a história cultural da imprensa no Brasil
a partir do ponto de vista do “processo comunicacional”, e essa opção redunda
na importância conferida tanto ao conteúdo em si do impresso, quanto
ao produtor da mensagem, bem como da forma como o leitor entende os
sinais emitidos. Ao se debruçar sobre este processo na imprensa brasileira no
período de um século (1900-2000), Marialva Barbosa não receou as generalizações
que invariavelmente decorrem desses cortes cronológicos tão extensos.
Abordando a história, a memória e a mídia como aspectos que vislumbram
tanto a estrutura externa quanto interna dos jornais, a autora vai, década
após década, montando um painel que aborda a relação entre os eventos e
as circunstâncias históricas do estabelecimento da imprensa periódica entre
nós, no século passado, a partir da cena constituída pelo Rio de Janeiro e da
imprensa que nesta cidade se desenvolveu em função de tantos fatores contingentes
que lhe dão o devido destaque no cenário nacional.
A distinção entre externo e interno também é notável, uma vez que os
trabalhos sobre a imprensa no Brasil se dividem, segundo a autora, entre aqueles
de vasta síntese histórica como é o caso da importante História da Imprensa
no Brasil, de Nelson Werneck Sodré, e outros que abordam os meios de comunicação
a partir de seus conteúdos políticos e ideológicos, havendo outros que
concentram suas análises nas modificações e na estrutura interna dos jornais
– ou seja, quando consideram a dimensão interna, desconsideram a dimensão
externa, e vice-versa.
Sua metodologia de pesquisa, por outro lado, se sustenta na concepção
de uma história da imprensa que leva em consideração a relação inalienável
entre os agentes e os processos envolvidos nesse âmbito, entre eles
a história e a memória. Nesse aspecto, lança um olhar agudo sobre as “conexões
entre as características descritas e observadas nos periódicos com as
transformações sociais”. E aqui reside um pouco a diferença e a importância
do trabalho de Marialva. Para ela, que chama para si o escopo da teoria
da história – ao meu ver em consonância com a concepção contemporânea
de discurso –, são fundamentais tanto o que aconteceu, quanto o como
aconteceu e, sobretudo, por que aconteceu. As metodologias que isolam
estas questões compõem, via de regra, histórias descontextualizadas dos
estudos culturais e dos quadros interdisciplinares das ciências humanas,
e redundam ainda em “histórias lineares, orientadas e baseadas em grandes
feitos, singularidades e, particularidades dos grandes personagens”. Ao
contrário, nossa autora incorpora o “visível” e o “invisível” como dados de
pesquisa, ou seja, os eventos que permaneceram escondidos, “toda uma
gama de situações que não é elevada à categoria de acontecimento por se
dar na fronteira do invisível”. A esse respeito, assumem papel estrutural no
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Sérgio Arruda de Moura. História da imprensa sob o enfoque da memória
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seu trabalho as memórias de jornalistas coletados por centros de documentação,
mas também das memórias de Nelson Rodrigues no seu O reacionário.
Memórias e confissões, de 1977, e mais ainda a troca de correspondência.
Valendo-se de fontes primárias de pesquisa, a autora se debruçou sobre depoimentos
de jornalistas reunidos em Memória da ABI e ao CPDOC/Alerj,
mencionou filmes, valeu-se de cartas entre jornalistas e ao testemunho dos
textos recuperados nos próprios jornais analisados de cada época.
História cultural da imprensa no Brasil tem início com um estudo sucinto
do advento dos novos aparatos tecnológicos do novo século que tantas
mudanças provocaram em todos os setores da vida urbana, entre eles o da
imprensa. A leitura prossegue, nos capítulos que se seguem, com um estudo
sobre o nascimento do chamado jornalismo sensacionalista nos anos
1920, que solo fértil encontrou no nosso imaginário de leitores, e aos termos
da consolidação definitiva da empresa jornalística no Brasil, com foco nos
maiores diários do Rio de Janeiro, entre eles O Paiz, o Jornal do Commércio,
a Gazeta de Notícias, A Noite, o Correio da Manhã e o Jornal do Brasil, nos
anos 1920, quando jovens estudantes de Direito constituiam a maioria dos
jornalistas em busca de proventos e alguma notoriedade. A autora esmiúça
cada um destes períodos na singularidade da história de cada um, além do
perfil romântico que ainda subsistia na profissão de jornalista. Um pouco
mais tarde, com a introdução do conceito de moderno, se separou o noticiário
de informação e o de opinião, relegando este a um plano secundário, o
que deu início à lenta e persistente busca do “discurso que espelha o mundo”
a partir da “padronização da linguagem”.
O livro segue em frente com o encampamento ideológico da imprensa
pelo Estado Novo, seguido da relação que no Brasil foi bastante frutífera entre
literatura e imprensa. Afora as contribuições recíprocas já conhecidas entre um
e outro campo, a autora relê passagens literárias na crônica e no romance, com
destaque para Lima Barreto, Graciliano Ramos, Nelson Rodrigues e Clarice
Lispector, em que o mundo do jornal, do rádio e da revista apóia, no literário,
uma construção “pré-textual” da realidade.
Chegamos à segunda parte do livro com estudos sobre a consolidação
e modernização da imprensa brasileira a partir dos anos 1950 e com a
chegada da televisão para um público cada vez mais numeroso a partir da
década seguinte. Nos dois últimos capítulos, mais próximos da realidade
recentemente vivida, a autora aponta o ressurgimento de uma nova forma
de sensacionalismo e as mudanças constantemente em curso em função das
tecnologias de informática. É também nessa parte que a autora se concentra
na análise da derrocada do jornal Correio da Manhã, que desembocou
na concentração, a partir dos anos 1970, da massa de leitores em apenas
três jornais, a saber, O Globo, Jornal do Brasil e O Dia. A respeito desse
último, aproveita para retomar a questão do sensacionalismo (que ela prefere
chamar jornalismo de sensações), novamente se valendo do apanhado
histórico que provocou o surgimento excepcional desse gênero de imprensa
no mundo e no Brasil.
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Enfim, um livro para ser lido em consonância com aqueles que também
estão em busca de um outro olhar da história sob a perspectiva do subjetivo,
uma vez que o jornal, não sendo documento que emerge de uma única subjetividade,
constrói uma hipótese sempre instigante sobre a realidade.
Referência Bibliográfica
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa – Brasil – 1900-
2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.


COPYRIGHT MARIALVA BARBOSA

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